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Beijos & Névoas

Contos

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.


Beijos & Névoas, Copyright© 2010

Celly Monteiro
Didi Oito Dedos
Jossi Borges
Mia Hertz
Rebis Kramrisch
Telyka Madelynne

Publicação abril de 2010


Arte Digital:
Jossi Borges e Snake Eye’s
Este livro não pode ser reproduzido ou usado em inteiro ou
em parte de forma alguma, sem a permissão expressa dos autores.
Entre névoas e sombras, grandes mistérios e
amores profundos esperam por você.
Trazendo o clima épico dos grandes mitos, Celly Monteiro nos conta duas
histórias, em que a magia dos deuses e o encantamento das bruxarias não
conseguiu destruir um amor puro e forte, e o encontro de duas almas
destinadas a ficarem juntas.

No seu conto, Didi Oito Dedos nos prende à sua trama de suspense, na qual
um pai de família desesperado se vê envolvido por uma teia diabólica de
eventos estranhos, dos quais uma casa maldita é a causadora.

Jossi Borges traz agora um conto romântico-sobrenatural, em que uma moça


é levada, através da hipnose, a conhecer uma outra vida, de outra mulher... e
auxiliar seu espírito perturbado. Porém, não sabia as consequências
assustadoras que esse mergulho no passado lhe traria...

Mia Hertz surpreende novamente, com dois contos erótico-sobrenaturais.


Mocinhas audaciosas, sonhos de luxúria, homens agressivos e cheios de
rudeza... homens-felinos em um mundo pós-apocalíptico e muita sensualidade.

Rebis Kramrisch traz uma doce história de magia, onde a delicadeza de um


amor trasnpõem os limites da razão e une dois corações diferentes... No
segundo conto, uma fantasia juvenil que se torna real, quando o amigo
espiritual de Aline a visita em seu décimo-sexto aniversário, fazendo-lhe uma
surpresa inesquecível.

E ainda nos traz uma história em quadrinhos, "Delírio de Outono", plena de


beleza e poesia.

Telyka Madelynne traz "Mulher de Fases", um conto moderno ambientado na


florestra amazônica. Alcina é uma mulher corajosa, forte e bonita, mas sofrida.
Após um relacionamento insatisfatório com um homem cruel, ela encontra o
verdadeiro amor às margens do rio... em um amante misterioso, belo,
másculo... que um dia desaparece sem deixar rastros.

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Edição: Amor & Livros Digital - 104 páginas

OBS. No presente e-book, você vai encontrar o conto de Rebis


Kramrisch, “Samhain”.
Dia das Almas
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O Bar de Green Man estava adornado com enfeites espalhafatosos e


animados como se tivessem vida própria; abóboras iluminadas por velas eram
as fontes de luz que davam um ar aconchegante ao lugar; tigelas de cristais
translúcidos, repletas de doces de formas engraçadas, estavam a disposição nas
mesas espalhadas pelo salão do bar; a garçonete de curvas voluptuosas corria
de um lado ao outro alegremente, equilibrando a si mesma em altos saltos
agulhas enquanto fazia malabarismo com uma grande e pesada bandeja de
prata com várias canecas enormes de Stout, a cerveja escura irlandesa, cuja
espuma cremosa transbordava farta pelas bordas.

Após um ano de intensas lutas contra as forças das Trevas, que custou
muitas vidas e muito sofrimento, o Povo Místico voltava a viver uma vida
tranquila, sem medos e sem receios. As forças do mal foram dissipadas e a Paz
instaurada. Portanto, tudo agora era motivo de comemoração! E a
comemoração era ainda maior quando a ocasião era muito especial. No caso,
não havia data comemorativa mais importante para o Mundo Mágico do que
o All Hallows Eve, a Noite de Todos os Santos.

Neste primeiro ano sem a ameaça das Forças do Mal e seu Exército das
Trevas, homenageavam-se os mortos, especialmente aquele que morreram na
guerra, com respeitosa alegria. Alegria, sim, pois a morte faz parte da vida, e
graças aos sacrifícios de muitos, milhões agora podem continuar a viver e
perpetuar a força daqueles que deram suas vidas em prol de algo tão valioso
quanto a Paz e a Liberdade. Lastimar-se seria desonrar aqueles que entregaram
suas vidas para que as vidas de outros prosseguissem harmoniosamente.
Havia, sim, a saudade, mas a alegria era uma silenciosa obrigatoriedade para
honrar e agradecer aos mortos por seus sacrifícios.

