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Educação a distância na internet: abordagens e contribuições

dos ambientes digitais de aprendizagem

Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Resumo

Os avanços e a disseminação do uso das tecnologias de infor-


mação e comunicação (TIC) descortinam novas perspectivas para
a educação a distância com suporte em ambientes digitais de
aprendizagem acessados via internet. Considerando-se que a
distância geográfica e o uso de múltiplas mídias são caracterís-
ticas inerentes à educação a distância, mas não suficientes para
definirem a concepção educacional, discute-se a educação a
distância (EaD) não como uma solução paliativa para atender
alunos situados distantes geograficamente das instituições edu-
cacionais nem apenas como a simples transposição de conteú-
dos e métodos de ensino presencial para outros meios e com
suporte em distintas tecnologias. Os programas de EaD podem
ter o nível de diálogo priorizado ou não segundo a concepção
epistemológica, tecnologias de suporte e respectiva abordagem
pedagógica. Este artigo pretende discutir as abordagens usuais
da educação a distância, destacando o uso das TIC para o de-
senvolvimento de um processo educacional interativo que pro-
picia a produção de conhecimento individual e grupal em pro-
cessos colaborativos favorecidos pelo uso de ambientes digitais
e interativos de aprendizagem, os quais permitem romper com
as distâncias espaço-temporais e viabilizam a recursividade, múl-
tiplas interferências, conexões e trajetórias, não se restringindo
à disseminação de informações e tarefas inteiramente definidas
a priori.

Palavras-chave

Educação a distância  Tecnologias de informação e comunicação


 Interação.

Correspondência:
Maria Elizabeth B. de Almeida
Rua dos Franceses, 498 apto. 31F
01329-010 - São Paulo - SP
e-mail: bbalmeida@uol.com.br

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003 327
Distance learning on the internet: approaches and
contributions from digital learning environments
Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Abstract

The advances and dissemination of the use of information and


communication technology (ICT) open up new perspectives for
distance learning based on digital learning environments accessed
through the Internet. Considering that geographical distance and
the use of new media, although inherent features of distance
learning (DL), do not suffice to define this educational conception,
DL is here discussed neither as a makeshift solution to cater for
students geographically isolated from educational institutions, nor
just as a simple transposition of contents and methods of presence
teaching to other media supported by various technologies. DL
programs can have their level of dialogue prioritized or not
according to the epistemological conception, support technologies
and pedagogical approach. This article intends to discuss the usual
approaches to DL, highlighting the use of ICT in the development
of an interactive education process that promotes the production
of individual and group knowledge in collaborative processes
favored by the use of digital and interactive learning environments,
which allow to break from time and space distances and make
feasible recursiveness, multiple interferences, connections and
trajectories, not restricting itself to the dissemination of information
and tasks entirely defined a priori.

Keywords:

Distance learning  Information and communication technology


 Interaction.

Contact:
Maria Elizabeth B. de Almeida
Rua dos Franceses, 498 apto. 31F
01329-010 - São Paulo - SP
e-mail: bbalmeida@uol.com.br

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A educação a distância — EaD, como bientes virtuais e interativos de aprendizagem
modalidade educacional alternativa para trans- e a produção de conhecimento individual e
mitir informações e instruções aos alunos por grupal nesses ambientes.
meio do correio e receber destes as respostas
às lições propostas, tornou a educação conven- Abordagens da educação a
cional acessível às pessoas residentes em áre- distância
as isoladas ou àqueles que não tinham condi-
ções de cursar o ensino regular no período Conforme Nunes (1993-1994), é co-
apropriado. A associação de tecnologias tradi- mum conceituar a educação a distância a par-
cionais de comunicação como o rádio e a te- tir de referências da educação convencional de-
levisão como meio de emissão rápida de infor- senvolvida com a presença física de professo-
mações e os materiais impressos enviados via res e alunos em um mesmo espaço segundo
correios trouxeram um novo impulso à EaD, determinada abordagem educacional. Keegan
favorecendo a disseminação e a democratização (1991) analisa os conceitos atribuídos à EaD
do acesso à educação em diferentes níveis, por autores que estudam essa modalidade edu-
permitindo atender grande massa de alunos. cacional sob ângulos diversos, evidenciando
Porém imputou à EaD a reputação de educação que alguns se embasam nas características
de baixo custo e de segunda classe. comunicacionais, outros na organização dos
A integração entre a tecnologia digital cursos, e há ainda aqueles que analisam a se-
com os recursos da telecomunicação, que ori- paração física entre alunos e professores ou o
ginou a internet, evidenciou possibilidades de tipo de suporte utilizado.
ampliar o acesso à educação, embora esse uso A utilização de determinada tecnologia
per si não implique práticas mais inovadoras e como suporte à EaD “não constitui em si uma
não represente mudanças nas concepções de revolução metodológica, mas reconfigura o
conhecimento, ensino e aprendizagem ou nos campo do possível” (Peraya, 2002, p. 49). As-
papéis do aluno e do professor. No entanto, o sim, pode-se usar uma tecnologia tanto na
fato de mudar o meio em que a educação e a tentativa de simular a educação presencial com
comunicação entre alunos e professores se rea- o uso de uma nova mídia como para criar novas
lizam traz mudanças ao ensino e à aprendiza- possibilidades de aprendizagem por meio da
gem que precisam ser compreendidas ao tem- exploração das características inerentes às
po em que se analisam as potencialidades e tecnologias empregadas.
limitações das tecnologias e linguagens empre- A integração de meios de comunicação
gadas para a mediação pedagógica e a apren- de massa tradicionais – rádio e televisão –
dizagem dos alunos. associada à distribuição de materiais impressos
O presente artigo constitui uma elabo- pelo correio provocou a expansão da educação
ração teórica a respeito dos estudos desenvol- a distância a partir de centros de ensino e pro-
vidos no Programa de Pós-graduação em Edu- dução de cursos, os quais emitem as informa-
cação: Currículo, da PUC/SP, explicitando as ções de maneira uniforme para todos os alunos,
abordagens usuais da educação a distância, as que recebem os materiais impressos com con-
contribuições do uso das TIC e distintas lingua- teúdos e tarefas propostas, estudam os concei-
gens de comunicação e representação do pen- tos recebidos, realizam os exercícios e os reme-
samento no processo educacional, bem como o tem aos órgãos responsáveis pelo curso para
potencial de interatividade das TIC (Silva, 2000) avaliação e emissão de novos módulos de con-
para concretizar a interação entre pessoas (alu- teúdo. Essa abordagem da EaD apresenta altos
no–aluno e professor–aluno), objetos de apren- índices de desistência, mas encontra-se disse-
dizagem e recursos hipermediáticos dos am- minada em todas as partes do mundo, devido

