You are on page 1of 13

Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar

Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

TEXTO TEÓRICO1

Caro(a) aluno(a),

Seja bem-vindo(a) a este Estudo Dirigido. É com grande


prazer que o(a) convido para um encontro especial com a leitura,
com suas intensidades possíveis, como bem ilustram os versos de
Fernando Pessoa:

“Para ser grande, sê inteiro: nada


Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a Lua toda
Brilha, porque alta vive.”

É este o meu desejo. Que você seja “inteiro” nesse


processo de ensino e aprendizagem da leitura. Que você possa
descobrir cada vez mais o gosto de ler e de escrever, compreendendo
melhor as idéias, analisando e interpretando com maior clareza,
tecendo relações entre o que escreve e lê e o que vive.
Fica, então, o convite para experimentar com
intensidade o gosto de lidar criticamente com o texto.

Boa atividade!
Profª M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

1
Este texto contém os fundamentos teóricos mínimos que darão suporte para realização das atividades
(discursivas e simulados) do semestre.
Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar
Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

INTRODUÇÃO

A base teórica sobre a qual assentamos para desenvolver as atividades


deste Estudo Dirigido é tributária da perspectiva bakhtiniana. Para Mikhail
Bakhtin, teórico russo, cada esfera da atividade humana elabora seus “tipos
relativamente estáveis de enunciado, os gêneros do discurso”. O autor
elucida que
A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (...)
cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos
relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que
denominamos gêneros do discurso... A riqueza e a variedade
dos gêneros de discurso são infinitas, pois a variedade virtual
da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa
atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que
vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria
esfera se desenvolve e fica mais complexa. (Bakhtin,
1953/1979, p. 279).

Assim, quando interagimos com outras pessoas por meio da


linguagem, seja a linguagem oral, seja a linguagem escrita, produzimos
certos tipos de texto que, com poucas variações, se repetem no conteúdo,
no tipo de linguagem e na estrutura. Esses tipos de textos constituem os
chamados gêneros textuais ou gêneros do discurso e foram historicamente
criados pelo ser humano a fim de atender a determinadas necessidades de
interação verbal.
Todo gênero do discurso, do ponto de vista contextual, está sempre
relacionado a uma esfera de atividade humana que, por sua vez, insere-se
em um conteúdo sócio-histórico e econômico mais amplo.

Tem-se como exemplo de esferas sociais, com seus gêneros próprios:

ESCOLAR:
JURÍDICA:
Texto didático,
Petição
Seminário, COTIDIANA:
decreto... Conversa Familiar,
Resumo...
Cumprimento,
Bilhete...
JORNALÍSTICA: CIENTÍFICA:
Notícia, Tese,
Reportagem, Palestra, ARTÍSTICA:
Artigo... Ensaio... Conto,
Romance,
Novela...
POLÍTICA
Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar
Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

Neste Estudo Dirigido, vamos nos deter na leitura e interpretação de


textos dos gêneros da esfera jornalística. O estudo desses gêneros (bem
como dos demais gêneros que compõem o conjunto mais amplo das
manifestações da comunicação de massa) apresenta uma grande relevância
social.
Melo (1994) propõe duas categorias jornalísticas, com seus gêneros,
para o jornalismo brasileiro: jornalismo informativo (gêneros: nota,
notícia, reportagem, entrevista) e jornalismo opinativos (gêneros:
editorial, comentário, artigo de opinião, resenha, coluna, crônica,
caricatura, carta). Nesta perspectiva, estudaremos, no primeiro bimestre,
os gêneros informativos: notícia, reportagem e entrevista; no segundo, os
opinativos: artigo de opinião e crônica.

C
Caarraacctteerrííssttiiccaass d
dee u
umm tteexxttoo iin
nffoorrm
maattiivvoo
Para fins didáticos, podemos entender o texto de gênero informativo
como aquele que tem como objetivo central informar o leitor de algum fato
ou de alguns fatos.

CARACTERÍSTICAS

Unidade temática: um bom Unidade estrutural: O


texto de informação se segundo aspecto básico de
concentra num assunto um bom texto de informação
específico, permitindo um é a ordem das informações, a
resumo claro em poucas sua seqüência. Isto é, o texto
palavras. deve apresentar um conjunto
de dados de cada vez, que em
geral se organizam em
parágrafos.

