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REVISTAINSPIRAR

Volume 1 • Número 1 • Junho/Julho de 2009

Revista Eletrônica Inspirar [recurso eletrônico] - Curitiba:


R454 Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Saúde,
2009-

Bimestral, v. 1, n. 1, jun/jul. 2009-


Modo de acesso: www.inspirar.com.br

1. Saúde - Periódicos.

CDD 610
CDU 614

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Volume 1 • Número 1 • Junho/julho de 2009

A REVISTA
A Revista Eletrônica da Inspirar é um periódico de acesso aberto, gratuito e bimestral,
destinado à divulgação arbitrada da produção científica na área de Ciências da
Saúde, de autores brasileiros e de outros, contribuindo, desta forma, para o cresci-
mento e desenvolvimento da produção científica.

MISSÃO
Publicação de artigos científicos que contribuam para a expansão do conhecimento
da área da saúde, baseados em princípios éticos.

OBJETIVO
Propiciar meios de socialização do conhecimento construído, tendo em vista o es-
timulo à investigação científica e ao debate acadêmico.

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CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Alfredo Florencio Cuello - ARG
Prof. Alonso Romero Fuentes Filho - SC
Prof. MSc. Álvaro Luiz Perseke Wolff - PR
Prof. MSc. Antônio Carlos Magalhães Duarte - BA
Prof. MSc. César Antônio Luchesa – PR
Prof. Cesar Valenzuela - RS
Profa. MSc. Cynthia M. Zilli - PR
Profa. Denise Dias Xavier - PR
Profa. MSc. Elisiê Rossi Ribeiro Costa - PR
Prof. Francimar Ferrari - PE
Prof. Dr. Gustavo Alfredo Cuello - ARG
Prof. MSc. José Roberto Prado Junior - RJ
Prof. MSc. Manoel Luiz de Cerqueira Neto - PR
Prof. MSc. Marcelo Zager - SC
Prof. Dr. Marcos Antonio Tedeschi - PR
Profa. Maria Ayrtes Ximenes Ponte da Silveira - CE
Dra. Silvia Valderramas - BA
Profa. MSc. Telma Cristina Fontes Cerqueira - PR

EDITORES
Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim - PR
Prof. MSc. Marcelo Márcio Xavier - PR

COORDENAÇÃO EDITORIAL
Dra Elaine Rossi Ribeiro - revistacientifica@inspirar.com.br

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Marcos Leandro Cachinski - marketing@inspirar.com.br

ATENDIMENTO
Mariane Mansur Garbuio - contato@inspirar.com.br

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Todo o material a ser publicado, deve ser enviado para o seguinte
endereço eletrônico, aos cuidados de
Dra. Elaine Rossi Ribeiro
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SUMÁRIO
EDITORIAL ......................................................................................................................... 5

Efeito da Microdermoabrasão no Envelhecimento Facial ................................................... 6


Effects of Microdermoabrasion on the Facial skin Ageing
Juliane de Barba, Elisiê Rossi Ribeiro

Ultra-som no Tratamento do Fibro Edema Gelóide ........................................................... 10


Ultra-sound on the Treatment of Cellulites
Raphaelle Curtinaz Menezes, Sinara Gonçalves da Silva, Elisiê Rossi Ribeiro

Análise do Impacto da Fisioterapia Respiratória em Pacientes Pediátricos com os Sinais


Clínicos apresentados na Pneumonia ................................................................................. 15
Study of the Impacts of breathing Physicaltherapy in children Patients with Clinical Signs of Pneumonia
Anaíres de Goes Santos, Manoel Luiz de Cerqueira Neto, Aída Carla Santana de Melo Costa

Fatores Estressores para Profissionais de Enfermagem que atuam em uma Unidade de


Terapia Intensiva ................................................................................................................ 20
Stressing factors on Nursing Professionals that act on Intensive Therapy
Julita Royer Garcia, Salete de Araujo, Elaine Rossi Ribeiro

Princípios Básicos para Conservação de Órgãos para Transplante ................................... 25


Basic Principles for Preservation of Organs for Transplant
Luisete Aparecida Ramalho Ferro, Elaine Rossi Ribeiro

Comparação entre Técnicas Osteopáticas e Fisioterapia Convencional para o Tratamento


das Desordens Temporomandibulares ................................................................................ 29
Comparison between Osteopathic Techniques and Conventional Physiotherapy for Treatment of
Temporomandibular Disorders
Walkyria Vilas Boas Fernandes, Alexandra Bezerra Michelotto, Sérgio Kimura

Benefícios da Fisioterapia na melhoria da qualidade de


Vida na Terceira Idade ........................................................................................................ 34
Benefits of the Physiotherapy in the improvement of the quality of Life in the Third Age
Francisco Vagner Afonso Dias, Ana Luiza Guerra Medeiros, Emanuel Ayres de Medeiros, Adelyanna
Ramalho Palitot, Andressa Véras de Queiroz, Alidiane Morais da Silva

Relação entre a Ausculta Pulmonar e o Aspecto da Secreção Brônquica .......................... 39


Relationship between Pulmonary and Aspect of Headphones Bronchial Secretion
Caroline Silvestri Silva, Dayana Cordeiro, Kesya Montanha, Mayana Costa, Alceu Eduardo I. Furtado

Fatores Causais e Sociais relacionados ao Óbito Materno de Mulheres residentes no Esta-


do da Paraíba ...................................................................................................................... 43
Causal and Social factors related to Maternal Obits of Women resident in the State of Paraíba
Ana Cristina da Nóbrega Marinho Torres Leite, Neir Antunes Paes

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EDITORIAL
O desejo de reunir autores em torno de assuntos científicos de relevância,
sempre foi o desejo da INSPIRAR. Agora nasce a Revista Eletrônica Inspirar, que
vem ao encontro do sonho e torna-se impar em sua concretude, embora virtual.
Apresentamos aos profissionais da área da saúde, o conhecimento produzi-
do pela comunidade docente e discente, de forma a contribuir para o desenvolvi-
mento das diferentes profissões, no âmbito acadêmico e profissional.
Consonante com a missão que traduz-se na publicação de artigos científicos
que contribuam para a expansão do conhecimento da área da saúde, baseados em
princípios éticos, a Revista Inspirar objetiva propiciar meios de socialização do
conhecimento construído, tendo em vista o estimulo à investigação científica e ao
debate acadêmico.
Como meta, a indexação de qualidade, que coaduna com as perspectivas de
longo alcance da Inspirar. Como visão, um número crescente de colaboradores e a
contínua apresentação à sociedade dos frutos de ensino de excelência e comprome-
timento com a ciência.
Navegue nas páginas da Revista Inspirar, com um convite à leitura.
Aprecie!

Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim - PR


Prof. MSc. Marcelo Márcio Xavier - PR

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Efeito da Microdermoabrasão no Envelhecimento Facial


Effects of Microdermoabrasion on the Facial skin Ageing

Juliane de Barba1, Elisiê Rossi Ribeiro2

Resumo Abstract
O processo de envelhecimento ocorre durante o curso de The ageing process happens during the course of the
vida do ser humano, provocando no organismo modificações human beings life, occasioning biological, psychological and
biológicas, psicológicas e sociais. Tal como acontece com to- social changes in the system. In the same way that it happens to
dos os órgãos do corpo humano, a estrutura e as funções da pele every human body organs, the structure and the functions of the
vão se modificando gradualmente com o passar do tempo. Para skin modify gradually in the course of time. For this, there are
isso existem inúmeras formas de tratamento com a finalidade innumerous ways of treatment with the aim of eliminate or
de eliminar ou amenizar alterações presentes no envelhecimen- temper the alteration involved in the ageing, among them, the
to, entre elas, a Microdermoabrasão, também chamada de Microdermoabrasion, also called Crystal Peeling. Considered
Peeling de Cristal. Considerado um método de tratamento a skin treatment method, in which the skin is superficially
cutâneo, no qual ocorre um lixamento superficial da pele atra- stripped through the use of a machine that blows and at the
vés do uso de um aparelho que lança e ao mesmo tempo aspira same time sucks aluminum oxide micro crystals, chemically
microcristais de óxido de alumínio, quimicamente inertes, so- motionless, over the area to be treated enabling the regulation
bre a área a ser tratada possibilitando regular os níveis de of the exfoliation levels. This process is widely used due to its
esfoliamento. Este procedimento é amplamente utilizado pela simplicity and fast recovery, in other words, the patient can
sua simplicidade e rápida recuperação, ou seja, a paciente pode immediately return to her activities, but only a few studies have
retornar imediatamente às suas atividades, mas poucos estudos been considering the effectiveness of this procedure, therefore,
tem avaliado a eficácia deste procedimento, portanto este tra- the objective of this project is to characterize the changes in the
balho tem como objetivo caracterizar as modificações presen- facial behavior after the treatment with Microdermoabrasion.
tes no comportamento facial após tratamento com The research involved an account of many cases, in which 10
Microdermoabrasão. A pesquisa caracterizou-se como ensaio volunteers from 40 to 50 years old participated, who after being
clínico com delineamento longitudinal, não controlado, experi- evaluated, underwent to four sections of Microdermoabrasion,
mental e contemporâneo, onde participaram 10 voluntárias, com with a week interval between them, and at a later time answered
idade entre 40 e 50 anos, que após serem avaliadas foram sub- to a self-evaluation questionnaire. After the treatment, 50% of
metidas a quatro sessões de Microdermoabrasão, com interva- the 10 patients who completed the study showed to be really
lo de uma semana entre elas e posteriormente responderam a pleased with the final result, 30% related a reasonable
um questionário de auto-avaliação. Das 10 pacientes que com- improvement and 20% a small improvement, and 50% had a
pletaram o estudo, 50% relataram após o tratamento estar bas- face look improvement noticed by others. From the clinical view
tante satisfeita com o resultado final, 30% relatou melhora ra- and also the participants’ view, it was noticed a skin quality
zoável e 20% melhora mínima, e 50% teve a melhora da apa- improvement, especially related to the texture, lightness and
rência da face observada por terceiros. Do ponto de vista clíni- uniformity of its color. Some participants presented a thin
co e das participantes, observou-se melhora na qualidade da wrinkles decreasing and cleaner marks. With this study, it could
pele, especialmente no que diz respeito à textura, luminosidade be possible to identify promising and satisfactory results,
e à uniformidade de sua cor. Algumas participantes apresenta- especially in the skin ageing treatment, but it is still needed
ram atenuação das rugas finas e clareamento das discromias. better knowledge and studies about this technique.
Com este estudo tornou-se possível identificar resultados pro- Key-words:
missores e satisfatórios, sobretudo no tratamento do envelheci- Ageing, Microdermoabrasion, skin, treatment.
mento cutâneo, mas carece de maiores conhecimentos e estu-
dos sobre esta técnica.
Palavras-chave:
Envelhecimento, Microdermoabrasão, Pele, Tratamento.

1. Acadêmica da Pós Graduação Lato Sensu em Fisioterapia Dermato Funcional e Recebido: maio de 2009
Cosmetologia da INSPIRAR Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Saúde. Aceito: maio de 2009
Autor para correspondência:
2. Professora da Pós Graduação Lato Sensu em Fisioterapia Dermato Funcional e Email: julianedebarba@hotmail.com
Cosmetologia da INSPIRAR Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Saúde.

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Para isso existem, atualmente, inúmeras abordagens tera-


Introdução pêuticas com a finalidade de eliminar ou amenizar essas altera-
O envelhecimento da população é um fenômeno novo, ções, podendo ser realizada através de fármacos, cosméticos,
observado não só nos países desenvolvidos como também na- aplicações, reparo cirúrgico entre outros. Dentre os tratamen-
queles em desenvolvimento, onde mesmo os países mais ricos tos encontram-se a Microdermoabrasão.
estão tentando se adaptar, sendo assim o que era no passado Segundo Borges (2006) a Microdermoabrasão é uma téc-
privilégio de poucos passou a ser uma experiência de um nú- nica de esfoliação não cirúrgica, passível de controle, podendo
mero crescente de pessoas em todo o mundo. ser executada de forma não invasiva, sendo inúmeras suas indi-
Segundo Porto (2005) diversas teorias se propõem a ex- cações que têm por base o incremento da mitose celular fisioló-
plicar os fenômenos biológicos responsáveis pelo envelheci- gica, suscitando efeitos como atenuação de rugas superficiais,
mento humano, mas nenhuma é completa o bastante para ser afinamento do tecido epitelial preparando-o para tratamentos
universalmente aceita, mesmo aquelas baseadas no de revitalização e proporcionando uma textura fina e saudável
determinismo genético, embora haja fortes evidências que o através do incremento de proteínas de colágeno, elastina e
tempo de vida das espécies é geneticamente determinado. reticulina, seqüelas de acne, clareamento das camadas mais su-
Envelhecer é um processo natural que ocorre desde que perficiais da epiderme, foliculite e estrias, sendo contra-indicada
nascemos, também chamado de senilidade, pode ser definido nas lesões tegumentares acompanhadas de processo inflamató-
como um conjunto de modificações fisiológicas irreversíveis, rio.
inevitáveis e conseqüente a uma alteração da homeostasia A microdermoabrasão se tornou uma das mais populares
(CUCÉ ; FESTA, 2007). formas de desgaste superficial da pele, esta técnica foi desen-
A pele, o maior órgão do corpo humano, reveste e delimi- volvida pela primeira vez na Itália, em 1985 e posteriormente
ta o organismo correspondendo a 15% do peso corporal e tem multiplicou-se, e se tornou disponível em toda a Europa
por objetivo básico manter o meio interno em constante equilí- (GRIMES, 2005).
brio, protegendo e interagindo com o meio exterior, assim como O procedimento de microdermoabrasão consiste na apli-
os demais órgãos do corpo humano sofre alterações que carac- cação direta sobre a pele, de um equipamento mecânico gera-
terizam o envelhecimento cutâneo (AZULAY; AZULAY, 2001). dor de pressão negativa e pressão positiva simultâneas, em que
A pele é composta de três grandes camadas de tecidos, são utilizados microgrânulos de óxido de alumínio (100 a 140
subdivididas em camada superior (epiderme), intermediária micras), quimicamente inertes, jateados pela pressão positiva
(derme ou cório) e camada profunda (hipoderme ou tecido ce- sobre a superfície cutânea numa velocidade passível de contro-
lular subcutâneo, sendo a epiderme subdividida em cinco ca- le, provocando erosão nas camadas da epiderme, sendo ao mes-
madas: Estrato córneo, Estrato lúcido, Estrato granuloso, Es- mo tempo sugados pela pressão negativa os resquícios dos
trato espinhoso ou malpighiano, e o Estrato germinativo ou basal microcristais e células córneas em disjunção (BORGES, 2006).
(SAMPAIO; RIVITTI, 2000). Médicos e esteticistas utilizam a microdermoabrasão nos
Para Cucé e Festa (2001) a pele envelhecida é classifica- Estados Unidos para renovar e rejuvenescer peles danificadas,
da em dois tipos: Intrínseco Cronológico (genético) ou Patoló- citando que ocorre uma melhora gradual da pele danificada por
gico (genético ou não) e Extrínseco, onde a senescência cutânea incentivo da proliferação de fibroblastos e produção de colágeno,
engloba os fenômenos biológicos naturais e os fatores de agres- levando a nova deposição colágeno na derme. (SHPALL et al,
são ambiental. 2004)
Embora o envelhecimento cutâneo seja um processo or- Para Spencer e Kurtz (2006) a popularidade da
gânico natural, o mesmo é influenciado por vários fatores e pode microdermoabrasão deve-se a simplicidade e segurança da téc-
tanto ser acelerado quanto retardado. nica, sendo o seu mecanismo de ação não compreendido total-
De acordo com Sampaio e Rivitti (2000) há na cútis atrofia mente. Portanto, esta pesquisa tem como objetivo caracterizar
em grau variável que se evidencia pelo adelgaçamento difuso, as modificações presentes no comportamento facial após trata-
secura e pregueamento da pele, com aspecto comparável a pa- mento com Microdermoabrasão.
pel de seda, tonalidade ligeiramente amarelada ou cerácea, com
perda de elasticidade e turgescência. Metodologia
A degeneração senil ocorre de preferência sobre regiões
do tegumento que se acham expostas às intempéries (face, pes- A pesquisa caracterizou-se como ensaio clínico com de-
coço, dorso das mãos e antebraços), provocando o agravamen- lineamento longitudinal, não controlado, experimental e con-
to ou exagero dos sulcos e pregas naturais das regiões compro- temporâneo, onde participaram 10 voluntárias, com idade entre
metidas (GUIRRO; GUIRRO, 2002). 40 e 50 anos, na cidade de Joaçaba, Santa Catarina, que opta-
A longevidade reforçou o interesse sobre as alterações ram voluntariamente assinando o termo de consentimento livre
que caracterizam gradativamente o envelhecimento, buscando e esclarecido.
medidas pertinentes relativas à prevenção e ao tratamento das Ressalta-se que mesmo sendo escolhidas aleatoriamente
diversas alterações, inclusive as inestéticas. nenhuma das participantes da pesquisa apresentou histórico de
Portanto a valorização da face é natural, pois é a parte do cirurgia plástica ou foi submetida a outros métodos de
corpo mais representativa e exposta, na qual expressamos nos- amenização e/ou suavização de rugas na face, ou ainda apre-
sos sentimentos e emoções. O desejo de conservar a beleza é sentou alteração de sensibilidade e restrições ao método.
procurado pela grande maioria das pessoas com o objetivo de
manter-se jovem, bela e desejada, contribuindo desta forma para O Projeto de pesquisa foi submetido à avaliação do Co-
qualidade de vida e satisfação pessoal. mitê de Ética e Pesquisa (CEP), e após aprovação foi realizado
o inicio dos procedimentos.

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O processo de coleta de dados consistiu de um protocolo final, 30% relatou melhora razoável e 20% melhora mínima, e
de anamnese e avaliação. No protocolo de anamnese foram le- 50% teve a melhora da aparência da face observada por tercei-
vantados os dados relacionados à identificação, idade e história ros.
facial levando em consideração qualquer tipo de intervenção Com relação ao quesito textura da pele, 100% considera-
para amenização do envelhecimento facial, se utilizam filtro ram melhora, relatando que sua pele ficou mais lisa, fina e ma-
solar ou cosméticos rejuvenescedores diariamente. Na avalia- cia, quanto à luminosidade e uniformidade da cor 80% relata-
ção foram observados dados referentes à classificação quanto ram melhora, relatando que sua pele ficou mais revitalizada,
ao tipo de pele (mista, seca, oleosa e normal), quanto ao fototipo com uma coloração mais uniforme e sem o aspecto amarelado
(classificação de Fitzpatrick), sensibilidade (normal, sensível, que tinham antes.
muito sensível, pouco sensível) e envelhecimento, observando Apenas 20% perceberam diferença nas rugas finas, rela-
textura, coloração, discromias, presença de rugas superficiais e tando que se tornaram menos evidentes, 30% melhora razoável
profundas. nas discromias e 30% que apresentavam pele oleosa relataram
Todas as participantes foram submetidas a sessões sema- que com as sessões a pele se tornou menos oleosa.
nais de Microdermoabrasão, através do aparelho Dermotonus
Esthetic, da marca Ibramed, totalizando quatro sessões, com
duração de 30 minutos cada uma.
Discussão
Inicialmente ao procedimento foi realizado assepsia de O conceito de beleza atual e procurado pela maior parte
toda a face com gel de limpeza ARL Green Tea (linha profissi- das pessoas é o da pele jovem, sem manchas ou rugas, entretan-
onal da marca Adcos), após assepsia com a pele seca e total- to, com o avanço da idade a pele passa a sofrer alterações que
mente isenta de produtos cosméticos, iniciou-se o procedimen- modificam seu aspecto gradativamente caracterizando o enve-
to de microdermoabrasão, ajustando o equipamento para uma lhecimento cutâneo. O motivo de tal transformação são as alte-
maior ou menor saída dos microcristais determinada pela sensi- rações decorrentes do envelhecimento intrínseco (desgaste na-
bilidade da paciente. Com a pele da face estirada, eram realiza- tural do organismo) e extrínseco ou fotoenvelhecimento (efeito
dos movimentos precisos e uniformes de varredura sobre a da radiação ultra-violeta do sol sobre a pele durante toda a vida).
mesma região, no sentido das linhas de Langer, cessando após A pele envelhecida tem como características a perda da
presença de um leve eritema e posterior ao procedimento más- elasticidade, discromias, rugas finas e profundas e alterações
cara facial com Beta Glucan, e filtro solar também da mesma como pele áspera, ressecada e descamativa.
marca. O envelhecimento da pele é um processo que preocupa
As participantes foram orientadas a evitar a exposição muitos indivíduos, que buscam a ajuda especializada para
solar, não utilizar cosméticos rejuvenescedores ou ácidos, e uti- minimizar seus efeitos. Um dos recursos para melhorar a quali-
lizar filtro solar diariamente. dade da pele são os peelings como o Peeling de cristal ou
Após o protocolo de tratamento, todas as participantes Microdermoabrasão que proporcionam esfoliação cutânea, pro-
responderam a um questionário de auto-avaliação, onde foram movendo renovação celular.
analisados aspectos da pele como luminosidade, textura, rugas, As grandes vantagens desta técnica deve-se a sua simpli-
coloração, diferença na pele observada por elas e por terceiros cidade, rápida recuperação, praticamente indolor, não há ne-
e melhora do aspecto geral da pele. cessidade de interrupção dos tratamentos estéticos do dia-dia e
não interfere na vida social e profissional do paciente, ou seja,
Resultados poderá retornar logo após o procedimento as suas atividades.
A eficácia e os benefícios da microdermoabrasão perma-
A amostra foi constituída por 10 participantes que aten- nece um tema intensamente debatido, apesar da sua utilização,
deram aos critérios de inclusão e concordaram em participar do poucos estudos controlados foram publicados no que se refere
estudo, sendo todas do gênero feminino, sendo a média de ida- à sua eficácia e segurança, e na sua maioria envolvendo peque-
de 43,5 anos (+/-3,89). nos grupos de pacientes.
Com relação à anamnese nenhuma das participantes apre- Independentemente das limitações e controvérsias rela-
sentou história de cirurgia plástica ou outros métodos de cionadas com a investigação deste procedimento, existe uma
suavização de rugas, 100% são usuárias de cosméticos anti- percepção de benefício entre os pacientes submetidos à
idade e somente 30% não utilizam filtro solar diariamente. Na microdermoabrasão.
avaliação 20% das participantes apresentaram fototipo II, 50% Freedman et al também investigaram mudanças associa-
fototipo III e 30% fototipo IV e quanto ao tipo de pele 50% das na epiderme e derme com a microdermoabrasão, em 10
apresentaram pele normal, 30% oleosa, 10% seca e 10% mista. pacientes com intervalo de 7 a 10 dias.(GRIMES, 2005)
De acordo com a sensibilidade 60% apresentaram sensibilida- Conforme descrito anteriormente por Shpall et al (2004)
de normal, 20% pouco sensível e 20% muito sensível. a microdermoabrasão tem sido utilizada para melhorar rugas,
Todas as participantes apresentaram rugas superficiais e texturas irregulares e pigmentações causadas pelo
apenas 50% rugas profundas, 90% apresentaram discromias, fotoenvelhecimento e para melhorar a luminosidade da pele.
80% pele opaca, coloração amarelada e textura áspera em algu- No estudo em questão, as pacientes envolvidas referiram
mas regiões. melhora na textura, relatando afinamento do tecido epitelial,
Do ponto de vista clínico e das participantes, observou- textura fina e saudável, clareamento das camadas mais superfi-
se melhora na qualidade da pele, especialmente no que diz res- ciais da epiderme e algumas ainda perceberam atenuação das
peito à textura, luminosidade e à uniformidade de sua cor. rugas superficiais, conforme descreve Borges (2006) quando
Das 10 pacientes que completaram o estudo, 50% relata- cita os efeitos da microdermoabrasão em seu livro.
ram após o tratamento estar bastante satisfeita com o resultado

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CUCÉ, Luis Carlos; FESTA NETO, Cyro. Manual de


Conclusão dermatologia. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2001.
Através dos resultados obtidos pela presente pesquisa, GRIMES, Pearl E.. Microdermabrasion. Dermatologic
nas comparações pré e pós tratamento com Microdermoabrasão Surgery. United States, v. 31, set. 2005; p. 1160 - 1165.
tornou-se possível identificar resultados promissores e GUIRRO, Elaine Caldeira de O. ; GUIRRO, Rinaldo
satisfatórios, sobretudo no tratamento do envelhecimento RobertoJ.. Fisioterapia dermato-funcional: fundamentos, re-
cutâneo. cursos e patologias. 3. ed. , rev. ampl. São Paulo: Manole, 2002.
A Microdermoabrasão tornou-se um tratamento popular LITVOC, Júlio; BRITO, Francisco Carlos de. Envelhe-
devido à simplicidade e a segurança do procedimento, mas o cimento: prevenção e promoção da saúde. São Paulo: Atheneu,
seu mecanismo de ação não é bem conhecido, e apenas alguns 2004.
estudos têm investigado estas mudanças histologicamente. PORTO, Celmo Celeno. Semiologia médica. 5. ed. Rio
Apesar das vantagens da Microdermoabrasão, ela deve de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
ser utilizada de maneira segura, criteriosa e com acompanha- SAMPAIO, Sebastião de Almeida Prado; RIVITTI,
mento de um profissional especializado. Evandro A.. Dermatologia. 2.ed. São Paulo: Artes Médicas,
2000.
SHPALL, Rebeca B.S. et al. Microdermabrasion: A
Referências Review. Facial Plastic Surgery. New York, v. 20, 2004. p. 47-
50.
AZULAY, Rubem David; AZULAY, David Rubem. SPENCER, James M.; KURTZ, Ellen S.. Approaches to
Dermatologia. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. Document the Efficacy and Safety of Microdermabrasion
BORGES, Fábio dos Santos. Dermato-funcional: mo- Procedure. Dermatologic Surgery. United States,v.32, nov.
dalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. São Paulo: 2006. p. 1353 - 1357.
Phorte, 2006.

