Reconhecidamente, o ser humano é andrógino. Os homens possuem sua contraparte
feminina, sua anima, que nos fala de sua feminilidade inconsciente. As mulheres, sua contraparte masculina, seu animus, que se refere à sua masculinidade inconsciente. O Homem Cósmico Universal, Adan Kadmon, é citado como sendo um ser andrógino, e essa imagem, é anterior a de Adão, conhecido dos textos bíblicos. Em seu hermafroditismo, existiriam Adão e Lilith, a mulher que fora criada junto ao homem, ambos saídos do barro. Durante esse período, ambos, macho e fêmea, faziam parte da psique consciente desse Ser Primordial. O masculino e o feminino eram iguais em dignidade e ambos provinham da Mãe Terra, a geradora da vida, sacatando os desígnios de Deus. Lilith era então a mulher primordial, era a primeira esposa e a outra metade de Adão, ambos eram iguais em dignidade. Consta ainda no mito, que por não querer ser subjulgada, Lilith fugiu e Deus então ouvindo os apelos de Adão, decidiu criar uma companheira para ele, uma mulher criada a partir da costela dele próprio, de onde foi feita Eva, a mãe de todos os seres humanos. Lilith passa então, a fazer parte da psique inconsciente de Adão, da sua anima. O que podemos observar é que o estado humano originário é um ser andrógino, sem diferenciação, e que é a construção do ego que separa o componente feminino do homem e o masculino da mulher, religando-os ao inconsciente, sendo que o objetivo final da existência, é a união desses dois elementos, o masculino com o feminino, o inconsciente com o consciente. A união dos opostos na psique. Temos inicialmente então, ao nascer, esses opostos fundidos na psique; ao longo da vida, com a construção do ego, o seu processo de diferenciação; e como alvo final, a união dos dois na psique, a que Jung denominou individuação. Desde os tempos mais remotos, a lua é associada à mulher e é ela quem nos dá a fertilidade, o poder de gerar tanto homens como animais e plantas. As mulheres eram tidas como sendo da mesma natureza da lua e essa associação era feita em função de seu ciclo menstrual ser de 28 dias, assim como o ciclo da lua. A Lua, a mulher, o feminino então, era o regente do mundo transitório e mutável, regendo a menstruação, o nascimento, a morte, os animais e os vegetais. Na fase crescente, a lua simbolizava o poder da fertilidade e do crescimento. Na fase minguante, ela simbolizava o poder de morte e destruição. A lua era então, o poder do feminino, aquele que tanto gerava a vida como era capaz de gerar e acolher a morte e as deusas eram um símbolo desse feminino, desse ciclo de nascimento, crescimento, destruição e morte.. Nesse período, na fase matriarcal, essa energia do feminino era representada pela imagem das deusas que se encontravam diretamente ligadas à terra, à fertilidade e à energia que gerava a vida. Ao se falar nas deusas, estamos falando de componentes arquetípicos, fatores não-humanos, à uma energia, conectada com o reino do feminino, embora atuante em ambos os sexos. Só que essa energia, contém em si tanto o aspecto positivo do feminino (lua crescente), quanto o aspecto negativo (lua minguante). A vida e a morte. O reino do feminino, é o domínio das moiras, nornas e parcas, as fiandeiras que tecem nosso destino. Em todas as culturas eram encontradas imagens da deusa como diferentes nomes em épocas e locais diferentes, Inanna, Ishtar, Astarte, Anaíta, Atar, Afrodite etc..., mas que na verdade era uma só posto que um único princípio. Elas se encontravam associadas ao próprio ciclo de reprodução dos vegetais e usualmente seu culto possuía relação com o grão e a colheita. Essas divindades eram unas em si mesmas e não possuíam maridos aos quais pertencessem: eram virgens no sentido psicológico do termo. Elas pertencem ao sistema matriarcal não ao patriarcal, e são consideradas não apenas mães de seus filhos, mas de toda a vida na terra, além de serem as responsáveis pela destruição do mundo. Com o passar do tempo, quando a cultura agrária foi deixando de ser a mais relevante, e a conquista de novos territórios foi ganhando espaço entre os povos, houve uma transição de sistema. Essa transição na Suméria é representada pela figura de Gilgamesh, quando esse repudia Inanna; sendo ainda retratada posteriormente na mitologia grega, pelo roubo do Oráculo de Delfos, que pertencia a Deusa da Terra, por Apolo o deus Sol, e pelo julgamento de Orestes, quando esse é absolvido do crime de matricídio, o crime mais hediondo até então. O que torna-se relevante para nós, é que a Deusa-Mãe era a representação do mistério que incluía vida e morte e destino. Essas qualidades que compunham o universo de uma só deusa, eram o repositório da consciência do todo, da nossa totalidade feminina. Esse universo foi arrastado para o submundo, para o inconsciente, pelo patriarcado que dividiu o poder da Grande-Mãe entre as deusas gregas, bastante posteriores às culturas da Suméria e Babilônia. Essas deusas se tornaram cada uma delas, as herdeiras de determinadas qualidades, poderes e atributos que unidos formariam o todo, o reino da Grande-Mãe. Isso quer significar, que esse arquétipo embora tendo se tornado fracionado entre as deusas, ainda faz parte de nosso mundo interior, de nosso inconsciente, do submundo psíquico. As deusas gregas são mais facilmente reconhecíveis em nós, pois fazem parte da estrutura psicológica em que vivemos na atualidade, elas são um resultado da consciência patriarcal. O padrão arquetípico das deusas gregas, que atua em nosso interior consegue de uma certa forma então, caracterizar nossas singularidades, fazendo-nos mulheres diferentes umas das outras. Através delas, acabamos por conhecer à nós mesmas.. Podemos tomar por base sete padrões míticos do feminino, que na Mitologia Grega são representados pelas Deusas: Deméter, Perséfone, Hera, Afrodite, Ártemis, Atena e Hera. Todos esses padrões são reconhecíveis nas mulheres contemporâneas. Elas se tornam atuantes por intermédio de cada uma de nós mulheres, que respondemos atuando um determinado padrão. Para que melhor possamos entender esses padrões, é interessante que nos reportemos às sete deusas, com seu mito e suas características próprias. E à essa viagem, estão todos convidados. Um arquétipo define um padrão de comportamento., ele é uma energia bastante poderosa, contudo, vale ressaltar, não humano. Em razão disso, todos os sete arquétipos do feminino, caracterizam-se por sua unilateralidade o que não os torna completos. A individualidade, o ser único, é composta por padrões individuais e não arquetípicos. Para que possamos nos tornar humanas, distintas, individuais, precisamos fugir a esse padrão, e incorporar em nós as diversas facetas que podem vir a se constituir numa única personalidade. São as nossas diferenças individuais reconhecidas e aceitas que nos apontam como um ser individuado, e para que alcancemos esse estágio de desenvolvimento individual, é necessário que consumemos internamente, o casamento quaternio: o aspecto feminino e o masculino da divindade, acompanhado de suas respectivas sombras, assim como é necessário a integração consciente de nossa própria sombra pessoal.