Já passava da meia-noite e a festa não dava ares de terminar, muito pelo


contrário. As pessoas dentro do Green Man cantavam em coro desafinado,
riam, gargalhavam, algumas dançavam. Um irlandês de juba vermelha, tão alto
quanto largo, sobraçava o outro mais mirrado, e ambos, muito entusiasmados,
puxavam o coro com as faces rubras e os olhos estatelados devido a algumas
dezenas de canecas de cerveja. O bar era a materialização da alegria. As
pessoas se divertiam de forma saudável, felizes e aliviadas por poderem
retornar as suas vidas, comemorando cada segundo de Paz que lhes fora
concedido após anos de segregação racial e liberdade tolhida e vigiada.

Mas, para ela, toda essa alegria já havia se excedido... Ninguém havia
percebido sua repentina desolação. Despediu-se silenciosamente de todos com
um sorriso triste em seu rosto cansado, correndo seus olhos dourados por
aquela turba de boêmios, já com a mão na maçaneta da porta de saída.

Ganhou a rua deserta em menos de um segundo. As risadas, falações e


músicas ficaram abafadas quando a porta bateu as suas costas. O ar estava
álgido. Ainda era Outono, mas as estações nunca mais seriam as mesmas após
a guerra que violentou até mesmo a natureza da Terra. Uma rajada de vento a
fez tremer e se encolher, balançando seus cachos avermelhados que caíam
soltos às suas costas. Uma névoa se formava com sua respiração. Maeve
ergueu seus olhos para o céu parcialmente encoberto, onde ainda era possível
ver uma formosa e imponente lua cheia e algumas estrelas que cintilavam
como diamantes ao fogo. As nuvens finas que cobriam boa parte do céu
noturno anunciavam uma chuva igualmente fina que, provavelmente, se
condensaria em cristais de gelo com a atmosfera anormalmente fria pr’aquela
época do ano.

O luar intenso iluminava bucolicamente a principal cidade do Mundo


Mágico, que fora totalmente destruída e que agora gabava-se de seu
renascimento como se jamais tivesse tombado alguma vez. Os lampiões das
calçadas brilhavam como lágrimas na noite, um vapor produzido por seu
próprio calor pairava e se dissolvia no ar acima deles. Maeve, de cabeça baixa
e braços cruzados com força sobre o peito, caminhava decidida, em passos
firmes. Seus sapatos baqueavam os paralelepípedos dispostos lado a lado no
chão. Seus passos e sua respiração forte juntavam-se aos sons naturais da
noite, ao vento que cortava as copas de árvores e telhados. Nuvens mais
lanosas passavam apressadas sob a lua, criando sombras movimentadas pelo
caminho.

Maeve, sem se importar com o frio que a castigava, subia com


perseverança a colina que começava após o término das construções de
tijolinhos maciços que caracterizavam a cidade que se parecia com um vilarejo
medieval. Os lampiões se escasseavam e seu caminho começava a ser
iluminado apenas pelo luar. Apesar do céu ter sido encoberto por nuvens de
chuva, a lua cheia jogava seus fortes raios sobre aquele manto lanoso que
refletia e potencializava sua luz, tornando a noite quase tão clara quanto o
amanhecer do dia.

Do alto da colina do pequeno Castelo podia se avistar toda a extensão


da cidade mística e sua floresta densa. Correndo os olhos pela área a sua volta,
Maeve via algumas fogueiras¹ crepitando ao longe, nas pequenas propriedades
rurais da cercania urbana. Olhou para trás, para o vilarejo que podia ser
avistado quase na sua totalidade daquela colina. Viu sem alardes vultos de luz
prateada2 que deslizavam pelas calçadas e ruas desertas. Já não era mais
possível ouvir qualquer ruído do Green Man. O vento gelado que soprava
insistentemente era o único a ressonar por ali. Maeve, contemplativa, voltou-
se para frente, abandonando a cidadezinha as suas costas.

O vento frio fazia ir e vir os seus cachos. Olhava a imensidão escura


que se desnudava a sua frente. Ela estava distante, absorta em seus
pensamentos, mal ouvindo os passos mansos e cautelosos que se
aproximavam, amassando a grama quase seca pela geada atemporal. Sentiu
que alguém parou próximo. Um calafrio percorreu seu corpo e que não foi
provocado pela temperatura que caia vertiginosamente. Sua respiração se
alterou e, sabendo que de nada lhe adiantava fugir – pois, por mais que
quisesse, não poderia fugir de si própria, de seus sentimentos, de seu coração...
– com certo temor, virou-se sobre o ombro e o calafrio gelou seu peito.