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Ultra-som no Tratamento do Fibro Edema Gelóide


Ultra-sound on the Treatment of Cellulites

Raphaelle Curtinaz Menezes1, Sinara Gonçalves da Silva1, Elisiê Rossi Ribeiro2

Resumo Abstract
O Fibro Edema Gelóide (FEG) é uma infiltração The fibrosis edema geloide (FEG) is an infiltration of the
edematosa do tecido conjuntivo subcutâneo, não inflamatório, edematous subcutaneous tissue, no inflammation, followed by
seguido de polimerização da substancia fundamental, que, polymerization of the fundamental substance, which is
infiltrando-se nas tramas, produz uma reação fibrótica conse- infiltrating the frame, produces a reaction consecutive fibrosis,
cutiva, ou seja, os mucopolissacarídeos que a integram sofrem or the mucopolysaccharides that have integrated a process of
um processo de geleificação. O fibro edema gelóide pode ser geleificacao. The fibro geloide edema can be diagnosed by
diagnosticado por diversos exames, porém o mais simples é o several tests, but the simplest is the "testing in orange peel,"
“teste em casca de laranja”, que consiste em pressionar o tecido which is to push the fat tissue between the fingers thumb and
adiposo entre os dedos polegar e indicador ou entre as palmas forefinger or between the palms, the skin looks like the
das mãos, a pele se parecerá com o aspecto de uma casca de appearance of orange peel, rough-looking. This research aims
laranja, com aparência rugosa. Esta pesquisa teve como objeti- to evaluate the benefits and efficacy of ultrasound for the
vo avaliar o benefício e a eficácia do ultra-som para o tratamen- treatment of fibro geloide edema. The work used as a study
to do fibro edema gelóide. O trabalho utilizou como metodologia methodology of literature review or synthesis conducted with
um estudo de revisão de literatura de síntese realizado com 10 10 articles on fibro geloide edema associated with ultrasound,
artigos sobre fibro edema gelóide associado ao ultra-som, pu- published in the period 1992 to 2004, found in electronic
blicados no período de 1992 a 2004, encontrados em bases de databases, and books, monographs and dissertation of Masters
dados eletrônicos, além de livros, monografias e dissertação de as results of research.In the study it was concluded that treatment
mestrado como resultados das pesquisas. Com o estudo reali- with EGF ultrasound therapy is very effective.After observing
zado chegou-se a conclusão que o tratamento do FEG com o the results obtained in various studies discussed in this article,
ultra-som terapêutico é muito eficaz. we conclude that EGF treatment with ultrasound therapy is very
Palavras-chave: effective.
Fibro edema gelóide, tratamento, ultra-som. Key words:
Fibrosis edema geloide, treatment, ultra-sound.

os mucopolissacarídeos que a integram sofrem um processo de


Introdução geleificação. (CIPORKIN; PASCHOAL, 1992) É considerado
Atualmente, existe uma constante e incansável busca pelo uma patologia multifatorial por ser determinada por efeitos
“corpo perfeito”. A influência da moda, sua imposição de res- hormonais, predisposição genética, inatividade, dietas inade-
trições, coloca as mulheres numa difícil situação, já que é quadas, obesidade, distúrbios posturais, bem como o tabagis-
provocada e atraída permanentemente para que se ponha de mo. (TOGNI, 2006) Portanto, este problema estético é caracte-
acordo com os padrões de beleza atual. (CORRÊA, 2005) E, rizado pela presença de pequenas depressões na pele, com as-
dentro deste parâmetro, geralmente a maior preocupação das pecto conhecido por “casca de laranja”, “acolchoado” ou
mulheres está ligada ao fibro edema gelóide (FEG), popular- “capitoné” e está mais presente em coxas, abdômen e nádegas.
mente chamada de celulite e que chega a atingir 85-98% das (BORGES, 2006; KEDE, SABATOVICH, 2004; GUIRRO,
mulheres de todas as raças, segundo alguns estudos. (AVRAM, GUIRRO, 2004; FERNANDES, 2008; SMALLS, L, 2005)
2004; ROSSI, VERGNANINI 2000) Ocorrendo em 90% das mulheres logo após a adolescência e
O fibro edema gelóide (FEG) é uma infiltração edematosa raramente nos homens. (AVRAM, 2004; ROSSI,
do tecido conjuntivo subcutâneo, não inflamatório, seguido de VERGNANINI, 2000) Sendo a prevalência maior em países
polimerização da substância fundamental, que, infiltrando-se desenvolvidos onde há um maior consumo de proteínas e gor-
nas tramas, produz uma reação fibrótica consecutiva, ou seja, duras nas dietas. (PINTO, 1995)

1. Acadêmica da Pós Graduação Lato Sensu em Fisioterapia Dermato Funcional e Recebido: maio de 2009
Cosmetologia da INSPIRAR Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Saúde. Aceito: maio de 2009
Autor para correspondência:
2. Professora da Pós Graduação Lato Sensu em Fisioterapia Dermato Funcional e Email: elisier22@hotmail.com
Cosmetologia da INSPIRAR Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Saúde.

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Podemos classificar o fibro edema gelóide em quatro es- descreve a habilidade do ultra-som em incrementar a penetra-
tágios: o primeiro é uma fase inicial, onde o processo já está se ção de agentes farmacológicos ativos através da pele. Tratou de
instalando internamente, mas não pode ser visto ou sentido; no uma eficiente alternativa de transporte de substâncias. (FILHO,
segundo, inicia-se a evolução do processo, onde as mudanças 2004)
estruturais vão ficando mais relevantes e os primeiros sintomas O ultra-som é uma terapia efetiva, ou um risco potencial,
passam a ser visíveis e podem ser sentidos sob palpação, a pele dependendo de como é aplicada esta modalidade. Existindo lis-
ganha um aspecto acolchoado e com ondulações; o terceiro é a tas de contra-indicações e precauções como: áreas isquêmicas,
fase em que aparecem os nódulos, os sinais são bem visíveis, tromboflebite e varizes, diretamente sobre endopróteses e im-
não necessitando de palpação para serem percebidos, a pele plantes metálicos, sobre útero gravídico, tumores cancerígenos,
áspera aparenta uma casca de laranja e verificou também edema sistema nervoso, áreas anestesiadas, infecção ativa, gônadas,
nas pernas e microvarizes, somados a flacidez; no quarto, ela é área cardíaca, olhos, hemofílicos não tratados e placas
dura e a pele fica “lustrosa”, cheia de depressões, as pernas epifisárias. (YOUNG, 1998; STARKEY, 2001; FUIRINI, LON-
ficam inchadas, pesadas, doloridas e a sensação de cansaço está GO 1996; LOW, REED, 2001; GUIRRO, GUIRRO, 2002)
presente, mesmo sem esforço físico. (MIGUEL, 2002) Desta forma, este estudo foi realizado com o objetivo
Para avaliação do FEG são utilizadas fichas de avalia- de enfatizar o benefício e a eficácia do ultra-som no fibro edema
ção, iniciando com a inspeção, procurando por atrofias a pre- gelóide observado principalmente nas regiões das coxas, abdô-
sença de nódulos ou placas hipertróficas, localização de gordu- men e nádegas, segundo pesquisas que foram utilizadas para a
ra, estrias, varizes, varicoses. Compõe o procedimento ainda realização deste trabalho.
verificar se a pele possui um aspecto de “casca de laranja”, e se
a coloração da pele está acetinada, dentre outros. (BARROS,
2001; KELLER, 1998) Ressaltou que durante o exame físico, a
Metodologia
inspeção deverá ser realizada com o paciente em posição O estudo foi realizado a partir de uma revisão de literatu-
ortostática, pois na posição de decúbito onde ocorre acomoda- ra de síntese. Para tanto, foram utilizados artigos científicos em
ção dos tecidos o que pode mascarar o grau de acometimento idiomas português, espanhol e inglês publicados. Foram con-
do tecido. (GUIRRO, GUIRRO, 2002; ARIZA, A. R. M. et al., sultadas as bases de dados Scielo, Lilacs, Medline, Pubmed,
2005 ) utilizando-se das seguintes palavras-chave: Fisioterapia Dermato
O FEG foi diagnosticado por diversos exames, porém o Funcional, ultra-som, celulite, fibro edema gelóide, lipodistrofia
mais simples é o “teste em casca de laranja”, que consiste em Ginóide, tratamento, fonoforese, dermato functional
pressionar o tecido adiposo entre os dedos polegar e indicador physiotherapy, ultrasound, cellulite, dermato-
ou entre as palmas das mãos, a pele se parecerá com aspecto de lunctionary,lipodystrofic, treatment, phonophoresis.
uma casca de laranja, com aparência rugosa. Existem ainda exa- Foram utilizados ainda, livros em idioma português pu-
mes complementares como, termografia, xerografia, ecografia blicados no período de 1992 a 2004. Devido a sua grande im-
bidimensional e exame anatômico patológico. (GUIRRO, portância, serão referenciadas monografias realizadas na Uni-
GUIRRO, 2002; PINTO, 1998; ARIZA, A. R. M. et al., 2005) versidade do Sul de Santa Catarina e da Universidade Estadual
No tratamento dessa afecção foram utilizados vários re- do Oeste do Paraná em 2002-2006.
cursos, porém nem todos apresentam resultados satisfatórios. Como critérios de inclusão dos artigos que foram seleci-
Dentre os recursos, o ultra-som associada à fonoforese apre- onados, foram revisados somente, aqueles com descrição de
senta grande eficácia, pois promovem significativas alterações fibro edema gelóide, eficácia do ultra-som no fibro edema
fisiológicas no tecido acometido pela FEG. (PINTO, 2007) E gelóide, tratamento conservador, estudos comparativos do ultra-
existe uma gama muito ampla de indicações do ultra-som, sen- som em relação a outras técnicas utilizadas para a melhora do
do que, seu uso em estética está crescendo pela obtenção de fibro edema gelóide, utilização do ultra-som associado a
excelentes resultados conseguidos em determinadas patologi- fonoforese, a fisioterapia dermato-funcional no tratamento do
as, tais como, o fibro edema gelóide e em tecido cicatricial. fibro edema gelóide.
(GUIRRO, GUIRRO, 2004)
O ultra-som é de um método que utiliza de ondas sonoras
através de um cabeçote com transdutor perpendicular à área a Discussão
ser tratada, em constante movimentação e mantido em contato
com o agente de acoplamento para não gerar a formação de O fibro edema gelóide (FEG), indevidamente chamado de
cunhas de ar. Sua ação também promove efeito antiinflamatório celulite, pode ser definida como uma patologia multifatorial, que
(combate as dores) e aumento da circulação. A utilização do resulta na degeneração do tecido adiposo, passando pelas fases
ultra-som associado à fonoforese gerou efeitos como de alteração da matriz intersticial, estase microcirculatória e
neovascularização, aumento da circulação, rearranjo e aumen- hipertrofia dos adipócitos, ou seja, as células de gorduras retêm
to da extensibilidade das fibras colágenas, e melhorou as pro- um maior teor de lipídio, diferente e alterado que estimula a re-
priedades mecânicas do tecido, além de um aumento na tenção de líquidos, gerando assim o aumento de volume da célu-
permeabilidade das membranas biológicas facilitando assim a la que causa a compressão dos vasos e o rompimento das fibras
penetração de fármacos no organismo através da pele de colágeno e elastina. Evoluindo assim, para fibrose cicatricial,
(fonoforese). (PATRICK, 1978; CONTI, PEREIRA, 2003) Ten- gerando um aspecto de pele em “casca de laranja”, “acolchoado”
do como agente de acoplamento, o gel que é o meio que melhor ou “capitoné” e esta mais presente em coxas, abdômen e náde-
transmite a onda ultra-sônica, sendo, portanto, o mais indicado. gas. (BORGES, 2006; KEDE, SABATOVICH, 2004; GUIRRO,
(MARDEGAN, GUIRRO, 2005) Nesta técnica utilizou o gel GUIRRO, 2004; FERNANDES, 2008; SMALLS, L., 2005)
hidrossolúvel ou formulações farmacológicas com fins No tratamento do FEG utilizou o ultra-som, pois tem como
terapêuticos. Já a fonoforese ou sonoforese é um termo que efeitos fisiológicos a ação tixotrópica sobre géis,

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despolimerização da substância fundamental, deslocamento de foi submetido à terapia com ultra-som, e o segundo grupo não
íons, aumento da permeabilidade das membranas, melhor recebeu nenhuma intervenção terapêutica no período. O ultra-
reabsorção de líquidos, aperfeiçoamento da irrigação sanguí- som foi utilizado na freqüência de 3 MHz, no modo contínuo,
nea e linfática, aumenta a produção e melhora a orientação das com dose de 1,2 W/cm², e foi aplicado por 7 minutos em cada
fibras colágenas do tecido conjuntivo. (PIRES DE CAMPOS, glúteo. O tratamento consistiu de 20 sessões, realizadas 3 vezes
1992; YOUNG, 1998) por semana, em dias alternados. Todas as voluntárias foram
Para obter resultados efetivos do ultra-som no FEG suge- submetidas à avaliação inicial, para verificar o tipo e grau do
riu a aplicação por contato direto, na qual consiste em manter o fibro edema gelóide apresentado. Com o término do tratamento
cabeçote emissor do ultra-som em contato direto com a pele proposto nova avaliação foi realizada e revelou que a utilização
que se deseja tratar. A aplicação realizou uma via de agente de do ultra-som mostrou-se eficaz no tratamento do fibro edema
acoplamento, sendo que este foi o suficientemente viscoso para gelóide, uma vez que diminuiu o grau de acometimento.
agir como lubrificante entre o transdutor e a pele, estéril para Já na pesquisa de Oenning et al. (2002), foi estudada uma
evitar contaminação e não apresentar bolhas de ar no seu interi- paciente do sexo feminino, 21 anos de idade, cor branca, 52
or, o que favoreceria a atenuação do feixe. (GUIRRO, GUIRRO, quilos, 1,58 metros, com aparecimento do FEG na adolescên-
2002) cia com graus 1 e 2 nas regiões glútea e superior da coxa. Fo-
O ultra-som é uma modalidade de penetração profunda, ram utilizados ficha de avaliação, registro fotográfico e uma
capaz de produzir alterações nos tecidos, por mecanismos tér- escala de opinião. A paciente foi submetida a 20 sessões de
micos e não-térmicos. Desta forma, existem dois regimes de aplicação do ultra-som, com dose de 0,6 w/cm², freqüência de
pulso comumente empregados na prática clínica do ultra-som 3 MHz, modo contínuo, na região dos glúteos e porção superior
terapêutico, o contínuo e o pulsado. (STARKEY, 2001; das coxas. Ao final do tratamento, observou-se redução do FEG
GUIRRO, GUIRRO, 2002) O modo contínuo se caracteriza por grau 1 e 2 e a paciente referiu estar satisfeita com os resultados.
ondas sônicas contínuas, sem modulação, com efeitos térmi- No trabalho de Federico et al. (2006), a metodologia con-
cos, alteração da pressão e micromassagem. Já o modo pulsado sistiu do emprego da fonoforese com meio de acoplamento à
apresenta características como ondas sônicas pulsadas, modu- base de hera, centella asiática e castanha da índia em 5 partici-
lação em amplitude com freqüências de 16 Hz a 100 Hz, efeitos pantes selecionadas aleatoriamente e divididas em dois grupos,
térmicos minimizados e alteração da pressão, deste modo, uma onde o primeiro grupo foi submetido à terapia com ultra-som
ação analgésica, antiinflamatória e anti-edematosa. (FUIRINI, de ERA de 8,5 cm² com dose de 1,1 watts/cm² e o segundo
LONGO; 1996) grupo foi submetido à terapia com ultra-som de ERA de 4 cm²
O ultra-som possui também duas freqüências, de 1 MHz com dose de 1,5 watts/ cm2. O ultra-som foi utilizado na fre-
e de 3 MHz, porém o tratamento com ultra-som de 3,0 MHz é qüência de 3 MHz, no modo contínuo e o tratamento consistiu
indicado para tecidos superficiais, enquanto que o tratamento de 16 sessões, realizadas 4 vezes por semana. Todas as voluntá-
com ultra-som de 1 MHz é indicado para tecidos mais profun- rias foram submetidas à avaliação inicial, para verificar o tipo e
dos. Como as patologias estéticas atingem tecidos superficiais o grau de celulite apresentados. Com o término do tratamento
como a pele, predominantemente o tecido conjuntivo (derme), proposto os resultados revelaram que a fonoforese mostrou-se
produzindo alterações circulatórias e mecânicas do tecido, não eficaz no tratamento da celulite somente em uma das 5 voluntá-
necessita, portanto de uma penetração muito grande das ondas rias envolvidas na pesquisa.
mecânicas. Sendo assim, o ultra-som de 3 MHz é o mais indica- Já no estudo de Nigro (2009) teve como objetivo compa-
do para o tratamento dessas patologias. (BIOSET, 2001) rar os resultados encontrados em mulheres tratadas com ultra-
Desta forma, no tratamento do fibro edema gelóide reco- som terapêutico (UST) associado ao gel com princípios ativos
mendou o uso do ultra-som em emissão continua, exceto se exis- e ao gel hidrossolúvel simples para a reversão do fibro edema
tir alguma circunstância que contra indique a aplicação de ca- gelóide (FEG), comprovando a eficácia deste tipo de recurso,
lor. Em geral, para o tratamento da mesma recomendou iniciar com ou sem a ação da fonoforese. As voluntárias foram subme-
com doses baixas e aumentar a intensidade progressivamente. tidas a 15 sessões de UST com duração de 12 minutos em cada
Porém, estas não devem ultrapassar 2 W/cm2, sobretudo quan- glúteo, sendo em um utilizado gel simples e em outro gel com
do se trabalha em emissão continua. Caso a aplicação seja em carbopol e princípios ativos. O estudo revelou melhora no FEG,
emissão pulsada a intensidade pode variar de 2 a 3 W/cm2. em todas as voluntárias e em ambos os glúteos, sendo possível
(ROSSI, 2001) concluir que o tratamento com UST é eficaz, independente da
Na literatura há divergências de opiniões, entre autores, fonoforese.
sobre o tempo de cada sessão, onde Guirro & Guirro (2002), Na pesquisa de Silva (2006), onde a amostra foi compos-
estabelece o tempo de dois minutos para áreas próximas de 10 ta de dois grupos, com três indivíduos cada, portadoras do fibro
cm2 . Já Parienti (2001) cita que a sessão de ultra-som não deve edema gelóide de graus semelhantes. Um dos grupos (experi-
exceder 10 minutos, e que a zona de atuação é de 10 x15cm. mental) foi tratado com ultra-som aliado ao gel Bioestimulante®
Porém Longo (2001), não aconselha uma aplicação por mais de da Vita Derm, enquanto que o outro grupo (controle) utilizou o
15 a 20 minutos contínuos em uma mesma sessão de tratamen- gel condutor Sonic-Plus gel. As pacientes foram submetidas a
to, pois podem ocorrer vertigens, tonturas, estresse, além de 10 intervenções de, aproximadamente 1 hora, em regime de três
outros efeitos colaterais. A utilização do ultra-som pode ser in- sessões semanais no período de julho a outubro de 2008. Antes
cluído no tratamento em dias alternados, de 2 a 3 vezes na se- e após o tratamento foram avaliadas alterações de perimetria e
mana. Deve-se aplicar, no máximo, 20 sessões. E após o térmi- peso. A evolução do tratamento também foi analisada por meio
no destas deve-se aguardar 1 a 2 meses para então reiniciar o de registro fotográfico e uma escala de opinião quanto aos re-
tratamento. (ROSSI, 2001) sultados obtidos no tratamento. Valores significantes de redu-
Weimann (2004) realizou um estudo com 10 pacientes, ção de perímetro corporal foram obtidos após a conduta tera-
aleatoriamente, formando dois grupos, onde o primeiro grupo pêutica, e foram observadas também alterações cutâneas visí-

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veis, sugerindo que o ultra-som terapêutico de 3 MHz contribui CIPORKIN, I.;PASCHOAL, L. H. Atualização terapêu-
para a redução do fibro edema gelóide. tica e fisiopatogênica da lipodistrofia genóide. 5. ed. São
Pedro (2007) realizou uma pesquisa na qual selecionou Paulo: Santos, 1992.
10 participantes, do sexo feminino, submetidas à avaliação para CONTI, B. Z.;PEREIRA, T. D. Ultra-som terapêutico na
verificar o grau, o tipo do fibro edema gelóide, o perímetro da redução da lipodistrofia ginóide. Fisio&terapia. ano 7, n. 37,
coxa, circulação sanguínea e análise fotográfica, antes e após a p. 11-14, fev./mar. 2003.
intervenção. O tratamento consistiu de 20 sessões, realizadas CORRÊA, M. B. Efeitos obtidos com a aplicação do
diariamente, utilizando-se do ultra-som terapêutico em uma fre- ultra-som associado à fonoforese no tratamento do fibro
qüência de 3 MHz, no modo contínuo, com dose de 1,0 W/cm2, edema gelóide. Trabalho de Conclusão do Curso de Fisiotera-
em ambos os membros inferiores. A fonoforese à base de cafe- pia da Universidade do Sul de Santa Catarina – CAMPUS TU-
ína foi empregada na região lateral do membro inferior esquer- BARÃO, 2005.
do. Os resultados demonstraram diminuição significativa da CUNHA, E. S. et al. Intervenção fisioterapêutica no
perimetria entre os membros inferiores, aumento da tratamento do fibro edema gelóide. Disponível em: <http://
vascularização em ambos os membros, porém mais acentuada www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/alter-
no esquerdo, demonstrada através da placa termossensível. De nativa/geloide_eline.htm>. Acesso em: 13 set. 2008.
acordo com os parâmetros utilizados neste estudo, a técnica da DALSASSO, J. C. Fibro edema gelóide: um estudo com-
fonoforese associada à cafeína exerceu mudanças morfológicas parativo dos efeitos terapêuticos, utilizando ultra-som e
e circulatórias perante a resolução do fibro edema gelóide mais endermologia-DERMOVAC, em mulheres não praticantes
efetivas quando comparadas ao ultra-som no modo convencio- de exercícios físico. Trabalho de Conclusão do Curso de Gra-
nal. Atribuímos o fato à ação da cafeína por ser um importante duação em Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina
agente atuante nos mecanismos metabólicos da lipólise. – CAMPUS TUBARÃO, 2007.
Pinto (2007), neste estudo, teve como objetivo comparar FEDERICO, M. R. et al. Tratamento de celulite
os resultados obtidos na terapia por ultra-som com gel conven- (Paniculopatia Edemato Fibroesclerótica) utilizando fonoforese
cional e a fonoforese com mucopolissacaridase. Para o estudo com substância acoplaste à base de hera, centella asiática e casta-
foram selecionados 10 indivíduos, do sexo feminino, entre 20 e nha da índia). Rev. Fisioterapia Ser. vol.1, n.1. 2006.
35 anos, sedentários, com lipodistrofia ginóide na região glútea, FERNANDES, P. V. Fisioterapia no Tratamento da Ce-
grau II, tipo flácida. Os indivíduos foram divididos aleatoria- lulite. Disponível em: <http://www.interfisio.com.br/
mente em dois grupos, sendo no grupo controle, G1, aplicado index.asp?fid=32&ac=6>. Acesso em: 17 ago. 2008.
ultra-som, e no grupo experimental, G2, a fonoforese. O equi- FILHO, A D. M. Fisioterapia dermato-funcional. Tra-
pamento utilizado na pesquisa possuía freqüência de 3 MHz, balho apresentado na Universidade de União da Vitória:
modo contínuo e intensidade de 1,5w/cm2. Foram realizadas PR.2004.
10 sessões com cada indivíduo de cada grupo. Ao final do ex- FUIRINI N. J.; LONGO, G.J. Ultra-som. Amparo: KLD
perimento, constatou-se, na reavaliação, uma melhora signifi- – Biossistemas equipamentos eletrônicos Ltda, 1996.
cativa em ambos os grupos, embora os resultados de G2 foram GUIRRO, E.; GUIRRO, R. Fisioterapia dermato-funcio-
mais evidentes. Mostrando que o ultra-som e a fonoforese são nal: fundamentos, recursos e patologias. 3. ed. São Paulo:
eficazes no tratamento da lipodistrofia ginóide, pois promovem Manole, 2004. (PAG.347 E 348).
significativas alterações fisiológicas no tecido acometido pela GUIRRO, E.; GUIRRO, R. Fisioterapia dermato-funcio-
patologia citada. nal: fundamentos, recursos e patologias. 3. ed. São Paulo:
Manole, 2002.
Conclusão KEDE, M. P. V. & SABATOVICH, O. Dermatologia Es-
tética. São Paulo, Atheneu, 2004.
Através do presente estudo, pelos resultados obtidos, con- KELLER, F. Fisioterapia no tratamento de celulite. Tra-
cluiu-se que o tratamento do FEG com o ultra-som terapêutico balho de Conclusão de Curso. Curso de Fisioterapia da Univer-
foi eficaz na amenização e diminuição do quadro de fibro edema sidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 1998.
gelóide nas regiões das coxas, abdômen e nádegas. LOW, J.; REED, A. Ultra-som Terapêutico. In: _____.
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lo: Manole, 2001.
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aplicação do ultra-som no tratamento do fibro edema gelóide SILVA, J. R. Utilização de ultra-som através da
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Análise do Impacto da Fisioterapia Respiratória em Pacientes