Todo texto bem escrito estabelece


um sistema de referências que
situa o leitor no universo do que se
lê. Parece que esta é uma regra
universal; mesmo o texto literário
mais fantástico estabelece, para o
leitor, um mundo possível. São as
informações concretas que
imediatamente nos levam a
acreditar no que o autor diz.
Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar
Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

C
Caarraacctteerrííssttiiccaass d
dee u
umm tteexxttoo oop
piin
naattiivvoo

O texto opinativo também transmite informações ao leitor – mas as


informações transmitidas nele estão a serviço da opinião – podem mesmo
servir de provas, em defesa da opinião defendida.
A defesa de uma opinião – e todos nós sabemos disso a partir do
simples fato de que falar é estabelecer um ponto de vista sobre o mundo –
pressupõe argumentos ou provas. Podemos resumir essa questão com um
slogan simples: Afirme e sustente!

No uso diário da linguagem emitimos e enfrentamos opiniões a todo


instante, e normalmente sabemos avaliar com bastante clareza o
fundamento, ou não, de um argumento apresentado, pelo menos em
situações coloquiais, quando o universo discutido nos é familiar.

Aspectos que estruturam o


texto argumentativo:

Tese central
defendida

Argumentos
apresentados em
defesa da tese

Os argumentos não existem em estado


“puro”, isto é, eles normalmente se dirigem a
um interlocutor concreto, que tem lá suas
opiniões. Assim, todo texto de opinião bem-
sucedido leva em consideração as opiniões do
interlocutor, seja para omiti-las (na medida
em que enunciar uma contraprova poderia
destruir o que está dizendo), seja para se
antecipar a uma possível resposta. Interlocutor

Leia a citação de Bakhtin:


Não pode haver interlocutor abstrato; não
teríamos linguagem comum com tal
interlocutor, nem no sentido próprio nem no
figurado.

Um texto de jornal dirige-se a quem, especificamente? A ninguém em


especial, é claro; dirige-se, por princípio, a todos os leitores. A qualquer
leitor ou a um grupo delimitado de leitores? Ora, é impossível se dirigir a
Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar
Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

todas as pessoas ao mesmo tempo – como diz Bakhtin, não teríamos essa
linguagem universal. Na verdade, cada palavra que dizemos ou escrevemos
revela quem somos e a quem nos dirigimos, concretamente. Os
profissionais da palavra – Jornalistas, publicitários, por exemplo – sabem
muito bem disso: existem textos para jovens, velhos, mulheres, crianças, e,
em cada caso, para interesses específicos (econômicos, culturais,
esportivos...), nível de escolaridade (superior, fundamental...), classe
econômica. Enfim: basta observar uma banca de jornal e perceber como é
multifacetado o universo da palavra escrita. a cada um, a sua linguagem –
essa parece a regra prática da escrita.

E
Ennu
unncciiaaççããoo,, aap
prreecciiaaççããoo ee rreellaattoorreess

Considere esta afirmação de Mikhail Bakhtin:

Não se pode construir uma enunciação sem modalidade


apreciativa. Toda enunciação compreende antes de mais nada
uma orientação apreciativa. É por isso que, na enunciação viva,
cada elemento contém ao mesmo tempo um sentido e uma
apreciação.

Em outras palavras, Bakhtin diz que não há “informação pura”, isto é,


toda palavra está carregada de opinião. O próprio destaque gráfico dado a
uma ou outra informação já indica apreciação, ou seja, um ponto de vista
sobre o que é e o que não é relevante. Pense nos noticiários da televisão: a
simples escolha das notícias que vão ao ar também já é, em si, uma opinião
sobre o que acontece no país.
Todo texto bem escrito obedece a uma hierarquia de informações, que
se dividem em parágrafos. Isto é, o texto avança em partes
semanticamente organizadas, de modo que as informações não se
atropelem. Mas o avanço das informações deve ser “costurado”, ou então
será apenas uma seqüência avulsa de dados. O velho ditado da linguagem
popular – “uma coisa puxa a outra” – é particularmente verdadeiro no texto
escrito.
Para que esta “costura” seja clara e lógica, a língua dispõe de uma
série de recursos coesivos, que são aquelas palavras que estabelecem
relação entre o que foi dito e o que se vai dizer, que ligam uma coisa com
outra. Vamos chamar essas palavras de relatores.