— M-Michael...

Michael Collins apenas deu um leve sorriso sarcástico, uma de suas


marcas registradas, desviando seus olhos para a ponta de seus sapatos.
Cabelos negros e longos caiam por seu rosto, ocultando parcialmente sua
fisionomia abatida. O ex-revolucionário do Mundo Mágico estava mais magro
e pálido do que de costume. Enfim, respondeu:

— Eu não me importaria de passar toda a noite aqui, mas prefiro não


ser mais ignorado por você, Maeve...

— Eu não... – Maeve interrompeu-se, voltando-se tristemente para o


horizonte noturno.

O silêncio dela o machucava, ele se permitia admitir isso. A sua vida


inteira fora forjada para derrotar as Trevas custasse o preço de sua alma se
necessário, e jamais poderia permitir que qualquer coisa ou até mesmo alguém
desviasse sua atenção e suas energias desse objetivo. Agora que tudo havia se
acabado, ele se permitia viver aquilo que seu coração desejava...

Olhou para o céu recoberto por nuvens que se tornaram densas,


ocultando a lua cheia que ainda refletia seus raios sobre elas, deixando a noite
clara. O frio se intensificou ainda mais, fazendo com que sua respiração
formasse uma neblina tênue a sua frente. Logo começaria a nevar...

— O senhor não quis participar das comemorações? – Perguntou


Maeve, sonsamente, apenas para quebrar aquele silêncio que a incomodava.
Collins voltou sua atenção à mulher. Perdia-se em divagações enquanto
observava Maeve, que parecia se proibir de lhe dirigir um olhar que fosse.
Passados alguns minutos, achou por bem responder a pergunta dela.

— Eu não seria bem vindo... Mesmo que tudo tenha se esclarecido,


jamais serei perdoado por ter levado tão longe tudo aquilo que o nosso líder
planejou por tantos anos...

—...Porque se a morte é a última opção desesperada, então é possível


tomar outras atitudes e tentativas. A morte é o fim, não há segunda chance! –
Maeve respondeu, como se a completar os pensamentos de Collins, com um
tom rancoroso em sua voz.

Ele inspirou profundamente, demonstrando todo o seu pesar... O preço


de sua extrema lealdade ao líder da resistência e herói do Povo Místico,
William Lamport, seria a cruz que carregaria por toda a eternidade em solo
acidentado; sabia disso e não buscaria modificar essa consequência que previu
e aceitou... Mas jamais previu que seu coração reclamaria pelo perdão de
alguém.

— Já falamos sobre isso... carregar o peso desse ato para sempre é o


pior castigo que alguém poderia ter! Mas a guerra requer grandes e dolorosos
sacrifícios. O de Lamport foi sua vida, o meu é o assassinato dele!

Por um momento, ao ver Maeve passiva, Collins pareceu se desesperar


e sua voz saiu próximo de um suplício.

— Você conhece a verdade, Maeve... a entende... por que é tão difícil,


então, de aceitá-la?!

O céu tornou-se ainda mais branco quando a chuva fina começou a


cair, mas o ar frio era tanto que condensava as gotículas muito antes de elas
tocarem o chão. Então, delicados flocos de neve caiam lentamente e logo tudo
se tornou esbranquiçado. Sobre as duas figuras solitárias no alto da pequena
colina, os flocos começaram a se acumular em seus cabelos e ombros, mas
elas não pareciam ligar para isso.

— Todos sabem da verdade... foi com muito custo que todos a


entenderam... mas, aceitar?! Francamente, Sr. Collins, isso é quase
inconcebível!

— Dói ouvi-la me chamar com tanta polidez, sabia? – Collins inquiria


num tom misto de tristeza e zombaria. —Eu realmente não me importo com
o que todos pensam de mim, mas você...
Maeve pareceu se irritar com aquele “mas você” e virou-se
abruptamente, em direção à cidadela. Lutava contra seus desejos que se
opunham as suas convenções. Uma luta dolorosa, mas o ‘certo’ deveria
prevalecer, sempre!

— Isso é loucura! Tudo foi uma loucura! E o que aconteceu entre nós
não foi diferente! Esqueça tudo isso! Aquilo foi um erro! UM ERRO!

