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Mel e História

Nossas amiguinhas do mundo dos insetos são conhecidas há mais de vinte milhões de
anos, muito antes do surgimento da raça humana na Terra.

A Bíblia menciona, em diversas passagens, esse inseto, que é símbolo da produção


individual e do milagre da alquimia orgânica, da transmutação dos açúcares, polens,
encontrados nas floradas em mel, um elemento nobre, e que serviu também aos povos
nômades do deserto.

Ainda hoje, no Oriente, o mel é consumido com o respeito que merece, em iguarias ou
in natura.

A apicultura, que é a técnica da exploração racional do mel, vem sendo aperfeiçoada


ao longo dos séculos. Remonta a 2400 anos a.C., conforme vários historiadores do
Egito Antigo.

Carro de combate egípcio


O mel era usado como adoçante, nessa época, e,
também, nas mumificações para conservar as
vísceras, em vasos, que acompanhavam as
múmias. Passados milênios, os órgãos
permanecem preservados.

A apicultura já era conhecida pelos sumérios em 5000 a.C.. Egípcios e


gregos desenvolveram as técnicas rudimentares para o manejo, que só
chegou a ser aperfeiçoado significativamente no final do século XVII.

Mel, fonte histórica de saúde,


um doce e completo alimento natural
A produção de mel puro de Nova Friburgo, na região serrana
do Estado do Rio de Janeiro está ligada aos cuidados
com essas criaturinhas fantásticas que vivem
para adoçar as nossas vidas.

O apicultor Leandro Beltrão, nesta entrevista,


desperta a polêmica sobre o
futuro ameaçado e incerto da produção de mel no Brasil.

Nos dias de hoje,


quando a natureza
não está sendo mais
respeitada em seus
ciclos naturais para
lavoura e pasto,
poucas são as pessoas
que se dedicam a
trabalhar em
harmonia com ela,
com paciência,
respeito e cuidado de
preservação.
Prédio que abriga o laboratório e loja de produtos melíferos
Foto André Rodrigues

A natureza escolhe as pessoas por quem ela gostaria de ser tratada?

Esse antigo conceito dos celtas parece que se aplica como uma luva neste caso.

Assim foi o que aconteceu com o Sr. Leandro Beltrão, há 21 anos. Era cadete da Força
Aérea em Pirassununga. Lá, ele descobriu que não desejava seguir a carreira militar.
Foi, então, que decidiu cursar a faculdade de Psicologia, mas desistiu. Ainda não era
essa a sua vocação profissional.

Voltando para sua cidade natal, em Friburgo, perguntou-se: “O que fazer daqui por
diante?” Foi, então, que ele lembrou que seu avô costumava cuidar de abelhas, de
forma rudimentar. Esta idéia pareceu-lhe ótima para começar seu trabalho futuro.

Tenacidade no aprendizado
Para pôr sua idéia em prática, teve que vencer vários obstáculos para aprender esta
nova atividade, na qual nunca havia pensado. Ele foi à luta, e, transcorrido um ano,
nenhum resultado, aparentemente positivo.

Ele não desistiu, foi em frente, sempre se familiarizando mais com essas pequenas
criaturas fascinantes produtoras de mel.

Relação de amor e respeito à natureza


Pés de laranjeira
silvestre. Ao fundo, à
esquerda, eucaliptos, em
seu habitat natural.
Os pássaros e o vento
transportam as sementes
que fazem brotar essas
variedades rústicas de
plantas cítricas melíferas,
em meio às flores
rasteiras.
Foto André Rodrigues

Respeito, dedicação e amor pelas abelhas


Durante nossa conversa, ficou bem evidente o respeito do Sr. Leandro à vida das
abelhas. Não foi possível esgotar o assunto, pois o tempo era insuficiente para tanto
trabalho que ele realiza, mas o que ele ensinou e que agora repassamos aos leitores foi
muito valioso.

