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SETEMBRO/2010
Revista Digital
Auditoria e Gestão Governamental
Disponível em:
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Revista Digital ISSN 2178 - 7263
Auditoria e Gestão Governamental
Esta publicação, veiculada de forma eletrônica na Por fim, a revista traz notícia acerca do debate so-
rede mundial de computadores (internet), visa di- bre a implementação das normas de auditoria no
vulgar artigos, estudos científicos e informações setor público.
inerentes à área de auditoria e gestão governamen-
tal. Boa leitura.
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Artigo
Interface dos ramos do Direito Público: Condição necessária para a compreensão das
fases da despesa pública*
* Renato Santos Chaves - Contador, Auditor Federal
do TCU. saídas de recursos ou redução de ativos ou incremen-
to de passivos que resultam em decréscimo do patri-
Introdução mônio. Nos dizeres de Lino Martins da Silva
O presente artigo objetiva demonstrar “constituem despesa todos os desembolsos efetuados
que, para a compreensão de muitos dos atos jurí- pelo Estado no atendimento dos serviços e encargos
dicos e/ou administrativos emanados da Admi- assumidos no interesse geral da comunidade” .
nistração Pública, a exemplo das fases da despe-
sa pública, o Direito Público precisa ser conhe- A Lei nº 4.320/64, que estatui normas gerais
cido de forma sistematizada. Conforme será pro- de direito financeiro para a elaboração e controle dos
vado, não é possível, numa concepção técnico- orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos
jurídica, que um cidadão ou administrador públi- Municípios e do Distrito Federal, dispõe que as des-
co, e principalmente o operador do direito, pos- pesas públicas são subdivididas em despesas corren-
sua conhecimento em apenas uma área ou ramo tes, ou de custeio, e despesas de capital, que geram
isolado do Direito Público para compreender a bens tangíveis para a sociedade, a exemplo de cons-
formação, execução, conclusão e consequências trução de estradas, pontes, aeroportos, portos, ferro-
de um ato. vias, barragens etc.
A escolha do tema “fases da despesa pú- Para a execução de boa parte das despesas
blica”, no qual todo o estudo orbitará, justifica- públicas, a administração deve seguir o princípio da
se pelo clamor, de toda a sociedade brasileira, licitação insculpido no art. 37, inciso XXI, da Consti-
por mais qualidade, eficiência e efetividade nos tuição Federal de 1988, somente podendo ser dispen-
gastos da Administração Pública, levando-nos a sado nos casos previstos na Lei nº 8.666/93, que trata
crer que o presente estudo contribuirá para uma das regras de licitações e contratos, aplicáveis à Uni-
concepção científica mais aprofundada sobre o ão, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
assunto. Nesse sentido, se a Administração Pública pretender
construir um Hospital, deve, sem dúvida, utilizar o
De início, cabe-nos mencionar que, em devido procedimento licitatório para contratar a em-
termos óbvios, despesa pública é a despesa efe- preiteira que irá edificar o aludido Hospital, bem co-
tuada por uma entidade pública. Despesas são mo contratar a fornecedora dos equipamentos, mó-
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veis e utensílios que serão utilizados na unidade da despesa são as que seguem: 1) Planejamento;
de saúde. 2) Licitação; 3) Empenho; 4) Liquidação; 5) Pa-
gamento e 6) Utilização e Conservação. Desse
Segundo a já mencionada Lei nº 4.320/64, modo, a despesa pública possui mais fases que
a execução da despesa pública percorre as seguin- aquela expressa na Lei nº 4.320/64 – legislação
tes fases: a) empenho – ato emanado de autorida- inerente ao Direito Financeiro - contando com o
de competente que cria para a Administração Pú- planejamento público, previsto na Constituição
blica obrigação de pagamento pendente ou não de Federal (Direito Constitucional), conforme será
implemento; b) liquidação – consiste na verifica- explanado; com a licitação e contrato, inerentes ao
ção do direito adquirido pelo credor tendo por ba- Direito Constitucional, Administrativo e Penal; e a
se os títulos e documentos comprobatórios do res- utilização e conservação inerentes ao Direito Ad-
pectivo crédito; e c) pagamento - ato efetuado ministrativo, Financeiro e Tributário.