A moça, em passos largos, tentou fugir, descer a colina rumo à rua de


pedras e lampiões gotejantes. Precisava sair o quanto antes dali! Não
permitiria que sua mente e sua razão fossem dominadas por emoções tolas
que teimavam em lhe contradizer, mandando-a que ficasse, que baixasse
completamente sua fortaleza que guardava seu castelo de atitudes certas,
lógicas e ponderadas. Não poderia amar um homem que fora seu mestre; fora
um agente duplo, um dos soldados do Exército das Trevas; fora o assassino
de William Lamport, mesmo que sob a lealdade inquebrantável que Collins
estava preso ao velho mago! Seu coração perdoava e entendia, mas sua mente
não conseguia aceitar tal fato!

Em ação rápida e furtiva, Collins impede que Maeve prossiga,


segurando-a pelo braço esquerdo. Temia machucá-la com a força que
empregava, mas não poderia correr mais uma vez o risco de perdê-la
novamente, de deixá-la fugir. Não lhe restava mais tempo para isso. A moça
vira-se assustada para ele, mas sua expressão de quase desespero se esvaece ao
encontrar clemência e doçura naqueles olhos negros que costumavam ser tão
frios, como se não pertencessem a um ser vivo.

— Essa maldita guerra já tirou demais de todos nós! Perdemos demais!

Collins traz Maeve para junto de si, enlaçando-a com os braços. A


moça não reage, apenas continua a olhar em expectativa, como que
hipnotizada.

— Chega de perdas! – Sussurrou Collins, em sua voz grave e lenta.

O sussurro foi calado por um beijo suave e calmo. Collins temia piorar
a situação dessa forma, mas necessitava provar seu amor por Maeve e receber
sua absolvição por ela. Ele precisava alcançar a sua paz e só poderia fazê-lo
através de sua amada.

A moça relutou e lutou temporariamente. Não queria ceder ao beijo.


Mantinha-se rija, ainda sustentando desesperadamente as muralhas de sua
fortaleza. Apesar da neve fria que caía cada vez mais intensamente, fazendo a
paisagem noturna ter um aspecto fantasmagórico, o calor da emoção os
envolvia como um manto quente, feito um abraço invisível.
O vento que soprava no alto da colina trazia consigo uma melodia
longínqua, baixa, o farfalhar da vegetação. Conforme a sensação de tempo e
espaço se esvaecia para Maeve, e o calor invisível intensificava seu abraço, a
moça foi cedendo finalmente aos apelos de seu coração, entregando-se aos
beijos e carinhos de Collins.

Suas últimas defesas caíram por terra e Maeve enlaçou com força o
pescoço do homem, escondendo seu rosto no ombro dele que, por sua vez,
num suspiro de alívio, intensificou ainda mais seus braços em torno do corpo
esguio da mulher, perdendo-se pelo emaranhado de cachos avermelhados e
absorvendo todo o perfume que conseguia; aquele mesmo perfume floral que
experimentou por uma única vez, por uma noite que poderia ter durado uma
vida inteira, mas cujas horas se passaram como segundos... Porém, essa única
noite de amor foi o suficiente para firmar para sempre em sua alma o seu
sentimento por Maeve e nem a batalha final da insana guerra foi capaz de
apagar o mínimo que fosse daquela impressão que carregaria pela eternidade.

— Eu te amo demais, Michael... – Maeve sussurrava com voz


embargada e mantinha-se firme, enlaçada ao pescoço de Collins, como a
temer que ele se fosse dali como a pequena neblina dos lampiões. —...eu
entendo o porquê das atitudes que tomou... entendo o fardo que carregava...
entendo que não havia escolha para você... eu entendo que você havia se
tornado escravo de uma lealdade cega... eu te perdôo, Michael... eu já havia te
perdoado há muito tempo!

Collins suspirou exasperado, mas aliviado. Afastou-se apenas um pouco


de Maeve para poder encará-la, enxergar dentro de sua alma através de seus
olhos dourados que luziam pelas lágrimas. Suas defesas também haviam caído
por terra e sua alma nunca esteve tão visível através de seus olhos negros que,
ironicamente, mostravam uma grande fonte de vida, como jamais estiveram
antes.

— Obrigado, Maeve... muito obrigado...

