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1 INTRODUÇÃO:

A Globalização é um fenômeno gerado pela necessidade da dinâmica do

capitalismo de formar uma Aldeia Global que permita maiores mercados para os países

centrais (desenvolvidos) cujos mercados internos já estão saturados.

A rigor, as sociedades do mundo estão em processo de globalização desde o

início da História. Mas o processo histórico a que se denomina Globalização é bem mais

recente, datando (dependendo da conceituação e da interpretação) do colapso do “bloco

socialista” e o conseqüente fim da Guerra Fria (entre 1989 e 1991), do refluxo

capitalista com a estagnação econômica da URSS (a partir de 1975) ou ainda do próprio

fim da Segunda Guerra Mundial.

A rápida expansão da interdependência política e econômica, especialmente

entre as nações ocidentais, gerou muita reflexão sobre a crescente inter-relação das

questões humanas. E desde então, a idéia de globalização e a avaliação de suas

conseqüências constitui um tema impossível de ser ignorado.

O que se põe em questão são as teorias a respeito da globalização, o papel

desempenhado por esse fenômeno no âmbito tecnológico e as suas conseqüências no

plano social, econômico e político.


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2 AMPLITUDE CONCEITUAL

Embora as referências à globalização tenham se tornado comuns nas duas

últimas décadas (1980 e 1990), segundo Held e McGrew (2001), o conceito em si

remonta a um período muito anterior. Sua origem está no trabalho de muitos intelectuais

do século XIX e início do século XX, desde sociólogos até estudiosos de geopolítica,

que reconheceram que a modernidade estava integrando o mundo.

Uma consulta ao Dicionário do Pensamento Social do Século XX revela que

a palavra “global”, nos anos de 1960, passou a ser usada para significar “pertencente ao

mundo” ou “mundial”, sendo que alguns estudiosos a consideravam um neologismo

desnecessário, sugerindo “mundial” como alternativa.

Mas o dicionário Webster, o Oxford English e o Larousse francês


aceitaram-na já no início dos anos 70. O Oxford cita sua utilização
mais famosa, feita por Marshall Mc- Luhan num conceito que se
tornou emblemático, o de “aldeia global”. A perspicácia de Mc-
Luhan foi captar uma propriedade da cultura moderna, ou seja, a
possibilidade de comunicação global, e afirmar que a recepção
instantânea de imagens e vozes distantes mudava o conteúdo da
cultura (Dicionário do pensamento social do século XX, 1996:340).

O termo globalização não tem uma definição única e universalmente aceita.

De acordo com Held e McGrew (2001:11), ela tem sido diversamente concebida

como ação à distância (quando os atos de agentes sociais de um


lugar podem ter conseqüências significativas para “terceiros
distantes”); como compressão espaçotemporal (numa referência ao
modo como a comunicação eletrônica instantânea vem desgastando
as limitações da distância e do tempo na organização e na interação
sociais); como interdependência acelerada (entendida como a
intensificação do entrelaçamento entre economias e sociedades
nacionais, de tal modo que os acontecimentos de um país têm um
impacto direto em outros); como um mundo em processo de
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encolhimento (erosão das fronteiras e das barreiras geográficas à


atividade socioeconômica).

Ainda segundo esses autores, o que distingue essas definições é a ênfase que

se dá “aos aspectos materiais, espaço-temporais e cognitivos da globalização” (Held e

McGrew, 2001:12). Os aspectos materiais estão relacionados aos fluxos de comércio,

capital e pessoas em todo o globo. Os diferentes tipos de infra-estrutura como a física

(transportes, sistemas bancários), a normativa (regras do comércio) e a simbólica (o

inglês é considerado a língua acadêmica mundial) têm facilitado esses fluxos. Os

aspectos espaço-temporais são, sem sombra de dúvida, os que mais têm possibilitado o

enredamento de Estados e sociedades em sistemas mundiais.

