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A amante

Personagens: Aurora mulher de 26 anos, corpo bem malhado, mas de semblante


sereno, traz uma delicadeza no falar. Zilá 23 anos jovem muito bonita, mas com um ar
de cansaço. A irmã mais velha parece mais jovial que a mais nova. Sérgio 30 anos
baixinho e um tanto gordinho.

Cena 1

Quarto de Zilá. Cama de solteiro de madeira nobre, escrivaninha no lugar de


penteadeira em cima dela livros abertos, um computador. Uma das paredes é pintada de
rosa claro nesta parede uma prateleira com alguns ursos de pelúcia, mesma parede onde
a cama está encostada.

Aurora: Bom dia flor do dia. Hora de acordar.


Zilá: 5 minutos.
Aurora: Sempre mais 5 minutos.
Zilá: Sempre. Me acorda daqui a 5 minutinhos tá?
Aurora: Vai se atrasar para a aula de GAP.
Zilá: Grupo de Apoio as Pelancudas? Posso perder essa aula! ( risos)
Aurora: Sempre esta piada sem graça.
Zilá: Sempre. Você me estimulando assim as 5: 30 da manhã eu acordo sempre
bem humorada.
Aurora: Mau humorada como sempre.
Zilá: Sempre. Ninguém é bem humorado dormindo a uma da manhã estudando e
acordando as 5: 30 todos os dias para ir a academia.
Aurora: Só falto calçar o tênis e você aí enrolando.
Zilá: Tá tá, já vou me levantar. (Volta a dormir)

Cozinha Cena 2
Zilá: Cadê meus cigarros?
Sérgio: Bom dia pelo menos, ou melhor boa tarde, são 12 horas. Mal acorda e já
vai fumar.
Zilá: Ajuda a combater o tédio.

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Sérgio: Tédio porque quer, sua irmã já vai voltar da academia você só acorda
agora.
Zilá: Sem sermões, estou cansada.
Sérgio: Poderia pelo menos tomar café antes de fumar.
Zilá: Então manda um pretinho que ele combina bem com meu cigarro.
Sérgio: Estou falando de tomar café da manhã, não um cigarro com café preto
somente.
Zilá: Não obrigada.
Sérgio: Eu já terminei o almoço, se quiser pode almoçar.
Zilá: Você é muito gentil, mas estou sem fome.

Cena 3
Aurora entra em casa

Sérgio: Como foi a aula de hoje meu amor.


Aurora: Ótima, as iniciantes reclamam um pouco, as avançadas reclamam mais.
Umas acham a aula pesada demais, querem resultados logo e outras... as outras não se
satisfazem com os resultados e meu deus ainda bem que o lero-lero é só nos primeiros 5
minutos iniciais e no final da aula.
Zilá: Inveja!!
Aurora: Faltou a aula novamente.
Zilá: Estava cansada.
Aurora: Se você organizasse os seus horários, daria para estudar e malhar sem
problemas. Depois o André vai reclamar ele te deu a bolsa na academia e você mais
falta aula do que vai.
Zilá: Ele perguntou por mim?
Aurora e Sérgio: (em uníssono e de forma enfática) Sim.
Zilá: Ei, Sérgio tu nem tava lá então como sabe?
Sérgio: Porque todo dia você faz a mesma pergunta e Aurora responde sempre
sim.
Aurora: Você sabe que ele está lá toda manhã e ele espera te ver, ele ficou
chateado porque você não foi.
Zilá: E você disse o que?
Aurora: Que você passou a madrugada estudando.

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Zilá: E ele?
Aurora: Com aquela piada grossa como sempre: “Para que a Zilá estuda? Com a
bunda que ela tem não é preciso.”, deu gargalhadas, mas estava com raiva.
Zilá: Nem vou ligar. Porque ele só sabe malhar o corpo, o cérebro que é bom,
nada.
Sérgio: O cérebro eu sei que ele não malha, mas malha você a vontade.
Zilá: Senti o veneno viu?
Aurora: Parem vocês dois. Zilá você está se contradizendo, você sempre falou de
como ele era inteligente, culto, não foi isso que te interessou?
Zilá: É foi. O fato é que se não fosse por mim a Aurora estaria desempregada
agora.
Aurora: Eu sou competente, ele me deu o emprego por isso.
Zilá: Sim, sei, mas só depois que comecei a namorá-lo é que você conseguiu o
emprego. Já tinha colocado o currículo lá duas vezes e nada.
Sérgio: Namorá-lo? Não sabia que amante tinha mudado de nome para
namorada. Agora é o que? Namorada extraconjugal?
Zilá: Vixe, hoje tiraram o dia para me amolar né?
Sérgio: Você é a mau humorada da família e vem falar que estamos te
perturbando? ( para Aurora)Querida, me deseje boa sorte.
Aurora: Vai numa entrevista de emprego hoje?
Sérgio: Sim.
Zilá: E este é de que? Serviços gerais, gari, pedreiro?
Sérgio: (irônico)Como você é engraçada!
Aurora: Não importa o emprego são todos honrados.
Zilá: Mas o salário ó. (faz sinal de que o salário é pequeno)
Sérgio: Pelos menos é algo descente, não durmo com ninguém para me manter.
Zilá: Tem certeza?
Aurora: Não ligue para ela querido. Você é um homem incrível. Boa sorte.
Sérgio: É de caixa com possibilidades de ser supervisor de vendas. Obrigada
querida.
Aurora: Vai dar tudo certo. Te amo. (o leva até a porta e dá um beijo)