Pediátricos com os Sinais Clínicos apresentados na Pneumonia
Study of the Impacts of breathing Physicaltherapy in children Patients
with Clinical Signs of Pneumonia
Anaíres de Goes Santos1, Manoel Luiz de Cerqueira Neto2 , Aída Carla Santana de Melo Costa3

Resumo Abstract
A fisioterapia respiratória é uma modalidade terapêutica The respiratory physiotherapy is a relative new therapeutic
relativamente recente dentro das enfermarias pediátricas e que modality in pediatric infirmaries and that is expanding thanks
está em expansão graças aos seus benefícios. Sua atuação tem to its benefits. Its performance has a fundamental role in
papel fundamental na prevenção e intervenção das complica- prevention and intervention of complications that occur in
ções que ocorrem em pacientes com sinais clínicos de pneumo- patients with clinical indications of pneumonia, in addition of
nia, além de ser uma solução simples, acessível, de baixo custo being a simple, accessible, low cost solution and do not require
e que não exige tecnologia nem recursos terapêuticos sofistica- sophisticated technology nor therapeutic resources for its
dos para sua execução. Sendo assim, o presente estudo tem como execution. Thus, this study aims to analyze the impact of
objetivo analisar o impacto da fisioterapia respiratória em paci- respiratory physiotherapy in pediatric patients with symptoms
entes pediátricos com os sintomas da pneumonia. Para a pes- of pneumonia. For the study, 10 patients were analyzed in the
quisa, foram analisados 10 pacientes na faixa etária de 0 a 12 age group of 0 to 12 years, being 3 females and 7 males,
anos, sendo 3 do sexo feminino e 7 do sexo masculino, subme- submitted to physiotherapy treatment for 30 minutes, 1 time a
tidos ao tratamento fisioterapêutico por 30 minutos, 1 vez ao day, being, lately, found data submitted to statistic analyze. For
dia,sendo, posteriormente, encontrados dados submetidos a the techniques were applied in correct and effective way, it was
análise estatística. Para que as técnicas fossem aplicadas de necessary a good assessment of the patient, because each
maneira correta e eficaz, fez-se necessária uma boa avaliação technique has its own goals, their indications and
do paciente, pois cada técnica tem seus objetivos, suas indica- contraindications and, above all, the techniques must be
ções e contra indicações e, acima de tudo, as técnicas devem implemented in a correct way to attain significant results. The
ser executadas da maneira correta para que haja resultados sig- study was conducted at Cirurgia Hospital Beneficent Foundation
nificativos. O estudo foi realizado na Fundação Beneficente (FBHC) in the city of Aracaju/SE, from March to August, 2008.
Hospital Cirurgia (FBHC) da cidade de Aracaju/SE, no período It was concluded in this research that respiratory physiotherapy
de março a agosto de 2008. Concluiu-se nesta pesquisa que a maintains the up and low airways permeability, improves the
fisioterapia respiratória mantém a permeabilidade das vias aé- relation between ventilation and perfusion, reduces the need
reas superiores e inferiores, melhora a relação ventilação/ for using aggressive therapeutic ventilation and minimizes lung
perfusão, reduz a necessidade da utilização de terapêuticas lesions, helping to reduce the period of hospitalization and
ventilatórias agressivas e minimiza as lesões pulmonares, con- consequently reducing hospital costs.
tribuindo para a redução do período de hospitalização e, conse-
qüentemente, reduzindo os custos hospitalares. Key words:
pneumonia; clinical signs; respiratory physiotherapy.
Palavras-chave:
Pneumonia; sinais clínicos, fisioterapia respiratória.

Introdução Segundo o I Congresso Brasileiro sobre pneumonias, as


doenças respiratórias correspondem a, aproximadamente, 50%
A Pneumonia (PNM) é um processo geralmente agudo dos atendimentos ambulatoriais, sendo que 12% destes são pneu-
infeccioso que pode atingir bronquíolos, alvéolos, interstício monias.
pulmonar e, às vezes, o revestimento pleural com distribuição Cerca de 10 a 20% das crianças menores de cinco anos,
segmentar. A etiologia da PNM pode ser viral (mais freqüente), nos países pobres, apresentam pneumonia a cada ano. Em 1995,
bacteriana, micótica, protozoótica, por migração parasitária e das 11,6 milhões de mortes nos menores de cinco anos, 4 mi-
por agentes físicos e químicos. lhões ocorreram por PNM. Dessas, 95% ocorreram em países

1. Acadêmica da Pós Graduação Lato Sensu em Fisioterapia Hospitalar – Rio de Janeiro- Recebido: maio de 2009
RJ da INSPIRAR Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Saúde; Aceito: maio de 2009
Autor para correspondência:
2. Professor da Pós Graduação Lato Sensu em Fisioterapia Hospitalar INSPIRAR Centro Email: anairesgoes@yahoo.com.br
de Estudos, Pesquisa e Extensão em Saúde;

3. Professora da Universidade Tiradentes (UNIT)-SE.

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pobres e 50 a 75% atingiram crianças com menos de um ano. O tratamento fisioterapêutico para crianças com disfunção
A história e o quadro clínico da pneumonia apresentam respiratória é indispensável para sua correta e precoce recupe-
particularidades dependentes do agente e das condições própri- ração. Um estudo comprova através de dados estatísticos, que
as do paciente, tais como: peso, idade, estado imunitário e da- o tratamento fisioterapêutico não só recupera mais rapidamente
dos epidemiológicos. a criança, retirando-a do ambiente hospitalar precocemente,
Em geral, os sinais e sintomas incluem febre de intensi- como atua no salvamento de suas vidas (IRWIN, 1994).
dade variável, tosse, adinamia, palidez ou cianose, toxemia, O acompanhamento fisioterapêutico é fundamental tanto
agitação, vômitos e desidratação. A pneumonia cursa também no período de internação, quanto após a alta hospitalar. O fisio-
com desconforto respiratório, como dispnéia, taquipnéia, terapeuta deve realizar uma abordagem respiratória e
batimentos de aletas nasais (BAN), retrações intercostais, dor neuromotora, além de promover um posicionamento adequado
torácica, estertoração variada, presença de sopro brônquico, dos pacientes no leito.
alterações do murmúrio vesicular (MV) e broncofonia aumen- Visando conhecer e favorecer a atuação do fisioterapeuta
tada. de forma preventiva e através de condutas terapêuticas apropri-
O tratamento básico da pneumonia é a administração de adas, o estudo teve como objetivo analisar o impacto da fisiote-
agentes farmacoterapêuticos específicos, associado à fisiotera- rapia respiratória em pacientes pediátricos com os sinais e sin-
pia. O desenvolvimento contínuo da fisioterapia respiratória, tomas da pneumonia, quanto à prevenção de reincidiva, á dimi-
juntamente com a medicina, faz com que os recursos nuição da morbimortalidade dos pacientes submetidos a essa
fisioterapêuticos sejam otimizados, respeitando-se as peculia- terapia e á redução do tempo de internação hospitalar.
ridades da criança e tornando possível atingir um alto padrão
de eficácia do tratamento. (I Consenso Brasileiro de Pneumo-
nia) Metodologia
A Fisioterapia é uma ciência que utiliza os meios físicos e
O Estudo clínico desenvolvido foi do tipo quantitativo, não-
naturais com objetivos preventivos e de restaurar, ao máximo, a
randomizado, não-aleatório, longitudinal, prospectivo, utilizando 10
capacidade funcional e a independência para o trabalho, no lar
pacientes da unidade de Enfermaria Pediátrica da Fundação Benefi-
e na sociedade, incluindo avaliação das condições do paciente
cente Hospital Cirurgia (FBHC), na cidade de Aracaju-SE, sendo 3
e prognóstico como parte essencial de um programa terapêutico
do sexo feminino e 7 do sexo masculino, na faixa etária de 0 a 12 anos.
(AZEREDO, 2002).
Todos os pesquisados incluídos no estudo foram submetidos ao
Dentre as diversas áreas de atuação fisioterapêutica, te-
tratamento fisioterapêutico por 30 minutos, uma vez ao dia, em agosto
mos a Fisioterapia Pneumofuncional que, segundo Slutzky
de 2008. Somente foram incluídos aqueles que apresentavam os sinais
(1997), teve inicio com Hipócrates (460 a 377 a.C), promoven-
clínicos da pneumonia. Foi utilizada como critério de exclusão a utili-
do pela primeira vez exercícios respiratórios em pacientes com
zação da ventilação mecânica invasiva e ventilação mecânica não-
asma. Entretanto, somente no ano de 1902, Willian Ewart des-
invasiva.
creveu o efeito benéfico da drenagem postural no tratamento da
O trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em pesquisa da
bronquiectasia (AZEREDO, 2002).
FBHC – Fundação Beneficente Hospital Cirurgia, acatando a Reso-
A Fisioterapia Pneumofuncional vem destacando-se ao
lução 196/96.
longo dos anos como uma conduta terapêutica eficaz no trata-
A partir da seleção dos pacientes, foi aplicado um proto-
mento de enfermidades do sistema respiratório. Afecções da
colo de experimento dividido em três etapas: A primeira etapa
caixa torácica, condutos respiratórios, parênquima pulmonar e
foi à apresentação e familiarização, nesta etapa, foram apre-
sistema muscular vêm respondendo satisfatoriamente ao trata-
sentados às mães dos pacientes os objetivos da pesquisa, a roti-
mento empregado com técnicas de fisioterapia cinesiológica
na do experimento e os comandos verbais a serem atendidos. A
manuais (ROZOV, 2000).
segunda etapa foi à avaliação, nela foram obtidos dos prontuá-
A Fisioterapia Respiratória tem como principais metas:
rios e anotados em protocolo específico para pesquisa os se-
prevenir o acúmulo de secreções nas vias aéreas que interfere
guintes dados dos pacientes: idade, doença, quadro clínico apre-
na respiração normal; favorecer a eficácia da ventilação; pro-
sentado, data de início e saída da internação freqüência cardía-
mover a limpeza e a drenagem das secreções; melhorar a resis-
ca, freqüência respiratória e ausculta pulmonar, como também
tência e a tolerância à fadiga, durante os exercícios e nas ativi-
a análise de imagem de RX nos cinco minutos precedentes da
dades da vida diária; melhorar a efetividade da tosse; prevenir e
terapia e após 10 minutos da aplicação das técnicas. Na terceira
corrigir possíveis deformidades posturais, associadas ao distúr-
etapa foi realizada a conduta fisioterapêutica – Os pacientes
bio respiratório; promover suporte ventilatório adequado, bem
foram submetidos às técnicas de descolamento e deslocamento
como sua retirada, em pacientes internados nas Unidades de
de secreção, higiene brônquica e reexpansão pulmonar.
Terapia Intensiva.
Para descolar e deslocar secreção, foram utilizadas as
As crianças que apresentam afecções do aparelho respi-
manobras de vibração e compressão-descompressão associa-
ratório são encaminhadas ao fisioterapeuta com a finalidade de
das às posturas de drenagem. Na vibração manual torácica, são
melhorar a capacidade funcional pulmonar. Na maioria desses
realizados movimentos rítmicos, rápidos e com uma intensida-
casos, o tratamento tem três objetivos principais que é o da lim-
de capaz de transmitir a vibração aos brônquios pulmonares.
peza das vias aéreas, obstruídas pelo acúmulo das secreções ou
Os movimentos são feitos com as mãos espalmadas, acopladas
pelo material aspirado, reexpansão de um segmento pulmonar
no tórax do paciente e no sentido crânio-caudal, com o objetivo
atelectasiado e aperfeiçoamento do mecanismo respiratório e
de mover as secreções, que já estão soltas, para as vias aéreas
do controle sobre a respiração. Procura-se, com isso, alcançar o
de maior calibre por meio do tixotropismo e pelo aumento do
objetivo principal, ou seja, assegurar a transmissão adequada
transporte mucociliar que a técnica pode gerar (PRESTO; PRES-
dos gases aos órgãos de importância vital, como, por exemplo,
TO, 2005, p.199).
o cérebro (SHEPHERD, 1996).

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A vibração pode ser unilateral ou bilateral, os movimen- Era oferecida, ao finalizar a terapia, uma orientação sobre a
tos vibratórios com as mãos são conseguidos a partir de contra- importância do posicionamento correto do paciente no leito. A imobi-
ções isométricas dos MMSS do fisioterapeuta na parede torácica lização do paciente no leito pode causar alterações funcionais e inca-
do paciente durante a expiração com uma leve pressão (COLBY, pacidades, enquanto que, durante a mobilização, ocorre a otimização
1998; GARCIA e NICOLAU, 2000; COSTA, 2002). Segundo do transporte de O2 por realçar as relações ventilação/perfusão (V/Q)
Taniguchi e Pinheiro (2000, p. 132), a vibrocompressão é através de estímulo gravitacional na redistribuição de líquidos corpo-
indicada a paciente com hipersecreção, como os com fibrose rais, como o sangue responsável pela perfusão pulmonar
cística, pneumonias, pacientes com atelectasias, DPOC, asmá- (MACKENZIE, 1998; STILLER, 2006).
ticos entre outros. A posição corporal influencia de forma direta a distribuição da
Outra manobra realizada foi a compressão-descompressão que ventilação e da perfusão, o tamanho dos alvéolos, a oxigenação arteri-
consiste em uma compressão realizada na parede torácica durante a al e na mecânica ventilatória (WEST, 1996). A elevação da cabeceira
fase expiratória do ciclo ventilatório de forma relativamente brusca, a 30º, freqüentemente, é utilizada por impedir episódios de
objetivando a formação de fluxo turbulento por aceleração do fluxo broncoaspiração e facilitar a mecânica respiratória (CARAZAN, 2000).
expiratório intrapulmonar. Conseqüentemente, mobiliza as secreções,
tornando sua eliminação mais rápida e eficiente (COLBY, 1998;
COSTA, 2002).
Resultados
Para a eliminação de secreções pulmonares, foram emprega- Foi realizado um cálculo estatístico com os resultados obtidos,
das manobras como o TIC traqueal e a tosse manualmente assistida os quais demonstraram que a assistência fisioterapêutica respiratória
com o principal objetivo de mobilizar e remover as secreções retidas diminui as complicações da mecânica pulmonar e o período de
com o propósito final de melhorar o intercâmbio gasoso e reduzir o hospitalização, reduzindo, conseqüentemente, os custos hospitalares.
trabalho respiratório (DELISA e GANS, 2002).
Para que haja a manutenção da limpeza dos pulmões, é
necessário um mecanismo de tosse eficaz (reflexo ou voluntá-
rio). Esse mecanismo funciona a partir de uma inspiração pro-
funda, seguida do fechamento da glote, contração da musculatu-
ra abdominal e posterior abertura da glote com uma expiração
forte de ar. Alguns fatores como a redução da capacidade
inspiratória ou expiratória forçada, a diminuição da ação ciliar,
ou um maior espessamento das secreções contribuem para difi-
cultar a tosse (KISNER e COLBY, 1998).
O TIC traqueal ou tosse induzida é uma manobra de
estimulação do reflexo da tosse por ação mecânica, utilizada quan-
do a tosse voluntária está abolida ou em pacientes não
colaborativos. A tosse é provocada manualmente através da ex-
citação dos receptores laríngeos, comprimindo abaixo da traquéia
ou acima da fúrcula esternal ou ainda induzida a partir da instilação Gráfico 1: Representação gráfica por idade da incidência de PNM em
de uma solução contendo água ou soro (SARMENTO, 2005). crianças.
A tosse assistida é uma maneira de ajudar o paciente a tos- O total de pacientes internados na pediatria no dado período que
sir através de um estímulo manual feito sobre o tórax do pacien- foi submetido a atendimento fisioterapêutico foi de 10 pacientes, sendo
te. Esse estímulo consiste em dar uma pressão rápida, com a área que todos apresentaram quadro de PNM. Destes, 70% foram do sexo
palmar de uma das mãos do fisioterapeuta, na região póstero- masculino, enquanto 30% foram do sexo feminino. A maior incidência
superior torácica do paciente, estando este sentado. A região an- foi em crianças de zero a três anos, com 70%, seguindo para crianças de
terior do tórax é fixada com a outra mão do fisioterapeuta. oito a onze anos, com 20% e, por último, crianças de quatro a sete anos,
A tosse como recurso do fisioterapeuta pauta-se em sua capaci- com 10% (gráfico 1), demonstrando que o maior índice de internação
dade de prover um aumento do fluxo expiratório, possibilitando a elimi- ocorreu em crianças do sexo masculino de até 3 anos de idade.
nação de secreções pulmonares. É um fenômeno protetor e depurador
das vias aéreas e um dos mecanismos defensivos do sistema respirató-
rio.
Essa assistência à tosse também pode ser feita dando-se a pressão
manual na região abdominal. É importante que o estímulo seja sincrônico
com a tosse do paciente, e que antes da realização dessa técnica o paciente
saiba a maneira correta de tossir, usando os músculos abdominais (KISNER
e COLBY, 1998; COSTA, 2002). Deve-se orientar o paciente a tossir, fazen-
do uma inspiração profunda, contraindo a musculatura abdominal e tossindo
posteriormente. A tosse efetiva permite a eliminação de secreções devido à
força do ar durante a expiração (THOMSON, SKINNER e PIERCY, 1994).
Para promover a reexpansão pulmonar,, foi utilizada a técnica
de Drenagem Postural que consiste em adotar posições específicas,
dependendo do local do pulmão onde há acúmulo de secreções, a fim
de facilitar a drenagem dessas para vias aéreas mais centrais, com a Gráfico 2: Representação gráfica por sexo da incidência de PNM em
ajuda da força da gravidade (THOMSON, SKINNER e PIERCY, crianças.
1994).

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A média do tempo de internação foi de 14,7 dias, e seu


tempo médio de alta após o início do tratamento fisioterapêutico Discussão
foi de 4,8 dias, como mostra o Gráfico 2. Apesar desse elevado
Segundo os dados obtidos nos prontuários dos pacientes
índice de internação, após o início do tratamento de fisioterapia,
durante o período de março a agosto de 2008, 30 % dos pacien-
houve redução considerável no tempo de internação dos pacien-
tes internados por pneumonia são do sexo feminino e 70 % do
tes.
sexo masculino. A maior incidência foi em crianças de zero a
Ao tabular os dados referentes aos 10 pacientes estudados,
três anos (70%) com um tempo médio de alta após o início do
observamos que todos apresentaram redução dos sinais e sinto-
tratamento fisioterapêutico de 4,8 dias.
mas da pneumonia, tais como: aumento do murmúrio vesicular;
Dornelas e Vasconcelos (2003) também concluíram em
redução dos ruídos adventícios; aumento da expansibilidade
seu estudo que dos pacientes que perfazem a PNM, 66,66%
torácica; redução das tiragens intercostais; ausência dos
foram do sexo masculino e que a maior incidência foi em
batimentos de asa de nariz e melhora a higiene brônquica.
lactentes de 0 a 2 anos (63,64%), pela predominância do vírus
Sincicial Respiratório que atinge cerca de 50% das crianças nessa
faixa etária.
Segundo Pontes e Souza (2006), foram constatadas em
seu trabalho 58 internações de crianças com Pneumonia de 0 a
5 anos , entre as quais 33 eram menores ou igual a um ano,
como afirma o I Consenso Brasileiro de Pneumonia na criança
em que há nítida predominância de Pneumonia em menores de
um ano.
De acordo com Dornelas e Vasconcelos (2003), em sua
pesquisa, a relação do tempo de internação com o início do trata-
mento fisioterapêutico foi de 2,18 dias, e seu tempo médio de
alta após o início do tratamento foi de 3,48 dias.
Irwin (1994) relata que o tratamento fisioterapêutico para
crianças com disfunção respiratória é indispensável, para sua
Gráfico 3: Representação gráfica da média das Freqüências Cardía- correta e precoce recuperação. Seu estudo comprova, através de
cas inicial e final dos pacientes. dados estatísticos, que o tratamento fisioterapêutico não só recu-
pera mais rapidamente a criança, retirando-a de o ambiente hos-
O Gráfico 3 demonstra a média das Freqüências Cardíacas de cada pitalar precocemente, como também salva suas vidas.
paciente, antes e depois de serem submetidos ao tratamento fisioterapêutico, Com relação à redução dos sinais e sintomas da PNM,
além de expor a média geral destas variáveis (FC inicial = 104bpm; FC Gaskell e Webber (1984) em sua pesquisa afirmam que a pneu-
final = 96bpm). O que comprova uma redução no valor da FC após a monia lobar aguda, com freqüência, é resolvida com antibióti-
conduta. cos, porém em alguns casos não são obtidos os resultados espe-
rados, então é requisitado o tratamento fisioterapêutico. Já
Bethlem (1984) e Fishman (1992) comentam apenas o tratamen-
to medicamentoso da pneumonia, não abordando a atuação da
fisioterapia em nenhuma das fases da doença.
Brunetto (2002) afirma que o tratamento da pneumonia
consiste em: fluidificação e mobilização das secreções através
de exercícios respiratórios, mudança de decúbito, tapotagem cui-
dadosa e aspiração endotraqueal ou através da cânula de
traqueostomia, se necessário.
Pontes e Souza (2006) afirmaram que, na prática de fisiotera-
peutas pneumofuncionais consultados, foi verificado que há melho-
ra nas crianças que foram encaminhadas e realizaram a Fisioterapia,
quando comparadas com aquelas que não foram encaminhadas pelo
serviço médico do hospital e por esse motivo não receberam trata-
mento fisioterapêutico.
Gráfico 4: Representação gráfica da média das Freqüências Respira-
Nicolau (2007) concluiu, a partir dos estudos realizados na
tórias inicial e final dos pacientes.
faixa pediátrica e neonatal, que a fisioterapia respiratória está
O Gráfico 4 evidencia a média das Freqüências Respira- indicada e tem eficácia comprovada na redução da incidência de
tórias de cada paciente, antes e depois de serem submetidos à complicações, como, por exemplo, a atelectasia e o derrame pleural.
conduta fisioterapêutica, com média geral da FR inicial = 32ipm Com relação à redução da freqüência cardíaca e respiratória
e da FR final = 24ipm. O que justifica a redução dos sinais Margolis, afirma que a medida da freqüência respiratória (FR)
clínicos de esforço respiratório. mostra uma relação estreita com a gravidade da PAC e com a
Segundo os dados obtidos na reavaliação do paciente após hipoxemia.
o atendimento de fisioterapia, constatou-se que entre os Segundo Slutzky (1997), “diminuir o trabalho respiratório,
pesquisados não houve complicações associadas ao quadro de aliviar a sensação de dispnéia, melhorar a eficiência ventilatória
pneumonia. além de combater a hiperinsuflação dinâmica ou auto PEEP, são

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objetivos almejados pela medicina e pela fisioterapia durante anos.” GARCIA, J. M; NICOLAU, C. M. Assistência fisioterá-
No entanto no estudo de Antunes (2005) a freqüência car- pica aos recém-nascidos do berçário anexo à maternidade do
díaca aumentou após a realização da fisioterapia respiratória Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Revista
convencional e não houve alteração significativa na freqüência de Fisioterapia da Universidade de São Paulo, v. 3, n. 1/2, p.
respiratória 38-46, jan./dez.2000.
IRWIN, SCOT; TECKLIN, JAN STEPHEN. Fisiotera-
pia Cardiopulmonar. Editora Manole: São Paulo, 1994. 2º ed.
Conclusão 569 p.
A partir dos dados coletados e analisados, foi possível JORNAL DE PNEUMOLOGIA (Publicação Oficial da
concluir que a fisioterapia respiratória reduziu a freqüência car- Sociedade Brasileira de Pneumologiae Tisiologia). I Consenso
díaca, a freqüência respiratória e a quantidade de roncos e Brasileiro de Pneumonia, v. 24, n.2, mar/abr, 1998.
creptos apresentados na ausculta respiratória, minimizando a KISNER C. Exercícios terapêuticos. São Paulo: Edito-
necessidade da utilização de terapêuticas ventilatórias agressi- ra Manole; 1998.
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Fatores Estressores para Profissionais de Enfermagem que atuam


em uma Unidade de Terapia Intensiva
Stressing factors on Nursing Professionals that act on Intensive Therapy
Julita Royer Garcia1, Salete de Araujo1, Elaine Rossi Ribeiro2