Como exercício, diga o que significam as palavras em negrito do texto


abaixo:
Pede-se atenção a este que se segue. “Era uma vez uma terra
distante onde todo mundo trabalhava naquilo que mais
gostava – e, mesmo assim só quando acordasse disposto.
Nesse lugar, escola e assistência médica eram gratuitas,
ninguém pagava aluguel e, nas horas de folga, todos se
dedicavam à dança, ao teatro, à música e às artes em geral.”

Veja que em si estas palavras pouco significam – elas apenas


“apontam” para outras palavras. Tais relatores são elementos
extremamente importantes da linguagem escrita: a eles devemos a
precisão e a clareza de um texto.
Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar
Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

Os relatores são também fundamentais na costura dos parágrafos.


Cada parágrafo novo deve contar com as informações dos parágrafos
anteriores, que não precisam ser repetidas, mas que devem ser levadas em
conta para que o texto não se transforme numa mera colagem de
informações avulsas sem relação entre si. De alguma forma, o início do
parágrafo seguinte deve ser relacionar com o que foi dito antes.
Para fins didáticos, vamos separar os relatores em dois grupos
principais:

ELEMENTOS DE REFERÊNCIA TEXTUAL

São aqueles que fazem referência a algum termo mencionado no texto


anteriormente ou posteriormente.

ELEMENTOS DE RELAÇÕES LÓGICAS

São aqueles que estabelecem uma relação lógica entre uma


informação (ou conjunto de informações) e outra (ou outras). São
exemplos: então, portanto, já que, com efeito, porque, ora, mas, assim,
daí, dessa forma, isto é ...
É preciso levar em conta que cada um desses relatores, além de ligar
as partes do texto, estabelece uma certa relação semântica (causa,
finalidade, conclusão, contradição, condição etc.), que possui uma dada
função argumentativa no texto.
Por que tais relatores (mas, no entanto, porém, só que...) são
importantes num texto, especificamente num de opinião? Observe que um
bom texto argumentativo sempre apresenta o outro lado, para melhor
fundamentar o próprio lado. Do mesmo modo, as conclusões aparecem
sempre em decorrência do que se disse antes (assim, desse modo, como
vemos, considerando esses fatos, em conseqüência disso...).

OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DE RELAÇÕES LÓGICAS


Conjunções, locuções conjuntivas, preposições e locuções prepositivas

adição e, nem, também, não só... mas também.


alternância ou... ou, quer... quer, seja... seja.
causa porque, já que, visto que, graças a, em virtude de,
por (+ infinitivo)
conclusão logo, portanto, pois.
condição se, caso, desde que, a não ser que, a menos que.
comparação como, assim como.
conformidade conforme, segundo.
conseqüência tão... que, tanto... que, de modo que, de sorte que, de
forma que, de maneira que.
explicação pois, porque, porquanto.
finalidade para que, a fim de que; para (+infinitivo)
oposição mas, porém, entretanto; embora, mesmo que; apesar
de (infinitivo)
proporção à medida que, à proporção que, quanto mais, quanto
menos.
tempo quando, logo que, assim que, toda vez que, enquanto.
Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar
Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

A
A PPA
ALLA
AVVR
RAAD
DOOS
SOOU
UTTR
ROOS
S

O verbo dicendi é tão importante que, ao trocá-lo, você pode virar uma
declaração pelo avesso. Por exemplo:

“Sou inocente”, disse.


“Sou inocente”, esclareceu.
“Sou inocente”, insistiu.
“Sou inocente”, alegou.
“Sou inocente”, mentiu.

