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O Problema do Ser,
do Destino e da Dor
• Evolução e finalidade da alma
• A morte e a vida no além
• As vidas sucessivas
• As reencarnações e suas leis
• A lei dos destinos
• A consciência e o livre-arbítrio
• A disciplina do pensamento
• O amor
O Problema do Ser,
do Destino e da Dor
Léon Denis
Copyright 1919 by
Departamento Editorial
Rua Souza Valente, 17
20941-040 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil
C.G.C. nº 33.644.857/0002-84
I.E. nº 81.600.503
http://www.febnet.org.br/
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 3
Índice
Introdução .................................................................................... 6
Primeira Parte – O Problema do Ser ......................................... 19
I – A evolução do pensamento ........................................ 19
II – O critério da Doutrina dos Espíritos........................... 28
III – O problema do Ser ..................................................... 57
IV – A personalidade integral ............................................ 65
V – A alma e os diferentes estados do sono...................... 78
VI – Desprendimento e exterior – Projeções telepáticas .... 95
VII – Manifestações depois da morte ................................ 105
VIII – Estados vibratórios da Alma – A memória............... 120
IX – Evolução e finalidade da Alma ................................ 126
X – A morte.................................................................... 137
XI – A vida no Além........................................................ 157
XII – As missões, a vida superior...................................... 169
Segunda Parte – O Problema do Destino................................. 176
XIII – As vidas sucessivas – A reencarnação e suas leis .... 176
XIV – As vidas sucessivas – Provas experimentais –
Renovação da memória............................................ 196
XV – As vidas sucessivas – As crianças prodígio e a
hereditariedade......................................................... 258
XVI – As vidas sucessivas – Objeções e críticas ................ 278
XVII – As vidas sucessivas – Provas históricas ................... 293
XVIII – Justiça e responsabilidade – O problema do mal...... 315
XIX – A lei dos destinos..................................................... 328
Terceira Parte – As Potências da Alma ................................... 340
XX – A vontade................................................................. 340
XXI – A consciência – O sentido íntimo ............................ 351
XXII – O livre-arbítrio ......................................................... 375
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 5
Introdução
1
Carl du Prel - La Mort et l’Au-Delà, pág. 7.
2
François Sarcey de Suttières, também conhecido como Francisque
Sarcey: célebre crítico literário e conferencista inspirado. (Nota da
Editora)
3
Petit Journal crônica, 7 de março de 1894.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 8
sem luz, sem calor, sem vida.4 A alma de nossos filhos, sacudida
entre sistemas diversos e contraditórios – o positivismo de Auguste
Comte, o naturalismo de Hegel, o materialismo de Stuart Mill, o
ecletismo de Cousin, etc. –, flutua incerta, sem ideal, sem fim
preciso.
Daí o desânimo precoce e o pessimismo dissolvente, moléstias
das sociedades decadentes, ameaças terríveis para o futuro, a que
se junta o cepticismo amargo e zombeteiro de tantos moços da
nossa época; em nada mais crêem do que na riqueza, nada mais
honram que o êxito.
O eminente professor Raoul Pictet assinala esse estado de espí-
rito na introdução da sua última obra sobre as ciências psíquicas.5
Fala ele do efeito desastroso produzido pelas teorias materialistas
na mentalidade de seus alunos, e conclui assim:
“Esses pobres moços admitem que tudo quanto se passa no
mundo é efeito necessário e fatal de condições primárias, em
que a vontade não intervém; consideram que a própria existên-
cia é, forçosamente, joguete da fatalidade inelutável, à qual es-
tão entregues de pés e mãos ligados.
Esses moços cessam de lutar logo às primeiras dificuldades.
Já não crêem em si mesmos. Tornam-se túmulos vivos, onde se
encerram, promiscuamente, suas esperanças, seus esforços, seus
desejos, fossa comum de tudo o que lhes fez bater o coração até
ao dia do envenenamento. Tenho visto desses cadáveres diante
4
A propósito dos exames universitários, escrevia M. Ducros, deão da
Faculdade de Aix, no Journal des Débats, de 3 de maio de 1912:
“Parece que existe entre o discípulo e as coisas um como anteparo,
não sei que nuvem de palavras aprendidas, de fatos esparsos e opacos.
É sobretudo em filosofia que se experimenta essa penosa impressão.”
5
Étude critique du matérialisme et du spiritualisme, pour la physique
expérimentale - F. Alcan, ed., 1896.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 9
6
F. Myers - La Personnalité Humaine.
7
Estas linhas foram escritas antes da guerra de 1914-15. É preciso
reconhecer que, no curso dessa luta gigantesca, a mocidade francesa
demonstrou um heroísmo acima de todo elogio. Mas, nisso em nada
interveio a educação nacional. Devemos, pelo contrário, ver aí um
acordar das qualidades étnicas que dormitavam no coração da raça.
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*
Um tempo se acaba; novos tempos se anunciam. A hora em
que estamos é uma hora de transição e de parto doloroso. As for-
mas esgotadas do passado empalidecem-se e se desfazem para dar
lugar a outras, a princípio vagas e confusas, mas que se precisam
cada vez mais. Nelas se esboça o pensamento crescente da huma-
nidade.
O espírito humano está em trabalho, por toda parte, sob a apa-
rente decomposição das idéias e dos princípios; por toda parte, na
Ciência, na Arte, na Filosofia e até no seio das religiões, o obser-
vador atento pode verificar que uma lenta e laboriosa gestação se
produz. A Ciência, sobretudo, lança em profusão sementes de ricas
promessas. O século que começa será o das potentes eclosões.
As formas e as concepções do passado, dizíamos, já não são
suficientes. Por mais respeitável que pareça essa herança, não
obstante o sentimento piedoso com que se podem considerar os
ensinamentos legados por nossos pais, percebe-se que esse ensina-
mento não foi suficiente para dissipar o mistério sufocante do
porquê da vida.
Pode-se, entretanto, em nossa época, viver e agir com mais in-
tensidade do que nunca; mas é possível viver e agir plenamente,
sem se ter consciência do fim a atingir? O estado d’alma contem-
porâneo pede, reclama uma ciência, uma arte, uma religião de luz e
de liberdade, que venham dissipar-lhe as dúvidas, libertá-lo das
velhas servidões e das misérias do pensamento, guiá-lo para hori-
zontes radiosos a que se sente levado pela própria natureza e pelo
impulso de forças irresistíveis.
Fala-se muito de progresso; mas o que se entende por progres-
so? É uma palavra vazia e sonora, na boca de oradores pela maior
parte materialistas, ou tem um sentido determinado? Vinte civiliza-
ções têm passado pela Terra, iluminando com seus alvores a mar-
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 17
Primeira Parte
O Problema do Ser
I
A evolução do pensamento
8
O Professor Charles Richet assim o reconhece: “A Ciência nunca
deixou de ser uma série de erros e aproximações, elevando-se cons-
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10
Ver Cristianismo e Espiritismo, cap. V.
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11
Cristianismo e Espiritismo (1ª parte, passim).
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12
“Sir O. Lodge, reitor da Universidade de Birmingham, membro da
Academia Real, vê nos estudos psíquicos o próximo advento de nova
e mais livre religião (Annales des Sciences Psychiques, dezembro de
1905, pág. 765.)
Ver também Os fenômenos psíquicos, pág. 11, de Maxwell, advogado
geral na Corte de Apelação de Paris.
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13
Ver: No Invisível - “Aparições e materializações de Espíritos”.
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II
O critério da Doutrina dos Espíritos
14
Ver No Invisível, 2ª parte. Falamos aqui somente dos fatos espíritas e
não dos fatos de animismo ou manifestações dos vivos a distancia.
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15
Chamamos Espírito à alma revestida de seu corpo sutil.
16
Ver Allan Kardec - O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns.
Pode-se ler na Revista Espírita de 1860, pág. 81, uma mensagem do
Espírito do Dr. Vignal, declarando que os corpos irradiam luz obscu-
ra. Não está aí a radioatividade verificada pela ciência atual, mas que,
então, a Ciência ignorava?
Allan Kardec, em 1867, escreveu em A Gênese (os fluidos), cap. XIV,
o seguinte: “Quem conhece a constituição íntima da matéria tangível?
Talvez ela só seja compacta em relação aos sentidos e o que disso po-
deria ser prova é a facilidade com que é atravessada pelos fluidos es-
pirituais e pelos Espíritos, aos quais não opõe mais obstáculos do que
os corpos transparentes aos raios da luz.
Tendo como elemento primitivo o fluido cósmico etéreo, a matéria
tangível deve poder, desagregando-se, voltar ao estado de eterização,
assim como o diamante, o mais duro dos corpos, pode volatilizar-se
em gás impalpável. A solidificação da matéria não é, na realidade,
mais do que um estado transitório do fluido universal, que pode vol-
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18
Ver No Invisível.
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19
Os fatos não têm valor sem a razão que os analisa e deles deduz a lei.
Os fenômenos são efêmeros; a certeza que nos dão é apenas aparente
e sem duração. A certeza só existe no espírito, as verdades únicas são
de ordem subjetiva, a História no-lo demonstra.
Durante séculos acreditou-se, e muitos crêem ainda, que o Sol nasce.
Foi preciso descobrir-se pela inteligência o movimento da Terra, ina-
preciável para os sentidos, para se compreender o regresso dos mes-
mos pontos à mesma posição em relação a ele. Que é feito da maior
parte das teorias da Física e da Química? Certo, pouco mais há do que
as leis da atração e da gravidade e, ainda assim, talvez só o sejam para
uma parte do universo.
Por conseguinte, o método que se impõe é: 1º- a observação dos fatos;
2º- a sua generalização e a investigação da lei; 3º- a indução racional
que, além dos fenômenos fugitivos e mutáveis, percebe a causa per-
manente que os produz.
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Ver as comunicações publicadas por Allan Kardec em O Livro dos
Espíritos e em O Céu e o Inferno; Ensinos Espiritualistas, obtidos por
Stainton Moses. Indicamos também Le Problème de 1'Au-Delà (Con-
seils des Invisibles), coleção de mensagens publicadas pelo general
Amade. Leymarie, Paris, 1902; as comunicações de um “Envoyé de
Marie” e de um “Guide Spirituel” publicadas na revista L'Aurore, da
duquesa de Pomar, de 1894 a 1898; as recolhidas por Mme. Krell com
o título Révélations sur ma vie spirituelle; La Survie, coleção de co-
municações obtidas por Mme. Noeggerath; Instructions du Pasteur B.,
editadas pelo jornal Le Spiritualisme Moderne, etc.
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21
Ver Rafael, Le Doute; Padre Marchai, O Espírito Consolador; Reve-
rendo Stainton Moses, Ensinos Espiritualistas.
O Padre Didon escrevia (4 de agosto de 1876), nas suas Letres à Mile.
Th. V. (Plon-Nourrit, edit., Paris, 1902), pág. 34: “Creio na influência
que os mortos e os santos exercem misteriosamente sobre nós. Vivo
em profunda comunhão com os invisíveis e sinto com delícia os
benefícios de sua secreta convivência.”
Em outra obra citamos os sermões de certos pastores ligados ao Espi-
ritismo. (Ver Cristianismo e Espiritismo, nota complementar nº 6.)
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Ver mais adiante, caps. XIV, XV e XVI, os testemunhos obtidos na
América e na Inglaterra, favoráveis à reencarnação.
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24
F. Myers - La Personnalité Humaine, Félix Alcan, edição de 1905,
págs. 401/403.
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25
A síntese de F. Myers pode resumir-se assim: Evolução gradual e
infinita, com estádios numerosos, da alma humana, na sabedoria e no
amor. A alma humana tira a sua força e a sua graça de um universo
espiritual. Esse universo é animado e dirigido pelo Espírito Divino, o
qual é acessível à alma e está em comunicação com ela.
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26
J. Maxwell - Les Phénomènes Psychiques, Alcan, edit., 1903, págs. 8
e 11.
27
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 417.