por tesouraria ou pagadoria após despacho de au-
torização exarado pela autoridade competente. Percebe-se, sem maior esforço, que, para a
compreensão das fases da despesa pública, aquele
De modo particular, entendemos que a des- que milita na seara da Administração Pública deve
pesa pública, principalmente a despesa de capital, possuir conhecimento de forma sistêmica no cam-
possui outras fases não menos importantes, senão po do Direito Público, sendo impraticável um en-
vejamos: para a construção de um Hospital é ne- tendimento estanque entre seus ramos para a con-
cessário que se planeje de forma analítica o custo/ cepção macro da aplicação dos recursos públicos,
benefício da construção, as especialidades que vai embora a despesa pública esteja mais afeta ao Di-
atender e de que forma irá atuar. Também é neces- reito Financeiro.
sário que, no planejamento de construção, estejam
especificados os projetos básicos e executivos da Nesse sentido, o presente artigo fundamen-
obra, a modalidade de licitação e o contrato para a ta-se na teoria do Direito Público e seus ramos,
construção. Após a entrega da obra, ou pagamento utilizando a metodologia do estudo bibliográfico
aos fornecedores da obra (empreiteira e fornece- com o objetivo de apresentar uma resposta factível
dora de equipamentos, móveis e utensílios), tam- ao problema da ineficiência dos gastos públicos,
bém é necessário que se mantenha um plano de cuja indagação insere-se na assertiva: “é possível
utilização a fim de conservar o patrimônio público compreender as fases da despesa pública tomando
erguido. como referência ramos do Direito Público de for-
ma isolada?”.
Diante das considerações acima expostas, Para atingirmos nosso objetivo o trabalho
podemos afirmar que, em muitos casos, as fases está divido em três capítulos, além da introdução e
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conclusão. O primeiro capítulo explora a divisão seu campo normativo. A setorização em classes e
ramos é obra de iniciativa da Ciência do Direito ou
didática entre Direito Público e Direito Privado. O
Dogmática Jurídica, na deliberação de organizar o
segundo, descreve, de forma geral, cada um dos
Direito Positivo, para fazê-lo prático ao conhecimen-
ramos integrantes do Direito Público e suas respec- to, às investigações científicas, à metodologia do
tivas relações com o tema “fases da despesa públi- ensino e ao aperfeiçoamento das instituições jurídi-
ca” e, o terceiro capítulo, apresenta um caso prático cas”
Capítulo 1 – A dualidade Direito Público X Di- e, os diversos ramos do direito, funcionam como
A bibliografia dedicada à introdução ao es- divisão didática, o direito público pode ser dividido
tudo do Direito oferece uma visão geral acerca da em interno e externo ou internacional. Como exem-
divisão e subdivisão dos vários campos do direito. plo de direito público interno encontramos o direito
Privado e, cada um desses, subdivide-se em ramos butário, o penal etc. e, exemplificando o direito pú-
específicos. Essa divisão, segundo alguns autores, blico externo encontramos o direito internacional
tram-se de forma mais branda ou mais forte fazen- Interessa-nos, primordialmente, nesse estu-
do com que um especialista que milita em uma de- do, a subdivisão do direito público para que possa-
terminada área deve possuir conhecimento em uma mos comprovar que determinados atos administra-
ou mais áreas do Direito. Segundo VENOSA tivos ou jurídicos somente podem ser compreendi-
(2006, p. 22), “o direito deve ser sempre visto e dos em sua completude a partir da união de conhe-
estudado como um todo. Todo fenômeno jurídico cimentos de outras áreas desse mesmo direito pú-
exige conhecimento e exame de regras de vários blico e, às vezes, do próprio direito privado.
ramos”.
Capítulo 2 – Dos ramos do Direito Público
DER (2008, p. 349) quanto à divisão do Direito em doutrina, os seguintes ramos: direito constitucional,
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nanças Públicas”. Na Seção II, a partir do art. 165, ministração pública, incluindo as despesas de ca-
a Constituição Federal dispõe sobre os orçamentos pital para o exercício financeiro subsequente, ori-
públicos. Ali, lê-se que leis de iniciativa do Poder entará a elaboração da Lei Orçamentária Anual -
Executivo estabelecerão o Plano Plurianual, a Lei LOA, disporá sobre as alterações na legislação tri-
de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária butária e estabelecerá a política de aplicação das
Anual. agências financeiras oficiais de fomento
(grifamos).