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à sua potencialidade de atender a crescente comunicação bidirecional entre professor e alu-
parcela da população que demanda pela forma- nos. O estar junto virtual, também denominado
ção (inicial ou continuada) a fim de adquirir aprendizagem assistida por computador (AAC),
condições de competir no mercado de trabalho. explora a potencialidade interativa das TIC pro-
Nessa abordagem de educação a dis- piciada pela comunicação multidimensional, que
tância, conta-se com a presença do professor aproxima os emissores dos receptores dos cur-
para elaborar os materiais instrucionais e plane- sos, permitindo criar condições de aprendizagem
jar as estratégias de ensino e, na maioria das e colaboração. Porém, é preciso compreender
situações, com um tutor encarregado de res- que não basta colocar os alunos em ambientes
ponder as dúvidas dos alunos. Quando o pro- digitais para que ocorram interações significativas
fessor não se envolve nas interações com os em torno de temáticas coerentes com as inten-
alunos, o que é muito freqüente, cabe ao tutor ções da atividades em realização, nem tampouco
fazê-lo. Porém, caso esse tutor não compreenda pode-se admitir que o acesso a hipertextos e re-
a concepção do curso ou não tenha sido de- cursos multimediáticos dê conta da complexida-
vidamente preparado para orientar o aluno, de dos processos educacionais.
corre-se o risco de um atendimento inadequa- Utilizar as TIC como suporte à EaD ape-
do que pode levar o aluno a abandonar a úni- nas para pôr o aluno diante de informações,
ca possibilidade de interação com o tutor, pas- problemas e objetos de conhecimento pode não
sando a trabalhar sozinho sem ter com quem ser suficiente para envolvê-lo e despertar nele
dialogar a respeito de suas dificuldades ou ela- tal motivação pela aprendizagem levando-o a
borações. criar procedimentos pessoais que lhe permitam
O advento das tecnologias de informa- organizar o próprio tempo para estudos e par-
ção e comunicação (TIC) reavivou as práticas ticipação das atividades, independente do horá-
de EaD devido à flexibilidade do tempo, que- rio ou local em que esteja. Conforme Almeida
bra de barreiras espaciais, emissão e recebimen- (2000, p. 79) é preciso criar um ambiente que
to instantâneo de materiais, o que permite rea- favoreça a aprendizagem significativa ao aluno,
lizar tanto as tradicionais formas mecanicistas “desperte a disposição para aprender (Ausubel
de transmitir conteúdos, agora digitalizados e apud Pozo, 1998), disponibilize as informações
hipermediáticos, como explorar o potencial de pertinentes de maneira organizada e, no mo-
interatividade das TIC e desenvolver atividades mento apropriado, promova a interiorização de
à distancia com base na interação e na produ- conceitos construídos”.
ção de conhecimento. Inserir determinada tecnologia na EaD
Conforme Prado e Valente (2002, p. 29) não constitui em si uma revolução metodológica,
as abordagens de EaD por meio das TIC podem mas reconfigura o campo do possível.
ser de três tipos: broadcast, virtualização da sala A leitura de um texto não linear (hiper-
de aula presencial ou estar junto virtual. Na texto) na tela do computador está baseada em
abordagem denominada broadcast, a tecnologia indexações, conexões entre idéias e conceitos
computacional é empregada para “entregar a articulados por meio de links (nós e ligações)
informação ao aluno” da mesma forma que que conectam informações representadas em di-
ocorre com o uso das tecnologias tradicionais ferentes linguagens e formas tais como palavras,
de comunicação como o rádio e a televisão. páginas, imagens, animações, gráficos, sons, clips
Quando os recursos das redes telemáticas são de vídeo, etc. Dessa forma, ao clicar sobre uma
utilizados da mesma forma que a sala de aula palavra, imagem ou frase definida como um nó
presencial, acontece a virtualização da sala de de um hipertexto, encontra-se uma nova situa-
aula, que procura transferir para o meio virtual ção, evento ou outros textos relacionados. Por-
o paradigma do espaço–tempo da aula e da tanto, cada nó pode ser ponto de partida ou de

