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CURSO DE CINEMA
A MOÇA E O PADRE
Cinema Latino-americano
A moça e o padre
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de território. Seu espectro perpassa culturas, épocas e também continentes. Seu poder
magnético convida a percepções de um não tempo-lugar.
Se, por um lado a crítica da arte precisa balizar uma obra por suas relações com
o caldo cultural de seu tempo, certas obras, por vezes, pedem uma aproximação sem
maiores condicionamentos histórico-estéticos em relação a seu significado.
Parafraseando Ariano Suassuna ao citar Dom Quixote, de Cervantes, certas obras
atingem melhor o universal por serem, paradoxalmente, muito locais. Nada mais
mineiro do que a cidadezinha de nome poético, São Gonçalo do Rio das Pedras e, no
entanto, nada mais universal, do que o drama da moça que sonha com liberdade e
paixão ao fugir com o padre do vilarejo.
Paulo José chega ao vilarejo para substituir padre morto recentemente, cujas
suspeitas de concupiscência são apontadas por outros personagens. A juventude
(correspondente físico de pulsão de vida) da mulher, Mariana, destoa numa cidade de
velhos com exceção de um comerciante iconoclasta, Vitorino, que flertou com a jovem
e cuja persona permanece um tanto misteriosa por todo o filme. Não à toa o conflito de
gerações. A vila e a própria Mariana são dominadas pelo líder local, o velho Fortunato,
interpretado por Mário Lago que vive maritalmente com a moça. O final do padre e da
moça, perseguidos por uma massa intolerante é trágico. E, no entanto, a cidadezinha
nunca conheceu ninguém mais envolvido com as pulsações de vida (vida dividida, mas
ainda assim, vida em alta intensidade) do que estes dois.
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próprio peso do tempo do velho que desaba sobre si à noite. Vida morta. E este mundo,
não exatamente por ser pequeno ou quieto demais, mas por não comportar suas
necessidades de movimento e energia, impede as possibilidades de vida plena,
compatível com sua natureza inconformada e desafiadora.
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religião como antagonista maior. A suposta pequenez dos indivíduos perante o
julgamento moral hipócrita e castrador do senso comum moralista provinciano. Mas
nenhuma aproximação descritiva poderá dar conta das sutilezas desenhadas pelo preto-
e-branco de Mário Carneiro.
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REFERÊNCIAS
http://www.contracampo.com.br/42/frames.htm
http://www.imdb.com/title/tt0059560/