O Plano Plurianual - PPA estabelecerá, de
forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e me- Percebemos que a LDO é o elo de ligação
tas da administração pública para as despesas de entre o planejamento (PPA) e o orçamento de mei-
capital e outras delas decorrentes e para as relati- os (LOA). O estudo do orçamento público insere-
vas aos programas de duração continuada se no Direito Financeiro, bem como no Direito Tri-
(grifamos). O Plano Plurianual é um planejamento butário já que há previsão de eventuais alterações
de médio prazo, com duração de quatro anos. As na legislação tributária redundando em arrecadação
despesas de capital, a exemplo da construção de a maior ou a menor de receitas públicas que, por
hospitais, escolas, estradas etc. devem compor esse sua vez, financiarão as despesas públicas.
plano. O planejamento, portanto, é também uma
fase da despesa pública. O governante deve traçar A Lei Orçamentária Anual – LOA compre-
um planejamento de modo a alocar as despesas em enderá o orçamento fiscal, o orçamento de investi-
programas de governo, segundo as políticas públi- mento das empresas públicas e o orçamento da se-
cas. guridade social. A LOA prevê as receitas e fixa as
despesas para um determinado exercício financeiro
O planejamento deve contemplar os macro- dizendo exatamente onde as despesas serão aloca-
objetivos da administração e, também, o planeja- das no intuito de reduzir desigualdades inter-
mento de curto prazo, ou seja, o planejamento ope- regionais. O art. 167 da Constituição Federal esta-
racional traduzido nos projetos básicos, projetos belece as vedações ao orçamento anual, sendo tra-
executivos, termos de referência e programas de tado em pormenor no Direito Financeiro.
governo (projetos, atividades e operações especi-
ais), constantes do Direito Administrativo e da Ci- Do exposto, podemos perceber que o Direi-
ência da Administração. to Constitucional trata, de forma ampla e principio-
lógica, das questões atinentes ao planejamento, li-
A Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO, citação, tributação e orçamento público, deixando
nos termos do § 2º do art. 165 da Constituição Fe- aos demais ramos do Direito Público o estudo dinâ-
deral, compreenderá as metas e prioridades da ad- mico de cada especificidade.
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Maria Sylvia Zanella Di Pietro assevera que O projeto básico é o conjunto de elementos
o Direito Administrativo caracteriza-se pela coexis- necessários e suficientes, com nível de precisão
tência de “prerrogativas” e “sujeições” e o concei- adequado para caracterizar a obra ou serviço. O
tua da seguinte forma: projeto executivo é o conjunto de elementos neces-
“o ramo do Direito Público que tem por objeto os sários e suficientes à execução completa da obra,
órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas
de acordo com as normas pertinentes da Associa-
que integram a Administração Pública, a atividade
ção Brasileira de Normas Técnicas.
jurídica não contenciosa que exerce e os bens de que
se utiliza para a consecução de seus fins, de natureza
pública.” Uma vez realizada a licitação e executado
regularmente o contrato administrativo, o seu obje-
Em relação às despesas públicas podemos to, que pode ser obras, serviços, compras ou loca-
mencionar que o Direito Administrativo trata de ções de equipamentos, será recebido pela adminis-
temas afetos às licitações, aos contratos administra- tração de forma provisória ou de forma definitiva.
tivos e à improbidade administrativa. O empenho da despesa ocorre no momento da assi-
natura do contrato administrativo e, a liquidação da
A Lei nº 8.666/93 (Licitações e Contratos), despesa, no recebimento definitivo do objeto con-
em seu art. 3º, dispõe que: tratado.
“a licitação destina-se a garantir a observância do
princípio constitucional da isonomia e a selecionar a
A Lei de Licitações e Contratos estabelece,
proposta mais vantajosa para a Administração e será
processada e julgada em estrita conformidade com nos seus arts. 89 a 99 os crimes e as penas daqueles
os princípios básicos da legalidade, da impessoalida- que derem causa ao não-regular procedimento lici-
de, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da tatório. A título de exemplo, podemos mencionar o
probidade administrativa, da vinculação ao instru-
art. 89 que estabelece que “dispensar e inexigir lici-
mento convocatório, do julgamento objetivo e dos
tação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar
que lhe são correlatos.”