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chegada, originar outras redes e conexões, sem nhar o aluno, mas não entra no jogo de corpo
que exista um nó fundamental. a corpo nem tem o papel de controlar seu de-
A representação de informações em sempenho. Caso contrário, criará a dependên-
hipertextos com o uso de distintas mídias e lin- cia do aluno em relação às suas considerações
guagens permite romper com as seqüências es- e perpetuará a hierarquia das relações aluno–
táticas e lineares de caminho único, com início, professor do ensino instrucional, mais sofistica-
meio e fim fixados previamente. O hipertexto do nos ambientes digitais de aprendizagem,
disponibiliza um leque de possibilidades infor- perpetuando uma abordagem de ensino que em
macionais que permitem ao leitor interligar as situações tradicionais de sala de aula já se mos-
informações segundo seus interesses e necessi- traram inadequadas e ineficientes.
dades, navegando e construindo suas próprias
seqüências e rotas. Ao saltar entre as informa- Ambientes digitais de
ções e estabelecer suas próprias ligações e asso- aprendizagem
ciações, o leitor interage com o hipertexto e
pode assumir um papel mais ativo do que na Ambientes digitais de aprendizagem são
leitura de um texto do espaço linear do mate- sistemas computacionais disponíveis na internet,
rial impresso. destinados ao suporte de atividades mediadas
Apesar das possibilidades do aprendiz pelas tecnologias de informação e comunicação.
desenvolver a leitura e a escrita com o uso de Permitem integrar múltiplas mídias, linguagens e
hipertextos, escolhendo entre um leque de li- recursos, apresentar informações de maneira
gações preestabelecidas ou criando novas liga- organizada, desenvolver interações entre pessoas
ções e percursos não previstos pelo autor do e objetos de conhecimento, elaborar e socializar
hipertexto (Lévy, 1999), a exploração de hiper- produções tendo em vista atingir determinados
textos não dá conta da complexidade dos pro- objetivos. As atividades se desenvolvem no tem-
cessos educacionais, cujas atividades se desen- po, ritmo de trabalho e espaço em que cada
volvem com o uso desses materiais de suporte participante se localiza, de acordo com uma
e, sobretudo, com a interação entre os alunos intencionalidade explícita e um planejamento
e entre estes e os formadores, que na EaD, prévio denominado design educacional2 (Cam-
pode ser o professor ou o tutor.1 pos; Rocha, 1998; Paas, 2002), o qual constitui
A EaD é uma modalidade educacional a espinha dorsal das atividades a realizar, sendo
cujo desenvolvimento relaciona-se com a admi- revisto e reelaborado continuamente no anda-
nistração do tempo pelo aluno, o desenvolvi- mento da atividade.
mento da autonomia para realizar as atividades Os recursos dos ambientes digitais de
indicadas no momento em que considere ade- aprendizagem são basicamente os mesmos exis-
quado, desde que respeitadas as limitações de tentes na internet (correio, fórum, bate-papo,
tempo impostas pelo andamento das atividades conferência, banco de recursos, etc.), com a
do curso, o diálogo com os pares para a troca vantagem de propiciar a gestão da informação
de informações e o desenvolvimento de produ- segundo critérios preestabelecidos de organiza-
ções em colaboração. A par disso, o “estar jun- ção definidos de acordo com as características
to virtual” indica o papel do professor como
orientador do aluno que acompanha seu desen-
volvimento no curso, provoca-o para fazê-lo 1. O uso da denominação tutor pode escamotear a presença de um pro-
fissional responsável pelas interações com os alunos, com qualificação
refletir, compreender os equívocos e depurar inferior às exigidas do professor.
suas produções, mas não indica plantão integral 2. Optei pelo uso do termo design educacional adotado por diversos autores
por considerá-lo mais adequado e amplo porque abarca distintas concep-
do professor no curso. O professor se faz pre- ções de ensino e aprendizagem. Outros autores utilizem a denominação
sente em determinados momentos para acompa- design instrucional, o qual traz subjacente a concepção de treinamento.

