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FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO

Curso de Educação Física e Desporto – Exercício e Bem Estar

RELATÓRIO

“SISTEMAS ENERGÉTICOS”

28 de Março de 2010

Docente da Disciplina: Aluno:


Profº Rui Batalau Nuno Afonso
20085193
Relatório Fisiologia do Exercício – Sistemas Energéticos

A compreensão daquilo que significa “energia” e da forma como o organismo a


pode adquirir, converter, armazenar e utilizar, é a chave para compreender o
funcionamento orgânico tanto nos desportos de rendimento, como nas actividades
de recreação e lazer. O estudo da bioenergética permite entender como a
capacidade para realizar trabalho (exercício) está dependente da conversão
sucessiva, de uma em outra forma de energias.
Para compreender as necessidades energéticas de qualquer modalidade desportiva,
tanto a nível do treino como da competição, é importante conhecê-la
profundamente. O sucesso de qualquer tarefa motora pressupõe que a conversão
de energia seja feita eficazmente, na razão directa das necessidades energéticas
dos músculos esqueléticos envolvidos nessa actividade.
Nas actividades fisicas e quanto à avaliação da performance, pode-se classificá-las
em 3 grupos distintos, como: potência, velocidade e resistência, aos quais associa-
se um sistema energético específico, respectivamente, os sistemas ATP-CP,
glicolítico e oxidativo. Os dois primeiros sistemas energéticos são designados de
anaeróbios, o que significa que a produção de energia nas modalidades que os
utilizam preferencialmente não está dependente da utilização de O2. Já a produção
de energia no sistema oxidativo decorre na mitocôndria e só é possível mediante a
utilização de O2, razão pela qual se denomina este tipo de sistema de aeróbio.
A grande função dos 3 sistemas energéticos é, precisamente, formar ATP para a
contracção muscular, uma vez que o músculo esquelético é incapaz de utilizar
directamente a energia proveniente da degradação dos grandes compostos
energéticos provenientes da alimentação, como a glucose, os ác.s gordos ou os
aminoác.s.

1. CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS ENERGÉTICOS

1.1 Sistema ATP-CP

Nos desportos de potência, em que a actividade se caracteriza por esforços de


intensidade máxima com uma duração inferior a 30s, o músculo recorre a fontes
energéticas imediatas, habitualmente designadas por fosfagénios, como a
adenosinatrifosfato (ATP) e a fosfocreatina (CP).
A CP é armazenada nas células musculares. É semelhante ao ATP por também
possuir uma ligação de alta energia no grupo fosfato. A quantidade de ATP
disponível a partir do deste sistema equivale a uma quantidade entre 5,7 e 6,9
kcal, não representando muita energia para ser utilizada durante o exercício.
A capacidade do ser humano em manter os níveis de ATP durante o exercício de
alta intensidade à custa da energia obtida da CP é limitada no tempo. Segundo
vários autores, as reservas de ATP e CP podem apenas sustentar as necessidades
energéticas musculares durante sprints de intensidade máxima até 15s.
O sistema ATP-CP representa a fonte de energia disponível mais rápida do ATP para
ser usado pelo músculo:
a) não depende de uma longa série de reações químicas;
b) não depende do transporte do O2 que respiramos para os músculos que
estão realizando trabalho;
c) tanto o ATP quanto CP estão armazenados diretamente dentro dos
mecanismos contráteis dos músculos.

Apesar de ser um processo potente, o rendimento é pouco. As reservas de


fosfocreatina não são muito grandes e vai ter que se utilizar outro sistema
energético.

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1.2 Sistema Glicolítico

Os esforços de intensidade elevada com uma duração entre 30s e 1min – por ex:
corrida de 400m ou uma prova de natação de 100m livres - apelam a um sistema
energético claramente distinto, caracterizado por uma grande produção e
acumulação de ác. láctico. Por este motivo, as modalidades que envolvem este tipo
de esforços são habitualmente apelidadas de lácticas, dado que a produção de
energia no músculo resulta do desdobramento rápido dos hidratos de carbono (HC)
armazenados, sob a forma de glicogénio, em ác. láctico.
Na glicólise cada mol de glucose forma anaerobicamente 2 mol de ác. láctico e
apenas 2 ATP. Apesar de este processo parecer, aparentemente, pouco eficiente (a
degradação total - aeróbia e anaeróbia - da mol. de glucose produz 36 a 38 ATP), é
na realidade extremamente eficaz porque o músculo tem uma enorme capacidade
de degradar glucose rapidamente e de produzir grandes quantidades de ATP
durante curtos períodos de tempo. Claro que este processo conduz,
inevitavelmente, à formação e acumulação de ác. láctico.