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*
Há outro gênero de objeção: a filosofia espírita, dizem, não
tem consistência; as comunicações em que se funda provêm as
mais das vezes do médium, do seu próprio inconsciente, ou, então,
dos assistentes. O médium em transe “lê no espírito dos consulen-
tes as doutrinas que aí se acham acumuladas, doutrinas ecléticas,
tomadas de todas as filosofias do mundo e, principalmente, do
hinduísmo”.
Refletiu bem o autor dessas linhas nas dificuldades que tal e-
xercício deve apresentar? Seria capaz de explicar os processos com
cuja intervenção se pode ler, à primeira vista, no cérebro de ou-
trem, as doutrinas que nele estão “acumuladas”? Se pode, faça-o;
então, teremos fundamentado para ver, nas suas alegações, tão-
somente palavras, nada mais do que palavras, empregadas levia-
namente e ao serviço de uma crítica apaixonada. Aquele que não
quer parecer enganar-se com os sentimentos é muitas vezes logrado
pelas palavras. A incredulidade sistemática num ponto torna-se às
vezes credulidade ingênua em outro.28
Lembraremos, antes de tudo, que as opiniões da maior parte
dos médiuns, no princípio das manifestações, eram opostas intei-
ramente às opiniões enunciadas nas comunicações. Quase todos
haviam recebido educação religiosa e estavam imbuídos das idéias
28
É notório que a sugestão e a transmissão do pensamento só podem
exercer ação em pacientes preparados para esse fim, desde muito tem-
po e por pessoas que, sobre eles, tomaram certo ascendente. Até ago-
ra, essas experiências não vão além de palavras ou de séries de pala-
vras e nunca conseguiram constituir um conjunto de doutrinas. Um
médium, ledor de pensamentos, inspirando-se, se fosse possível, nas
opiniões dos assistentes, tiraria daí, não noções precisas acerca de um
princípio qualquer de filosofia, mas os dados mais confusos e contra-
ditórios.
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29
Russell-Wallace o acadêmico inglês, na sua bela obra Os Milagres e o
Espiritismo Moderno, exprime-se assim: “Havendo, em geral, sido os
médiuns educados em qualquer uma das crenças ortodoxas usuais,
como se explica que as noções sobre o paraíso não sejam nunca con-
firmadas por eles? Nos montões de volumes ou brochuras da literatura
espiritualista não se encontra nenhum vestígio de Espírito descreven-
do anjos com asas, harpas de ouro ou o trono de Deus, junto dos
quais os mais modestos cristãos ortodoxos pensam que serão coloca-
dos, se forem para o céu.
Nada mais maravilhoso há na história do espírito humano do que o
seguinte fato: quer seja no fundo dos bosques mais remotos da Améri-
ca, quer seja nas cidades menos importantes da Inglaterra, mulheres e
homens ignorantes, quase todos educados nas crenças sectárias habi-
tuais do céu e do inferno, desde que foram tomados pelo estranho po-
der da mediunidade, deram a esse respeito ensinamentos que são mais
filosóficos do que religiosos e diferem totalmente do que tão profun-
damente lhes havia sido gravado no espírito.”
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30
Trata-se do livro Ensinos Espiritualistas, de Stainton Moses.
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31
Reproduzido pela Revue du Spiritualisme Moderne, 25 de outubro de
1901.
Cumpre se faça notar que, em casos como o de Stainton Moses, além
da escrita automática, as mensagens podem ser obtidas pela escrita di-
reta sem nenhuma intervenção de mão humana.
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Ver, para as condições de experimentação, Allan Kardec, O Livro dos
Médiuns; G. Delanne, Recherches sur la Mediumnité; Léon Denis, No
Invisível, cap. IX.
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33
Durante as sessões de Stainton Moses produziu-se o mesmo fenôme-
no: “As principais personalidades que se manifestavam com S. Moses,
dizem os relatores, anunciavam geralmente a sua presença por meio
de um som musical invariável para cada uma delas, o que permitia i-
dentificá-las.” (Anais das Ciências Psíquicas, fevereiro de 1905, pág.
91.)
34
Ver, Dr. Maxwell, advogado geral, Les Phénomènes Psychiques, pág.
164.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 49
35
Ver No Invisível, as conversações do professor Hyslop, da Universi-
dade de Colúmbia, com o pai, irmãos e tios falecidos.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 50
36
Ver No Invisível, cap. XXVI - “A mediunidade gloriosa”.
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III
O problema do Ser
37
Demonstra-lo-emos mais adiante com uma série completa de fatos de
observação, de experiência e de provas objetivas.
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38
A ciência fisiológica, à qual escapa ainda a maior parte das leis da
vida, entreviu, no entanto, a existência do perispírito ou do corpo fluí-
dico, que é ao mesmo tempo o molde do corpo material, o vestuário
da alma e o intermediário obrigatório entre eles. Claude Bernard es-
creveu (Recherches sur les Problèmes de la Physiologie): “Há como
um desenho preestabelecido de cada ser e de cada órgão, de modo
que, se considerado insuladamente, cada fenômeno do organismo é
tributário das forças gerais da Natureza; em conjunto, parecem eles
revelar um laço especial, parecem dirigidos por alguma condição in-
visível pelo caminho que seguem, na ordem que os concatena.”
Sem a noção do corpo fluídico, a união da alma com o corpo material
torna-se incompreensível. Daí o enfraquecimento de certas teorias es-
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 59
*
As provas da existência da alma são de duas espécies: morais e
experimentais.
Vejamos primeiro as provas morais e as de ordem lógica; não
obstante haverem servido muitas vezes, conservam toda a sua força
e valor.
Segundo as escolas Materialista e Monista, a alma não é mais
do que a resultante das funções cerebrais. “As células do cérebro –
disse Haeckel – são os verdadeiros órgãos da alma. Esta está ligada
à integridade delas. Cresce, decai e desaparece com elas. O gérmen
material contém o ser completo, físico e mental.”
Responderemos em substância: A matéria não pode gerar qua-
lidades que ela não tem. Átomos, sejam triangulares, circulares ou
aduncos, não podem representar a razão, o gênio, o amor puro, a
caridade sublime. O cérebro, dizem, cria a função. É caso compre-
39
A regra não é absoluta. O cérebro de Gambetta, por exemplo, não
pesava mais do que 1.246 gramas, ao passo que a média humana é de
1.500 a 1.800 gramas.
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40
Claude Bernard - La Science Expérimentale, Phénomènes de la Vie.
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41
Entendemos aqui por espírito o princípio da inteligência.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 65
IV
A personalidade integral
42
Th. Ribot - Les Maladies de la Personnalité, páginas 170 e 172.
43
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 19. Essa obra representa o
mais grandioso esforço tentado pelo pensamento para resolver os pro-
blemas do ser.
O Professor Flournoy, da Universidade de Genebra, escrevia a respei-
to desse livro: “O nome de Myers será inscrito no livro de ouro dos
grandes iniciadores, a par dos de Copérnico e Darwin, para completar
a tríade dos gênios que mais profundamente revolucionaram as noções
científicas na ordem da Cosmologia, da Biologia e da Psicologia.”
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 67
44
Ver nossa obra No Invisível, cap. XIX (passim), e G. Delanne, A Alma
é Imortal.
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45
Dr. Binet - Altérations de la Personnalité, F. Alcan, Paris, pág. 6 e 20.
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46
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 60. Ver também Camuset,
Annales Médico-Psychologiques, 1882, página 15.
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47
W, James - Principies of Psychology.
48
Dr. Morton Prince. Ver The Association of a Personality, bem como a
obra do coronel A. de Rochas, Les Vies Successives, Chacornac, ed.,
Paris, 1911, págs. 398 e 402.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 72
49
Ver No Invisível, capitulo XIX.
50
Revue Philosophique, 1887, I, pág. 449.
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51
F. Myers - La Personnalité Humaine, págs. 61 e 62.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 74
dos seus amigos, todas as vezes que aparece e que lhes é dado
se aproximarem dela. Aparece sempre nos momentos de fadiga
excessiva, de excitação mental, de prostração. Sobrevém, então,
e persiste às vezes durante alguns dias. O “eu” original afirma
sempre a sua superioridade, estando ali as outras apenas em a-
tenção a ela e para seu proveito. A nº 1 nenhum conhecimento
pessoal tem das outras duas personalidades; contudo, conhece-
as bem, principalmente a nº 2, pelas narrativas das outras e pelas
cartas que muitas vezes delas recebe, e admira as mensagens su-
tis, espirituosas e muitas vezes instrutivas que lhe trazem essas
cartas ou as narrativas dos amigos.”
Limitar-nos-emos à citação dos fatos que acabamos de trans-
crever para não nos alongarmos demais. Existem muitos outros da
mesma natureza, cuja descrição o leitor poderá encontrar nas obras
especiais.52
No seu conjunto, esses fenômenos demonstram que além do
nível da consciência normal, fora da personalidade comum, exis-
tem em nós planos de consciência, camadas ou zonas dispostas de
tal maneira que, em certas condições, se podem observar alternân-
cias nesses planos. Vê-se então emergirem e manifestarem-se,
durante um certo tempo, atributos, faculdades que pertencem à
consciência profunda, mas que não tardam a desaparecer para
volverem ao seu lugar e tornarem a mergulhar na sombra e na
inação.
52
Ver outra, as dos Drs. Bourru e Burot, Les Changements de la
Personnalité; De la Suggestion Mentale, Bibl. científ. contemporânea,
Paris, 1887 ; Binet, Les Altérations de la Personnalité; Berjon, La
Grande Hystérie chez l’Homme. Dr. Osgood Mason, Double
Personnalité, ses rapports avec l’Hypnotisme et la Lucidité.
Ver também Proceedings S.P.R., o caso da Srta. Beauchamp, estuda-
do por Morton, o de Annel Bourne, descrito pelo Dr. Hodgson e o de
Mollie Faucher observado pelo juiz americano Cain Dailey.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 75
considerar o gênio como uma neurose, quando ele pode ser a utili-
zação, em maior escala, dos poderes psíquicos ocultos no homem.
Myers, falando da categoria dos histéricos que conduzem o
mundo, emite a opinião de que “a inspiração do gênio não seria
mais do que a emergência, no domínio das idéias conscientes, de
outras idéias em cuja elaboração a consciência não tomou parte,
mas que se têm formado isoladamente, por assim dizer, indepen-
dentemente da vontade, nas regiões profundas do ser”.53
Em geral, aqueles que tão levianamente são qualificados como
“degenerados” são muitas vezes “progenerados”, e nestes sensiti-
vos, histéricos ou neuróticos, as perturbações do organismo físico e
as alterações nervosas muito caracterizadas em certas inteligências
geniais, como em outro lugar vimos (No Invisível, último capítulo),
podem realmente ser um processo de evolução pelo qual toda a
humanidade terá de passar para chegar a um grau mais intenso da
vida planetária.
O desenvolvimento do organismo humano até à sua expansão
completa é sempre acompanhado de perturbações, do mesmo modo
que o aparecimento de cada novo ser na Terra é delas precedido.
Em nossos esforços dolorosos para maior soma de vida, os valores
mórbidos transmutam-se em forças morais. As nossas necessidades
são instintos em fusão, que se concretizam em novos sentidos para
adquirir mais poder e conhecimento.
Mesmo no estado comum, no estado de vigília, emergências,
impulsos do “eu” profundo podem remontar até às camadas exteri-
ores da personalidade, trazendo intuições, percepções, lampejos
53
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 69. Acreditamos, todavia,
que no exame desse problema de gênio Myers não atendeu bastante às
aquisições anteriores, fruto das existências acumuladas, tampouco à
inspiração medianímica.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 78
V
A alma e os diferentes estados do sono
54
A visão ocular não é mais do que a manifestação externa da faculdade
visual, que tem a sua expressão mais ampla na visão interna. A visão
interior exterioriza-se e traduz-se pela ação dos sentidos, tanto na vida
física como na vida psíquica. No primeiro caso, o órgão terminal per-
tence ao corpo material; no outro caso são os órgãos do corpo fluídi-
co.
A visão no sonho é acompanhada de uma luz especial, constante,
diferente da luz do dia.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 80
55
O espírito exteriorizado pode tirar do organismo mais força vital do
que o homem normal, o homem encarnado, pode obter. Experiências
demonstraram que um espírito pode, através do organismo, exercer
maior pressão num dinamômetro do que o espírito encarnado.