Cena 4

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Sala de estar pequena, mas decorada com bom gosto, na qual se divide num
mesmo espaço a sala de jantar e de estar, com mesa de jantar pequena de madeira, sofá
também de madeira com almofadas vinho, tudo madeira nobre. Em uma das paredes
tem um grande quadro com a fotografia PB de família na qual se pode ver um senhor,
uma senhora e duas meninas. Pela janela entra muita luz e o calor do meio dia.
Zilá: (irônica) Que lindo casal.
Aurora: Inveja é um veneno sabia?
Zilá: Inveja do que? Preciso de motivos para invejar!
Aurora:Você ta que ta hoje hein? O que ganha magoando as pessoas?
Zilá: Foi ele quem começou.
Aurora: (Imita Zilá de forma infantil) Foi ele quem começou. ( Volta a falar
séria) Parece criança, era assim que você falava pra mamãe quando ela separava as
nossas brigas. O que é que você tem?
Zilá: André é um saco, eu não agüento mais.
Aurora: Termina, ora.
Zilá: Como?
Aurora: Terminando, dizendo não gosto mais de ti, adeus e ponto.
Zilá: Agora é você que é infantil. E vamos viver de que?
Aurora: E eu trabalho para que? É o meu salário que sustenta a casa.
Zilá: Você é ingênua ou é idiota? E quem sustenta o teu trabalho?
Aurora: Por que fala assim? Ele não iria me demitir só porque você terminou
com ele, afinal ele como um bom empresário sabe reconhecer um bom empregado. Até
me deu aumento em apenas 4 meses de trabalho. Para que tanta agressividade?
Zilá: Sou eu que durmo com um troglodita e você me pergunta por que tanta
agressividade?
Aurora: Deve ser a convivência!! Está aprendendo com ele a ser assim. Você
não era assim. Se namorar ele está te fazendo mal, termina.
Zilá: E de que vamos viver? O Sérgio ta sem emprego a mais de um ano, faz um
bico aqui outro ali, não fica mais de um mês num emprego. E eu estou atolada nos
estudos, a faculdade me mata e ainda estudo para concurso.
Aurora: Mas você tem que entender, ele não agüenta se rebaixar, homem tem
orgulho.
Zilá: E mulher não deve ter né? Porque eu posso me prostituir e tudo bem.
Aurora: Prostituir, como você é dramática.

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Zilá: E o que é o que eu faço?
Aurora: Ser namorada extra conjugal.
As duras riem
Zilá: Estamos rindo do que?
Aurora: De nervoso, de uma situação ridícula, não sei.
Zilá: Rindo para não chorar. (começa a chorar)
Aurora: Não estávamos rindo para não chorar? Continuemos a rir então.
Zilá: Ai como você é tola às vezes. Sei que quer que eu fique bem, mas isso não
fará nada melhoar. O dinheiro da pensão que papai nos deixou não dá para nada, a
aposentadoria de mamãe menos ainda. Mesmo com você trabalhando ainda ficamos
com saldo negativo no final do mês. Nos mudamos para um bairro mais popular e
continuamos atrasando o aluguel, o condomínio aumentou, a energia subiu...
Aurora: Calma, você termina a faculdade este semestre e vai ser menos um
gasto, o orçamento folga.
Zilá: Gasto não. Investimento, ok? Não tenho culpa se a federal é concorrida.
Aurora: Não sei o que está acontecendo, estamos nesta situação há meses e você
nunca ficou tão estressada. Já estivemos até pior com as mensalidades da sua faculdade
totalmente atrasadas e agora não está mais.
Zilá: Sim, mas é isso, a situação nunca melhora de verdade e quando melhora é
através de coisas como ser amante de um idiota.
Aurora: Que foi? Você nunca o xingou tanto.
Zilá: Ah só cansei, era brincadeira no começo, mas agora está mais sério.
Aurora: Sério por quê?
Zilá: Por nada. Estou estressada com uma prova de um concurso que vou fazer
no próximo mês e os estudos não estão rendendo. Eu preciso passar.
Aurora: Calma, você está estudando há meses, se dedica tanto, então vai dar
tudo certo.
Zilá: Não sei. Já fiz tantas provas e não passei em nenhuma.
Aurora: Mas nas ultimas você fez uma ótima pontuação.
Zilá: Mas em nenhuma eu consegui ficar na lista dos que seriam convocados,
nem no cadastro reserva. Você tem que entender que quando se trata de provas da
Carlos Chagas, quando erro três questões estou fora.