É importante ressaltar que a globalização não é apenas nem

primordialmente um fenômeno econômico, e não deve ser equacionada com o

surgimento de um “sistema mundial”. Giddens a define como a ação a distância, e a

relaciona sua intensificação nos últimos anos ao surgimento da comunicação global

instantânea e ao transporte de massa. A partir disto, como resultado direto da

globalização, emergem mudanças no “status” da tradição pré-existente, as quais

Giddens chama de ordem social pós-tradicional.


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3 CONSEQUÊNCIAS

3.1 Tecnológicas

As limitações do tempo social e do espaço geográfico já não impõem

barreiras a muitas formas de interação ou organização social. Tudo isso foi amplamente

favorecido pela multiplicação, em um curto intervalo de tempo, de redes de

computadores interligados por satélites, cabos, e fibras ópticas, viabilizando

mecanismos eletrônicos de transferência de dados/informações em alta velocidade.

A rapidez dos fluxos nessa rede mundial tornou o papel-moeda, por

exemplo, praticamente obsoleto, estimulando correntes contínuas de transações

eletrônicas que passaram a atuar 24 horas por dia, acompanhando o ciclo dos fusos

horários e operando em todos os mercados do mundo. É o non-stop das bolsas de

valores (Sevcenko, 2001).

Nesse sentido, as distâncias parecem encolher e a velocidade relativa da

interação social parece aumentar. Assim, vários acontecimentos em regiões distantes do

mundo passam a ter um impacto imediato, implicando, inúmeras vezes, um tempo

menor de reação para os que tomam decisões. Os aspectos cognitivos dizem respeito a

isso, ou seja, se expressam em uma consciência crescente do modo como os

acontecimentos distantes podem afetar os rumos locais.


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Nas palavras de Giddens (1991:69),

a estrutura conceitual do distanciamento tempo-espaço dirige nossa


atenção à complexas relações entre envolvimentos locais
(circunstâncias de co-presença) e interação a distância (as conexões
de presença e ausência). Na era moderna, o nível de distanciamento
tempo-espaço é muito maior (...) e as relações entre formas sociais e
eventos locais e distantes se tornam correspondentemente
“alongadas”. A globalização se refere essencialmente a este processo
de alongamento, na medida em que as modalidades de conexão entre
diferentes regiões ou contextos sociais se enredam através da
superfície da Terra como um todo (grifos no original, tradução
alterada).

Held e McGrew (2001:13) enfatizam que a globalização “refere-se a uma

mudança ou transformação na escala da organização social que liga comunidades

distantes e amplia o alcance das relações de poder nas grandes regiões e continentes do

mundo”.

No entanto, fazem um alerta:

não deve ser entendida como algo que prenuncia o surgimento de


uma sociedade mundial harmoniosa, ou de um processo universal de
interação global em que haja uma convergência crescente de
culturas e civilizações. (...) A consciência da interligação crescente
não apenas gera novas animosidades e conflitos, como pode também
alimentar políticas reacionárias e uma xenofobia arraigada, uma vez
que um segmento significativo da população mundial fica
basicamente excluído de seus benefícios.

Além disso, com o número cada vez maior de investimentos tecnológicos

cresce também as incertezas artificiais com relação, por exemplo, as intervenções na

natureza. Estas geram o risco de conseqüências danosas como o efeito estufa, “tecno-

epidemias”-doenças geradas por influências tecnológicas , rompimento da economia

global, desertificação em larga escala, etc.


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3.2 Culturais e político-econômicas

Do ponto de vista da economia e política a globalização seria

o intercâmbio econômico e cultural entre diversos países, devido à


informatização, ao desenvolvimento dos meios de comunicação e
transporte, à ação neocolonialista de empresas transnacionais e à
pressão política no sentido da abdicação de medidas protecionistas,
uma espécie de mercado financeiro mundial criado a partir da união
dos mercados de diferentes países e da quebra das fronteiras entre
esses mercados ou a integração cada vez maior das empresas
transnacionais, num contexto mundial de livre-comércio e de
diminuição da presença do Estado, em que empresas podem operar
simultaneamente em diferentes países e explorar em vantagem
própria as variações nas condições locais.( HOUAISS, Antônio.
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Objetiva, 2004.)

