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O LIVRO DIDÁTICO E A
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Ângela Paiva Dionísio
Kazumi Munakata
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Livros didáticos de Português
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formam professores?
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Ângela Paiva Dionísio
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Universidade Federal de Pernambuco
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Introdução
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A parceria livro didático–professor atraves- quase sempre detinham, dedicavam-se também
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sa um momento de encontros e desencontros, ao ensino [...]. O professor da disciplina Portu-
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uma vez que ambos estão em fase de transição, guês era aquele que conhecia bem a gramática e
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buscando uma identidade que revele as trans- a literatura da língua, a retórica e a poética, aque-
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formações teóricas e políticas ocorridas no pa- le a quem bastava, por isso, que o manual didáti-
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análise meramente estrutural cede espaço para sentava conhecimentos gramaticais, textos para
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a análise da língua em contextos de usos natu- leitura, exercícios. Afirma Soares (2001a: 153):
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refletem as teorias lingüísticas mais recentes. Assim já não se remete ao professor, como anterior-
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nal atual. Os artigos de Magda Soares “Que pro- formação do professor de Ensino Fundamental e
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fessores de Português queremos formar?” (2001a) Médio nos cursos de Letras está longe de ter en-
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Até a década de 1940, o ensino de Língua da autora questiona se “os alunos sabem, mini-
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Soares (2001a: 151-52) lembra que as instâncias güística e Língua Portuguesa se evidencia dentro
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de formação de professor só surgiram na déca- dos próprios cursos de Letras. Recai, pois, sobre
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[...] eram estudiosos autodidatas da língua e de camente sobre o curso de Letras a responsabili-
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dicos, advogados, engenheiros e outros profissio- cionar e como orientar os conteúdos de lingua-
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nais liberais) e do exercício de cargos públicos que gem para o Ensino Fundamental e Médio.
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SIMPÓSIO 6
O livro didático e a formação de professores
Esta é uma necessidade cada vez mais urgen- campo das possibilidades concretas de realiza-
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te na formação do professor, pois os Parâmetros ção de um percurso pedagógico real no contex-
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Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa to sociopolítico brasileiro.
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simbolizam a aplicação direta das teorias lingüís- Responder que sim, que o livro didático
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ticas no ensino de língua materna. Também tem também a função de formar professor, se-
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Marcuschi (2000: 10) alerta para a importância ria reconhecer que ainda estamos com os pés
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de o professor saber o que deverá fazer com as na década de 1950, uma vez que caberiam ao
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orientações dadas pelos PCN em suas aulas: autor do livro didático a seleção e a prepara- 83
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ção dos conteúdos a serem ministrados. Porém
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Tudo dependerá, no entanto, de como serão tais não posso deixar de reconhecer que os manu-
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orientações tratadas pelos usuários em suas sa- ais didáticos exercem funções de formação de
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las de aula; seria nefasto se as indicações ali fei- professor. Gérard e Roegiers (1998: 89, apud E.
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tas fossem tomadas como normas ou pílulas de Marcuschi, 2001: 141) asseguram que os ma-
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uso e efeito indiscutíveis. Pior ainda, se com isso nuais escolares têm o objetivo “de contribuí-
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se pretendesse identificar conteúdos unificados rem com instrumentos que permitam aos pro-
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para todo o território nacional, ignorando a he- fessores um melhor desempenho do seu papel
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terogeneidade lingüística e a variação social. profissional no processo de ensino-aprendiza-
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tos de Neves (2000: 4) para ilustrar um tópico para a formação dos professores, destaco:
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Indicação de referências
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compasso consiste na não-aplicação (ou na pre- A partir da apresentação dos diversos tipos de
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entanto, necessário ressaltar que, por serem de “leitura-prazer” na sala de aula. [...]
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de professor –, pergunto-me: é também função Livro de histórias infantis eletrônico, com ilus-
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mação de professores preparar seus alunos, fu- Revista de literatura infanto-juvenil. Apresen-
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to, sei que essa resposta não se encontra ainda (acessado em setembro de 2002)
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identifiquem mais vivamente o processo de va-
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professores riação da língua ao longo de um tempo de que
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têm uma compreensão mais fácil (o tempo dos
(3) Soares, v. 1-4, p. 29:
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pais, tios, avós); por isso, são palavras ainda não
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inteiramente desconhecidas, mas em processo
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REVISTAS PARA O ALUNO
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de desuso; o professor pode enriquecer o exer-
Ciência Hoje das Crianças. Revista de divulgação
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cício mencionando palavras já em inteiro desu-
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científica para crianças. Rio de Janeiro: Socieda-
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so, como janota, cinematógrafo, escarradeira,
de Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
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botica, etc.
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Galileu. Rio de Janeiro. Globo. [...]
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PARA O PROFESSOR
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(6) Miranda et. al., v. 3, p. 261:
Amae Educando. Belo Horizonte: Fundação
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Amae para Educação e Cultura.
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Professor, há várias outras possibilidades de
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Nova Escola. São Paulo: Abril Cultural. [...]
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passagem da linguagem informal para a formal
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○ no texto. Se quiser, explore-as com os alunos.
Indicação de livros, vídeos, músicas
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estudo:
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Para você saber mais sobre a década de 1930 e gem) e o conhecimento de ensino e de pesquisa
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sileiro, sugerimos:
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VÍDEOS
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LIVROS
Federal de Pernambuco, encontrei uma clien-
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brasileira da época, como Noel Rosa, Ari Bar- que já ensina ou já ensinou e que tem o li-
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roso, Ataulfo Alves, Leonel Azevedo, Heitor vro didático como instrumento único de
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destinos, como Luís Gonzaga, Luís Vieira, râneas durante o curso de Letras, não sabe
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Eleomar, Dominguinhos, além do poeta po- o que fazer com elas no dia-a-dia de suas
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pular Patativa do Assaré. aulas (ou pior, não acredita que possam –
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6) grau de informatividade:
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SIMPÓSIO 6
O livro didático e a formação de professores
como se portar como professor de língua. res do Ensino Fundamental e Médio num perí-
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No geral, também não percebe as possíveis odo de seis horas. Dentre os resultados, inte-
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relações entre as pesquisas que desenvol- ressa-me apenas registrar um deles, nesse
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ve e o ensino de língua. Para este, o livro
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momento: a constatação, por parte dos alunos,
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didático tem a função de instrumentalizar de que, na relação com o livro didático, o pro-
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o professor.
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fessor deverá sempre ser superior a ele em co-
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Aluno-aluno, ou seja, aquele graduando que nhecimento e em desempenho metodológico.
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não tem experiência de ensino nem de pesqui- Como afirma Rose Marie Muraro, em Memórias 85
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sa. Espera pela disciplina de Prática de Ensino de uma mulher impossível, “a prática é sobera-
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como a grande inspiradora para a sua forma-
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na na medida em que o conhecimento se cons-
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ção como professor. Não percebe também a
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trói no exercício da prática”.
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relação entre os estudos feitos nos semestres
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antecedentes como responsáveis pela sua for-
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Os múltiplos olhares sobre
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mação. O livro didático apenas representa um
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recurso metodológico para o ensino.
a encruzilhada diabólica dos
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O maior desafio consistia em fazer esses alu-
livros didáticos
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nos perceberem o papel do professor como me-
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diador. Como cerca de 50% da turma se enqua- ○
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então, solicitar aos alunos a construção de duas quer seja nos cursos de Magistério quer seja nos
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organizações didáticas especiais, apontadas cursos universitários. Deve ser, pois, com base
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pelos PCN – projeto de pesquisa e módulos di- nas orientações recebidas nessas instituições
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dáticos –, na tentativa de atrelar o conhecimen- que o professor poderá saber o que fazer com o
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to teórico e o conhecimento sobre ensino de lín- livro ou com os livros didáticos em suas aulas.
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gua, bem como inserir aqueles alunos que não O professor deveria saber o porquê dos conteú-
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tinham tal experiência no campo da pesquisa, dos selecionados e as implicações das estraté-
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porque esses futuros professores necessitarão gias utilizadas nos livros didáticos. Os autores
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Um traço comum existia entre as três cate- as correntes teóricas em que fundam suas
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gorias de alunos: como ensinar meus alunos a obras, mas nem sempre há uma correlação en-
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pesquisarem? Foram montados seis grupos tre tais teorias e as atividades propostas no li-
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está falando no texto?; Era uma vez... As fábu- estratégia de marketing e não uma orientação
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las e os contos de fada na sala de aula; As histó- teórico-metodológica. Listar referências biblio-
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rias em quadrinhos na sala de aula; Entre a pa- gráficas atuais recheadas de autores de renome
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alunos das três categorias. Em cada grupo fo- carimbar a capa do livro com expressões como
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ram desenvolvidas as seguintes etapas: revisão “Aprovado pelo PNLD” ou “De acordo com os
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da bibliografia sobre os temas (momento que PCN” não asseguram a tal obra coerência entre
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contou muito com a colaboração dos alunos- pressupostos teóricos e práticas metodológicas.
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verificar o tratamento dado por estes aos tópi- Neves (2000), a “encruzilhada diabólica” que se
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tema no Ensino Fundamental e Médio, monta- livros didáticos, por um lado, precisam atender
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gem de um módulo didático que foi ministrado às exigências do PNLD e dos PCN, os quais, por
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para alunos de Letras e Pedagogia e professo- seu turno, requerem a aplicação de programas
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de ensino respaldados nas contribuições das
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correntes lingüísticas mais recentes. (7) Cereja e Magalhães, v. 5, p. 34:
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Para ilustrar tal encruzilhada, relatarei, bre-
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vemente, uma pesquisa realizada por um gru- 1. O texto abaixo é parte da carta de uma lei-
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po de professores e pesquisadores da Universi- tora que elogia a matéria publicada sobre gí-
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dade Federal e Pernambuco e da Universidade rias numa revista. Leia o texto e, em seguida,
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Federal da Paraíba (campus Campina Grande). reescreva-o, substituindo as gírias por pala-
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Tomando por base 25 coleções destinadas ao vras e expressões da norma culta.
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Ensino Fundamental, publicadas ou
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É massa!
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reformuladas entre 1996 e 1999, o grupo deci-
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Dessa vez a Atrevida “arrepiou”. Foi “da hora”
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diu investigar quais eram as tendências teóri-
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a matéria NA PONTA DA LÍNGUA, com as gí-
cas e metodológicas para a abordagem dos se-
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rias “maneiras” de todos os lugares É por isso
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guintes temas:
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que me “amarro” cada vez mais nesta revista:
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descolada, divertida, diferente e “trilegal”.
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Tema Por
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1. Tratamento da oralidade Luiz Antônio Marcuschi Uma postura ainda pouco freqüente consis-
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3. Compreensão de textos Luiz Antônio Marcuschi mática das relações entre fala e escrita como
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4. Abordagem do poema José Helder Pinheiro duas modalidades de uso da língua com fun-
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6. Produção de textos Maria Augusta Reinaldo sendo ambas responsáveis pela formação cul-
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(8) Soares, v. 3, p. 65
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mais usadas:
investigações estão compilados em O livro didá-
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pela Editora Lucerna, em abril deste ano. Tomarei vras: vitrola, patinete, caneta-tinteiro,
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apenas os tópicos “língua falada” e “variedades lin- aeroplano, galocha, pó-de-arroz, cristaleira,
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bibelô, ruge.
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ram “de maneira tão incisiva a fala como o lu- Só as palavras deixaram de ser usadas ou
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gar do erro. Há, no entanto, que suspeitar do as coisas que elas nomeiam também deixa-
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mérito dessa postura, pois ela se deve muito ram de ser usadas? Ou essas coisas ainda
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mais ao silêncio dessas obras sobre a fala do são usadas, apenas mudaram de nome?
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uso” (Marcuschi, 2001: 24), pois o espaço des- Quanto à apresentação das variedades lin-
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tinado à língua falada raramente supera 2% do güísticas (VL), basicamente, são duas as possi-
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uma questão lexical restrita ao uso de gírias e por perguntas de compreensão; e b) utilização
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de expressões coloquiais, como no exemplo a de texto com VL, seguido por perguntas de com-
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seguir.
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SIMPÓSIO 6
O livro didático e a formação de professores
reescritura de VL. Nem sempre, na abordagem gêneros textuais, quando da elaboração de ati-
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do texto, respeita-se a relação entre VL e carac- vidades. Afirmar que “não houve comunicação
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terísticas textuais. Tal fato decorre, a meu ver, entre os dois porque, embora falem a mesma
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de análises equivocadas que resultam em erros língua, pertencem a grupos sociais diferentes”
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conceituais e em inadequações metodológicas, e que “E aí governador, firme?” é linguagem
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como se verifica, infelizmente, no exemplo 9. culta compromete, seriamente, a formação do
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professor e do aluno.
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Fazendo um contraponto, apresento, a se- 87
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(9) Azevedo, v. 5, p. 34-35:
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guir, um exercício em que se encontram atrela-
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1. Leia a piada abaixo e responda às pergun- dos respeito ao gênero textual, fidelidade à lin-
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tas:
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guagem dos personagens e atividades de refle-
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Aquele homem humilde, simples, sotaque cai- xão sobre o uso da VL. A partir da letra da músi-
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pira, foi eleito governador. Um dia, um desses ca Saudosa Maloca, de Adoniran Barbosa, o li-
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políticos de palácio chega bem perto e surpre-
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vro didático propõe o seguinte:
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ende o governador vendo televisão. Faz sua
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média:
(10) Carvalho et. al., v. 3, p. 71:
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– E aí governador, firme?
– Firme, não. Novela! ○
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vernador?
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lada.
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de diferente nela.
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as palavras:
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pular.
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Há, é lógico, o uso de VL nessa piada, tema senhor – senhô contar – contá gritar – gritá
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textos que envolvem temas socialmente contro- norma culta passam a ter.
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identifique dois sentidos para o termo “firme”: 9, neste caso o Manual do professor (p. XXXV )
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“filme”. E é justamente essa confusão de senti- ra coerente, informando que o uso da letra da
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do que causa o humor. Não quero negar com música de Adoniran Barbosa abre “espaço para
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isso a caracterização do governador como cai- a discussão sobre questões atuais no país e di-
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pira nem negar o preconceito existente, pois ferentes normas da língua”. Alerta ainda que
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mar a atenção para a necessidade de atrelar com o certo e o errado é fundamental, para não
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adequadamente os domínios de linguagem aos trair, entre outras coisas, o espírito da música”.
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Dizem, ainda, as autoras sobre o fato de que a
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LAJOLO, Marisa. Livro didático: um (quase) manual de usu-
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música está escrita na norma não-padrão: ário. Em Aberto, n. 69, p. 2-9, 1996.
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MARCUSCHI, Luiz A. O papel da Lingüística no ensino de
“Acreditamos que muitos aspectos possam ser
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línguas. Anais do I Encontro de Estudos Lingüístico-
○
observados pelas crianças: está escrita como se
Culturais da UFPE, 2000.
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fala; não aparecem o “r” e o “l” final de muitas
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. Oralidade e ensino de língua: uma questão
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palavras; algumas palavras são escritas diferen- pouco ‘falada’. In: DIONÍSIO, Ângela P.; BEZERRA,
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temente de como costumam aparecer nos li- Maria A. (Orgs.). O livro didático de português: múlti-
○
vros, como tauba em vez de tábua; [...].” Traz, plos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001, p. 19-32.
○
○
portanto, este Manual do professor algumas in- MARCUSCHI, Elizabeth. Os destinos da avaliação no ma-
○
nual do professor. In: DIONÍSIO, Ângela P.; BEZERRA,
○
formações que contribuem para a formação do
○
Maria A. (Orgs.). O livro didático de português: múlti-
○
professor. Recorro, nesse momento, às palavras plos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001, p. 139-50.
○
de Lajolo (1996: 5) sobre o Manual do profes-
○
POSSENTI, Sirio. Os humores da língua. São Paulo: Mer-
○
sor: “Precisa ser mais do que um exemplar que cado de Letras, 1998.
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se distingue dos outros por conter a resolução REINALDO, Maria Augusta. Teoria e prática na formação
○
○ do professor. Anais do II Congresso Internacional da
dos exercícios propostos”, já que o professor é ○
chega às mãos dos alunos”. dem suas lições na formação dos professores. Anais
○
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tatou-se que, mesmo com avanços relativos à SOARES, Magda. Que professores de português queremos
○
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presença de teorias mais recentes de língua, os formar? Revista Movimento , n. 3, p. 149-55, 2001.
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Bibliografia
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1999. v. 3.
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didático de português: múltiplos olhares. Rio de Janei- MIRANDA, Cláudia et al. Vivência e construção: Língua
○
GÉRARD, François-Marie; ROEGIERS, X. Conceber e ava- SOARES, Magda. Por tuguês: uma proposta para o
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O livro didático e a formação de professores
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do professor são incompatíveis?
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Kazumi Munakata
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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
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Aos companheiros professores e funcionários das Universidades
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Federais que, no momento em que este trabalho foi apresentado no
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Congresso Brasileiro de Qualidade na Educação, encontravam-se em
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greve pela dignidade no exercício de suas atividades profissionais e,
○
conseqüentemente, pela qualidade na educação.
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“Costumo esclarecer que à perda crescen-
○
A ditadura, ao mesmo tempo que introdu-
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te da dignidade do professor brasileiro con- ○
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zia a “pedagogia tecnicista”, impôs, mediante
trapõe-se o lucro indiscutível e estrondoso compressão salarial, “o solapamento contínuo
○
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das editoras de livros didáticos” – o esclare- e crescente da dignidade profissional dos pro-
○
Silva (1998: 58), num artigo originariamente aulas, sem muito tempo para atualizar-se e, por
○
○
publicado na revista Em Aberto (n. 69), de isso mesmo, lançando mão dos livros e manu-
○
○
1996, data em que ele era titular da Secreta- ais que lhes chegavam prontamente” (idem: 45)
○
ria da Educação da Prefeitura Municipal de – o que teria contribuído para a elevação dos
○
○
Campinas (São Paulo), na gestão do prefeito lucros das editoras. Para esses professores as-
○
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Magalhães Teixeira, do PSDB. O fato de ele ter sim desqualificados, “coxos por formação e/ou
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○
sido, então, diretamente responsável pela mutilados pelo ingrato dia-a-dia do magistério”
○
dignidade da parcela campineira do profes- (idem: 57), o livro didático tornou-se “bengala,
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○
sorado brasileiro parece não importar muito muleta, lente para miopia ou escora que não
○
○
quando se trata de prosseguir sua obstinada deixa a casa cair” (p. 43). Silva (1998) remata:
○
ocupa considerável espaço da sua produção fessor apresenta-o com um livro nas mãos, dan-
○
○
Para ele, o livro didático associa-se direta- mento são elementos inseparáveis” (idem: 58).
○
Ainda que as cartilhas, os manuais de ensino do livro é um desqualificado, “coxo por forma-
○
na escola brasileira desde o início do século vros ou ele considere indigno da sua sabedoria
○
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19, é na segunda metade da década de 1960, recorrer a livros para adquirir novos conheci-
○
um mercado rendoso, lucrativo e certo (Sil- seu interesse (o período da ditadura militar no
○
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fessor são antípodas.1 servação do fazer e pelo treino do próprio
○
○
Segundo Guy Vincent, Bernard Lahire e fazer, em seus respectivos ambientes (o
○
aprendizado de um ofício artesanal fazia-se
○
Daniel Thin (1994), a instituição que hoje co-
○
nhecemos como “escola” apareceu na Europa numa oficina; o de um cavaleiro, na casa de
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um nobre etc.). Na escola, ao contrário, en-
○
no decorrer dos séculos 16 e 17. Eles advertem
○
sina-se a todos um conjunto de saberes e
○
que o fato de certas palavras do vocabulário
○
valores independentemente da especializa-
educacional terem existido desde a Antiguida-
○
ção a que cada aluno se destina ou almeja,
○
de não significa que elas indicassem sempre as
○
e esse conteúdo genérico a ser ministrado,
○
mesmas coisas. A “escola”, por exemplo: essa
○
sem referência a nenhum ofício em parti-
○
palavra deriva do grego skholê, que significava cular, inviabiliza o aprendizado centrado no
○
“lazer”, “entretenimento”, num sentido muito
○
fazer.
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próximo ao do latim otium, que daria origem à
○
• “Escrituralização-codificação dos saberes e
○
palavra portuguesa “ócio”. Esses termos indica-
○
○
das práticas” (Vincent et al., 1994: 31). Exa-
vam a condição privilegiada dos “homens li-
tamente na medida em que o fazer e o ensi-
○
se dar ao luxo de dedicar-se ao cultivo das ar- ma de registro que é a escrita. “Uma peda-
○
○
A escola que se idealizou e foi se constituin- física, da atividade militar, da dança etc. não
○
○
do nos séculos 16-17 opôs-se de certo modo a se faz sem uma escrita do desenho, uma es-
○
○
esse elitismo dos “bem-nascidos”. Numa época crita musical, uma escrita esportiva, uma
○
marcada pelos movimentos de Reforma e de escrita militar, uma escrita da dança. Escri-
○
○
Contra-Reforma, o protestante Comenius (1592- tas que implicam quase sempre gramáticas,
○
○
1670) imaginou uma “arte de ensinar tudo a to- teorias das práticas. O modo de socializa-
○
lado católico, os Irmãos das Escolas Cristãs, de Por isso mesmo, a escola é antes de tudo
○
○
uma escola gratuita para todos, cujo ensino re- Afirmam Vincent et al. (1994: 36):
○
○
de outras práticas sociais” (Vincent et al., se pode denominar uma relação escritural-esco-
○
próprias, num âmbito que não se confunde Num lugar assim instituído, o livro neces-
○
• A separação entre o fazer e o ensinar. Até mental. Em Ratio studiorum, uma espécie de
○
○
então, o aprendizado (de saberes, valores, manual de ensino dos colégios jesuítas, redigi-
○
○
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○
○
○
1
O seu recorte histórico, que só conhece o período da ditadura militar, obscurece, por isso, o fato notório de que o grande boom dos livros
○
○
didáticos (e, portanto, da lucratividade das editoras) aconteceu com a redemocratização, com a instituição, em 1985, do Programa Nacional
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do Livro Didático (PNLD), por meio do qual o governo federal chegou a adquirir, em 1999, quase 110 milhões de exemplares.