de observar as formalidades pertinentes à dispensa
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Não pode haver pagamento de despesa sem prévio mentária e os créditos adicionais só incluirão novos
empenho e liquidação. O empenho é dedução de projetos após adequadamente atendidos os em an-
uma quantia prevista no orçamento para uma des- damento e contempladas as despesas de conserva-
pesa específica, denominada “crédito orçamentá- ção do patrimônio público” (grifamos). Conforme
rio”. A liquidação é o recebimento do bem ou ser- exposto, não é admissível apenas criar por criar um
viço, com seu conseqüente pagamento. A Adminis- bem público, é necessário que se despenda recursos
tração Pública deve seguir essas fases até para que em sua manutenção.
o orçamento público seja um instrumento adequado
de planejamento, execução e estatística dos gastos 2.4 – Direito Tributário
públicos. O Direito Tributário, conforme conceitua-
ção de Hugo de Brito Machado (2003, p. 38), “é o
A Lei de Responsabilidade Fiscal, vigente ramo do Direito que se ocupa das relações entre o
desde o ano 2000, pressupõe a ação planejada e fisco e as pessoas sujeitas a imposições tributárias
transparente, em que se previnem riscos e corrigem de qualquer espécie, limitando o poder de tributar e
desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas protegendo o cidadão contra abusos desse poder”.
públicas, mediante o cumprimento de metas de re-
sultados entre receitas e despesas. Assim, as renún- O importante a destacar é que o administra-
cias de receitas, ou seja, a concessão de benefícios dor público deve conhecer os tributos, ou seja, im-
fiscais, a assunção de despesas com pessoal, a ge- postos, taxas e contribuições relacionadas com a
ração de dívidas de curto e longo prazo, oriundas esfera de governo que atua. Além disso, é patente
de empréstimos, e os Restos a Pagar (valores a pa- compreender a repartição de receitas tributárias
gar no exercício seguinte) devem obedecer a limi- prevista na Constituição Federal de 1988, a qual
tes e condições de equilíbrio, conforme a receita prevê a entrega de valores sobre impostos assim
arrecada e conforme o planejamento orçamentário. como os Fundos de Participação dos Estados e Mu-
Segundo essa norma, a criação, expansão e nicípios.
aperfeiçoamento de ação governamental, que acar- O conhecimento do Direito Tributário pro-
rete aumento da despesa pública, deverá vir acom- piciará principalmente ao administrador público,
panhada de estimativa do impacto orçamentário- uma visão mais concreta sobre o planejamento fi-
financeiro e compatibilidade com o Plano Plurianu- nanceiro da esfera em que trabalha. Não olvidemos
al, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamen- de abordar a relação desse ramo com o Direito Fi-
tária Anual. nanceiro, conforme disposto no art. 11 da Lei
A sexta fase da despesa pública, que deno- Complementar nº 101/2000, verbis: “Constituem
minamos “Utilização e Conservação”, está prevista requisitos essenciais da responsabilidade na gestão
no art. 45 da LRF. Segundo esse artigo, “a lei orça- fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação
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de todos os tributos da competência constitucional são, prevaricação etc. Destacamos dois crimes rela-
do ente da Federação”. cionados com a despesa pública: emprego irregular
de verbas ou rendas públicas e violação do sigilo
Interessante notar que o parágrafo único do de proposta de concorrência. Percebemos que é de
art. 11 aborda que é vedado o repasse de recursos suma importância o administrador público ter ciên-
financeiros, a título de convênios e/ou outros ins- cia das consequências de seus atos frente às fases
trumentos similares (transferências voluntárias), da despesa pública.
para o ente que não observe essa disposição, no
que se refere a impostos. Portanto, os todos os Mu- Capítulo 3 – Caso Prático
nicípios devem cobrar impostos, principalmente
Imposto Sobre Serviço - ISS e Imposto Predial Histórico:
Territorial Urbano – IPTU a fim de que possam O Município Modelo há muitos anos vem
receber recursos do Estado e da União para promo- enfrentando problemas na área de saúde pública
ver ações governamentais em seu território, a e- quanto à oferta de serviços médicos, tanto de ur-
xemplo de construção de escolas, poços, melhorias gência quanto de emergência. A população residen-
habitacionais e sanitárias. te, e do entorno, está estimada em 150.000 habitan-
tes. O Município Modelo é um pólo regional tanto
2.5 – Direito Penal em indústria, serviço e pescado, aglomerando cada
MIRABETE e FABBRINI (2009, p. 1) as- vez mais pessoas em busca de emprego.