O ác. pirúvico vai transformar-se em ác. láctico, o que provoca rapidamente fadiga,
a duração é média-curta.

1.2.1 Ganho energético

• quando se utiliza o glicogénio:


Energia + 3 ADP + 3 Pi ---- 3 ATP

• quando se utiliza a glicose:

Energia + 2 ADP + 2 Pi ---- 2 ATP

1.2.2 Desvantagens deste sistema:

• não se produz grande quantidade de ATP.


• acumulação de ác. láctico no músculo e fluídos orgânicos.

1.3 Sistema Oxidativo

O sistema aeróbio é particularmente adequado para a produção de ATP durante o


exercício prolongado tipo resistência (endurance). Nesses tipos de exercícios, o
principal fornecedor de ATP é o sistema aeróbio. Os sistemas do ác. lático e do ATP-
CP também contribuem, porém apenas no início do exercício, antes de o consumo
de O2 alcançar um novo nível de estado estável (steady-state); durante esse
período contrai-se um déficit de O2. Depois que o consumo de O2 alcança um novo
nível de estado estável (em cerca de 2 ou 3 minutos), torna-se suficiente para
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fornecer toda a energia ATP exigida pelo exercício. Por essa razão, o ác. lático
sanguíneo não alcança níveis muito altos durante o exercício que duram por mais
de uma hora. A glicólise anaeróbia cessa uma vez alcançando o consumo de O2 de
estado estável e a pequena quantidade de ác. lático acumulada previamente se
mantém previamente constante até o término do exercício.
Ex.: Maratona - Fadiga
• Os baixos níveis sanguíneos de glicose devidos à depleção das reservas
hepáticas de glicogénio;
• A fadiga muscular localizada devida à depleção das reservas musculares de
glicogénio;
• A perda de água (desidratação) e eletrólitos, que resulta em alta
temperatura corporal;

A produção de energia aeróbia na célula muscular é assegurada pela oxidação


mitocondrial dos HC (glucose) e dos lípidos (AG), sendo pouco significativo o
contributo energético proveniente da oxidação das proteínas (aminoác.s).

Este sistema engloba três processos:Glicolise Aeróbia; ciclo de krebs e sistema de


transporte de electrões (STE)

1.3.1 Glicolise Aeróbia

É um processo parecido com o sistema Glicolitico, mas com presença de O2. Não vai
haver formação de ác. láctico porque está presente O2, esse O2 vai permitir que o
ác. pirúvico se componha em vários componentes o que já não provoca fadiga. O
ác. pirúvico vai formar Acetil CO-A que vai entrar no ciclo de Krebs.

1.3.2 Ciclo de Krebs

O ciclo de Krebs é um conjunto de reacções químicas que vão transformar Acetil


CO-A em carbono, hidrogénio e energia.
O carbono vai juntar-se com o O2 e forma o CO2 (isto tudo nas células), esse CO2 é
expulso através da expiração. A energia vai servir para formar ATP.
O H2 (sofre ionização) vai-se separar em iões, electrões e H.
No ciclo de Krebs ocorrem duas grandes alterações:
• Produção de CO2, que se difunde para os pulmões e é eliminado.
• Oxidação, remoção de electrões, na forma de átomos de hidrogénio.

1.3.3 Sistema de Transporte de Electrões (STE)

O STE vai fazer com que o H se junte ao O2 e forma H2O, os electrões vão para o
sistema de transporte para transformar energia (esta energia é utilizada para
formar ATP) e vão formar mais quantidade de ATP através da fosforilação oxidativa.
Fosforilação oxidativa: é um processo paralelo de formação de ATP.