56
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 204.
57
Idem, pág. 187.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 81
58
Em resumo, os frutos que a sugestão hipnótica pode e deve propor-
cionar e em vista dos quais se deve aplicar, são estes: concentração do
pensamento e da vontade; aumento de energia e vitalidade; atenção
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 82
60
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 117.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 86
61
F. Myers - La Personnalité Humaine, págs. 121 e 122.
62
F. Myers - La Personnalité Humaine, págs. 123 e 124.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 88
63
Ver No Invisível, cap. XII.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 89
64
Proceedings, S.P.R., XI, pág. 505.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 90
65
Ver Proceedings da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 91
66
J. Maxwell - Les Phénomènes Psychiques, pág. 173, F. Alcan, Paris,
1903.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 94
VI
Desprendimento e exterior – Projeções telepáticas
67
Ver Le Matin, de 23 de fevereiro de 1914.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 96
68
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 250.
69
Ver Bulletin de la Société de Psychologie Physiologique, I, pág. 24.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 97
70
Phantasms of the living, I, 267. Proceedings, VII, págs. 32 e 35.
71
Idem, II, 239.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 98
72
Ver Depois da Morte, 3ª parte; e No Invisível, cap. XI.
73
Phantasms of the Living, II, 18.
74
Proceedings, X. 332, Phantasms of the Living, II, 96 e 100.
75
Phantasms of the Living, II, 144.
76
Phantasms of the Living, II, 61.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 99
77
The Umpire de 14 de maio de 1905, reprodução feita pelos Annales
des Sciences Psychiques, julho de 1905.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 100
78
Revue Scientifique du Spiritisme, fevereiro de 1905, pág. 457.
79
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 25.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 101
80
Pode-se ler a narração desse fato na Daily Tribune, de Chicago, 31 de
outubro de 1904, e nos Proceedings da S.P.R.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 102
81
Sir William Crookes, num discurso na British Association em 1898,
sobre a lei das vibrações, declara que ela é a lei natural que rege “to-
das as comunicações psíquicas”.
Parece que a telepatia até se estende aos animais.
Existem fatos que indicam uma comunicação telepática entre homens
e animais. Ver, nos Annales des Sciences Psychiques, agosto de 1905,
págs. 459 e seguintes, o estudo bem documentado de E. Bozzano,
Perceptions Psychiques et les Animaux.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 103
VII
Manifestações depois da morte
82
Ver W. Crookes - Recherches sur les Phénomènes du Spiritisme.
83
Aksakof - Animismo e Espiritismo, págs. 620 e 621.
84
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 268.
85
Idem, pág, 280.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 107
86
Há necessidade de fazer notar que o Espírito quis aparecer com esse
“arranhão” somente para dar, por esse meio, uma prova da sua identi-
dade. O mesmo se dá em muitos dos casos que se vão seguir, em que
Espíritos se mostraram com trajes ou atributos que constituíam outros
tantos elementos de convicção para os percipientes.
87
Proceedings, X, 284.
88
Idem, X, 292.
89
Phantasms of the Living, I, 212.
90
Proceedings, X, 283.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 108
91
Proceedings, VIII, 214.
92
Proceedings, II, 95.
93
Ver Compte rendu officiel du IV Congrès de Psychologle, Paris, F.
Alcan, fevereiro de 1901, reproduzido in extenso pelos Annales des
Sciences Psychiques.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 109
94
Ver Compte rendu du Congrès Spiritualiste International de 1900,
pág. 241 e seguintes. Leymarie, editor.
95
Número de março de 1904.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 110
96
Recomendamos a leitura da obra Hipnotismo e Mediunidade, de
Lombroso. (Nota da Editora.)
97
Ver Aksakof - Animismo e Espiritismo, págs. 620 e 631.
98
Ver o caso de Mrs. Piper. Proceedings, XIII, 284 e 285; XIV, 6 e 49,
resumidos na minha obra No Invisível, cap. XIX.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 113
trinta vezes, a tal ponto que não deixou dúvida alguma no espírito
deles acerca da causa dessas manifestações.
Sucedeu o mesmo com o Prof. Hyslop, que, tendo feito ao Es-
pírito do seu pai 205 perguntas sobre assuntos que ele mesmo
ignorava, obteve 152 respostas absolutamente exatas, 16 inexatas e
37 duvidosas, por não poderem ser verificadas. Essas verificações
foram feitas no decurso de numerosas viagens efetuadas através
dos Estados Unidos para se chegar a conhecer minuciosamente a
história da família Hyslop, antes do nascimento do professor, histó-
ria a que essas perguntas se referiam.
Os Annales des Sciences Psychiques de Paris, julho de 1907,
lembram o seguinte fato, que igualmente se produziu na América
pelo ano de 1860:
“O grande juiz Edmonds, presidente do Supremo Tribunal de
Justiça do Estado de Nova Iorque, presidente do Senado dos Es-
tados Unidos, tinha uma filha, Laura, em quem surgiu uma me-
diunidade com fenômenos espontâneos, que se produziram em
volta dela e não tardaram a despertar a sua curiosidade, de tal
modo, que começou a freqüentar sessões espíritas. Foi então que
ela se tornou médium-falante. Quando nela se manifestava outra
personalidade, Laura falava por vezes diferentes línguas que ig-
norava.
Numa noite, em que uma dúzia de pessoas estavam reunidas
em casa do Sr. Edmonds, em Nova Iorque, o Sr. Green, artista
nova-iorquino, veio acompanhado por um homem que ele apre-
sentou com o nome do Sr. Evangelides, da Grécia. Não tardou a
manifestar-se na Senhorita Laura uma personalidade, que diri-
giu a palavra, em inglês, ao visitante e lhe comunicou grande
número de fatos tendentes a provar que a personalidade era a de
um amigo falecido em casa dele, havia muitos anos, mas de cuja
existência nenhuma das pessoas presentes tinha conhecimento.
De tempos a tempos a donzela pronunciava palavras e frases in-
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 114
99
Havia, entre outras pessoas, Mr. Green, artista; o Sr. Allen, presidente
do Banco de Boston; dois empreiteiros de caminhos de ferro nos Es-
tados do Oeste; Miss Jennie Keyer, sobrinha do juiz Edmonds, etc.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 115
100
Revue des Etudes Psychiques, Paris, janeiro de 1904.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 116
101
Ver No Invisível, cap. XIX.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 117
102
Phénomènes Psychiques, pág. 26.
103
No Invisível, caps. VIII, XIX e XX; Cristianismo e Espiritismo, cap.
XI.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 118
104
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 369.
105
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 297.
106
Idem, ibidem.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 119
VIII
Estados vibratórios da Alma – A memória
107
Os doutores Baraduc e Joire construíram aparelhos registradores que
permitem medir a força radiante que se escapa de cada pessoa humana
e varia segundo o estado psíquico do sujet.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 121
108
Essa lei é reconhecida em psicologia com o nome de Paralelismo
psicofísico. Wundt, nas suas Léçons sur 1'Ame (2ª edição, Leipzig,
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 122
109
Annales des Sciences Psychiques, julho de 1905, página 350.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 125
IX
Evolução e finalidade da Alma
110
Os seres monocelulares encontram-se ainda hoje aos bilhões, em cada
organismo humano.
Não foi de uma única célula que saiu a série das espécies; foi, antes, a
multidão das células que se agrupou para formar seres mais perfeitos
e, de degrau em degrau, convergir para a unidade.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 131
111
Qualquer que seja a teoria a que se dê preferência nessas matérias,
adotem-se as vistas de Darwin, de Spencer ou de Haeckel, não é pos-
sível crer-se que a Natureza, que Deus apenas tenha um só e único
meio de produzir e desenvolver a vida. O cérebro humano é limitado;
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 132
mentam cada vez mais. Com amor maior ao Poder Supremo, ela
saboreia de maneira mais intensa as felicidades da vida bem-
aventurada.
Daí em diante está intimamente associada à obra divina; está
preparada para desempenhar as missões que cabem às almas supe-
riores, à hierarquia dos Espíritos que, por diversos títulos, gover-
nam e animam o Cosmo, porque essas almas são os agentes de
Deus na obra eterna da Criação, são os livros maravilhosos em que
Ele escreveu os seus mais belos mistérios, são como as correntes
que vão levar às terras do espaço as forças e as radiações da Alma
Infinita.
Deus conhece todas as almas, que formou com o seu pensa-
mento e o seu amor. Sabe o grande partido que delas há de tirar
mais tarde para a realização das suas vistas. A princípio, deixa-as
percorrer vagarosamente as vias sinuosas, subir os sombrios desfi-
ladeiros das vidas terrestres, acumular pouco a pouco em si os
tesouros de paciência, de virtude, de saber, que se adquirem na
escola do sofrimento. Mais tarde, enternecidas pelas chuvas e pelas
rajadas da adversidade, amadurecidas pelos raios do sol divino,
saem da sombra dos tempos, da obscuridade das vidas inumeráveis,
e eis que suas faculdades desabrocham em feixes deslumbrantes; a
sua inteligência revela-se em obras que são como que o reflexo do
Gênio Divino.
X
A morte
113
Pergunta-se muitas vezes se a cremação é preferível ao sepultamento,
sob o ponto de vista da separação do Espírito. Os Invisíveis, consulta-
dos, respondem que, em tese geral, a cremação provoca desprendi-
mento mais rápido, mais brusco e violento, doloroso mesmo para a
alma apegada à Terra por seus hábitos, gostos e paixões. É necessário
certo arrebatamento psíquico, certo desapego antecipado dos laços
materiais, para sofrer sem dilaceração a operação crematória. É o que
se dá com a maior parte dos orientais, entre os quais está em uso a
cremação. Em nossos países do Ocidente, em que o homem psíquico
está pouco desenvolvido, pouco preparado para a morte, o sepulta-
mento deve ser preferido, embora dê origem, por vezes, a erros deplo-
ráveis, por exemplo, o enterramento de pessoas em estado de letargia.
Deve ser preferido porque permite ao Espírito ainda apegado à maté-
ria desprender-se lenta e gradualmente do corpo físico; mas precisa
ser rodeado de grandes precauções; os sepultamentos são, entre nós,
feitos com muita precipitação.
114
Ver Allan Kardec - O Céu e o Inferno.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 145
115
Annales des Sciences Psychiques, março de 1906, página 171.
116
Notemos mais estes testemunhos: “Outro fato que se deve assinalar e
de que fui testemunha, disse o Dr. Haas, presidente da Sociedade dos
Estudos Psíquicos de Nancy, é que, muitas vezes, poucos instantes an-
tes de morrer, alguns alienados recobram lucidez completa.”. (Bulletin
de la Société des Etudes Psychiques de Nancy, 1906, pág. 56.) O Dr.
Teste (Manuel Pratique du Magnétisme animal), declara, igualmente,
ter encontrado loucos que, na agonia, isto é, quando a consciência
passa ao corpo fluídico, recuperaram a razão.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 153
117
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 418.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 157
XI
A vida no Além
118
Ver Depois da Morte, 1ª parte (passim).
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 158
119
Ver No Invisível, 1ª parte.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 159
120
Ver A. de Rochas - Les Etats profonds de 1'Hypnose; L'Extériori-
sation de la Sensibilité; Les Frontières de la Science.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 160
O nascimento é como que uma morte para a alma, que por ela
é encerrada com o seu corpo etéreo no túmulo da carne. O que
chamamos morte é simplesmente o retorno da alma à liberdade,
enriquecida com as aquisições que pôde fazer durante a vida terres-
tre; e vimos que os diferentes estados do sono são outros tantos
regressos momentâneos à vida do espaço. Quanto mais profunda
for a hipnose, tanto mais a alma se emancipa e afasta. O sono mais
intenso confina com a primeira fase da vida invisível.
Na realidade, as palavras sono e morte são impróprias. Quando
adormecemos para a vida terrestre, acordamos para a vida do espí-
rito. Produz-se o mesmo fenômeno na morte; a diferença está só na
duração.