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Aurora: A faculdade já vai acabar e você vai poder se dedicar mais aos
concursos e assim passar. Ou se quer ter logo seu dinheirinho, começar a trabalhar e
continuar estudando pra concurso só a noite.
Zilá: Eu preciso estudar em tempo integral. Do que adianta me desgastar
trabalhando doze horas por dia para ganhar uma mixaria e isso comprometer a minha
chance de passar logo num concurso em que ganharia seis mil?
Aurora: (afagando a irmã) Vai dar tudo certo, você é esforçada, você merece,
cada dia sua pontuação é mais alta.
Zilá: Não sei o que seria da minha vida sem seu otimismo. Você tem um jeito
leve de enfrentar a vida. Às vezes um tanto ingênuo, mas me anima.
Aurora: Um jeito mais saudável né? Você está fumando demais não acha?
Zilá: Deixe-me pelo menos fumar um pouco mais por agora, com o André eu
nunca posso fumar.
Aurora: Então se intoxica logo de uma só vez? Cigarro mata.
Zilá: Eu sei senhora saúde, mas talvez seja isso que eu queira.
Aurora: Isola.
Zilá: É uma pena que cigarro mate devagar, às vezes queria dormir e não mais
acordar.
Aurora: Meu deus, não sei mesmo o que está havendo contigo.
Zilá: Não está havendo nada, é cansaço. Temos que buscar a mamãe na
rodoviária, ela vem no ônibus das 15 horas e é aquela coisa, não convém deixá-la
esperando. Vem super cansada e cheia de novidades que adora contar, é isso toda vez
que vem da casa de tia Luísa. De fulano que era seu aluno no primário já está com
filhos, de como a cidade mudou com o novo prefeito e essas coisas que sabemos que é
mais um saudosismo exagerado onde esconde a vontade de que tudo volte a ser como
antes, de voltarmos para lá. Moramos em Salvador há 6 anos e ela não se acostumou.
Aurora: Temos que entender que a vida dela é lá, nasceu, cresceu, casou, teve
filhos... tudo lá.
Zilá: Ela diz que vai ver tia Luísa, mas ela vai mesmo é ficar vendo a sua antiga
casinha amarela numero 9 perto da praça.
Aurora: A felicidade dela estava lá.
Zilá: Papai morreu lá e tivemos que vender a casa e ela nem relutou tanto. Sem
dramas, a vida continua, o futuro é aqui, temos que seguir em frente.

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Aurora: Sua frieza às vezes me espanta. Mas você busca a mamãe, porque hoje
vou dar aula a tarde. Só vim almoçar e descansar um pouco.
Zilá: Aula de que hoje?
Aurora: Você tem a programação da academia, sabe bem o que é. Quer tirar
sarro da minha cara? Sabe que é GAP novamente.
Zilá: Mas a tarde quem dá aula de GAP é a Juliana.
Aurora: Estou cobrindo ela, ela está dando aula numa outra academia também e
chocou o horário, mas você não vai contar nada pro André. A Ju disse que tava doente,
e estou cobrindo as aulas dela por uma semana, depois ela disse que resolveria por lá.
Não conta nada que precisamos de dinheiro extra.
Zilá: Eu bem sei que precisamos, mas e sua saúde? Se você além as tuas aulas
pela manhã e a noite, está cobrindo todas as aulas dela, vai acabar se prejudicando.
Depois ela é que vai acabar tendo que cobrir suas aulas por você estar em estafa.
Aurora: Cada uma com seu sacrifício não é? Que anel bonito.
Zilá: Só agora que reparou? O André me deu.
Aurora: Um anel de noivado?
Zilá: É de mentira.
Aurora: Parece diamante de verdade.
Zilá: É de verdade, mas noivado de mentira, ele quer que eu use aliança para
despistar, sei lá pode estar com ciúmes dos meninos da academia, não sei.
Aurora: Que idéia mais tola! Um anel de noivado vai fazer com que os
marmanjos de lá parem com o assédio por acaso? Que bobagem.
Zilá: Ta, pois bem, não é bem para os marmanjos de lá, é para a mulher dele que
ta cismada com minha cara, não desconfiar. Sei lá passar uma imagem para ela que sou
séria e que tenho meu noivo e não quero nada com o marido dela.
Aurora: Que coisa mais louca, ela nunca aparece por lá.
Zilá: Ok, fui eu quem pedi e ele me deu.
Aurora: Que? Não estou entendendo nada. Conta essa história direito.
Zilá: Não estressa.
Aurora: Conta logo, ahh estou muito desconfiada.
Zilá: Ah você nunca ouviu a história que toda amante deseja roubar o lugar da
esposa?
Aurora: Que palhaçada é essa? Você não quer se livrar do André?
Zilá: Me deixa em paz.