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de cada software. Possuem bancos de informa- xibilidade do tempo e na localização do alu-
ções representadas em diferentes mídias (textos, no em qualquer espaço.
imagens, vídeos, hipertextos), e interligadas Educação on-line é uma modalidade de
com conexões constituídas de links internos ou educação a distância realizada via internet, cuja
externos ao sistema. comunicação ocorre de forma sincrônicas ou
O gerenciamento desses ambientes diz assincrônicas. Tanto pode utilizar a internet
respeito a diferentes aspectos, destacando-se para distribuir rapidamente as informações
a gestão das estratégias de comunicação e como pode fazer uso da interatividade propici-
mobilização dos participantes, a gestão da ada pela internet para concretizar a interação
participação dos alunos por meio do registro entre as pessoas, cuja comunicação pode se
das produções, interações e caminhos percor- dar de acordo com distintas modalidades co-
ridos, a gestão do apoio e orientação dos for- municativas, a saber:
madores aos alunos e a gestão da avaliação.
Os ambientes digitais de aprendizagem • comunicação um a um, ou dito de outra
podem ser empregados como suporte para sis- forma, comunicação entre uma e outra pes-
temas de educação a distância realizados exclu- soa, como é o caso da comunicação via e-mail,
sivamente on-line , para apoio às atividades que pode ter uma mensagem enviada para
presenciais de sala de aula, permitindo expan- muitas pessoas desde que exista uma lista
dir as interações da aula para além do espaço– específica para tal fim, mas sua concepção é
tempo do encontro face a face ou para supor- a mesma da correspondência tradicional, por-
te a atividades de formação semipresencial nas tanto, existe uma pessoa que remete a infor-
quais o ambiente digital poderá ser utilizado mação e outra que a recebe;
tanto nas ações presenciais como nas ativida- • comunicação de um para muitos, ou seja,
des à distância. de uma pessoa para muitas pessoas, como
A fim de melhor compreender as diversas ocorre no uso de fóruns de discussão, nos
metodologias com as quais se desenvolve a edu- quais existe um mediador e todos que têm
cação a distância, com suporte em ambientes di- acesso ao fórum, enxergam as intervenções e
gitais de aprendizagem, é importante especificar o fazem suas intervenções;
significado de alguns termos freqüentemente em- • comunicação de muitas pessoas para mui-
pregados como equivalentes, mas que possuem tas pessoas, ou comunicação estelar, que
especificidades relacionadas com as formas como pode ocorrer na construção colaborativa de
esses ambientes são incorporados ao processo um site ou na criação de um grupo virtual,
educacional, quer se realizem nas modalidades como é o caso das comunidades colabo-
tradicionais do ensino formal, quer sejam ativida- rativas em que todos participam da criação e
des livres ou relacionadas a programas de forma- desenvolvimento da própria comunidade e
ção continuada. respectivas produções.
Educação on-line, educação a distân-
cia e e-Learning são termos usuais da área, O e-Learning é uma modalidade de
porém não são congruentes entre si. A educa- educação a distância com suporte na internet
ção a distância pode se realizar pelo uso de que se desenvolveu a partir de necessidades de
diferentes meios (correspondência postal ou empresas relacionadas com o treinamento de
eletrônica, rádio, televisão, telefone, fax, com- seus funcionários, cujas práticas estão cen-
putador, internet, etc.), técnicas que possibi- tradas na seleção, organização e disponi-
litem a comunicação e abordagens educacio- bilização de recursos didáticos hipermediá-
nais; baseia-se tanto na noção de distância ticos. Porém, devido ao baixo aproveitamento
física entre o aluno e o professor como na fle- do potencial de interatividade das TIC na cria-

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ção de condições que concretizem a interação Em um mesmo curso à distância, con-
entre as pessoas, a troca de experiências e forme as características da atividade, pode existir
informações, a resolução de problemas, a aná- alternância entre focos, sendo possível lançar
lise colaborativa de cenários e os estudos de mão de diferentes meios e recursos, tais como
casos específicos, profissionais envolvidos com hipertextos veiculados em CD-Rom, distribuição
o e-Learning vêm denunciando a falta de de material impresso via correios, vídeos,
interação entre as pessoas como fator de teleconferências, etc. Porém, sempre há um foco
desmotivação, de altos índices de desistência que se sobressai entre os demais e uma concep-
e baixa produtividade. ção educacional subjacente. Autores que se de-
Assim, o e-Learning originado no treina- dicam a estudar EaD, principalmente no setor
mento corporativo segundo a perspectiva de trei- corporativo, indicam o blended learning4 (Da
namento começa a incorporar práticas voltadas Nova, 2003)5 como uma tendência potencial da
ao desenvolvimento de competências por meio da EaD, apontando para a capacidade de um mes-
interação e colaboração entre os aprendizes.3 mo sistema integrar diferentes tecnologias e
Considerado no momento a solução para superar metodologias de aprendizagem com o intuito de
as dificuldades de tempo, deslocamento e espa- atender necessidades e possibilidades das orga-
ço físico que comporte muitas pessoas reunidas, nizações, considerar as condições de aprendiza-
o e-Learning está sendo apontado como a ten- gem dos aprendizes visando potencializar a
dência atual de treinamento, aprendizagem e aprendizagem e o alcance dos objetivos. Tam-
formação continuada no setor empresarial. bém denominado e-Learning híbrido, pode en-
Na EaD em meio digital, pode-se obser- globar auto-formação assincrônicas, interações
var que existe um foco central em determinado sincrônicas em ambientes virtuais, encontros ou
aspecto, diretamente relacionado com a aborda- aulas e conferências presenciais, outras dinâmi-
gem educacional implícita, o qual pode ser: cas usuais de aprendizagem e diversos meios de
suporte à formação, tanto digitais como outros
• O material instrucional disponibilizado, cuja mais convencionais.
abordagem está centrada na informação fo- A distância geográfica e o uso de múl-
rnecida por um tutorial ou livro eletrônico tiplas mídias são características inerentes à edu-
hipermediático. Essa abordagem se assemelha cação a distância, mas não são suficientes para
à auto-instrução e distribuição de materiais, definirem a concepção educacional. A par dis-
chegando a dispensar a figura do professor. so, a ótica presente na regulamentação do artigo
• O professor, considerado o centro do pro- 80 da LDB, do Decreto nº 2.494 de 10/02/98, in-
cesso educacional, o que indica abordagem dica como característica da educação a distância
centrada na instrução fornecida pelo profes- a auto-aprendizagem mediada por recursos didá-
sor, que recebe distintas denominações de ticos, sem salientar o papel do aluno e do profes-
acordo com a proposta do curso. sor, bem como as respectivas interações e in-
• O aluno, que aprende por si mesmo, em tencionalidades implícitas em todo ato pedagó-
contato com os objetos disponibilizados no gico voltado ao desenvolvimento de competên-
ambiente, realizando as atividades propostas cias, habilidades e atitudes.
a seu tempo e de seu espaço. A noção de proximidade é relativa à abor-
• As relações que podem se estabelecer entre dagem educacional adotada, a qual subjaz a todo
todos os participantes evidenciando um pro-
cesso educacional colaborativo no qual todos 3. A esse respeito, consultar Lucena (2003).
se comunicam com todos e podem produzir 4. O termo blended em Inglês significa mistura, ou seja, uma combina-
ção com o objetivo de atingir melhores resultados.
conhecimento, como ocorre nas comunidades 5. Disponível em: <http://morpheus.led.ufsc.br:18080/portal/
virtuais colaborativas. revista_materias.jsp?id_secao=6&id_materia=2971>

