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RESUMO
Este artigo analisa a possibilidade de cobrança de indenização por parte dos municípios, em
decorrência dos causados ao meio ambiente e à ordem urbnística, em virtude da
inobservância das normas que disciplinam a matéria. Indaga-se, no caso, se o município
possui legitimidade para propositura de ação civil pública para promover a respectiva
cobrança, questionando-se, ainda se esta constitui o instrumento processual mais adequado a
essa finalidade. A pesquisa tem como ponto de partida as disposições constantes da
Constituição Federal de 1988, que estabelece normas de proteção ao meio ambiente em seu
art. 225 e, em seu art. 182, cuida das normas concernentes a política de desenvolvimento
urbano, afirmando que esta deverá ser executada pelo município, conforme diretrizes fixadas
em lei, visando ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes.
Palavras-chave: Ação civil pública. Dano ambiental. Dano à ordem urbanística. Indenização.
Legitimidade.
1
Doutoranda em Direito Constitucional (UNIFOR – Fortaleza), Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais
(UMSA, Buenos Aires), Mestre em Direito Constitucional (UNIFOR – Fortaleza), Especialista em Direito
Público (UFC – Fortaleza), Procuradora do Município de Fortaleza e membro do Conselho Consultivo do
Instituto Brasileiro de Advocacia Pública - IBAP.
2
ABSTRACT
This paper analyses the possibility of compensation claims by the cities, as a result of
damages caused to the environment and the urbanistic order, due to the noncompliance to the
norms that discipline this matter. It is questioned, in this case, if the city has the legitimacy to
propose public civil action to promote such claims. It is also questioned if these constitute the
most appropriate procedural instrument to this end. The research is based on the dispositions
of the 1988 Federal Constitution, which establishes environment protection norms in its 255th
article and, in its 182nd article deals with the norms concerning urban development policy,
stating that this shall be executed by the city, according to directives set by law, with the goal
to order the full development of the social functions of the city and to guarantee the well-
being of its inhabitants.
INTRODUÇÃO
Com o advento da Constituição Federal de 1988 e a nova ordem jurídica por ela
implantada, resta incontroversa a competência dos Municípios para a defesa do Meio
Ambiente por meio da interposição de Ação Civil Pública.
O art. 1º, inciso I e III da Lei nº 7.437/85, Lei da Ação Civil Pública, autoriza o
ajuizamento de ação civil pública por danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente
e à ordem urbanística.
A legitimidade para propositura da ação civil pública por parte do município
fundamenta-se nas disposições constantes do art. 5º da citada Lei. Salienta-se, porém, que o
município não é o único legitimado para a propositura da ação civil pública, podendo ajuizá-
la o Ministério Público, a União, os Estados, o Distrito Federal e o os Municípios, a autarquia,
empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista, a associação que,
concomitantemente esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil e a
Defensoria Pública.
Os dispositivos acima referidos são bastante claros e evidenciam o cabimento de
Ação Civil Pública para proteção do meio ambiente e da ordem urbanísitca, bem como
afirmam a legitimidade dos entes do Poder Público, Estados , Municípios e União para
propor a sobredita ação.
De mais a mais, com o advento da Lei n. 10.257/2001, o Estatuto das Cidades,
consagrou-se a ação civil pública como instrumento próprio para a proteção e preservação da
ordem urbanística, conforme alteração introduzida pelo art. 53 da referida Lei. Portanto,
3
considerando-se que cabe ao Poder Público a defesa do meio ambiente (art. 225, caput, CF),
e que o Município compõe o Poder Público (arts. 1º e 18, CF), é inconteste a competência da
municipalidade para intentar a ação civil pública, inclusive em sede de cautelar, tendo em
vista o disposto no art. 54 da Lei nº 10.257/2001 que deu nova redação ao art. 4º da Lei nº
7.347/1985.
Este artigo tem como objetivo geral investigar se os danos causados ao meio ambiente
e à ordem urbnística são passíveis de indenização, em decorrência da inobservância da
legislação que disciplina a matéria. E, como objetivo específico, indagar sobre a possibilidade
de ajuizamento da ação civil pública pela municipalidade, para exigir do responsável o
cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer, seja para proceder a recuperação de dano
causado ao meio ambiente e à ordem urbanística, seja para fazer cessar esse dano.