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Aurora: Hum despeito então?
Zilá: Me deixa Aurora, não estressa ok?
Aurora: Conta logo que você não é de guardar segredos para mim.
Zilá: Posso começar agora.
Aurora: Sei, xinga ele, fala que é sacrifício, até prostituição!!
Zilá: Não sabia que era tão irônica.
Aurora: Aprendi contigo. (risos) Estou brincando minha irmã, quero ver se
tirando você do sério, você abre logo o jogo. Está tão estressada ultimamente que seria
melhor contar tudo.
Zilá: Curiosidade, é apenas curiosidade e nenhuma intenção de ajudar, grande
irmã você é.
Aurora: Sim, um tanto de curiosidade, mas estou preocupada contigo.
Zilá: Não tem com que se preocupar, eu não comecei a sair com o Andre sem
antes gostar dele. Ele insistia e eu cedi porque queria.
Aurora: Sim foi o que pensei não é da sua índole ser interesseira.
Zilá: Eu só aceito tudo que ele me proporciona, as coisas boas e ruins, porque
gosto dele, mais das coisas boas é claro, não vou ser hipócrita. Sei que pega mal eu
aceitar tudo que ele me dá mesmo sabendo que ele é casado e que para ele é apenas
diversão.
Aurora: Sim, logo você que faz o discurso da mulher independente. É isso que te
dói então, depender de um homem e casado.
Zilá: Sinceramente nem tanto. Me dói é gostar dele e não tê-lo por inteiro.
Aurora: Não por ele ser grosso?
Zilá: Também, mas quem disse que ele é sempre assim, ele comigo é um amor
e...
Aurora: (corta) Amor com humilhações?
Zilá: Só quando ta chateado comigo.
Aurora: Está tão apaixonada assim a ponto de agüentar grosserias, lamentável. O
Marcelo era o amor da sua vida e foi só ele ser grosso contigo uma vez para você
terminar com ele.
Zilá: Mas ali o caso foi de decepção, ele era um amor e depois foi grosso. Com o
André é o contrário, ele era um tanto cafajeste e depois ficou um amor, eu já sabia da
peça quando me envolvi com ele. E não me lamento por isso.
Aurora: Está apaixonada mesmo, a ponto de justificar as grosserias dele.

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Zilá: Não é isso, eu já disse, ele não é grosso sempre ta? E ele me deu a aliança.
Aurora: Ah ele se torna bonzinho porque tudo que você pede ele dá?
Zilá: É, ele é um cretino... (pausa) não, só as vezes. E eu sou honesta! Você está
me colocando em xeque é? Olha que sempre fui melhor no xadrez do que você.
Aurora: Sim fui prata nos jogos de xadrez da escola, a senhorita ouro, mas não
muda de assunto, porque quando se trata de saber o que eu quero eu consigo ir mais a
frente do que você.
Zilá: E quem sou eu para desmentir, você realmente está me colocando contra
parede, mas agüentaria se eu fizesse o mesmo contigo?
Aurora: Tentando fugir das minhas perguntas com um ataque? Não enrola mais,
para que está história de aliança?
Zilá: Sonho, simples assim. Não sou só uma pessoa de números e realidade.
Também sonho.
Aurora: Ilusões naturais da idade. Mas você quer casar com o André?
Zilá: E porque não?
Aurora: Ele é casado e outra ele não parece nem um pingo carinhoso contigo.
Zilá: Invertendo a frase, mas mantendo a lógica, nem tudo que não parece não é.
Mas me diz uma coisa ele dá em cima das outras meninas da academia?
Aurora: Não, nem na minha frente nem por trás pelo que sei, notoriamente ele é
super sério. Mas se tem uma amante pode ter duas, ou não, (em tom de brincadeira)
talvez seja muita tarefa ter uma esposa e uma amante.
Zilá: Aff, isso não teve a menor graça. Ele gosta de mim.
Aurora: É isso que ele diz né? Então porque continua casado?
Zilá: porque...
Aurora: (interrompe) Nem use a histórias de filhos porque ele não tem, nem vale
falar que esposa é doente, porque ela não é.
Zilá: porque (pausa) porque...(tentando buscar justificativas)
Aurora: Não consegue arranjar uma desculpa?
Zilá: Não é isso.
Aurora: Que tal porque ele não te ama. Que tal porque ele gosta da mulher dele e
simplesmente ele quer variar o cardápio.
Zilá: Nossa como você é insensível.
Aurora: Eu não, essa de variar o cardápio foi Andre quem disse.
Zilá: hã?