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ato educativo, presencial ou à distância. Além disso, hipertextuais, cabendo ao aprendiz navegar
a educação presencial também pode fazer uso de pelos materiais, realizar as atividades propostas
recursos hipermediaticos. A amplitude da distância e dar as respostas, muitas vezes isolado, sem
é dada pela concepção epistemológica e respecti- contato com o formador ou com os demais
va abordagem pedagógica, a qual separa ou apro- participantes do programa. Nesse caso, o exer-
xima professor e alunos. Existe um conjunto de cício da autonomia pelo aprendiz incita-lhe a
aspectos indicadores da coerência com a concep- tomada de decisão sobre os caminhos a seguir
ção epistemológica que interferem na distância e na exploração dos conteúdos apresentados e a
direção comunicacional criada entre professor e disciplina nos horários de estudos. Os recursos
alunos, os quais se fazem presente tanto na edu- das TIC podem ser empregados para controlar os
cação presencial como na educação a distância. A caminhos percorridos pelo aprendiz, automatizar
distância, que pode afastar ou aproximar as pes- o fornecimento de respostas às suas atividades
soas, se refere à mediação pedagógica, sendo de- e o feedback em relação ao seu desempenho.
signada por Moore como “distância transacional”, Participar de um ambiente digital se
cuja amplitude pode ser medida pelo nível do aproxima do estar junto virtual (Prado e Valen-
diálogo educativo que pode variar de baixo a fre- te, 2002), uma vez que atuar nesse ambiente
qüente e pelo grau da estrutura variável entre rí- significa expressar pensamentos, tomar deci-
gida e flexível (Bouchard, 2000, p. 76). sões, dialogar, trocar informações e experiên-
Cada recurso mediático empregado na cias e produzir conhecimento. As interações por
educação a distância contém características meio dos recursos disponíveis no ambiente
estruturais específicas e níveis de diálogos pos- propiciam as trocas individuais e a constituição
síveis de acordo com a própria mídia, os quais de grupos colaborativos que interagem, discu-
interferem no nível da distância transacional. tem problemáticas e temas de interesses co-
Da mesma forma, em um ambiente de sala de muns, pesquisam e criam produtos ao mesmo
aula o nível de diálogo e participação dos alu- tempo que se desenvolvem (Almeida, 2001).
nos é propiciado pela abordagem pedagógica Desde modo, formam-se as redes de
assumida pelo professor e respectivas estra- aprendizagem que empregam Computer Me-
tégias e mediações pedagógicas. Bouchard diated Communications (CMC) para aprender
(2000, p. 78) prefere tratar da “latitude” ine- em conjunto por meio da interação, comunica-
rente a determinada mídia “em função das es- ção multidirecional e produção colaborativa
truturas e do diálogo que ela autoriza ou não (Baranauskas et al., 1999), com suporte em
autoriza, ao invés do grau absoluto de distân- ambientes digitais de aprendizagem, nos quais
cia intrínseca da mídia”. cada pessoa busca as informações que lhe são
Portanto, EaD não é apenas uma solu- mais pertinentes, internaliza-as, apropria-se
ção paliativa para atender alunos situados dis- delas e as transforma em uma nova represen-
tantes geograficamente das instituições educa- tação, ao mesmo tempo em que se transforma
cionais nem trata da simples transposição de e volta a agir no grupo transformado e trans-
conteúdos e métodos de ensino presencial para formando o grupo.
outros meios telemáticos. 6 Os programas de Ensinar em ambientes digitais e inte-
EaD podem ter o nível de diálogo priorizado ou rativos de aprendizagem significa: organizar si-
não segundo a concepção epistemológica e tuações de aprendizagem, planejar e propor
respectiva abordagem pedagógica. atividades; disponibilizar materiais de apoio com
Entretanto, mesmo com o uso de recur- o uso de múltiplas mídias e linguagens; ter um
sos das TIC, observa-se com maior freqüência a professor que atue como mediador e orientador
ocorrência de programas de EaD centrados na
disponibilidade de materiais didáticos textuais ou 6.Telemáticos: originário do grego tele, que significa “longe”, “distante”.