sim conceituam o ramo Direito Penal: “à reunião
das normas jurídicas pelas quais o Estado proíbe O pequeno Hospital da cidade não consegue
determinadas condutas, sob ameaça de sanção pe- absorver mais que 45% da demanda dos serviços
nal, estabelecendo ainda os princípios gerais e os médicos solicitados, encaminhando os pacientes
pressupostos para a aplicação das penas e das me- para a Capital do Estado, a mais de 300 km. O Sr.
didas de segurança, dá-se o nome de Direito Pe- Prefeito, juntamente com a Direção do Hospital, e
nal”. seu secretariado, resolveu, diante dos dados estatís-
ticos coletados, agendar reunião com o Ministro da
Diversas são as normas jurídicas em que o Saúde e com o Governador do Estado, no ano
Estado impõe responsabilidade ao administrador 20X0, para expor o problema.
público e ao particular que dilapidam o patrimônio
público. O Código Penal, Decreto-Lei nº 2.848, de A solução para o problema, segundo a co-
7/12/1940, em seu Título XI, trata dos crimes con- mitiva municipal, seria a imediata “Construção de
tra a administração pública. Vários são os crimes um Hospital Público Municipal de grande porte,
estipulados: corrupção passiva, peculato, concus- sendo referência no atendimento de urgência e e-
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mergência”, atendendo ao interesse público. O Mi- Licitação e Contrato: De posse dos proje-
nistro da Saúde e o Governador do Estado acolhe- tos básico e executivos da obra e dos equipamen-
ram o pleito do Município Modelo, ficando a cargo tos, a administração municipal iniciou a licitação
do Ministério da Saúde realizar estudo técnico a na modalidade Concorrência, assinando contrato
fim de viabilizar a execução da obra. com a empreiteira vencedora do certame.
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das fases da despesa pública. Os erros dos governantes ocorrem, no caso do Bra-
sil, por opções políticas que atacam apenas proble-
Conforme inicialmente asseverado, acredi-
mas conjunturais ou ainda na priorização de gastos
tamos que o presente estudo contribuirá para uma
que não atendam ao interesse público da maior parte
concepção científica mais aprofundada sobre o te- da população (...)”.
ma “despesa pública” primando por mais qualida-
de, eficiência e efetividade nos gastos da Adminis- Assim finalizamos nosso artigo cônscio de
tração Pública. ter contribuído com alertas e exemplos para todos
Diversos conceitos e normas do Direito Pú- aqueles que militam na área pública, sejam juristas,
blico foram expostos, demonstrando que não é pos- administradores ou estudantes.
sível, numa concepção técnico-jurídica, que um
cidadão ou administrador público, e principalmente Bibliografia
o operador do direito, possua conhecimento em BRASIL. Constituição da República Federativa
apenas uma área ou ramo isolado do Direito Públi- do Brasil de 1988.
co para compreender a formação, execução, con-
clusão e consequências de um ato. BRASIL. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964.
Ao final, apresentamos um objetivo caso Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro
prático no intuito de alertar que a realização da des- para elaboração e controle dos orçamentos e ba-
pesa pública implica em muito estudo e planeja- lanços da União, dos Estados, dos Municípios e
mento. Aliás, acrescentamos que as fases da despe- do Distrito Federal.
sa pública perpassam pelo planejamento, empenho,
liquidação, pagamento e pela utilização e conserva- BRASIL. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dis-
ção. Resta-nos concluir este artigo com uma obser- põe sobre as sanções aplicáveis aos agentes pú-
vação bastante pertinente do Promotor de Justiça blicos nos casos de enriquecimento ilícito no e-
do Estado do Piauí, Ruszel Cavalcante, extraída de xercício de mandato, cargo, emprego ou função
seu livro “Despesa pública e corrupção no Brasil”: na administração pública direta, indireta ou
“O controle da despesa pública se presta não somen- fundacional e dá outras providências.
te à otimização do gasto público, com propósito de
torná-lo eficiente e proveitoso à sociedade, mas fun-
BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.
damentalmente, proteger a própria sociedade do au-
mento de tributos. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constitui-
Uma das causas reais do aumento progressivo da ção Federal, institui normas para licitações e
despesa pública se circunscreve aos problemas dos contratos da Administração Pública e dá outras
vícios e dos erros dos governantes. Os vícios são
providências.
