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CUIDADO
As infecções do trato reprodutivo feminino originam-se nos genitais externos, vagina e
colo do útero, podendo ascender até o útero, trompas e ovários.
A maior parte das infecções que acometem estas áreas é transmitida por relações
sexuais e caracteriza as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). As quais, por sua
vez, são um dos importantes fatores de risco para a infecção pelo HIV.
As várias infecções do trato reprodutivo podem interagir com o HIV e desta interação
resulta a potencialização mútua, pois:
QUADRO I
QUADRO I (cont.)
DOENÇAS VERRUGOSAS
Dentre elas destaca-se o condiloma acuminado. As mulheres soropositivas para o HIV
são de alto risco de infecção pelo seu agente causador. Nelas, o vírus manifesta-se sob
a forma de lesões extensas e recidivantes ou sob a forma de neoplasia intra-epitelial
cervical, uma síntese dessas doenças pode ser encontrada no QUADRO II abaixo.
QUADRO II
Por outro lado, a candidíase é mais freqüente na mulher HIV positivo. Por esse motivo,
deve-se suspeitar de soropositividade para o HIV diante de manifestações fúngicas
recorrentes e que não respondem ao tratamento. Uma síntese dessas patologias pode
ser visualizada no QUADRO III.
QUADRO III
Doença: Tricomoníase
Agente Causador Trichomonas vaginalis
Forma de contato sexual
Contágio
secreção vaginal bolhosa, amarelo-esverdeada, fétida
eritema vulvar e vaginal
Sinais e Sintomas mucosa vaginal com aspecto "em framboesa"
pode haver queixa de desconforto, dor à relação sexual,
à micção e/ou abdominal, freqüência aumentada de micção
orientar higiene pessoal mais freqüente
orientar uso de absorvente ou penços perineais para
maior conforto
Assistência de orientar uso de roupas que facilitem a ventilação local
Enfermagem orientar uso de roupas mais folgadas e de algodão
orientar a não ingerir bebida alcóolica durante o
tratamento e até 24 h após a sua conclusão
orientar ingestão de medicamentos às refeições
Doença: Gonorréia (blenorragia)
Agente Causador Neisseria gonorrohoeae
Forma de contato sexual
Contágio
Sinais e Sintomas abundante secreção vaginal amarelo-esverdeada,
espessa
sensação de calor e ardência e/ou dor ao urinar
freqüência aumentada de micção
prurido vaginal (coceira)
assintomática em 70% dos casos
sua cronicidade pode levar a doença inflamatória pélvica,
esterilidade, gravidez ectópica, dor pélvica crônica e
disseminação hematogênica
orientar higiene freqüente da região genital
orientar uso de absorvente ou penços perineais para
Assistência de
maior conforto
Enfermagem
orientar para uso de roupas mais folgadas e de algodão
orientar uso de roupas que facilitem a ventilação local
As lesões causadas pelas DST, das quais citamos as mais comuns, facilitam a
penetração do HIV no trato reprodutivo feminino, assim como suas manifestações são
mais resistentes ao tratamento e se apresentam com maior gravidade na mulher
soropositiva para o HIV.
Ao abordar a condição da mulher como indivíduo sujeito a infectar-se com agentes
causadores de DST/AIDS, não se pode excluir a possibilidade de que esta manifestação
esteja presente durante a gravidez. Nesta situação e, na dependência do pronto
atendimento da mulher e de sua adesão ao tratamento, poderá ou não haver
comprometimento fetal. Para conhecer o risco de infecção do feto, consultar o
Manual de Controle de Doenças Sexualmente Transmissíveis.
Procedimentos de Enfermagem
As considerações anteriores levam-nos a apontar como uma das prioridades da
enfermeira na atenção à saúde da mulher a prevenção e a identificação precoce das
Doenças Sexualmente Transmissíveis, de modo a oferecer tratamento adequado diante
de cada especificidade de acometimento. Para tanto, ao profissional enfermeiro cabe:
Sexualidade e Autocuidado
As orientações sobre medidas de sexo mais seguro oferecidas ao casal têm como
objetivo o envolvimento do homem neste processo. É sabida a dificuldade da mulher
para conversar com seu parceiro sobre sexualidade e comportamento sexual de
ambos, bem como para negociar o uso de preservativo.