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do aluno, procurando identificar suas represen- equipes interdisciplinares constituídas por educa-
tações de pensamento; fornecer informações re- dores, profissionais de design, programação e de-
levantes, incentivar a busca de distintas fontes senvolvimento de ambientes computacionais para
de informações e a realização de experimenta- EaD, com competência na criação, gerenciamento
ções; provocar a reflexão sobre processos e e uso desses ambientes.
produtos; favorecer a formalização de conceitos; Assim, a educação a distância em am-
propiciar a interaprendizagem e a aprendizagem bientes digitais e interativos de aprendizagem
significativa do aluno. permite romper com as distâncias espaço-tem-
Aprender é planejar; desenvolver ações; porais e viabiliza a recursividade, múltiplas in-
receber, selecionar e enviar informações; estabelecer terferências, conexões e trajetórias, não se res-
conexões; refletir sobre o processo em desenvol- tringindo à disseminação de informações e ta-
vimento em conjunto com os pares; desenvolver a refas inteiramente definidas a priori. A EaD assim
interaprendizagem, a competência de resolver pro- concebida torna-se um sistema aberto, “com
blemas em grupo e a autonomia em relação à mecanismos de participação e descentralização
busca, ao fazer e compreender. As informações são flexíveis, com regras de controle discutidas pela
selecionadas, organizadas e contextualizadas se- comunidade e decisões tomadas por grupos
gundo as expectativas do grupo, permitindo esta- interdisciplinares” (Moraes, 1997, p. 68).
belecer múltiplas e mútuas relações, retroações e Ressalta-se que um ambiente digital de
recursões, atribuindo-lhes um novo sentido que aprendizagem constitui uma ecologia da informa-
ultrapassa a compreensão individual. ção (Nardi, 1999), criada na atividade de todos os
Com o uso de ambientes digitais de participantes desse contexto, os quais à medida
aprendizagem, redefine-se o papel do professor que interagem, transformam a forma de represen-
que finalmente pode compreender a importân- tar o próprio pensamento e se transformam mu-
cia de ser parceiro de seus alunos e escritor de tuamente na dinâmica das inter-relações que
suas idéias e propostas, aquele que navega junto estabelecem entre si, ao mesmo tempo em que
com os alunos, apontando as possibilidades dos alteram o próprio ambiente. Na ecologia da infor-
novos caminhos sem a preocupação de ter ex- mação o foco não é a tecnologia, mas a ativida-
perimentado passar por eles algum dia. O pro- de em realização, caracterizada pela diversidade,
fessor provoca o aluno a descobrir novos signi- inter-relação entre razão e emoção, evolução
ficados para si mesmo ao incentivar o trabalho contínua experienciada com o uso de múltiplas
com problemáticas que fazem sentido naquele e diversas tecnologias incorporadas aos recursos
contexto e que possam despertar o prazer da digitais, induzindo o surgimento de outra lógi-
escrita para expressar o pensamento, da leitura ca e de novas percepções de temporalidade e
para compreender o pensamento do outro, da localidade.
comunicação para compartilhar idéias e sonhos, A representação e a apropriação de
da realização conjunta de produções e do de- conhecimentos nesse espaço permitem o de-
senvolvimento de projetos colaborativos. Desen- senvolvimento de novas formas de raciocínio,
volve-se a consciência de que se é lido para as quais não excluem as formas lineares e hie-
compartilhar idéias, saberes e sentimentos e não rárquicas da representação linear do texto im-
apenas para ser corrigido. presso, mas a extrapolam pela ênfase na vari-
Para desenvolver a educação a distância edade de linguagens de representação, registro,
com suporte em ambientes digitais e interativos de recuperação e comunicação, englobando as-
aprendizagem torna-se necessária a preparação de pectos racionais e emocionais, em que as “ins-
profissionais que possam implementar recursos tituições e percepções sensoriais são utilizadas
tecnológicos (software) condizentes com as neces- para a compreensão do objeto de conhecimen-
sidades educacionais, o que implica estruturar to em questão” (Kenski, 2003, p. 46).