○
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SIMPÓSIO 6
O livro didático e a formação de professores
do entre 1548 e 1599, grande parte foi dedicada tou a passagem do termo “text book para text-
○
○
aos livros a ser adotados. Mais do que isso, ha- book, depois textbook, evolução que reflete [...] a
○
○
via uma série de recomendações sobre o modo emergência de uma categoria e de um produto
○
○
como eles seriam lidos, com a indicação de tre- específicos” (Stray, 1993: 74, nota 2). Na França,
○
chos que deveriam ser omitidos por conter in- de acordo com Chervel e Compère (1997), vários
○
○
conveniências (principalmente em relação à autores, hoje tornados “clássicos”, dedicaram-se
○
○
doutrina cristã). Também Comenius, em Didá- a produzir obras especialmente destinadas a fins
○
tica magna, discutiu os prejuízos causados pela didáticos: Ester e Atália, de Racine, ou Aventuras 91
○
○
leitura de livros pagãos e recomendou que se de Télémaque, de Fénelon, e Discurso sobre a his-
○
○
produzissem livros especialmente adequados tória universal, de Bossuet, são exemplos.
○
○
ao ensino. Por sinal, ele mesmo foi o autor de Essas considerações, longe de pretenderem
○
um livro que julgou adequado aos propósitos esgotar uma possível história do livro didático,
○
○
didáticos: a obra intitulada Orbis sensualium servem apenas para indicar que este faz parte
○
○
pictus (O mundo sensível em imagens), de 1658. da vida escolar desde que a escola é escola. Nes-
○
○
Segundo Narodowski, esse livro, em que cada se sentido, ao contrário do que imagina o se-
○
capítulo refere-se a um assunto a ser ensinado cretário Silva, de fato “o ensino, o livro e o co-
○
○
e contém ilustração correspondente, nhecimento são elementos inseparáveis” na for-
○
○
[...] é a matriz mediante a qual se reproduzirão é imagem estereotipada da sua deficiência a ser
○
os livros de textos didáticos que deverão formar compensada com muleta, mas a afirmação da
○
○
Do ponto de vista de seu conteúdo, o livro di- ções na sua forma e no modo de sua produção
○
○
texto didático não possui um valor literário ou sa a constituição, a partir do final do século 19,
○
para o processo de produção de conhecimentos do ele não existia, cada aluno devia trazer de
○
escolares. Mais ainda, o texto possui um estilo sua casa algo escrito – manuscrito ou impresso
○
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literário e uma retórica singular [...]. O livro de – que pudesse servir de material de ensino, e
○
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texto didático constrói uma estética que lhe é este era necessariamente individualizado. A
○
Nos Estados Unidos, como mostra Stray, a o ensino simultâneo, pelo qual muitos passa-
○
○
constituição e o desenvolvimento desse gênero ram a estudar uma mesma matéria ao mesmo
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ção da própria terminologia que o designa: con- Como suporte da organização das práticas
○
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sultando o catálogo da Biblioteca de Nova York escolares, o livro didático destina-se tanto ao
○
○
referente ao período de 1880 a 1920, ele consta- aluno como ao professor. 2 Os usos que um e
○
○
○
○
○
2
Segundo Gérard e Roegiers (1998), no Vietnã, os livros didáticos “são especialmente concebidos para os pais a fim de os ajudarem a
○
assegurar as aprendizagens escolares dos filhos” (p. 30). Pode-se também suspeitar que, no Brasil, desde que o Programa Nacional do Livro
○
Didático (PNLD) passou, a partir de 1995/1996, a avaliar os livros didáticos, os avaliadores tornaram-se os destinatários prioritários.
○
outro fazem do livro didático são diversos, múl- colha, pelos professores, dos livros recomenda-
○
○
tiplos: nem sempre se lêem esses livros porque dos pela avaliação do PNLD:
○
○
se desconhece o seu conteúdo. Dito de modo
○
○
mais claro: se um professor usa um livro didá- Tendo em vista o PNLD/97, cerca de 72% das
○
tico, isso não significa necessariamente que ele escolhas docentes recaíram sobre os livros não-
○
○
seja malformado, ignorante, como fazem supor recomendados e apenas cerca de 28% sobre os
○
○
as metáforas de “muleta”, “escora” etc. Não há recomendados. No PNLD/98, embora a soma
○
apenas uma maneira de ler um livro – ainda dos livros recomendados (com distinção,
○
○
mais em se tratando de livros didáticos, para o 21,88%; com ressalvas, 22,15%; ou simplesmen-
○
te recomendados, 14,64%) tenha constituído o
○
que é mais conveniente falar em “uso” do que
○
grupo mais escolhido pelos docentes, a catego-
○
em “leitura” (Lajolo, 1996). Esses livros são car-
○
ria que, isoladamente, mostrou-se a mais repre-
regados de um lado para outro; são rabiscados
○
sentada continuou a ser a dos não-recomenda-
○
(embora o governo não goste disso...); raramen-
○
dos (41,33%). No PNLD/99, por fim, as escolhas
○
te são lidos de ponta a ponta ou na seqüência
○
dos docentes, com a eliminação da categoria dos
○
em que seus conteúdos estão ordenados.
não-recomendados, recaíram, predominante-
○
algumas informações ainda díspares são surpre- ção representando apenas 8,40% das escolhas
○
○
co de História em algumas escolas estaduais de O que ressalta nesses dados é, mais do que
○
○
Ensino Fundamental na cidade de São Paulo. um “descompasso”, uma inversão completa en-
○
liza livro didático apenas como fonte de ilus- da avaliação do PNLD. O que isso significa? A
○
○
trações. Outro relata que o emprega para fazer incompetência dos professores, incapazes de
○
○
exercícios de leitura – habilidade que, segundo optar pelo melhor? O documento do MEC
○
Esses exemplos revelam não a suposta defi- vro didático assim como alguns dados relativos
○
tas; ao contrário, mostram a extrema criatividade para a formação docente como um dos fatores
○
○
no manuseio desse material, por cuja escolha relevantes para a compreensão do referido
○
○
esses professores nem sempre foram responsá- descompasso (MEC, 2001: 33.).
○
desenvolver uma excelente aula. Essas questões, indicadores que apontam para a precariedade
○
○
avaliação dos livros didáticos. Sintomático nes- Embora essa hipótese não possa ser descar-
○
○
vas do PNLD e as dos docentes”, reconhecido por possibilidade de equívocos nas avaliações rea-
○
○
um documento do próprio Ministério da Edu- lizadas pelo PNLD. Não é possível que os pró-
○
cação (MEC, 2001), isto é, o baixo índice de es- prios avaliadores tenham uma formação inade-
○
○
○
○
○
○
3
Araújo (2001) descreve uma situação muito comum em que, em razão da intensa rotatividade dos docentes em relação às unidades de
○
ensino, os professores têm de adotar livros que não escolheram. Além disso, essa pesquisa constatou que nem sempre há livros suficientes
○
○
para todos os alunos, o que faz com que os professores retenham os exemplares na escola, distribuindo-os e recolhendo-os a cada aula.
○
Convém esclarecer que a escolha e a distribuição dos livros didáticos no Estado de São Paulo são realizadas de modo autônomo, cabendo
○
92
SIMPÓSIO 6
O livro didático e a formação de professores
quada? Como o avaliador é avaliado? Como é ao ensino dos conteúdos de uma disciplina, mas
○
○
recrutado? A esse respeito, o Guia de livros di- é também ocasião de desenvolvimento de cer-
○
○
dáticos, em várias edições, é extremamente tas habilidades – por exemplo, de leitura. Antes
○
○
lacônico. Na edição referente ao PNLD 2000/ mesmo de os Parâmetros Curriculares Nacionais
○
2001 afirma-se que os avaliadores são preconizarem atitudes, transversalidades e toda
○
○
a sua parafernália neotecnicista, os professores
○
○
[...] especialistas que atuam tanto no Ensino já desenvolviam essas práticas, sem o que mi-
○
nistrar sua própria disciplina específica ficava 93
○
Fundamental como na universidade e é basea-
○
da não só na experiência docente e no conheci- muitas vezes inviabilizado.
○
○
mento especializado das equipes, mas, princi- Não que a formação esteja às mil maravilhas;
○
○
palmente, naquele conjunto de princípios e cri- ao contrário: é com muita apreensão que se as-
○
siste hoje ao incentivo à proliferação desenfrea-
○
térios já referidos (Introdução Geral).
○
da de cursos improvisados de formação docente,
○
○
Na edição do Guia do PNLD/2002, não há muitos de curta duração, apenas para fazer cum-
○
○
menção à figura do avaliador, mas há um escla- prir estatisticamente o preceito da nova Lei de
○
recimento de que “o Ministério adotou uma Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que exi-
○
○
nova sistemática para o processo de avaliação”, ge formação superior de todos os docentes em
○
○
buscando, “por meio de parcerias com univer- todos os níveis de ensino. Não é assim que os pro-
○
pesquisa universitária sobre o tema, bem como bilidades de uso – e, portanto, de escolha – dos
○
○
experiência acumulados” (p. 11). Que pesqui- doutrinação dos professores, pelas quais se pro-
○
sas são essas e como isso se manifesta na esco- curará “ensinar” como eles não sabem escolher
○
○
lha dos avaliadores não é dado a conhecer. livros e que por isso devem seguir as orientações
○
○
Em todo caso, é possível aqui reiterar que dos avaliadores do PNLD. Nesse sentido, o referi-
○
○
não há no momento, com toda a certeza, ne- do documento do MEC (2001: 36) recomenda
○
nhuma pesquisa em andamento que examine “programas de capacitação para a escolha e o uso
○
○
sistematicamente os usos efetivos dos livros do livro didático, destinados aos docentes e téc-
○
○
didáticos pelos professores. Isso significa que nicos dos sistemas educacionais”, subentenden-
○
○
na melhor das hipóteses os avaliadores conti- do-se que docentes e técnicos são “incapazes”.
○
nuam examinando os livros com base apenas Sugerem-se também “alterações no Guia de livros
○
○
te é denominado “achômetro”. É também pos- as obras que dele constam e utilizando-se uma
○
○
sível que alguns avaliadores simplesmente não linguagem mais adequada ao professor e a suas
○
levem em conta o caráter escolar e didático des- expectativas” (p. 36), pois, os professores, supõe-
○
○
ses livros, lendo-os como se fossem obras cien- se, são incompetentes para entender a linguagem
○
○
tíficas, que devem conter os resultados das mais tão elevada dos avaliadores.
○
○
Do lado da formação dos professores, é pre- vas do PNLD e as dos docentes” for entendido
○
○
ciso fazer distinção entre formação inadequada como descompasso de mão única, isto é, como
○
○
e atitudes por vezes inesperadas que eles tomam incapacidade do professor em relação à sapiência
○
○
perante necessidades do dia-a-dia. Podemos não do PNLD, não haverá propostas de formação do-
○
concordar com o uso de um livro didático como cente que consigam levar em conta as poten-
○
○
suporte de exercícios de leitura, mas isso não sig- cialidades, a criatividade e a autonomia dos pro-
○
○
nifica que esse professor tenha tido necessaria- fessores. Estes continuarão, como sempre, sendo
○
○
mente uma formação inadequada. Não se pode vistos como um “mal necessário”, “coxos por for-
○
esquecer de que a aula no Ensino Fundamental mação”, eternamente deficientes a requerer mule-
○
○
(e freqüentemente até mesmo no Ensino Supe- tas, ao mesmo tempo que constituem item indis-
○
○
rior e na Pós-Graduação) não se presta somente pensável para ornar estatísticas eleitoreiras.
○
Bibliografia
○
HÉBRARD, Jean. Três figuras de jovens leitores: alfabetiza-
○
ção e escolarização do ponto de vista da história cultu-
○
ARAÚJO, Luciana Telles. O uso do livro didático no ensino
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estaduais de Ensino Fundamental situadas em São
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2000.
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n. 2, 1990. São Francisco, 2001.
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GÉRARD, François-Marie; ROEGIERS, Xavier. Conceber e les sociétés industrielles. Lyon: Presses Universitaires
○
de Lyon, 1994.
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
A contextualização das práticas escolares tárias, ganhando cada vez mais status de obje-
○
○
além de nos lembrar o fato, às vezes incômo- recente história das disciplinas escolares. Hoje,
○
do, de que nossas práticas escolares também o estudo e a constituição da história do livro
○
○
estão condicionadas à nossa época, pode for- didático, assim como a preservação de acervos,
○
○
necer uma visão crítica e reflexiva sobre práti- tem reunido pesquisadores em torno de núcle-
○
cas atuais.
○
Nesse sentido, o livro didático torna-se ma- Educação, de Letras e de Comunicação, sendo
○
○
terial de pesquisa privilegiado, quer seja como que alguns grupos de universidades diferentes
○
○
Nos últimos vinte anos, influenciado pela Estado da Educação, como atestam a inaugu-
○
○
sociologia e pela história da leitura, o livro di- ração do Museu da Escola de Minas Gerais, em
○
94
SIMPÓSIO 6
O livro didático e a formação de professores
○
rência do Professor, em Belo Horizonte, e a ex-
○
posição histórica, da qual participo como con- invisíveis, convido-os a visitar essa escola do
○
○
sultora, intitulada “A escola e o saber: trajetória passado como quem “observa uns velhos car-
○
○
de uma relação”, que procura mostrar momen- tões-postais ilustrados que mostram como esta
○
tos marcantes do ensino público em São Paulo havia sido” ou, ainda, a se perguntar como es-
○
○
por meio de fotos, móveis, objetos e livros di- colas tão diferentes habitaram o mesmo lugar
○
○
dáticos, inaugurada no final de outubro de 2001, (Calvino, 1990: 30).
○
De fato, impulsionada pela economia 95
○
juntamente com o Centro de Referência do Pro-
○
fessor Paulista. Interessante notar que ambas as cafeeira e pelos ideais republicanos, a expan-
○
○
iniciativas ocorrem em espaços destinados à são da escola pública primária no Estado de
○
○
formação continuada do professor, voltados São Paulo, traduzida na invenção dos grupos
○
portanto para o presente e para o futuro, mas escolares, marcaria as três primeiras décadas
○
○
que vêem o passado como um ângulo privile- da República, fazendo surgir na paisagem ur-
○
○
giado de pesquisa e de formação. bana “templos de saber” (Souza, 1998), cujas
○
○
Para afinar a discussão, escolhi dois mo- imagens seriam difundidas em cartões-pos-
○
mentos constitutivos da escola pública: a orga- tais.
○
○
nização do ensino primário em São Paulo, logo A tabela a seguir, além de fornecer dados
○
○
zação do ensino secundário a partir do Colégio em São Paulo, mostra a grande ampliação de
○
Estado de São Paulo – Resumo estatístico dos Grupos Escolares de 1898 a 1910
○
○
○
○
* Foram dissolvidos os Grupos Escolares de São José dos Campos, Bananal e Ubatuba [Nota de rodapé original do Anuário , que acompanha esta tabela]
○
○
○
○
cola pública como conseqüência, a progressão seriada dos
○
○
conteúdos.
○
○
[...] é uma escola para a difusão dos valores re- Quanto ao processo de aprendizagem, pro-
○
publicanos e comprometida com a construção cura-se difundir com entusiasmo o “método in-
○
○
e a consolidação do novo regime; é a escola da tuitivo”, ancorado nas idéias de Pestalozzi e as-
○
○
República para a República. [...] era preciso fun- sim chamado porque dava muita importância
○
dar uma escola identificada com os avanços do à intuição, à
○
○
século, uma escola renovada nos métodos, nos [...] observação das coisas, dos objetos, da na-
○
○
processos de ensino, nos programas, na organi- tureza, dos fenômenos e para a necessidade da
○
zação didático-pedagógica; enfim, uma escola educação dos sentidos como momentos funda-
○
○
moderna em substituição à arcaica e precária mentais do processo de instrução escolar.
○
○
escola de primeiras letras existente no Império Essa etapa da observação minuciosa e orga-
○
[...] (Souza, 1998: 29). nizada é condição para a progressiva passagem,
○
○
○
○
pelos alunos, de um conhecimento sensível
Para coordenar as mudanças, em 1894, foi para uma elaboração mental superior, reflexi-
○
dio da Escola Normal Caetano de Campos, na las “lições de coisas”, momento em que o pro-
○
○
ros professores primários, a Escola Normal cursões à circunvizinhança da escola, ou, ain-
○
○
mantinha uma escola primária anexa, chama- da, possibilitando aos alunos o acesso a gravu-
○
últimos anos faziam estágio, e um Jardim da prios livros, de “lições de coisas” ou de outros
○
○
Infância, primeira escola pública infantil, inau- conteúdos, ou em cartazes especialmente pro-
○
○
cola pública infantil é que a Educação Infantil A expansão da escola pública no Estado de
○
foi incluída como primeira etapa da Educação São Paulo procurava, portanto, articular o pro-
○
○
Básica, na Lei de Diretrizes e Bases da Educa- grama ideológico da República com as inova-
○
○
ção Nacional (Lei nº 9.394) de 1996. ções pedagógicas em voga na Europa, dando à
○
○
A centralização do ensino primário a partir escola primária uma finalidade cívica e moral,
○
da Escola Normal Caetano de Campos colocou reorganizando o espaço e o tempo escolar e di-
○
○
públicos da administração escolar. Muitos de- Tal ponto de inflexão da escola primária
○
les se tornariam também autores didáticos de exigia não só móveis específicos, mas também
○
○
sucesso, como foi o caso de Arnaldo Barreto e o uso de novos materiais didático-pedagógi-
○
○
dos edifícios aponta a separação entre a seção República os móveis e alguns suportes de en-
○
○
feminina e a seção masculina, generalizaram sino eram importados da Europa e dos Esta-
○
○
a aceitação do método simultâneo como for- dos Unidos, os livros tinham de ser traduzidos
○
tindo “a ação do professor sobre vários alunos qüência imediata dessa expansão foi o desen-
○
○
96
SIMPÓSIO 6
O livro didático e a formação de professores
○
○
nalização do escritor didático. 2. Ela já sabe ler, escrever e contar.
○
○
Prosperaram bastante nesse período edito- 3. Hoje ela teve uma lição de geografia.
○
4. Sabem vocês como foi a lição?
○
ras já tradicionais no segmento dos livros didá-
○
ticos, como a Livraria Francisco Alves, fundada 5. Primeiro, a professora lhe mostrou o globo
○
○
geográfico.
em 1854 no Rio de Janeiro, cuja filial em São
○
6. Mostrou-lhe no globo os mares e os continen-
○
Paulo foi aberta em 1893. Se até 1889 a Livraria
○
tes. 97
Francisco Alves havia publicado apenas 67 tí-
○
7. Depois mostrou no globo a América do Sul e o
○
tulos (sendo 59 de ensino), nas três décadas se-
○
Brasil.
○
guintes ela acompanhou a expansão escolar,
○
8. Ofélia está agora com um globinho na mão.
○
publicando 538 títulos, 295 dos quais eram di- 9. Ela mostra ao Hipólito onde fica o Brasil.
○
dáticos.
○
10. Hipólito ficou muito alegre e lhe disse:
○
Outras empresas, como a editora Melhora-
○
11. Vamos ao gabinete, onde está o quadro-negro.
○
mentos (1915) e a editora de Monteiro Lobato 12. Vou fazer no quadro-negro a carta do Brasil.
○
○
(1918) aparecem em São Paulo nessa época, fa- 13. Como o Brasil é belo e grande!
○
zendo do livro didático um importante ramo de 14. Viva a nossa Pátria! Viva o Brasil!
○
○
seus negócios.
○
○
mente, são as principais atividades dos alunos também tiveram papel importante na conso-
○
foi eleito o método americano, chamado de ca- com que várias gerações lessem, escrevessem,
○
○
ligrafia vertical, cujos cadernos graduados per- decorassem e recitassem não só velhos ensi-
○
cal de Francisco Viana, publicados de 1909 até Marquês de Maricá, mas também textos que
○
○
1999 pela editora Melhoramentos, segundo a construíam a idéia de pátria moderna e civi-
○
qual essa série teve mais de 110 milhões de lizada, ou seja, livros que veiculavam conteú-
○
○
tas de ABC (bê-a-bá), conhecida por método tudo o ensino de Língua Materna, de Geografia
○
○
sintético, substituindo-o pelo método analí- e de História) e, para isso, foi imprescindível a
○
○
Estado de São Paulo (Mortatti, 2000), cujos e coletiva, possível graças à nova organização
○
expoentes são: a Cartilha das mães e a Car- do espaço e do tempo escolar com o ensino si-
○
○
tilha analítica, de Arnaldo Barreto, a Cartilha multâneo, tinha lugar de destaque, pois por
○
○
ensino rápido da leitura e a Cartilha analíti- meio dela eram transmitidos e reforçados os
○
○
ligados à Escola Normal Caetano de Campos. pelo novo regime, não se restringiu aos livros
○
○
Destas, a cartilha que parece ter alcançado de “lições de coisas”; verifica-se sua influên-
○
maior sucesso foi a Cartilha ensino rápido da cia nas várias publicações do período, atingin-
○
○
leitura, de Mariano de Oliveira, que, publi- do desde cartilhas de alfabetização até livros
○
○
cada em 1917, permaneceu no mercado até de leitura de várias áreas e destinados a vários
○
○
mais de 6 milhões de exemplares. Nas pági- Assim, além do objetivo ideológico, presen-
○
○
nas 43 e 44 dessa cartilha encontra-se a se- te, por exemplo, logo na abertura das Primeiras
○
○
○
organizada requerida pelo método intuitivo, o
○
Pátrio pendão sacrossanto que explica a grande atenção dada à descrição.
○
○
Da família Brasileira! Nesse livro, uma rápida consulta ao índice
○
Nossa adorada bandeira!
○
pode ilustrar a apreensão sensível de objetos,
○
[...]
pessoas e cenas que estão presentes na escola,
○
○
no lar e na sociedade:
○
há nos livros didáticos uma preocupação
○
Enumerações: material escolar, sala de
○
maior com a materialidade, tanto na escolha aula, corpo humano, peças do vestuário
○
○
do papel, da capa cartonada, do acabamen- masculino, quarto de dormir, cozinha etc.
○
to esmerado, quanto na importância das ilus-
○
Exposições: trabalhos escolares, conduta na
○
trações e fotografias (tecnologia de ponta, na
○
rua, trajeto da escola, serão em família, as-
○
época, que deu emprego a muitos ilustrado-
seio etc.
○
res), tudo para tornar os livros mais atraen-
○
○
Descrições: caneta, livro de leitura, mesa de
tes e em sintonia com as novas exigências
○
jantar; praça pública, sala de aula; descri-
○
educacionais. ○
amigo etc.
○
e instrução etc.
○
Bilac, Através do Brasil, de Olavo Bilac e Manuel A tendência desses livros didáticos se con-
○
○
Bonfim, Pequenas leituras, de Ramon Roca servaria vigorosa até a década de 1930, sendo
○
○
Dordal, Livro dos principiantes, de Nestor que vários deles, transformados pelo uso em
○
○
Martins de Araújo, Nossa Pátria, de Rocha Pom- best-sellers didáticos (como os da Francisco
○
bo, e os difundidos livros de leitura de João Alves e da Melhoramentos aqui citados), sobre-
○
○
Kopke, Tomás Galhardo, Hilário Ribeiro, viveriam pelo menos até os anos 1970.