Isto significa que os países subdesenvolvidos seguem explorados pelas

potências através das empresas multinacionais, porque os lucros gerados por estas

empresas são transferidos para os seus países de origem e nada fica no país onde se

produz.

Nessa perspectiva, a globalização é um processo que também possui

dimensão bastante desagregadora e, por isso mesmo, é muito contestada, já que, ao

mesmo tempo em que as relações sociais se alongam lateralmente, as pressões para

autonomia local e identidade cultural regional se fortalecem. Portanto, está longe de ser

inteiramente benéfica em suas conseqüências. Para aqueles seres humanos que vivem

muito distante da Europa e da América do Norte, esse processo, de acordo com Giddens

(2000a:25), “tem uma desagradável aparência de uma ocidentalização – ou, talvez, de

uma americanização” (Coca-Cola, McDonald’s, CNN são exemplos de expressões

culturais americanas que aparecem em todo o mundo).


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Dessa forma o fundamentalismo vivo nas diversas tradições, nesta sociedade

globalmente cosmopolita, seria o estopim para guerras civis e político-religiosas

(fundamentalismo não é nada além da tradição defendida de maneira tradicional).

Além disso, a desigualdade gerada é tal que afasta o processo de globalização

integralmente de um caráter universal. Ou seja, visto que os países não se encontram

num mesmo patamar de desenvolvimento e industrialização a globalização não é algo

uniformemente experimentado em todo o planeta.


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4 Teorias da Globalização.

A globalização, por ser um fenômeno espontâneo decorrente da evolução do

mercado capitalista não direcionado por uma única entidade ou pessoa, possui várias

linhas teóricas que tentam explicar sua origem e seu impacto no mundo atual.

4.1 Antonio Negri

O pensador italiano Antonio Negri defende, em seu livro "Império", que a

nova realidade sócio-política do mundo é definida por uma forma de organização

diferente da hierarquia vertical ou das estruturas de poder "arborizadas" (ou seja,

partindo de um tronco único para diversas ramificações ou galhos cada vez menores).

Para Negri, esta nova dominação (que ele batiza de "Império") é constituída por redes

assimétricas, e as relações de poder se dão mais por via cultural e econômica do que uso

coercitivo de força. Negri entende que entidades organizadas como redes (tais como

corporações, ONGs e até grupos terroristas) têm mais poder e mobilidade (portanto,
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mais chances de sobrevivência no novo ambiente) do que instituições paradigmáticas da

modernidade (como o Estado, partidos e empresas tradicionais).

4.2 Benjamin Barber

Em seu artigo “Jihad vs. McWorld”, Benjamin Barber expõe sua visão

dualista para a organização geopolítica global num futuro próximo. Os dois caminhos

que ele enxerga — não apenas como possíveis, mas também prováveis — são o do

McMundo e o da Jihad. Mesmo que se utilizando de um termo específico da religião

islâmica (cujo significado, segundo ele, é genericamente “luta”, geralmente a “luta da

alma contra o mal”, e por extensão “guerra santa”), Barber não vê como exclusivamente

muçulmana a tendência antiglobalização e pró-tribalista, ou pró-comunitária. Ele

classifica nesta corrente inúmeros movimentos de luta contra a ação globalizante,

inclusive ocidentais, como os zapatistas e outras guerrilhas latino-americanas.

Está claro que a democracia, como regime de governo particular do modo

de produção da sociedade industrial, não se aplica mais à realidade contemporânea.

Nem se aplicará tampouco a quaisquer dos futuros econômicos pretendidos pelas duas

tendências apontadas por Barber: ou o pré-industrialismo tribalista ou o pós-

industrialismo globalizado. Os modos de produção de ambos exigem outros tipos de

organização política cujas demandas o sistema democrático não é capaz de atender.