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O sentido de localidade diz respeito ao Ressalta-se o desafio da avaliação ten-
espaço digital ou ciberespaço, cujas condições do em vista que os alunos se localizam em
são continuamente contextualizadas nas ações diferentes espaços e têm acesso ao ambiente
em desenvolvimento neste espaço, que fun- em tempos distintos. Mais uma vez, o uso das
cionam também como ferramenta para a memó- TIC em EaD traz uma contribuição essencial
ria. As ações realizadas no ciberespaço são pelo registro contínuo das interações, produ-
registradas e recuperadas a qualquer momento ções e caminhos percorridos, permitindo recu-
e de todos os lugares com acesso à internet, o perar instantaneamente a memória de qualquer
que permite refletir, apreender pensamentos e etapa do processo, analisá-la, realizar tantas
ações representados, descontextualizá-las do atualizações quantas forem necessárias e de-
espaço e tempo originários, apropriar-se destas senvolver a avaliação processual no que diz
ações e contextualizá-las em outras situações e respeito a acompanhar o desenvolvimento do
ecologias. Dessa forma, evidenciam-se novas aprendiz e respectivas produções ou analisar a
perspectivas para refletir e avaliar ações, repre- atividade em si mesma. A par disso, mesmo
sentações de pensamentos, significados expres- após a conclusão das interações, é possível
sos e ecologias criadas. recuperar as informações, rever todo o processo
e refazer as análises mais pertinentes em termos
Avaliação em educação a de avaliação.
distância com suporte em Nesse sentido, o Projeto Nave (Almeida,
ambientes digitais de interação 2001), desenvolvido por pesquisadores do Pro-
e aprendizagem grama de Pós-Graduação em Educação: Currícu-
lo, da PUC/SP, evidenciou a possibilidade de
Conforme Almeida (2002), é importante transformar a avaliação em um processo que
destacar o potencial da EaD com suporte em permite compreender o desenvolvimento do alu-
ambientes digitais e interativos de aprendiza- no e simultaneamente analisar a atividade em
gem para a representação do pensamento do realização de modo a identificar avanços e difi-
aprendiz e a comunicação de suas idéias, assim culdades a fim de redirecionar ações. Diante da
como para a produção individual e coletiva de disponibilidade de acesso aos registros das
conhecimentos. Devido à característica das TIC interações e produções, o próprio aluno teve a
relacionada com o fazer, rever e refazer contí- oportunidade de realizar a auto-regulação da
nuos, o erro pode ser tratado como objeto de sua aprendizagem.
análise e reformulação. Dito de outra forma, o Conforme Almeida & Almeida (2003), a
aprendiz tem a oportunidade de avaliar conti- concepção de conhecimento, ensino e aprendi-
nuamente o próprio trabalho individualmente zagem implícita no design educacional de um
ou com a colaboração do grupo e efetuar ins- curso à distância fornece o balizamento para a
tantaneamente as reformulações que conside- avaliação. Esta poderá direcionar-se para o con-
re adequadas para produzir novos saberes, as- trole do desempenho do aluno de forma mais
sim como pode analisar as produções dos co- eficiente do que em atividades presenciais, uma
legas, emitir feedback e espelhar-se nessas pro- vez que os ambientes digitais de aprendizagem
duções. Nesse sentido, Almeida e Prado (2003) fornecem estatísticas sofisticadas sobre os cami-
analisam uma experiência de resolução de pro- nhos percorridos pelo aluno e respectivas pro-
blemas em grupos colaborativos que interagem duções. Por outro lado, o registro da participa-
exclusivamente por meio de um ambiente digital ção do aluno e suas respectivas produções per-
de interação e aprendizagem e evidenciam o mitem também acompanhá-lo, identificar suas
potencial desses ambientes para a avaliação pro- dificuldades, orientá-lo, propor questões que
cessual e auto-avaliação. desestabilizem suas certezas inadequadas, enca-