○
○
Interessante salientar que mesmo quando tado diz respeito à progressiva rarefação das
○
há poucas ilustrações, como é o caso do Livro matrículas à medida que o curso primário
○
○
de composição, de Olavo Bilac e Manuel Bonfim, avançava, o que causava inchaço nas classes
○
○
Masc. Fem. Geral Masc. Fem. Geral Masc. Fem. Geral Masc. Fem. Geral
○
Matrícula inicial
1º ano 47.341 41.557 88.898 9.806 8.500 18.306 37.506 30.976 68.482 94.653 81.033 175.686
○
○
2º ano 35.937 33.113 69.050 5.579 4.860 10.439 11.466 9.527 20.993 52.982 47.500 100.482
○
○
3º ano 26.304 24.962 51.266 3.529 3.038 6.567 4.331 3.672 8.003 34.164 31.672 65.836
○
○
4º ano 16.733 16.622 33.355 1.792 1.582 3.374 384 406 790 18.909 18.610 37.519
○
○
Total 126.315 116.254 242.569 20.706 17.980 38.686 53.687 44.581 98.268 200.708 178.815 379.523
○
○
98
SIMPÓSIO 6
O livro didático e a formação de professores
Essa situação, perpetuada durante décadas, rículo de Retórica e Poética, disciplina exigida
○
○
acabava se refletindo na tiragem dos livros de nos “preparatórios” das Faculdades de Direito
○
○
leitura que, sem dúvida, ía diminuindo à medi- até 1890, exigência que, entre nós, parece ter
○
○
da que o livro era direcionado para as classes sido responsável pelo estreitamento de laços
○
mais adiantadas. Em 1946, por exemplo, a Li- entre a preparação retórico-literária e os cur-
○
○
vraria Francisco Alves reeditou os Livros de lei- sos jurídicos.
○
○
tura, de Felisberto de Carvalho, amplamente O ensino da língua e da literatura nacionais
○
adotados nas escolas primárias, sendo que o (portuguesa e brasileira) sempre se pautou pelo 99
○
○
primeiro volume, indicado para o 1º ano, esta- ensino das línguas clássicas, sobretudo o Latim.
○
○
va na 130ª edição, o segundo volume (para o 2º A “gramática nacional” era estudada a partir das
○
○
ano) na 107ª edição, o terceiro volume (para o categorias gramaticais da língua latina e
○
3º ano) na 75ª edição e o quarto volume (para o explicada como uma transformação desta, en-
○
○
4º ano) na 42ª edição. quanto a literatura nacional era apresentada se-
○
○
A longevidade de cartilhas e livros de leitu- gundo os critérios fixos da Retórica e da Poética
○
○
ra para o curso primário, concebidos ou impul- clássicas, dividida por gêneros. A leitura literá-
○
sionados a partir da República (e alguns, como ria, base do ensino de Latim e Grego e base do
○
○
vimos, sobreviveram bravamente até a década ensino de Retórica e Poética, também se trans-
○
○
de 1990), vem nos alertar para a permanência formou em base do ensino da língua e da litera-
○
○
desses modelos na escola. A principal razão tura nacionais, erigindo os “clássicos nacionais”.
○
fato de que tais modelos puderam ser légio Pedro II, restritas ao primeiro ano, dedi-
○
○
tes ideologias, métodos e organização escolar. gramaticais, especialmente dos verbos. Aos
○
○
Deixando de lado a escola primária, passe- poucos, foram absorvendo práticas de ensino e
○
○
mos agora para o segundo tópico da discussão, conteúdos das aulas de Retórica e Poética. Pri-
○
○
que focalizará algumas questões de leitura no meiro, em 1855, vieram a leitura literária e a
○
ensino secundário, a partir do Colégio Pedro II, recitação para auxiliar o ensino da língua. De-
○
○
ciplina curricular institucional, é recente e con- gio Pedro II por causa de sua inclusão nos “exa-
○
1837, escola secundária padrão da elite brasi- Português a redação e a composição. Em 1890,
○
○
leira. A duração do curso secundário era equi- quando a Retórica e a Poética foram substituí-
○
○
valente ao período que hoje compreende as das pela História da Literatura Nacional, a gra-
○
quatro últimas séries do Ensino Fundamental mática histórica também foi transferida para o
○
○
O estudo dos programas de ensino do Colé- A leitura literária, desde sua introdução em
○
○
gio Pedro II aponta que até 1869 as aulas de 1855, reinou absoluta nas aulas de Português,
○
qual predominavam as disciplinas clássicas, fessores portugueses e, mais tarde, por profes-
○
○
principalmente o Latim. A partir de 1870, logo sores brasileiros. As seletas mais antigas se-
○
○
os “preparatórios” – exames que davam acesso excertos divididos por gêneros, como é o caso
○
○
aos cursos superiores no Brasil (Direito, Medi- da Seleta nacional, de Caldas Aulete, e as mais
○
○
○
○
no Brasil foi a Antologia nacional, de Fausto 1950, houve a fusão entre textos e gramática
○
○
Barreto e Carlos de Laet. Sua permanência no num só compêndio, mas ainda divididos em
○
○
ensino secundário por mais de setenta anos (1ª duas partes (Soares, 1996). A década seguinte
○
edição, 1895; última edição, 1969) é testemu- (1960) trouxe uma nova organização aos livros
○
○
nho da longa estabilidade do modelo de ensino didáticos, muito próxima da que conhecemos
○
○
que privilegiava a leitura “intensiva” (Chartier hoje, dividindo o ensino de Português por uni-
○
e Hébrard, 1995) dos clássicos da literatura na- dades, com leitura de texto literário, atividades
○
○
cional do século XVI ao século XIX. de interpretação e estudo de tópico gramatical,
○
○
A leitura da Antologia nacional, porém, não dando continuidade ao privilégio da língua cul-
○
○
era complemento do manual de História da Li- ta (Soares, 1996).
○
teratura Nacional e sim ponto de partida, nas Apenas na década de 1970 é que a leitura
○
○
aulas de Português, para a aquisição e para o dos clássicos começou a ser substituída pela
○
○
treinamento da norma culta vigente, em exer- “leitura extensiva” (Chartier e Hébrard, 1995),
○
○
cícios como leitura e recitação, ditado, estudo ○
sintonizada com os meios de comunicação de
do vocabulário, da gramática normativa, da gra- massa e com as inovações tecnológicas.
○
○
mática histórica, exercícios ortográficos, análi- O novo modelo implantado no Brasil a par-
○
○
ses sintáticas e morfológicas, redação e compo- tir de 1971, com a Lei nº 5.692, que redirecionou
○
○
vernáculos (e morais) para a “boa” aquisição outras matérias”, o que multiplicava as opções
○
da língua, além, é claro, de oferecer a seus lei- de textos para leitura em classe, tornando a lei-
○
○
tores uma certa formação literária, mas sem tura literária mais uma dessas opções.
○
○
é que a História da Literatura Nacional tornou- passou a ser denominada Comunicação e Ex-
○
○
se a principal atividade das aulas de Português pressão, deveria preocupar-se, daí em dian-
○
○
das três últimas séries do curso secundário (atual te, com a “expressão da Cultura Brasileira”, li-
○
○
Ensino Médio) e passou a ser exigida nos exa- bertando, portanto, do domínio clássico por-
○
assinalando com isso a sua ascensão na escola. nossas escolas, facilitando e incentivando a
○
○
origem institucional nas reformas de ensino do Dessa maneira, o ensino de Português pas-
○
○
Estado Novo. Porém o critério literário nacio- sou a admitir, cada vez mais, um número mai-
○
○
nalista, que norteava as aulas do curso secun- or e mais variado de textos para leitura, desde
○
○
tradicional de ensino da língua, engessada pela mente ampliados com a literatura contempo-
○
○
leitura dos clássicos e defendida em nome da rânea pós-1922, até todo tipo de manifestação
○
○
autores do modernismo entrassem nos livros do currículo, textos de jornais, revistas, quadri-
○
O ensino da gramática era supervalorizado tanto, que o chamado boom da literatura infan-
○
○
e intenso, fazendo com que os já memorizados til tenha ocorrido nessa época, pois ela viria a
○
○
textos e poemas fossem retalhados e divididos entrar na sala de aula como mais uma das op-
○
Até o final dos anos 1940, era comum nas É ainda nos anos 1970 que aparecem técni-
○
○
aulas de Português o uso de uma antologia e de cas e engrenagens que parecem substituir o pro-
○
100
SIMPÓSIO 6
O livro didático e a formação de professores
○
e de gêneros, escamoteia um componente eco-
○
gido, instrução programada, exemplar do pro- nômico importante na definição dos custos do
○
○
fessor com exercícios resolvidos e respostas livro didático: os gastos com o pagamento de
○
○
impressas em caracteres vermelhos. Essa nova direitos autorais dos textos. Sem dúvida, os di-
○
concepção de livro didático reflete a má forma- reitos autorais de textos de jornal são muito
○
○
ção dos professores, decorrente da democrati- mais baratos do que, por exemplo, os direitos
○
○
zação do ensino e da multiplicação de agências autorais de um texto literário.
○
formadoras sem compromisso com a qualida- Quanto à leitura literária, sobretudo a lite- 101
○
○
de (Soares, 2001). ratura adulta (em oposição à literatura produ-
○
○
Quanto à leitura, literária ou não, nota-se o zida para o público infantil e juvenil),
○
○
aparecimento de uma “ficha de leitura”, que acantonada no currículo do Ensino Médio des-
○
passa a acompanhar os textos, propondo ativi- de a Reforma Capanema (1943), vem manten-
○
○
dades de leitura e de interpretação. do seu cunho elitista, uma vez que uma parcela
○
○
Nos anos 1990, verificam-se duas tendências: significativamente menor da população tem
○
○
uma de abandono do livro didático, devido às acesso a esse nível de ensino. Suas diretrizes e
○
concepções baseadas na “construção” de conhe- seu currículo, ao que tudo indica, permanece-
○
○
cimentos por alunos e professores; outra de con- rão dependentes do exame vestibular. As listas
○
○
trole e avaliação dos vários níveis de ensino pe- de obras literárias destinadas a questões do ves-
○
○
los órgãos oficiais, incluindo a avaliação dos li- tibular, publicadas pelas universidades, acabam
○
(PCN), instituídos em 1996, indicam que o en- te em curso nos centros urbanos, obrigar-nos-á
○
se com os “textos que caracterizam os usos pú- ensino de Português capazes de transmitir e
○
○
blicos da linguagem”, orais e escritos. Baseados compartilhar com públicos de diferentes clas-
○
○
nas teorias de Bakhtin, os PCN para o 3º e 4º ses sociais e de diferentes faixas etárias diferen-
○
ros para a leitura em sala de aula: cordel, nizada, pois é no espaço da escola que a demo-
○
○
“causos”, texto dramático, canção, conto, nove- cratização pode e deve começar, uma vez que:
○
○
la, romance, crônica, poema, entrevista, deba- “A leitura não é prática neutra. Ela é campo de
○
muita confusão, uma vez que a definição de gê- ABREU, Márcia (Org.). Leitura, história e história da leitura.
○
○
nero é historicamente variável, quer porque es- Campinas/São Paulo: Mercado de Letras/ALB/Fapesp,
○
1999.
○
texto mais de um gênero. bre a leitura: 1880-1980. São Paulo: Ática, 1995.
○
○
Outro incômodo desse tipo de divisão é o CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: refle-
○
privilégio que alguns gêneros acabam tendo xões sobre um campo de pesquisa. Teoria & Educação ,
○
○
n. 2, p. 177-229, 1990.
sobre outros, como parece ser o caso dos gêne-
○
sentes na escola e nos livros didáticos. O uso lar paulista: 1890/1920. São Paulo: Fundação para o
○
que deveria basear-se na diversidade de textos FARIA FILHO, Luciano Mendes de. Instrução elementar no
○
○
século 19. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira; FARIA FI- tura (1838-1971). 2000. Tese (Doutorado). Instituto de
○
LHO, Luciano Mendes de; VEIGA, Cynthia Greive. 500 Estudos da Linguagem. Universidade Estadual de Cam-
○
○
anos de educação no Brasil. 2. ed. Belo Horizonte: Au- pinas.
○
têntica, 2000. SOARES, Magda. Português na escola: história de uma dis-
○
ciplina curricular. Revista de Educação da AEC, n. 101,
○
FERREIRA, Avany De Francisco; CORRÊA, Maria Elizabeth
○
Peirão; MELLO, Mirela Geiger de. Arquitetura escolar p. 9-26, out./dez. 1996.
○
paulista: restauro. São Paulo: Fundação para o Desen- . O livro didático como fonte para a história
○
○
volvimento da Educação, 1998. da leitura e da formação do professor-leitor. In: MARI-
○
LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A formação da lei- NHO, Marildes (Org.). Ler e navegar: espaços e percur-
○
○
tura no Brasil. São Paulo: Ática, 1996. sos da leitura. Campinas: Mercado de Letras/ALB, 2001,
○
MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Os sentidos da alfa- p. 31-76.
○
○
betização. São Paulo: Editora da Unesp/Conped, 2000. SOUZA, Rosa Fátima de. Templos de civilização: a implan-
○
RAZZINI, Márcia de Paula Gregório. O espelho da nação: a tação da escola primária graduada no Estado de São
○
○
antologia nacional e o ensino de português e de litera- Paulo (1890-1910). São Paulo: Editora da Unesp, 1998.
○
○
○
○
○
○
○
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○
○
○
○
○
○
○
SIMPÓSIO 7
O DESENVOLVIMENTO DA EJA E
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
NA AMÉRICA LATINA
José Rivero
Graciela Messina
103
Formação de professores para
○
○
○
a Educação de Jovens e Adultos
○
○
○
○
José Rivero*
○
○
Unesco/Peru
○
○
○
○
○
No início da última década, foram apresen- também os sindicatos e as associações de clas-
○
tados os resultados da única pesquisa regional se, que tendem a tratar seus associados como
○
○
latino-americana realizada na área de Educa- sujeitos de classe. Mesmo nas associações do-
○
○
ção Básica de Adultos (EBA).1 centes, as áreas de Educação de Jovens e Adul-
○
Os professores entrevistados durante essa tos (EJA) não são, normalmente, levadas em
○
○
pesquisa indicavam como principais motiva- conta para fins da própria organização sindical.
○
○
ções e aspirações: a) a necessidade de um em- ○
○
Quais as características mais marcantes dos
prego estável; b) uma maior participação na professores que trabalham com educação de
○
necessidade de dispor de mais tempo livre para O educador de adultos na América Latina
○
○
realizar outras atividades. Uma maioria signi- apresenta heterogeneidade de formação, de ní-
○
○
ficativa dos entrevistados também declarou veis, de funções e de práticas docentes, assim
○
que seu interesse em trabalhar com jovens e como divergência de pontos de partida, concep-
○
○
adultos havia influenciado sua decisão de tra- ções, enfoques, experiências educativas e metas.
○
○
balhar com a EBA, especialmente em vista do Se houvesse traços comuns que o identificassem
○
○
seus exíguos salários. Coerentemente com o ção como professores de jovens e adultos bem
○
○
interesse em trabalhar com jovens e adultos, como a tradição de utilizar a transmissão de co-
○
○
as respostas à pergunta “Com que grupo você nhecimento como procedimento pedagógico
○
○
se sente mais capacitado para desempenhar único para desenvolver a capacidade do educan-
○
suas tarefas?” incluíram tanto jovens e adultos do em reproduzir o que lhe foi transmitido.
○
○
Médio. Por sua vez, as fontes de maior insatis- acrescentar, no caso da educação básica ou fun-
○
condições ruins de trabalho (associadas a pro- em que se encontra o professor, em uma mo-
○
○
plano, a dispersão e a falta de interesse dos que à busca de profissionais que reúnam requi-
○
○
Pode-se afirmar que existe um desconheci- anos na docência é determinante para que o
○
mento grave a respeito dos professores como professor obtenha uma colocação na área de
○
○
profissionais e que são raros os países que pos- EJA. Em outros casos, deve-se a gestões pesso-
○
○
suem dados sobre as condições sociodemo- ais dos professores para obter uma colocação
○
○
magistério e da composição das equipes docen- ções educacionais infantis ou juvenis em horá-
○
○
tes das escolas. Esse desconhecimento afeta rios diurnos ou, ainda, a critérios arbitrários
○
○
○
○
○
1
Essa pesquisa foi desenvolvida pela Unesco como marco do Projeto Principal de Educação na América Latina e no Caribe e contou com a
○
104
SIMPÓSIO 7
O desenvolvimento da EJA e a formação de professores na América Latina
pessoais e político-partidários por parte das bido especialização para o trabalho com jovens
○
○
autoridades da área educacional. e adultos com as características dos participan-
○
○
Apesar dos excelentes casos de identifica- tes. Em alguns casos, impera a habilitação in-
○
○
ção com seu trabalho, especialmente no que se formal ou extracurricular de docentes não-
○
refere a docentes de instituições de ensino re- especializados na EJA (não nos esqueçamos de
○
○
gulares, a situação dos professores dessa mo- que a média de professores sem formação na
○
○
dalidade de ensino não escapa à grave situação América Latina é de 21,3% e que essa situação
○
do conjunto de docentes. As condições salari- está associada ao fato de esses professores atu- 105
○
○
ais sumamente deterioradas, um alto grau de arem em áreas carentes ou marginalizadas).
○
○
instabilidade funcional em vários dos países Ademais, existe uma profunda heterogeneida-
○
○
estudados, a jornada de trabalho dupla com de na formação pedagógica dos professores, que
○
grupos absolutamente heterogêneos de crian- resulta em uma nítida diferença entre os que
○
○
ças e jovens, durante o período da manhã, e de possuem formação e os que não a possuem. Os
○
○
jovens e adultos com pouca ou nenhuma esco- primeiros estariam mais próximos de conhecer
○
○
laridade nas instituições vespertinas ou notur- e de motivar-se com outros conteúdos mais crí-
○
nas, a deterioração das condições materiais de ticos e com técnicas mais participativas de en-
○
○
trabalho – geralmente em instituições de ensi- sino. Entretanto, em ambos os casos, pesa mui-
○
○
no que “sofrem” durante o dia com a freqüên- to o uso cotidiano da instrução tradicional.
○
○
cia de diferentes tipos de alunos de outras tan- Um problema que afeta a imagem e o rendi-
○
dívida regional para com esses professores. atual educação de adultos como uma modalida-
○
○
A atual formação
○
do professor de jovens
○
instituições superiores de formação de profes- não logrou obter credibilidade social e tampouco
○
não habilita os professores para atender aos re- A organização escolarizada tradicional, por meio
○
○
quisitos especiais que caracterizam um ensino de aulas ministradas por professores sem forma-
○
○
Os docentes com título pedagógico foram aprendizagem entre grupos populacionais que
○
○
formados para educar crianças – com as sérias demandam atenção prioritária e uma educação
○
○
de jovens e adultos
○
associados à teoria e à prática da escolaridade, Uma premissa básica nesse caso é que a EJA
○
do educando o principal objetivo da formação. aprendizagem, os quais, por sua própria natu-
○
○
Observa-se, entretanto, uma débil e deficiente reza, demandam dedicação, disciplina e espe-
○
○
formação inicial do docente, agravada nesse cialização profissional, além de tempo suficien-
○
caso pela circunstância de ele não haver rece- te. Essa afirmação é particularmente importan-
○
○
te, sobretudo se considerarmos a tendência de propor-se um trabalho de formação em um
○
○
outorgar-se à educação capacidade para resol- plano duplo e segundo a realidade institu-
○
○
ver mais problemas do que esta pode efetiva- cional da EJA em cada país. Esses planos po-
○
dem ser seqüenciais ou programas que se de-
○
mente suportar. Assim, o crescente desempre-
○
go e subemprego de seus usuários – reais ou senvolvem de forma paralela. De imediato,
○
○
potenciais – pode influenciar para que se exi- e como forma de iniciar a EJA vinculada a ne-
○
cessidades básicas circunstanciais, o objeti-
○
jam da EJA soluções ou contribuições específi-
○
vo é formar esses jovens e adultos como ato-
cas para a solução desse problema estrutural,
○
res com valores, atitudes, conhecimentos e
○
ou de outros graves problemas sociais, o que
○
competências que os habilitem a enfrentar
○
extrapola, em muito, suas possibilidades.
○
suas necessidades de aprimoramento profis-
○
Outras premissas a serem consideradas in-
sional, de uma maior participação no exer-
○
cluem:
○
cício da cidadania e de um intercâmbio cul-
○
• A crescente universalização do acesso à
○
tural que, em última análise, lhes permitam
○
educação básica e secundária – bem como participar da transformação de suas ativida-
as características dos jovens e adultos que ○
○
Esses alunos, além de pertencerem às cama- motivação para participar e a real utilida-
○
e utilizar novas formas de ensino e aprendi- educação básica quanto da educação se-
○
○
zagem que lhes permitam lidar com a diver- cundária de jovens e adultos. A concepção
○
tências dos alunos e com as distintas situa- tos, com horários e currículos fixos que de-
○
○
ções de vida que estes enfrentarão ao con- mandam a assistência diária e em períodos
○
participantes.
○
adulto constituem um todo inter-relaciona- ser levados em conta nas propostas de for-
○
do. A resposta que satisfaz uma necessidade mação de professores. Uma das conseqüên-
○
○
mente, ser satisfeitas. Esse processo estrutu- ministrativa. Essa nova autonomia dá a dire-
○
○
ral e interdependente do processo de forma- tores e a professores mais espaço para a to-
○
ção de adultos permite visualizar a ação edu- mada de decisões, para a organização de pro-
○
○
cacional como um processo que transcende jetos educativos capazes de gerar e atrair re-
○
○
econômica e política que desafia, contradi- ajustes curriculares. Não restam dúvidas,
○
○
106
SIMPÓSIO 7
O desenvolvimento da EJA e a formação de professores na América Latina
○
○
tência para planejar, administrar e imple- participantes trazem consigo são factíveis
○
○
mentar decisões, sem a tradicional depen- de ser intercambiados, fortalecidos e
○
dência dos níveis centrais. E será também redefinidos e que isso somente será possí-
○
○
necessário modificarem-se os critérios de vel na medida em que esses participantes
○
seleção e nomeação de diretores, professo- forem capazes de analisar esses elementos
○
○
res e supervisores envolvidos no próprio pro- de forma crítica e de buscar novas infor-
○
○
cesso de aperfeiçoamento de docentes. mações, novos conhecimentos, novas ha- 107
○
bilidades, novos valores e novas atitudes
○
• Esses processos de descentralização pode-
○
rão estar associados a crescentes esforços que satisfaçam suas necessidades de
○
○
para priorizar políticas sociais, em um am- aprendizagem.