Carl du Prel cita dois exemplos significativos:
“Uma sonâmbula fez um dia a descrição do seu estado e sen-
tia pesar por não poder lembrar-se dele depois de acordada;
mas, acrescentava, “tornarei a ver isso tudo depois da morte”.
Considerava, pois, o seu estado de sonambulismo como idêntico
ao estado depois da morte.” (Kerner, Magikon, 41.)
“Dois Espíritos visitam um dia a vidente de Prévorst, que não
tinha em grande apreço essas visitas.
– Por que vindes a minha casa? – perguntou ela.
– Quê? – responderam com muito acerto os Espíritos – tu é
que estás em nossa casa!” (Perty, I, 280.)
O nosso mundo e o Além não estão separados um do outro;
provam-no esses fatos aos quais se podiam juntar muitos outros da
mesma ordem. Estão um no outro; de alguma sorte se enlaçam e
estreitamente se confundem. Os homens e os Espíritos misturam-
se. Testemunhas invisíveis associam-se à nossa vida, comparti-
lhando de nossas alegrias e provações.
*
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 161
121
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 395.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 167
122
Carl du Prel - Philos der Mystik.
123
Haddock - Somnolisme et Psychisme, pág. 213, extrato do “Journal de
Médecine” de Paris.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 168
124
Perty - Myst. Ercheinungen (Aparições Místicas), II, pág. 433.
Os três autores são citados pelo Dr. Pascal na sua memória apresenta-
da ao Congresso de Psicologia de Paris em 1900.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 169
XII
As missões, a vida superior
125
Os casos de curas feitas por Espíritos são numerosos; achar-se-ão
descrições deles em toda a literatura espírita. (Veja-se, por exemplo, o
caso citado por Myers (Human Personality, II, 124.) A mulher de um
grande médico, de reputação européia, que sofria de um mal a que o
seu marido não pudera dar alivio, foi curada radicalmente pelo Espíri-
to de outro grande médico. Veja-se também o caso de Mme. Claire
Galichon, que foi curada por magnetizações do Espírito do cura d'Ars.
O fato é contado por ela própria na sua obra Souvenirs et Problèmes
Spirites, páginas 174 e seguintes.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 171
Segunda Parte
O Problema do Destino
XIII
As vidas sucessivas – A reencarnação e suas leis
almas ainda não desenvolvidas subirão por sua vez a escala das
graduações infinitas por meio de reencarnações inúmeras.
Outro elemento do problema é a liberdade de ação do Espírito.
A uns, ela permite que se demorem na via da ascensão, que per-
cam, sem cuidado com o verdadeiro fim da existência, tantas horas
preciosas à cata das riquezas e do prazer; a outros, deixa-os se
apressarem a trilhar os carreiros escabrosos e alcançar os cimos do
pensamento, se, às seduções da matéria, preferem a posse dos bens
do espírito e do coração. São desse número os sábios, os gênios e
os santos de todos os tempos e de todos os países, os nobres márti-
res das causas generosas e aqueles que consagraram vidas inteiras a
acumular no silêncio dos claustros, das bibliotecas, dos laborató-
rios, os tesouros da ciência e da sabedoria humana.
Todas as correntes do passado se encontram, juntam-se e con-
fundem-se em cada vida. Contribuem para fazer a alma generosa
ou mesquinha, luminosa ou escura, poderosa ou miserável. Essas
correntes, entre a maior parte dos nossos contemporâneos, apenas
conseguem fazer as almas indiferentes, incessantemente balouça-
das pelos sopros do bem e do mal, da verdade e do erro, da paixão
e do dever.
Assim, no encadeamento das nossas estações terrestres, conti-
nua e completa-se a obra grandiosa de nossa educação, o moroso
edificar de nossa individualidade, de nossa personalidade moral. É
por essa razão que a alma tem de encarnar sucessivamente nos
meios mais diversos, em todas as condições sociais; tem de passar
alternadamente pelas provações da pobreza e da riqueza, aprenden-
do a obedecer para depois mandar. Precisam das vidas obscuras,
vidas de trabalho, de privações, para acostumar-se a renunciar às
vaidades materiais, a desapegar-se das coisas frívolas, a ter paciên-
cia, a adquirir a disciplina do espírito. São necessárias as existên-
cias de estudo, as missões de dedicação, de caridade, por via das
quais se ilustra a inteligência e o coração se enriquece com a aqui-
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 181
pouco apurados, não lhes permitiriam viver da vida sutil que reina
nessas esferas longínquas. Achar-se-iam lá como cegos na clarida-
de ou surdos num concerto. A atração que lhes encadeia os corpos
fluídicos ao planeta prende-lhes, do mesmo modo, o pensamento e
a consciência às coisas inferiores. Seus desejos, seus apetites, seus
ódios, até mesmo seu amor, fazem-nos voltar a este mundo e li-
gam-nos ao objeto da sua paixão.
É necessário aprendermos primeiramente a desatar os laços
que nos amarram à Terra, para depois levantarmos o vôo em dire-
ção a mundos mais elevados. Arrancar as almas terrestres ao seu
meio, antes do termo da evolução especial a esse meio, fazê-las
transmigrar para esferas superiores, antes de terem realizado os
progressos necessários, seria desarrazoado e imprudente. A Natu-
reza não procede assim; sua obra desenrola-se majestosa, harmôni-
ca em todas as suas fases. Os seres, cuja ascensão suas leis diri-
gem, não deixam o campo de ação senão depois de terem adquirido
virtudes e potências capazes de lhes darem entrada num domínio
mais elevado da vida universal.
*
A que regras está sujeito o regresso da alma à carne? As da a-
tração e da afinidade. Quando um Espírito encarna, é atraído para
um meio conforme as suas tendências, ao seu caráter e grau de
evolução. As almas seguem umas às outras e encarnam por grupos,
constituem famílias espirituais, cujos membros são unidos por
laços ternos e fortes, contraídos durante existências percorridas em
comum. Às vezes esses Espíritos são temporariamente afastados
uns dos outros e mudam de meio para adquirirem novas aptidões.
Assim se explicam, segundo os casos, as analogias ou desseme-
lhanças que caracterizam os membros de uma mesma família,
filhos e pais; mas sempre aqueles que se amam tornam, cedo ou
tarde, a encontrar-se na Terra, como no espaço.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 186
de dia para dia, para dar lugar a maior soma de eqüidade. É pelo
aperfeiçoamento moral e social e pela sólida educação da mulher
que a humanidade se há de levantar.
Quanto às dores do passado, sabemos que não ficam perdidas.
O Espírito que sofreu iniqüidades sociais, colhe, por força da lei de
equilíbrio e compensação, o resultado das provações por que pas-
sou. O Espírito feminino, dizem-nos os Guias, ascende com vôo
mais rápido para a perfeição.
O papel da mulher é imenso na vida dos povos. Irmã, esposa
ou mãe, é a grande consoladora e a carinhosa conselheira. Pelo
filho é seu o porvir e prepara o homem futuro. Por isso, as socieda-
des que a deprimem, deprimem-se a si mesmas. A mulher respeita-
da, honrada, de entendimento esclarecido é que faz a família forte e
a sociedade grande, moral, unida!
*
Temíveis são certas atrações para as almas que procuram as
condições de um renascimento, por exemplo, as famílias de alcoó-
licos, de devassos, de dementes. Como conciliar a noção de justiça
com a encarnação dos seres em tais meios? Não há aí, em jogo,
razões psíquicas profundas e latentes e não são as causa físicas
apenas uma aparência? Vimos que a lei de afinidade aproxima os
seres similares. Um passado de culpas arrasta a alma atrasada para
grupos que apresentam analogias com o seu próprio estado fluídico
e mental, estado que ela criou com os seus pensamentos e ações.
Não há, nesses problemas, nenhum lugar para a arbitrariedade
ou para o acaso. É o mau uso prolongado de seu livre-arbítrio, a
procura constante de resultados egoístas ou maléficos que atrai a
alma para genitores semelhantes a si. Eles fornecer-lhe-ão materi-
ais em harmonia com o seu organismo fluídico, impregnados das
mesmas tendências grosseiras, próprios para a manifestação dos
mesmos apetites, dos mesmos desejos. Abrir-se-á nova existência,
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 193
126
Os livros teosóficos, diz Annie Besant, são concordes em reconhecer
que “as encarnações são separadas umas das outras por um período
médio de quinze séculos”. (La Reincarnation, pág. 97.)
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 196
XIV
As vidas sucessivas – Provas experimentais –
Renovação da memória
127
Doutores Bourru e Burot - Lés Changements de la Personnalité.
Bibliothèque Scientifique Contemporaine, 1887.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 202
128
Ver Lancet, de Londres, número de 12 de junho de 1902.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 203
129
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 333.
130
Idem, pág. 103.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 206
131
Idem, cap. XI.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 207
132
Extraído de Le Spiritisme et l'Anarchie, por J. Bouvery, pág. 405.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 208
*
Outro ponto essencial deve prender a nossa atenção. É o fato,
estabelecido por toda a ciência fisiológica, de existir íntima corre-
lação entre o físico e o mental do homem. A cada ação física cor-
responde um ato psíquico e vice-versa. Ambos são registrados ao
mesmo tempo na memória subconsciente de tal maneira que um
não pode ser evocado sem que surja imediatamente o outro. Essa
concordância aplica-se aos menores fatos da nossa existência inte-
gral, tanto no que diz respeito ao presente, como no que toca aos
episódios do passado mais remoto.
A compreensão desse fenômeno, pouco inteligível para os ma-
terialistas, é-nos facilitada pelo conhecimento do perispírito ou
invólucro fluídico da alma. É nele que se gravam todas as nossas
impressões, e não no organismo físico composto de matéria incon-
sistente, incessantemente variável nas suas células constitutivas.
O perispírito é o instrumento de precisão que aponta com fide-
lidade absoluta as menores variações da personalidade. Todas as
volições do pensamento e todos os atos da inteligência têm nele a
sua repercussão. Os seus movimentos e os seus estados vibratórios
distintos deixam nele traços sucessivos e sobrepostos. Certos expe-
rimentadores compararam esse modo de registro a um cinemató-
grafo vivo sobre o qual se fixam sucessivamente nossas aquisições
e recordações. Desenrolar-se-ia por uma espécie de empuxo ou
abalo causado quer pela ação de uma sugestão, quer por uma auto-
sugestão, ou então em conseqüência de um acidente, como vimos.
A influência do pensamento sobre o corpo já nos é revelada
por fenômenos observáveis em nós mesmos e em volta de nós. O
medo paralisa os movimentos; a admiração, a vergonha e o susto
provocam a palidez ou o rubor; a angústia aperta-nos o coração, a
dor profunda faz-nos correr as lágrimas e pode causar com o tempo
uma depressão vital. Aí estão outras tantas provas manifestas da
ação poderosa da força mental sobre o invólucro material.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 209
133
Ver No Invisível, cap. XX.
134
Ver A. de Rochas - L'Extériorisation de la Sensibilité.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 210
135
P. Janet - L'Automatisme Psychologique, pág. 160.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 211
136
Ver Compte rendu du Congrès Spirite et Spiritualiste de 1900,
Leymarie, editor, págs. 349 e 350.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 212
137
Th. Flournoy - Des Indes à la Planète Mars, páginas 271 e 272.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 214
138
Revue Spirite, janeiro de 1907, pág. 41. Artigo do Coronel de Rochas
sobre As Vidas Sucessivas, Chacornac, ed. 1911.
139
A. de Rochas, As Vidas Sucessivas.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 216
140
A. de Rochas - Les Vies Successives, pág. 497.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 218
142
Ver A. de Rochas - Les Vies Successives, Chacornac, págs. 68 e 75.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 220
143
Ver também seu livro Les Vies Successives, páginas 123-162.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 223
144
Annales des Sciences Psychiques, julho de 1905, página 391.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 224
– Onde estás?
– No escuro.
30 de dezembro de 1904 – Existência de Ch. Mauville. Mayo
descreve uma das fases da doença que o mata; parece passar pelos
sintomas característicos das moléstias do peito; opressão, acessos
de tosse penosos; morre e assiste ao seu funeral.