Resumo Abstract
Trata-se de uma investigação bibliográfica realizada em This is a literature research conducted through studies in
bases de dados tais como Medline, Lilacs, Scielo, a partir do books and scientific papers,such as Medline, Lilacs and Scielo,
ano de 2000. Esse estudo levou-nos a compreender o estresse published since the year of 2000 .This study has led us to
em diferentes ocupações do profissional de enfermagem, que understand the stress in different occupations of professional
trabalha em Unidade de Terapia Intensiva, concretizando nosso nursing in Intensive Unit Care,carrying out our aim to make an
objetivo em fazer uma análise dos fatores causadores de estresse analysis of the leading factors to stress in these
nestes profissionais. Pudemos visualizar e confirmar a existên- professionals.The end of this study could confirm the existence
cia de inúmeras fontes geradoras de estresse, que interagem no of many sources of stress that interact in work,such as: intense
trabalho tais como; angústia intensa, originária do confronto anguish originated from daily confrontation with suffering, pain
diário com o sofrimento, dor, angústia dos pacientes, familiares and patient anguish,family and death either modern
e morte. Como também tecnologias modernas, ruídos constan- technologies, constant noise, overlapping days of
tes, jornadas de trabalho sobrepostas, relacionamento com a work,relationship with the multidisciplinary team, lack of human
equipe multidisciplinar, falta de recursos humanos e materiais, and material resources,iack of autonomy, low payment,frequent
ausência de autonomia, baixos salários, freqüentes situações de emergency situations.
emergência. Key words:
Palavras-chave: Stress, nursing, Intensive treatment unit.
Estresse, Enfermagem e UTI.

carga de adrenalina sendo que os órgãos que mais sentem são o


Introdução aparelho circulatório e o respiratório.
Atualmente a palavra estresse tem sido muito recorrida, No entanto, segundo Brunner & Suddarth (2005, p. 86)
associada à sensação de desconforto, sendo cada vez maior o “o estresse é um estado produzido por uma alteração no meio
número de pessoas que se definem como estressadas ou se rela- ambiente que é percebida como desafiadora, ameaçadora ou
cionam com outro indivíduo na mesma situação. lesiva, para o equilíbrio dinâmico da pessoa”. E quando ocorre
A preocupação referente ao estresse é cada vez mais cres- esse desequilíbrio ele pode ser real ou então percebido na capa-
cente, hoje se têm multiplicado esforços no desenvolvimento cidade que a pessoa possui de satisfazer as exigências da nova
de artigos e pesquisas científicas no sentido de propor mecanis- situação. A natureza do agressor pode ser variada, porque, o
mos que visem elaborar medidas de controle dos aspectos ne- que causa estresse numa pessoa pode ser neutro para outra. Deste
gativos do estresse no trabalho. Pois se sabe que o estresse é modo o objetivo desejado seria a adaptação à mudança ou ao
um dos responsáveis por causar alterações na saúde da pessoa agente agressor para a pessoa readquirir o equilíbrio e reelaborar
podendo levar à doença ou em casos mais graves até a morte. suas capacidades às novas exigências. Esse seria o processo de
A palavra stress é derivada do latim e foi Hans Selye que controle do estresse.
em 1926 introduziu-a na área da saúde para definir uma síndrome De acordo com Balonne (2002, p.5) ao se deparar com o
produzida por vários agentes nocivos. Já atualmente o “estresse agente estressor, que pode ser interno ou externo,
pode ser definido como um desgaste geral do organismo, cau-
sado pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando este “O organismo desenvolve um processo fisiológico que
é forçado a enfrentar um determinado estímulo conhecido como consiste na somatória de todas as reações sistêmicas. Assim,
estressor” (PARFARO; MARTINO, 2004, p. 153). podemos entender se o estresse é a alteração global de nosso
Fisiologicamente, o estresse é o resultado de respostas organismo para se adaptar a uma situação nova ou às mudan-
físicas e mentais de uma reação do organismo que quando esti- ças de um modo geral”.
mulado por fatores esternos desfavoráveis, liberam uma des-

1. Enfermeira Especialista em Unidade de Terapia Intensiva Multiprofissional . Recebido: maio de 2009


Aceito: maio de 2009
2. Enfermeira, Doutor em Clínica Cirúrgica, Diretora do Instituto de Administração Autor para correspondência:
Pública de Curitiba, Docente do IBPEX. Email: elaine.rossi@hotmail.com

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O mesmo autor ainda relata que o estresse é um mecanis- físico: ruído, iluminação temperatura, higiene, intoxicação, cli-
mo normal necessário e benéfico ao organismo, pois faz com ma, e disposição do espaço físico para o trabalho (ergonomia);
que o ser humano fique mais atento e sensível diante de situa- e como principais demandas estressantes: trabalho por turnos,
ções de perigo ou de dificuldades. Fisiologicamente, sua au- trabalho noturno, sobrecarga de trabalho, exposição a riscos e
sência total seria o equivalente à morte. Sua ocorrência deveria perigos.
ser um acontecimento positivo e não um problema ao desempe- De acordo com Abrão (2002), o estresse tem acarretado
nho pessoal, mesmo em situações consideradas positivas é be- em grande dificuldade na execução do trabalho, vindo a ocasi-
néfico, como por exemplo, casos de promoções profissionais, onar transtornos para empresas acentuando a diminuição da
casamentos desejados, nascimentos de filhos, dentre outros, produção, custos de tratamentos médicos e afastamentos dos
podem produzir estresse positivo. profissionais em conseqüências deste distúrbio, acarretando em
O estresse pode ocorrer quando o sujeito se depara com dificuldades sócio-econômicas para o profissional afetado que
uma situação que de algum modo, cause irritação, medo excita- com isso diminui seus lucros e aumenta seus gastos, de maneira
ção, ou até mesmo lhe traga uma imensa felicidade. O que de- geral prejudica a situação econômica de toda a nação.
termina se o estresse irá ocorrer é a capacidade do organismo Os tipos de desgastes que os indivíduos estão submetidos
de atender as exigências daquela situação, independentemente nos ambientes em geral são fatores determinantes de patologi-
dessas serem de natureza positiva ou negativa (LIPP, 2003). as, os quais podem apresentar alterações diante dos agentes
Em termos científicos, pode-se afirmar que o “estresse é estressores tanto no operário com no executivo.
a resposta fisiológica e de comportamento do individuo que se Segundo Ballone (2002, p. 5) as normas e regras sociais
esforça para se adaptar e se ajustar a estímulos internos ou ex- que a sociedade impõe aos indivíduos limitando as manifesta-
ternos. Como a energia necessária a esta adaptação é limitada, ções de suas angústias, frustrações e emoções são uns dos agra-
se houver persistência do estímulo agressor, mais cedo ou mais vantes do estresse no trabalho, “obrigando o individuo a apa-
tarde o organismo entra numa fase de esgotamento” (LIPP 1999, rentar um comportamento emocional ou motor incongruente com
p.145). seus sentimentos de agressão ou medo.” Geralmente as condi-
Estressor ou fonte de estresse é tudo o que provoque uma ções de trabalho pioram com a desorganização no ambiente
quebra na homeostase interna, que solicite uma adaptação a ocupacional, colocando em risco a ordem e a capacidade de
mudanças necessitando que o indivíduo libere energia para li- rendimento do profissional, pois a falta de clareza nas regras,
dar com situações que podem ser originadas por causas normas e tarefas que cada profissional deve desempenhar con-
estressoras internas ou externas. As externas independem do duzem à situação estressante.
modo de funcionamento do sujeito e podem estar relacionadas Estas condições de trabalho proporcionam uma insatisfa-
a uma mudança de emprego, acidentes ou qualquer outro even- ção, que vem afetar diretamente os profissionais de enferma-
to que ocorra fora do corpo e da mente da pessoa. Os estressores gem e sua qualidade de vida no trabalho E lidar com o estresse
internos são desencadeados pelo próprio sujeito, devido seu exige inteligência, não apenas para evitar seus efeitos maléfi-
modo de ser, ou aspectos pessoais (LIPP, 1999). cos, como também utilizá-los a nosso favor (GONZALES,
Sabemos que o ambiente de trabalho se modificou e 1998).
acompanha hoje os avanços das tecnologias com mais veloci- Ao final de uma jornada de trabalho segundo Neto e
dade do que a capacidade de adaptação dos trabalhadores. Os Garbaccio, (2008, p.72) “pode observar que muitos profissio-
profissionais vivem hoje sob constante tensão, não só no ambi- nais da enfermagem se encontram esgotados tanto física quanto
ente de trabalho como na vida em geral. E principalmente na emocionalmente, o que coloca em risco a própria saúde”.
UTI existem diversas fontes de estresse tais como: tecnologias Nesta pesquisa enfocaremos mais especificamente, os
modernas, ruídos constantes, equipe multiprofissional, familia- fatores causadores de estresse para os profissionais de enfer-
res estressados diante da gravidade do quadro da doença de seu magem de Unidade de Terapia Intensiva porque existem inú-
familiar internado e dentre outras; freqüentes situações de emer- meras fontes geradoras de estresse entre as quais se incluem
gências. condições ambientais, culturais sócio-econômicas,
Estas condições de trabalho proporcionam uma insatisfa- organizacionais e a própria assistência de enfermagem dentre
ção que vem afetar diretamente os profissionais de enferma- outras.
gem e sua qualidade de vida no trabalho (GONZALES, 1998). Para tanto, determinou-se como objetivo: Analisar os fa-
Quando se fala em estresse no trabalho mais especificamente tores causadores de estresse nos profissionais de enfermagem
na equipe de enfermagem de uma UTI, não se fala de pessoas de uma Unidade de Terapia Intensiva.
estressadas, mas de condições e ambientes estressores, tais como:
- Envolver o convívio diário com o sofrimento alheio;
- Exigir constante atualização e habilidades manu-
Metodologia
ais; Trata-se de uma pesquisa bibliográfica não sistematizada
- Manter bom relacionamento com a clientela e com para a qual utilizou-se as palavras-chave: estresse, Enferma-
a equipe multiprofissional. gem e UTI, em principais bases de dados científicos, englo-
- Submeter-se a políticas que restringem a sua atua- bando os anos de 2000 a 2008. Dessa forma, os artigos encon-
ção com a falta de recursos humanos e materiais. trados foram lidos várias vezes a fim de identificarmos os nú-
O estresse ocupacional é decorrente das tensões associa- cleos de sentido e selecionados através dos resumos. Essa cole-
das ao trabalho e a vida profissional. Os agentes estressantes ta de dados foi realizada no período de janeiro 2008 a julho
ligados ao trabalho têm origens diversas: condições externas 2008.
(economia, política) e exigências culturais (cobrança social e Finalmente, realizamos a leitura interpretativa e apresen-
familiar). tamos os resultados a seguir.
Já diversos autores citam como estressores do ambiente

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Exaustão ou Esgotamento: É caracterizado pela incapa-


Referencial Teórico cidade dos mecanismos responsáveis pela busca da adaptação
do organismo aos efeitos dos estressores permanecerem por um
Sinais e Sintomas
tempo prolongado, denota um momento crítico e perigoso po-
dendo ocorrer comprometimentos físicos demonstrados sob a
Os sintomas do estresse variam do tipo de personalidade, forma de doenças, podendo conduzir o organismo à morte
pois, o impacto das situações estressoras é diferenciado para (NETO; GARBACCIO, 2008).
cada indivíduo. Outra questão não menos importante é o aspec- Sintomas físicos: diarréias freqüentes, dificuldades sexu-
to cumulativo dos estímulos estressores, nem sempre a reação ais, formigamento das extremidades: insônia, hipertensão arte-
desencadeada no momento é decorrente exclusivamente do rial mudança de apetite, tonturas, úlcera, problemas
estressor atual. dermatológicos, inapto para o trabalho cansaço excessivo,
O organismo de todos os seres vivos funciona em sintonia taquicardia.
com seus órgãos, e estes refletem o ritmo em que o corpo se Sintomas psicológicos: vontade de fugir dos problemas,
encontra. O estresse se caracteriza pela quebra desse equilí- sensação de incompetência em todas as áreas, pesadelos de-
brio, onde o fígado, pâncreas, estomago e outros órgãos não pressão ou raiva prolongada, pensamento insistente sobre o
estão em mais entrosados entre si. Os órgãos passam a trabalhar mesmo assunto, tiques nervosos irritação emotiva, perda do
de forma diferente, descompensada, surgindo então os sinto- senso de humor. (MANGOLIN, M.; NUNES. N.A. 2004).
mas como: ansiedade, taquicardia, insônia, distúrbios gástricos Nessa fase há dificuldades no controle da pressão arterial
entre outros. Dependendo da resposta adaptativa do organis- alterações no ritmo cardíaco, no sistema imunológico e no con-
mo, estes sintomas, podem desaparecer, mas se o problema que trole de níveis de alcalose do sangue, levando a um estado de
desencadeia o estresse permanece, conseqüentemente, os sin- apatia, desinteresse, desânimo e pessimismo em relação à vida
tomas passam a ser crises de ansiedade, úlceras ou até mais (BALONNE, 2002).
graves, como o infarto agudo do miocárdio. Evidentemente que
os sintomas isolados não são significativos, mas a somatória A Enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva
dos sintomas e freqüência em que se apresentam (LIPP, 1999).
Nesse caso é necessário reconhecer os sinais e sintomas para
Westphalen e Carraro (2001, p. 149), nos colocam que “a
agir de forma que os danos possam ser reversíveis, podendo
ciência se evidencia mediante a aplicação de conhecimentos
surgir isoladamente ou em conjunto.
sistematizados e instrumentalizados pela arte, que pode se ex-
O estresse ou também chamado Síndrome Geral da Adap-
pressar por meio de sensibilidade, da criatividade e da habili-
tação,( foi dividido em três fases por Hans Selye em 1936, por
dade, como instrumentos para a assistência de enfermagem”.
causa da sua grande influência no desenvolvimento científico
Sabemos que fisiologicamente o estresse é o resultado de uma
do estudo do esteresse ): Alarme, Fase de Resistência e Exaustão.
reação que o organismo tem quando estimulado por fatores ex-
Alarme: É a fase inicial equivalente a uma reação de emer-
ternos desfavoráveis.
gência, quando o organismo entra em contato com a fonte
Quando consultamos Brunner & Suddarth (2005, p.86)
estressora com suas reações típicas, quando o organismo perde
podemos deduzir que o “estresse é um estado produzido por
o equilíbrio e se prepara para enfrentar a situação tentando se
uma alteração no meio ambiente que é percebida como desafi-
adaptar, podendo durar desde dias até semanas. Apresenta os
adora ameaçadora ou lesiva para o equilíbrio dinâmico da pes-
seguintes sintomas: físicos; mãos ou pés frios, boca seca, nó no
soa”.
estomago, aumento da sudorese, tensão muscular, aperto da
E quando ocorre esse desequilíbrio ele pode ser real ou
mandíbula, ranger dos dentes, diarréia passageira, insônia
então percebido na capacidade que a pessoa possui de satisfa-
taquicardia, hiperventilação, hipertensão arterial súbita e pas-
zer as exigências da nova situação. A natureza do agressor pode
sageira mudança de apetite. Sintomas psicológicos: aumento
ser variada. Portanto, o que causa estresse em uma pessoa pode
súbito de motivação, entusiasmo súbito, e vontade súbita de
ser neutro para outro. Deste modo o objetivo desejado seria a
iniciar novos projetos.
adaptação à mudança ou ao agente agressor para a pessoa
Adaptação ou Resistência: é quando a exposição do indi-
readquirir equilíbrio e reelaborar suas capacidades as novas
víduo aos fatores causadores do estresse é duradoura, adaptan-
exigências. Esse seria o processo de controle do estresse.
do esse indivíduo às situações que o levam ao estresse. Este já
Portanto, pode-se concluir que os estímulos estressores
pode durar meses ou vários anos. Nesta etapa, é a intermediária
estão no ambiente e assumem várias formas, como a premência
quando o organismo busca o retorno ao equilíbrio, com carac-
de tempo, o que nos toca pode desencadear reações ou respos-
terísticas de desgaste, esquecimento, cansaço ou dúvidas, pode
tas de estresse.
ocorrer a adaptação ou eliminação dos agentes estressantes e
Como observa Pereira (2000), a nossa sociedade é
conseqüentemente reequilíbrio e harmonia ou, então uma evo-
centrada no trabalho, e este é visto como forma de realização
lução para a fase seguinte. Apresenta os seguintes sintomas físi-
pessoal, chance de aprendizado e geração de desafios, tornan-
cos: mal estar generalizado sem causa específica, formigamen-
do a pessoa responsável e muitas vezes admirada pela ativida-
to nas extremidades sensação de desgaste físico constante, mu-
de que se desempenha. Desta forma, pode-se concordar com a
dança de apetite, problemas dermatológicos, hipertensão arte-
autora, porque o trabalho é visto como fonte de sobrevivência,
rial, cansaço constante, aparecimento de gastrite prolongada,
marco de tranqüilidade e alvo de conquistas.
tontura, sensação de estar flutuando. Sintomas psicológicos:
Os profissionais de enfermagem precisam adequar as con-
problemas de memória/esquecimento, sensibilidade emotiva
dições de trabalho à sua vida em geral, para que esta seja reple-
excessiva, dúvidas quanto a si próprio pensamento constante
ta de realizações tanto psicológicas quanto fisiológicas, satisfa-
sobre um assunto, irritabilidade excessiva, diminuição da libi-
ções, sucesso financeiro e espiritual.
do.

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Para Gonzales (1998) a satisfação no trabalho é um dos Nos fatores extrínsecos/ambientais; aparecem em comum
pilares fundamentais na construção do conceito de qualidade nos diversos artigos; falta de pessoal e material, o ruído cons-
de vida, devido o trabalho ocupar grande parte da vida, estabe- tante das aparelhagens freqüentes situações de emergência, con-
lecer relações e dimensionar diferentes possibilidades que emer- flito no relacionamento interpessoal, excesso de trabalho, rapi-
gem da sua maior ou menor valorização social. A qualidade de dez de ação, baixo salário, dupla jornada de trabalho, falta de
vida reflete também, o grau de satisfação, encontrado na vida reconhecimento e autonomia, permanente confronto com o so-
familiar, amorosa, social, ambiental e para a própria estética frimento e a morte. Ambiente fechado, luminosidade excessiva
existencial, de indivíduo e coletividades. e contínua, alta temperatura no ambiente, trabalho noturno.
A privação do sono pode trazer conseqüências, tais como Nos fatores intrínsecos/psicológicos: vários sintomas fo-
alterações da capacidade funcional, irritação, nervosismo, apa- ram relatados como: ansiedade, angústia, tensão, insônia, alie-
tia, ansiedade, cefaléia, desânimo, dificuldade se lembrar das nação, preocupação excessiva, dificuldade de concentrar-se em
coisas e às vezes pequenas dificuldades podem tornar-se gran- outro assunto que não seja relacionado ao estressor dificuldade
des problemas. A medicina aponta que é necessário o descanso de relaxar desligar-se do trabalho mesmo estando em casa. Té-
por 8 horas diárias e é nesse período que a pessoa repõem as dio, ira, depressão, hipersensibilidade emotiva.
energias. Outra fonte geradora de estresse se refere ao próprio cui-
A falta de sono priva-as de energia vital e essa perda de dado de enfermagem, que se inicia desde uma simples verifica-
energia interfere no desempenho do trabalho, tanto a perda de ção dos sinais vitais, uma avaliação ou orientação ao paciente,
energia como as interferências no desempenho produzem stress. culminando às vezes na atuação da equipe de enfermagem em
Ninguém até agora identificou claramente como o sono situações de emergência, a qual exige uma capacidade de raci-
reenergiza o organismo, mas ele faz isso. O sono é importante ocínio e resolução rápida, pois a vida do paciente depende dis-
para a sua capacidade de enfrentar as suas tensões diárias co- so para que não morra, ou não piore ainda mais seu estado de
muns. Sem ele, a pessoa fica totalmente descontrolada, tensa e saúde. Este fato produz a geração de um estresse inteiramente
nervosa. E o ciclo se repete num circulo vicioso. ligada à assistência de enfermagem.
Com relação a UTI, pode-se dizer que é um ambiente de O principal fator estressor relacionado à equipe de enfer-
elevada tensão, com incertezas no tocante à sobrevivência e ao magem que gera estresse é o relacionamento interpessoal inter-
aparecimento de eventos, o que produz ansiedade, e sentimento ligada a uma intensa atividade, aliada a muitos dias de trabalho
sob pressão, facilmente traduzido em estresse. Biaggio apud sem folga, causando grande desgaste físico e emocional, pois o
Lipp (1999) salienta que pequenos momentos de ansiedade e paciente exige e merece ser bem tratado, encontra-se fragilizado
estresse são desejáveis no dia-a-dia porque podem estimular, pelo ambiente estranho e pela própria situação de doença gra-
mas em demasia é prejudicial em qualquer situação. ve, para tanto é preciso que o profissional tenha um equilíbrio
físico e mental ou emocional, sabedoria e disposição para que
As Fontes de Estresse possa prestar um atendimento humanizado e com qualidade.
Na enfermagem, existe a realidade de trabalho cansativa
Segundo Brunner&Suddarth (2005) as fontes de estresse e com muito desgaste, devido à convivência com a dor e o so-
podem ser classificadas em: frimento dos clientes. Se o profissional não souber equilibrar
Agressores fisiológicos: Basicamente podem ser consi- bem essa situação, utilizando mecanismos de enfrentamento ou
derados agressores fisiológicos: agentes físicos (calor, frio, ra- de transferência, pode acometer-lhe um estado de ansiedade,
diação, elétrico, traumatismos; agentes químicos (álcool, dro- que quando excede o nível mínimo leva a diminuição da capa-
gas, venenos); agentes infecciosos (vírus, bactérias e fungos); cidade de tomar decisões, levando-o a cometer erros adicio-
mecanismos imunológicos falhos, distúrbios genéticos, nais, gerando dessa forma um círculo vicioso, e a conseqüentes
desequilíbrio nutricional e hipóxia). níveis progressivos de estresse.
Agressores psicossociais: Como a lista é extensa foi divi- Uma das fontes de estresse para a enfermagem é justa-
dida e três grupos: mente o desequilíbrio emocional da equipe, conseqüência de
1 - Agressores cotidianos ou frustrações de ocorrência múltiplos fatores especialmente por atuarem em unidades de
comum. terapia intensiva.
2 - Ocorrências complexas importantes que podem en- O número de funcionários é apontado como um
volver grandes grupos: ate nações inteiras. desencadeador de um ritmo de trabalho acelerado, devido ao
3 – Agressores que ficam entre estes dois últimos, que fato de o mesmo número de tarefas serem divididos em um nú-
ocorrem em menor freqüência e atingem menos pessoas. mero menor de pessoas sobrecarregando todo o serviço do se-
Resumindo podemos dizer que são os agressores que de- tor.
terminam uma mudança no equilíbrio das pessoas. Segundo Para os enfermeiros, o cumprimento de tarefas burocráti-
Brunner, (2005, p;86) “o estresse dependerá portanto do nume- cas, apresenta-se como potente estressor, porque a formação
ro de agressores simultâneos, da experiência prévia contra o acadêmica é voltada para assistência e na UTI, onde há pacien-
agressor e de sua intensidade e duração”. tes mais graves exigindo a presença desse profissional, impres-
cindível em procedimentos de maior complexidade, que exi-
gem maiores conhecimentos científicos. Já as funções adminis-
Discussão dos Resultados trativas poderiam ser exercidas por um funcionário específico
da área, liberando o enfermeiro para a sistematização da assis-
Percebemos a existência de estresse na equipe de enfer- tência ao paciente e a coordenação da equipe e do setor, fun-
magem de UTI e destacaremos os fatores estressores que po- ções estas para o qual se formou.
dem ser classificados como: extrínsecos e ambientais ou intrín-
secos e psicológicos.