A representação da palavra do outro tem uma importância especial,


porque transmitir as palavras de alguém é também marcar uma opinião
sobre as palavras que transmitimos. Basta ler as cinco ocorrências de “Sou
inocente” acima para perceber isso. Na linguagem oral, a simples entonação
da voz pode marcar nosso ponto de vista sobre o que transmitimos: ironia,
desconfiança, certeza, dúvida... Mas, na escrita, são outros os recursos, que
vão desde a escolha do verbo (exemplo citado) até a seleção de palavras ou
expressões que queremos transmitir.
A língua escrita estabeleceu um código convencional de sinais para
marcar graficamente as citações. É importante dominá-lo, porque dele
depende a clareza do texto, quanto à separação entre o que dizemos e o
que o outro diz.
Um dos recursos típicos do jornalismo é mesclar as palavras citadas
com as palavras do redator, no mesmo período, separando umas das outras
com aspas.
Detalhe 1: citação depois de dois pontos inicia-se com maiúscula
(... ao dizer: “Da próxima vez...”).

Detalhe 2: citação depois de vírgula inicia-se com minúscula (Para


Rosa e Silva, “é no mínimo curioso...”).

Detalhe 3: citação “interrompida” pelo redator fecha-se com aspas,


abrindo novamente ao ser retomada (“O presidente”, afirmou o
porta-voz, “está sendo perseguido pela imprensa”.)

Outros dois recursos gráficos para indicar a fala alheia são: aspas e
travessão. Na linguagem jornalística, é mais comum o uso de aspas; o
travessão é um recurso tipicamente literário.

G
GÊÊN
NEER
ROOS
S JJO
ORRN
NAALLÍÍS
STTIIC
COOS
S IIN
NFFO
ORRM
MAAT
TIIV
VOOS
S
Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar
Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO NOTÍCIA

I - SITUAÇÃO DE PRODUÇÃO

LEITORES múltiplos (conhece-se


(conhece apenas estatisticamente
atisticamente o perfil de leitor
l
de um determinado jornal).
REDATOR – em alguns casos desconhecidos. Em outros, outros o redator aparece
identificado. Ele segue uma diretriz geral editorial de um jornal. O redator
re
está subordinado ao editor que pode alterar a notícia,
notícia, cortar partes, etc.
Uma notícia é freqüentemente reescrita, condensada, traduzida, enfim,
submetida a critérios de edição.
OBJETO – acontecimentos ou fatos do mundo. Uma notícia pretende-se pretende
afirmar como verdadeira.
verdadeira
OBJETIVO – informar leitores, interessando-os
i os pela matéria e fazendo-se
fazendo
entender por eles, o mais neutramente possível e com maior fidedignidade
possível (compromisso ético-jornalístico).
ético
SENSACIONALISMO X IMPARCIALIDADE:
Sensacionalismo – coleta de informação a qualquer preço e de qualquer q
maneira, muitas vezes, sem nenhum critério de apuração e organização
dos fatos; - imparcialidade – a busca do desenvolvimento de métodos de
pesquisa para apuração e tratamento
tratament da informação. Pode-se se pensar que a
distinção acima implica dois tipos básicos de imprensa.
IMPARCIALIDADE:: Por mais que se tenha uma intenção de ser imparcial,
uma imparcialidade total é impossível, pois o redator tem que escolher
como vai contar o fato, o que implica em uma dada seleção lexical, em
uma escolha do que se estabelece
est como tópico, etc.
SUPORTE MATERIAL DA NOTÍCIA – Jornal – periódico diário perecível,
de duração fugaz.
TIPOS DE JORNAL:: Determinado pelo público alvo que se pretende
atingir, o que implica diferentes tratamentos
tratamentos à matéria jornalística.
JORNAL – além de um veículo de informação é também um veículo
formador de opinião.
A INSTITUIÇÃO IMPRENSA controla e manipula informações em escala
industrial. Muito do noticiário internacional é ditado para o mundo por
algumas poucas agências de notícias localizadas
localizadas em países centrais.
Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar
Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

II - CONTEÚDO DA NOTÍCIA

SELEÇÃO DE TEMAS – Como selecionar o que “merece” ser notícia?