Tentando em vão conter seu pranto, Maeve responde em voz chorosa,


quase se desesperando: — Não! Por favor.. não diga isso!

— Eu preciso... – respondeu Collins, com uma expressão plácida e


feliz, que Maeve presenciou apenas uma única vez... na noite de amor que
tiveram, antes da última batalha, quando descobriu que o assassinato do líder
fora um plano arquitetado pelo mesmo.

— Você não pode! Não pode ser assim! – Dizia já em prantos,


agarrando com força as mangas da veste negra de Collins.
— Concordo... não deveria ser assim, mas...

Collins se silenciou com um novo beijo em Maeve, sentindo o gosto


levemente salgado das lágrimas da mulher que caiam em seus lábios. O vento
soprava mais insistentemente. Suas veste e seus cabelos se misturavam como
se bailassem. Os flocos de neve caiam em espiral, lançando pequenos brilhos
difusos como se portassem luz própria.

— Obrigado, Maeve... obrigado por me conceder o descanso para


minha alma, por me conceder a paz que eu buscava...

Collins afastou-se sem desviar seus olhos dos de Maeve, que


permanecia prostrada, imóvel, apenas suas lágrimas escorriam abundantes e
silenciosas por sua face corada. Ela levou suas mãos ao peito, como se
quisesse conter as batidas dolorosas de seu coração.

— Eu te amo, Maeve.. e o que sinto não mudará aqui deste lado...


obrigado por permitir que isto seja a única coisa que levarei deste mundo...

Com um sorriso singelo, Collins esvaeceu-se como uma luz que se


apaga lentamente. Sua forma se desmanchou em milhares de pequenos pontos
brancos e luminosos, subindo ao céu através da luz que surgia por uma brecha
nas densas nuvens de chuva, formando um espiral que se confundia com os
flocos de neve que ainda caiam.

Somente quando a luz finalmente se apagou e o céu voltou a ser


encoberto por nuvens compactas, que Maeve deixou-se cair de joelhos no
solo forrado pela neve que refletia a tênue claridade do céu. Suas lágrimas
escorriam de seu rosto e formavam pequeninos côncavos na neve que derretia
ao seu contato quente. O vento começava a diminuir sua intensidade e a
nevasca começava a ceder, mas ainda os flocos de neve brincavam se
espalhando leves pelo ar frio. Ao longe, na cidadela e no vale, luzes prateadas
surgiam e evaporavam, piscavam como vagalumes perdidos na imensidão
noturna.

Samhain, o Dia das Almas... era 31 de Outubro, o primeiro Halloween


após o fim da guerra entre Luz e Trevas. Muitas vidas preciosas se perderam.
Mas a Paz fora instaurada tanto aos que ainda permaneciam na Terra quanto
aqueles que haviam partido. E Michael Collins finalmente conseguiu a
redenção que tanto buscava e que apenas lhe fora possível a Paz através da luz
de Maeve.

Fim
Rebis Kramrisch – 2010.
my.Nation.Underground@gmail.com
N/A:
1 – “...fogueiras crepitando ao longe, nas pequenas
propriedades rurais” – tradição do povo Celta que ainda hoje é mantido
por moradores de áreas rurais, especialmente da Irlanda. Acendiam-se
enormes fogueiras nos topos das colinas para afugentar os espíritos maus e
aplacar os poderes sobrenaturais que controlavam os processos da natureza.

2 – “...vultos de luz prateada que deslizavam pelas calçadas...”


– Para os druidas, 31 de outubro era a noite em que Samhain voltava com os
espíritos dos mortos. Eles precisavam ser apaziguados ou agradados; caso
contrário, os vivos seriam ludibriados.

SAMHAIN - A celebração moderna de Halloween na Irlanda vem de


um antigo festival Celta chamado Samhain, que representa o final do verão.
Samhain era o primeiro dia do inverno e o final do ano pastoral.
Originalmente, o festival dos Druidas era celebrado na noite de 1º de
novembro.

Referências dos nomes:


Michael Collins – Este nome pertence ao maior revolucionário
irlandês, considerado um herói por seu povo.

Maeve – É o nome da rainha Maedbh (Maeve) de Connacht. Heroína


irlandesa, considerada a personificação da força da mulher celta.

William Lamport – Herói irlandês do século XVII, serviu de


inspiração para a criação do herói fictício Zorro.

MCN: C55EF-T6MFW-C1UTH

A presente obra encontra-se licenciada sob a licença Creative Commons.


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