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4.3 Daniele Conversi

Para Conversi, os acadêmicos ainda não chegaram a um acordo sobre o real

significado do termo globalização, para o qual ainda não há uma definição coerente e

universal: alguns autores se concentram nos aspectos economicos, outros nos efeitos

políticos e legislativos, e assim por diante. Para Conversi, a 'globalização cultural' é,

possivelmente, sua forma mais visível e efetiva enquanto "ela caminha na sua

trajetória letal de destruição global, removendo todas as seguranças e barreiras

tradicionais em seu caminho. É tambem a forma de globalização que pode ser mais

facilmente identificada com uma dominação pelos Estados Unidos. Conversi vê uma

correlação entre a globalização cultural e seu conceito gemeo de 'segurança cultural', tal

como desenvolvido por Jean Tardiff, e outros.

Conversi propõe a análise da 'globalização cultural' em três linhas

principais: a primeira se concentra nos efeitos políticos da alterações sócio-culturais,

que se identificam com a 'ínsegurança social'. A segunda, paradoxalmente chamada de

'falha de comunicação', tem como seu argumento principal o fato de que a 'ordem

mundial' atual tem uma estrutura vertical, na realidade piramidal, onde os diversos

grupos sociais têm cada vez menos oportunidades de se intercomunicar, ou interagir de

maneira relevante e consoante suas tradições; de acordo com essa teoria não estaria

havendo uma 'globalização' propriamente dita, mas, ao contrário, estariam sendo


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construídas ligações-ponte, e estaria ocorrendo uma erosão do entendimento, sob a

fachada de uma homogenização global causando o colapso da comunicação interétnica

e internacional, em consequência direta de uma 'americanização' superficial. A terceira

linha de análise se concentra numa forma mais real e concreta de globalização: a

importância crescente da diáspora na política internacional e no nascimento do que se

chamou de 'nacionalismo de e-mail" - uma expressão criada por Benedict Anderson

(1992). "A expansão da Internet propiciou a criação de redes etnopolíticas que só

podem ser limitadas pelas fronteiras nacionais às custas de violações de direitos

humanos".

4.4 Samuel Huntington

O cientista político Samuel Huntington, ideólogo do neoconservadorismo

norte-americano, enxerga a globalização como processo de expansão da cultura

ocidental e do sistema capitalista sobre os demais modos de vida e de produção do

mundo, que conduziria inevitavelmente a um "choque de civilizações".


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5 CONCLUSÃO

A globalização não é um processo único, mas uma mistura complexa de

processos, que frequentemente atua de maneira contraditória, produzindo conflitos,

disjunções e novas formas de estratificação. Revitalizando assim os nacionalismos

locais e intensificando identidades locais diretamente ligadas e em oposição às

influências globalizadoras.

O desenvolvimento tecnológico é crucial para progresso nas diversas áreas

da sociedade, sendo a globalização responsável por maior disseminação desta

tecnologia, de informações e conhecimento ela têm papel importantíssimo para o

conhecimento humano.

Suas inovações tecnológicas e facilidades generalizadas implicam a idéia de

uma comunidade mundial. No entanto, não a produz; essa comunidade é marcada

igualmente pela globalização de influências “ruins” e de influências integradoras.

As linhas de pensamento sobre a globalização são diversas como

anteriormente mencionado, ficando claro o caráter dual existente. Isto não significa que

a modernidade requer drásticas conseqüências, o que se vê de ônus são conseqüências


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do sistema vigente cujos interesses esbarram nos interesses globais de cada país e sua

respectiva cultura e soberania.

REFERÊNCIAS

GIDDENS, A. Para alem da esquerda e da direita. Sao Paulo: UNESP, 1996.

GIDDENS, A. (2000a). Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de

nós. Rio de Janeiro: Record.

HELD, D.; McGREW, A. (2001) Prós e contras da globalização. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar Ed. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS

EDUCACIONAIS. (2001). PISA 2000: relatório nacional. Brasília: INEP.

CONVERSI, Daniele. Americanization and the planetary spread of ethnic conflict : The

globalization trap. in Planet Agora, dezembro 2003 - janeiro 2004

STIGLITZ, Joseph E. Livre Mercado Para Todos. São Paulo: Campus Editora, 2006.

DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX. (1996). Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Ed.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Objetiva,

2004

http://pt.wikipedia.org/wiki/Globaliza%C3%A7%C3%A3o
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(Acesso: 22/05/08)

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