Esta forma de olhar o preservativo está contribuindo para o aumento dos casos de
transmissão heterossexual do HIV. No período compreendido entre 1983 e junho de
2000, os dados epidemiológicos mostram que o contato heterossexual foi responsável
por 53,6% dos casos de infecção pelo HIV em mulheres no país. Esta situação
demonstra a tendência de crescimento da AIDS observada ultimamente,
principalmente entre mulheres com família constituída e, por conseqüência, o aumento
da transmissão vertical do HIV.
Estudos têm demonstrado que parte das mulheres com relação estável (com família
constituída) aceita a infidelidade do companheiro, mas não se preocupa em proteger-
se de DST/AIDS usando medidas de sexo mais seguro. Outra parte das mulheres não
acredita que seu companheiro seja infiel e por isso não procura utilizar o preservativo
em suas relações. Há ainda mulheres que esperam ser comunicadas pelo parceiro caso
este esteja mantendo relacionamento extra-conjugal ou tenha sorologia positiva para o
HIV. Acreditar nestes comportamentos do homem contribui para aumentar a
participação da mulher na cadeia de transmissão do vírus da AIDS.
Outro fator a considerar neste processo é o desconhecimento feminino sobre o
comportamento do parceiro em relação aos riscos de infectar-se pelo HIV, quer seja no
passado, quer no presente. É característica cultural da maioria dos casais brasileiros
evitar discutir a sexualidade dos parceiros ainda que esta omissão interfira na condição
de saúde do(a) companheiro(a).
Estudos têm demonstrado também que muitas mulheres tomam conhecimento de sua
soropositividade ao se submeterem à sorologia para o HIV, em sua maioria, como
teste de rotina nos serviços de pré-natal, ou quando o parceiro torna-se doente de
AIDS e busca tratamento.
Na tentativa de reduzir os riscos a que a mulher está exposta pelas crenças culturais
da população brasileira, onde, na maioria das famílias, a mulher é submissa
econômica, social e culturalmente ao homem, há necessidade de desenvolver
estratégias que aumentem seu poder na negociação com o parceiro para o uso de
medidas de sexo mais seguro. Esta abordagem, no entanto, não deve se restringir
unicamente à orientação da mulher, mas envolver o homem nestas orientações
buscando desenvolver seu senso de responsabilidade, que está comprometido pelo
próprio comportamento sexual que a sociedade espera dele. Se à mulher é esperado
que permaneça no lar, cuidando dos filhos e dos afazeres domésticos, ao homem é
facilitada a oportunidade de trânsito a outros ambientes onde tem risco de infectar-se
com o HIV e outros agentes de DST. Uma vez infectado, traz para sua família a
possibilidade de infectar-se. Neste sentido, as equipes devem procurar trabalhar este
assunto em diversos espaços da comunidade, buscando apoio de organizações sociais
na difusão das práticas de sexo mais seguro para os diferentes grupos etários da
população.
Buscar envolvimento do homem nos locais onde ele freqüenta como lazer;
Promover discussões com grupos de casais da comunidade ou vizinhanças,
discutindo o comportamento do homem no ambiente público que pode colocá-lo como
agente na transmissão de DST/AIDS a sua(s) parceira(s);
Igualmente demonstrar que os parceiros infectados com DST/HIV-AIDS são
altamente agentes de transmissão da patologia que os acomete;
Mostrar a relação existente entre a presença de DST e HIV, ambos facilitadores de
infecção mútua;
Reforçar a importância de adoção de medidas de sexo mais seguro (uso de
preservativo) para redução dos riscos de DST/AIDS;
Diante da presença de DST, encaminhar a mulher e seu parceiro para realizar teste
anti-HIV, dada à estreita relação entre ambos; Caso o encaminhamento acima seja
necessário, não deverá ser excluído o aconselhamento pré e pós-teste. Para maior
esclarecimento sobre aconselhamento, consultar o Manual de Controle de
Doenças Sexualmente Transmissíveis.
Tais medidas visam obter maior participação do parceiro na adoção de medidas para
redução de Doenças Sexualmente Transmissíveis no país, bem como oferecer
momentos para reflexão do casal oportunizando a valorização de ambos os parceiros
ao exercerem sua sexualidade.
Glossário
1
Enfermeira Obstétrica. Professor Doutor do Departamento de Enfermagem Materno-
Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo
Bibliografia
NAUD, P. et al. DST & AIDS. Porto Alegre, Artes Médicas, 1993.