Sr. Leandro colhe mel de caixas (1) de abelhas distribuídas em vários locais da região
serrana, produzindo diversos tipos de mel, de acordo com as flores da região –
Cachoeiras de Macacu, Bom Jardim, Duas Barras, Cantagalo, Macuco, Cordeiro, São
Sebastião do Alto, Valão do Barro e Itaocara.

As principais floradas nativas da região são as do eucalipto, assa-peixe, erva-canudo,


morrão de candeia, capixingui, e floradas silvestres mistas, que resultam no tipo de
mel “mil flores”.

Alterações climáticas, agora, imprevisíveis.


Segundo ele, as alterações climáticas causadas
por danos ambientais não mais permitem fazer
previsões de um ano para o outro, na produção
do mel. Há ocasiões em que é preciso alimentar
as abelhas para que elas não morram de fome,
até a próxima florada.

Foto André Rodrigues Pé de assa-peixe


Danos propositados ao meio-ambiente são criminosamente praticados.

Outro fator que vem sendo muito prejudicial, não só à produção do mel, mas também
ao meio ambiente, no Brasil, é a prática da plantação de capim brachiaria para o
gado. Ele destrói as floradas nativas, provocando um desequilíbrio no ecossistema. É
uma variedade altamente invasiva, na verdade uma praga trazida da África que
destrói todos os demais tipos de vegetação, onde se instala. É um crime ecológico que
as autoridades não percebem.

Convivência pacífica ecologicamente correta


No passado, o gado convivia com as espécies que davam flor, mas os fazendeiros, a
pretexto de terem um pasto limpo, implantaram esta praga importada, que está se
espalhando pelo Brasil inteiro. Se continuar assim, no futuro não muito distante não
teremos mais mel de algumas floradas.

Essa visão dos criadores é uma visão antiecológica e criminosa, pois é de grande
impacto ambiental e com estragos permanentes e cada vez maiores.

Este tipo de capim foi importado da África para substituir o capim gordura, que não é
agressivo como a brachiaria.

Abelhas e biotecnologia moderna


Assim como encontramos laranjeiras silvestres
em encostas de difícil acesso, lá também são
encontradas caixas com abelhas produzindo mel
de laranjeira. As caixas são movidas, de acordo
com as floradas, em cada época do ano, à noite,
para não irritar as abelhas
Foto André Rodrigues

Dentre os insetos, a abelha é um minúsculo ser vivo da natureza capaz de fazer


verdadeiros milagres, salvando vidas e fornecer alimento.

Sr. Leandro nos fala da vida das abelhas com muita familiaridade, carinho e
admiração pelo trabalho que elas desempenham e o que representam na vida das
pessoas. “Elas vivem em permanente trabalho de produção de mel e derivados, todos
aproveitados pelo homem”.

Em sua empresa existe um laboratório, que recebe o mel para ser centrifugado e
preparado para a venda, na loja, junto com outros derivados do mel, além de outros
produtos da região. Seus produts são certificados pela Secretaria Estadual de
Agricultura.
A própolis (2) serve de revestimento interno da colméia. Desempenha a função de
assepsia e vedação da caixa.
Aplicação em cosmetologia e medicina estética. Também pode ser usada em
ferimentos, queimaduras e gargarejos.

A apitoxina (3) vem sendo indicada no tratamento de artrite e artrose. Para a


extração da apitoxina, a abelha é agredida com choque elétrico que provoca a
liberação do apitoxina sobre uma placa de vidro. É um método de extração que
sacrifica a abelha. Ela dá a vida para aliviar o sofrimento das pessoas.

O mel pode ser consumido puro ou agregado a outras plantas e ervas para produzir
xaropes, doces e bebidas. Por exemplo, o mel com clorofila é feito a partir do broto de
trigo, que é colocado na moenda para extrair o sumo, e ser misturado ao mel.

Através do estudo, da observação e da vivência no campo, Leandro Beltrão vem


acompanhando a degradação da natureza e deu sugestões preciosas na possibilidade
de contribuir para a reversão deste processo.