Questiona-se, portanto, se a ação civil pública constitui instrumento hábil para
exigência de indenização por danos ambientais e urbanísticos.
Em primeiro é necessário salientar que esta pesquisa possui fins apenas descritivos e
natureza qualitativa, tendo sido realizada com base na legislação federal e municipal, bem
como na doutrina. Em segundo, quanto ao resultado ela é pura, não se propondo a promover
ou sugerir transformações no objeto analisado, destinando-se, portanto, ao conhecimento.
Adota-se, no caso, o método qualitativo.
A proteção ao meio ambiente é o primeiro item deste artigo. Em seguida, analisa-se a
proteção à ordem urbanística, para, no terceiro item, destacar a importância do licenciamento
ambiental e, por último, a importância das normas urbanísticas.
De acordo com Meirelles, os entes estatais legitimados a propor ACP devem-no fazer
tendo em vista a proteção de interesses diretamente ligados às suas atividades e
competências.2
2
MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança. São Paulo: Malheiros, 27ª edição, 2005, p.173, nota 1, p.
173
4
Assim, considerando-se que cabe ao poder público a defesa do meio ambiente (art.
225, caput e § 1º da CF/1988), e que o município constitui entidade federada com status e
autonomia igual aos demais entes políticos, nos termos dos arts. 1º e 18 da Constituiçaõ
Federal de 1988, é inconteste a competência da municipalidade para promover a ação civil
pública. Ademais, havendo ofensa à ordem pública municipal, indiscutível não só a
competência, como também a obrigação do município de propor esta ação.
Vale salientar que, embora o texto constitucional disponha de forma bastante
abrangente sobre o tema meio ambiente, seu conceito encontra-se delineado no art. 3º, inciso
I, da Lei nº 6.938, de 1981, que regulamenta a Política Nacional do Meio Ambiente, cuja
redação assevera que é considerado meio ambiente o conjunto de condições, leis, influências
e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas. A legislação brasileira acolheu um conceito amplo de meio ambiente, na
medida em que reconhece seus elementos naturais, artificiais e culturais.3
Segundo Meirelles, o meio ambiente deve ser compreendido como,
O direito ao meio ambiente sadio, conforme anota Santiago Felgueras, foi reconhecido
pela primeira vez em 1972, consubstanciado no Princípio I da Declaração de Estocolmo, que
alude ao direito fundamental do homem de desfrutar de condições de vida adequadas em meio
ambiente de qualidade:
3
LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2ª edição, rev., atual. e ampliada., 2003, p. 91.
4
Hely Lopes Meirelles. Ob. cit., p.167
5
FELGUERAS, Santiago. Derechos Humanos y Médio Ambiente. Buenos Aires: Ad-Hoc SRL, 1996, p. 31-32.
(O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e a desfrutar de condições de vida adequadas em
um mundo de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, e tem a solene obrigação
de proteger e melhorar o ambiente para as gerações presentes e futuras).
5
natural, preservando a harmonia nas relações entre o homem e a natureza. Pode-se concluir,
por conseguinte, que o princípio referido acima abriga em seu núcleo não só com a proteção
do meio ambiente, mas, sobretudo a preocupação com os direitos humanos.
Salienta-se, ainda, que embora o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado não esteja inserido no catálogo do art. 5º da Constituição, tal fato não retira seu
caráter de fundamentalidade, uma vez que o § 2º do aludido artigo consiste em uma cláusula
aberta ou de não tipicidade dos direitos fundamentais, como o afirma Canotilho, por permitir
a inclusão de novos direitos.6
No entendimento de Medeiros, a cláusula de abertura inserida no § 2º do art. 5º
da Constituição Federal de 1988, possibilita o reconhecimento de outros direitos
fundamentais, ainda que não expressos na Constituição, bem como daqueles que são
expressos, porém, não constam do catálogo do art. 5º.7
Schafer explica que essa textura aberta dos direitos fundamentais é que permite
a incorporação de novos direitos fundamentais ao rol constante da Constituição, em virtude da
evolução da consciência política e jurídica da sociedade.8 O referido autor afirma ser esta a
primeira conseqüência da adoção de um conceito material de direitos fundamentais, sendo a
segunda a aplicação do regime específico dos direitos, liberdades e garantias a todos os
direitos fundamentais, quer constem ou não do catálogo formal, destacando que a cláusula de
abertura constitui princípio destinado a maximização da esfera de proteção desses direitos e
não a imposição de restrições.9
A norma constitucional constante do art. 5º, § 2º, da Constituição Federal
brasileira de 1988, permite efetuar o reconhecimento da existência de direitos fundamentais
oriundos de leis e das regras de direito internacional, ensejando que estes tenham maior
alcance.