Duas formas de formação de energia:


 Directa: 5 ATP
 Fosforilação oxidativa: 34 ATP

O total de formação de energia é de 39 ATP. O processo paralelo (fosforilação


oxidativa) tem maior rendimento de energia, é aquele que forma mais energia para
o ATP. No total de 39 mol. de ATP é ressintetizado 3 por Glicolise aeróbia e 36
através do STE.

4 Nuno Afonso (20085193)


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1.3.4 Oxidação dos lipidos

A gordura armazenada representa a mais abundante fonte corporal de energia


potencial. A produção de energia é quase ilimitada. Representa cerca de 90.000 a
110.000 kcal de energia. A reserva de energia na forma de HC é inferior a 2.000
kcal
Metabolismo dos AG: vão formar um processo de beta-oxidação, processo de
ruptura, vão formar Acetil CO-A, vão formar água e energia.
A quantidade de O2 gasta é superior ao dos HC. Nos lipidos são muito mais
diversificados do que os HC, pois existem muitos trigliceridos.

1.3.5 Metabolismo das Proteínas

Papel apenas secundário durante o repouso e, na maioria das condições de


exercício, quase não desempenha qualquer papel.
Também puderiam ser utilizadas para produzirem energia, mas só quando
houvesse o processo de neoglicogénese (conversão de AA em glicose).
Vão ter um comportamento químico diferente dos HC e lipidos, pois são compostos
também por nitrogénio, e por isso o seu saldo energético vai ser de difícil
determinação. O nitrogénio quando dá-se o desmembramento ou ruptura é
eliminado do organismo.

1.3.6 Capacidade Oxidativa do Músculo (COM)

A COM depende da quantidade ou nível de enzimas oxidativas, da composição do


tipo de fibras e da disponibilidade em oxigénio. A COM é a medida da sua
capacidade máxima em usar O2.

1.3.6.1 Limitações:

• Actividade enzimática: precisa-se de ter um conjunto de enzimas para


actuarem no desmembramento.
• Composição das fibras e treino endurance: o tipo de fibra muscular e a sua
composição determinam em parte a capacidade oxidativa.
• Fibras de contracção lenta: quanto mais fibras deste tipo no músculo maior
capacidade oxidativa do mesmo, ou seja, se nascer-se com muitas fibras
lentas, o meu potencial é maior (aguento mais tempo a correr).
• Fibras de contracção rápida: mais adaptadas à produção energética
glicolitica, o potencial será menor se se nascer com muitas fibras rápidas.
• Treino de resistência: aumenta a capacidade oxidativa de todas as fibras,
sobretudo das de contracção rápida.
• Necessidades em oxigénio: depende da profundidade ventilatória de cada
um, vai depender do sistema cardio-respiratório de cada um.
• Repouso: as necessidades do organismo em ATP são pequenas, requerendo
valores mínimos de O2.
• Exercício: quando a sua intensidade aumenta, as exigências energéticas
aumentam, logo, a taxa de produção oxidativa de ATP aumenta.
• Esforço: taxa e profundida aumentam (respiração é mais longa), aumento da
troca de gases nos pulmões, batimento mais rápido do coração (quantidade
de sangue que sai do coração é maior) e mais sangue a ser bombeado para
os músculos.

5 Nuno Afonso (20085193)


Relatório Fisiologia do Exercício – Sistemas Energéticos

2. RECUPERAÇÃO APÓS O EXERCÍCIO

2.1 Componentes do consumo do O2


Imediatamente após um exercício exaustivo, o consumo de oxigênio diminui
rapidamente. Este momento é denominado de Fase de recuperação rápida do
oxigênio. Após essa momento, ocorre a fase de recuperação lenta do oxigênio.

2.2 Restauração das reservas de O2


O O2 é armazenado na mioglobina e esta facilita a “difusão do O2 no sangue para as
mitocôndrias”. (Fox, 1993)
Durante a fase de recuperação rápida, as reservas de O2-mioglobina são refeitas
através do O2 consumido imediatamente após o exercício.

2.3 Restabelecimento das reservas energéticas durante a recuperação


As gorduras são reconstituídas apenas indiretamente pelo reabastecimento de HC
(glicose e glicogénio).