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Aurora: Ah ele justificando um aluno que sabidamente por todos trai a mulher,
soltou a seguinte frase: ele está variando o cardápio.
Zilá: Que conversa é essa?
Aurora: Ah você não aparece lá na academia, é que um aluno um dia recebeu a
visita da mulher, que queria pegá-lo no flagra, e ela queria fazer um escândalo lá, mas o
André impediu e...
Zilá: (interrompe) Só pode se tratar do Fábio, ele nem disfarçava, era tudo muito
a mostra, deu em cima de mim também e saía com umas meninas descaradas, um dia
chegaria aos ouvidos da esposa o fato. Mas onde você entra nessa história? Se o André
impediu o barraco, você não viu nada.
Aurora: No dia eu, o Andre e (enfática) e o Sérgio saímos e ele estava contando
a história rindo e falou que o Fábio traia a mulher para variar o cardápio. Achei essa
frase tão absurda que gravei.
Zilá: Que dia foi esse que vocês saíram e eu não estava? Por que o Andre não me
chamou?
Aurora: Tem algumas semanas isso, ele, eu e o Sérgio torcemos para o mesmo
time e na pizzaria perto da academia montaram um telão e o Sérgio foi me buscar
vestido com a camisa do time e falou que ia torcer e ele perguntou se poderia ir junto.
Ficamos comendo, bebendo, conversando e...
Zilá: (interrompe) Não sabia que tinham tanta intimidade assim, e eu fiquei de
fora.
Aurora: Foi no dia que você disse que ia estudar na casa de uma amiga.
Zilá: E ele ficou com ciúmes, chateado ou algo assim?
Aurora: Era o que você queria?
Zilá: Talvez.
Aurora: Você disse que foi estudar e ele acreditou. Não teve ciúmes não.
Zilá: Não?
Aurora: Não.
Zilá: É ele nem me ligou.
Aurora: Relaxa, ele tava estressado com o time que poderia ser rebaixado para
segunda divisão, mas ganhamos de 3 a 1.
Zilá: Sei um jogo emocionante. Ele poderia ter me chamado.

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Aurora: Zilá, a pizzaria é perto da academia poderia aparecer tanto alunos
quanto professores, ele não te chamou por isso. É preciso disfarçar não é mesmo? E
Você disse que estava estudando.
Zilá: E estava, mas em casa, disse que ia dormir na casa de uma amiga porque
tenho mais o que fazer do que ficar colada a um homem. Dor de cabeça é uma desculpa
que não cola, se toma Anador e a vida continua.
Aurora: Sei... linda a aliança.
Zilá: Tem gravado um A e um Z dentro, quer ver?
Aurora: Sim, que bonito. Mas ele não achou estranho não seu pedido?
Zilá: Ele riu, disse que era bobagem, que gostava de mim e que bastava as
(falando de forma que mostre a dubiedade da frase) outras demonstrações de afeto.
Fiquei chateada, arrasada parecia que ele tava jogando na cara a quantia que me dá por
mês. Eu não disse nada, mas ele viu que fiquei chateada. Ontem saímos pela manha...
Aurora: (interrompe) Pela manhã?
Zilá: É pela manhã, ele diz que nenhuma mulher desconfiará de um marido se
ele a trair às 10 da manhã. Na maioria das vezes nos encontramos nesse horário, então
no motel ele me deu a aliança. Foi até bonitinho, ele me deu um buque de lírios se
ajoelhou e me pediu em casamento.
Aurora: Em casamento?
Zilá: Simbolicamente, ele disse que me amava, que só não casava comigo
porque não é permitido bigamia, mas que se fosse solteiro casava e que me queria por
toda a vida.
Aurora: E você engoliu?
Zilá: Poxa, hoje você invocou com a minha cara mesmo, será que é só porque
faltei a sua aula?
Aurora: Não muda de assunto. Você sabe que não. É porque isso é um engano.
Isso me preocupa, quando pensava que era brincadeira tua, que era namorico, que... não
sei... (pausa) que você tinha se encantado com ele, mas algo passageiro, talvez uma
vontade de transgredir o que você acredita. Fiquei preocupada quando você disse que
estava saindo com um homem casado, não é do seu feitio...
Zilá: (interrompe)Mas você não se surpreendeu quando soube quem era e como
tinha conseguiu o seu emprego.
Aurora: Me surpreendi sim, mas não tentei julgá-la...
Zilá: (interrompe) Me julgou sim, só não falou nada porque era cômodo.