– Havia muita gente no acompanhamento?
– Não.
– Que diziam de ti? Não diziam bem, não é verdade? Recorda-
vam que tinhas sido um homem mau?
(Depois de hesitar, e baixinho:) – Sim.
Em seguida está no “escuro”; o Coronel faz com que o atraves-
se rapidamente e ela reencarna na Bretanha. Vê-se menina, depois
donzela, tem 16 anos e não conhece ainda seu futuro marido; aos
18 anos encontra aquele que o há de ser, casa-se pouco depois e
vem a ser mãe. Assistimos então a uma cena de parto de realismo
surpreendente.145 A paciente revolve-se na cadeira, os membros
inteiriçam-se, o rosto contrai-se e os seus sofrimentos parecem tão
intensos que o Coronel lhe ordena que os passe com rapidez.
Tem agora 22 anos, perdeu o marido num naufrágio e seu fi-
lhinho morreu. Desesperada, afoga-se. Esse episódio, que ela já
reproduziu em outra sessão, é tão doloroso que o Coronel prescre-
ve-lhe que passe além, o que ela faz, mas não sem experimentar
violento abalo. No “escuro” em que se vê depois, não sofre, como
dissemos, quanto sofrera no “escuro” depois da morte de Ch. Mau-
ville; reencarna na sua família atual e volta à idade que tem. A
mudança é operada por meio dos passes magnéticos transversais.”
31 de dezembro de 1904 – “Proponho-me, nessa sessão, obter
alguns novos pormenores a respeito da personalidade de Charles
145
Não lhe será naturalmente revelado esse incidente, ao despertar.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 226
146
Atualmente, Racine é o seu autor predileto. Quando está acordada,
nenhuma lembrança tem de haver alguma vez ouvido falar de Mlle. de
la Vallière.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 227
147
Outro experimentador, A. Bouvier, diz (Paix Universelle de Lião, 15
de setembro de 1906): “De cada vez que o paciente torna a passar por
uma mesma vida, sejam quais forem as precauções que se tomem para
enganá-lo ou fazê-lo enganar-se, permanece sempre a mesma
individualidade, com o seu caráter pessoal, corrigindo, quando é
preciso, os erros daqueles que o interrogam.”
148
Devo dizer que vi experiências igualmente em moços.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 229
149
Essa opinião foi emitida na minha presença, quando passei em Aix,
pelos Srs. Lacoste e Dr. Bertrand.
150
Ver sobre o assunto A. de Rochas - Les Vies Successives, pág. 501.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 231
151
Annales des Sciences Psychiques, janeiro de 1906, pág. 22.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 233
152
Comunicação obtida num grupo, em junho de 1907, no Havre.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 234
153
Herodoto, Hist., T. II, cap. CXXIII; Diogenes Laerce, Vida de Pitágo-
ras, § 4 e 23.
154
Fragmento, vv. 11-12, Diógenes Laerce, Vida de Empédocles.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 237
155
Ver Petit de Julleville - Histoire de la Littérature Française, tomo
VII.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 238
Joseph Méry era pródigo nas mesmas idéias. Ainda em sua vi-
da, dizia a seu respeito o Journal Littéraire, de 25 de novembro de
1864:
“Há teorias singulares que, para ele, são convicções. Assim,
crê firmemente que viveu muitas vezes; lembra-se das menores
circunstâncias das suas existências anteriores e descreve-as com
tanta minúcia e com um tom de certeza tão entusiástico que se
impõe como autoridade. Assim, foi um dos amigos de Vergílio
e Horácio; conheceu Augusto e Germânico; fez a guerra nas Gá-
lias e na Germânia. Era general e comandava as tropas romanas
quando atravessaram o Reno. Reconhece-se nos montes e sítios
onde acampou, nos vales e campos de batalha onde outrora
combateu. Chamava-se Mínias.
Cabe aqui um episódio que parece estabelecer um bom fun-
damento de que tais recordações não são simples miragens da
sua imaginação. Um dia, em sua vida atual, estava em Roma e
de visita à biblioteca do Vaticano. Foi recebido por jovens novi-
ços, trajando longos hábitos escuros, que se puseram a falar-lhe
o latim mais puro. Méry era bom latinista em tudo quanto dizia
respeito à teoria e às coisas escritas, mas nunca experimentara
conversar familiarmente na língua de Juvenal. Ouvindo esses
romanos de hoje, admirando esse magnífico idioma, tão bem
harmonizado com os costumes da época em que era utilizado
com os monumentos, pareceu-lhe que dos olhos lhe caía um
véu; pareceu-lhe que ele mesmo já em outros tempos havia con-
versado com amigos que se serviam dessa linguagem divina.
Frases inteiras e irrepreensíveis saíam-lhe dos lábios; achou i-
mediatamente a elegância e a correção; falou, finalmente, latim
como fala francês. Não era possível fazer-se tudo isso sem uma
aprendizagem e, se ele não tivesse sido vassalo de Augusto, se
não houvesse atravessado esse século de todos os esplendores,
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 239
156
Ver Lockart - Vie de W. Scott, VII, pág. 114.
157
T. II, pág. 292.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 241
158
Reproduzida por Le Matin e Paris-Nouvelles, de 8 de julho de 1903,
com o titulo: Uma reencarnação, correspondência de Londres, 7 de
julho.
159
Revue Spirite, 1880, pág. 361.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 243
vam: “Mas, para onde queres tu ir?”, respondia: “Para longe da-
qui, para onde se está melhor do que aqui.”
Esse menino era muito sóbrio, grande em todas as ações,
perspicaz e muito obediente. Pouco tempo depois, morreu.”
O Banner of Light, de Boston, 15 de outubro de 1892, publica
a narrativa, abaixo transcrita, do honrado Isaac G. Forster, inserta
igualmente no Globe Democrat, de S. Luís, 20 de setembro de
1892, no Brooklyn Eagle e no Milwaukee Sentinel, de 25 de setem-
bro de 1892:
“Há doze anos habitava eu o Condado de Effingham (Illi-
nois) e lá perdi uma filha, Maria, quando para ela principiava a
puberdade. No ano seguinte fui fixar residência no Dakota. Aí,
nasceu-me, há nove anos, outra filhinha, a quem demos o nome
de Nellie. Assim que chegou à idade de falar, pretendia não se
chamar Nellie, mas sim Maria, que seu nome verdadeiro era o
que em tempo lhe dávamos.
Ultimamente voltei para o Condado de Effingham, para pôr
em dia alguns negócios. e levei Nellie comigo. Ela reconheceu a
nossa antiga habitação e muitas pessoas que nunca vira, mas que
minha primeira filha, Maria, conhecera muito bem.
A uma milha de distância está situada a casa da escola em
que Maria andava; Nellie, que nunca a vira, dela fez uma des-
crição exata e exprimiu-me o desejo de tornar a vê-la. Levei-a e,
quando lá chegou, dirigiu-se diretamente para a carteira que sua
irmã ocupava, dizendo-me: “Esta carteira é a minha!”
O Journal des Débats, de 11 de abril de 1912, em seu folhetim
científico cita, sob a assinatura de Henri de Varigny, um caso
semelhante colhido na obra do Sr. Fielding Hall, o qual se entregou
a longas pesquisas sobre esse assunto:
“Há cerca de meio século, duas crianças, um rapaz e uma
menina, nasceram no mesmo dia e na mesma aldeia, na Birmâ-
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 244
160
Annales des Sciences Psychiques, julho de 1913, nº 7, págs. 196 e
seguintes.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 249
XV
As vidas sucessivas – As crianças prodígio
e a hereditariedade
162
Ver C. Lombroso - L'homme de Génie.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 260
163
Ver Revue Scientifique de 6 de outubro de 1900, página 432 e Compte
rendu officiel du Congrès de Psychologie, 1900, F. Alcan, pág. 93.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 262
tenção, mas não reparei nisso. Ora, certa manhã ouço tocar nu-
ma sala contígua a mesma ária, com tanta mestria e justeza que
quis saber quem assim tomava a liberdade de tocar piano em
minha casa. Entrei na sala e vi o meu pequeno, que estava só, a
tocar a ária; estava sentado num assento alto para onde subira
sozinho e, ao ver-me, pôs-se a rir e disse-me: “Que me diz, ma-
mãe?” Acreditei que se realizava um verdadeiro milagre.”
A partir desse momento o pequeno Pepito continuou a tocar,
sem que sua mãe lhe tenha dado lições, às vezes as árias que ela
própria tocava diante dele ao piano, outras vezes, árias que ele
inventava.
Não tardou a adquirir capacidade suficiente para permitir-lhe,
no dia 4 de dezembro de 1899, isto é, com 3 anos incompletos,
tocar diante de um auditório bastante numeroso de críticos e
músicos; em 26 de dezembro, com 3 anos e 12 dias, tocou no
Palácio Real de Madrid diante do rei e da rainha mãe. Nessa o-
casião tocou seis composições musicais de sua autoria, que fo-
ram aplaudidas.
Não sabe ler, quer se trate de música ou do alfabeto; não tem
talento especial para o desenho, mas se entretém às vezes a es-
crever árias musicais, escrita que não tem, entenda-se bem, ne-
nhum sentido. É, entretanto, engraçado vê-lo pegar num papel-
zinho, pôr-lhe como cabeçalho uns rabiscos (que significam, ao
que parece, a natureza do trecho, sonata, habanera, valsa, etc.);
depois, por baixo, figurar linhas que serão a pauta, com uma
borradela que quer dizer clave de sol e linhas pretas que, afirma
ele, são notas. Olha, então, para esse papel, com satisfação, põe-
no no piano e diz: “Vou tocar isto” e, com efeito, tendo diante
da vista esse papel informe, improvisa de maneira admirável.
Para metodicamente estudar a maneira como ele toca piano,
separarei a execução da invenção.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 263
vez fiz tocar à mãe a mesma música que a ele. Sem dúvida, ela
tocava-a muito melhor, sem notas erradas, nem hesitações, nem
tateios, nem repetições, mas o bebezinho tinha muito mais ex-
pressão.
Muitas vezes mesmo é tão forte essa expressão, tão trágica
até em certas árias melancólicas ou fúnebres, que se tem a sen-
sação de que Pepito não pode, com a sua dedilhação imperfeita,
exprimir todas as idéias musicais que nele fremem, de maneira
que quase me atreveria a dizer que ele é muito maior músico do
que aparenta...
Não somente executa as músicas que acaba de ouvir tocar no
piano, mas pode também, posto que com mais dificuldade, exe-
cutar ao piano as árias que ouviu cantar. “Causa pasmo vê-lo
então achar, imaginar, reconstituir os acordes do contraponto e
da harmonia, como o poderia fazer um músico perito.” Numa
experiência feita há pouco tempo, um amigo meu cantou-lhe
uma melodia muito complexa. Depois de tê-la ouvido cinco ou
seis vezes, sentou-se ao piano, dizendo que se tratava de uma
habanera, o que era verdade, e repetiu-a, senão no todo, pelo
menos nas partes essenciais.
Invenção – É muitas vezes bem difícil, quando se ouve um
improvisador, distinguir o que é invenção do que é reprodução,
pela memória, de árias e trechos musicais já ouvidos. É certo,
entretanto, que, quando Pepito se põe a improvisar, raras vezes
lhe falha a inspiração e acha, muitas vezes, melodias extrema-
mente interessantes, que pareceram mais ou menos originais a
todos os assistentes. Há uma introdução, um meio, um fim; há,
ao mesmo tempo, uma variedade e uma riqueza de sons que tal-
vez admirassem, se se tratasse de um músico de profissão, mas
que, numa criança de três anos e meio, causam verdadeira es-
tupefação.”
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 265
165
Número de 25 de julho de 1900.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 267
166
Dr. Wahu - Le Spiritisme dans le Monde.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 268
tência de um dia, que eles crêem sem véspera e sem amanhã. Daí a
fraqueza do pensamento filosófico e da ação moral na nossa época.