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Considerações Finais Referências


Podemos considerar o estresse como qualquer evento que ABRÃO, B. Combate ao estresse. Essencial n.13. São
demande do ambiente externo ou interno e que taxe ou exceda Paulo: Nova Cultura, 2002
as fontes de adaptação de um individuo, hoje reconhecemos BALLONE, G.J. Estresse.in...Psiqweb Psiquiatria Ge-
que a atuação junto ao paciente critico é desgastante, e esforços ral, última revisão, 2002. Disponível em http ://
são obtidos para aprimorar cada vez mais essas áreas de atua- www.psiqweb.med.br/cursos/stress1.html. Acesso em 25 de
ção; Podemos inferir que as atividades englobadas; controle; abril de 2008.
supervisão; treinamentos e avaliação da equipe de enfermagem BATISTA, K. M;BIANCHI.E.R.F. Estresse do enfermei-
são difíceis e fazem parte da atuação do enfermeiro. Sabe-se ro em unidade de emergência. Revista latino-americana de
que o relacionamento também não é fácil; fazendo-nos refletir enfermagem, Ribeirão Preto,v.14, n.4, p.534-539,jul./ago.2006.
sobre a autonomia e poder de decisão. Sendo essa área uma BAUER,M.E. Estresse:como ela abala as defesas do
relação direta com a tomada de decisão em níveis hierárquicos organismo.Ci Hoje, v3, p20-25, 2002.
superiores e de demanda de poder, a equipe de enfermagem
deve ser reconhecida e necessita de investimento pelo papel BRUNNER &SUDDARTH. Tratado de enfermagem -
importante que tem cada elemento envolvido nesse contexto, médico cirúrgica. 10ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
independente de sua atuação. 2005.
Devemos diferenciar o estresse em diferentes situações; GONZALEZ, R.M.B. Expressão de indicadores de
abordagem, impacto dos estressores, pessoas, ambiente e res- (in)satisfação no trabalho por enfermeiras coordenadoras de área
posta quando examina e tensão produzida pelos estressores, de um hospital universitário. Cogitare Enferm, Curitiba, v. 3,
podendo também pontuar que o estresse é um processo psico- n. 1, p. 105-109, jun./jul. 1998
lógico e a compressão dos eventos estressantes é afetada por NETO, N.M.C. O estresse ocupacional no serviço de en-
variáveis cognitivas; não é a situação nem a resposta da pessoa fermagem hospitalar: reconhecimento e minimização. Interse-
que define o estresse, mas a percepção do individuo sobre a ção. Belo Horizonte,v.1, p.71-81,abril.2008.
situação. LIPP,M; NOVAES,E. (coord.) O Estresse está dentro
Através desse convívio o estresse aparece como resulta- de você. São Paulo: Contexto,1999.
do de respostas físicas e mentais a reação do organismo poden- MARTINO, M.M.F;MISKO, M.D. Estados emocionais
do desencadear uma enfermidade orgânica provocando uma de enfermagem no desempenho profissional em unidades críti-
disfunção significativa na vida da pessoa que é comum na atu- cas. Revista Escola de Enfermagem da USP. Ribeirão
ação da enfermagem. Preto.v.38, n.2,p.161-167,2004.
Como os profissionais de saúde lidam com vidas é de PAFARO, R.C; MARTINO,M.M.F.Estudo do estresse do
suma importância à qualidade no serviço, portanto é indispen- enfermeiro com dupla jornada de trabalho em um hospital de
sável que os gestores e diretores destas instituições proporcio- oncologia pediátrica de Campinas. Rev.Enferm. USP, Ribei-
nem condições satisfatórias no trabalho no que compete a eles rão Preto,v.38.n.2 p.152-160,2004.
poderem aliviar os agentes estressores que estão sob sua alça- PEREIRA, M.J.L. de B. Aprendizagem Contínua. Dis-
da, para propiciarem mudanças favoráveis aos seus funcionári- ponível em: http: /www. informal. com.br/art000.htm.2000.
os, mas enquanto isso não se torna uma realidade brasileira, Acesso em 11 de abril 2008.
compete a cada um individualmente buscar alternativas diver- WEISS, D. Administre o stress. São Paulo: Livraria
sas, como esporte lazer, descontração, para aliviar as tensões Nobel. A,1991.
do trabalho diário, fazendo desta forma um autogerenciamento WESTPHALEN, M.E.A. CARRARO,T.E. Metodologia
do estresse com o intuito de proteger sua saúde física e psicoló- para a Assistência de Enfermagem: Teorizações , modelos e
gica. subsídios para a prática.Goiânia: AB,2001.
Entendendo que o assunto traz em seu bojo a própria im-
portância, sugerimos que outros estudos sejam desenvolvidos,
com o intuito de dar continuidade aprofundada ao debate cien-
tífico sobre o estresse e suas conseqüências.

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Princípios Básicos para Conservação de Órgãos para Transplante


Basic Principles for Preservation of Organs for Transplant

Luisete Aparecida Ramalho Ferro1, Elaine Rossi Ribeiro2

Resumo Abstract
Este estudo tem como objetivo estudar sobre os princípi- This study aims to examine the basic principles for
os básicos para conservação de órgãos para transplante, o mai- preservation of organs for transplant, as long as possible, during
or tempo possível, durante a fase de isquemia fria para órgãos the cold ischemia organs for transplantation, such as heart, liver,
de transplante, como coração, fígado, pâncreas, rim e pulmão. pancreas, kidney and lung. Its methodological support the
Tem como suporte metodológico a pesquisa bibliográfica, a qual literature search. The literature search was based on building a
foi realizada para construir conhecimento acerca do assunto a knowledge about the matter to be estudy. The results show that
ser estudado.Os resultados demonstram que os órgãos tem tem- the bodies have different times of viability in the period of cold
pos diferentes de viabilidade no período de isquemia fria, e ischemia, and both technical and medical care as nursing be
cuidados e técnicas tanto médicos como de enfermagem devem followed to assist in success of the transplant. The study showed
ser observados para auxiliar no sucesso do transplante. O estu- the preservation solutions, and these bodies will have to provide
do pontua as soluções de preservação de órgãos e as caracterís- features that enable it to validate all the principles presented
ticas que lhe permitam validar todos os princípios apresenta- and it is important that the nurse keep an updated, and new
dos. É de extrema importância que a enfermeira mantenha-se studies indicated not only in the preservation of organs, but on
atualizada, sendo indicado novos estudos não só quanto a pre- all the ethical and legal assistance to transplant and nursing in
servação dos órgãos, mas sobre todos os aspectos éticos e le- the trans-operative in different types of transplants.
gais do transplante e assistência de enfermagem no trans-ope- Key words:
ratório nos diversos tipos de transplantes. Transplantation of organs, preservation of organs, Relief of
Palavras-chave: Nursing, cold ischemia.
Transplante de órgãos, Preservação de Órgãos, Assistência de
Enfermagem ,isquemia fria.

sileira, um amplo debate sobre o transplante, iniciando um pe-


Introdução ríodo bastante significativo para a incorporação desta técnica
“O aumento do número de transplantes de órgãos e o su- médica no Sistema Único de Saúde (SUS), com uma maior re-
cesso do mesmo são devidos a 4 fatores: o aprimoramento das gulamentação de sua prática, a criação de uma estrutura
técnicas cirúrgicas, a descoberta de agentes imunopressores institucional nacional para a sua realização e um aumento da
capazes de prevenira a rejeição, sem serem particularmente tó- atividade de transplantes (OLIVEIRA et al., 2002).
xicos para os pacientes; a generosidade dos doadores ou de Conforme a Legislação Brasileira (Lei n. 9.434/97), a
seus familiares próximos; a elaboração de métodos capazes de aquisição de partes do corpo humano, para fins terapêuticos ou
preservar com sucesso esses órgãos, para que nenhum deles humanitários, poderá ser feita apenas pela doação gratuita, em
seja desperdiçado.”(BARRY,1994) vida ou post mortem. No primeiro caso, estabelece-se que a
No Brasil, o primeiro transplante renal com doador vivo doação em vida para transplante é permitida à pessoa juridica-
e com doador cadáver foram realizados em São Paulo, respec- mente capaz para o cônjuge ou parentes consangüíneos até o
tivamente, em 1965, no Hospital das Clínicas, Faculdade de quarto grau ou para qualquer outra pessoa, mediante autoriza-
Medicina, Universidade de São Paulo, e em 1967, no Hospital ção judicial, dispensada no caso da medula óssea.
das Clínicas, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Uni- A remoção post mortem de órgãos e tecidos destinados a
versidade de São Paulo. Dessas iniciativas pioneiras até os dias transplante deverá ser precedida de diagnóstico de morte
atuais transcorreu um período de mais de trinta anos, mas foi encefálica, conforme resolução do Conselho Federal de Medi-
apenas a partir de 1997, com a publicação da Lei n. 9.434 – cina (COFEN – Lei n. 1480/1997), e a doação dependerá da
que regulamenta a remoção de órgãos e tecidos do corpo huma- autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida
no para transplante – que o mesmo teve um crescimento signi- a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusi-
ficativo no Brasil. Nesse momento, travou-se, na sociedade bra- ve.

1. Enfermeira, Especialista em Enfermagem em Centro Cirúrgico. Recebido: abril de 2009


Aceito: maio de 2009
2. Enfermeira, Doutor em Clínica Cirúrgica pela UFPr.. Diretora do Instituto de Autor para correspondência:
Administração Pública Email: elaine.rossi@hotmail.com

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O transplante apenas poderá ser feito após o consenti- nos possibilita escolher temas, desvendar questões ainda não
mento expresso do receptor do órgão ou tecido, devidamente estudadas ou solucioná-los (LAKATOS; MARCONI, 2005).
inscrito em lista única de espera, após aconselhamento sobre os
riscos e benefícios do procedimento. As listas únicas são for-
madas para cada tipo de órgão ou tecido, estabelecendo-se cri-
Critérios para o levantamento
térios mínimos para a seleção de pacientes para os mesmos. bibliográfico
Do ponto de vista institucional, cria-se o Sistema Nacio-
nal de Transplante (SNT), com o objetivo de desenvolver naci- A pesquisa bibliográfica foi feita com base em construir
onalmente o processo de captação e distribuição de órgão e te- conhecimento acerca do assunto a ser estudado
cidos, sob a responsabilidade das três esferas de governo – nas A adoção de critérios para seleção dos artigos é impor-
suas competências específicas –, e formado pelas Centrais de tante para que haja rigor e uniformização na escolha destes.
Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO); os Os critérios estabelecidos foram:
centros de transplantes; e as equipes especializadas credenciadas 1. Artigos que abordem o transplante de órgãos.
para a realização dos transplantes. 2. Artigos indexados nos bancos de dados LILACS (Lite-
“O programa de transplantes no Brasil se destaca pelo ratura Latino-Americana em Ciências da Saúde) ou MEDLINE
crescimento no número de transplantes realizados nos últimos (Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on Line) e
anos e pelo investimento público na especialização das suas Scielo (Scientific eletronic library online).
equipes com conseqüente aumento do número de equipes habi- 3. Artigos publicados em periódicos nacionais e interna-
litadas, hoje superior a 200. O número de transplantes de ór- cionais, dentro do período de tempo delimitado para esta pes-
gãos sólidos realizados em 1997 foi de 2.127 e cresceu para quisa que será do ano de 1994 a 2008.
3.916 em 2001, sendo a maioria realizados por equipes lidera-
das por profissionais que tiveram sua pós-graduação médica Procedimentos para seleção dos artigos
complementada na Europa ou nos Estados Unidos, financiados
por agências governamentais brasileiras” (BRASIL, 2003). As palavras chave utilizadas para este levantamento bi-
A existência de um programa de transplante de órgãos, bliográfico foram: Transplante de órgãos, Preservação de Ór-
envolvendo a coleta e utilização de doadores cadavéricos, com gãos, Assistência de Enfermagem, isquemia fria.
distribuição dos órgãos colhidos para receptores compatíveis
ou com melhor compatibilidade obriga a certa perda de tempo
entre a coleta e o transplante. Para que se tenha sucesso, é ne- Apresentação dos resultados
cessário que se mantenha a viabilidade do enxerto
Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Ór-
(MARSHALL, 2001).
gãos (2003), atualmente o transplante de órgãos e tecidos é al-
Atuando como enfermeira de Centro Cirúrgico, num hos-
ternativa terapêutica segura e eficaz no tratamento de diversas
pital de grande porte, percebo que o numero de transplantes
doenças, determinando melhoria na qualidade e na perspectiva
vem aumentando, e a enfermeira de centro cirúrgico é respon-
de vida.
sável por separar o material para as equipes médicas que irão
Sempre que se busca preservar órgãos para transplante,
captar os órgãos em outros locais para posterior transplante,
há a preocupação em obtê-los sob as melhores condições, logo,
sendo que por vezes nos deparamos com a falta de determinada
com a maior chance de imediata função. A probabilidade da
solução de preservação,mesmo sendo de competência medica
função precoce dependente do grau do dano celular induzido
decidir qual solução usará ,acredito que seja importante para a
pela anóxia. Este pode ocorrer antes de iniciar a preservação e
enfermeira o conhecimento das possibilidades ,levando em conta
durante a fase de coleta do enxerto (isquemia quente), sendo a
o custo –beneficio.
mais importante a viabilidade do órgão (GARCIA, 2006).
Desta forma, justifica-se uma pesquisa que possa trazer
Para se obter melhores resultados funcionais, a conduta
novos e profundos conhecimentos sobre o assunto. Estabelece-
recomendada tenta manter o mais curto tempo de isquemia quen-
mos como objetivo deste trabalho, estudar os princípios bási-
te possível. Técnicas atuais de remoção de múltiplos órgãos
cos para conservação de órgãos, durante a fase de isquemia fria,
permitem por perfusão “in situ”, resfriar rapidamente os órgãos,
relacionando o tempo máximo ideal para cada órgão, com o
diminuindo a poucos minutos o tempo de anoxia tissular.
menor prejuízo possível para sua função.
Por redução de temperatura do órgão se diminuem o con-
Como objetivo específico determina-se:
sumo de oxigênio e a atividade metabólica de seus tecidos. Po-
Conhecer os procedimentos relacionados ao procedimento
rém, segundo Marshall (2001) esse resfriamento vai induzir a
completo de transplante de órgãos.
ruptura aos processos metabólicos entre células, da homeostasia
entre célula e inibição enzimática, sendo que algumas enzimas
Tipo de Pesquisa se modificam irreversivelmente, enquanto outros se recuperam
com o reaquecimento.
Este estudo teve como suporte metodológico a pesquisa De acordo com Gullo Neto (2006), durante o século XX,
bibliográfica. inúmeras experiências com preservação ex vivo de órgãos fo-
A pesquisa bibliográfica é um levantamento mais ram se acumulando, usando sangue ou componentes do plasma
abrangente de referência bibliográfica sobre o tema escolhido. à temperatura ambiente ou com hipotermia, por perfusão arteri-
Os tipos de documentos aqui utilizados podem ser classifica- al contínua, como conservadores de órgãos para transplante.
dos como documentos que incluem resultados de pesquisa, e Em 1966, Belzer iniciou um programa de transplantes
documentos secundários, que abrangem listas, revisões biblio- renais cadavéricos na Universidade da Califórnia, em São Fran-
gráficas. É interessante pensarmos que a pesquisa bibliográfica cisco. Sabia-se desde 1959, que o frio diminui o metabolismo

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energético celular e o consumo de oxigênio (84% a 20ºC e 95% teriais específicos para retirada de órgãos, a Associação Brasi-
a 10ºC). Baseado nesse princípio, Belzer iniciou o programa de leira de Transplantes de Órgãos em reunião de diretrizes de 2003,
preservação por perfusão hipotérmica com máquina. estabeleceu os seguintes critérios; 1- Iniciar a perfusão pela aorta
Collins, em 1969, descreveu um novo método de perfusão (2 a 3 litros de solução UW), em 5 a 10 minutos os órgãos
com uma solução de composição eletrolítica semelhante à do abdominais estão perfundidos; 2- Retirada do coração: utiliza-
meio intracelular, seguida de um armazenamento hipotérmico se frascos de solução cardioplégica a 4ºC; 3- Retirada dos pul-
(2 a 4ºC) antes do transplante, tendo descrito nos seu estudos, a mões: quatro litros de solução de Perfadex gelada (10ºC); 4-
obtenção de períodos de isquemia fria de 16, 24 e 30 horas. A Retirada do fígado: soluções de preservação (a critério de cada
perfusão e armazenamento hipotérmico são realizados com uma equipe); um litro de solução de UW (para perfusão na cirurgia
solução de hiperosmolaridade relativa, contendo solutos de bancada); 5 - Retirada do pâncreas: dois frascos de solução
impermeabilizantes, como citrato, sulfato, fosfato, glicose ou UW; 6 - Retirada do intestino: cinco litros de solução UW; 7-
manitol, magnésio e quantidades variáveis de sódio e potássio Retirada de rim: dois litros de solução de Euro-Collins (para
(CORREIA, 2002). armazenamento dos órgãos).
A preservação, especialmente de órgãos de cadáveres, Segundo Marshall (2001), a técnica é baseada no
permite o tempo necessário – após a remoção – para que se resfriamento imediato, o orgão é imerso em solução gelada (soro
completem os estudos de histocompatibilidade, a seleção dos fisiológico), seu sistema vascular é preenchido com solução
receptores, o transporte do enxerto e a adequada preparação do preservante, e o órgão é mantido na solução de preservação à
receptor (GARCIA, 2006). temperatura entre 0º a 4ºC. O pulmão à temperatura 10ºC.
A preservação confere grandes vantagens a um programa A seqüência de retirada de múltiplos órgãos obedece a
de transplante, sendo elas: tempo para transportar o órgão do seguinte ordem;
hospital doador para o hospital receptor; tempo para permitir 1. coração e pulmões
que seja realizada a equivalência tecidual para os órgãos nos 2. fígado
qual essa equivalência é importante (rim e coração); tempo para 3. pâncreas
preparar adequadamente o receptor e a equipe cirúrgica e uma 4. intestino delgado
qualidade da função do órgão que torna a evolução pós-opera- 5. rins
tória mais tranqüila (BELZER et al., 2004; GULLO NETO, 6. enxertos vasculares (artérias e veias)
2006). Para que a preservação dos órgãos para transplante te- 7. córnea, pele e outros tecidos.
nha resultados positivos, utiliza-se soluções de conservação de As possíveis soluções usadas na preservação de órgãos
órgãos. são:
Defini-se como solução de conservação de órgãos, como Solução de Euro-Collins
sendo uma solução estéril e apirogénica para perfusão de ór-
gãos, antes, e/ou imediatamente após a colheita e para conser- Nos princípios dos anos 80 até 1987, o método de con-
vação hipotérmica dos mesmos, no tempo que antecede o trans- servação usado, era a administração da solução de Euro-Collins
plante. de forma sistêmica. Com ele, foram obtidas boas funções hepá-
De acordo com Gullo Neto(2006),as soluções de preser- ticas pós-operatórias, tendo apresentado tempos de isquemia
vação de órgãos devem ter as seguintes características básicas : inferiores a 9 horas (CORREIA, 2002).
1. Agir sob hipotermia para diminuir o metabolismo ce- Apesar dos custos desta solução ser significativamente
lular. inferiores aos da solução de UW, o tempo de armazenamento
2. Prover os elementos químicos para manter integras as dos órgãos é reduzido a metade.
estruturas celulares.
3. Incluir substâncias que reduzam a lesão induzida pela Solução de Wisconsin (UW)
reperfusão.
Devem incluir componentes específicos de modo a Esta solução foi apresentada em 1987 por Belzer na Universi-
minimizar o edema intracelular que se desenvolve rapidamen- dade de Winsconsin (solução de Belzer,UW) que se utilizou igual-
te, induzido pela hipotermia, utilizando concentrações adequa- mente na preservação de órgãos sólidos, permitindo tempos prolon-
das de impermeabilizantes efetivos; soluções hiperosmóticas, gados de isquemia fria (CORREIA, 2002).
que contribuem para minimizar o edema intracelular; soluções È ideal para preservar todos os órgãos abdominais nesta solu-
ricas em potássio, para controlar os movimentos iônicos atra- ção. As vantagens da utilização da solução UW são: aumento no
vés da membrana semi-permeável da célula (CORREIA, 2002). tempo de armazenamento dos órgãos, aumento nas taxas de sobrevida
Deve-se também prevenir as lesões oxidativas originadas dos enxertos e diminuição do não funcionamento primário, do en-
por radicias livres derivados do oxigênio com uma solução de xerto, diminuição das incidências de tromboses e retransplante.
composição química adequada O custo dessa solução é muito elevado, pois para cada doador
Para Muhlbacher (1999), as soluções de conservação são adulto são necessários 5 litros desta solução.
classificadas em 2 grupos; sendo eles: a) composição semelhante De acordo com Netto et al. (2001), dentre as manobras utili-
ao liquido intracelular (pobres em sodio e ricas em zadas para a preservação de órgãos, a hipotermia exerce efeito bené-
pótassio,diminuindo o edema celular)=Euro Collins, solução fico ao diminuir a demanda de oxigênio pelas células. No entanto,
com citrato, solução de Wisconsin (sol . de Belzer) e 2) solucões um pouco de energia ainda é necessária para manter a integridade
que mimetizam o liquido extracelular (pobres em potassio e celular. Por outro lado, ao mesmo tempo em que a hipotermia causa
ricas em sódio)=Celsior, sol LDK , St Thomas, Perfadex, sol benefícios como a redução do consumo de oxigênio e do metabolis-
HTK. Qualquer das soluções apresentam vantagens e desvan- mo, causa também bloqueio de inúmeras reações enzimáticas, po-
tagens, dependendo do órgão em preservação. rém de maneira não idêntica.
No que se refere a solução conservadora, dentro dos ma-

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Após o transplante temos, invariavelmente, a reperfusão do receptor.Perspectivas surgem a cada dia, sobre novas soluções
órgão. A reperfusão muitas vezes pode acelerar os danos ocorridos de preservação e adição de substancias a essas soluções para
durante a fase de isquemia, expondo a célula a ambiente desfavorá- melhorar a viabilidade e o funcionamendo do órgão após a
vel à recuperação da função mitocondrial pelas alterações no meta- reperfusão, auxiliando no sucesso do transplante.Cabe a enfer-
bolismo de fosfolípides da membrana e entrada de cálcio no seu meira estar atualizada quanto ao processo de preservação e cui-
interior. dar para que os enxertos sejam mantidos na temperatura ade-
Atualmente, e apesar do desenvolvimento de técnicas e solu- quada (em media 4ºC), sobre condições de esterelidade, e agilizar
ções de preservação de órgãos para transplante, existem ainda dois o procedimento cirúrgico, e o preparo do receptor, de modo
obstáculos importantes que precisam ser vencidos: o primeiro é a adequado, sempre atenta ao tempo de isquemia fria ideal relati-
eliminação dos danos causados pela preservação a frio e o segundo, vo a cada órgão, ciente que quanto menor o tempo de isquemia
a prevenção dos eventos que levam às lesões durante a reperfusão maior a probabilidade de sucesso.
(NETTO et al., 2001).
Considerações Finais
Solução Histidina - Triptofano - Cetoglutarato
(HTK) Existe interesse em prolongar o tempo de isquemia hipotérmica
dos órgãos com uso de soluções de preservação. O estudo demonstrou
Foi utilizada inicialmente para produzir cardioplegia. as soluções de preservação de órgãos e essas terão que apresentar carac-
Soluções contendo Sódio em alta concentração e pouco Potás- terísticas que lhe permitam validar todos os princípios apresentados.Apos
sio, produzem os melhores resultados na preservação cardíaca.O analisar os artigos sobre as soluções, percebe-se que há um consenso
triptofano e histidina são considerados catadores de radicais sobre qual a solução mais eficaz para conservação de órgãos para trans-
livres.(Garcia,2006) plantação. A maioria dos doadores de órgãos é submetido a perfusão in
situ usando-se na maioria das vezes solução UW como preservante. O
Solução Celsior fato de ser lista única de receptores , com ênfase na compatibilidade do
sistema HLA, aumenta o tempo médio de isquemia fria, o que obriga as
Solução com baixa viscosidade e baixo conteúdo em po- equipes de captação a observarem a manutenção dos órgãos viáveis.
tássio. Tem sido utilizado em transplantes hepáticos, renais e Novas soluções de preservação estão em teste. É importante que a enfer-
pancreáticos.Foi testado com bons resultados em transplantes meira mantenha-se atualizada, sendo indicado novos estudos não só quan-
cardíacos, pulmonares, renais e intestino delgado.(Faenza A., to a preservação dos órgãos , mas sobre todos os aspectos éticos e legais
2001). do transplante e assistência de enfermagem no trans-operatório nos di-
versos tipos de transplantes.
Solução de Potássio Baixo e Dextran (LDK),
Solução de Perfadex Referências
Tem sido utilizada com sucesso na preservação de pul- BARRY,D.k. Clinicas cirúrgicas da América do Norte.
mão. É uma formulação pobre em potássio e inclui uma 2000
substancia colóide (dextran 40), previne o edema e age contra a BELZER, O. et al. Preservação de órgãos. In: Clínicas Ci-
trombose. rúrgicas da América do Norte. 2004.
BRASIL. Transplantes de órgãos no Brasil. Rev. Assoc. Med.
Solução de ST Thomas
Bras. 2003.
CORREIA E. Soluções para conservação de órgãos: princí-
Inicialmente foi utilizada como indutora de cardioplegia
pios básicos. Rev.O.F.I.L. 2002.
, em cirurgia cardíaca com circulação extra corpórea. Produz
GARCIA VD. Transplantes de órgãos e tecidos. 2 ed. São
proteção, porem por períodos não longos de isquemia
Paulo, Segmento Forma, 2006.
fria.(Michel P. 2002)
GULLO NETO DAS. Preservação de órgãos. 2006.
GUERRA I. et al. O custo que envolve a retirada de múlti-
Tempo de Isquemia Fria, ideal relativo a cada plos órgãos. Rev. Assoc. Med. Bras.São Paulo,2002.
órgão: KUSS RB. An illustrated history or organ
transplantation. The great adventure of the century. Laboratories
Sandoz, 1992.
MARSHALL VC. Renal preservation. In: Morris PJ Kidney
transplantation. Principles and practice. Philadelphia Sauders,2002
NETTO J et al. ,Clororpromazina e função mitocondrial na
isqumia – reperfusão renal. Acta Cir. Bras. São Paulo, 2000.
MUHLBACHER F. MIITTERMAYER C. Preservation
solutions for transplantation proc 1999.
OLIVEIRA M.B.C.et al.Importância da preservação do te-
cido esplênico.Acta Cir. Brás. Vol 17 nº 6, São paulo, 2002.
PEREIRA WALTER ANTONIO. et al. I Reunião de Dire-
A decisão de transplantar o órgão após determinado perí- trizes Básicas para Captação e Retirada de Múltiplos Órgãos
odo de isquemia fria, caberá a equipe médica que fará o trans- e Tecidos da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLAN-
plante, que avaliará as condições do órgão e /ou do TE DE ORGÃOS. Campos do Jordão , 2003.