○
○
biente regional com visíveis resultados de 3. Partindo do pressuposto de que o aporte
○
frustração em relação a políticas neoliberais. pedagógico central dos educadores da EJA
○
○
Serão também necessárias harmonizações é gerar mecanismos de formação que per-
○
○
e alianças mais efetivas e eficazes com as mitam ao participante:
○
experiências de outros setores públicos e de
○
• criticar os elementos que constituem
○
associações da sociedade civil com vasta suas experiências de vida;
○
○
experiência em trabalhos participativos no ○
por ambos os tipos de instituição é a intro- aqueles que possui, os quais foram anali-
○
dos educandos, tanto jovens quanto adultos. lizar uma educação entre adultos, com os
○
○
cadores de EJA.
○
de sua experiência de vida – e com baga- da formação específica desse educador bem
○
○
gens significativas de sua história pessoal como das novas conceituações políticas, estra-
○
○
○
○
à modernização econômica e sociopolítica de “educadores polivalentes”, capazes de traba-
○
○
nossos países. lhar com crianças, jovens e adultos, capa-
○
zes de organizar projetos educativos e de
○
Essa perspectiva deveria ir além das propostas
○
de re-profissionalização regular e/ou capacitação trabalhar com suas próprias comunidades,
○
○
para o exercício da profissão, geralmente ofereci- capazes de estimular a participação ativa
○
dos pais e a educação de seus filhos.
○
das pelos centros de formação gerados nos siste-
○
mas educacionais. Será necessário superarem-se • Na política pública destinada à formação de
○
○
tanto a insistência da visão “escolarizante” quanto educadores de jovens e adultos, não se pode
○
○
os mecanismos pedagógicos que continuam a ig- continuar a privilegiar objetivos ligados ex-
○
clusivamente à recuperação de uma esco-
○
norar a especificidade da demanda por parte de
○
participantes jovens e adultos. laridade compensatória. A confluência da
○
○
O desenvolvimento de novos projetos de satisfação das necessidades de formação
○
dos jovens e adultos exige que o participan-
○
“formação para o exercício da profissão” para
○
educadores que assumirem essas tarefas deve- ○
○
te seja considerado na multiplicidade de
funções “protagonísticas” que lhes cabe de-
riam levar em conta – teórica e operacional-
○
• Finalmente, formular as perguntas que de- nais entre adultos; c) os modelos de avalia-
○
cos que inspirem as políticas e as práticas nal que propiciem a maior participação dos
○
novos educadores de EJA não deveriam referir- • Refletir sobre os modelos de formação, no
○
tentar modificar radicalmente esse tipo tradi- possam responder a perguntas como:
○
○
mentalmente eficientes?
○
108
SIMPÓSIO 7
O desenvolvimento da EJA e a formação de professores na América Latina
○
○
dão prioridade às relações teoria/prática participação de jovens e adultos,
○
○
de formação social, à heterogeneidade de enfatizando-se a formação em valores de-
○
saberes e à integração de conhecimentos, mocráticos e o efetivo exercício das res-
○
○
à dimensão de modalidades de formação ponsabilidades e dos direitos humanos.
○
não-presenciais, com especial ênfase sobre
○
d. A EJA voltada para populações rurais e in-
○
a produção de material educativo auto-ins-
○
dígenas, com o objetivo de revigorar o tra-
○
trucional e sobre a coordenação com ou- balho produtivo e organizacional em áre- 109
○
tros atores sociais e econômicos que os cor-
○
as rurais e de ratificar e solidificar culturas
○
roborem. e identidades indígenas.
○
○
○
e. A afirmação dos jovens como público
Novos requisitos de
○
prioritário da modalidade educativa EJA,
○
○
aprendizagem na Educação assumindo suas próprias particularidades,
○
necessidades, diversidades e realidades,
○
de Jovens e Adultos
○
com ênfase especial sobre sua vinculação
○
○
com o trabalho produtivo, sua maior inser-
O impacto das novas condições sociais, eco-
○
ção como cidadãos e a conclusão de sua
○
nômicas e políticas dos países latino-america-
○
○
educação básica e secundária.
nos, nas políticas e nos programas educativos
○
de responsabilidades.
○
vens e Adultos.
○
manente, ou educação que persistirá por toda capacidades em permanente diálogo com
○
○
Considerações finais
○
à cultura escrita, à educação básica e à in- Adultos e também que sociedades, governos
○
formação.
○
lidades da EJA nos locais de produção e recidos às camadas mais carentes das zonas
○
seu potencial para a melhoria da quali- rurais e urbanas, aos núcleos indígenas e,
○
○
○
○
latino-americano apresentado no Fórum Mun-
○
Da mesma forma, segundo o Pronunciamen-
○
dial de Dakar (2000) estabelece seis objetivos a to Latino-Americano feito por um numeroso
○
○
serem alcançados na primeira década do sécu- grupo de educadores e intelectuais latino-ame-
○
lo que inicia. Dois desses seis objetivos estão
○
ricanos, “enquanto não se oferecer uma educa-
○
diretamente relacionados com a EJA: ção de melhor qualidade aos menos favorecidos
○
○
e não se assegurar uma educação igualitária a
○
• Proporcionar um acesso eqüitativo aos pro-
○
homens e mulheres, dificilmente poderemos
○
gramas de educação básica e permanente
○
avançar na meta de lograr eqüidade educacio-
○
para adultos e, no transcorrer do presente nal e, sem eqüidade educacional, dificilmente
○
○
decênio, reduzir pelo menos à metade as avançaremos na conquista da justiça social”.
○
atuais disparidades entre os gêneros.
○
A existência de professores mais qualificados,
○
○
• Zelar para que as necessidades de aprendi- para que jovens e adultos possam receber uma
○
zagem de todos os jovens sejam satisfeitas, educação de melhor qualidade, está diretamen-
○
○
e formação de professores
○
○
○
○
○
Unesco/Brasil
○
○
○
○
○
○
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) deve cação, o que teve como conseqüência um cres-
○
○
ser vista não apenas como uma atividade suple- cimento da participação individual e coletiva,
○
tiva, mas como uma educação permanente in- num leque cada vez maior de atividades de
○
○
dos em atividades concretas. Essa é uma das fessores estava colocado com muito mais
○
○
conclusões de um estudo conduzido pela acuidade e complexidade que nunca. Nos paí-
○
○
Unesco em sete países da América Latina, inclu- ses que participaram na avaliação dos indica-
○
A década de 1990 foi testemunha de um cres- Unesco – Professores para as escolas de amanhã
○
○
* Dezoito países: Argentina, Brasil, Chile, China, Egito, Índia, Indonésia, Jordânia, Malásia, Paraguai, Peru, Filipinas, Rússia, Sri Lanka,
○
○
110
SIMPÓSIO 7
O desenvolvimento da EJA e a formação de professores na América Latina
○
res é professor; além disso, os professores são
○
em geral os trabalhadores mais qualificados: pessoal, insere-se em normas coletivas que lhe
○
○
mais de metade dos trabalhadores com ensino dão identidade profissional e num grupo que
○
○
superior trabalha em educação. desenvolve estratégias de promoção, de valori-
○
No entanto, a grande questão não está ape- zação e de legitimação.
○
○
nas na formação de professores, mas em como Para a função docente o processo é igual. Ou
○
○
criar condições para retê-los no sistema. deveria ser igual. Isto é, teoricamente, o pro-
○
fessor é um profissional quando a atuação dele 111
○
Na realidade, as expectativas em relação ao
○
papel do professor continuam altas apesar, ou por obedece aos critérios de racionalização dos sa-
○
○
causa, de todo o desenvolvimento tecnológico. Do beres e de legitimação social, sumariamente
○
○
professor se exige que, além de ser competente, descritos acima, que definem uma profissão.
○
atualize seus conhecimentos em alta velocidade A formação tem, assim, uma importância
○
○
e que, para além de suas capacidades técnicas e crítica na profissionalização do professor. Ela é
○
○
pedagógicas, saiba lidar individualmente com um dos suportes da trilogia ação/formação/
○
○
alunos como pessoas, com seus valores e cultu- pesquisa e da articulação entre suas respecti-
○
ras próprias. Essas expectativas da sociedade em vas lógicas na busca de uma mudança qualita-
○
○
geral têm atingido níveis que se confrontam com tiva que envolva a reflexão sobre valores, nor-
○
○
Analisemos rapidamente este termo relativa- A profissionalidade é tudo o que está para
○
mente novo – profissionalidade. A partir de que além da profissionalização, é o que está na base
○
○
momento um ofício passa a ser uma profissão? da mudança, na consciência de si e dos outros,
○
○
que seguem determinados objetivos dentro de atrair e reter professores qualificados na pro-
○
bastante genérico, há pelo menos três níveis de de captar os melhores estudantes para se tor-
○
○
ra diferença no tipo de ocupação (manual e in- Vejamos um pouco essa questão da reten-
○
telectual ou artística); uma segunda diferença ção de professores, que afeta de maneira mui-
○
○
na natureza do saber, misterioso para o ofício e tas vezes dramática a educação e a alfabetiza-
○
○
profissão; e uma terceira ligada à legitimação Por força do direito de todos à educação, os
○
social, que depende da utilidade para o ofício e sistemas educativos expandiram-se mundial-
○
○
do prestígio para a profissão. Exemplos flagran- mente, o que exacerbou a necessidade de pro-
○
○
tes de profissões que seguem esses critérios são, fessores qualificados para atender o nível pri-
○
○
transformar um ofício numa profissão, um ar- O equilíbrio entre o que se espera dos profes-
○
○
tesão num profissional; mais propriamente, sores e o que lhes é oferecido em troca tem gran-
○
○
zação dos saberes. Um profissional é uma pes- qualidade desse trabalho. Alguns países do Nor-
○
○
soa que adquiriu competências específicas, te desenvolvido estão mesmo encarando a pos-
○
○
O profissional responde, adapta-se à de- para esse trabalho! A constatação é que 30% do
○
○
manda, ao contexto, a problemas complexos e total do corpo docente deixam a profissão an-
○
tes de completar cinco anos (nos centros urba- professores pretender – condições de trabalho,
○
○
nos essa porcentagem sobe para 50%!). direitos, estatuto – na sociedade? E a grande per-
○
○
Apesar de o papel dos professores ser reco- gunta: quem pode ser um bom professor e como
○
○
nhecido na sociedade, ainda há dificuldade em encontrar essa pessoa, formá-la, preservar a sua
○
assumir que a qualidade tem um preço. Nem motivação e a qualidade do seu ensino?
○
○
todos podem exercer a função docente, e nenhu- Teve lugar, de 5 a 8 de setembro de 2001, em
○
○
ma associação profissional aceitaria entre seus Genebra, no Bureau Internacional da Educação
○
pares candidatos despreparados para a função. da Unesco, a 46ª Conferência Internacional de
○
○
Falando de desenvolvimento da EJA, essa Educação, dedicada ao tema “Educação para
○
○
questão do recrutamento e da retenção de pro- todos para aprender a viver juntos”. As conclu-
○
○
fessores qualificados torna-se ainda mais críti- sões dos debates, das sessões plenárias e das
○
ca, já que nem sempre os recursos financeiros oficinas que se realizaram durante a Conferên-
○
○
disponíveis num determinado país permitem a cia, preparadas para os organismos governa-
○
○
implementação de uma educação verdadeira- mentais e não-governamentais, para os profes-
○
○
mente para todos, crianças, jovens e adultos. No ○
sores e suas organizações, para a mídia e todos
entanto, à medida que cresce o papel da edu- os parceiros da sociedade civil interessados na
○
○
ela, a educação, ocupa cada vez mais lugar, na seu potencial para levar indivíduos e socieda-
○
○
vida dos indivíduos, ao longo de toda a vida. des a aprenderem a viver juntos, foram de gran-
○
de ou lugar, para aprendermos, para nos quali- tudo se pensarmos nos acontecimentos ocorri-
○
○
evolutiva, exigindo um grau elevado de adap- cada vez maior de pormos de pé o conceito de
○
○
tabilidade. É o que se chama comumente o “aprender a viver juntos”, um dos pilares da edu-
○
○
continuum educativo. A EJA constitui, assim, cação, tal como definidos pelo Relatório Inter-
○
○
uma excelente ocasião para abordar questões nacional da Unesco, publicado sob o título Edu-
○
ção em matéria de população, à educação para Não há dúvida de que o direito de todos à
○
○
nação depende em larga medida do nível de es- tem hoje de que a educação é o caminho para
○
○
colaridade anterior, que produz um efeito cu- combater a pobreza e promover a participação
○
○
mulativo reconhecido por todos: quanto mais de todos nos níveis político, social e cultural.
○
○
escolarizado o indivíduo, mais vontade ele tem No entanto, o objetivo da educação para todos
○
de aprender. Por isso os progressos na escolari- vai além da universalização pura e simples. Em
○
○
zação de jovens, os progressos na alfabetização cada país a luta pela coesão social e contra a
○
○
de adultos e qualquer impulsão à educação bá- desigualdade, o respeito pela diversidade cul-
○
○
sica estimulam e são estimulados pelo cresci- tural e o acesso a uma sociedade do conheci-
○
mento da demanda de educação de adultos, nas mento, que pode ser facilitada pelas tecnologias
○
○
sociedades de hoje e de amanhã. Daí que o anal- de informação e comunicação, estão direta-
○
○
fabetismo nos países em via de desenvolvimen- mente relacionadas com a qualidade da educa-
○
○
to, o iletrismo nos países desenvolvidos e os li- ção. A própria diversidade lingüística e o fosso
○
Nesse processo, o que é que, racionalmente, Nesse contexto, as reformas são mais pro-
○
a sociedade pode esperar dos seus professores? cesso que produto. O importante, paralelamen-
○
○
Que nível de exigência é preciso colocar no tra- te à definição dos conteúdos, continua sendo o
○
○
112
SIMPÓSIO 7
O desenvolvimento da EJA e a formação de professores na América Latina
○
professores, as comunidades, as famílias, o se-
○
fazer um levantamento das práticas de ensino tor econômico, a mídia, as ONGs e as autorida-
○
○
e aprendizagem na linha do aprender a viver des intelectuais e espirituais devem trabalhar
○
○
juntos, visando seu estudo e divulgação mes- juntos, cada um na sua área de competência,
○
mo em nível nacional, os processos de reforma visando a um mesmo objetivo – a construção de
○
○
devem necessariamente facilitar e promover o sociedades diversas mas solidárias, em paz con-
○
○
envolvimento de professores, ao mesmo tem- sigo mesmas e com os outros.
○
po que a área da formação deve desenvolver O que pensam os professores a propósito de 113
○
○
com os professores os comportamentos, as ati- tudo isso? Seria interessante e extremamente
○
○
tudes e os valores que se quer ver praticados elucidativo perguntar aos professores como eles
○
○
pelos alunos, no âmbito do respeito à diversi- se vêem na sociedade e no sistema educativo e
○
dade. O uso das tecnologias de informação e como vêem a profissão docente, suas demandas
○
○
comunicação na formação e na sala de aula con- e incentivos, como se vêem na sala de aula. A
○
○
tribuirão também para a mudança necessária Unesco estaria interessada em participar de um
○
○
da relação aluno/professor, acompanhando a esforço como esse, pela importância que ele
○
evolução da sociedade nos últimos tempos. poderia ter na definição da identidade profissio-
○
○
Não nos esqueçamos de que a educação não nal do professor e, portanto, na compreensão
○
○
pode estar sozinha nesse processo de aprendi- ainda mais aprofundada de seu papel e de sua
○
○
A formação de educadores:
○
○
○
um caminho para a
○
○
○
transformação da educação de
○
○
○
Graciela Messina
○
○
Unesco/Orealc/Chile
○
○
○
○
○
A tese principal:
○
a mudança na Educação de
○
A educação de pessoas jovens e adultas tem rica Latina para gerar uma transformação posi-
○
○
enfrentado uma crise estrutural nos últimos tiva na Educação de Jovens e Adultos (EJA).
○
○
vinte anos: em repetidas ocasiões, discutiu-se Essa transformação deve começar nos pró-
○
o sentido dessa modalidade e em diversas ou- prios educadores. Ela deve ser gerada por pro-
○
○
○
○
na profissão docentes como na EJA. esquema e as práticas mais habituais de ino-
○
○
A mudança educacional tem habitualmen- vação e renovação nessa área têm consistido
○
○
te ocorrido a partir da concepção e da imple- na definição de novos perfis para os educado-
○
mentação de novos planos de estudo, da ela- res, em mudanças nos planos de estudo, no es-
○
○
boração de materiais ou da implementação de tabelecimento de conteúdos mínimos para a
○
○
programas de formação educacional. O currí- formação, na elaboração de materiais, em con-
○
culo, os modelos de gestão e os materiais di- cursos de projetos para instituições de forma-
○
○
dáticos têm sido usados como estratégias para ção, no credenciamento institucional ou na
○
○
melhorar a qualidade da educação, a qualida- promoção de pesquisas educacionais como
○
○
de dos sistemas educacionais, suas estruturas requisito ou norma estabelecida a partir do
○
e suas funções. Os sujeitos têm sido relegados nível central dos ministérios de educação. Em
○
○
a um segundo plano e tem prevalecido o pon- todas essas estratégias, os educadores têm sido
○
○
to de vista do “sistema” e de sua eficiência e relegados a um segundo plano. A formação dos
○
○
eficácia. A formação dos professores tem sido ○
formadores e o desenvolvimento de espaços de
abordada da mesma maneira, vista como uma reflexão nos próprios locais de trabalho ainda
○
○
temas educacionais, mas não como um espa- Nesse contexto, no qual a formação tem-
○
○
ço para o educador e seu trabalho educacio- se tornado cada vez mais importante como es-
○
uma missão salvadora para educadores ca- de educadores de jovens e adultos não foi abor-
○
○
semiprofissionais do que a um espaço para os xidade, insere-se a tese que vamos analisar.
○
○
ais necessários que são, necessários para a so- tema, que anula os sujeitos e os encerra em
○
○
mação tampouco tem sido vista como parte le- não-formal ou informal, educação inicial, bá-
○
gítima do trabalho docente e integrada a ele sica, primária, secundária, superior, intercul-
○
○
como elemento da tarefa institucional e da ta- tural, para adultos, e outros. A inovação edu-
○
○
refa coletiva dos profissionais da área. Além cacional está ameaçada por sua própria som-
○
○
disso, os educadores têm sido vistos principal- bra e, em muitos casos, corre o risco de se tor-
○
mente como um insumo ou fator do processo nar apenas cópia ou réplica de algo já produ-
○
○
educacional, ou seja, apenas como recursos zido em outro lugar, ou seja, a inovação pode
○
○
humanos e não como sujeitos e protagonistas tornar-se repetição e, como qualquer repeti-
○
○
mação reside nesse enfoque “de fora para den- multidimensionais e abertos. O exposto aci-
○
○
tro”, que privilegia mais a formação que o tra- ma insere-se num campo educacional que,
○
○
balho docente e que considera a formação em nível teórico, é “fraco”, já que reproduz
○
como um meio destinado a preparar os educa- conceitos das Ciências Naturais e segue mo-
○
○
dores para os programas de reformas educa- delos explicativos mecânicos próprios do es-
○
○
professores de acordo com os requisitos das re- ção de teorias no campo da educação, a par-
○
formas e, assim, a formação tem sido definida tir da prática e do diálogo interdisciplinar, é
○
○
“de cima para baixo”, seguindo a mesma ori- a grande tarefa pendente sobre a qual se as-
○
○
114
SIMPÓSIO 7
O desenvolvimento da EJA e a formação de professores na América Latina
Para transformar a educação de adultos, do-se finalmente livre e legítima para criar sua
○
○
precisamos questionar as categorias habituais própria configuração.
○
○
que nos permitem organizar nossa prática edu- A educação de adultos tem sido caracteri-
○
○
cacional e hierarquizá-la de acordo com os es- zada pelo princípio da “compensação” e usa-
○
quemas conhecidos e aceitos como naturais. da como um ato de “reparação” social princi-
○
○
Atribuímos às normas contingentes a condi- palmente pela escolaridade não alcançada por
○
○
ção de leis da natureza. “Desnaturalizar” as parte da população adulta. Desde sua origem,
○
noções e os nomes que constituem o campo a educação de adultos tem estado vinculada 115
○
○
da educação seria o primeiro passo para qual- aos setores sociais mais excluídos. Educação
○
○
quer mudança. de adultos é um nome que oculta o que todos
○
○
A transformação da EJA produzirá mudan- sabemos: que seus únicos destinatários têm
○
ças na educação como um todo, em sua tarefa sido adultos em situação de pobreza e que, na
○
○
social e em suas relações com a vida cotidiana maioria dos casos, tem consistido em esforços
○
○
e o trabalho. Para transformar a educação de orientados pela perspectiva compensatória
○
○
adultos, precisamos, em primeiro lugar, ques- (“uma educação pobre para pobres”).
○
tionar suas fronteiras, articular suas diversas Os sistemas educacionais foram organiza-
○
○
expressões e reintegrá-la ao conjunto de pro- dos para formar as novas gerações por meio de
○
○
cessos educacionais dos quais ela está se- uma instituição especializada, a escola, que
○
○
gregada ou separada. Essa é uma tarefa coleti- distribui a educação de acordo com a classe
○
va a ser levada a cabo por todos os profissio- social e com outras formas de classificação-
○
○
nais da área pensando juntos, por educadores discriminação. Nesse marco, a educação de
○
○
que estão investigando o que devem fazer. adultos tem sido a educação dos que estão
○
Embora a tese aqui apresentada se baseie “fora”, uma tarefa definida como “supletiva” ou
○
○
na noção de que a transformação da EJA deve “compensatória”, concebida para reparar a fal-
○
○
ocorrer a partir dos educadores e com sua par- ta de oportunidades dos grupos que não tive-
○
○
ticipação, a tarefa situa-se num espaço de con- ram acesso à escola ou não puderam continu-
○
vergência entre dois campos: a chamada “edu- ar seus estudos numa instituição escolar. Em
○
○
cação de adultos” e a formação docente, am- sua aplicação, uma parte da educação de adul-
○
○
bos em processo de revisão e debate. tos cumpriu seu mandato social como “educa-
○
○
A educação de adultos
○
A educação de adultos tem sido, desde deste século faz parte dessa educação de adul-
○
manentemente redefinidas, um espaço con- gia da libertação, promulgada por Paulo Freire,
○
○
traditório, tenso, propício tanto para a pro- e a educação popular, construída a partir da
○
○
brecimento dessas práticas. Há dez anos, uma Desde a década de 1960, observamos a convi-
○
seu título, a educação básica de adultos de “a tos: uma compensatória e outra vinculada aos
○
○
outra educação” (Messina, 1993). Esse nome setores excluídos e a suas organizações.
