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Perfil de Composição do Biodiesel obtido dos Óleos de Dendê e de Murumuru

1
Azevedo, Fernando F.M.; 2França, Luiz F.; 2Araújo, Marilena E.; 2Correa, Nádia C. F.;
2
Machado, Nélio T.
1- Curso de Mestrado em Engenharia Química – UFPA
2- Laboratório de Operações de Separação (LAOS)
Faculdade de Engenharia Química – UFPA
Campus Universitário do Guamá, CEP: 66050-970 – Belém – PA – Brasil.
Telefone: (0-xx-91)32017246 – Fax: (0-xx-91)32017908
Email: franca@ufpa.br; emmi@amazon.com.br

Resumo
A Amazônia destaca-se com a sua enorme diversidade de espécies oleaginosas. Deve-se
explorar esta diversidade para a produção de biodiesel e assim contribuir para a auto
suficiência local em energia. Algumas propriedades dos ésteres etílicos e metílicos de
ácidos graxos são importantes para atingir as especificações de qualidade do biodiesel
produzido, como o número de cetano (NC) e a estabilidade oxidativa. O objetivo deste
trabalho foi a determinação do perfil de composição do biodiesel produzido por
transesterificação dos óleos da polpa do dendê (Elaes guineensis) e da amêndoa do
murumuru (Astrocaryum murumuru) com ocorrência no Estado do Pará. Os experimentos de
reação de transesterificação foram realizados em um reator de vidro, acoplado a um banho
termostático. As composições das amostras de biodiesel, expressas em ésteres etílicos de
ácidos graxos, foram determinadas por Cromatografia Gasosa (CG). De acordo com os
resultados das composições determinadas neste trabalho, os baixos teores de ésteres de
ácidos graxos insaturados sugerem que o biodiesel produzido utilizando como matéria prima
o óleo de murumuru, apresente um número de cetano de qualidade e alta estabilidade
oxidativa.

Palavras-chave: biodiesel, ésteres, murumuru, cromatografia gasosa, dendê

1. Introdução

O Biodiesel é um combustível definido na literatura como uma mistura de ésteres de


ácidos graxos derivados de fontes renováveis (óleos vegetais ou gorduras animais)
produzido a partir da reação de transesterificação do óleo ou gordura com um álcool mais
comumente metanol ou etanol e gerando como subproduto o glicerol.
Óleos e gorduras são constituídos predominantemente de uma cadeia de
triacilglicerídeos e como constituintes em menores proporções, ácidos graxos livres,
monoacilglicerídeos, diacilglicerídeos e outra pequena quantidade de outros constituintes
não glicerídicos (tocoferóis, carotenóides, esteróis, etc..).
A Amazônia destaca-se com a sua enorme diversidade de espécies oleaginosas,
fontes de óleos vegetais, como o dendê, cultura plenamente estabelecida e com uma ampla
produção de óleo da polpa do dendê. Explorar esta diversidade de oleaginosas nativas, para
a produção de biodiesel, pode contribuir para o abastecimento de micro unidades industriais,
conferindo auto suficiência local em energia (Freitas e Penteado, 2006).
O biodiesel é produzido a partir de matérias primas renováveis, suas composições
graxas variam inclusive com a localização geográfica. Recentemente destacou-se a
importância de verificar como os vários ésteres de ácidos graxos de diferentes fontes podem
influenciar as propriedades de combustível do biodiesel. Algumas propriedades dos ésteres
etílicos e metílicos de ácidos graxos, que são importantes para atingir as especificações de
qualidade do biodiesel produzido, como o número de cetano (NC), a viscosidade, a
lubricidade e a estabilidade oxidativa, apresentam significativas diferenças, (Knothe, 2005;
Knothe, et al., 2006).
Dentro deste contexto o objetivo deste trabalho foi a determinação do perfil de
composição do biodiesel produzido por transesterificação dos óleos da polpa do dendê
(Elaes guineensis) e da amêndoa do murumuru (Astrocaryum murumuru) com ocorrência no
Estado do Pará.

2. Materiais e Métodos

2.1 Materiais

Os óleos brutos de dendê (Elaes guineensis) e de murumuru (Astrocaryum murumuru)


foram fornecidos pela empresa Brasmazon Ltda. O catalisador hidróxido de potássio, KOH,
e o etanol foram adquiridos comercialmente com grau P.A (para análise).