O trabalho anterior que cada Espírito efetua pode ser facilmen-
te calculado, medido pela rapidez com que ele executa de novo um
trabalho semelhante, sobre um mesmo assunto, ou também pela
prontidão com que assimila os elementos de uma ciência qualquer.
Deste ponto de vista, é de tal modo considerável a diferença entre
os indivíduos, que seria incompreensível sem a noção das existên-
cias anteriores.
Duas pessoas igualmente inteligentes, estudando determinada
matéria, não a assimilarão da mesma forma; uma alcançar-lhe-á à
primeira vista os menores elementos, a outra só à custa de um
trabalho lento e de uma aplicação porfiada conseguirá penetrá-la. É
que uma já tem conhecimento dessa matéria e só precisa recordá-
la, ao passo que a outra se encontra pela primeira vez dentro de tais
questões. O mesmo se dá com certas pessoas que facilmente acei-
tam tal verdade, tal princípio, tal ponto de uma doutrina política ou
religiosa, ao passo que outras só com o tempo e à força de argu-
mentos se convencem ou deixam de convencer-se. Para umas é
coisa familiar ao seu espírito e para outras é estranha. Vimos que
as mesmas considerações são aplicáveis à variedade tão grande de
caracteres e das disposições morais. Sem a noção das preexistên-
cias, a diversidade sem limites das inteligências e das consciências
ficaria sendo um problema insolúvel e a ligação dos diferentes
elementos do “eu”, num todo harmonioso, tornar-se-ia fenômeno
sem causa.
O gênio, dizíamos, não se explica pela hereditariedade nem pe-
las condições do meio. Se a hereditariedade pudesse produzir o
gênio, ele seria muito mais freqüente. A maior parte dos homens
célebres teve ascendentes de inteligência medíocre e sua descen-
dência foi-lhes notoriamente inferior. Sócrates e Joana d'Arc nasce-
ram de famílias obscuras. Sábios ilustres saíram dos centros mais
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 272
167
Ver No Invisível, “A mediunidade gloriosa”.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 275
XVI
As vidas sucessivas – Objeções e críticas
168
Cristianismo e Espiritismo, cap. X.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 279
169
Foi, igualmente, o que Taine exprimiu nos seus Nouveaux Essais de
Critique et d'Histoire por estes termos:
“Se se acreditar que os desgraçados só o são em castigo das suas
faltas, de que servirão, nesse caso, a caridade e a fraternidade? Poder-
se-á ter compaixão de um doente que está sofrendo e que desespera;
mas, não haverá propensão para ter-se menos pena de um culpado?
Ainda mais, a comiseração deixa de ter razão de ser, seria uma falta,
em virtude de ser a justiça de Deus afirmando-se e exercendo-se nos
sofrimentos dos homens. Com que direito havíamos, pois, de contrari-
ar e pôr obstáculos à justiça divina? A própria escravidão é legitima e
quanto mais castigados, mais humilhados são os homens pelo destino,
tanto mais se deve crer na sua decadência e punição.”
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 280
170
Número de 5 de maio de 1901, pág. 298.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 287
171
F. Myers - La Personnalité Humaine, pág. 331.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 288
Hume antes dele, que “ela é a única que apresenta vistas razoáveis
acerca da imortalidade”.
No último congresso da Igreja Anglicana, em Weymouth, o
venerável arcediago Colley, reitor de Stockton (Warwickshire), fez
uma conferência sobre a reencarnação, em sentido favorável. Esse
fato indica-nos que as novas idéias abrem brecha até no seio das
igrejas da Inglaterra (Light of Truth).
Enfim, em seu discurso de abertura, como presidente da Soci-
ety for Psychical Research, o Rev. W. Boyd-Carpenter, bispo de
Ripon, a 23 de maio de 1912, diante de seleto e distinto auditório,
fez ressaltar a utilidade das pesquisas psíquicas, a fim de se obter
um conhecimento mais completo do “eu” humano e precisar as
condições de sua evolução. “O interesse desse discurso, dizem os
Annales des Sciences Psychiques de maio de 1912, reside especi-
almente nisto: o ver-se aí um alto dignitário da Igreja Anglicana
afirmar, como certos padres da Igreja, a preexistência da alma e
aderir à teoria da evolução e das existências múltiplas.”
XVII
As vidas sucessivas – Provas históricas
172
Ver o Journal de 12 de dezembro, artigo do Sr. Ludovic Nandeau,
testemunha da cerimônia. Ver, principalmente, Iamato Damachi, ou a
alma japonesa, e o livro do professor americano Hearn, matriculado
em uma universidade japonesa: Hakoro, ou a idéia da preexistência.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 295
173
Ver Depois da Morte - A doutrina secreta, o Egito, caps. I e III.
174
Citação de P. C. Revel, Le Hasard, sa Loi et ses Conséquences, pág.
193.
175
O vulgo não quer ver hoje na metempsicose mais do que a passagem
da alma humana para o corpo de seres inferiores. Na Índia, no Egito e
na Grécia era ela considerada, de um modo mais geral, como a trans-
migração das almas para outros corpos humanos. Tendemos a crer que
a descida da alma à humanidade num corpo inferior não era, como a
idéia do inferno no Catolicismo, mais do que um espantalho destina-
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 296
177
Eneida, VI, 713 e seg.
178
Lê-se no Zohar, II: “Todas as almas estão sujeitas à revolução (me-
tempsicose, aleen b'gilgulah), mas os homens não conhecem as vias
de Deus, o que é bom.” José (Antiq. XVIII, I, $ 3) diz que o virtuoso
terá o poder de ressuscitar e viver de novo.
179
Mateus, XI, 9, 14, 15.
180
Mateus, XVII, 10 a 15.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 298
181
Mateus, XVI, 13, 14; Marcos, VIII, 28.
182
João, III, 3 a 8.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 299
183
Ver Surate, II, v. 26 do Alcorão; Surate, VII, v. 55; Surate, XVII, v.
52; Surate, XIV, v. 25.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 303
184
Ver Tácito, Ab excessu Augusti, livro XIV, c. 30.
185
É o que afirmava César nos seus Commentaires de la guerre des
Gaules, liv. VI, cap. XIX, edição Lemerre, 1919. Ver também: Alex.
Poly. Histor., fragmento 138, na coleção dos fragmentos dos historia-
dores gregos, edit. Didot, 1849; Strabão, Geogr., liv. IV, cap. IV, Di-
odoro di Sicilia. Bibl. hist., liv. V, cap. XXVIII; Clemente de Alexan-
dria, Stromates, IV, cap. XXV.
186
As Tríades, publicadas por Ed. Williams, conforme o original gaulês e
a tradução de Edward Darydd. Ver Gatien Arnoult, Philosophie Gau-
loise, t. I.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 304
187
T. L, págs. 266, 267. Ver também: H. d'Arbois de Jubainville, Les
Druides et les Dieux Celtiques, págs. 137 a 140; Livre de Leinster,
pág. 41; Annales de Tigernach, publicação de Whitley Stokes; Revue
Celtique, t. XVII, pág. 21; Annales des Quatre Maltres, edição O.
Donovan, t. I, 118, 119.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 305
morte, que as nações semeiam no seu próprio seio, cada vez que
transgridem as leis superiores.
Se lançarmos as vistas para a história do mundo, veremos que
a adolescência da humanidade, como a do indivíduo, tem seus
períodos de perturbações, de desvarios, de experiências dolorosas.
Através de suas páginas desenrola-se o cortejo de misérias conse-
qüentes; as quedas profundas alternam com as elevações, os triun-
fos com as derrotas.
Civilizações precárias assinalam as primeiras idades; os maio-
res impérios esboroam-se uns após outros na refrega das paixões. O
Egito, Nínive, Babilônia e o império dos persas caíram. Roma e
Bizâncio, roídas pela corrupção, baqueiam ao embate da invasão
dos bárbaros. Depois da Guerra dos Cem Anos e do suplício de
Joana d'Arc, a Inglaterra é açoitada por terrível guerra civil, a das
Duas Rosas, York e Lencastre, que a conduz a dois passos de sua
perda.
Que é feito da Espanha, responsável por tantos suplícios e de-
golações, da Espanha com seus “conquistadores” e seu Santo Ofí-
cio? Onde está hoje esse vasto império no qual o Sol jamais se
punha?
Vede os Habsburg, herdeiros do Santo Império e, talvez, reen-
carnações dos algozes dos Hussitas? A Casa de Áustria é ferida em
todos os seus membros: Maximiliano é fuzilado; Rodolfo cai no
meio de uma orgia; a Imperatriz é assassinada. Chega a vez de
François-Ferdinand e o velho imperador, com a cabeça encanecida,
fica sozinho, em pé, no meio dos destroços de sua família e de seus
Estados ameaçados de desagregação completa.
Onde estão os impérios fundados pelo ferro e pelo sangue, dos
Califas, dos Mongóis, dos Carlovíngios, de Carlos V? Napoleão
disse: “Tudo se paga!” E ele mesmo pagou e a França pagou com
ele. O império de Napoleão passou como um meteoro!
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 308
188
Maëterlinck - Le Temple Enseveli, pág. 35.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 309
189
De 1914 a 1918: foi o período da Primeira Guerra Mundial (N.E.).
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 310
190
Ver minha obra O Mundo Invisível e a Guerra.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 311
191
Dr. Th. Pascal - Les Lois de la Destinée, pág. 208.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 315
XVIII
Justiça e responsabilidade – O problema do mal
é uma palavra vã, que há uma sanção para todos os deveres e com-
pensações para todas as dores. Nenhum sistema pode satisfazer
nossa razão, nossa consciência, se não realizar a noção de justiça
em toda a sua plenitude. Essa noção está gravada em nós, é a lei da
alma e do universo. Por tê-la desconhecido é que tantas doutrinas
se enfraquecem e se extinguem na presente hora, em redor de nós.
Ora, a doutrina das vidas sucessivas é um resplendor da idéia de
justiça; dá-lhe realce e brilho incomparáveis. Todas as nossas vidas
são solidárias umas com as outras e se encadeiam rigorosamente.
As conseqüências dos nossos atos constituem uma sucessão de
elementos que se ligam uns aos outros pela estreita relação de
causa e efeito; constantemente, em nós mesmos, em nosso ser
interior, como nas condições exteriores de nossa vida, sofremos-
lhes os resultados inevitáveis. Nossa vontade ativa é uma causa
geradora de efeitos mais ou menos longínquos, bons ou maus, que
recaem sobre nós e formam a trama de nossos destinos.
O Cristianismo, renunciando a este mundo, procrastinava a fe-
licidade e a justiça para o outro; e se seus ensinamentos podiam
bastar aos simples e aos crentes, tornavam fácil aos hábeis cépticos
dispensar-se da justiça, pretextando que seu reino não era da Terra;
mas com a prova das vidas sucessivas o caso muda completamente
de figura. A justiça deixa de ser transferida para um domínio qui-
mérico e desconhecido. É aqui mesmo, em nós e em torno de nós,
que ela exerce o seu império. O homem tem de reparar, no plano
físico, o mal que fez no mesmo plano; torna a descer ao cadinho da
vida, ao próprio meio onde se tornou culpado, para, junto daqueles
que enganou, despojou, espoliou, sofrer as conseqüências do modo
pelo qual anteriormente procedeu.
Com o princípio dos renascimentos, a idéia de justiça define-se
e verifica-se; a lei moral, a lei do bem se patenteia em toda a sua
harmonia. Esta vida não é mais do que um anel da grande cadeia
das suas existências, eis o que o homem afinal compreende; tudo o
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 324
XIX
A lei dos destinos
com a regra universal, torna-se, com efeito, cada vez menos presa
da adversidade.
Os nossos atos e pensamentos traduzem-se em movimentos vi-
bratórios e seu foco de emissão, pela repetição freqüente dos mes-
mos atos e pensamentos, transforma-se, pouco a pouco, em podero-
so gerador do bem ou do mal.
O ser classifica-se, assim, a si mesmo pela natureza das ener-
gias de que se torna o centro irradiador, mas, ao passo que as for-
ças do bem se multiplicam por si mesmas e aumentam incessante-
mente, as forças do mal se destroem por seus próprios efeitos,
porque estes voltam para sua causa, para seu centro de emissão e
traduzem-se sempre em conseqüências dolorosas. Estando o mau,
como todos os seres, sujeito à impulsão evolutiva, vê por isso
aumentar-se forçosamente sua sensibilidade.