É possível concluir, portanto, que o constituinte de 1988, ao tratar dos direitos
fundamentais, dentre eles o direito ao meio ambiente, construiu um sistema compatível com o
princípio democrático, que viabiliza a concessão de novos direitos fundamentais aos cidadãos.
A Constituição Federal de 1988 conferiu à União, em seu art. 21, incisos XX e XXI,
competência para disciplinar o desenvolvimento urbano, inclusive no que concerne à
habitação, saneamento básico, transportes urbanos, além do sistema nacional de viação.
Demais disso, a Constituição de 1988 é inovadora também por ter tratado pela
primeira vez de forma expressa da matéria urbanística e, seguindo a técnica da repartição de
competências inerente a um Estado federado, como é o caso do Estado brasileiro, reservou à
União a competência para estabelecer normas gerais sobre direito urbanístico, como se
verifica em seu art. 24, inciso I e § 1º.
6
CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional. Coimbra: Livraria Almedina, 5ª edição, 1992, p. 539.
7
MEDEIROS, Fernanda Luíza Fontoura de. Meio Ambiente: direito e dever fundamental. Porto Alegre: Livraria
do Advogado Editora, 2004, p. 84.
8
SCHAFER, Jairo. Classificação dos Direitos Fundamentais: do sistema geracional ao sistema unitário. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2005, p. 36.
9
SCHAFER, Jairo. Ob. cit., p. 37.
6
10
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 13ª edição, 2003, p.
517.
11
GASPARINI, Diógenes. O Estatuto da Cidade. São Paulo: Editora NDJ, 2002, p. 23.
12
SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 2006, p. 61.
7
13
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros Editores, 4ª edição, rev. e
atual., 2003, p. 20.
14
SILVA, José Afonso da. Ob. cit., p. 21.
15
SILVA, José Afonso da. Ob. cit., p. 81.
8
Art. 14
.................................................................................................................
§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros. O Ministério
Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de
responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
de seus órgãos e agentes, possa analisar a possibilidade de sua implantação ou não. Vale
destacar que o órgão ambiental deverá exigir o estudo ambiental apropriado para determinar a
viabilidade ou não da implantação de um determinado empreendimento ou atividade.
Sendo o empreendimento ou a atividade instalado sem a licença ambiental e, por
conseguinte, sem análise do necessário estudo ambiental, deixam de serem avaliados e
mensurados eventuais danos, perdendo-se com isso a possibilidade de se exigir sua
recuperação ou até mesmo de se obstar a concessão da licença, se constatada a
irreversibilidade dos mesmos.
Disso, resulta que, em sede de eventual ação civil pública será necessária a realização
de perícia judicial para identificação dos danos causados ao meio ambiente, assim como sua
extensão, a possibilidade de recuperação e a identificação das medidas mitigadoras.
18
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 4ª edição, 2000, p. 134.
10
CONCLUSÃO
REFERÂNCIAS
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000.
CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito Constitucional. Coimbra: Livraria Almedina, 5ª edição,
1992.
GASPARINI, Diógenes. O Estatuto da Cidade. São Paulo: Editora NDJ, 2002.
LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2ª edição, rev., atual. e ampl., 2003.
FELGUERAS, Santiago. Derechos Humanos y Médio Ambiente. Buenos Aires: Ad-Hoc SRL,
1996.
MEDEIROS, Fernanda Luíza Fontoura de. Meio Ambiente: direito e dever fundamental.
Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2004.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 13ª
edição, 2003.
MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança. São Paulo: Malheiros, 27ª edição, 2005.
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Instituições de Direito Ambiental. São Paulo: Editora Max
Limonad, 2002.
SCHAFER, Jairo. Classificação dos Direitos Fundamentais: do sistema geracional ao
sistema unitário. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2005.
SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 2006.
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros Editores, 4ª
edição, rev. e atualizada, 2003.