2.2 Procedimento Experimental

Os experimentos de reação de transesterificação foram realizados em um reator de


vidro, acoplado a um banho termostático com temperatura de 70ºC para manter os óleos no
estado líquido, com agitação mecânica de 300 rpm, por um período de uma hora (Figura 1).
Foram utilizados em todos os experimentos uma razão molar de 1:6 (óleo / álcool). A massa
de catalisador, hidróxido de potássio (KOH), usada na reação equivale 2% da massa de
óleo. Após a reação, foi utilizado um evaporador rotativo para a recuperação do etanol
residual. Após a separação das fases a fase orgânica foi submetida a etapa de lavagem
para a purificação do biodiesel, empregando uma solução de NH4Cl a 2%.

Agitador

Sistema de
aquecimento

Coleta de
amostra

Reator

Figura 1- Reator
2.3 Análise Cromatográfica

As amostras de biodiesel dos óleos de dendê e murumuru foram acondicionadas em


frascos de vidro escuro de 200 ml, mantidos em freezer a -20°C até o embarque. As
amostras congeladas e acondicionadas em isopor foram transportadas por avião durante 12
horas.
As composições das amostras de biodiesel, expressas em ésteres etílicos de ácidos
graxos, foram determinadas por Cromatografia Gasosa (CG) no Laboratório de Engenharia
Química da Universidade Técnica de Hamburgo na Alemanha. Foi utilizado um
cromatógrafo a gás HP5890A equipado com detector de ionização de chama (FID) acoplado
a um integrador HP 3396 B, conforme metodologia aplicada por Jungfer (2000), Chuang e
Brunner (2006) e descrita a seguir. Foi utilizada uma coluna de sílica DB-5 J&W Scientific
(30m, 0,1 μm, i.d. 0,25mm). O injetor operou a proporção de 1:100 a uma temperatura de
300°C. A programação de temperatura iniciou a 100°C e a temperatura final foi de 280°C.
Foi utilizado o nitrogênio como gás de arraste.
A quantificação das frações em massa dos picos dos ésteres etílicos foi realizada
aplicando o método do padrão interno, utilizado como metodologia no Laboratório de
Engenharia Química da Universidade Técnica de Hamburgo na Alemanha (Machado, 1998;
Jungfer, 2000; Gast, 2005; Chuang e Brunner, 2006) e descrita a seguir.
O método do padrão interno é um método analítico relativo que antecipa os erros
causados por injeção de volumes desiguais. Nestas análises foi utilizado o esqualeno como
padrão interno dissolvido em hexano a uma concentração de aproximadamente 1 mg / ml .

A área do pico Ai é proporcional a concentração ci do componente, porém nem todos

os componentes produzem a mesma área de pico a uma dada concentração. Para converter
quantitativamente a área do pico em concentração deve-se aplicar um fator de correção
para cada componente específico, conhecido como fator resposta (RF), que depende do
cromatográfico, da coluna e das condições operacionais e, definido pela equação abaixo.
mi A padrão
RF =
m padrão Ai
O cálculo da concentração de um componente na amostra é obtido de acordo com a
seguinte equação
RFAi m padrão
%massa = ⋅ 100
A padrão mi

3. Resultados e Discussões

Na tabela 1 estão apresentados os fatores respostas (RF) e as composições de cada


um dos ésteres etílicos identificados no biodiesel produzido por transesterificação dos óleos
de dendê e de murumuru. Não foram considerados neste trabalho os picos que
proporcionaram o cálculo das concentrações abaixo de 1,5%. A tabela 2 apresenta as
composições em ácidos graxos de ésteres etílicos e metílicos dos óleos de murumuru e
dendê publicados na literatura.
As tabelas mostram que o biodiesel do óleo da polpa do dendê apresentou teores de
ésteres etílicos e metílicos de ácidos graxos similares aos reportados na literatura. O
biodiesel de murumuru obtido neste trabalho apresentou elevado teor de éster etílico de
ácido graxo saturado de cadeia curta (ácido láurico, C-12), uma característica de biodiesel
de óleos de sementes de palmeiras conforme reportado nos experimentos de Castro et al.
(2006). O biodiesel de murumuru obtido também apresentou um alto teor de éster etílico de
ácido mirístico (C-14), também similar aos teores publicados na literatura.