Sugestões a partir da mudança do meio-ambiente

Segundo Leandro Beltrão, a EMBRAPA-Empresa Brasileira de Pesquisa


Agropecuária, órgão oficial do governo, pode estabelecer critérios de avaliação para
as vantagens e desvantagens da disseminação da brachiaria nos campos, e, a partir
desse estudo, criar alternativas não-agressivas à biodiversidade.

Sugestões a partir da realidade.


• Incentivo para melhorar as plantas melíferas, através dos órgãos municipais,
estaduais e federais.

• Criação de parcerias com outros produtores de mel, incentivando o cooperativismo.

• Criação de alamedas, com árvores e plantas melíferas, próximas de pequenos


centros urbanos.

• Criação de canteiros entre as pistas nas rodovias com plantas e árvores melíferas
evitaria a cegueira pelos faróis além do benefício de aproveitamento para o mel.

• Reflorestamentos com plantas e árvores melíferas beneficiaria a fauna também os


beija- flores: são naturais polinizadores e espalhariam o pólen, naturalmente.

Além da função de urbanização, seria benéfico para a natureza e para o homem, que
se beneficiaria do mel e de seus produtos, além de gerar fonte de trabalho no campo,
para abastecer as cidades a custos mais baixos, com maior produção de mel por
hectare.
Cursos e atividades escolares que ensinassem às crianças a preservar as abelhas e as
espécies melíferas, poderiam ser atividade de férias ou extra-classe, também. Um
investimento que poderia despertar vocações de novos apicultores e formar um
pensamento ecologicamente correto nos demais.

Em Friburgo, a natureza é pródiga. Segundo


Leandro Beltrão, as cidades deveriam ser
cercadas de áreas com espécies melíferas.
Na foto, de André Rodrigues, laranjeiras e outras
espécies, próximas à estrada.

Saiba mais sobre apicultura


(1) Caixa - colméia construída pelo homem.
Colméia ou cortiço. Habitação das abelhas.
(2) Própolis - produto processado a partir de resinas
vegetais, pelas abelhas, que é utilizado para fechar
frestas da colméia. É poderoso antissético e próbiótico
(3) Apitoxina - nome dado ao veneno produzido pelas
abelhas quando são atacadas

A palavra abelha vem do Latim [Apis]. A apis melifera produz o mel,


pólen, cera, geléia real e própolis.

Cera – secreção glandular da abelha que serve para construir os favos, estrutura
física da colméia.

Colônia – família de abelhas. Tem em média 60.000 abelhas

Ferrão – arma de defesa das abelhas.

Fumigador – equipamento portátil indispensável utilizado para produção de fumaça


para reduzir a agressividade das abelhas.

Geléia real – produto riquíssimo em proteínas, vitaminas, sais minerais e hormônios


sexuais e de crescimento, utilizado na alimentação de larvas de abelhas rainhas e da
rainha.

Opercular – trabalho de vedação dos favos pelas abelhas.

Pólen – produto rico em proteínas, vitaminas e hormônios que as abelhas colhem das
flores.
Própolis – produto processado a partir de resinas vegetais pelas abelhas, utilizado
para fechar frestas da colméia. É poderoso antissético e probiótico. Se um bicho
atacar a colméia, ele morre e é mumificado pela própolis. Indicações: para gargarejos
com água morna serve de anti-séptico e cicatrizante cantores é bom para professores
oradores cantores locutores; no tratamento de escaras e queimaduras.

Rainha – mãe de uma família de abelhas

Vôo nupcial – é o primeiro vôo que a rainha faz, quando é fecundada por uma média
de 6 a 8 zangões. Quase sempre, os zangões morrem.

Zangão – é o indivíduo masculino de uma família de abelhas e de outros insetos.

Nota do Editor: esta matéria está sendo enviada para:


• Senhora Ministra do Meio Ambiente, com a denúncia sobre a invasão do capim
Brachiaria, vindo da África e nocivo ao equilíbrio da nossa biodiversidade.
• Universidades Rurais
• ONGs de proteção ambiental.

ABELHAS e Mel, fonte de saúde em extinção, causada pelo próprio


homem.

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