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Aurora: Não é isso. (pausa) É isso, mas tentava pensar que você gostava dele,
me preocupava mais quando parecia que você não gostava dele, (pausa) não sei...
Zilá: Então porque se preocupa agora que digo que gosto dele?
Aurora: Porque não é uma boa situação se relacionar com um homem casado.
Zilá: Ou porque te incomoda saber que eu sou a mesma pessoa que aquelas
mulheres que você xinga quando acha que seu marido te trai?
Aurora: Meu marido não me trai.
Zilá: Não é o que você diz quando está brigando com ele.
Aurora: Você fica ouvindo minhas brigas?
Zilá: Não, só da para ouvir, eu gostaria é de estudar.
Aurora: Mas eu sempre peço para ele falar baixo, odeio baixaria.
Zilá: Mas ninguém briga baixo, ninguém em fúria de ciúmes vai ficar
sussurrando.
Aurora: Não tenho intenção de atrapalhar teus estudos. Mas minha vida conjugal
só diz respeito a mim.
Zilá: Eu não estou me metendo na sua vida, mas você se mete na minha.
Aurora: Zelo de irmã mais velha.
Zilá: Interessante, você sempre tão cheia de princípios, mas não te incomoda
saber como foi que você conseguiu o emprego.
Aurora: Me incomodava sim, mas ao pensar que em nada isso te incomodava eu
fui relaxando.
Zilá: Porque não me incomodava?
Aurora: Me surpreendia com sua felicidade, sua leveza em encarar tudo isso, sua
forma de lidar, suas novas ações.
Zilá: Com as minhas?
Aurora: Com as minhas também, mas você sabe estávamos numa situação difícil
Zilá: E se fosse prostituição se justificaria a situação difícil?
Aurora: Mas não é, e você estava tão feliz, ria tanto nos últimos seis meses,
estava tudo melhorando, e... (pausa), me desculpe se sou falha, é isso que você quer que
eu diga? Me desculpe, mas você romper com seu princípios, me fez bem. Me preocupo
em como você está agora.
Zilá: O que você pensava? Que eu não me senti humilhada no primeiro dia em
que ele me deu um envelope com o dinheiro pra mensalidade da faculdade? Não. Eu me
senti agradecida, pensava comigo mesmo, olha é investimento dele em mim, ele

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acredita em mim, é como se fosse papai, que por não estar mais vivo não pode mais
fazer isso por mim. Mas então, o André não é papai, ele exige que eu esteja à disposição
dele sempre, que faça tudo que ele deseja, não ele não é rude, é um amor, mas é tudo,
não só as fantasias dele que eu realizo, a roupa que ele deseja, eu visto, se ele não gosta
de um perfume eu paro de usar, se ele me quer que bronzeada com marquinha de
biquíni, eu vou a praia e eu odeio ficar tostando na praia que nem frango assando, se ele
deseja que eu malhe, eu malho, se ele deseja que eu pare de fumar eu paro, se ele gosta
de Sartre, eu leio, se ele fala para ouvir bossa nova, ou jazz, ou blues ou o que for, eu
ouço, se ele deseja que eu aprenda inglês mesmo eu querendo fazer curso de espanhol,
eu faço, ah ele paga né? Sou a boneca dele e penso comigo é cuidado, sim ele me quer
bem, vou além ele me ama. Se ele me deseja às 3 horas da tarde e me liga para estar em
motel tal em meia hora, pego um taxi e vou. Mas tudo bem, já que é tão carinhoso e
sempre os melhores motéis. Sou apenas uma prostitua de um homem só. Ohh como
tudo é tão fácil!
Aurora: Desculpe-me, eu não sabia como se sentia, eu achava que...
Zilá: (interrompe) Claro que não sabia, não tenho do que me queixar, ele é
gentil, não só na cama, me dá mil presentes, recebo minha mesada, sou dependente dele
no cartão...sou dependente... é assumo depende dele não apenas financeiramente, mas
emocional. Me acostumei e aprendi a viver assim, gostar de viver assim, sem muita
autonomia.
Aurora: E isso te dói.
Zilá: Não me dói tanto. Quero continuar. Me dói saber que eu sou a outra, me
dói saber quem é a mulher dele, me dói vê-los juntos, me dói imaginar que ela pode me
humilhar, fazer barraco o que for, me dói eu saber que ela tem o direito de me humilhar.
Aurora: Ninguém tem o direito de humilhar ninguém.
Zilá: Se não tem, não importa, eu me sinto humilhada. Um dia encontrei o André
num café, fui falar um oi e a mulher dele chegou com mil afagos nele...
Aurora: (interrompe) Ela foi grossa contigo, percebeu algo?
Zilá: Não, ela é educada, foi super gentil. O André me apresentou como uma
aluna da academia, falou que eu era super esforçada, que eu fazia administração e que
ele estava orientando meus estudos, já que ele fez administração além de educação
física.
Aurora: E ela?