Tabela 1 – Composição do Biodiesel dos Óleos de Dendê e Murumuru


Ésteres M RF Biodiesel de Biodiesel de murumuru
(g/gmol) dendê (% massa)
(% massa)
Laurato de Etila (eC-12:0) 228,38 1,15 0,21 48,24
Miristato de Etila (eC-14:0) 256,42 1,18 1,0 32,22
Palmitato de Etila (eC-16:0) 284,48 1,21 39,80 6,56
Estearato de Etila (eC-18:0) 312,00 1,23 6,20 3,07
Oleato de Etila (eC-18:1) 310,00 1,24 41,89 7,39
Linoleato de Etila (eC-18:2) 308,00 1,39 10,89 2,52

Tabela 2 – Perfil de Composição em Ácidos Graxos de Ésteres dos Óleos de Dendê e


Murumuru da Literatura (% massa)
Ácidos Ésteres etílicos Ésteres metílicos Ésteres etílicos Ésteres metílicos
Graxos (dendê)1 (dendê)2 (murumuru)3 (murumuru)2
C-6:0 -- -- 1,2
C-8:0 -- -- 1,3 1,85
C-10:0 -- -- -- 1,85
C-12:0 0,3 -- 47,8 46,32
C-14:0 0,8 0,85 29,0 30,66
C-16:0 44,3 46,68 8,9 8,0
C-18:0 5,0 5,60 3,1 3,10
C-18:1 39,1 37,0 -- 6,65
C-18:2 10,1 9,26 -- 1,45
C-18:3 0,1 -- 6,3 --
1- May et al. (2005) 2- Serruya e Bentes (1985) 3- Castro et al. (2006)

Conforme descrito na literatura o número de cetano, NC, o qual é um indicativo


adimensional da qualidade de ignição do biodiesel, diminui com o aumento das insaturações
e aumenta com o tamanho da cadeia (grupos -CH2-), conforme pode ser verificado na tabela
3. Outra propriedade importante é a estabilidade a oxidação que afeta a qualidade do
biodiesel principalmente em decorrência de longos períodos de armazenamento. As razões
para a auto-oxidação do biodiesel estão relacionadas a presença insaturações, ligações
duplas (-CH2=CH2-), na cadeia dos ésteres (Knothe, et al., 2006).
Tabela 3 - Número de Cetano de Ésteres Etílicos e Metílicos de Ácidos Graxos

C-12 C-14 C-16 C-18:0 C-18:1 C-18:2

Metil 61,4 66,2 74,5 86,9 55,0 37,1

Etil 60,8 73,5 85,9 101 53,9 40,6


Fonte: Knothe, et al., 2006

O número de cetano do biodiesel do óleo da polpa de dendê, publicado por Knothe et


al. (2006), é de 56,2 e do óleo de côco é de 67,4, o qual apresenta composição de
saturados (laurato de etila e miristato de etila) e baixos teores de insaturados similar ao
biodiesel de murumuru.
De acordo com os resultados das composições determinadas neste trabalho, os baixos
teores de ésteres de ácidos graxos insaturados sugerem que o biodiesel produzido
utilizando como matéria prima o óleo de murumuru, apresente uma boa qualidade de ignição
e alta estabilidade oxidativa.

4. Conclusões

Este trabalho teve como objetivo a determinação do perfil de composição do biodiesel


produzido por transesterificação dos óleos de dendê (Elaes guineensis) e de murumuru
(Astrocaryum murumuru) com ocorrência no Estado do Pará.
De acordo com os resultados obtidos para a composição do biodiesel de murumuru
verifica-se que a oleaginosa representa uma opção importante para a produção de biodiesel
na região.

5. Referências Bibliográficas

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Knothe, G.; Van Gerpen, J.; Krahl, J.; Ramos, L.P. Manual de Biodiesel. Ed. Edgard Blucher,
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Harburg, Hamburg, Germany, 1998.
Serruya, H. ; Bentes, M.H.S. Composição Química e Aplicações dos Óleos de Palmáceas da
Amazônia. Anais do 5° Encontro de Profissionais de Química da Amazônia., p.113-121,
São Luis, MA, 1985.

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