As vibrações de seus atos, de seus pensamentos maus, depois
de haverem efetuado sua trajetória, volvem a ele, mais cedo ou
mais tarde, oprimem-no e apertam-no na necessidade de reformar-
se.
Esse fenômeno pode explicar-se cientificamente pela correla-
ção das forças, pela espécie de sincronismo vibratório que faz
voltar sempre o efeito à sua causa. Temos demonstração disso no
fato bem conhecido de, em tempo de epidemia, de contágio, serem
atacadas principalmente as pessoas cujas forças vitais se harmoni-
zam com as causas mórbidas em ação, ao passo que os indivíduos
dotados de vontade firme e isentos de receio ficam geralmente
indenes.
Sucede o mesmo na ordem moral. Os pensamentos de ódio e
vingança, os desejos de prejudicar, provenientes do exterior, só
podem agir sobre nós e influenciar-nos caso encontrem elementos
que vibrem uníssonos com eles. Se nada existir em nós de similar,
essas forças ruins resvalam sem nos penetrarem, volvem para
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 331
aquele que as projetou para, por sua vez, o ferirem, seja no presen-
te ou no futuro, quando circunstâncias particulares as fizerem
entrar na corrente do seu destino.
*
Há, pois, na lei de repercussão dos atos, alguma coisa mecâni-
ca, automática na aparência. Entretanto, quando implica acerbas
expiações, reparações dolorosas, grandes Espíritos intervêm para
regular-lhe o exercício e acelerar a marcha das almas em via de
evolução. Sua influência faz-se principalmente sentir na hora da
reencarnação, a fim de guiar essas almas em suas escolhas, deter-
minando as condições e os meios favoráveis à cura de suas enfer-
midades morais e ao resgate das faltas anteriores.
Sabemos que não há educação completa sem a dor. Colocando-
nos nesse ponto de vista, é necessário livrarmo-nos de ver, nas
provações e dores da humanidade, a conseqüência exclusiva de
faltas passadas. Todos aqueles que sofrem não são forçosamente
culpados em via de expiação. Muitos são simplesmente Espíritos
ávidos de progresso, que escolheram vidas penosas e de labor para
colherem o benefício moral que anda ligado a toda pena sofrida.
Contudo, em tese geral, é do choque, do conflito do ser inferi-
or, que não se conhece ainda, com a lei da harmonia, que nasce o
mal, o sofrimento. É pelo regresso gradual e voluntário do mesmo
ser a essa harmonia que se restabelece o bem, isto é, o equilíbrio
moral. Em todo pensamento, em toda obra há ação e reação e esta é
sempre proporcional em intensidade à ação realizada. Por isso
podemos dizer: o ser colhe exatamente o que semeou.
Colhe-o efetivamente, pois que, por sua ação contínua, modifi-
ca sua própria natureza, depura ou materializa o seu invólucro
fluídico, o veículo da alma, o instrumento que serve para todas as
suas manifestações e no qual é calcado, modelado o corpo físico
em cada renascimento.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 332
Uma arte mais idealista e pura, iluminada por luzes que não se
apagam, imagem da vida radiosa, reflexo do Céu entrevisto, virá
regozijar e vivificar o espírito e os sentidos.
Sucederá o mesmo com as religiões, as crenças e os sistemas.
No vôo do pensamento para elevar-se das verdades de ordem rela-
tiva às verdades de ordem superior, elas chegarão a aproximar-se, a
juntar-se, a fundir-se para fazer das múltiplas crenças do passado,
hostis ou mortais, uma fé viva que há de reunir a humanidade num
mesmo impulso de adoração e prece.
Trabalha com todas as potências de teu ser por preparar essa
evolução. É mister que a atividade humana se dirija com mais
intensidade para os caminhos do espírito. Depois da humanidade
física, é indispensável criar a humanidade moral; depois dos cor-
pos, as almas! O que se conquistou em energias materiais, em
forças externas, perdeu-se em conhecimentos profundos, em reve-
lações do sentido íntimo. O homem está vitorioso do mundo visí-
vel; as aberturas praticadas no universo físico são imensas; restam-
lhe as conquistas do mundo interior, o conhecimento de sua própria
natureza e do segredo de seu esplêndido porvir.
Não discutas, pois, mas trabalha. A discussão é vã, estéril é a
crítica. Mas a obra pode ser grande, se consistir em te engrandece-
res a ti mesmo, engrandecendo os outros, em fazeres o teu ser
melhor e mais belo. Porque não deves esquecer que para ti traba-
lhas, trabalhando para todos, associando-te à tarefa comum. O
universo, como tua alma, renova-se, perpetua-se, embeleza-se sem
cessar pelo trabalho e pela reciprocidade. Deus, aperfeiçoando sua
obra, goza dela como tu gozas da tua, embelezando-a. Tua obra
mais bela é tu mesmo. Com teus esforços constantes podes fazer de
tua inteligência, de tua consciência, uma obra admirável, de que
gozarás indefinidamente. Cada uma de tuas vidas é um cadinho
fecundo do qual deves sair apto para tarefas, para missões cada vez
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 339
mais altas, apropriadas às tuas forças e cada uma das quais será tua
recompensa e tua alegria.
Assim, com tuas mãos irás, dia a dia, moldando teu destino.
Renascerás nas formas que teus desejos constroem, que tuas obras
geram, até que teus desejos e apelos te tenham preparado formas e
organismos superiores aos da Terra. Renascerás nos meios que
preferes, junto dos seres queridos, que já estiveram associados a
teus trabalhos, a tuas vidas, e que viverão contigo e para ti, como tu
reviverás com eles e para eles.
Terminada que seja tua evolução terrestre, quando tiveres exal-
tado tuas faculdades e tuas forças a um grau de suficiente capaci-
dade, quando tiveres esvaziado a taça dos sofrimentos, das amargu-
ras e das felicidades que nos oferece este mundo, quando lhe hou-
veres sondado as ciências e crenças, comungado com todos os
aspectos do gênio humano, subirás então com teus amados para
outros mundos mais belos, mundos de paz e harmonia.
Volvidos ao pó, teus últimos despojos terrestres, chegada às
regiões espirituais tua essência purificada, tua memória e tua obra
hão de amparar ainda os homens, teus irmãos, em suas lutas, em
suas provações, e poderás dizer com a alegria de uma consciência
tranqüila: “Minha passagem na Terra não foi estéril; não foram
vãos meus esforços!”
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 340
Terceira Parte
As Potências da Alma
XX
A vontade
doras. Mas, há poucos homens que saibam ler em si, que saibam
explorar as jazidas que encerram tesouros inestimáveis. Gastamos a
vida em coisas banais, improfícuas; percorremos o caminho da
existência sem nada saber de nós mesmos, das riquezas psíquicas,
cuja valorização nos proporcionaria gozos inumeráveis.
Há em toda alma humana dois centros ou, melhor, duas esferas
de ação e expressão. Uma delas, a exterior, manifesta a personali-
dade, o “eu”, com suas paixões, suas fraquezas, sua mobilidade,
sua insuficiência. Enquanto ela for a reguladora de nosso proceder,
teremos a vida inferior, semeada de provações e males. A outra,
interna, profunda, imutável, é, ao mesmo tempo, a sede da consci-
ência, a fonte da vida espiritual, o templo de Deus em nós. É so-
mente quando esse centro de ação domina o outro, quando suas
impulsões nos dirigem, que se revelam nossas potências ocultas e
que o Espírito se afirma em seu brilho e beleza. É por ele que
estamos em comunhão com “o Pai que habita em nós”, segundo as
palavras do Cristo, com o Pai que é o foco de todo o amor, o prin-
cípio de todas as ações.
Por um desses centros perpetuamo-nos em mundos materiais,
onde tudo é inferioridade, incerteza e dor; pelo outro temos entrada
nos mundos celestes, onde tudo é paz, serenidade, grandeza. So-
mente pela manifestação crescente do Espírito divino em nós che-
garemos a vencer o “eu” egoísta, a associar-nos plenamente à obra
universal e eterna, a criar uma vida feliz e perfeita.
Por que meio poremos em movimento as potências internas e
as orientaremos para um ideal elevado? Pela vontade! Os usos
persistentes, tenazes, dessa faculdade soberana permitir-nos-á
modificar a nossa natureza, vencer todos os obstáculos, dominar a
matéria, a doença e a morte.
É pela vontade que dirigimos nossos pensamentos para um al-
vo determinado. Na maior parte dos homens os pensamentos flutu-
am sem cessar. Sua mobilidade constante e sua variedade infinita
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 342
192
Ver W. James, Reitor da Universidade Harvard, L'Expérience Religi-
euse, págs. 86, 87. Tradução francesa de Abauzit. Félix Alcan, editor,
Paris, 1906.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 344
193
Ver Depois da Morte, Cap. XXXII, “A vontade e os fluidos” e No
Invisível, cap. XV.
194
Dr. Warlomont - Louise Lateau, la stigmatisée de Bois-d'Haine,
Bruxelas, 1873.
195
P. Janet, “Une extatique”, Bulletin de 1'Institut Psychologique, julho,
agosto, setembro de 1901.
196
Ver, entre outros, o Bulletin de la Société Psychique de Marseille,
outubro de 1903.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 345
XXI
A consciência – O sentido íntimo
197
W. James - L'Expérience Religieuse, págs. 421 e 429.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 353
198
Capitulo III.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 354
199
W. James - L'Expérience Religieuse, pág. 436.
200
Idem, ibidem, pág. 329.
201
W. James - L'Expérience Religieuse, pág. 160.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 357
202
Idem, ibidem, pág. 178.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 358
203
Ver a obra de Gérard Harry sobre Helen Keller. - Livraria Larousse,
com prefácio de Mme. Maëterlinck.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 360
204
Ver Annales des Sciences Peychiques, outubro de 1906, págs. 611,
613.
205
William James - L'Expérience Religieuse, pág. 355.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 363
206
William James - L'Expérience Religieuse, pág. 325 e 358.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 364
207
A. de Rochas - Les Vies Successives, pág. 499.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 365
208
Ver, sobre esse assunto, a obra Enigmas da Psicometria, de Ernesto
Bozzano, editora FEB (N.E.).
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 366
XXII
O livre-arbítrio
XXIII
O pensamento
XXIV
A disciplina do pensamento e a reforma do caráter
eleva-se nas profundezas de nossa alma, voz solene que nos fala de
mil leis augustas, mais veneráveis que as da Terra, e entreabre-se
todo um mundo ideal. Mas os ruídos do exterior abafam-na bem
depressa e o ser humano recai quase sempre em suas dúvidas, em
suas hesitações, na vulgaridade de sua existência.
*
Não há progresso possível sem observação atenta de nós mes-
mos. É necessário vigiar todos os nossos atos impulsivos para
chegarmos a saber em que sentido devemos dirigir nossos esforços
para nos aperfeiçoarmos. Primeiramente, regular a vida física,
reduzir as exigências materiais ao necessário, a fim de garantir a
saúde do corpo, instrumento indispensável para o desempenho de
nosso papel terrestre; em seguida, disciplinar as impressões, as
emoções, exercitando-nos em dominá-las, em utilizá-las como
agentes de nosso aperfeiçoamento moral; aprender principalmente
a esquecer, a fazer o sacrifício do “eu”, a desprender-nos de todo o
sentimento de egoísmo. A verdadeira felicidade neste mundo está
na proporção do esquecimento próprio.
Não basta crer e saber, é necessário viver nossa crença, isto é,
fazer penetrar na prática diária da vida os princípios superiores que
adotamos; é necessário habituarmo-nos a comungar pelo pensa-
mento e pelo coração com os Espíritos eminentes que foram os
reveladores, com todas as almas de escol que serviram de guias à
humanidade, viver com eles numa intimidade cotidiana, inspirar-
mo-nos em suas vistas e sentir sua influência pela percepção íntima
que nossas relações com o mundo invisível desenvolvem.