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Zilá: Ela sorriu, ela falou que eu continuasse me emprenhando, falou que eu era
uma graça! Falou que ela tem uma farmácia de manipulação que é a área dela, mas que
não entendia nada de administração e deixava tudo para a sócia e para o André e que
estava precisando de uma estagiaria se eu não queria mandar o currículo.
Aurora: E você?
Zilá: Eu estava super constrangida, mas disfarcei bem, disse que estava
terminando meu TCC, agradeci e disse que assim que acabasse...
Aurora: Nossa que situação realmente constrangedora.
Zilá: Não, eu estava era com ciúmes!! Era meu homem quem ela afagava, com
quem ela estava tomando café tão alegremente e isso ela deixava tão público, parecia
que me esfregava na cara a felicidade conjugal.
Aurora: Que ciúmes pode ter você? Você é amante.
Zilá: Sim e eu me sentia por baixo porque ela não parecia ter nenhum defeito,
ela era educada, estava bem vestida, falava suavemente, ah ela é muito bonita. Como
vou competir? Entende?
Aurora: O ciúmes não entendo mesmo, nem a competição.
Zilá: Quer saber, não era só ciúmes, era muito mais inveja.
Aurora: Inveja de uma mulher traída? Que estava de cara com a amante de seu
marido e educadamente conversava com toda inocência?
Zilá: Sim, inveja. E quem sabe se aquela educação dela não era uma farsa e que
por dentro ela se mordia toda, assim como eu? Que entre os sorrisos não escondia uma
fúria?
Aurora: Mas como alguém pode disfarçar tanto?
Zilá: Podemos mascarar muito bem nossos sentimentos, mas é quando estamos
sós que não conseguimos mais mentir, o pior é ficar desnuda para mim. É saber tudo o
que sinto. Foi olhando para ela que eu soube o meu lugar, mas não vou ficar nele. Ela
deve ser gloriosa e irei ultrapassá-la. Parece que ao conhecer a mulher dele, ele passou a
ser ainda mais interessante.
Aurora: Não a superestime. Não ache que ela está acima de ti. Porque é claro
que ela deve ter mil defeitos, algo nela o desagrada profundamente, se não porque ele
teria uma amante?
Zilá: Porque ele é safado simples assim. Se algo nela o desagradasse
profundamente ele se separaria. E ele fica comigo para ter outros prazeres.
Aurora: Não é por gostar de ti? Do jeito dele, mas gostar de ti realmente?

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Zilá: Esta com pena de mim? É por isso que tenta me ludibriar com esse
argumento? Se ele gostasse de mim se separava, ele é safado, mas gosto dele, estou
triste por saber disso.
Aurora: Sim alguns homens são apenas cretinos, e nada além.
Zilá: Também não vamos resumi-lo a isso. Talvez essa possibilidade de ter
alguém que ele possa possuir sem receios, sem botar ele na parede, é que torne uma
amante como eu interessante. Talvez a minha juventude, talvez a minha dependência, a
mulher dele parece-me tão resolvida em si mesma, mesmo quando quis passar que não
era, ela esbanjava uma independência, isso eu sentia. Acho que isso assusta, ela pode ir
embora e ser feliz. Ele sabe que eu não irei embora, que mesmo com os passos em falso
que ele dá continuo com ele. Que minha dependência não é só financeira, que mesmo
passando num concurso como é meu desejo, ele sabe que desejo em igual intensidade
continuar com ele. E não sei se é paixão, é outra coisa. Mas sinto que ele também
precisa de mim, é como se ele precisasse de alguém para cuidar, não exatamente
cuidar...(pausa) mas se sentir superior. Só pode ser isso. Não se pode se relacionar entre
iguais.
Aurora: Entendo perfeitamente.
Zilá: Entende?
Aurora: Necessidade de diferenças. De completar, talvez isso seja amor, talvez
não.
Zilá: Eu não entendo. Mesmo com tudo tão claro fico confusa.
Aurora: Você acha que estou com um homem que não tem o mesmo nível de
instrução que eu, que sempre precisa de meu apoio para seguir a vida, que não gosta das
mesmas músicas, nem dos mesmos filmes, que precisa de orientações, de meus
cuidados porque simplesmente transa bem? Talvez seja instinto maternal, talvez
sentimento de superioridade, talvez...
Zilá: Talvez amor? Não pode ser amor?
Aurora: (ri) Amor? (Séria) Pode ser carência, medo da solidão.
Zilá: Como assim?
Aurora: Alguém que aos 30 anos só terminou o segundo grau porque eu insisti,
alguém que eu tenha que regular a bebida, que eu tenha que incentivar a continuar a
procurar emprego, não é a pessoa que sonhei para mim, acho que tenho medo de ficar
só.
Zilá: Não acredito que está falando tudo isso.