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Comparação entre Técnicas Osteopáticas e Fisioterapia


Convencional para o Tratamento das Desordens
Temporomandibulares
Comparison between Osteopathic Techniques and Conventional
Physiotherapy for Treatment of Temporomandibular Disorders
Walkyria Vilas Boas Fernandes1, Alexandra Bezerra Michelotto2, Sérgio Kimura3

Resumo Abstract
O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de lite- The aim of this paper is to review the literature in order
ratura para comparar a eficácia das técnicas osteopáticas e fisi- to verify effectiveness of the osteopathic techniques and
oterápicas convencional no tratamento das desordens conventional physiotherapy in the treatment of
temporomandibulares (DTM). O presente estudo realizou um temporomandibular disorders. The present study performed an
levantamento bibliográfico nacional e internacional no período international and national survey from 1981 to 2008. According
de 1981 a 2008. De acordo com a literatura revisada verificou- to the literature reviewed, it was verified that there is several
se que vários são os tratamentos para as desordens treatments for the disorders temporomandibulars and the both,
temporomanibulares, e que ambos, a osteopatia e a fisioterapia the osteopathy and the conventional physiotherapy have positive
convencional apresentam resultados positivos frente a um pa- results to the DTM patients. From this study we can conclude
ciente portador de DTM. O que podemos concluir é que um that a physiotherapist with osteopathy specializing has a great
fisioterapeuta com especialização em osteopatia possui uma advantage for the treat of DTMs, as well as to use the osteopathic
grande vantagem para o tratamento das DTMs, pois além de techniques, which have a very high efficiency and reproduce
poder utilizar-se de técnicas osteopáticas, que possuem uma an immediate satisfactory, it will be described in course of the
eficácia muito grande e reproduzem um efeito imediato article, He also may use the resources the conventional
satisfatório, como será descrito no decorrer do artigo, poderão physiotherapy, such as massage, electrotherapy and
utilizar-se também dos recursos da fisioterapia convencional, kinesiotherapy, which also have been showing good results with
como a massoterapia, eletroterapia e cinesioterapia, que tam- this disfunction and it has a good acceptability by the patients.
bém vem demonstrando bons resultados com essa disfunção e However it is appropriate to believe that the physiotherapist
apresentam uma boa aceitabilidade por parte dos pacientes. No should always look for new courses of expertise and
entanto é pertinente acreditar, que o fisioterapeuta deve sempre specialization, but without forgetting the basic principles of
estar buscando novos cursos de formações e especializações, conventional physiotherapy, because it will always be the basic
porém sem deixar de lado os princípios básicos da fisioterapia for any treatment’s method.
convencional, pois ela sempre será base para qualquer método Keywords:
de tratamento. Temporomandibular disorders, Physiotherapy, Osteopathy
Palavras-chave:
Desordem temporomandibular, Fisioterapia, Osteopatia.

da ATM são a depressão, elevação, protrusão, retração e desvio


Introdução lateral da mandíbula; em relação aos movimentos intra-articu-
A articulação temporomandibular (ATM) está constante- lares, os possíveis movimentos são a rotação e a translação do
mente em movimento, realizando aproximadamente 2000 mo- côndilo mandibular sob a fossa ou sob a eminência articular.
vimentos ao dia, sendo assim a articulação mais usada do corpo Apesar de não poderem funcionar independente uma da outra,
e com maior probabilidade de sofrer disfunções. Esta articula- raramente elas apresentam movimentos idênticos e conjuntos
ção não foi feita para suportar carga e é parte constituinte do (Okeson, 1992; Smith et al.,1997; Gould III, 1999).
sistema estomatognático que incluem as bases ósseas do crâ- Okeson, (1992) e Smith et al., (1997), definem a rotação
nio, dentes e periodontos, musculatura relacionada, ligamen- como o processo pelo qual o côndilo mandibular gira em torno
tos, sistema neurológico e vascular da região do pescoço. do seu próprio eixo, sem mudar de lugar. Esse movimento ocorre
(Arrelano, 2002; Hoppenfeld, 2000). entre a superfície superior do côndilo e a superfície inferior do
Em relação à osteocinemática, os possíveis movimentos disco articular.

1. Fisioterapeuta, Mestranda em Tecnologia em Saúde pela PUC-PR Recebido: maio de 2009


Aceito: maio de 2009
2. Fisioterapeuta, Pós-graduanda em Fisioterapia Osteopática pelo CBES Autor para correspondência:
Email: walkyria_fernandes@hotmail.com
3. Docente do curso de pós-graduação em Fisioterapia Osteopática.

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A translação ocorre quando a mandíbula move-se para necessário, tratamentos que visem o alívio destes sintomas. A
frente e para baixo da eminência articular. Os dentes, côndilos fisioterapia e o uso das técnicas osteopáticas tem um papel fun-
e ramos mandibulares se movem todos na mesma direção e na damental na recuperação destas disfunções para melhor
mesma angulação. A translação ocorre entre a face superior do reequilíbrio muscular, mobilidade articular e alívio da dor (Car-
disco e a face inferior da fossa articular (Okeson, 1992). valho, 2007).
Qualquer problema que interfira no funcionamento do Revisando a literatura, percebe-se que há escassez de
complexo sistema crânio-mandibular-cervical pode resultar em evidências científicas que comprovem protocolos terapêuticos
uma desordem temporomandibular (Gray et al., 1994; Michelotti ou estudos clínicos controlados (Michelotti, et al.; 2000). Desta
et al., 2000; Grace et al., 2002). forma, considerando a etiologia multifatorial das DTMs, ve-
De acordo com o ADA – American Dental Association, o mos a necessidade de uma intervenção multidisciplinar com
termo preferencialmente adotado é Desordens terapias conservadoras que visem um resultado eficiente no alí-
Temporomandibulares, incluindo todos os distúrbios funcionais vio da dor e desconforto dos movimentos articulares. O objeti-
do sistema mastigatório. Será esta a denominação utilizada neste vo deste trabalho foi comparar a eficácia do tratamento
trabalho. osteopático e da fisioterapia convencional, (massagem,
Pacientes com disfunção da ATM apresentam sinais e sin- cinesioterapia e eletroterapia).
tomas nos músculos mastigadores e na articulação
temporomandibular, exemplos: dor e/ou ruído nas ATMs, dor
de “cabeça”, dor muscular, dor facial, dificuldade para abrir a Método
boca, dor de ouvido, desgaste dental, zumbido de origem mus-
O presente estudo foi realizado através de uma ampla
cular, travamento mandibular aberto, dificuldade de mastigar,
pesquisa bibliográfica no período 1981 a 2008.
mudança na postura da cabeça (Oliveria, 2002).
A pesquisa foi realizada através de livros e artigos cientí-
São muitos os fatores etiológicos da DTMs. Os mais fre-
ficos nacionais e internacionais, que se fez através da busca em
qüentes são: traumatismos (macro e microtraumas); hábitos
banco de dados como Scielo , PubMed e Science Direct. As
parafuncionais; frouxidão ligamentar; alterações sistêmicas (por
palavras-chave utilizadas na pesquisa foram as seguintes: ATM,
exemplo: artrite reumatóide), alterações morfológicas congêni-
DTM, osteopatia, manipulação e fisioterapia. A pesquisa tam-
tas, discrepâncias estruturais maxilo-mandibular, stress físico e
bém se expandiu para revistas científicas nas áreas de Fisiote-
psicológico, alterações hormonais. (Mongini, 1998)
rapia e Odontologia. Após a análise dos dados coletados, os
Alterações da ATM e outras patologias associadas são
conteúdos foram separados qualitativamente, tendo em vista o
algumas das causas de desordens crânio-mandibulares, essas
objetivo de reunir informações atualizadas no presente estudo.
apresentam, entre seus tipos, diferentes classes oclusais onde a
posição da mandíbula tem relação direta com a postura da ca-
beça e ombros, por esta ser um osso livre (Bricot,1999). Desenvolvimento
Segundo Krostad et al., (1997), realizaram uma pesquisa
relacionando incidência de sintomas de DTM com o sexo, as Conforme Biasotto, (2002), a fisioterapia pode proporci-
mulheres são quem mais procura tratamento para as desordens onar não só um alívio das condições sintomatológicas do paci-
temporomandibulares. Sua pesquisa ainda aponta uma conexão ente, como também restabelecer a função normal do aparelho
entre as queixas somáticas e fatores de personalidade, como a mastigatório, promovendo a desprogramação muscular e redu-
ansiedade e a angústia. ção de cargas articulares. Em geral, a fisioterapia consiste de:
De acordo com Wright, et al., (2000), a atividade dos cinesioterapia; modalidades analgésicas (eletroterapia); reedu-
músculos cervicais influência a atividade da musculatura cação postural; massoterapia localizada; repouso controlado; e
mastigatória. modalidades alternativas como o biofeedback.
Segundo Ricard (2002), as DTM podem ser classificadas Stiesch-Scholz, (2002) afirmam que, para aumentar a
em três categorias: transtornos musculares, articulares e amplitude de movimento mandibular, manobras de mobilização
degenerativos. As causas das DTM são diversas: desequilíbrios passiva do côndilo, nas direções caudal, cranial, ventral e dorsal
tônicos musculares; disco articular danificado ou deslocado; devem ser realizadas.
transtornos capsulares, transtornos emocionais; fatores Os resultados terapêuticos alcançados com o uso de
nutricionais; traumas; whiplash; bruxismo; má oclusão; lassidez cinesioterapia, relatados por Nicolakis et al., (2002) e Zarb et
ligamentar; stress e doenças sistêmicas. al., (2002) são satisfatórios, mesmo a curto prazo. Os pacientes
Para Souchard (2004), uma tensão inicial nas cadeias tratados com exercícios mandibulares apresentaram significati-
musculares é responsável por uma sucessão de tensões associa- va redução da dor e melhora da mobilidade funcional. Os exer-
das. Cada vez que um músculo se encurta, ele aproxima suas cícios foram importantes na reeducação do paciente, ajudando-
extremidades deslocando os ossos sobre os quais ele se insere, o a prevenir sobrecargas, mal uso ou abuso da articulação, for-
assim, as articulações se bloqueiam e o corpo se deforma. Por- talecendo e alongando a musculatura afetada.
tanto, todos os outros músculos que se inserem sobre esse osso, Nos doentes em que o exame clínico é confuso e o diag-
serão alterados pelo deslocamento que se propagará sobre ou- nóstico difícil, a imaginologia da ATM, em especial a RMN,
tros ossos e músculos, e assim sucessivamente. pode ser realizada, como meio auxiliar de diagnóstico, que se
Para o sistema estomatognático, funcionar normal e efi- torna especialmente importante quando é essencial um diag-
cientemente, um alto grau de precisão e harmonia deve existir nóstico diferencial preciso com vista ao estabelecimento de uma
entre a ação dos músculos mastigatórios e as forças de oclusão. estratégia terapêutica complexa (Yatani et al., 1998).
A falta dessa harmonia pode causar um comportamento muscu- Stiesch-Scholz e Fink (2002) afirmam que a mobilização
lar interrompido e um dano estrutural desta articulação, sendo articular é a espécie de tratamento fisioterapêutico mais utiliza-
da e eficaz nos casos de desarranjo interno da ATM. Os autores

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indicam também a tração cervical associada a exercícios de re- ras poderá levar a um desequilíbrio postural, não somente nes-
laxamento da musculatura mastigatória. tes locais, como também nas demais cadeias musculares do or-
Wright et al., (2000) relatam que, além dos exercícios ganismo (Rocabado, 1983).
realizados durante a sessão de tratamento, os pacientes devem O que diferencia uma manipulação osteopática de uma
ser instruídos a tentar manter a postura correta durante a maior manipulação ortopédica são os parâmetros. O osteopata deve
parte do tempo; relaxar seus músculos mastigatórios quando realizar a manipulação com thrust dentro dos limites fisiológi-
possível e eliminar hábitos parafuncionais. É importante que os cos da amplitude de movimento do paciente. Uns dos objetivos
pacientes sejam informados do tipo de estresse e microtrauma de utilizar um técnica de thrust é a surpresa que causa nas defe-
que a postura incorreta pode desencadear. sas fisiológicas articulares e a separação brusca das superfícies
A eletroterapia é um recurso que utiliza de técnicas ele- articulares que surpreende o sistema nervoso central e provoca
tromagnéticas com a finalidade de melhorar as condições cir- um “black out sensorial local”, o circulo vicioso irritativo se
culatórias e inflamatórias, favorecendo, assim, a execução de rompe e o tônus muscular se normaliza (Ricard e Sallé, 2002 e
exercícios musculares. (Mongini, 1998). A utilização de técni- Knutson e Owens, 2003).
cas eletroterápicas associada com a massoterapia e cinesioterapia
podem trazer grande benefício para os pacientes afetados, des-
de que aplicado de maneira correta e segura. (Francesquini,
Discussões e Conclusões
1998). Darling et al. (1984), realizaram um estudo com 7 indiví-
A osteopatia será eficaz nos casos em que os pacientes duos para verificar a posição de descanso da mandíbula, seus
apresentarem restrição de mobilidade de um ou vários resultados também concordaram com outros achados de que a
parâmetros fisiológicos de movimento da articulação mandíbula influencia consideravelmente na posição da cabeça
temporomandabilar. Estas lesões são mantidas por elementos e que a posição de descanso da mandíbula é o resultado de uma
periarticulares, ou por tensão fascial a distância ou muscular coordenação entre os músculos posteriores e anteriores da co-
(Ricard, 2002 e Kalamir et al. 2007). luna cervical, logo a posição de descanso da mandíbula depen-
A osteopatia na articulação temporomandibular visa um derá deste equilíbrio muscular,
melhor reposicionamento articular e relaxamento muscular re- Em um estudo realizado por Monaco et al., (2008) foram
flexo através do uso de técnicas manuais e técnicas estruturais. avaliados os efeitos do tratamento osteopático na cinemática da
As técnicas funcionais atuam no sentido da disfunção até obter mandíbula em pacientes com DTM. O estudo envolveu 28 cri-
a liberação total dos elementos periarticulares como a técnica anças com qualquer sintoma nas ATMs, limitação de amplitude
de Jones, técnica de Hoover e Sutherland (Ricard e Sallé, 2002; de movimento para abertura e história de trauma. Os pacientes
Peñas et a., 2005). foram randomizados e dividos em 2 grupos. A reavaliação foi
As técnicas estruturais agem no sentido da restrição de realizada após 2 meses no grupo estudados e a 6 meses no gru-
mobilidade para regular o tônus muscular e a função articular po controle. Diante dos resultados, os autores concluíram que
fisiológica, destacam-se as técnicas rítmicas: stretching e não houve diferença significante estatística.
mobilização passiva (que atuam ao nível dos mecanorreceptores Monaco, et al., (2008) através de seu estudo
proprioceptivos que respondem as variações de tensão no mús- cinesiográfico, encontraram resultados que sugerem que o tra-
culo, nos tendões e nos elementos cápsulo-ligamentares, o mo- tamento osteopático pode induzir mudanças na dinâmica do sis-
vimento passivo cria estímulos seletivos a nível central e tema estomatognático, e oferece suporte válido na clínica das
cortical); técnicas de músculo energia, que o princípio é colo- DTM.
car o músculo em posição de estiramento e pedir uma contra- Minagi et al., (2001) com uma amostra de 35 pacientes,
ção isométrica, é o que se chama na fisioterapia de contração- testaram a capacidade máxima voluntária da abertura vertical
relaxamento, A contração isométrica do músculo estirado pro- da boca dos pacientes, através da medida pelos interincisivos
voca um estiramento dos fusos neuromusculares e dos recepto- antes e após a manipulação do disco. Em 14 dos 17 pacientes
res tendinosos de Golgi, assim a medida que é estirado, ocorre que eram mais novos que 30 anos, houve aumento para 40mm
relaxamento, e técnicas de thrust, na qual é aplicado uma mani- na abertura vertical da boca após a manipulação, em relação
pulação de alta velocidade e baixa amplitude para promover aos mais velhos de 30 anos, apenas 5 dos 18 apresentam au-
uma separação articular com um estiramento da cápsula e dos mentos maiores de 40mm.
músculos monoarticulares (Ricard e Sallé, 2002; Knutson e Foster et al., (2000) também realizaram um estudo para
Owens, 2003 e Chaitow, 2001). verificar o aumento da abertura vertical da boca. Com uma amos-
As disfunções somáticas que podem ser diagnosticadas tra total de 55 pacientes, ele realizou a manipulação da articula-
nos pacientes com DTM são as seguintes: Lesão anterior do ção temporomanibular com deslocamento do disco sem redu-
côndilo mandibular, lesão anterior do côndilo mandibular com ção no grupo estudo. Antes da manipulação a abertura máxima
subluxação posterior do menisco, lesão posterior do côndilo da boca dos pacientes era 20mm. Após a manipulação a média
mandibular, e lesão posterior do côndilo mandibular com chegou a 38mm, constatando que a manipulação pode ser mui-
subluxação anterior do menisco (Ricard, 2002). to eficaz para auxiliar o tratamento das DTM.
Em vista lateral, ao analisarmos a relação crânio-coluna Bassanta et al., (1997), realizaram um estudo para verifi-
cervical percebemos que o centro de gravidade do crânio, des- car a eficácia do TENS para o tratamento das DTMs. Para este
cansa na região anterior da coluna cervical e nas articulações estudo, foram selecionados 26 pacientes, com características
temporomandibulares. Sendo assim, sua posição ortostática é de disfunção miofascial, abertura limitada, dor ou sensibilida-
mantida por um complexo mecanismo muscular envolvendo de nos músculos temporal e masseteres, bilateralmente. Em se-
músculos da cabeça, pescoço e cintura escapular. Devido a es- guida, foi feita a aplicação da Estimulação Elétrica Neural
tas íntimas relações, qualquer alteração em uma destas estrutu- Transcutânea (“TENS”) em baixa freqüência, por 43 minutos,

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e realizada uma aplicação do EMG comparativa. Observou-se e Dor Orofacial, v.2, n.6, p.155-164, 2002.
uma redução nos valores eletromiográficos registrados previa- BASSANTA, A. D. et al. Estimulação elétrica neural
mente à aplicação do TENS nas fibras anteriores do temporal e transcutânea (“TENS”): sua aplicação nas disfunções
masseter. O efeito disso nas relações maxilomandibulares foi temporomandibulares. Rev Odontol Univ São Paulo, v.11, n.2,
um apreciável aumento do espaço funcional livre. p.109-116, abr./jun. 1997.
Uma variedade de terapias para tratamento das disfunções BIASOTTO, D. A. Fisioterapia Aplicada às Desordens
miofasciais destaca o TENS como um método que visa o rela- da Articulação Temporomandibular. Disponível em
xamento da musculatura mastigatória. (Weisberg et al. 1981) <www.mjlivros.com> Acesso em 22 out. 2008.
No estudo realizado por Donegá et al., (1997). foi anali- BIENFAIT, MARCEL. Bases elementares técnicas de
sado a sintomatologia em pacientes com disfunções intra-arti- terapia manual e osteopatia 2. ed. São Paulo: Summus, 1997.
culares da articulação temporomandibular. A queixa mais cita- BRICOT, BERNARD. Posturologia. São Paulo, Ícone,
da foi de dor na região pré-auricular 40,7%. Sintomatologia 1999.
dolorosa articular 63,2% e ruídos articulares 83,3% foram os CARVALHO, G. Comparacion entre la terapia convenci-
achados mais comuns ao exame clínico. Os ruídos articulares onal odontológica y su uso combinado com la fisioterapia y la
mais freqüentes foram os estalos 66,6%). Dor muscular ocor- osteopatia, en pacientes com disfunción temporomandibular:
reu, em especial, nos músculos pterigóideo medial e lateral e na ODOUS CIENTIFICA v.8, n.1, Enero - Junio 2007
inserção do temporal. Houve decréscimo na amplitude para a CHAITOW, LEON. Síndrome da Fibromialgia – Um
protrusão dentre os movimentos mandibulares máximos. Guia para o Tratamento. São Paulo: Manole, 2002.
Procópio, (1992), em estudo das relações de amplitudes DARLING, D. W.; KRAUS, S.; GLASHEEN-WRAY, M.
máximas dos movimentos mandibulares, numa amostra de pa- B. Relationship of head posture and the rest position of the
cientes com disfunções da ATM, verificou que 32,6% apresen- mandible. Journal of Prosthetic Dentistry.; v.42, n.1, p.111-
tavam abertura máxima de 39mm, 40% apresentavam protrusão 115, 1984
máxima de 4mm, 20%, lateralidade direita máxima de 4mm, e DONEGÁ, S. H. P. et al.Análise da sintomatologia em
14,5%, lateralidade esquerda máxima de 4mm. Os músculos pacientes com disfunções intra-articulares da articulação
com maior comprometimento foram o masseter, o temporal e o temporomandibular. Rev Odontol Univ São Paulo, v.11, p.77-
pterigóideo medial. 83, 1997.
Donegá et al., (1997) apud Uono et al., (1993) avaliaram FOSTER M. E.; GRAY R. J.; DAVIES S. J.;
os movimentos mandibulares em pacientes com disfunção do- MACFARLANE T. V. Therapeutic manipulation of the
lorosa da ATM, encontrando os seguintes valores em milíme- temporomandibular joint. British Journal of Oral and
tros: abertura máxima, 47,56; protrusão máxima, 3,95; Maxillofacial Surgery, v.38, n.6, p.641-644, 2000
lateralidade direita, 7,19 e lateralidade esquerda, 8,00. GOULD III, J. A. Fisioterapia na Ortopedia e na Me-
Tanto na aplicação de alta quanto de baixa freqüência, dicina do Esporte. 2.ed. São Paulo: Manole, 1999.
produzem-se efeitos analgésicos em mais de 50% da dor; o uso GRACE, E.G.; et al. The Use of na Oral Exercise Device
da alta freqüência produz efeitos miorrelaxantes e analgésicos in the Treatment of Muscular TMD. Journal of
mais rápidos, tornando menos perceptível a sensação desagra- Craniomandibular Practice, v.20, n.3, jul.2002.
dável do estímulo de baixa freqüência. (Manns et al., 1985) GRAY, R.J.M.; et al. Physiotherapy in the Treatment Of
Após a pesquisa, conclui-se então que existem poucos Temporomandibular Disorders: a Comparative Study of Four
artigos que estudarão a respeito das diversas modalidades de Treatment Methods. British Dental Journal, n.176, 1994
tratamento tanto as técnicas osteopática como a fisioterapia HOPPENFELD, S. Propedêutica Ortopédica. São Pau-
convencional. lo: Atheneu, 2000.
JAMES A.; GOULD III, Fisioterapia na Ortopedia e
Considerações Finais na medicina do esporte. 2. ed. São Paulo: Manole, 1993.
KALAMIR, A.; POLLARD, H.; VITIELLO, A. L.;
Segundo Jull et al., (1994) apud Krause, (2007), o fisio- BONELLO, R. Manual Therapie for temporomandibular
terapeuta manipulativo é capaz de determinar o segmento da disorders: A review of the literature. Journal of Bodywork and
disfunção somática sem o conhecimento prévio do quadro álgico Movement Therapies. v.11 n.1 p.84-90, jan, 2007
deste paciente. Podemos concluir então, que um fisioterapeuta KNUTSON, G. OWENS, E. Active and passive
com especialização em osteopatia possui uma grande vantagem characteristics of muscle tone and their relationship models of
para o tratamento das DTMs, pois além de poder utilizar-se de subluxation/joint dysfunction. Part I. Journal of Canadian
técnicas osteopáticas, que possuem uma eficácia muito grande Chiropractic Association, 2003.
e reproduzem um efeito imediato satisfatório, como descrito no KNUTSON, G. OWENS, E. Active and passive
decorrer do artigo, poderão utilizar-se também dos recursos da characteristics of muscle tone and their relationship models of
fisioterapia convencional, como a massoterapia, eletroterapia e subluxation/joint dysfunction. Part II. Journal of Canadian
cinesioterapia, que também vem demonstrando bons resultados Chiropractic Association, 2003.
com essa patologia e apresentam uma boa aceitabilidade por KRAUSE, M. A abordagem fisioterápica manipulativa
parte dos pacientes. australiana nas desordens músculoesquelétcias. Terapia
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Benefícios da Fisioterapia na Melhoria da Qualidade de


Vida na Terceira Idade
Benefits of the Physiotherapy in the improvement of the quality of
Life in the Third Age
Francisco Vagner Afonso Dias1, Ana Luiza Guerra Medeiros1, Emanuel Ayres de Medeiros1,
Adelyanna Ramalho Palitot1, Andressa Véras de Queiroz1, Alidiane Morais da Silva1