Entre essas grandes almas é bom escolher uma como exemplo,
a mais digna de nossa admiração e, em todas as circunstâncias
difíceis, em todos os casos em que nossa consciência oscila entre
dois partidos a tomar, inquirirmos o que ela teria resolvido e pro-
cedermos no mesmo sentido.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 395
alma com mais uma virtude, com alguma beleza moral. As vidas
obscuras e atormentadas são, às vezes, as mais fecundas, ao passo
que as vidas suntuosas nos prendem, bastas vezes e por muito
tempo, na corrente formidável de nossas responsabilidades.
A felicidade não está nas coisas externas nem nos acasos do
exterior, mas somente em nós mesmos, na vida interna que sou-
bermos criar. Que importa que o céu esteja escuro por cima de
nossas cabeças e os homens sejam ruins em volta de nós, se tiver-
mos a luz na fronte, alegria do bem e a liberdade moral no cora-
ção? Se, porém, eu tiver vergonha de mim mesmo, se o mal tiver
invadido meu pensamento, se o crime e a traição habitarem em
mim, todos os favores e todas as felicidades da Terra não me resti-
tuirão a paz silenciosa e a alegria da consciência. O sábio cria,
desde este mundo, para si mesmo, um refúgio seguro, um lugar
sagrado, um retiro profundo aonde não chegam as discórdias e as
contrariedades do exterior. Do mesmo modo, na vida do espaço a
sanção do dever e a realização da justiça são de ordem inteiramente
íntima; cada alma traz em si sua claridade ou sua sombra, seu
paraíso ou seu inferno. Mas, lembremo-nos de que nada há irrepa-
rável; a situação atual do Espírito inferior não é mais que um ponto
quase imperceptível na imensidade de seus destinos.
XXV
O amor
210
Ver, No Invisível, cap. XIX.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 401
muda dos seres e das coisas, quem, pois, deixará de sentir as radia-
ções de amor que enchem o infinito?
É preciso nunca ter aberto a alma a essas influências sutis para
ignorá-las ou negá-las. Muitas almas terrestres ficam, é verdade,
hermeticamente fechadas para as coisas divinas, ou então, quando
sentem suas harmonias e belezas, escondem cuidadosamente o
segredo de si mesmas; parecem ter vergonha de confessar o que
conhecem ou o que de maior e melhor experimentam.
Tentai a experiência! Abri o vosso ser interno, abri as janelas
da prisão da alma aos eflúvios da vida universal e, de súbito, essa
prisão encher-se-á de claridades, de melodias; um mundo todo de
luz penetrará em vós. Vossa alma arrebatada conhecerá êxtases,
felicidades que não se podem descrever; compreenderá que há em
seu derredor um oceano de amor, de força e de vida divina no qual
ela está imersa e que lhe basta querer para ser banhada por suas
águas regeneradoras. Sentirá no universo um poder soberano e
maravilhoso que nos ama, nos envolve, nos sustenta, que vela
sobre nós como o avarento sobre a jóia preciosa, e, invocando-o,
dirigindo-lhe um apelo ardente, será logo penetrada de sua presen-
ça e de seu amor. Essas coisas se sentem e exprimem dificilmente;
só as podem compreender aqueles que as saborearam. Mas todos
podem chegar a conhecê-las, a possuí-las, despertando o que há em
si de divino. Não há homem, por mais perverso, por pior que seja,
que numa hora de abandono e sofrimento não veja abrir-se uma
fresta por onde um pouco da claridade das coisas superiores e um
pouco de amor se filtrem até ele.
Basta ter experimentado uma vez só essas impressões para não
as esquecer mais. E quando chega o declínio da vida com suas
desilusões, quando as sombras crepusculares se acumulam sobre
nós, então essas poderosas sensações acordam com a memória de
todas as alegrias sentidas e a lembrança das horas em que verdadei-
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 406
XXVI
A dor
211
Cap. XXI - A Consciência – O sentido íntimo.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 408
*
É necessário sofrer para adquirir e conquistar. Os atos de sacri-
fício aumentam as radiações psíquicas. Há como que uma esteira
luminosa que segue, no espaço, os Espíritos dos heróis e dos márti-
res.
Aqueles que não sofreram mal podem compreender essas coi-
sas, porque neles só a superfície do ser está arroteada, valorizada.
Há falta de largueza em seus corações, de efusão em seus senti-
mentos; seu pensamento abrange horizontes acanhados. São neces-
sários os infortúnios e as angústias para dar à alma seu aveludado,
sua beleza moral, para despertar seus sentidos adormecidos. A vida
dolorosa é um alambique onde se destilam os seres para mundos
melhores. A forma, como o coração, tudo se embeleza por ter
sofrido. Há, já nesta vida, um não sei quê de grave e enternecido
nos rostos que as lágrimas sulcaram muitas vezes. Tomam uma
expressão de beleza austera, uma espécie de majestade que impres-
siona e seduz.
Michelangelo adotara como norma de proceder os preceitos
seguintes: “Concentra-te e faze como o escultor faz à obra que quer
aformosear. Tira o supérfluo, aclara o obscuro, difunde a luz por
tudo e não largues o cinzel.”
Máxima sublime, que contém o princípio de todo o aperfeiço-
amento íntimo. Nossa alma é nossa obra, com efeito, obra capital e
fecunda, que sobrepuja em grandeza todas as manifestações parci-
ais da arte, da ciência, do gênio.
Todavia, as dificuldades da execução são correlativas ao es-
plendor do objetivo e, diante da penosa tarefa da reforma interior,
do combate incessante travado com as paixões, com a matéria,
quantas vezes o artista não desanima? Quantas vezes não abandona
o cinzel? É então que Deus lhe envia um auxílio – a dor! Ela cava
ousadamente nas profundezas da consciência aonde o trabalhador
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 411
ser ou então uma nobreza nova, adorno da alma, para sempre ad-
quirida.
Quanto mais a alma se eleva, cresce, se faz bela, tanto mais a
dor se espiritualiza e torna sutil. Os maus precisam de numerosas
operações como as árvores de muitas flores para produzirem alguns
frutos. Porém, quanto mais o ser humano se aperfeiçoa, tanto mais
admiráveis se tornam nele os frutos da dor. Às almas gastas, mal
desbastadas, tocam os sofrimentos físicos, as dores violentas; às
egoístas, às avarentas hão de caber as perdas de fortuna, as negras
inquietações, os tormentos do espírito. Depois, aos seres delicados,
às mães, às filhas, às esposas, as torturas ocultas, as feridas do
coração. Aos nobres pensadores, aos inspiradores, a dor sutil e
profunda que faz brotar o grito sublime, o relâmpago do gênio!
Assim, por trás da dor, há alguém invisível que lhe dirige a a-
ção e a regula segundo as necessidades de cada um, com uma arte,
uma sabedoria infinitas, trabalhando por aumentar nossa beleza
interior nunca acabada, sempre continuada, de luz em luz, de virtu-
de em virtude, até que nos tenhamos convertido em Espíritos celes-
tes.
Por mais admirável que possa parecer à primeira vista, a dor é
apenas um meio de que usa o Poder Infinito para nos chamar a si e,
ao mesmo tempo, tornar-nos mais rapidamente acessíveis à felici-
dade espiritual, única duradoura. É, pois, realmente, pelo amor que
nos tem, que Deus envia o sofrimento. Fere-nos, corrige-nos como
a mãe corrige o filho para educá-lo e melhorá-lo; trabalha incessan-
temente para tornar dóceis, purificar e embelezar nossas almas,
porque elas não podem ser verdadeiras, completamente felizes,
senão na medida correspondente às suas perfeições.
Para isso pôs Deus, nesta terra de aprendizagem, ao lado das
alegrias raras e fugitivas, dores freqüentes e prolongadas, para nos
fazer sentir que o nosso mundo é um lugar de passagem e não o
ponto de chegada. Gozos e sofrimentos, prazeres e dores, tudo isso
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 416
coisas que serão o remate de sua carreira terrestre. Por isso, quando
amaldiçoamos as horas aparentemente estéreis e desoladas da
velhice enferma, solitária, desconhecemos um dos maiores benefí-
cios que a Natureza nos proporciona; esquecemos que a velhice
dolorosa é o cadinho onde se completam as purificações.
Nesse momento da existência, os raios e as forças que, durante
os anos da juventude e da virilidade, dispersávamos para todos os
lados em nossa atividade e exuberância, concentram-se, convergem
para as profundezas do ser, ativando a consciência e proporcionan-
do ao homem mais sabedoria e juízo. Pouco a pouco vai-se fazendo
a harmonia entre os nossos pensamentos e as radiações externas; a
melodia íntima afina com a melodia divina.
Há, então, na velhice resignada, mais grandeza e mais serena
beleza que no brilho da mocidade e no vigor da idade madura. Sob
a ação do tempo, o que há de profundo, de imutável em nós, des-
prende-se e a fronte dos velhos aureola-se de claridades do Além.
A todos aqueles que perguntam: Para que serve a dor? respon-
do: Para polir a pedra, esculpir o mármore, fundir o vidro, martelar
o ferro. Serve para edificar e ornar o templo magnífico, cheio de
raios, de vibrações, de hinos, de perfumes, onde se combinam
todas as artes para exprimirem o divino, prepararem a apoteose do
pensamento consciente, celebrarem a libertação do Espírito!
E vede qual o resultado obtido! Com o que eram em nós ele-
mentos esparsos, materiais informes e, às vezes até, no vicioso e
decaído, ruínas e destroços, a dor levantou, construiu no coração do
homem um altar esplêndido à beleza moral, à verdade eterna!
A estátua, nas suas formas ideais e perfeitas, está escondida no
bloco grosseiro. Quando o homem não tem a energia, o saber e a
vontade de continuar a obra, então, dissemos, vem a dor. Ela pega
no martelo, no cinzel e, pouco a pouco, a golpes violentos, ou,
então, sob o vagaroso e persistente trabalho do buril, a estátua viva
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 418
XXVII
Revelação pela dor
Não há abismo que o amor não possa encher. Deus, que é todo
amor, não podia condenar à extinção o sentimento mais belo, o
mais nobre de todos os que vibram no coração do homem. O amor
é imortal como a própria alma.
Nas horas de sofrimento, de angústia, de acabrunhamento,
concentrai-vos e, por invocação ardente, atraí a vós os seres que
foram, como nós, homens e que são agora Espíritos celestes, e
forças desconhecidas penetrarão em vós e ajudar-vos-ão a suportar
vossos males e misérias.
Homens, pobres viajantes que trilhais penosamente a subida
dolorosa da existência, sabei que por toda parte em nosso caminho
seres invisíveis, poderosos e bons, caminham a nosso lado. Nas
passagens difíceis seus fluidos amparadores sustentam nossa mar-
cha vacilante. Abri-lhes vossas almas, ponde vossos pensamentos
de acordo com os seus e logo sentireis a alegria de sua presença;
uma atmosfera de paz e bênção envolver-vos-á; suaves consolações
descerão para vós.
*
Em meio às provações, as verdades que acabamos de recordar
não nos dispensam das emoções e das lágrimas; seria contra a
Natureza. Ensinam-nos pelo menos a não murmurarmos, a não
ficarmos acabrunhados sob o peso da dor, afastam de nós os funes-
tos pensamentos de revolta, de desespero ou de suicídio que muitas
vezes enxameiam no cérebro dos niilistas. Se continuamos a cho-
rar, é sem amargura e sem blasfêmia.
Mesmo quando se trata do suicídio de mancebos arrebatados
pelo ardor de suas paixões, diante da dor imensa de uma mãe, o
Neo-Espiritualismo não fica impotente, derrama também a espe-
rança nos corações angustiados, proporcionando-lhes, pela oração e
pelo pensamento ardente, a possibilidade de aliviarem essas almas,
que flutuam nas trevas espirituais entre a Terra e o espaço, ou
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 431
212
Essas cartas estão publicadas in extenso em minha brochura O Além e
a Sobrevivência do Ser, págs. 27 e seguintes.
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 433
Profissão de fé do século XX
–0–
Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor 441
Amigo(a) Leitor(a),