Verbete Folha de S. Paulo – importância da notícia:
“Importância da notícia – critérios elementares para definir a importância
de uma notícia:
a) ineditismo (a notícia inédita é mais importante do que a já
publicada);
b) improbabilidade (a notícia menos provável é mais importante do que
a esperada);
c) interesse (quanto mais pessoas possam ter sua vida afetada pela
notícia, mais importante ela é);
d) apelo (quanto maior a curiosidade que a notícia possa despertar,
mais importante ela é);
e) empatia (quanto mais pessoas puderem se identificar com o
personagem e a situação da notícia, mais importante ela é)
Ao levar em consideração esses critérios, não esqueça que as reportagens
da Folha devem atender às necessidades de informação de seus leitores,
que formam um grupo particular dentro da sociedade. Esses interesses
mudam e o jornal participa de modo ativo desse processo.”

III – FORMA DA NOTÍCIA E ALGUMAS MARCAS LINGÜÍSTICAS

Estruturação geral: na maioria das vezes, os eventos são ordenados


não por sua seqüência temporal, mas pelo interesse ou importância
decrescente na perspectiva de quem conta e, sobretudo, na suposta
perspectiva de quem ouve.
Inicia-se por um LEAD – primeiro parágrafo da notícia -, que deverá
informar quem, fez o que, a quem, quando, onde, como, porque e
para que (no corpo da notícia também podem aparecer outros leads)
Existência de enunciados mais referenciais e inexistência de
enunciados opinativos.
Privilégio do modo indicativo.
Uso da terceira pessoa.
Marcas de impessoalidade (pronome oblíquo – se, uso de passivas
sintética e analítica, etc).
Usa-se, muitas vezes, o tempo presente nas manchetes ou títulos da
matéria, o que causa um efeito de aproximação do leitor com o fato.
Linguagem utilizada tenta conciliar registros (combinações ou
expressões possíveis no registro coloquial e aceitas no formal). Isso
porque se busca uma comunicação eficiente e, ao mesmo tempo, de
aceitação social.
Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar
Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

Enquanto a notícia sintetiza o fato e pode ser ou não ampliada, a


reportagem trata de assuntos não necessariamente relacionados a fatos
novos. Na reportagem, busca-se certo conhecimento do mundo, o que inclui
investigação e interpretação. Os jornais, embora vivam a concorrência e a
velocidade da mídia eletrônica, ainda continuam explorando particularmente
a notícia, o fato novo, presente, atual, de interesse humano, mas já
ocupam grande parte de suas páginas com a investigação de causas e
conseqüências e a interpretação, sempre em direção à reportagem. A
reportagem exige conhecimento de antecedentes, adição de minúcias
complementares à notícia e adequação da linguagem ao leitor. Em geral, os
repórteres anotam pontos que explorarão quando se sentarem para
escrever.

O conceito de reportagem envolve um conjunto de providências necessárias


à confecção de uma notícia jornalística, como cobertura, apuração, seleção
de dados. Embora algumas pessoas considerem reportagem um tipo
específico de notícia, em que há descrição apurada e ampla dos
acontecimentos, acompanhada de documentos e testemunhos, tal
designação é inadequada, pois esse tipo de notícia é resultado de uma
reportagem e não é a própria reportagem.

As reportagens são construídas com base em:

• Esboço predeterminado;
• Anotação dos pontos que devem ser destacados;
• Reflexão suficiente sobre todo o texto que se vai escrever;
• Consciência da cronologia dos fatos;
• Cuidado com partes indigestas;
• Transições adequadas entre um e outro acontecimento.

É uma conversação face a face, metódica e estruturada, com objetivo


principal de obter informações. Além desse objetivo, é possível também
averiguar fatos, opiniões, sentimentos, e atitudes do entrevistado. Suas
formas de organização são variadas:
• padronizadas – as perguntas são definidas anteriormente;
• despadronizadas – há uma linha de questionamento pré-definida, mas as
perguntas podem ser alteradas no decorrer da situação;
• painel – um candidato é entrevistado por várias pessoas ao mesmo
tempo ou em seqüência.
Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar
Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