336 Maria Elizabeth B. de ALMEIDA. Educação a distância na Internet:...


minhar situações que possam ajudá-lo a desen- dos participantes remotos, as quais eram res-
volver-se e orientar suas produções e desenvol- pondidas ao vivo pelos especialistas. Hoje, in-
ver processos avaliativos participativos. Assim, o verteu-se a situação. Os filmes têm pequena
aluno tem a oportunidade de compreender o duração, as considerações dos especialistas
que já sabe, o que precisa aprender e como vem problematizam a situação apresentada pelo fil-
se desenvolvendo ao longo do curso. Atribuir me e os participantes têm maior tempo para
um conceito que reflita a evolução do aluno no fazer perguntas e receber respostas. As pergun-
curso é apenas a conseqüência de sua participa- tas não respondidas ao vivo, podem ser respon-
ção e desenvolvimento, devidamente registrados didas posteriormente via telefone, e-mail ou
e analisados pelo grupo em formação. fax, caracterizando uma integração entre dife-
rentes tecnologias e mídias com a finalidade de
Integração de diferentes promover interação.
tecnologias em educação a O Programa Nacional de Informática na
distância Educação, ProInfo, do Ministério da Educação,
dedica quase metade de seus recursos à forma-
Atualmente os programas de televisão ção de professores para a inserção das TIC na
em canal aberto criam roteiros tal que os prática pedagógica dentro de uma ótica de
telespectadores têm a sensação de serem par- interação e construção de conhecimento. Para
ticipantes ativos no desenrolar das ações. De- dar suporte a esse trabalho, uma lista de e-mails
corre daí as inúmeras chamadas para votação para a interação e troca de experiências entre os
via telefone ou e-mail , de modo que os teles- professores-multiplicadores funciona há aproxi-
pectadores decidam o final da história ou o madamente três anos e subsidia a formação con-
vencedor de determinada situação. Essa inte- tinuada. Atualmente, os professores que atuam em
ração não leva à tomada de decisão em relação locais onde existe suporte tecnológico adequado,
à própria aprendizagem e caracteriza uma par- participam de projetos de formação à distância
ticipação ilusória. O que se pretende em edu- através das TIC.
cação é uma interação que permita ao apren- No momento, os programas ProInfo e
diz representar as próprias idéias e participar de TV Escola, ambos da Secretaria de Educação a
um processo construtivo. Distância do MEC, aproximam-se e realizam
As redes de televisão educativa como a projetos que integram diferentes tecnologias na
TVE – TV Educativa da Fundação Roquete Pinto formação de educadores, na prática pedagógica
do MEC, TV Cultura da Fundação Padre e na gestão escolar, apontando uma tendência
Anchieta de São Paulo, Canal Futura das Orga- promissora de convergência entre mídias, lin-
nizações Globo de Televisão, desenvolvem pro- guagens e metodologias que deverá influir na
gramas com finalidades educativas e não ape- disseminação da EaD nos próximos anos.
nas de entretenimento, veiculando atividades Nesse sentido, o Fórum Nacional de
mais inovadoras em termos de aprendizagem e Pró-Reitores de Graduação das Universidades
interação, segundo as características do meio. Brasileiras – ForGrad (2002, p. 14), salienta que
O programa “Um Salto para o Futuro” a educação a distância pode contribuir para a
da TV Escola – TVE vem mudando sua estrutu- busca de novos paradigmas educacionais no
ra e aumentando a participação à distância das sentido de deslocar-se da concepção “de edu-
pessoas que o assistem a partir de diferentes cação como sistema fechado, voltado para a
partes do Brasil. Anteriormente, era destinado transmissão e transferência, para um sistema
maior tempo do Programa para a apresentação aberto, implicando processos transformadores
de filmes e análise de especialistas, ficando um que decorrem da experiência de cada um dos
pequeno bloco para a inserção de perguntas sujeitos da ação educativa”.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003 337
Educação a distância em ser visitado, explorado, trabalhado, não carac-
ambientes digitais de interação terizando local de visita obrigatória.
e aprendizagem, leitura e Devido à diversidade da realidade brasi-
escrita leira e à dificuldade ou até impossibilidade de
acesso às TIC por parcela considerável da popu-
A educação a distância com suporte lação, a educação a distância no Brasil conti-
em ambientes digitais numa perspectiva de nuará convivendo com as diferentes abordagens.
interação e construção colaborativa de conhe- Enquanto se procuram mecanismos para demo-
cimento favorece o desenvolvimento de com- cratizar a educação em todos os níveis, o gran-
petências e habilidades relacionadas com a de contingente de pessoas alijadas do acesso às
escrita para expressar o próprio pensamento, TIC continuará participando de cursos à distân-
interpretação de textos, hipertextos e leitura de cia por meio de tecnologias convencionais. Po-
idéias registradas pelo outro participante. Decor- rém, esses cursos podem tornar-se mais interativos
re daí o grande impacto que o uso desses e assumir uma abordagem mais próxima do estar
ambientes na EaD poderá provocar não só no junto virtual a partir do envolvimento dos forma-
sistema educacional, mas também no desenvol- dores em um programa de sua própria formação
vimento humano e na cultura brasileira, de tra- continuada por meio das TIC que os leve a refletir
dição essencialmente oral, tradição esta imposta sobre as contribuições dessas tecnologias à prá-
pela colonização e escravatura aliadas à moral tica pedagógica.
e à fé cristã, o que impediu o acesso da popu- O uso das TIC na EaD poderá levar à to-
lação brasileira à educação, bem como ao mada de consciência sobre a importância da par-
mundo da leitura e da escrita e à conseqüente ticipação de professores e tutores em todas as
formação de leitores e escritores (Cury, 2001). etapas da formação, a qual implica compreender o
Participar de um curso à distância em processo do ponto de vista educacional, tecno-
ambientes digitais e colaborativos de aprendi- lógico e comunicacional. Daí a possibilidade de
zagem significa mergulhar em um mundo vir- transferir tal percepção para a EaD convencional e
tual cuja comunicação se dá essencialmente buscar alternativas que favoreçam a interação entre
pela leitura e interpretação de materiais didáti- os participantes e a representação do pensamen-
cos textuais e hipertextuais, pela leitura da to do aprendiz, o que começa a se evidenciar nos
escrita do pensamento do outro, pela expressão meios de comunicação convencionais.
do próprio pensamento por meio da escrita. Tendo em vista a necessidade de fluência
Significa conviver com a diversidade e a singu- tecnológica para que a pessoa possa participar de
laridade, trocar idéias e experiências, realizar atividades à distância com suporte no meio digi-
simulações, testar hipóteses, resolver problemas tal, fica explícita a intrínseca conexão entre EaD,
e criar novas situações, engajando-se na cons- alfabetização e inclusão digital, mas isso não sig-
trução coletiva de uma ecologia da informação, nifica ser esta última pré-requisito para EaD e sim
na qual valores, motivações, hábitos e práticas que há necessidade de trabalhar o desenvolvimento
são compartilhados. de competências relacionadas com a alfabetização
Cada participante do ambiente tem a e inclusão digital quando as pessoas se propõem
oportunidade de percorrer distintos caminhos, a participar de cursos à distância. A par disso,
nós e conexões existentes entre informações, observa-se que os cursos à distância em ambien-
textos, hipertextos e imagens; ligar contextos, tes digitais e interativos de aprendizagem incitam
mídias e recursos; tornar-se receptor e emissor o desenvolvimento da expressão do pensamento
de informações, leitor, escritor e comunicador; pela representação escrita quando o aprendiz tem
criar novos nós e conexões, os quais represen- a oportunidade de discutir, expressar-se livremen-
tam espaços de referência e interação que pode te e desenvolver produções individuais e grupais.

338 Maria Elizabeth B. de ALMEIDA. Educação a distância na Internet:...


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Recebido em 10.11.03
Aprovado em 26.11.03

Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida é professora da PUC/SP, Departamento Ciência da Computação e Programa de
Pós-Graduação em Educação. Doutora em Educação, PUC/SP. Autora de publicações sobre tecnologia e formação de
educadores. Co-organizadora das obras: Educação a distância via Internet; Gestão Educacional e Tecnologia, da Coleção
Formação de Professores (Avercamp - 2003).

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