○
○
nada às novas gerações; a “outra”, para abran- heterogêneo, fragmentado e sensível a mudan-
○
○
ger também a possibilidade da saída, de ser ças políticas e sociais; retrai-se em tempos de
○
○
○
○
pular. Ao mesmo tempo, tem constituído um ção de adultos tem desempenhado papel mar-
○
○
foco de atenção educacional e de atrito social ginal no conjunto das ações dos países da re-
○
○
para os setores mais vulneráveis. gião e nas reformas implementadas na década
○
No entanto, a educação de adultos apresen- de 1990. Desempenhou um papel marginal,
○
○
ta-se com uma configuração tão diversificada também, em projetos regionais ou internacio-
○
○
quanto a enfoques, instituições e programas nais de longo prazo implementados na Améri-
○
que não seria válido, na América Latina, abordá- ca Latina, como o Projeto Principal de Educa-
○
○
la como uma “educação de adultos em geral”. ção para a América Latina e o Caribe – PPE
○
○
Devemos considerá-la fazendo referência a eta- (1980-2000) e a proposta da Educação para To-
○
○
pas, países, grupos de países, modalidades, dos (1990-2000).
○
ações do Estado ou da sociedade civil. Nesse O PPE, definido na reunião de ministros de
○
○
contexto, a primeira diferença significativa Educação realizada no México em 1979, resul-
○
○
pode ser identificada entre duas produções que tou de um grande desejo dos governos da re-
○
○
coexistem e se contrapõem na década de 1980 ○
gião de trabalhar em conjunto. Esse projeto
e começam a se complementar na década de contemplava uma proposta de “educação para
○
○
Na maioria dos países, a educação de adul- te. Desde suas origens, o PPE propôs-se a dar
○
tos oferecida pelo Estado tem sido não apenas uma resposta ao analfabetismo e a melhorar a
○
○
compensatória, mas também seletiva. Sua ofer- oferta da educação de adultos. Sua proposta
○
○
ta concentrou-se nos centros urbanos e os gru- original compromete-se com os setores mais
○
pos mais excluídos (“os pobres dos pobres”) não excluídos e assume a perspectiva de “eliminar”
○
○
tiveram acesso a ela. Por sua vez, as pesquisas o analfabetismo e “ampliar os serviços” da edu-
○
○
indicam que as mulheres preferem participar de cação de adultos. Esse enfoque reduz o analfa-
○
○
capacitação para ofícios domésticos, enquanto a uma oferta que deve ser ampliada, com base
○
○
os homens predominam na educação básica e na mesma lógica que imperou para o sistema
○
○
ção profissionalizante de grande porte (Pieck, Além disso, o discurso e a prática do PPE con-
○
1996). Na educação básica formal de adultos, centraram-se progressivamente, nas duas últi-
○
○
participam em maior número pessoas que já mas décadas, no sistema educacional formal, na
○
○
têm alguma escolaridade ou que foram expul- escola e nos processos de ensino e aprendiza-
○
○
dária ou de segundo grau de adultos conta com Essa posição secundária desenvolveu-se de
○
○
um número maior de estudantes que a educa- tal forma que, em alguns países, a educação de
○
○
lho para os setores mais excluídos continuou entanto, foram mantidas estruturas fortes e
○
○
sendo terra de ninguém na década de 1990 centralizadas, com uma gestão progressiva-
○
○
(Pieck, 2000), da mesma maneira que a educa- mente descentralizada (Inea, México; Conafe;
○
Nesse marco, a educação de adultos apresenta- muito diferente na região. Nos países em que
○
○
se como uma modalidade na qual predominam continua funcionando como um espaço “regu-
○
adultos mais velhos têm pouca ou nenhuma te”. Em alguns países a segregação é tão acen-
○
○
116
SIMPÓSIO 7
O desenvolvimento da EJA e a formação de professores na América Latina
○
○
cial, a educação artística e a educação para po- do trabalho e dos sistemas de poder (Infante,
○
○
pulações indígenas. 2000; Kalman, 2000).
○
○
Marginal, compensatória, seletiva e segre- A educação de adultos caracteriza-se pela
○
gada: esses atributos se conjugam e definem um heterogeneidade e fragmentação, desde as cam-
○
○
espaço para a educação de adultos. A con- panhas maciças de alfabetização até os progra-
○
○
trapartida social é um alto contingente de jo- mas de continuação de estudos primários ou
○
vens e adultos que são analfabetos ou não che- básicos e secundários e os programas de edu- 117
○
○
garam a concluir o primeiro grau. Segundo es- cação profissionalizante. Embora os países se
○
○
timativas da Unesco, essa população totalizava tenham proposto a criar sistemas integrados de
○
○
150 milhões no início da década de 1990 e se educação de adultos, suas diferentes modalida-
○
manteve nos mesmos níveis até o final dessa des continuam, na prática, desvinculadas.
○
○
década. Ainda de acordo com essas mesmas Essa desarticulação se soma à exclusão en-
○
○
estimativas, a maioria desses jovens e adultos frentada pela maioria dos países. Além disso, a
○
○
vive no Brasil e no México. Essa demanda silen- falta de ações intersetoriais parece caracterizar
○
ciosa – que não demanda – deve ser alvo da ta- a educação de adultos: enquanto os Ministérios
○
○
refa que precisamos levar a cabo. É a partir des- da Educação ou instituições semelhantes se
○
○
ção dos educadores de adultos é o fato de o cha- Ministérios da Mulher ou da Juventude assu-
○
ções que desconhecem a escrita da língua ofi- profissionalizante, em convênio com Ministé-
○
○
ciente para possibilitar sua inclusão na socie- ou da Mulher nessa área tenha sido registrada
○
○
dade (os chamados analfabetos funcionais, cujo como uma novidade na década de 1990, ainda
○
○
indicador é a escolaridade básica incompleta, não existe uma agenda intersetorial efetiva.
○
○
assumindo-se a conclusão de sete séries como Some-se a esse fato a sobreposição de uma
○
grupos é sempre um “problema” social, um sin- rica Latina, temos um verdadeiro emaranha-
○
○
ral que não pode ser reduzido a habilidades de a situação é semelhante (Pieck, 1996). Ao mes-
○
○
mesmo sentido, a alfabetização não se resume à educação de adultos, por políticas de “omis-
○
○
possibilidade de ter acesso a um código e de são” (não fazer nada e direcionar recursos para
○
administrá-lo: ela implica a capacidade de pen- outras áreas), de eliminação (dissolução de es-
○
○
poder contar com espaços de trabalho e famili- cia (programas maciços de curto prazo cen-
○
○
ares nos quais a língua escrita faça parte da vida trados em resultados rápidos e não em proces-
○
contextualizar o analfabetismo e a alfabetização. lizante são exemplos de ações desse tipo. O ob-
○
○
É importante, também, que concebamos a alfa- jetivo das campanhas é que as pessoas mudem
○
necessária para participar da produção e da cir- nalizantes do estilo acima mencionado obje-
○
tivam também uma mudança na classificação é uma categoria criada a partir de uma perspec-
○
○
das pessoas: de desempregadas a “inseridas no tiva da educação como uma soma de progra-
○
○
mercado de trabalho”. mas, muitos dos quais não se identificam com
○
○
Já afirmamos anteriormente que a educa- esse espaço (Unesco, Marco Regional de Ação,
○
ção de adultos tem estado sujeita a um proces- 2000). Os educadores e os instrutores de cursos
○
○
so de permanente redefinição de suas frontei- profissionalizantes identificam-se como educa-
○
○
ras. Na década de 1990, o termo “educação de dores de adultos, o que não acontece com os
○
adultos” foi alterado para “educação de jovens educadores dos Ministérios da Saúde, da Mu-
○
○
e adultos”, em decorrência da presença majori- lher, da Juventude e outros. Podemos pensar a
○
○
tária de jovens nessa modalidade, fato confir- educação de adultos como algo diferente de
○
○
mado por pesquisas educacionais (estudo re- uma soma de alfabetização, educação básica e
○
gional da Unesco em 13 países, sobre a educa- cursos profissionalizantes, como programas
○
○
ção básica de adultos; cf. Messina, 1993). sobrepostos.
○
○
Durante o processo de acompanhamento A necessidade de articulação é tão pertinen-
○
○
regional da Conferência Mundial sobre a Educa- ○
te quanto manter o compromisso com os seto-
ção de Adultos (Confintea V, Hamburgo, 1997), res excluídos e, ao mesmo tempo, evitar qual-
○
○
que gerou um foro permanente entre 1998-2000, quer segregação: as propostas de uma “educa-
○
○
coordenado e impulsionado pela Unesco/Crefal/ ção para a vida” precisam incluir essas reflexões.
○
○
Ceaal/Inea, surge um novo nome: “educação de A tarefa é proporcionar a pessoas que estão fora
○
pessoas jovens e adultas”, para levar em consi- dos sistemas educacionais a oportunidade de
○
○
campo da EJA. Argumentou-se que: a) a EJA tor- orçamento maior ou sua inclusão nos proces-
○
○
nou-se uma referência abstrata, já que jovens e sos de reforma: ele pressupõe a redefinição dos
○
○
adultos estão em todos os espaços; b) a EJA rei- sistemas educacionais e da tarefa educacional
○
○
vindica espaços nos quais instituições setoriais como um todo; pressupõe uma perspectiva de
○
já estão atuando; c) é necessário pensar na EJA educação permanente e inclusiva que conside-
○
○
como algo que vai além da alfabetização, da re os setores mais excluídos como o centro de
○
○
educação básica ou dos cursos profissio- suas ações sem que isso signifique oferecer uma
○
○
complexas articulações entre seus distintos pro- considerar a formação dos educadores de adul-
○
○
algo novo e inédito; f ) essas transformações que os educadores têm sido eternamente rele-
○
misso com os setores mais excluídos. Esses de- escalão mais baixo é a educação de adultos.
○
○
bates, que continuam em andamento, foram Eles têm sido desfavorecidos não apenas
○
○
Com base nessas reflexões, precisamos nos demandas colocadas aos educadores e as con-
○
○
perguntar até que ponto a educação de adultos dições a eles proporcionadas pelo Estado. O
○
118
SIMPÓSIO 7
O desenvolvimento da EJA e a formação de professores na América Latina
○
○
cional, tão forte no século XIX, hoje já não exis- ampliação dos anos de escolaridade dos pro-
○
○
te. Os sistemas educacionais contribuíram gramas. Ao mesmo tempo, a profissão docen-
○
○
para a criação e a consolidação dos estados te continuou sendo categorizada como uma
○
nacionais e os professores, por sua vez, foram profissão de segunda ordem no conjunto das
○
○
“a mão” dos sistemas educacionais, uma con- profissões.
○
○
gregação leiga disposta a executar um manda- Em todos os países da região, foram desen-
○
to e uma doutrina. Os sistemas educacionais volvidos programas de renovação da formação 119
○
○
parecem ter-se esquecido de que precisarão de docente (inicial e continuada) na década de
○
○
seus professores. Pode-se conjeturar que não 1990; no entanto, a separação entre a forma-
○
○
se trata de uma confusão, e sim de uma opção ção inicial e a formação em serviço foi man-
○
sistemática por uma outra coisa: os meios de tida, bem como a separação entre a escola e as
○
○
comunicação e os sistemas virtuais. Nem mes- instituições de formação e entre as carreiras
○
○
mo os sindicatos de professores, ainda pode- que formam para os diferentes níveis e moda-
○
○
rosos em alguns países, conseguiram mudar lidades do sistema educacional. A formação
○
essa situação. docente reproduz a estrutura fragmentada do
○
○
Salários baixos, condições de trabalho que sistema educacional.
○
○
obrigam o professor a ter mais de um empre- Por último, as inovações na formação do-
○
○
go, falta de uma formação sistemática e o fato cente inicial não incorporaram a problemáti-
○
de a formação não fazer parte do trabalho do- ca da educação de pessoas jovens e adultas
○
○
para satisfazer às novas exigências do currícu- nuou segregada ou passou a fazer parte da for-
○
○
tem sido visto como um processo de fora para ção docente em quase todos os países da região.
○
○
não é profissional. O que se propõe, com base nos próprios espaços de trabalho, workshops
○
○
em outros marcos de referência, é a promoção nas escolas que, em alguns casos, geraram es-
○
percorrido a partir dos próprios educadores des. Essas experiências foram organizadas em
○
○
por duas vias: a epistemológica, que implica a torno da reflexão da prática pedagógica. Em que
○
○
sistematização a partir da reflexão da prática pesem essas “boas notícias”, no entanto, a prin-
○
docente nos espaços de grupos docentes, e a cipal limitação dos processos de formação é o
○
○
política, ou da organização e participação dos enfoque de fora para dentro, que privilegia mais
○
○
educadores nas políticas públicas por meio dos a formação que o trabalho e considera a forma-
○
○
sindicatos de professores (Hargreaves; Pérez ção como um meio para preparar os educado-
○
Gómez, outros). Embora prevejam a participa- res para programas de reformas. Por essas ra-
○
○
âmbito da escola e não permitem que os pro- críticas por terem sido definidos “de cima para
○
○
grandes políticas educacionais e que desem- insere-se nesse contexto, no qual a formação
○
○
penhem o papel que lhes cabe na educação adquiriu relevância e, ao mesmo tempo, os edu-
○
○
uma hierarquização formal nos últimos vinte de pessoas jovens e adultas não foi abordada em
○
○
○
○
matização de experiências tanto no nível
○
pessoas jovens e adultas
○
dos países como da região (América Lati-
○
na), com a participação de profissionais
○
Não temos uma situação comum em todos
○
das diferentes instituições que atuam no
○
os países da região. Apenas alguns países estão
campo da educação de adultos (Ministé-
○
debatendo o tema neste momento. Além disso,
○
rios de Educação e outros, ONGs, univer-
○
o debate se diferencia de acordo com a situa-
○
sidades), educadores e sindicatos de pro-
○
ção dos docentes e do papel que desempenham.
fessores.
○
Enquanto em alguns países, como a Argentina,
○
3. A tarefa de formação é específica e, ao
○
os educadores são formados e atuam como pro-
○
mesmo tempo, concebida para diferentes
○
fessores da educação formal de adultos, em
○
tipos de educadores. Um de seus propósi-
○
outros, como México, os educadores de adul-
tos é criar um espaço de intercâmbio, for-
○
tos (os assessores do Inea) são, em sua maioria,
○
mação e produção de conhecimentos en-
○
“voluntários”, pessoas da comunidade, sem di-
○
○
volvendo educadores de adultos de dife-
ploma e com salários baixíssimos. ○
res de adultos (em que tipo de instituição, que dores da formação profissional, outros). A
○
○
da experiência.
○
adultos? No caso dos educadores diplomados, ciclo comum e menções, uma das quais
○
nas escolas normais e nos institutos de forma- mum, não apenas se recuperaria a tradi-
○
○
ção, que não oferecem formação específica ini- ção da educação popular e a sistematiza-
○
propõe é o seguinte:
○
para a educação de adultos. Essa tarefa tir dos educadores e com eles. Estamos fazen-
○
○
educadores de adultos.
○
120
SIMPÓSIO 7
O desenvolvimento da EJA e a formação de professores na América Latina
○
PIECK, Enrique. Función social y significado de la
○
dores como a criação de uma proposta de edu- e d u c a c i ó n c o mu n i t a r i a . U n a s o c i o l o g í a d e l a
○
○
e d u c a c i ó n n o fo r m a l . M é x i c o : U n i c e f / C o l e g i o
cação de adultos que parta dos interesses e dos
○
Mexiquense, 1996.
○
conhecimentos das pessoas e que esteja orien-
○
. Educación de adultos y formación para el
tada para os setores mais excluídos. Esse pro-
○
trabajo en América Latina: incidencia y posibilidades en
○
cesso é o inverso da definição de perfis docen- los sectores de pobreza. In: JACINTO, Claudia;
○
○
tes ou da predeterminação de conteúdos míni- GALLART, María Antonia. Por una segunda oportunidad:
○
mos para a formação. Trata-se de uma forma- la formación para el trabajo de los jóvenes vulnerables. 121
○
○
ção docente para educadores de adultos como Montevideo: Cinterfor/OIT/Rede Latino-Americana de
○
Educação e Trabalho, 1998.
○
sujeitos de direitos, cidadãos plenos e inter-
○
PIECK, Enrique. Educación de jóvenes y adultos vinculada
○
locutores do Estado na definição de políticas al trabajo. In: Unesco/Ceaal/Crefal/Inea. La educación
○
educacionais, ou seja, o oposto de uma forma-
○
de personas jóvenes y adultas en América Latina y el
○
ção de educadores como executores de progra- Caribe. Prioridades en el siglo XXI. Santiago de Chile,
○
○
mas num espaço “sala de aula”, em lugares 2000.
○
RIVERO, José. Educación de adultos en América Latina.
○
escolarizados, ainda que não inseridos fisica-
○
Desafíos de la equidad y la modernización. Madrid: Oei,
mente na escola. Essas propostas precisarão
○
1993.
○
estar articuladas com uma formação geral e
○
○ . Educación y exclusión en América Latina.
comum de todos os educadores e profissionais
○
ção de pessoas jovens e adultas implica. rica Latina. Pátzcuaro, México: Unesco/Orealc/Crefal,
○
○
1988.
○
va. Estado del arte sobre las innovaciones educativas . Necesidades básicas de aprendizaje de los
○
○
en América Latina. Bogotá, Colômbia: CAB/Unesco, adultos en América Latina. In: UNESCO/UNICEF. La
○
Hacia una pedagogía de género. Experiencias y TORRES, Rosa María. La formación de los maestros. Qué
○
○
conceptos innovativos. Bonn/Colômbia: DSE/Unesco- se dice, qué se hace. Dissertação (seminário regional
○
GALLART, María Antonia. La formación para el trabajo en mandas da formação inicial do professor”). Santiago de
○
go, ago. 2000). Buenos Aires: Cenep, 2000. la política educativa. Dissertação (reunião prospectiva
○
íses de América Latina. Santiago, Chile: Unesco/Orealc, Intergovernamental do PPE, Santiago, ago. 2000).
○
2000.
○
LETELIER, María Eugenia. Analfabetismo femenino en Chile UNESCO/OREALC. Nuevas formas de aprender y nuevas
○
MESSINA, Graciela. La educación básica de adultos: la otra docente. Santiago de Chile: Unesco/Orealc/Cide, 1996.
○
Chile, 1990.
○
Latina. Boletín del PPE, n. 43, Unesco/Orealc, ago. 1997. dades en el siglo XXI. Santiago de Chile, 2000.
○
○
MESSINA, Graciela (Org.). Estrategia regional de UNESCO/Ministério da Educação do Chile. Marco regional
○
seguimiento de Confintea V. Santiago, Chile: Unesco/ de acción para la educación de personas jóvenes y adul-
○
○
O FUNDEF E A VALORIZAÇÃO
DO MAGISTÉRIO
Ulysses Cidade Semeghini
123
O Fundef e a valorização
○
○
○
do Magistério
○
○
○
○
○
Ulysses Cidade Semeghini
○
○
Fundef/MEC
○
○
○
○
○
○
○
○
O Fundef foi criado para garantir uma Educação. O valor referente ao Fundef é credi-
○
subvinculação dos recursos da educação para tado em conta específica, sempre que houver
○
○
o Ensino Fundamental, assim como para asse- arrecadação e repasse de recursos das fontes
○
○
gurar uma melhor distribuição desses recursos. que alimentam o Fundo. Ou seja, o crédito da
○
Com esse fundo de natureza contábil, cada es- ○
○
parcela do Fundef originária do FPM acontece
tado e cada município recebem o equivalente na mesma data do repasse do FPM, o mesmo
○
○
ao número de alunos matriculados na sua rede ocorrendo com relação às outras fontes.
○
○
nacional por aluno/ano. O Fundef foi criado • Sessenta por cento, no mínimo, para remu-
○
○
em janeiro de 1998 em todo o país. parcela também pode ser utilizada para ha-
○
e Serviços (ICMS).
○
• Ressarcimento pela desoneração de ex- 2001, a utilização de parte da parcela dos 60%
○
Em cada estado, os recursos do Fundef são como leigos, para efeito de atuação no Ensino
○
vernos municipais, de acordo com o número de • tenham apenas o Ensino Fundamental, com-
○
○
dido em cada rede de ensino (estadual ou mu- • lecionem para turmas de 1ª a 4ª séries e não
○
○
nicipal), conforme os dados constantes do Cen- possuam o Ensino Médio, modalidade Nor-
○
zado a cada ano pelo Instituto Nacional de Es- • lecionem para turmas de 5ª a 8ª séries sem
○
○
tudos e Pesquisas Educacionais (Inep) do MEC, que tenham concluído o Ensino Superior, em
○
○
124
SIMPÓSIO 8
O Fundef e a valorização do Magistério
○
○
habilitação de professores leigos não mais será tência de vínculo definido em contrato próprio,
○
○
possível com a parcela dos 60% do Fundef. En- celebrado de acordo com a legislação que dis-
○
○
tretanto todos os investimentos voltados à for- ciplina a matéria e pela atuação, de fato, do pro-
○
mação inicial dos profissionais do Magistério fissional do Magistério no Ensino Fundamen-
○
○
poderão continuar sendo financiados com a tal. Os afastamentos temporários previstos na
○
○
parcela dos 40% dos recursos do Fundo. legislação, tais como férias, licença-gestante ou
○
A atualização e o aprofundamento dos co- paternidade, licença para tratamento de saúde, 125
○
○
nhecimentos profissionais deverão ser promo- não caracterizam ausência ao efetivo exercício.
○
○
vidos a partir de programas de aperfeiçoamen- A legislação do Fundef não estabelece valor
○
○
to profissional continuado, assegurados nos mínimo (piso) ou valor máximo (teto) de salá-
○
planos de carreira do Magistério público. Po- rio para o Magistério. As escalas salariais deve-
○
○
dem ser usados os recursos da parcela dos 40% rão integrar o Plano de Carreira e Remunera-
○
○
do Fundef, inclusive para o desenvolvimento da ção do Magistério que cada governo (estadual
○
○
formação, em Nível Superior, dos professores na e municipal) deve implantar. Assim, os salários
○
docência de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamen- serão definidos de acordo com a realidade de
○
○
tal, obedecendo nesse caso às exigências legais cada um desses governos, ou seja, de acordo
○
○
Em relação a esses cursos (que não tenham receita, a jornada de trabalho, entre outras va-
○
MEC não realiza o credenciamento de institui- O MEC, por intermédio do Fundescola, de-
○
○
ções que ofereçam cursos de capacitação; no senvolveu um software para auxiliar os gover-
○
entanto, torna-se necessária a verificação sobre nos que precisem criar um novo Plano de Car-
○
○
mento dessas instituições nos Conselhos Esta- ma permite a realização de criterioso estudo da
○
○
A LDB (art. 62) estabelece que os docentes lação de alternativas de planos, tomando como
○
○
da Educação Básica deverão ser formados em base as diretrizes e dispositivos legais vigentes.