2
G
GÊÊN
NEER
ROOS
S JJO
ORRN
NAALLÍÍS
STTIIC
COOS
SOOPPIIN
NAAT
TIIV
VO S2
OS

ARTIGO

Aspectos da dimensão social do artigo

O artigo apresenta certos traços em comum com os outros gêneros


jornalísticos, tais como: a interação autor/leitor não acontece no mesmo
espaço e tempo físicos; também não ocorre “de pessoa a pessoa”, mas é
“mediada” ideologicamente pela esfera do jornalismo; eles têm determinada
periodicidade (diária, semanal) e “validade” prevista (um curso de vinte e
quatro horas nos jornais diários; de uma semana etc.).
O artigo se situa na seção Opinião, elemento constitutivo do
gênero, pois é o lugar da sua ancoragem ideológica, delimitando a que
parte do universo temático do jornalismo ele se refere, qual o seu horizonte
temático, sua finalidade da interação.
O interlocutor do gênero é o leitor das classes sociais A e B, ou C,
quando a empresa jornalística tem a região como critério de divisão dos
seus jornais. Nos jornais destinados exclusivamente aos leitores das classes
populares, não se encontra a presença do artigo. Nessa diferenciação,
percebe-se como o trabalho da ideologia e os índices sociais de valor se
manifestam não só nos “conteúdos” dos enunciados, mas nos gêneros e na
sua circulação social diferenciada, demonstrando a existência de diferentes
condições sociais de investimento dos gêneros. Além disso, na posição do
interlocutor (leitor) e da autoria não se pode deixar de incluir a empresa
jornalística, pois a publicação do artigo passa pela leitura e aprovação
prévia.
O artigo é redigido por um colaborador do jornal – fixo, eventual -,
convidado pela empresa pra expor seu ponto de vista sobre determinado
assunto da atualidade e de sua competência. Quanto ao lugar social que
representam, há principalmente a presença de articulistas da esfera política
e da esfera da indústria, do comércio e da administração, representada em
grande parte por presidentes ou donos de associações empresariais da
indústria, do comércio e da prestação de serviços. Outras esferas
representativas são a científica (nessa situação, normalmente a posição da
autoria não é a figura do cientista voltado para o objeto científico, mas a
figura do homem social público falando, da sua esfera de atuação, sobre os
acontecimentos sociais do momento; são preferencialmente
pesquisadores/professores das áreas sociais: economia, história, sociologia,
jornalismo), a religiosa, a jornalística, a artística e a jurídica.

2
Exemplos dos gêneros jornalísticos opinativos consultem os jornais A gazeta e Folha de São Paulo nos
seguintes endereços eletrônicos http://www.gazetadigital.com.br/ e http://www.folha.uol.com.br/ .
Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar
Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

O reconhecimento social e profissional do articulista outorga


credibilidade a sua fala, alçando-o à posição de “articulador” de um ponto
de vista autorizado, de formador de opinião. Seu posicionamento sobre
determinado acontecimento social constitui-se em tema (objeto) de
interesse para os jornais e para o público leitor.

Aspectos da dimensão verbal do artigo

A emergência do artigo é motivada pelos acontecimentos da


atualidade, tais como mudanças na política governamental e econômica,
crises financeiras internacionais, eleições, lançamento de um livro que
causou impacto, o discurso de uma autoridade pública, datas
comemorativas. Esses acontecimentos desencadeadores podem ser
alçados pelo articulista como objeto de crítica e questionamento; de
concordância e comentário positivo; de apoio/argumento para o seu
discurso; ou como uma espécie de ponto de partida, gancho para a
construção do seu discurso.
No gênero artigo, interessa menos a apresentação dos
acontecimentos sociais em si, mas a sua análise, e interessa, junto com
eles, a posição do autor do artigo. O conteúdo temático do artigo se
encontra na articulação entre a apreciação dos acontecimentos sociais e a
questão do angulamento da autoria (um posicionamento externo ao do
jornal). Por exemplo, interessam não só as informações sobre a reforma
previdenciária, que poderiam ser buscadas em outros enunciados, de
outros gêneros, mas o posicionamento de uma pessoa pública sobre esse
assunto. O conteúdo temático do artigo constitui-se como o ponto de
vista do seu autor, o articulista (uma pessoa pública, credenciada
socialmente, externa ao jornal), a respeito dos acontecimentos
sociopolíticos da atualidade histórica, objeto de notícia jornalística. O
jornal noticia como informação jornalística a opinião do articulista sobre
esses acontecimentos.