Resumo Abstract
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a fai- According to the World Organization of the Health
xa etária de sessenta anos ou mais é a que mais cresce em ter- (OMS), the sixty year-old age group or more is what more grows
mos proporcionais no Brasil. O aumento da população de ido- in proportional terms in Brazil. The increase of the seniors'
sos implica em ampliações das demandas sociais e representa population implicates in enlargements of the social demands
um grande desafio político, social e econômico. Uma preocu- and it represents a great challenge political, social and
pação importante dos profissionais que se dedicam aos idosos é economical. An important concern of the professionals that you/
o declínio da aptidão funcional, que envolve não somente a ca- they are devoted to the seniors is the decline of the functional
pacidade aeróbica, mas também a força e resistência muscula- aptitude, that it involves not only the capacity aerobics, but also
res, a flexibilidade, a coordenação e o equilíbrio, fatores esses the force and muscular resistance, the flexibility, the
que contribuem significativamente para uma menor indepen- coordination and the balance, factors those that contribute
dência e qualidade de vida. O presente trabalho consiste num significantly to a smaller independence and life quality. The
relato de experiência baseado na vivência dos acadêmicos de present work consists of a report of experience based on the
fisioterapia do UNIPÊ presentes na USB Monte Castelo academics' of physiotherapy of present UNIPÊ existence in USB
(Cabedelo) com um grupo de idosos do IPSEMC (Instituto de Monte Castelo (Cabedelo) with a group of seniors of IPSEMC
Previdência dos Servidores Municipais de Cabedelo). O grupo (Institute of Precaution of the Municipal Servants of Cabedelo).
é composto de 20 idosos, onde são realizadas atividades The group is composed of 20 senior, where educational activities
educativas como palestras sobre temas variados e atividades are accomplished as lectures about varied themes and activities
em grupos, visando uma melhor socialização bem como uma in groups, seeking a better socialization as well as a better life
melhor qualidade de vida. O presente trabalho tem como obje- quality. The present work has as objective to expose a
tivo expor um programa terapêutico em um grupo de idosos, therapeutic program in a group of seniors, emphasizing the
enfatizando a prática fisioterapêutica com a finalidade de atin- practice physiotherapeutic with the purpose of reaching the
gir o âmbito social, psicológico e motor do paciente. Baseado extent social, psychological and the patient's motor. Based on
nisso, percebe-se a importância da inserção e intervenção do that, it is noticed the importance of the insert and the
fisioterapeuta nas redes de serviços públicos, a fim de atuarem physiotherapist's intervention in the nets of public services, in
desde a promoção, prevenção da saúde até a recuperação e re- order to they act from the promotion, prevention of the health
abilitação destes indivíduos, buscando uma melhor qualidade to the recovery and these individuals' rehabilitation, looking
de vida para todos. for a better life quality for all.
Palavras-chave: Key words:
Qualidade de vida, Idosos, Atividades em grupos, Fisioterapia. Quality, Senior, Activities in groups, Physiotherapy.

sição com a fase precedente, dada à inexistência de um marcador


Introdução biofisiológico eficaz e confiável do fenômeno.
O envelhecimento, por sua vez, é aquele período de vida Os exercícios e atividade física podem contribuir para
que, segundo alguns autores, sucede a fase de maturidade e é compensar determinada deficiência, aumentar a capacidade fun-
caracterizado por declínio das funções orgânicas, e, em decor- cional ou simplesmente proporcionar prazer. A atividade física
rência acarreta maior susceptibilidade à eclosão as doenças, que é capaz de beneficiar pessoas de todos os grupos etários, mas
terminam por levar o idoso à morte. Essa diminuição da capaci- ela é especialmente importante para a saúde das pessoas da ter-
dade funcional é caracteristicamente linear em função do tem- ceira idade.
po. Por outro lado, não é possível evidenciar um ponto de tran-

1. Graduando do Centro Universitário de João Pessoa UNIP (Bacharelado em Recebido: maio de 2009
Fisioterapia). Aceito: maio de 2009
Autor para correspondência:
Email: fvagner_dias@hotmail.com

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O envelhecimento populacional atinge vários países. A


cada dez indivíduos no mundo, um tem mais de 60 anos, sendo
Conceito
que o Brasil no ano de 2030 será a sexta população mundial em Qualidade de vida é um senso de total bem-estar, que in-
número absoluto de idosos. clui tanto aspectos físicos como psicossociais da vida do indi-
víduo.
Referencial Teórico O termo Qualidade de Vida tem recebido uma variedade
de definições ao longo dos anos. A QV pode se basear em três
O aumento das pesquisas direcionadas ao tema enve- princípios fundamentais: capacidade funcional, nível
lhecimento estão associadas a um aumento gradativo das pes- sócioeconômico e satisfação. A QV também pode estar relacio-
soas com mais de 60 anos de idade. De acordo com Lorda nada com os seguintes componentes: capacidade física, estado
(1990), em 1950, havia 200 milhões de pessoas com mais de emocional, interação social, atividade intelectual, situação eco-
60 anos. Em 1975, o número aumentou para 350 milhões. nômica e autoproteção de saúde. Na realidade, o conceito de
Atualmente, os brasileiros com mais de 60 anos chegam a QV varia de acordo com a visão de cada indivíduo. Para al-
ocupar 7,3% da população, e as previsões apontam que, em guns, ela é considerada como unidimensional, enquanto, para
25 anos, chegarão a 15% e o quantitativo mundial para o ano outros, é conceituada como multidimensional.
de 2025 será em torno de 16 milhões de pessoas com mais Muitos acreditam que, inevitavelmente, os idosos apre-
de 65 anos , correspondendo a 7,64% da população estima- sentam uma diminuição do seu bem-estar geral, do prazer de
da em 212 milhões de pessoas. O crescimento da população viver e da qualidade de vida. Ao se observar as diferenças entre
idosa gera importantes repercussões sociais, econômicas e envelhecimento normal, envelhecimento patológico e envelhe-
culturais, chamando a atenção da população para este fenô- cimento bem sucedido fica claro o engano desta crença.
meno. Verifica-se que o município de Jataí não foge à reali- Muitos dos declínios observados no envelhecimento são
dade nacional, contado, de acordo com o IBGE, com uma frutos de um estilo de vida e de hábitos inadequados e nocivos
população de 75.890 habitantes, dos quais, cerca de 4,69% a saúde. Portanto, estabelecer mudanças e adaptações do estilo
se encontram na terceira idade (RODRIGUES, 2003). de vida do adulto pode reduzir o risco de doenças e incapacida-
A saúde é definida como um estado de completo bem des funcionais, marcando assim um envelhecimento bem suce-
estar físico, mental, social e espiritual, e não somente a au- dido. Os fatores psicológicos que influenciam no senso de equi-
sência de doenças ou enfermidades. A aptidão física é uma líbrio e de autonomia, além de um efetivo suporte social tem
condição na qual o indivíduo possui energia e vitalidade su- um papel importante na promoção do bem-estar geral na velhi-
ficientes para realizar as tarefas diárias e participar de ativi- ce. Este então, um produto do processo de adaptação entre o
dades recreativas sem fadiga (NIEMAN, 1999). nível de habilidade e competência individual e as demandas ou
O aumento da população de idosos implica em ampli- pressões do meio ambiente.
ações das demandas sociais e representa um grande desafio O bem-estar, elemento fundamental para qualidade de
político, social e econômico. Uma preocupação importante vida, é um critério subjetivo e é medido por fatores diferentes
dos profissionais que se dedicam aos idosos é o declínio da dos que são usados para avaliá-lo em outras faixas etárias. Os
aptidão funcional, que envolve não somente a capacidade critérios devem ser compatíveis com a idade, lembrando que o
aeróbica, mas também a força e resistência musculares, a que é importante na juventude pode não ser relevante na velhi-
flexibilidade, a coordenação e o equilíbrio, fatores esses que ce.
contribuem significativamente para uma menor independên- Aceitar mudanças, prevenir doenças, modificar estilo de
cia e qualidade de vida. (IORIS, 2000). vida prejudicial a saúde, estabelecer relações sociais e familia-
O processo de envelhecimento recebe influência de res positivas e consistentes e manter um senso de humor eleva-
vários fatores a que o ser humano se sujeita no decorrer da do contribuem sobremaneira para um aumento da qualidade de
sua vida, como os fatores intrínsecos (hereditariedade), e os vida fator indispensável ao envelhecimento bem sucedido.
fatores extrínsecos (fatores ambientais, hábitos de vida, ali-
mentação e atividade física) (IORIS,2000).
A saúde e a qualidade de vida dos idosos, mais que em
Aspectos Biológicos do Envelhecimento
outros grupos etários, sofrem a influência de múltiplos fato- O envelhecimento, por sua vez, é aquele período de vida
res físicos, psicológicos, sociais e culturais. Assim, avaliar e que, segundo alguns autores, sucede a fase de maturidade e é
promover a saúde do idoso significa considerar variáveis de caracterizado por declínio das funções orgânicas, e, em decor-
distintos campos do saber, numa atuação interdisciplinar e rência acarreta maior susceptibilidade à eclosão as doenças, que
multidimensional (ANDERSON, 1998). terminam por levar o idoso à morte. Essa diminuição da capaci-
O idoso tem perda de até 5% da capacidade física a dade funcional é caracteristicamente linear em função do tem-
cada 10 anos e pode recuperar 10% através de atividades po. Por outro lado, não é possível evidenciar um ponto de tran-
físicas adequadas. Estas atividades também atuam como sição com a fase precedente, dada à inexistência de um marcador
antidepressivos, sendo benéficos para todas as idades e se- biofisiológico eficaz e confiável do fenômeno.
xos. A recreação é uma alternativa para adaptar-se melhor a O envelhecimento biológico normal leva a diminuição
esta fase, a participação é coletiva, estimula a solidariedade, das reservas funcionais do organismo. Este efeito pode ser ob-
é através do jogo e da dança que o idoso diminui as tensões, servado em todos os aparelhos e sistemas: muscular, ósseo, ner-
angústias, faz amigos e se diverte. É uma atividade alegre voso, circulatório, pulmonar, endócrino e imunológico. Toda-
que o faz esquecer do dia a dia, buscar a socialização e gos- via, a velocidade e a extensão desse declínio variam muito en-
tar de estar com pessoas da mesma idade. (SALVADOR, tre os diversos tecidos e funções, como variam também de um
1995) indivíduo para o outro.

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A questão a ser levantada é sobre o tempo que tais alte- morbidade e incapacidade da população também acompanha
rações eugéricas podem ser mantidas sem que ocorram as pri- esse aumento. Isto equivale dizer que, após os 70 anos, um
meiras manifestações de doença associada, sabendo-se que esta percentual considerável desse grupo terá uma doença crônica e
é mais freqüente e mais grave em idosos e que modificações que deste, a metade terá uma limitação física ou uma incapaci-
fisiológicas do envelhecimento podem agir como fator dade. A tendência é termos um número crescente de idosos que
precipitante. A hipótise fisiológica do envelhecimento e seu tér- muito embora destinados a viver por muito mais tempo vive-
mino pela “morte eugérica” é que o declínio da função vai ocor- ram com alguma dependência funcional e com a saúde precá-
rendo até o ponto no qual o meio interno compatível com a vida ria, demandando cuidados institucionais.
da célula não pode ser mantido por mais tempo. Aproximadamente 85% das pessoas idosas apre-
Vistas as características da velhice normal, sem doen- sentam uma ou mais doenças ou problemas de saúde, dentre os
ças, e a velhice patológica, deduzimos que para conseguir a quais podemos destacar a artrite, hipertensão arterial, doenças
primeira é necessária adotar um enfoque preventivo antes que cardíacas, comprometimento da audição, comprometimento
surja a agressão. O organismo constitui um aparelho complexo ortopédico, catarata, diabetes e comprometimento visual. Este
em equilíbrio dinâmico, cujos processos vitais são resultados fato revela que o Brasil, ao se tornar um país com habitantes
de ações anteriores que tardam, às vezes, anos para se manifes- velhos em número cada vez maior, deve adotar medidas que
tar. Para que o organismo envelhecido resista às agressões vi- contribuam para a efetivação de políticas públicas e campanhas
tais, é necessário que haja prevenção vários anos antes. O ideal educativas de atenção ao idoso, no sentido de proporcionar ao
seria que o projeto de saúde vital se iniciasse com o nascimen- mesmo a melhoria de sua qualidade de vida, assim como tam-
to. bém sua integração a comunidade e a sociedade de um modo
A gerontologia social trata dos fenômenos humanos as- geral.
sociados ao fato de envelhecer, processo inerente a todo ser Nos últimos anos o Brasil vem sofrendo um fenômeno
humano. Entretanto, a velhice, resultado do envelhecimento, é denominado de transição demográfica, o qual se caracteriza pela
vulgarmente considerada como uma realidade que afeta somente passagem de uma situação de alta fecundidade, tendo uma po-
uma parte da população. Os velhos se configuram como uma pulação predominantemente jovem em continua expansão, para
categoria independente do resto da sociedade, separados como uma situação de baixa fecundidade com constante aumento ex-
grupo com características próprias. É óbvia que partilhem de pressivo da faixa etária idosa. Esse fenômeno pode ser verifica-
características comuns, mas o fato curioso é que esta diferenci- do nos dados publicados pelo Censo realizado no ano de 2000,
ação supõe maior separação do resto da sociedade do que a onde a população de idosos atingiu o valor de 14 milhões, o
experimentada por outros grupos sociais: crianças, adultos, que corresponde a 8,3% da população total (167 milhões), sen-
operários, funcionários públicos etc. A velhice separa mais os do também constatado que as estimativas para 2020 apontam
idosos do resto dos concidadãos do que outros atributos crono- que os idosos serão em torno de 11,99%, ou seja, 25,20 mi-
lógicos ou sociais. Suscita reações negativas e não somente uma lhões de pessoas.
variável descritiva da condição pessoal da pessoa, como a apa-
rência física, o estado de saúde, o sexo etc.
É interessante observar que muitas das alterações que
Atividade Física na Terceira Idade
ocorrem com o envelhecimento são similares às que ocorrem A atividade física regular na terceira idade permeia a cria-
durante o repouso prolongado no leito e na ausência de gravi- ção de condições para melhor aproveitar o tempo livre com ativi-
dade. dades integradas sob o aspecto da saúde do indivíduo, visando o
O soma, corpo ou organismo físico constitui o ponto de equilíbrio físico e psíquico.
partida de qualquer fenômeno vital. A vida social não pode existir A força muscular é bem preservada até aproximadamente
sem a vida orgânica. O que é certo historicamente para o indi- 45 anos de idade, mas, posteriormente, deteriora cerca de 5 a 10
víduo, também o é no desenvolvimento das ciências do enve- por cento por década. Pessoas idosas respondem bem ao treina-
lhecimento. As ciências do corpo humano são as que trataram, mento com pesos, melhorando sua capacidade de exercer suas
antes do envelhecimento e de suas conseqüências. atividades rotineiras comuns.
De acordo com muitos gerontologistas o ingrediente fun-
Epidemiologia damental para um envelhecimento saudável. De todos os grupos
etários as pessoas idosas são as mais beneficiadas pela atividade
A proporção de pessoas idosas em relação ao total da física. Os riscos de muitas doenças e problemas de saúde comuns
população atinge, atualmente níveis superiores ao de qualquer na velhice, por exemplo, as doenças cardio-vasculares, depres-
outra época da história. Nos países desenvolvidos, situam-se são, câncer, hipertensão arterial, osteoporose, fraturas ósseas e
ao redor de 15% e com tendência a um crescimento superior ao diabetes diminuem com a atividade física regular.
de qualquer outro setor da população. Esta tendência é única A atividade física regular pode contribuir muito para evitar
em nossa época, e os peritos concordam que o número de pes- as incapacidades associadas ao envelhecimento. Seu enfoque prin-
soas idosas sobre o total da população crescerá em todos os cipal deve ser na promoção de saúde, mas em indivíduos com pato-
países do mundo, considerando-se as melhorias no nível de vida logias já instaladas a prática de exercícios orientados pode ser muito
e a redução na taxa de natalidade. Os aumentos serão maiores importante para controlar a doença, evitar sua progressão e/ou reabi-
nos países desenvolvidos, e em decorrência disso surgirão no- litar o paciente.
vas condições de vida, que já são previstas e causam preocupa- Saber qual o tipo e a intensidade da atividade física capazes
ção. de proporcionar o benefício desejado é apenas metade da tarefa; a
Segundo dados demográficos, sabe-se que a sobrevida outra metade consiste em ajudar a pessoa da terceira idade a adotar e
da população vem aumentando. No entanto, o nível de a manter a sua participação na atividade que lhe é apropriada.

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Saber o que é melhor não é garantia de se estar fazendo sica relacionados com a saúde. Por outro lado, a aptidão relaci-
o melhor. Podemos classificar a participação na atividade física onada com a habilidade tem mais a ver com agilidade, equilí-
em duas partes: fase de adoção e de manutenção. A participa- brio e coordenação, potência e tempo de reação (habilidades
ção constante nas atividades físicas ainda depende de outros esportivas) e apresenta pouca relação com a saúde e com a pre-
fatores, tais como saúde do cliente, comportamento, disponibi- venção de doenças.
lidade de tempo e acesso as instalações. É mais provável a pes-
soa desistir se estiver deprimida ou ansiosa, se o curso for caro Relato de Experiência
ou monótono e se o orientador do exercício não souber inspirar
os participantes. O presente trabalho consiste num relato de experi-
Evidências crescentes apóiam a afirmação de que uma ência baseado na vivência dos acadêmicos de fisioterapia
proporção significativa da deteriorização atribuída a idade pode do UNIPÊ presentes na USB Monte Castelo (Cabedelo)
ser explicada pela tendência das pessoas a se exercitar menos à com um grupo de idosos do IPSEMC (Instituto de Previ-
medida que envelhecem . Em qualquer idade, indivíduos que se dência dos Servidores Municipais de Cabedelo), em par-
exercitam de forma vigorosa podem ser mais bem treinados que ceria com a educadora física desta instituição, a professo-
os sedentários, mas, por causa do processo de envelhecimento, ra Andrea Pereira, com o objetivo de proporcionar uma
menos treinados do que pessoas jovens que se exercitam. melhoria na qualidade de vida tanto no âmbito físico e no
Os benefícios da atividade física para a saúde e mental.
longevidade são intuitivamente conhecidos desde o princípio O grupo é formado por 20 idosos, composto aproxi-
dos tempos. Existem benefícios bem demonstrados sobre vári- madamente de 95% de mulheres e o restante, 5% de ho-
os parâmetros que afetam a saúde e longevidade. mens, cuja faixa etária varia entre 60 a 75 anos, onde são
Segundo Lorda (1995), hoje 70% das pessoas acima de realizadas atividades uma vez por semana (quintas - fei-
60 anos no Brasil são sedentárias. Esta estatística é assustadora ras), com duração de uma hora, nas quais são desenvolvi-
se considerar as conseqüências deste sedentarismo, que variam das atividades educativas como palestras sobre temas va-
desde o risco de infracto do miocárdio até acidentes vasculares riados e atividades em grupos, visando uma melhor socia-
e o câncer. Esta problema se agrava nas pessoas de terceira ida- lização bem como uma melhor qualidade de vida. Neste
de. Pois nesta fase de o organismo já não é mais como antes. grupo são desenvolvidas dinâmicas, alongamentos, exer-
Seus corpos não são mais tão flexíveis e seus movimentos não cícios respiratórios e exercícios metabólicos no geral,
são mais ágeis. As articulações perdem mobilidade e elasticida- talassoterapia, como também o relaxamento global.
de, as lesões degenerativas como a osteoporose transforma o Dentre as atividades realizadas, inicialmente é feito
osso de um estado consistente para esponjoso deformado-o às dinâmicas de grupo para melhorar a integração, em segui-
vezes. No aparelho bronco-pulmonar a deterioração é progres- da são apresentadas as palestras educativas, podendo ser
siva e irreversível, todo sistema respiratório sofre alteração, in- desempenhadas na Unidade Básica de Saúde de Monte
clusive os pulmões que tem seu peso reduzido. No aparelho Castelo ou na praia, através de cartazes ilustrativos sobre
cardiovascular a capacidade do coração diminui, a pressão se os variados temas, além de entregas de panfletos para que
eleva, diminuindo a circulação sanguínea, a pele se enruga, perde os idosos possam fazer um acompanhamento mais didáti-
a maciez e se resseca. co do tema, e através destes levar um pouco de conheci-
A velhice traz consigo a redução das aptidões físicas, mento para casa. Após ser dada a palestra há uma interação
declínio das capacidades funcionais, diminuição da massa ós- do grupo com os acadêmicos onde são tiradas dúvidas e
sea e muscular, elasticidade, circulação e movimentos das arti- narrados alguns casos que são vivenciados e acometidos
culações; aumento de peso, maior lentidão e doenças crônicas. por estes idosos.
Apesar da associação entre atividade física e saúde esta Em seguida, é feita a aferição da pressão arterial de
bem documentada, a maior parte da população é inativa com- cada idoso para observar se este se encontra em condição
pleta ou parcialmente. Nas últimas décadas foi nítido o fenô- de participar das atividades físicas programadas,e poste-
meno da urbanização na nossa sociedade, a qual é acompanha- riormente, são desenvolvidas atividades de grupo, na qual
da naturalmente por um estilo de vida menos ativo. Além disso, as técnicas utilizadas são: alongamento global (coluna
podem existir riscos e barreiras individuais relacionados aos cervical, MMSS, tronco e MMII) sendo feito com eles
exercícios. sentado ou em pé, caminhadas na praia associadas com a
É opinião unânime que os exercícios fazem bem as pes- respiração, mobilização ativa de MMSS com uso de bas-
soas da terceira idade. Dentre algumas vantagens, temos: me- tões ou toalha, mobilização ativa de MMII, fortalecimen-
lhora do humor, diminuição da ansiedade, aumento do vigor; to de MMSS e MMII com uso de elásticos, dissociações
melhora da cognição; aumento da capacidade aeróbica e do de cinturas (escapular e pélvica) com uso da bola ou bas-
enduro cardio respiratório; melhora do perfil dos lípides san- tão, talassoterapia, movimentos realizados na água do mar
guíneos; aumento da flexibilidade e da amplitude dos movi- como meio natural de resistência ao exercício e orienta-
mentos; aumento da densidade dos ossos; aumento da força e ções posturais gerais para a vida diária, e por fim um rela-
do enduro da musculatura; aumento da massa muscular e dimi- xamento com todos sentados fazendo o padrão ventilatório
nuição da massa de tecido adiposo. diafragmático, visando uma diminuição do trabalho res-
A aptidão física relacionada com a saúde é tipicamente piratório e conseqüentemente, para que a musculatura volte
por uma capacidade de realizar as atividades diárias com vigor gradativamente ao normal. Segue quadro com o
e está relacionada a um menor risco de doença crônica. A resis- cronograma dos acadêmicos de fisioterapia com as pa-
tência cardiorrespiratória, a aptidão músculo-esquelético (for- lestras e atividades cumpridas e a serem executadas:
ça e resistência muscular, flexibilidade) e uma composição
corpórea ideal são os componentes mensuráveis da aptidão fí-

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COSTA, Allan José Silva da. Revista Virtual e Artigos. A


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O presente trabalho teve como objetivo expor um pro- VIEIRA, Eliane Brandão. Manual de Gerontologia. Um
grama terapêutico em um grupo de idosos, enfatizando a práti- Guia Teórico-Prático para Profissionais, Cuidadores e Fa-
ca fisioterapêutica com a finalidade de atingir o âmbito social, miliares. Rio de Janeiro: Revinter, 1996.
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sentados num grupo de pessoas ou até num mesmo paciente. RODRIGUES, M. C.; LEAL, C.A R. A. A.; GARCIA, P.
Baseado nisso, percebe-se a importância da inserção e inter- C. O. - A extensão buscando contribuir na melhoria da qualida-
venção do fisioterapeuta nas redes de serviços públicos, a fim de de vida dos idosos. Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003
de atuarem desde a promoção, prevenção da saúde até a recu- on line (www.proec.ufg.br)
peração e reabilitação destes indivíduos, buscando uma melhor SANTOS, S.R; SANTOS, I.B.C; FERNANDES,M.G- Qua-
qualidade de vida para todos. lidade de vida do idoso na comunidade: Aplicação da escala
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Relação entre a Ausculta Pulmonar e o Aspecto da Secreção


Brônquica
Relationship between Pulmonary and Aspect of Headphones Bronchial
Secretion
Caroline Silvestri Silva1, Dayana Cordeiro1, Kesya Montanha1, Mayana Costa1,
Alceu Eduardo I. Furtado2

Resumo Abstract
Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão de This study aimed to conduct a review of literature
literatura referente a relação entre a ausculta pulmonar e o as- concerning the relationship between pulmonary auscultation and
pecto da secreção brônquica. Sabe-se que a secreção é o au- appearance of the bronchial secretion. It is known that the
mento da produção do muco pulmonar, caracterizando patolo- secretion is the increased production of pulmonary mucus,
gia, que associado com células e resquícios do próprio pulmão characterizing pathology that associated with cells and remnants
irá provocar sons pulmonares patológicos. Estes sons poderão of the lung sounds will cause lung disease. These sounds can
nortear o examinador quanto às particularidades da secreção e guide the examiner about the features of secretion and its
suas patologias. Sendo assim, pode-se observar que nem sem- disorders. Thus, one can observe that the literature does not
pre a literatura entra em consenso quanto ao aspecto da secre- always enter into agreement on the issue of expectorate
ção expectorada e aquela observada durante a ausculta pulmo- secretions and those observed during lung auscultation.
nar. Keywords:
Palavras-chave: Mucus, pulmonary auscultation, bronchial secretion.
Muco; Ausculta Pulmonar; Secreção brônquica.

células epiteliais, leucócitos e etc (BLAKISTON e colaborado-


Introdução res, 1987). A produção do muco brônquico que é conduzido
A mucosa brônquica contém células que tem a função de das vias aéreas periféricas para as centrais, tem o intuito de
produzir o muco, composto por 95% de água, 5% de manter a integridade das vias aéreas inferiores. Desta forma
glicoproteínas, carboidratos, lipídios, ácidos pode-se dizer que o sistema mucociliar é um dos principais
desoxirribonucleicos, alguns fragmentos celulares e partículas mecanismos de defesa do pulmão haja vista a adaptação ocorri-
estranhas. Este tem como principal mecanismo a limpeza das da pelo trato respiratório quando exposto a microorganismos e
vias aéreas servindo como uma capa protetora e lubrificante substâncias tóxicas inaladas (GODOY ET AL, 2008). Em mé-
(FRASER e PARÉ, 1981; PRYOR e WEBBER, 2002). dia são eliminados 100 ml/dia de muco respiratório, sendo que
Diante de substâncias irritativas ou patologias diversas fisiologicamente esta quantidade pode chegar a 150 ml/dia sem
ocorrem o aumento exagerado do muco que em contato com que se perceba o fenômeno (SILVA, 1997).
material celular principalmente células epiteliais descamadas, Doenças das vias aéreas podem fazer com que as glându-
macrófagos alveolares e leucócitos irão formar a secreção las mucosas produzam uma quantidade elevada de muco geran-
brônquica. A intensidade desta irá variar de acordo com a natu- do assim a secreção brônquica que estimulará a tosse (SCALAN,
reza e a forma da natureza irritante. Esta situação gerará nas 2000). Esta secreção brônquica pode ser classificada de acordo
vias pulmonares sons patológicos que serão reconhecidos atra- com a constituição e o aspecto do material em seroso, mucóide,
vés da ausculta pulmonar (FRASE e PARÉ, 1981). purulento e hemoptise.
Este estudo tem como principal objetivo realizar uma re- • Secreção Serosa: comumente encontrada na insufici-
visão literária destacando a relação entre a ausculta pulmonar e ência cardíaca e na asma brônquica. Sua expectoração pode
o aspecto da secreção brônquica. apresentar secreção cor de tijolo, achocolatada e sanguínea,
sendo que a primeira é menos freqüente devido à administração
de antibióticos. Ë constituída de água, eletrólitos, mucoproteínas
Revisão de Literatura e células(SCANLAN et al, 2000; SILVA, 1997; BETHLEM,
1984).
O Muco é um líquido viscoso produzido pelas glândulas • Secreção Mucóide: é de coloração translúcida, seme-
mucosas sendo constituído de água, mucina, sais inorgânicos, lhante à clara de ovo, esbranquiçada e espessa, predomina nos

1. Acadêmicas da Prática sob Forma de Estágio Supervisionado em UTI – Curso de Recebido: maio de 2009
Fisioterapia/UNIVALI. Aceito: maio de 2009
Autor para correspondência:
2. Professor Supervisor da Prática sob Forma de Estágio Supervisionado em UTI – Email: carolsfisio@yahoo.com.br
Curso de Fisioterapia/UNIVALI.