○
○
Nível Superior (Licenciatura Plena), mas admi- A Lei nº 9.424/96 estabelece a obriga-
○
○
modalidade Normal, para a docência nas qua- Carreira e Remuneração para o Magistério em
○
○
Dessa forma, os professores deverão, no futu- o governador ainda não tomaram essa providên-
○
○
em curso Normal Superior, pois a melhoria da escolar, deverá mobilizar-se, envolvendo o Po-
○
○
qualidade do ensino constitui um compromis- der Legislativo local, no sentido de buscar o cum-
○
○
so que passa também pela valorização do Ma- primento desse mandamento legal.
○
○
gistério. Portanto não há prazo para os sistemas A maior parte dos recursos do Fundef (par-
○
de ensino deixarem de aceitar a formação em cela anual mínima de 60%) deve ser utilizada
○
○
Nível Médio, modalidade Normal, para quem na remuneração dos profissionais do Magisté-
○
○
faz parte do quadro do Magistério, com atua- rio do Ensino Fundamental, ou seja, na cober-
○
○
ção nas quatro primeiras séries do Ensino Fun- tura da folha de pagamento desses profissio-
○
que exercem atividades de docência e aqueles ção deverão incorporar os eventuais ganhos fi-
○
○
que oferecem suporte pedagógico a tais ativi- nanceiros alcançados em razão do Fundef. Des-
○
○
○
sempre sob o princípio da transparência e com conjunto das redes públicas do país, em junho
○
○
o respaldo legal exigido (lei municipal no caso de 2000 essa proporção já estava reduzida a
○
○
de rede municipal de ensino). 3,1%.
○
Com o objetivo de analisar as principais Ainda que se reitere que uma das metas
○
○
mudanças e os avanços ocorridos em favor do mais ambicionadas pelo Fundef seja a de pro-
○
○
Ensino Fundamental no período compreendi- mover a erradicação, como vem de fato ocor-
○
do entre a implantação do Fundef, em janeiro rendo, da categoria de docentes não-qualifica-
○
○
de 1998, e junho de 2000, o MEC contratou pes- dos, os maiores percentuais de aumento aca-
○
○
quisa amostral nos estados e municípios. Uma baram por beneficiar os professores cuja esco-
○
○
das idéias centrais na concepção do Fundo é a laridade máxima era o Ensino Fundamental
○
valorização do Magistério, tema que orientou a completo. Isso se explica com facilidade, uma
○
○
maior parte do esforço da pesquisa. A seguir, vez que grande parcela desses profissionais re-
○
○
sintetizam-se seus principais resultados, no que cebia remunerações inferiores aos requisitos
○
○
se refere a salários, capacitação e aumento do ○
mínimos, não raro muito menores que o salá-
número de docentes. rio mínimo. O percentual nacional médio de
○
○
número de professores do Ensino Fundamen- 50 e 60%, com grande destaque para a Região
○
○
de 2000, indicam um crescimento global nes- Há várias formas para se obterem informa-
○
○
docentes, sem contar auxiliares, profissionais trole Social do Fundef (estaduais e munici-
○
○
Normal) e professores com Nível Superior (Li- licitar o extrato da conta do Fundef direta-
○
○
mental e tiveram índices de crescimento qua- nais de Contas e o Ministério Público tam-
○
○
se idênticos, cerca de 11,5% (acima da média, bém podem obter informações do Banco do
○
bro de 1997.
○
souro Nacional.
nota-se que, se antes de 1998 apenas 23% das
○
○
redes de ensino desenvolviam atividades vol- • Nas cidades com menos de 100 mil habi-
○
faziam. Assim, uma das prioridades vinculadas zes fixados nas agências dos Correios.
○
○
goria de professores leigos, com a conseqüente Orientação, elaborada pelo MEC e distribuída
○
sendo rapidamente atingida em todo o país. nicípios, são oferecidas orientações gerais. En-
○
○
Verifica-se que, se, em dezembro de 1997, pro- tretanto, se necessário, pode-se procurar o De-
○
○
126
SIMPÓSIO 8
O Fundef e a valorização do Magistério
○
representantes do Poder Legislativo local,
○
(61) 410-9283, por e-mail <fundef@mec.gov.br> para que estes, pela via da negociação ou
○
○
ou, ainda, pelo Fala Brasil (0800-616161). pela adoção de providências formais, pos-
○
○
Em caso de descumprimento dos dispositi- sam buscar a solução junto ao governante
○
vos legais sobre o Fundef, recomenda-se: responsável;
○
○
• procurar, primeiramente, os membros do • ainda, se necessário, recorrer ao Ministério
○
○
Conselho de Acompanhamento e Controle Público (Promotor de Justiça), diretamente ou
○
Social do Fundef, para que este solicite ao 127
○
com a ajuda e intermediação do Conselho do
○
responsável, se necessário, a correção das
○
Fundef, formalizando suas denúncias, enca-
○
irregularidades praticadas; minhando-as, também, ao respectivo Tribunal
○
○
• na seqüência, se necessário, procurar os de Contas (do estado ou dos municípios).
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
DEBATE
○
○
○
O Fundef e a valorização
○
○
○
do Magistério
○
○
○
○
○
ça, no interior da sala de aula, que não seja por primeiro, que socializássemos parte da renda
○
○
meio do professor, e não há nenhum profes- nacional, uma vez que criou uma bolsa, um
○
sor capaz de promover mudanças, dentro de fundo que leva as pessoas a participar de ma-
○
○
sua sala de aula, a não ser por meio da neira direta de nossa sociedade de consumo.
○
○
capacitação permanente, bem como da forma- Outra mudança importante, além da dis-
○
○
ção de um novo quadro do Magistério, adequa- tribuição de renda, é que ele provocou o re-
○
do às exigências do novo século, do novo mi- torno de professores que estavam afastados
○
○
Essa capacitação tem custo, não é feita gra- no Nordeste quanto nos estados do Sul e do
○
○
tuitamente. O sistema de ensino não pode co- Sudeste, pois os salários melhoraram e as pes-
○
brar de seus professores qualquer coisa, ne- soas passaram a integrar o mercado consumi-
○
○
nhum centavo, em relação à formação e à dor, a ser cidadãs. O Fundef resgata a cidada-
○
○
capacitação – isto é inadmissível. É preciso que nia, especialmente dos trabalhadores em edu-
○
○
deral de ensino, respondam de maneira soli- Além disso, o Fundef coloca em cena o En-
○
○
dária à formação e à capacitação desses pro- sino Fundamental, que é, fazendo aqui um tro-
○
○
Qual é o papel do Fundef em relação a isso? portante. Não há quem caminhe no sentido
○
cia por parte de muita gente, estranhamente alocados recursos para a melhoria da qualida-
○
de de ensino. Mesmo antes do Fundef, o go- cação, aqueles que são usuários dos diversos sis-
○
○
verno Fernando Henrique Cardoso cuidava da temas de ensino, especialmente dos sistemas
○
○
universalização do ensino, mas o grande dra- municipais.
○
○
ma está colocado em duas pontas: uma delas O Fundef, ao sinalizar para um piso míni-
○
é a da permanência, como evitar a evasão; ou- mo (piso pode não ser o termo mais conveni-
○
○
tra é a permanência com qualidade. Não basta ente, mas refere-se ao mínimo em termos de
○
○
garantir a permanência e evitar a evasão. É pre- salário), fez com que houvesse uma correção
○
ciso fazer isso com qualidade. Essa é uma ques- rápida nos salários dos trabalhadores em edu-
○
○
tão central e está relacionada, efetivamente, cação, estabelecendo, à época, um valor-refe-
○
○
com a formação do profissional, porque o alu- rência em torno de R$ 320,00.
○
○
no não está na escola só para aprender a ler e Outra questão que o Fundef também colo-
○
a escrever, tem de aprender a viver, a somatizar ca é que, ao se estabelecer que o governo fe-
○
○
conhecimentos e isso passa pela qualidade do deral teria recursos complementares para a co-
○
○
professor. bertura de Fundos Estaduais, isso gerou segu-
○
○
O aluno não vai aprender sozinho; o profes- ○
rança nos agentes educacionais dessas áreas.
sor é uma figura imprescindível na vida do es- Ao colocar em cinco ou seis estados brasi-
○
○
tudante. Ele precisa estar ali para monitorar o leiros recursos para a educação, o governo fe-
○
○
conhecimento das crianças, da apropriação cul- deral permite que, a médio e longo prazos, te-
○
○
tural, do saber, da leitura, da Matemática, da nhamos uma sociedade mais educada, cujos
○
Literatura, dos conceitos de boa qualidade de resultados poderão não ser vistos rapidamen-
○
○
vida. O Fundef, colocando no cerne da questão te, mas serão no dia-a-dia das comunidades. No
○
○
o Ensino Fundamental, vai permitir a médio e desempenho das crianças e dos jovens é que
○
longo prazos que a educação tenha outro per- vamos poder observar qual a importância real
○
○
fil, porque com professores melhores qualifica- da distribuição de renda por meio da educação.
○
○
dos, mais bem informados teremos uma socie- Vale lembrar que o Fundef é transitório,
○
○
to. Esse é um papel importante que o Fundef de Educação das Prefeituras do PSDB de São
○
○
mente, no que tange à educação. Jundiaí, foi extraída uma carta, propondo que
○
○
O governo federal acertou, como balizador se dê prioridade ao Fundef, para que se torne
○
dia a educação. Também por conta disso houve Educação, consagrado na Constituição Federal,
○
○
um estímulo muito grande para a municipa- e sugerindo, ainda, no caso de São Paulo, que
○
○
lização do ensino. Embora sem embutir em seu fizéssemos o mesmo em relação à Constituição
○
contexto de legislação, o Fundef criou facilida- Estadual. Nesse mesmo Fórum, deliberou-se
○
○
des para que os municípios, principalmente do que o deputado federal por Jundiaí, Dr. André
○
○
educação, coloca os agentes fazedores da edu- Acredito que isso tem de ser feito dessa for-
○
○
cação próximos dos consumidores de educação ma, a fim de que não fiquemos ao sabor dos
○
○
e as duas pontas se juntam: a ponta dos fazedores governantes, daqueles que são contra ou a fa-
○
○
DESEMPENHO DO PROFESSOR
E SUCESSO ESCOLAR DO ALUNO
Charles Hadji
129
Desempenho do professor
○
○
○
e sucesso escolar dos alunos
○
○
○
○
Charles Hadji
○
○
Universidade Pierre Mendès/Grenoble/França
○
○
○
○
○
○
○
○
Resumo
○
○
○
○
Partiremos de dois fatos que, na atualidade, cos dados indiscutíveis se encontram realmente
○
constituem consenso na comunidade de pesqui- disponíveis “sobre os professores e seu papel no
○
○
sadores. De um lado, “certos professores conse- ○
sucesso ou fracasso dos alunos” (idem: 35). Isso nos
guem fazer com que seus alunos progridam mais
○
to, existem diferenças significativas de um profes- • Como foram construídos os saberes atual-
○
Do outro, não podemos senão constatar “a dificul- • O que sabemos hoje, exatamente, sobre a in-
○
○
dade de se estabelecerem resultados reais, fluência dos professores no sucesso dos alunos?
○
eficácia dos professores” (idem: 28). E, de fato, pou- melhor a respeito dessa questão?
○
○
○
○
○
○
○
A primeira questão levantada pela pesquisa estava orientada para a identificação de va-
○
○
sucesso escolar dos alunos é aquela do marco sencial, pelas características individuais
○
○
paradigmático adequado. Será que esse marco (por exemplo, o professor cordial). Todavia,
○
○
Se uma indagação sobre a condição de tes de tais trabalhos, que eram muito
○
○
produção dos saberes no campo que nos pre- freqüentemente baseados na opinião, igno-
○
○
ocupa aqui se mostra, de partida, necessária, rando o trabalho concreto dos professores
○
em aula.
○
demos nos contentar com duas questões sim- dir a eficácia a partir da eficiência dos mé-
○
○
ples, para as quais Clermont Gauthier (1997) todos. A pedagogia experimental acreditou
○
130
SIMPÓSIO 9
Desempenho do professor e sucesso escolar do aluno
○
○
não era possível considerar um “método de talmente satisfatória, bem como nenhuma de-
○
○
ensino” como variável causal independen- monstrou-se capaz de fornecer uma resposta
○
te (Bru, 1990).
○
totalmente fundamentada e definitiva para a
○
• Durante os anos 1960, diversos estudos dedi- questão da eficácia do ensino e dos professores.
○
○
caram-se à observação do ensino em sala de
○
○
aula. Nessa época, 79 sistemas de observação
Quais foram, e são, os principais
○
diferentes foram elaborados e implementados 131
○
paradigmas da pesquisa?
○
(Gauthier, 1997: 33). Entretanto, se o esforço
○
tinha o mérito de centrar-se na “caixa preta” Os autores não se colocam de acordo sobre a
○
○
do trabalho em aula, os trabalhos ignoraram natureza e o número dos grandes paradigmas de
○
○
a questão dos efeitos produzidos pelo ensi- pesquisa no campo da eficácia. Isso levaria a
○
no, pois as práticas descritas não foram com-
○
mostrar que nenhum deles se impõe de manei-
○
paradas com o sucesso escolar. ra indiscutível!
○
○
• Nos anos 1970, a questão central tornou-se, Para Bressoux (1994), pode-se detectar, com
○
○
então, saber se eram os professores os que respeito aos trabalhos sobre os efeitos-professor,
○
realmente faziam a diferença, dentro de uma
○
quatro grandes paradigmas.
○
perspectiva processos–produto. Tentou-se, ○
○
O paradigma do critério de eficácia, caracte-
assim, identificar comportamentos estáveis rizado pela pesquisa de uma variável que seria a
○
dos alunos (produto). Quais são as variáveis paradigma dominante quando da primeira fase
○
acima descrita.
○
meta-análises que permitiram chegar a re- daquilo que se interpõe entre os estímulos pe-
○
to, objeto de múltiplas críticas sobre as quais aprendizagem dos alunos (por exemplo: envol-
○
○
• Uma crítica importante foi no sentido de que (1996: 15), esse paradigma corresponde apenas
○
‘processo-produto’”.
○
de uma quinta abordagem ilustrada pelos Por último, o paradigma ecológico, de inspi-
○
○
trabalhos de Schön (1983; 1987) e centrada ração etnográfica, que se dedica à interação de-
○
sos de pensamento mobilizados pelos pro- referindo-se aos contextos suscetíveis de outor-
○
○
beres objetivos e, de outro, aquele das variá- cogitação, Durand (1996) vê, essencialmente, um
○
○
Esse rápido histórico permite constatar que so-produto”, as quais, se “continuam”, revelam-se
○
○
nenhuma das abordagens que se sucederam na doravante menos criativas (1996: 17); uma abor-
○
○
○
○
○
1
NT Interação Aptidões–Tratamentos (I.A.T.). Vários grupos de sujeitos equivalentes ou, ao contrário, diferenciados do ponto de vista das
○
características pessoais consideradas são expostos a condições pedagógicas diferentes para assimilar um conteúdo de aprendizagem idên-
○
○
tico. A seguir, avaliam-se os desempenhos de cada sujeito para poder identificar os tratamentos pedagógicos que melhor convêm às carac-
○
○
○
e no funcionamento cognitivo dos professores, ten- marco teórico interpretativo. Acrescente-se a
○
○
do sempre a preocupação de identificar os elemen- isso o que Durand (1996) vem finalmente res-
○
saltar sobre o fato de se ignorarem as ativida-
○
tos de eficácia. Entretanto, esse autor salienta o
○
surgimento de uma terceira atitude, de perspecti- des desenvolvidas quando da interação com
○
os alunos (por exemplo: atividades de plane-
○
va etnográfica (idem: 32), caracterizada pelos tra-
○
jamento).
○
balhos de Schön. Os defensores dessa terceira ati-
○
tude estariam menos interessados nos problemas b. É por isso que podemos clamar, junto com
○
○
de eficácia e de avaliação. Gauthier, por uma complementaridade das
○
abordagens e, até mesmo, dos esforços por
○
Eis por que poderemos ficar finalmente de
○
progredir no sentido de “um modelo
○
acordo com Gauthier (1997), que distingue três
○
eclético” (1997: 125).
grandes abordagens nas pesquisas sobre Peda-
○
○
gogia: c. Isso nos parece: um comprometimento mai-
○
or do que a construção de um modelo descri-
○
• A abordagem processo–produto, centrada na
○ tivo exaustivo (do processo ensino-aprendi-
pesquisa de correlações entre comportamen- ○
○
de suas representações e, de forma mais pre- satisfatórias à questão da eficácia. É isso que
○
Alguns resultados
○
interessantes produzidos
○
os efeitos-professor
○
sempenhos cognitivos medidos com a aplica- Felouzis (1997) e Gauthier (2001) têm apresen-
○
○
ção de testes padronizados); nenhuma expli- tado sínteses a respeito, ao mesmo tempo, dos
○
duz seus efeitos; subestima da influência dos tos-professor” e dos resultados obtidos.
○
○
alguns resultados
○
res do ensino primário; desdém com a histó- Uma coisa é certa: “os efeitos-professor fo-
○
○
ria. Bressoux (1994) acrescenta outras três: ram provados e ficou demonstrado que o seu
○
○
confusão (possível) entre causa e correlação; impacto é mais poderoso do que aquele das es-
○
132
SIMPÓSIO 9
Desempenho do professor e sucesso escolar do aluno
colas” (Bressoux, 1994: 127). Na explicação esta- cia dos exemplos; tempo concedido aos alunos
○
○
tística da variância do aproveitamento escolar para responderem; organização do curso; modali-
○
○
em turmas de seconde,2 o ganho da variância dades de estabelecimento e de manutenção da
○
○
explicada pelo estabelecimento é só de 5%, en- matéria; clima da turma; modalidade de decisões;
○
quanto é de cerca de 15% para a turma (e, por- taxa de comportamentos entusiastas.
○
○
tanto, para o professor) (Felouzis, 1997: 57). A O que podemos deduzir? Os alunos terão
○
○
última estimativa confirmada por Duru-Bellat e melhor desempenho escolar (de uma maneira
○
Mingat para o C.P.3 : a inclusão da pertença a uma geral) se o seu professor: 133
○
○
turma aumenta em 19% o poder explicativo de • Efetivamente ensinou os conteúdos avalia-
○
○
um modelo estatístico. Numa pesquisa que in- dos: os alunos têm mais chances de apren-
○
der e, portanto, de ter sucesso, quando o pro-
○
cluiu 102 turmas do ensino primário, constatou-
○
se, “para um aluno de desempenho exatamente fessor “executa” o currículo.
○
○
médio num teste inicial, um desvio de 30 pon- • Concedeu tempo suficiente para sua disci-
○
○
tos no teste final, dependendo de o aluno ter sido plina (sendo que esse tempo varia de forma
○
○
escolarizado com o professor mais, ou com o considerável de um para outro professor).
○
menos, eficaz” (Bressoux, 1994: 135).
○
• Levou seus alunos a concederem o máximo
○
Mas quais são, de um lado, os fatores
○
○
de tempo na tarefa (esse tempo pode variar
explicativos dessas diferenças e, de outro e de 50 a 90% para um ensino de Matemática).
○
○
evitar qualquer contra-senso, que a eficácia pe- com respeito aos seus alunos. Esse ponto foi
○
mente dependente de variáveis de identificação Felouzis (1997) que, tendo distinguido dois
○
○
pessoal, tais como o sexo, o meio social de ori- grupos de professores do ensino secundário
○
que “a eficácia dos professores se constrói na pedagógicas centradas nos alunos e tenden-
○
○
contam. O mestre, não como indivíduo, mas como petência esperado, mas impondo-se sem
○
○
infinidade de pontos de vista (Durand, 1996: 12). to negativas sobre os alunos, seu fraco nível
○
○
Inúmeras têm sido as variáveis de processo estu- de competências e sua incapacidade para
○
das retroações; nível de dificuldade das tarefas; taxa • Soube apresentar suas exposições de forma
○
○
2
NT Antepenúltima série do ensino secundário francês, equivalente ao 2º ano do Ensino Médio brasileiro.
○
○
3
NT C.P.: Cours Préparatoire. Última série da escola maternal francesa, antes do ensino primário, equivalente ao penúltimo ano da pré-escola
○
brasileira.
○
• Fez elogios ajustados, não muito freqüentes, cácia nunca poderá estar garantida. Em rigor:
○
○
que acompanharam os efetivos sucessos dos • As situações de ensino em sala de aula são
○
○
alunos. tais que essa atividade constitui uma tarefa
○
complexa, de múltiplas dimensões. Durand
○
• Propôs retroinformações (feedbacks) corretivas,
○
de um modo afetivamente neutro e deixando (1996) ressalta algumas: um número elevado
○
○
ao aluno tempo suficiente para corrigir-se. de elementos interagindo; o caráter pluridi-
○
mensional de cada situação, a que se acres-
○
• Estruturou as atividades: propondo exercí-
○
centa o caráter heterogêneo dos alunos; a si-
○
cios de entrada nas seqüências; procedendo
multaneidade dos acontecimentos; a fra-
○
por etapas curtas, mas com ritmo permanen-
○
ca previsibilidade da situação; uma forte pres-
○
te e sem digressão, sempre sem temer a re-
○
são temporal. Essa complexidade é tal que
○
dundância; com um tempo importante de
somente uma e mesma forma de agir nem
○
prática dirigida coletiva, seguida de exercí-
○
sempre pode produzir os mesmos efeitos.