C
CRRÔ
ÔNNIIC
CAA

Tipo de texto jornalístico que se caracteriza particularmente pelo estilo


descontraído que a faz situar entre o jornalismo e a literatura. De um lado,
o jornalismo interessa-se pela atualidade da informação (o termo crônica
provém de cromnos, que significa tempo); de outro, tem em vista superar a
fugacidade da notícia e, portanto, ultrapassa os fatos. Tradicionalmente,
crônica é relato de fatos dispostos em ordem cronológica. Inicialmente, os
cronistas ocupavam-se com o simples relato dos fatos, não se interessando
pela investigação de causas e conseqüências. A partir de Fernão Lopes,
escritor português, a crônica passou a interessar-se por causas e efeitos.
Ed 1 – Habilidade: Compreender e Expressar
Profa. M.Sc. Jozanes Assunção Nunes

CARACTERÍSTICAS. Em geral, a crônica é constituída de acontecimentos


diários que propiciam reflexões e da exposição de uma visão subjetiva do
cronista, ou crítica e a linguagem utilizada ou é sentimental, ou emotiva,
ou irônica, ou sarcástica.

ESPÉCIES. Em geral, três são as espécies: crônica-comentário, crônica


lírica e crônica narrativa.

A crônica-comentário, como todas as demais, é escrita segundo uma


visão pessoal, denunciada particularmente pela presença da primeira
pessoa explícita ou implícita na terminação verbal, linguagem direta,
simples, de vocabulário familiar. Gira em torno de fatos, que
proporcionam reflexões.

A crônica lírica tem como elemento identificador a linguagem


sentimental e a ausência de um eixo centralizador e apresenta uma visão
sentimental da realidade interna ou externa.

Finalmente, a crônica narrativa, além da primeira pessoa, admite o uso


de terceira pessoa e sua forma de exposição predileta é a narração. A
linguagem é recheada de humor e ironia e as idéias giram em torno de
fatos da história. Predomina uma historinha leve, divertida, de ritmo leve,
com final, às vezes, inesperado.

Q
QUUA
ADDR
ROOR
REES
SUUM
MIITTIIV
VOO –– G
GÊÊN
NEER
ROOS
S IIN
NFFO
ORRM
MAATTIIV
VOOS
S EE O
OPPIIN
NAATTIIV
VOOS
S

Gêneros Objetivos Modos de organização do discurso


Notícia Relatar fatos ou acontecimentos de Narrativo, com possibilidade de trechos
interesse da comunidade. descritivos e expositivos.
Reportagem Informar sobre assuntos atuais de Expositivo com a possibilidade de trechos
interesse da coletividade. descritivos, narrativos e dialogais.
(Deve apresentar opinião/avaliação de
especialistas)
Entrevista Informar, explicar um fato, apresentar Dialogal
opinião sobre determinado assunto.
Artigo Apresentar a opinião do autor sobre Argumentativo
determinado assunto, procurando
convencer o leitor ou interlocutor.
Crônica Comentar um fato. Expositivo ou narrativo, na 3ª ou na 1ª
pessoa do discurso.

B
BIIB
BLLIIO
OGGR
RAAFFIIA
A

Este material foi elaborado com finalidade didática, apresentando uma compilação
de partes das obras abaixo relacionadas:

ANDRADE, Maria Margarida de. Curso de língua portuguesa para a área de humanas:
enfoque no uso da linguagem jornalística, literária, publicitária. São Paulo: Atlas, 1997, pp.
104 - 113.
FARACO, Carlos Alberto e TEZZA, Cristovão. Prática de texto para estudantes universitários.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1992, pp.186 -238.
KARWOSKI, A.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K.S. (orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino.
Rio de Janeiro: Lucerna, 2006.
RODRIGUES, Rosângela Hammes. “O artigo jornalístico e o ensino da produção escrita” In. A
Prática de Linguagem em Sala de Aula. São Paulo: EDUC, 2005, pp. 213 - 219.
_______________________________. “Os gêneros do discurso na perspectiva dialógica da linguagem: A
abordagem de Bakhtin” In. Gêneros Teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola Editoria, 2005, pp.
152 – 184.

You might also like