2.4 Restauração do ATP + CP a fase de recuperação rápida


Grande parte da reserva de ATP depletada no músculo durante o exercício é
restabelecida em poucos minutos após o exercício. Para que isso ocorra, é
necessário que nesse processo haja O2 disponível na circulação sanguínea.

Tempo de Recuperação do Sistema ATP-CP


30 seg. 70%
1 min. 80%
2 a 3 min. 90%
5 a 10 min. 100%

2.5 Energética da restauração dos ATP-CPs


Os ATP-CPs são restaurados a partir do ATP que foi ressintetizado. O ATP, por sua
vez, é ressintetizado diretamente a partir da energia liberada pela desintegração
dos alimentos. O glicogénio representa o único combustível metabólico para a
glicólise anaeróbia e constitui um dos principais combustíveis para o sistema
aeróbio durante vários estágios da resistência.

2.6 Ressintese do glicogénio muscular (segundo Fox, 1993)


A plena restauração das reservas de glicogénio após um exercício leva vários dias e
depende de dois fatores principais:

• o tipo de exercício realizado;


• a quantidade de CH dietéticos consumida durante a recuperação.

PROCESSOS RECUPERAÇÃO
Recuperação das reservas de O2 do organismo 10 a 15 seg.
Recuperação das reservas anaeróbio nos músculos 02 a 05 min.
Eliminação do ác. lático 30 a 90 min.
Ressíntese das reservas intra-musculares de glicogénio 12 a 48 horas
Recuperação das reservas de glicogénio no fígado 12 a 48 horas

Quadro: O tempo necessário para a conclusão de alguns processos bioquímicos no período de


descanso (Volkov, 1986).

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3. CORRELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS

"A duração do exercício é inversamente proporcional à sua intensidade"


Um aspecto fulcral na bioenergética, é a compreensão do funcionamento integrado
dos 3 sistemas em termos de participação energética nos vários tipos de actividade
física. Efectivamente, a acção destes sistemas ocorre sempre simultaneamente,
embora exista a preponderância de um determinado sistema relativamente aos
outros, dependendo de factores como a intensidade e a duração do esforço, a
quantidade das reservas disponíveis em cada sistema, as proporções entre os
vários tipos de fibras e a presença de enzimas específicas
Em repouso, o organismo só necessita produzir energia para atender às exigências
do metabolismo basal.
Contributo energético (%) dos vários
sistemas em função do tempo de
esforço (s). Na figura é visível que os
fosfagénios representam o principal
sistema energético para esforços de
intensidade máxima até 30s. Já a
glicólise assume o papel preponderante
nos esforços máximos entre 30s e
1min, produzindo cerca de 40% da
energia total dispendida. A oxidação
passa a assegurar mais de 50% do
dispêndio energético quando os
esforços têm uma duração superior a
2min. As linhas tracejadas verticais
ilustram o contributo individual de cada
sistema relativamente a algumas
provas de corrida.

Mas, independentemente, do contributo energético de cada sistema poder variar


em função do tempo de competição, a ideia a reter é a de que todos os sistemas
energéticos participam sempre integradamente e nunca de forma isolada

Ao se iniciar uma atividade física, aumenta-se o consumo energético e podem


ocorrer 3 situações:

I. O esforço é extenuante (> 100% VO2 máx):


• a demanda energética só poderá ser atendida pelo sistema anaeróbio
alático;
• quando as reservas de CP se depletarem, a atividade não poderá mais ser
realizada.

II. O esforço é intenso (entre 85 a 100% VO2 máx):


• a quantidade de energia necessária à consecução do exercício pode ser
fornecida pelo sistema anaeróbio lático;
• este ressintetiza a ATP indispensável ao esforço;
• a intoxicação do meio pelo ác. lático impedirá a continuação da atividade
além de aproximadamente 1h ½ .

III. O esforço é moderado (< 85% VO2 máx)


• apesar da demanda extra inicial de energia ser atendida pelo sistema
anaeróbio, o aumento do aporte de O2 às células musculares, após algum
tempo permite que o sistema aeróbio ressintetize o ATP necessário.

7 Nuno Afonso (20085193)

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