○
cios individuais, mas cuidando de manter os
○
alunos envolvidos na tarefa; por último, ter- • Há, no ensino, uma “primazia do operativo”
○
○
minando com sínteses. ○
(Durand, 1996: 69). A ação é guiada por crité-
rios pragmáticos, e não lógicos ou formais. Ela
○
Clermont Gauthier (2001) faz uma apresen- • Justamente, os efeitos dos diversos fatores
○
segundo duas grandes funções (gestão da maté- dentre outros fatores, do nível da série ou ano
○
○
ria; gestão da turma), sendo que cada uma é de escolaridade considerado e das caracte-
○
mento, interação e avaliação. Nesse conjunto, sinar constitui uma profissão que acontece
○
○
Bressoux (1994) vê dois fatores que surgem de num contexto demasiado complexo para que
○
• o tempo de envolvimento na tarefa; cias” (Gauthier, 2001: 214). Não se pode iso-
○
○
cesso). Sem dúvida, há também muitas outras onde se deduz a existência de “efeitos de
○
○
coisas a serem feitas para se ter sucesso; e a efi- composição” (Duru-Bellat e Mingat, 1994:
○
134
SIMPÓSIO 9
Desempenho do professor e sucesso escolar do aluno
143), pode-se confirmar que toda pesquisa mente operando, isto é, as vias e os mecanismos
○
○
geral do “bom professor” será em vão. pelos quais, e graças aos quais, existe um “efei-
○
○
• Finalmente, é por isso que seria convenien- to”. O que implica sabermos mais, de fato, “so-
○
○
te, aqui e sempre, fazer, segundo a expressão bre os fatores que influem no aproveitamento
○
de Clément Gauthier, um “uso prudente” escolar dos alunos” (Bressoux, 1994: 128).
○
○
(1997: 217) dos resultados da pesquisa. O que Duas grandes questões são, então, apresentadas:
○
○
isso quer dizer? Não se deve sucumbir nem 1. Quais são os fatores que incidem na apren-
○
à “mística” da todo-poderosa ciência, nem à dizagem dos alunos? E qual seria a impor- 135
○
○
mística simétrica do professor condenado à tância relativa da qualidade do desempe-
○
impotência e à hesitação pela complexidade
○
nho do professor no sucesso escolar dos
○
da sua profissão; mas, sim, utilizar os resul- alunos?
○
○
tados dos trabalhos de pesquisa como ferra- 2. Quais seriam as vias e os mecanismos den-
○
mentas intelectuais ou como grades de
○
tro da importância relativa da eficácia even-
○
inteligibilidade para estar informado e tam-
○
tual dos professores?
○
bém para refletir sobre a sua própria prática,
○
tendo em vista, eventualmente, reajustar as
○
○
práticas e os meios implementados refe- No que se refere à questão dos fatores
○
○
renciando-os às finalidades perseguidas. ○
que incidem no desempenho escolar
“Trata-se de tentar incorporar na sua práti-
○
dos alunos
○
ticas profissionais, alguns saberes, savoir- Temos de considerar, junto com Jean
○
○
faire ou formas de ser, a fim de aumentar seu Cardinet, que um desempenho (do aluno) obser-
○
○
‘efeito-professor’ ” (Gauthier, 2001: 214). vado “é uma função com muitas variáveis” (1991:
○
Para progredir na questão que lhe é colocado etc. Em todos os casos, torna-
○
○
Temos rigorosamente que reconhecer, citan- sempenho do professor vem a ser apenas um fa-
○
○
do Bressoux, que se os efeitos-professor foram tor dentre vários outros, e que não podemos
○
○
já provados e se, assim, nossos conhecimentos supervalorizá-lo (se é que não devemos, não
○
○
apresentaram progressos, “temos ainda muito obstante, subestimá-lo). O professor não é o úni-
○
pouco conhecimento a respeito dos fatores que co responsável. E ele é só em parte responsável.
○
○
favorecem os desempenhos dos alunos” (1994: Dentre todos esses fatores que interagem, po-
○
○
108). Por meio de que processos mediatários os deríamos distinguir dois subconjuntos: os fatores
○
○
fatores identificados (e isolados) pelas pesqui- relativos ao educando e aqueles relativos aos con-
○
sas sobre os efeitos-professor chegam a produ- textos dos aprendizados. Pelo lado do educando,
○
○
zir, justamente, seus efeitos? Seria preciso não poderíamos evocar: a bagagem hereditária (com
○
○
apenas, como salientam Duru-Bellat e Mingat, todas as discussões que ela suscita); a personalida-
○
○
descrever de forma sistemática e precisa “a efe- de; as aptidões; a história, em particular a escolar;
○
tiva variedade das práticas”, mas também “de- as atitudes, e a relação com a “coisa escolar”; os pro-
○
○
terminar [...] as práticas eficazes, ou seja, aque- jetos; a vontade; o nível de comprometimento. Pelo
○
○
las que se revelarem efetivamente ligadas à qua- lado dos contextos, podemos identificar três gran-
○
○
lidade do ensino” (1994: 139). É preciso, ainda, des séries de fatores: o contexto de vida (o meio so-
○
ir além dessa pesquisa de correlações (que en- cial e cultural); o contexto da aprendizagem (escola,
○
○
cerra no paradigma processo–produto) para ten- currículo, professor e “método”); o contexto da ava-
○
○
tar identificar as causalidades que estão efetiva- liação. O professor, em rigor, só viria a ser mais um
○
fator de contexto entre muitos outros, o que torna dem mais ser estudadas de forma simplesmente
○
○
redutora a pesquisa febril das correlações entre o apriorística e no abstrato (“competências social-
○
○
desempenho do professor e o aproveitamento es- mente definidas”, Felouzis, 1997: 19). É preciso
○
○
colar dos alunos. Essa pesquisa deve situar-se num descrever e analisar os comportamentos realmen-
○
plano mais amplo, que tenha em conta, pelo me- te praticados quando se ensina a alunos concre-
○
○
nos, algumas dimensões principais dos processos tos: reencontramos a necessidade de descrever de
○
○
intervenientes. Só então é que, talvez, possamos maneira sistemática a efetiva variedade das prá-
○
responder mais facilmente à segunda pergunta. ticas. Porém não é fácil descrever o professor es-
○
○
pecialista: qual seria a importância relativa dos
○
○
conhecimentos, das competências, da experiên-
○
No que se refere à questão das vias
○
cia, das rotinas (Durand, 1996: 27-32)?
○
reais da eficácia pedagógica: Por último, como medir a eficácia (de um
○
○
três grandes áreas de pesquisa ensino de qualidade)? Além de essa questão abrir
○
○
Seria necessário permitir-se uma visão de con- a segunda área de pesquisa (o que significa ter
○
○
proposto tais modelos. Bru (1991) propõe um ensino é problemática (Durand, 1996: 9). Assim
○
○
no âmbito de uma abordagem sistêmica, conce- métodos da pesquisa. Duru-Bellat e Mingat pro-
○
aprendizagem; e contexto. Gauthier (1997) pro- da preeminência dos desempenhos finais mé-
○
○
põe um modelo “eclético”, fazendo da classe o dios obtidos por alunos com características in-
○
zado, privilegiando duas funções de base do en- dade de igualar os resultados para alunos com
○
○
sino: a gestão da matéria e a gestão da classe. características diferentes (1994: 134-35). Por sua
○
complexidade da profissão de professor (Gauthier, média dos exames comuns em finais de ano,
○
○
1997: 17), preferimos ressaltar que um melhor co- todo o resto permanecendo igual (sexo, idade,
○
teiros de obras”, suscetíveis de nos esclarecer so- a resultados interessantes. Mas a área de pesqui-
○
○
desempenho de um professor
○
pende dos fins e dos objetivos a que nos propo- Gauthier, 1997: 131
○
○
objetivos. Mas será que a qualidade se resume em Em primeiro lugar, o que significa ter suces-
○
○
eficácia? É nisso que consiste a totalidade do pro- so? Não deveríamos falar em fracasso tão cedo
○
○
blema das competências do professor, e do pro- nem tão rapidamente, para não sermos vítimas
○
○
fessor especialista. Essas competências não po- de imagens e de hierarquias sociais polêmicas.
○
136
SIMPÓSIO 9
Desempenho do professor e sucesso escolar do aluno
Toda noção de sucesso ou de fracasso é relativa. tão escolher para explicar as diferenças na eficá-
○
○
Podemos vislumbrar uma trajetória, um lugar cia? Eis todo o problema das variáveis de coman-
○
○
ocupado, um poder adquirido, algumas compe- do e das modalidades de regulagem da ativida-
○
○
tências adquiridas: tudo isso vem a ser assunto de pedagógica. A área é extensa. Durand distin-
○
de apreciação. Não devemos nos deixar sucum- gue cinco níveis de regulagem (ordem; partici-
○
○
bir ao mito da trajetória ideal. Isso porque só pação; trabalho; aprendizagem; desenvolvimen-
○
○
existe sucesso ou fracasso em relação a projetos. to). Teremos de nos indagar acerca da perti-
○
Por último, o fracasso escolar não é uma doen- nência da escolha dos meios e dos objetivos in- 137
○
○
ça, é preciso fazer uma leitura “em positivo” termediários (Durand, 1996: 134).
○
○
(Charlot, 1997) das experiências escolares. Portanto, não é fácil identificar “os mecanis-
○
○
Podemos então tomar como único indica- mos pedagógicos que atuam na eficácia dos pro-
○
dor de sucesso os desempenhos escolares dos fessores” (Felouzis, 1997: 30). Porém surge já um
○
○
alunos? Não seria necessário considerar pelo resultado essencial: essa eficácia se constrói na
○
○
menos três espaços de investigação: a ativida- interação escolar. É esse espaço de interações
○
○
de ou os comportamentos; as aprendizagens; o que deve tornar-se objeto privilegiado de pes-
○
desenvolvimento (Durand, 1996: 83)? Bressoux quisas, mesmo quando essas interações são
○
○
salienta que nós, com freqüência, nos conten- muito difíceis de ser identificadas.
○
○
única de testes padronizados centrados em pro- (Felouzis, 1997: 30), podemos considerar
○
cessos intelectuais (1997: 105). Pois, tal como como comprovada a existência de efeitos-pro-
○
○
escreve Cardinet, não deveríamos nos conten- fessor. Entretanto, isso não significa que pos-
○
○
tar com “desempenhos escolares brutos, exces- samos colocar à disposição dos professores
○
○
cada disciplina e à mercê de seu estudo em aula” ras de agir não são obrigatoriamente eficazes
○
○
(1991: 210). E, em último caso, seria melhor ra- com todos e em todos os contextos. É difícil
○
○
ciocinar em termos de “progresso dos alunos” generalizar. Se, de um lado, é necessário, nes-
○
Área 3: as pesquisas sobre a “causalidade” po dos efeitos das ações que visam ao apren-
○
○
Finalmente, tudo conduz a esta área, pois a pela distância que sempre existirá entre ensi-
○
○
mento escolar de alunos (área 2) exaustivos para organizar essas ações” (a au-
○
○
Seria preciso poder mostrar como, em rigor, sência de um modelo científico de ação), não
○
○
os professores fazem as diferenças; como o en- se pode, justamente, dar a acreditar que os re-
○
sino produz seus efeitos (Gauthier, 1997: 39 e sultados dos trabalhos atuais sobre a eficácia
○
○
105). Ora, os resultados escolares obedecem, nós do ensino são suficientes para fundar práti-
○
○
xo (Durand, 1996: 5). Isso porque, nós já ressal- confiáveis. Se a pesquisa tem produzido re-
○
tamos, não são os comportamentos pedagógi- sultados notáveis (o nosso ponto 2), ainda res-
○
○
cos isolados, mas sim alguns patterns, ou mistu- ta muito para ser compreendido (o nosso pon-
○
○
ras de práticas, que podem produzir seus efeitos to 3) no marco de paradigmas de pesquisa a
○
○
communication. Cousset, Fribourg: Del Val/IRDP, 1991. p.
○
competência, na base de saberes positivos veri- 199-213.
○
○
CHARLOT, B. Du rapport au savoir. Eléments pour une théorie.
ficados, constitui um objetivo legítimo e desejá-
○
Paris: Anthropos, 1997.
○
vel” (Gauthier, 1997: 248).
○
DURAND, M. L’enseignement en milieu scolaire. Paris: PUF,
○
1996.
○
○
DURU-BELLAT, M.; MINGAT, A. La variété du fonctionnement
○
Bibliografia de l’école: identification et analyse des ‘effets-maîtres’. In:
○
○
CRAHAY, M. (Ed.). Evaluation et analyse des
○
AVANZINI, G. L’école, d’hier à demain. Toulouse: Éditions Eres, établissements de formation . Bruxelles: De Boeck
○
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1991. Université, 1994. p. 131-45.
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BRESSOUX, P. Les recherches sur les effets-écoles et les FELOUZIS, G. L’efficacité des enseignants. Paris: PUF, 1997.
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effets-maîtres. Revue Française de Pédagogie, n. 108, p. GAUTHIER, Clermont. L’effet enseignant. In: RUANO-
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91-137, 1994. BORBALAN, J. C. (Ed.). Éduquer et former. Auxerre:
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BRU, M. Une nouvelle approche des conduites d’enseignement: Éditions Sciences Humaines, 2001. p. 201-14.
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○ Bruxelles: De Boeck Université, 1997.
A.F.I.R.S.E., Les nouvelles formes de la recherche en ○
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des conditions d’apprentissage. Toulouse: Éditions SCHÖN, D. A. The reflective practitioner. New York: Jossey
○
○
CARDINET, J. L’apport socio-cognitif à la régulation interactive. . Educating the reflective practitioner. San Fran-
○
○
As funções docentes
○
○
○
e sua formação
○
○
○
○
○
Inep/MEC
○
○
○
○
O esforço empreendido na direção da cação para Todos, que previa elevar a, no míni-
○
○
universalização do ensino básico para a popula- mo, 94% a cobertura da população em idade es-
○
○
tados no final da década. De 1991 a 1999, a taxa Garantida a entrada na escola, o problema
○
de escolarização líquida, que fornece a propor- passa a ser de assegurar as condições de perma-
○
○
ção real de crianças, nessa faixa etária, estudan- nência no sistema, bem como o sucesso esco-
○
○
do no Ensino Fundamental, saltou de 84% para lar. Houve uma evolução bastante positiva nos
○
○
95%. Foi um crescimento extraordinário, dado o indicadores de fluxo, principalmente nas primei-
○
atraso que tivemos na década anterior, com a es- ras séries do Ensino Fundamental. A promoção
○
○
colarização variando apenas de 80% a 84%. Em passou de 60% para 74%, na média do Ensino
○
○
1998, o Brasil conseguiu antecipar e superar a Fundamental, entre os anos de 1991 a 1999. Na
○
○
meta estabelecida pelo Plano Decenal de Edu- 1ª série, a repetência diminuiu de 48% para 39%,
○
○
○
○
○
○
*Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e Secretária de Ensino Superior do MEC.
○
138
SIMPÓSIO 9
Desempenho do professor e sucesso escolar do aluno
no mesmo período, enquanto na 5ª série caiu de zonas, Maranhão, Ceará e Alagoas, que em
○
○
38% para 23%. A taxa de distorção idade/série 1998 tinham menos de 90% de crianças de 7 a
○
○
caiu de 64,1%, em 1991, para 46,6%, em 1998, e 14 anos no Ensino Fundamental, conseguiram
○
superar esse patamar em 1999. Se examinar-
○
41,7% em 2000. A redução continua acentuada
○
nas séries iniciais, tendência que certamente mos as taxas de escolarização de 1994, verifi-
○
○
está associada à iniciativa de muitos sistemas de camos que o Nordeste superou em muito o
○
○
ensino de implantar o sistema de ciclos, elimi- patamar em que se encontrava, que era de 77%
○
nando dessa forma o problema da reprovação. de escolarização líquida. 139
○
○
O melhor fluxo, como a menor pressão Contudo, a universalização do ensino
○
○
demográfica, vem influenciando uma nova precisa avançar verticalmente, na direção do
○
Ensino Médio. Na faixa etária dos 15 aos 17
○
tendência de diminuição das matrículas nas
○
séries de 1ª a 4ª (gráfico 1). Nas séries de 5ª a anos, os jovens que estão matriculados na
○
○
8ª, delineia-se uma fase de estabilidade, evi- escola representam 84,5% do total (taxa de
○
○
denciada pela menor pressão das séries ini- atendimento escolar de 1999). Entretanto, a
○
grande maioria não está efetivamente cur-
○
ciais.
○
sando o Ensino Médio: eles ainda estão ten-
○
○
Gráfico 1 tando completar o Ensino Fundamental.
○
○
Matrículas no Ensino Fundamental Apenas 32,6% dos jovens podem ser compu-
○
21.333 20.939
últimos dados é que os alunos em atraso escolar
○
20.212
○
1998 1999 2000 2001 nível médio cresceu 15%. A Educação de Jovens
○
○
Fonte: Inep/MEC
○
tidos. No plano regional, o Norte e o Nordeste dio regular cresceu apenas 2,7%.
○
○
do país permanecem com taxas inferiores à meta A maior demanda deve voltar-se, assim, para
○
de crianças fora da escola. Segundo os últimos pela universidade. Mesmo assim, as universida-
○
○
cálculos de escolarização, cruzados com as esti- des públicas preenchem todas as suas vagas, no
○
1999,1 os estados de Rondônia, Acre, Maranhão curso, por causa da evasão. As universidades pri-
○
○
e Piauí eram os que ainda mantinham a escola- vadas, por sua vez, sequer conseguem preencher
○
○
rização abaixo dos 92%. todas as suas vagas nas matrículas iniciais, e fi-
○
tarefa da universalização do ensino, os estados Para cada 100 estudantes que ingressaram na
○
○
do Norte e do Nordeste vêm melhorando, ano universidade em 1994, 70 concluíram seus cur-
○
○
a ano, suas posições. Estados como Acre, Ama- sos no ano de 1999. Nas instituições federais, essa
○
○
○
○
○
○
1
As taxas de escolarização e de atendimento para o ano 2000 serão conhecidas apenas quando o IBGE disponibilizar os dados da
○
○
○
va 78%, enquanto nas instituições privadas fi-
○
a educação básica
○
cava em 70%.
○
○
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
○
Gráfico 2
○
cação (LDB – Lei nº 9.394/96), artigo 62, e o De-
○
Concluintes no Ensino Médio – Vagas no creto nº 3.276, de 6 de dezembro de 1999, a for-
○
Ensino Superior – Brasil – 1991-2000
○
mação de docentes para atuar na Educação Bási-
○
○
Concluintes do Ensino Médio 1787 ca será feita em nível superior, em curso de Li-
1536
○
no ano anterior (em mil) cenciatura, de graduação plena, em universida-
○
1330
1164
○
960 des e instituições superiores de educação. A úni-
○
○
749 ca exceção admitida pela LDB para que se formem
639
○
905
○
776
professores que não em Licenciaturas Plenas para
○
634 699
574 o exercício de Magistério na educação básica, é a
○
517
○
Vagas no Ensino Superior (em mil) que se faz em nível médio, na modalidade Nor-
○
○
Fonte: Inep/MEC
○
com a qualidade do ensino. É preciso diminuir a pela Lei nº 5.692/71, artigo 30, como formação
○
evasão e melhorar o desempenho escolar. Com mínima para o exercício do Magistério no ensi-
○
○
relação aos docentes, os desafios são principal- no de 1º grau, da 1ª à 8ª séries – foi extinta em
○
○
mento profissional, tanto em termos das condi- A Licenciatura Plena – a ser ministrada pelos
○
○
nesse sentido tem sido o Fundo de Manutenção setembro de 1999 – pode ser de dois tipos: o cur-
○
○
gastos em atividades de capacitação docente, ção de docentes dos anos finais do Ensino Fun-
○
○
liação na educação básica (Sistema Nacional de verão ter duração mínima de 3.200 horas, com-
○
○
Avaliação da Educação Básica – Saeb; Exame Na- putadas as partes teórica e prática.
○
ficar as principais deficiências na aprendizagem CNE nº 2/97, poderão ser desenvolvidos pro-
○
○
dos alunos. O nível de escolaridade do professor gramas especiais de formação pedagógica (es-
○
○
exerce, aqui, grande influência. O ganho no ren- quemas I e II), destinados aos portadores de
○
medida que se elevar a escolaridade do professor nar nas séries finais do Ensino Fundamental
○
○
2
Ver Pareceres CNE/CES nº 630/97 e CNE/CES nº 431/98, com recomendação para se tornar plena por meio da Resolução CNE/CES nº 2,
○
de 19/5/1999.
○
140
SIMPÓSIO 9
Desempenho do professor e sucesso escolar do aluno
○
Carência de formação
○
A Lei nº 9.424, de 1996, que regulamentou o
○
○
Fundef, estipulou um prazo de cinco anos para Até o ano 2000, o número de professores sem
○
○
que os professores leigos obtivessem a habilita- habilitação ainda se encontrava na casa do um mi-
○
ção necessária ao exercício das atividades docen- lhão. Desses, cerca de 250 mil necessitavam comple-
○
○
tes. Para isso, incentivou a aplicação de recursos tar ao menos a formação mínima do Normal Médio,
○
○
do Fundo para a capacitação mínima dos pro- para se habilitarem ao exercício das funções docen-
○
fessores “leigos”, isto é, sem Magistério ou sem 141
○
tes na escola infantil ou no fundamental de 1ª a 4ª
○
Licenciatura, para atuar nos níveis de ensino série. Entretanto, se observamos os níveis escolares
○
○
apropriados. A LDB foi mais longe ao prever que de 5ª a 8ª série e de Ensino Médio, as necessidades
○
○
até o fim da Década da Educação – dezembro de de capacitação aumentam para, pelo menos, 350 mil
○
2006 – somente serão admitidos professores ha- docentes, que precisarão obter Licenciatura para se
○
○
bilitados em nível superior ou formados por trei- habilitar ao exercício das funções docentes nas esco-
○
○
namento em serviço. las em que já atuam.
○
○
○
Tabela 1
○
○
Funções docentes sem formação mínima (leigos) Brasil – 1996-2000
○
○
○
Nível de formação
○
○
Nível de ensino
○
Fundamental de 1ª a 4 ª série
○
Ensino Médio 46.546 14,2 53.787 12,5 84.072 25,7 104.115 24,2
○
○
○
com pelo menos o Magistério são o Norte e o Oeste são os que apresentam maior carência de
○
○
apresentam mais de 30% de docentes sem Ma- Roraima, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia e
○
○
gistério, atuando no ensino de 1ª a 4ª série. Os Goiás, em cada dez funções docentes, cinco não
○
○
estados de Tocantins, Pará, Rondônia, Amazo- têm Licenciatura, embora pelo menos dois te-
○
○
nas, Piauí e Ceará estão com pelo menos 20% nham algum curso superior. Outros estados,
○
dos docentes de 1ª a 4ª série sem Magistério. como Amazonas, Rio Grande do Norte, Sergipe
○
○
No ensino de 5ª a 8ª série, também o Norte e o e Mato Grosso, apresentam, em cada dez fun-
○
○
Nordeste são carentes de professores com formação ções docentes, quatro sem Licenciatura, com
○
○
superior em Licenciatura. Os estados do Tocantins e pelo menos dois tendo algum curso superior.