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Aurora: Só você pode dizer com verdade o que sente?
Zilá: E se não for verdade o que eu digo e se eu estiver mentindo?
Aurora: Então mente até quando está só. Porque o que diz para mim é o que
você diz para você mesma. E já não importa verdade alguma, nem a realidade quando se
trata de sentimentos. Não sentimos com a razão, não vivemos apenas com os
sentimentos guardados ou expostos, vivemos com eles, vivemos sentindo (pausa)
mentindo e dissimulando.
Zilá: Mas para você tem solução. Tantos dão em cima de você na academia,
poderia arranjar outro marido bem rápido. Você não tem por que ter medo da solidão.
Aurora: O mesmo acontece contigo, não tem solução também?
Zilá: Mas eu de certa forma gosto da minha situação, não me desagrada ao todo,
eu só quero ir além. E você não precisa tolerar o que não gosta.
Aurora: Não é tolerância, é outra coisa que se mistura ao afeto. É saber que
nenhum outro homem conheço tão bem, que convivo a 3 anos e sei qualidades e
defeitos de cor e salteado, eu já estou acostumada, nenhum é tão seguro. Provavelmente
nenhum fará a comida do jeito que eu gosto, nenhum arrumará a casa ou me fará
massagens sem eu pedir só porque percebeu que estou casada ou me fará um dengo ao
perceber que estou triste ou entenderá minha TPM. Talvez nenhum me fará juras de
amor com uma sinceridade que eu acredito e é tão bom pensar que sou amada. Tem
outra coisa e talvez odiosa, mas verdadeira, nenhum que eu possa de certa forma
manipular. Isso me é muito confortável, brigo com ele porque quero mais, porém a
previsibilidade dele me deixa livre para fazer dele o que quero. Sérgio é alguém que
atende aos meus desejos, até os mais mesquinhos. Perto dele eu me agiganto, sou forte,
sou a maior mulher do mundo.
Zilá: Parece que não te conheço. Tua luz esconde trevas, mas deixa sombras
enormes pela terra. Quem é você minha irmã?
Aurora: A irmã que sempre fui, a zeladora do bem estar familiar. Ah minha irmã
você precisa de fantasias para viver, toda realidade te dói. Amor é para quem vive de
ideais, já quem vive de realidade, vive de mentiras concretas e até num sonho fluido
mente para que ao acordar não enlouqueça. Então se amo o Sérgio, isso não é
importante, o importante é estar com ele.
Zilá: Então são esses os motivos que fazem você não se separar?
Aurora: Não apenas estes, mas saber que cada homem pede um tipo de
relacionamento. Com outro homem, outra mulher eu teria que ser, com o risco de não

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ser mais a fortaleza, mas sim a criança manipulável com meias-verdades. Ser menor do
que sou, isso me apavora. Nada seria tão cômodo.
Zilá: É assim que você me vê? A criança manipulável?
Aurora: Sim e que já choraminga com o medo de que te roubem o doce.
Zilá: Todos têm medo, até você! Todos chorariam se lhe tirassem o que deseja.
Aurora: Não importa o choro, importa é sua duração.
Zilá: (fica em silêncio, olhando surpresa para a irmã)
Aurora: Tenho medo que o Sérgio tenha amantes.
Zilá: Não tenhas, ele não deve ter uma amante, (irônica) não uma para ele
cuidar, se ele precisa de cuidados e não uma para que cuide dele, se eles tem os teus.
Aurora: E as transas eventuais? A variação do cardápio?
Zilá: E isso é realmente importante?
Aurora: (Silêncio, não responde)

Toca o celular de Zilá, ela atende.

Zilá: (com entusiasmo) Oi meu amor, estava com saudades... (sem entusiasmo e
se afastando de Aurora) ah sim, certo, sei aonde é, beijinhos.
Aurora: Era o André?
Zilá: Sim, tenho que encontrá-lo em meia hora.
Aurora: Que cara de enterro é essa?
Zilá: Melhora bastante depois da maquiagem.
Aurora: Se anime! Você não vai estar com quem gosta?
Zilá: Sim por duas horas. Não faça você agora essa cara de pena, não sinta nada
por mim, eu não sinto. Estou bem, estarei com quem eu gosto por duas horas cheias de
prazer.
Aurora: A quem engana?
Zilá: A ninguém, é a mais pura verdade, o fato é que eu queria mais que duas
horas. Mas talvez tê-lo por apenas duas horas seja a coisa mais interessante. Vai que no
dia a dia ele seja um tédio? Agora vou me arrumar.
Aurora: E mamãe que vai chegar no ônibus das quinze, quem vai buscar?
Zilá: Dá tempo, vou depois do motel, estarei lá como uma filha zelosa e
carinhosa como sempre, compro até umas flores ou dou as que o André me levar.
Sempre resolvo tudo não?

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Aurora: Sempre, mas não da melhor maneira.
Zilá: A melhor maneira é aquela com a qual tudo acaba bem.
Aurora: E tudo termina bem Zilá?
Zilá: Sem sombras de dúvidas, Aurora.

Blackout.

Salvador, 17 de novembro de 2009.


2ª versão em 20 de novembro de 2009.
3ª versão em 26 de novembro de 2009

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