sinônimos da corrupção que tem se nutrido da fra-
BRASIL. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio
queza do Direito Financeiro em ter suas disposições
cumpridas, em especial a despesa pública legal. de 2000. Estabelece normas de finanças públicas
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mês, o relator da deliberação recorrida concluiu pio –, a unidade técnica promoveu a audiência dos
que os preços de referência estavam superiores aos ex-membros da comissão permanente de licitação
de mercado, imputando responsabilidade ao prego- (CPL) da prefeitura, em razão de alguns fatos, des-
eiro, ao responsável pela elaboração do edital e ao tacando-se: a) “ausência de publicação, pelo me-
diretor do departamento encarregado da compra. nos uma vez, de edital de obra pública financiada
Para o relator do recurso, no entanto, as responsa- com recursos federais, ou do(s) aviso(s) de adia-
bilidades “devem ser imputadas tão somente a mento da data/hora da sessão originalmente fixada
quem de direito”, não cabendo aplicação de multa nesse edital, no Diário Oficial da União (DOU)”;
ao pregoeiro, “pois ele não foi o responsável pela b) “ausência de publicação, pelo menos uma vez,
elaboração do edital e, principalmente, ateve-se do edital de licitação em jornal de grande circula-
estritamente aos termos deste”. Com efeito, “não ção no Estado”. Os responsáveis demonstraram
haveria amparo legal, nem sequer editalício, para que o edital da Tomada de Preços n.º 13/2001-CPL
que, após a abertura das propostas, o pregoeiro foi publicado no Diário Oficial do Estado do Mara-
deixasse de adjudicar o certame à empresa vence- nhão e no jornal „O Progresso‟. Para a unidade téc-
dora, com fundamento, unicamente, na última pro- nica, não teria havido, de fato, publicação no Diá-
posta apresentada pela atual vencedora em certa- rio Oficial da União, conforme determina o art. 21,
me diverso, eis que aquele procedimento já se en- I, da Lei de Licitações. Além disso, o jornal „O
contrava findo, tendo sido considerado, à época, Progresso‟, apesar de circular na capital maranhen-
fracassado. O que talvez pudesse ter sido feito seri- se, não é um jornal de grande expressão ou de
a, antes mesmo da publicação do referido edital, grande circulação no Maranhão, ainda que se possa
alterar as planilhas orçamentárias, ante as propos- admitir que o veículo é um jornal de grande circu-
tas apresentadas no certame precedente, mas tal lação no município. Considerando que uma única
atribuição caberia ao responsável por sua elabo- licitante compareceu à sessão de abertura e julga-
ração ou à autoridade responsável pelo certame, e mento da TP n.º 013/2001, o relator reconheceu
não, frise-se, ao pregoeiro, que deveria, no caso que o baixo nível de interesse “tem relação com a
concreto, conduzir o certame nos limites legais e falta de publicação do edital em jornal de grande
do edital, previamente aprovado.”. Com base nos circulação no Estado e no próprio Diário Oficial
fundamentos apresentados pelo relator, a Primeira da União, único veículo que, dentre os exigidos na
Câmara decidiu dar provimento ao recurso. Prece- Lei, tem circulação em todo o território nacional”.
dentes citados: Acórdãos n.os 1.445/2004 e Ao final, o relator propôs e a Segunda Câmara de-
2.289/2006, ambos do Plenário; Acórdãos n.os cidiu julgar as contas irregulares e aplicar multa
3.516/2007-1ª Câmara e 201/2006-2ª Câmara. A- aos ex-membros da CPL. Acórdão n.º 4016/2010-
córdão n.º 4848/2010-1ª Câmara, TC- 2ª Câmara, TC-003.215/2007-5, rel. Min-Subst.
010.697/2009-9, rel. Min. Augusto Nardes, Augusto Sherman Cavalcanti, 27.07.2010.
03.08.2010. (Informativo nº 28/2010) (Informativo nº 27/2010)
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GRÁTIS
mações sobre as normas, além da divulgação em
veículos de comunicação e no congresso da Or-
ganização Internacional das Entidades Fiscaliza-
doras Superiores (Intosai), previsto para o mês
de novembro, na África do Sul. AUDITORIA E GESTÃO GOVERNAMENTAL
www.contas.cnt.br/artigos
Fonte: Portal Nacional dos Tribunais de Contas
do Brasil (com adaptações) E-mail: contas.cnt@uol.com.br
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