○
A formação de professores
○
Norte e do Nordeste ainda apresentam pelo menos ção caiu de 30% para 17%, no conjunto dos cursos
○
○
No Ensino Médio, a situação não é diferen- novas demandas do mercado de trabalho, enquan-
○
to, na área da Educação, a demanda está sendo
○
Superior, destinados à formação de docentes para
○
direcionada para a formação de nível superior. Es- a Educação Infantil e para as primeiras séries do
○
○
tão sendo criados cursos na modalidade Normal Ensino Fundamental.
○
○
○
Tabela 2
○
○
Número de escolas e matrículas no Ensino Médio e na habilitação Magistério
○
○
Brasil – 1998-2000
○
○
Ano Nº de escolas Matrículas
○
○
○
Ensino Médio Magistério % Ensino Médio Magistério %
○
○
1998 17.602 5.261 30 6.968.531 741.625 11
○
○
○
1999 18.603 4.085 22 7.769.199 615.411 8
○
○
2000 19.456 3.228 17 8.192.948 518.775 6
○
○
○
Plena correspondem a 41% dos cursos de co mais de 20%). É bom lembrar que do to-
○
○
graduação do país, segundo dados do Cen- tal de professores que ainda não possuem
○
○
regiões Sul e Centro-Oeste, nesta última Médio, cerca de 40% estão na Região Nor-
○
○
principalmente por influência do Distrito deste, enquanto outros 30% ainda podem
○
○
Federal. Mas o Sudeste continua concen- ser encontrados no Sudeste. A oferta ainda
○
Tabela 3
○
○
Brasil – 1994-1999
○
○
Taxa de Concluintes
○
crescimento 1998
○
○
Os cursos de Pedagogia, por sua vez, apre- concentra grande parte dos estudantes. O
○
○
sentaram, em 1999, 167 mil alunos matricu- Nordeste cresceu 48%, porém manteve a mes-
○
○
lados, sendo 74 mil no Sudeste e 30 mil no ma participação de 18% nas matrículas. Pelo
○
Nordeste. A Região Sudeste cresceu 37%, des- lado dos concluintes, estes foram 29 mil no
○
○
de 1994, abaixo da média do país, mas ainda ano de 1998. O Sudeste formou 15 mil e o Nor-
○
○
142
SIMPÓSIO 9
Desempenho do professor e sucesso escolar do aluno
○
crescimento de docentes com nível superior.
○
lou cerca de 44% do total de estudantes em Na Educação Especial, com um número bem
○
○
Pedagogia, no ano de 1999, enquanto forma- menor de alunos e professores, a proporção
○
va 52%, no ano anterior. O Nordeste, por sua
○
destes com formação superior é bem maior,
○
vez, matriculou 18% dos estudantes, enquan-
○
chegando a 60% nas escolas públicas; as es-
○
to formava 14%. colas particulares fizeram um ajuste, com
○
○
crescimento de 75% dos professores com
○
143
Perfil atual das funções
○
grau superior, atingindo agora uma propor-
○
○
ção de 40%.
docentes segundo a
○
A partir da LDB, iniciou-se a integração
○
formação
○
das creches no sistema educacional brasilei-
○
○
ro. Os censos escolares passaram a incluir to-
○
Os dados preliminares do Censo Escolar
○
de 2001 indicam um total de 2,6 milhões de dos os dados referentes a creches. Os anos de
○
○
funções docentes no país, 3 com um cresci- 1998 e 1999 foram de regularização do cadas-
○
tro de estabelecimentos, docentes e matrícu-
○
mento de 4,2% em relação ao ano anterior e
○
de 21,6% acumulados desde 1996. O ensino las. A partir de 1999, os registros de matrícu-
○
○ las se regularizaram, alcançando em 2001 mais
de jovens e adultos cresceu muito nos últimos ○
○
mento registrado pelas funções docentes, en- ções docentes cresceram 30,5% nas creches e
○
tre todos os níveis de ensino. Desde 1996, as 16% nas pré-escolas, de 1999 a 2001. 4
○
○
matrículas da EJA
○
quanto os docentes Número de funções docentes por nível de ensino e proporção no setor público
○
crescimento de do-
○
Proporção
○
maior qualidade no
○
próprios professores,
○
las 4 e 5).
○
Tanto na Educa-
○
Educação Especial, os Fonte: Inep/MEC, Censos Escolares. Notas: * Dados preliminares. ** O crescimento nas creches só pode ser mensurado
○
○
dados apontam tam- em relação ao ano de 1999. Obs: As funções docentes contabilizam professores que atuam em mais de uma modalidade
○
○
3
O conceito de função docente é utilizado para contabilizar todas as situações de docentes que atuam em mais de uma área de conhecimen-
○
4
Dados preliminares do Censo Escolar de 2001.
○
O crescimento foi Tabela 5
○
○
bem maior entre os pro-
○
Funções docentes com formação superior por nível de ensino
○
fessores com nível supe-
Brasil – 1996-2001
○
rior. O crescimento foi de
○
Funções docentes com formação superior*
○
73% nas creches e de 29%
○
Crescimento
○
nas pré-escolas. Porém os Proporção (%)
Nível de ensino 1996-2001
○
docentes com nível supe-
○
Público Privado Público Privado
○
rior representam peque-
○
1996 2001 1996 2001
○
na proporção no quadro
○
Total 40,0 37,2 45,0 52,2 54,5 59,6
○
de professores que aten-
○
Creche** 65,2 81,8 8,3 11,3 11,6 14,6
dem nas creches. Nos es-
○
Pré-Escola 38,4 93,3 19,2 24,5 16,2 25,0
○
tabelecimentos públicos,
○
Classes de alfabetização - 64,8 112,8 5,0 4,4 10,4 18,5
○
esses professores repre-
○
sentavam 8% em 1996 e Fundamental de 1ª a 4ª série 32,9 71,8 19,5 25,1 26,2 40,8
passaram a 11% em 2001. Fundamental de 5ª a 8ª série ○
○
○
○ 29,1 19,2 72,4 72,6 79,3 84,0
Nos estabelecimentos Ensino Médio 47,2 25,6 86,4 88,5 86,3 89,9
○
○
privados, os docentes Educação Especial 28,0 74,6 48,5 57,3 37,0 41,0
○
Fonte: Inep/MEC, Censos Escolares. Notas: *Dados preliminares. **O crescimento nas creches só pode ser mensurado em relação
○
fessores. ao ano de 1999. Obs.: As funções docentes contabilizam professores que atuam em mais de uma modalidade de ensino e em
○
Tabela 6
○
cas chegam a 40%. No Sul e no Cen- Número de funções docentes com e sem curso específico
○
○
tro-Oeste esse índice está acima dos em Pré-Escola, por dependência administrativa e grau de formação
○
Entretanto, creches e pré-escolas são Sul 22.564 32,1 64,3 11.028 36,9 58,4
○
○
compostas em sua maioria por profes- Centro-Oeste 7.833 32,8 61,2 6.089 26,7 69,3
○
○
completo. Representam mais de 60% do Fonte: Inep/MEC – Seec, Censo Escolar 2001 (resultados preliminares)
○
○
Os docentes no Ensino
○
com o curso Normal Médio. Nas pré-escolas, esse O Ensino Fundamental, de acordo com os
○
○
percentual cai pela metade – cerca de 15% pos- dados preliminares do Censo Escolar de
○
○
suem o nível médio, mas sem Magistério, ou 2001, ocupa 1,6 milhões de funções docen-
○
apresentam apenas o nível fundamental. tes. Nas séries de 1ª a 4ª, cerca de 25% pos-
○
○
144
SIMPÓSIO 9
Desempenho do professor e sucesso escolar do aluno
suem formação em nível superior, enquanto ficação dos docentes é necessária, as escolas
○
○
nas séries de 5ª a 8ª, os docentes com forma- particulares alteraram a proporção de 79%
○
○
ção superior representam 74%. O número de para 84%, no mesmo período, enquanto nas es-
○
funções docentes cresceu 14%, no período de
○
colas públicas o percentual manteve-se próxi-
○
1996 a 2001, enquanto o crescimento dos mo dos 73% (tabela 5).
○
○
professores de nível superior, no mesmo pe- Dentro do que recomenda a lei vigente,
○
○
ríodo, foi de 30%. as funções docentes em exercício nas séries
○
As escolas particulares possuem menor nú- de 1ª a 4ª precisam ter, no mínimo, Magisté- 145
○
○
mero de professores do que as escolas públi- rio completo. Atualmente, quase 90% das
○
○
cas, porém o ajuste foi maior no sentido do au- funções docentes estão enquadradas nesse
○
mento do grau de formação. Nas séries de 1ª a
○
requisito. Se formos considerar apenas os
○
4ª, em que a proporção das funções docentes docentes com formação superior, com Ma-
○
○
com formação superior não é alta, as particu- gistério ou Licenciatura, esse percentual cai-
○
○
lares registraram alteração de 26% para 41%, ria para 24%. Em uma perspectiva mais fle-
○
no período de 1996 a 2001. Nas escolas públi-
○
xível, restam pelo menos 11% de professores
○
cas, a proporção ainda não superou os 25%. que precisam agregar o curso Normal aos
○
○
Nas séries de 5ª a 8ª, em que uma maior quali- seus currículos (tabela 7).
○
○
○
Tabela 7
○
○
○
Brasil 1996-2000
○
○
○
Ensino Fundamental
○
○
Total de docentes 219.517 228.335 776.537 815.079 611.710 749.255 326.827 430.467
○
○
No máximo Fundamental completo 16,1 9,3 15,3 8,1 1,0 0,6 0,3 0,1
○
○
Médio sem Magistério 4,3 4,4 3,3 3,3 6,6 6,1 6,4 6,1
○
○
– Sem Magistério e sem licenciatura 0,3 0,5 0,3 0,4 2,2 2,2 7,5 6,2
○
○
– Com Magistério e sem licenciatura 1,7 3,5 1,5 2,9 3,5 4,7 4,6 6,4
○
○
– Com licenciatura 16,3 19,1 18,5 21,3 68,0 67,2 74,3 75,8
○
○
○
○
Fonte: Inep/MEC – Seec. Obs.: As funções docentes contabilizam professores que atuam em mais de uma modalidade de ensino
○
Nas séries de 5ª a 8ª, em que a determina- dade, mas esse movimento ainda não conse-
○
○
ção legal vai no sentido de que todos os profes- guiu causar impacto na proporção dos docen-
○
○
sores tenham formação superior com Licenci- tes que já possuem Licenciatura completa. Des-
○
atura completa, o percentual de cobertura da se modo, cerca de 25% dos docentes, com for-
○
○
legislação está ainda em 67%. No período 1996- mação média, com ou sem Magistério, preci-
○
○
2000, houve uma tendência para o crescimen- sarão se adequar à legislação, formando-se no
○
○
to dos docentes com Magistério, com ou sem nível superior. Outros 7% precisarão se adequar
○
curso superior. Parece estar havendo um ingres- à legislação apenas acrescentando o curso de
○
○
○
completa. Atualmente, cerca de 76% das
○
○
funções docentes estão enquadradas nesse
O Ensino Médio incorporou 3,5 milhões
○
requisito. Restam pelo menos 12% de pro-
○
de novas matrículas, desde 1994. Em sete
○
fessores que precisam agregar à sua forma-
○
anos, cresceu o equivalente ao registrado nos
○
ção o curso de Licenciatura. Outros 11% de
○
14 anos anteriores, ou seja, 70% de cresci-
○
docentes ainda não possuem graduação su-
mento. Também o número de estudantes que
○
perior e, portanto, precisarão se adequar à
○
concluem esse nível de ensino cresceu. De
○
legislação (tabela 7). Professores com Ma-
○
1991 a 1994, o número de concluintes havia
○
gistério estão ingressando na universidade
aumentado 40%, passando de 660 mil para
○
e adquirindo formação superior. A propor-
○
917 mil concluintes. A partir de 1994, o siste-
○
ção dos docentes com nível médio e Magis-
○
ma promoveu um melhor fluxo escolar, al-
○
tério vem decrescendo, enquanto aumenta
○
cançando em 2000 um número duas vezes
○
aqueles com Magistério e formação superi-
maior de concluintes (1.850 mil).
○
or. Entretanto, ainda lhes falta o curso de Li-
○
O Ensino Médio apresenta perto de 450 ○
cenciatura.
○
res de nível superior (41%). No ano de 2000, que se acentuou nos últimos cinco anos, vem
○
○
de cada 100 novas funções docentes, 95 fo- provocando um aumento na demanda por va-
○
○
ram preenchidas com professores de nível gas no Ensino Superior. Em 1990, havia cerca
○
superior, sendo que 81 com Licenciatura. de 640 mil alunos concluintes no nível médio e
○
○
Enquanto isso, outros 5% continuaram sen- aproximadamente 520 mil vagas no Ensino Su-
○
○
do de docentes com formação média, sem perior, o que estabelecia uma relação de prati-
○
○
Magistério. As escolas ainda estão absorven- camente 1,2 alunos por vaga. Em 1999, mais de
○
do professores com nível médio, principal- 1,7 milhão de estudantes concluiu o Ensino Mé-
○
○
mente em estados do Nordeste e do Centro- dio para cerca de 900 mil vagas oferecidas para
○
○
Federação
○
enquanto nas escolas públi- BRASIL 49.176 11,4 13% 380.679 88,4 35%
○
○
cas o percentual passou de Norte 3.722 16,2 10% 19.268 83,8 45%
○
○
superior com Licenciatura Fonte: Inep/MEC – Seec. Censo Escolar 2001 (resultados preliminares)
○
○
146
SIMPÓSIO 9
Desempenho do professor e sucesso escolar do aluno
○
Nesse universo, a proporção dos profes-
○
Ensino Superior incorporou um milhão de sores com pós-graduação, em cursos de
○
○
estudantes nos cursos de graduação. De 1997 Mestrado ou Doutorado, cresceu substanci-
○
○
a 2000 – o período de maior crescimento – a almente. Em 1999, 50% das funções docen-
○
taxa média de expansão foi de 11,5% ao ano.
○
tes já eram ocupadas por professores com
○
Esse percentual é praticamente o mesmo grau de mestre ou de doutor, sendo que os
○
○
atingido pelo sistema em toda a década de professores com título de doutor represen-
○
1980 (11,8%). 147
○
tavam 20% do total (tabela 9). Nas institui-
○
A rápida expansão da matrícula repercu- ções públicas federais e estaduais, a propor-
○
○
te, obviamente, no aumento do número de ção de professores titulados é bem mais alta.
○
○
professores no Ensino Superior, que também De cada dez funções docentes, pelo menos
○
vem se dando de forma acelerada. Em 1994,
○
seis são de mestres ou doutores e, entre es-
○
contavam-se 141 mil professores em exercí- tes, pelo menos três são doutores. Nas insti-
○
○
cio em todas as instituições. Em 1999, esse tuições privadas, de cada dez funções docen-
○
○
número passou para 174 mil. O crescimento tes, pelo menos quatro são de mestres ou
○
médio no período 1994-1999 foi de 4,2% ao
○
doutores, entre os quais pelo menos um
○
ano, sendo que de 1998 a 1999 o crescimen- apresenta titulação no Doutorado.
○
○
Tabela 9
○
○
○
○
Brasil – 1994-1999
○
○
○
Fonte: Inep/MEC
○
○
○
○
duação apresentou uma grande queda, de lização mostrou uma pequena elevação, de
○
Esses professores mantêm o mesmo percen- tendo-se nessa proporção em 1999. Nas insti-
○
○
tual de 15% tanto nas instituições públicas tuições públicas, os docentes com especiali-
○
○
A categoria dos professores com especia- culares somam 45%. A proporção de profes-
○
○
docente, referenciados em padrões de
○
sores com mestrado cresceu de 21% para 29%
○
e a de professores com doutorado, de 13% qualidade.
○
○
para 20% (gráfico 3). • Novas tecnologias de informação nas es-
○
○
colas e como suporte a programas de edu-
○
cação a distância, inclusive voltados para
○
Gráfico 3
○
a formação continuada e para a capacita-
○
Docentes no Ensino Superior – Proporção ção de professores.
○
○
segundo o grau de formação – Brasil 1990-1999
○
• Elaboração e disseminação de diretrizes
○
e parâmetros curr iculares nacionais,
○
40,0
○
abrangendo desde a Educação Infantil até
○
35,0
o Ensino Médio, passando pelo Ensino
○
○
30,0 Fundamental, pela Educação Indígena,
○
○
25,0 pela Educação de Jovens e Adultos e pela
○
20,0 formação de professores.
○
○
15,0 ○
○
• Implantação de sistemas nacionais de ava-
10,0 liação na educação básica: o Saeb e o Enem.
○
Mestrado Doutorado
○
A qualidade do ensino
○
○
○
agenda das políticas de educação básica. A A lei que instituiu o Fundef (Lei nº 9.424,
○
○
correção do fluxo escolar foi uma das medi- de 24/12/1996) assegura a utilização de, pelo
○
público.
○
estudantes em atraso escolar, que era de 60% Inep analisaram dados sobre os níveis salariais
○
○
em 1994, baixou para 42% no ano de 2000. dos docentes e chegaram a conclusões anima-
○
sional.
○
5
Semeghini, Ulysses. Fundef : uma revolução silenciosa. Departamento de Acompanhamento do Fundef/MEC.
○
148
SIMPÓSIO 9
Desempenho do professor e sucesso escolar do aluno
○
Os reajustes foram maiores nas redes munici-
○
pais em todas as regiões, o que é ainda mais sig- ção média total na região, que correspondia
○
○
nificativo, levando-se em conta que foi nessas a 49% da média nacional em 1997, ascende-
○
redes que aumentou substancialmente o núme-
○
ra a 61% em 2000.
○
ro de docentes. Entretanto, mesmo as
○
○
redes estaduais reajustaram seus sa-
lários em níveis superiores ao da in- Tabela 10
○
○
○
flação no período. Os maiores índices Remuneração média, em reais, dos professores com licenciatu- 149
○
ra do Ensino Fundamental – 40h semanais 1997/2000
○
foram concedidos aos profissionais
○
dos municípios e regiões mais pobres, Taxa de
○
Dez./1997 Jun./2000
○
com o que reduziu-se a distância en- crescimento
○
tre seus vencimentos e a média das
○
Municipal 1.079 1.299 20%
○
demais regiões. No Norte e no Nor-
○
BRASIL Estadual 965 1.266 31%
○
deste, em que pese transferirem re-
○
cursos aos municípios, os estados Total 1.005 1.278 27%
○
○
concederam aumentos médios em Municipal 821 985 20%
○
○
suas redes bem maiores do que os es-
Norte Estadual 780 968 24%
○
tabelecidos no Sul, no Sudeste e no
○
Centro-Oeste.
Total
○
○
778 973 25%
Municipal 626 824 32%
○
○
ção média dos professores das redes Total 560 763 36%
○
○
sores com nível médio completo na Fonte: DAF/MEC, Pesquisa Fipe/USP, 2000
○
○
com Licenciatura Plena passaram de R$1.005,00 des estaduais e municipais, verificou-se que, no
○
○
para R$1.278,00, no mesmo período e para idên- período, houve aumento médio de 33,3% nas
○
Quando se analisaram os dados referen- foi um dos reflexos diretos da redistribuição dos
○
○
tes às várias regiões do país, constatou-se recursos que beneficiou intensamente os muni-
○
que o maior percentual de aumento da remu- cípios, justamente os que dispunham de meno-
○
○
neração ocorreu no Nordeste, onde a eleva- res possibilidades para arcar com essas eleva-
○
○
ção média foi de 59,7%, sendo de cerca de ções, antes da criação do Fundef.6
○
○
54% para os professores com modalidade No tocante aos professores com Licenciatu-
○
Normal e de 36% para os docentes com Li- ra Plena, as redes sediadas na Região Sudeste
○
○
○
○
○
○
6
Segundo informa o estudo, a inflação no mesmo período, medida pelo INPC/IBGE, foi da ordem de 12%.
○
○
concederam, no período de dezembro de 1997 maior da eqüidade nos salários dos professores
○
a junho de 2000, uma elevação salarial média no país, que é um dos objetivos declaradamente
○
○
de cerca de 33%. No Nordeste, os docentes com almejados na criação do Fundo.
○
○
essa mesma formação pertencentes às
○
redes estaduais foram os que obtiveram Tabela 11
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os maiores aumentos, alcançando 38% Salário médio, em reais, dos professores
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em média. Já dentre as redes munici- do Ensino Fundamental, em escolas públicas – 40h semanais
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Brasil –1996-1999
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pais, as maiores elevações salariais nes-
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sa categoria aconteceram na Região Taxa de crescimento
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1996 1997 1998 1999
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Centro-Oeste, atingindo 34%, e no Nor- 1996-1999
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deste, 32%. BRASIL 557 585 626 670 20%
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Outro estudo 7 analisou dados
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Norte 510 482 516 593 16%
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extraídos das Pesquisas Nacionais por
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Nordeste 345 354 423 451 31%
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Amostra de Domicílio (PNAD), realiza-
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Centro-Oeste 559 551
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628 672 20%
das pelo Instituto Brasileiro de Geogra- ○
fia e Estatística (IBGE). Chegou a con- Sudeste 709 778 845 893 26%
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clusões que indicam melhorias salari- Sul 604 665 656 749 24%
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Fonte: Estimativas Inep/MEC–Seec a partir de dados IBGE/PNAD 1996, 1997, 1998 e 1999.
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mento dos salários médios dos professores no Fundef teve impacto positivo sobre a forma-
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país com a implantação do Fundef e a diminui- ção dos professores. Entre 1996 e 2000, o nú-
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rogênea.[...]
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1ª a 4ª série.
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rio na Região Nordeste (19,5%), bem como au- séries iniciais do Ensino Fundamental, entre
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mentos variáveis nas demais regiões, com exce- 1996 e 2000, foi de apenas 5%, acompanhando a
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ção do Sul. Nos dois anos anteriores ao Fundef, redução da demanda nessas séries. Assim, foi
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a relação entre o menor e o maior salário médio possível que o investimento na melhoria da for-
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– havia aumentado (chegando a 2,2 vezes em to mais evidente nas estatísticas. Já nas séries
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1997), ocorrendo o inverso nos anos posteriores finais, as funções docentes precisaram crescer
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(caindo a relação para 1,98 em 1999). 22%, o que certamente exigiu a incorporação de
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Nos anos de 1998 e 1999, observa-se a ocor- professores sem a formação mínima recomen-
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rência de ganhos positivos em todas as regiões, dada, uma vez que a oferta de profissionais com
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(27% no Nordeste; 23% no Norte; 22% no Cen- demanda, principalmente nas regiões e cidades
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Coelho, Ricardo. O Fundef e a nova orientação das políticas educacionais nos anos 90: princípios e resultados. Inep/Gabinete
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da Presidência.
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