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processos viróticos, com conseqüência de irritação pelo fumo, • Freqüentemente monofônico.


poluição atmosférica e distúrbios alérgicos como asma • Podem ser ouvidos, às vezes, mesmos sem estetoscópio.
brônquica e bronquite crônica. Normalmente encontrada em
pacientes com doenças das vias aéreas (SCALAN, 2000 e SIL- Causa
VA e BETHLEN). • Vibração de grandes vias aéreas no ponto de fechamen-
• Secreção Purulenta: devido à contaminação bacteriana to;
ou eventualmente pela presença de grande numero de eosinófilos
e piócitos sua coloração torna-se esverdeada ou amarelada. Fase do ciclo respiratório
Nestes processos ocorre aumento do volume e da viscosidade • Quase sempre inspiratório ocasionalmente expiratório;
das secreções. É espessa, colorida e grudenta (SCANLAN et
al, 2000; SILVA, 1997; BETHLEM, 1984). Efeito da tosse
• Hemoptise: caracteriza-se por expectoração de sangue • Desaparece temporariamente;
proveniente dos pulmões acompanhado ou não de secreção,
podendo ser classificada em maciça (mais de 300ml de sangue
em 24hs) ou não-maciça. Esta última é mais comum nas infec-
Doenças
ções de vias aéreas, porém pode ser observada no câncer pul- • Bronquite aguda,
monar, na tuberculose, em traumatismos e na embolia pulmo- • Doença pulmonar obstrutiva crônica;
nar. Quando associada à infecção é usualmente observado um • Compressão extrínseca das vias aéreas;
escarro purulento com estrias de sangue. A hemoptise maciça • Obstrução das vias aéreas por corpo estranho;
tem como causa bronquiectasia, abcesso pulmonar e tubercu- • Tumor ou secreção.
lose aguda ou crônica (SCALAN e colaboradores, 2000). Se-
gundo Tarantino (2002), o termo hemoptise não define quanti- Aspecto da Secreção
dade, porém na prática geralmente denomina-se escarro san- • Secreção fluidificada, esbranquiçada, viscoelástica.
guíneo ou hemoptóico quando há eliminação de pequena quan- Característica da secreção mucóide.
tidade de sangue junto a secreção. (O’SULLIVAN e SCHIMITZ, 2004; TARANTINO,
O odor é outra característica marcante da secreção 2000; SCANLAN ET AL, 2000).
brônquica podendo estar presente ou não. Na presença de pro-
cessos de putrefação nas cavidades intrapulmonares ou Sibilos
brônquicas a secreção adquire um cheiro especialmente desa-
gradável. A fetidez deve ser interpretada como indicação de Irão ocorrer quando o ar flui em alta velocidade através
flora anaeróbica como, por exemplo, abcesso pulmonar, do estreitamente de uma via aérea, indicando assim comprome-
empiemas com fístulas broncopleural e em alguns tipos de pneu- timento da luz do bronquíolo por secreção e edema como nos
monias necrosantes. Sendo que as bronquiectasias e as supura- processos inflamatórios, ou espasmo da musculatura.
ções pulmonares são as causas mais comuns de expectorações
fétidas (AZEREDO, 2000). Som
A Ausculta Pulmonar (AP) é o método semiológico, bá- • São contínuos porém mais agudos
sico no exame físico dos pulmões, funcional por excelência, • Som musical de alta freqüência
puramente estática, permitindo melhor análise do funcionamento • Geralmente polifônico (várias vias aéreas obstruídas,
pulmonar (TARANTINO, 2000). Ë considerada por alguns ouvido somente na fase expiratória) podendo sem monofônico
autores como uma avaliação subjetiva, muitas vezes dificulta- (uma única via aérea obstruída).
da pela terminologia imprecisa e, não obstante, confusa, con-
tribuindo para a desvalorização da semiologia pulmonar Causa
(AUANA ET AL, 1998). Contudo, é um meio de fácil acesso, • Vibração de pequenas vias aéreas no ponto de fecha-
não invasivo, de baixo custo devendo, portanto, ser valorizada mento;
ao lado de outras técnicas diagnósticas. É através da AP que
distingue-se os sons pulmonares, tanto o fisiológico quanto o Fase do ciclo respiratório
patológico. Divide-se em laringo-traqueal (respiração brônquica • Quase sempre inspiratório (secreção) ocasionalmente
ou sopro glótico) e Murmúrio Vesicular (passagem de ar pelos expiratório (Broncoespamo);
bronquíolos e estrutura acinar), os sons fisiológicos. Já os sons • Efeito da tosse
patológicos podem ser diferenciados em contínuos (roncos e • Pode mudar com a tosse melhorando quando secreção e
sibilos) e descontínuos (estertores crepitantes, estertores piorando na presença de bronco espasmo;
bolhosos, atrito pleural).
Doenças
Roncos • Asma:
• Compressão extrínseca das vias aéreas;
Presença de secreção pulmonar, espasmo, edema ou le- • Obstrução das vias aéreas por corpo estranho;
são de parede. • Tumor ou secreção.
• Fibrose cística
Som • Carcinoma Broncogênico.
• São contínuos (+250msec);
• Som gemente de baixa freqüência;

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Aspecto da secreção pulmonar Causa


• Espessa, menos fluida que a secreção encontrada no ron- • Abertura súbita de brônquios e grandes vias aéreas previamente
co, mais aderida, viscosa. colapsadas;
(O’SULLIVAN e SCHIMITZ, 2004; TARANTINO, • Ar que borbulha através de secreções;
2000; SCANLAN ET AL, 2000; PARSONS e HEFFNER,
2000). Fase do ciclo respiratório
• Início da inspiração; muitas vezes na expiração.
Estertores Crepitantes
Efeito da tosse
São formandos na estrutura acinar e ocorre no final da • Tende a desaparecer ou diminuir com a tosse.
inspiração. Colapso dos alvéolos comumente devido à infiltra-
ção de líquido no espaço intra-alveolar. Doenças
• Bronquite Aguda e crônica;
Som • Edema pulmonar grave;
• Sons explosivos, interrompidos (menor 250ms); • Bronquiectasias;
• De tom mais alto; • Pneumonias;
• Simulados pelo enchimento (ar) de um saco plástico • Tuberculoses;
amassado; (O’SULLIVAN e SCHIMITZ, 2004; TARANTINO, 2000;
• Podem ser auscultados na base pulmonar. SCANLAN ET AL, 2000; PARSONS e HEFFNER, 2000)

Causa Estridor ou Cornagem


• Abertura súbita de alvéolos e de pequenas vias aéreas
durante a inspiração e previamente colapsadas durante a Consiste na dificuldade inspiratória por redução do cali-
expiração; bre das vias aéreas respiratórias superiores na altura da laringe
e se manifesta por ruído e tiragem.
Fase do ciclo respiratório
• Final da Inspiração; Som
• Som áspero.
Efeito da tosse • Tonalidade aguda
• Não desaparece; • Mais audível nas faces laterais do tórax e sobre a tra-
quéia.
Doenças
• Fibrose pulmonar; Causa
• Pneumonia; • Edema de glote;
• Insuficiência Cardíaca Congestiva. • Presença de corpo estranho;
• DPOC • Laringite;
• Bronquite Crônica • Difteria.
• Enfisema
Fase do ciclo respiratório
Aspecto da Secreção • Tanto na Inspiração quanto na expiração.
• Devido ao possível líquido intra-alveolar poderá carac-
terizar-se em uma secreção serosa. Efeito da tosse
(O’SULLIVAN e SCHIMITZ, 2004; TARANTINO, • Não desaparece ou piora.
2000; SCANLAN ET AL, 2000).
Doenças
Estertores Bolhosos • Inflamações;
• Neoplasias
Resultante da mobilização de qualquer conteúdo presente na ár- • Infarto.
vore brônquica na luz dos alvéolos ou em cavidades pré-existentes. Ocorre (O’SULLIVAN e SCHIMITZ, 2004; TARANTINO,
devido a modificação da tensão superficial ou do aumento da quantida- 2000; SCANLAN ET AL, 2000; PARSONS e HEFFNER,
de do conteúdo presente nos alvéolos e brônquios. O volume de ar cor- 2000).
rente provoca um turbilhonamento acompanhado de ruídos cuja carac- A seguir, através de tabela, estão relacionadas às princi-
terística dependerá dos bronquíolos e alvéolos (TARANTINO, 2002). pais patologias pulmonares com respectivos sons e aspecto da
secreção pulmonar.
Som
• Sons explosivos, interrompidos (menor 250ms);
• De tom mais baixo;
• Simulados por líquido borbulhante;

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Conclusão FRASER, R.G; PERÉ, J.A.P. Diagnóstico das doenças
do Tórax. 2 ed, v1. Manole: São Paulo, 1981.
A partir dos achados literários apresentados neste estudo,
observou-se que há contradição entre os termos técnicos e os
usados na prática e ainda da diferença entre o muco e a secre-
ção brônquica. Os autores consultados referenciam os sons pa-
tológicos de maneira generalizada esquecendo-se que cada pa-
tologia irá apresentar uma secreção específica gerando com som
pulmonar diferenciado.
Sugere-se a elaboração de um estudo, na vivencia práti-
ca, com observação da expectoração e dos sons pulmonares
relacionando estes a patologia apresentada. Bem como um con-
senso entre os autores com relação à terminologia utilizada.
Outro ponto importante é a utilização de um diferencial entre o
muco que é fisiológico da secreção brônquica, visto que esta é
característica patológica do pulmão.

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Fatores Causais e Sociais Relacionados ao Óbito Materno de


Mulheres Residentes no Estado da Paraíba
Causal and Social factors related to Maternal Obits of Women resident in
the State of Paraíba
Ana Cristina da Nóbrega Marinho Torres Leite1, Neir Antunes Paes2

Resumo Abstract
Este estudo objetivou identificar os fatores causais e so- The presented study had as objective to identify causal
ciais associados aos óbitos maternos de mulheres residentes no and social factors related to maternal obits of women resident
estado da Paraíba, nos anos de 2000 a 2004. Trata-se de estudo in the state of Paraíba, from 2000 to 2004. It is a longitudinal
longitudinal, com abordagem quantitativa, cuja população foi study, with quantitative approach, which population was formed
constituída por todas as declarações de óbitos maternos exis- by all the obituaries from the epidemiology surveillance sector
tentes no setor de vigilância epidemiológica da secretaria esta- at the state health department between 2000 and 2004. It was
dual de saúde entre os anos de 2000 a 2004. Verificou-se que as verified that women who died by maternal causes were in the
mulheres que foram a óbito por morte materna estavam no auge peak of their reproductive life, not Caucasian, and had little
da vida reprodutiva, não brancas e tinham pouca escolaridade. education. The deaths were due to direct obstetric causes.
A mortes se deram por causas obstétricas diretas. Porém, o com- However the behavior of the maternal mortality coefficient, in
portamento do coeficiente de mortalidade materna, nos cinco the last five years, does not show improvement in the maternal
anos, não mostra efetiva melhora nos serviços de saúde mater- health care services. It is possible to conclude that there was a
na. Conclui-se que houve predomínio dos óbitos maternos evi- predominance of avoidable maternal obits, pointing inadequate
táveis, evidenciando assistência inadequada ao pré-natal, parto assistance in prenatal, delivery and puerperium.
e puerpério. Keywords:
Palavras-chave: Mortality; Maternal Mortality; Maternal Health.
Mortalidade; Mortalidade Materna; Saúde Materna.

continuam morrendo por causas que poderiam ser evitada. Di-


Introdução ante disso, este estudo tem por objetivo identificar os fatores
A morte de uma mulher durante o período gravídico causais e sociais associados aos óbitos maternos de mulheres
puerperal tem sido alvo de discussões por parte dos gestores residentes no estado da Paraíba, nos anos de 2000 a 2004.
públicos e profissionais de saúde, visto ser uma problemática
que representa um dos episódios que mais altera as relações Referencial Teórico
com o ser humano no seu cotidiano.
Quando uma mulher vai à óbito por morte materna de- Os estudos sobre a população feminina no país assumem
ver-se-ia interrogar onde começou a se construir esta morte? importância quando se verifica a crescente participação da mu-
Qual a faixa etária, raça e escolaridade das mulheres? e quais lher na força de trabalho e o importante contingente numérico
as causas que levaram à morte? do grupo em idade fértil, aliados a níveis de saúde insatisfatórios.
Sem dúvida, a resposta para cada variável é muito impor- Esta situação revela que após vários anos de reconheci-
tante, tendo em vista que conhecendo a realidade destas mulhe- mento da declaração dos direitos humanos as populações com
res será mais fácil impedir que a maioria possa ter uma morte necessidades diferenciadas continuam sofrendo com o caos na
“não-antecipada”, interrompendo suas vidas antes da hora, em saúde, principalmente quando esta se refere a saúde materna,
plena capacidade reprodutiva e produtiva (WHO/UNICEF, tendo em vista que a morte de uma mulher no período gravídico
1996). puerperal é uma tragédia para toda família e sociedade.
Entretanto, uma abordagem como esta da morte materna Em uma publicação da OMS e UNICEF há o seguinte
não é tarefa fácil, considerando que no Brasil, e em especial no comentário: “a mortalidade materna representa um indicador
nordeste brasileiro, mais especificamente no estado da Paraíba do status da mulher, seu acesso à assistência à saúde e a ade-
a situação da saúde materna continua precária e as mulheres quação do sistema de assistência à saúde em responder às suas

1. Dr.a em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Recebido: maio de 2009
Professora do Departamento de Fisioterapia da União de Ensino Superior de Campina Aceito: maio de 2009
Grande-PB. Autor para correspondência:
Email: anacrnm@hotmail.com
2. Doutor em Demografia. Departamento de Estatística, Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa-PB.

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necessidades. É preciso, portanto, ter informações sobre níveis que aumenta o desenvolvimento.
e tendências da mortalidade materna, não somente pelo que ela Sobre este aspecto, Costa et al (2002) ressaltam que a
estima sobre os riscos na gravidez e no parto mas também pelo hipertensão ocorre em mulheres com mais de 30 anos, multíparas
que significa sobre a saúde, em geral, da mulher e, por exten- e hipertensas crônicas, condições que podem ser facilmente
são, seu status social e econômico” (WHO/UNICEF, 1996). identificadas no pré-natal, adotando-se a terapêutica adequada
A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia para minimizar as repercussões sobre o binômio mãe-feto, in-
(FIGO), aprovou, em seu congresso mundial realizado na Aus- clusive o internamento precoce e o parto prematuro terapêutico
trália em 1967, a classificação e o conceito de morte materna em centros de referência, além, é claro, do óbvio papel do pla-
preconizados pelo Comitê Internacional de Mortalidade Ma- nejamento familiar, uma vez que parcela considerável dessas
terna, sendo incorporados pela Organização Mundial de Saúde gestações nunca deveriam ter ocorrido.
(OMS) em 1975 por ocasião da 9a Revisão do Manual de Clas- A gravidade dessa situação reside no fato de as mortes
sificação Internacional de Doenças (CID 9) e mantidos na 10a maternas obstétricas diretas serem, em quase sua totalidade,
Revisão (CID 10) (THEME-FILHA; SILVA, 1999). evitáveis, caso fosse oferecida, à gestante, esforços no sentido
Segundo Albuquerque et al (1997), desde 1975 que a OMS de desenvolver medidas de saúde pública para melhorar a qua-
conceitua morte materna “como sendo a morte da mulher du- lidade de assistência pré-natal, ao parto e puerpério e, em uma
rante a gestação em um período de até 42 dias após seu térmi- visão holística, promover a saúde reprodutiva como direito de
no, independente da duração ou localização da gravidez, e por cidadania (SOUSA, 2003).
qualquer causa relacionada ou agravada pela gestação. É importante também levar em consideração a Morte
Com vistas a melhorar a qualidade dos dados de mortali- Materna Não-Obstétrica, a qual inclui os óbitos durante a gra-
dade materna e fornecer métodos alternativos de coleta das videz, parto ou puerpério, porém por causas incidentais ou aci-
mortes durante a gravidez ou relacionadas com ela a Quadragé- dentais (AGUIAR, 1997).
sima terceira Assembléia Mundial de Saúde adotou, em 1990, a A morte materna pode ser classificada ainda, mediante a
recomendação de que os países considerassem a inclusão, nos sua informação na declaração de óbito (D.O). Assim, Morte
atestados de óbitos, questões que dissessem respeito à gravidez Materna Declarada é todo o óbito no qual as informações
atual e à gravidez durante o ano que precedeu a morte, encora- registradas na D.O permitem classificá-lo como materno. Em
jando, dessa forma, o registro das mortes por causas obstétricas contrapartida, Morte Materna Não Declarada é toda aquela em
ocorridos no período além dos 42 dias após o término da gravi- que as informações contidas na D.O não permitem classificar o
dez. A essa morte que ocorre após o puerpério deu-se o nome óbito materno, só podendo ser descoberta a partir de uma in-
de Morte Materna Tardia (WHO, 1989). vestigação (MS, 1994).
Praticamente, todos os países adotaram essa sugestão e Há também uma parcela de mortes conhecidas como
incluíram, nos seus formulários de óbito, um item específico Mortes maternas Presumíveis ou Mascaradas que englobam os
para mortes de mulheres em idade fértil, indagando nesses ca- casos de preenchimento incorreto da declaração de óbito tem
sos, se a mulher estava grávida no momento da morte ou se sido um fator importante para a pouca visibilidade do óbito
esteve grávida no período de 12 meses anteriores ao evento materno. Isto ocorre com freqüência por falta de conhecimento
fatal. No Brasil, o Ministério da Saúde, gestor do Sistema de do médico ou vícios de preenchimento, o que leva a falhas na
Informação de Mortalidade, passou desde 1995, a considerar seleção de causa básica e afeta a comparabilidade dos dados,
essa variável na declaração de óbito (LAURENTI, 2001). além de resultar num quadro epidemiológico falso. É, portanto,
A morte materna ainda pode ser classificada em dois gru- imprescindível que as entidades formadoras de recursos huma-
pos, os óbitos por causas obstétricas diretas e causas indiretas. nos desenvolvam ações de capacitação dos estudantes de medi-
As mortes diretas resultam de complicações obstétricas relaci- cina e dos médicos para que possam compreender a necessida-
onadas à gravidez, parto e puerpério, devidas a intervenções, de de proceder ao registro adequado dos dados na D.O, contri-
omissões, tratamento incorreto ou de uma seqüência de eventos buindo assim para o fortalecimento dos sistemas de informação
resultantes de qualquer uma dessas situações (ex.: hemorragia, em saúde (BRASIL, 2002).
infecção puerperal, hipertensão, tromboembolismo, acidente Morte Relacionada à Gravidez relaciona-se com a
anestésico). Representam ainda a principal causa de morte ma- morte de uma mulher enquanto grávida ou até 42 dias após o
terna nos países em desenvolvimento. As mortes indiretas de- término da gravidez, qualquer que tenha sido a causa da
correm de doenças preexistentes ou que se desenvolvem duran- morte.Correspondem, desta forma, à soma das mortes obstétri-
te a gestação (intercorrentes) e que não se devem a causas obs- cas e as não obstétricas (LAURENTI, MELLO-JORGE,
tétricas diretas, mas que foram agravadas pelos efeitos fisioló- GOTLIEB, 2000) .
gicos da gestação (ex.: cardiopatias, colagenoses e outras do- A Mulher em Idade Fértil compreende a faixa etária entre
enças crônicas) (COSTA et al, 2002). 15 e 49 anos de idade. Gestações podem ocorrer antes ou de-
Em termos gerais, as causas diretas de morte materna pois desses limites, apresentando riscos especiais para a mulher
correspondem a aproximadamente 80% do total de eventos e, e o filho, ainda que sejam diferentes para cada grupo de idade
portanto, são consideradas como passíveis de serem evitadas (VITORELLO, 2001; GRAHAM;AIREY, 1987).
(Global Forum for Health Research, 2002). As principais cau- Com base nestes conceitos, é importante ressaltar que o
sas diretas são a hemorragia, com aproximadamente 25% do indicador de mortalidade materna mais utilizado atualmente é o
total de casos, seguida pela infecção com 15%, as complica- Coeficiente de Mortalidade Materna (CMM), é obtida pela re-
ções de aborto inseguro com 13% e a eclâmpsia com 12% lação entre o número de óbitos maternos e o número de nasci-
(WHO, 1999). Estas proporções variam de país a país e entre dos vivos (NV), para uma mesma área num mesmo período,
regiões, com uma tendência de diminuição de causas multiplicado por 100.000. Este Coeficiente não é um valor ha-
hemorrágicas e aumento de causas por hipertensão à medida bitualmente utilizado, pois, para tanto, o denominador deveria

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apresentar o número de mulheres que engravidaram, ou seja, o constituída por todas as declarações de óbitos maternos ocorri-
número exposto ao risco de morrer por causas associadas à ges- dos em mulheres residentes no estado da Paraíba no período de
tação (TANAKA, 2000). 2000 a 2004. As fontes de dados de óbitos maternos e de nasci-
Este Coeficiente estima a freqüência de óbitos femininos dos vivos foram obtidos junto à divisão de informática da Se-
atribuídos a causas ligadas à gravidez, ao parto e ao puerpério, cretária Estadual de Saúde da Paraíba.
em relação ao total de nascidos vivos. O número de nascidos Utilizou-se como informação básica, as Declarações de
vivos é adotado como uma aproximação do total de mulheres Óbito (DO) existentes no Setor de Vigilância Epidemiológica
grávidas. Reflete a qualidade da assistência à saúde da mulher da Secretaria Estadual de Saúde (SES). As variáveis do estudo
(CALZA, 2006). foram classificadas em sociais (faixa etária, escolaridade e raça)
A estimativa do número de mortes maternas no Brasil é e relacionadas ao tipo de óbito materno. Para a faixa etária, as
tema controverso, tendo em vista que a subnotificação das cau- mães foram classificadas em :<15;15-24; 25-34; 35-44; 35-44;
sas maternas de morte são elementos que dificultam a 45;54 anos, quanto a escolaridade as categorias foram classifi-
contabilização de boa parte dos casos de óbito materno (SOU- cadas por anos de estudo: Sem instrução; 1-3 anos; 4-7; 8-11;
ZA; CECATTI; PARPINELLI, 2005). Segundo dados do FUNS mais de 12 anos. A raça foi classificada em dois tipos: branca e
os números oscilam entre 56, 160 e 260 mortes maternas para não branca. Na raça não branca foram consideradas as pardas e
cada 100.000 nascidos vivos (FANS, 2005). pretas. Quanto ao tipo de óbito as causas de óbito foram classi-
A mais recente estimativa de CMM divulgada pela OMS ficadas em: Obstétrica direta; Obstétrica indireta; Obstétrica
para o Brasil é de 110 mortes maternas por 100.000 NV para Tardia; Obstétrica não especificada, segundo a definição da
2005 e baseou-se em dados de pesquisa com representatividade Classificação Internacional de Doenças- CID 10 (CID, 1997).
nacional (HILK et al, 2007). Os últimos dados nacionais basei- O Coeficiente de mortalidade materna (CMM)
am-se em estudo da mortalidade materna realizado nas capi- (GRAHAM, 1987) foi calculado a partir dos dados do número
tais22. Os autores destacam que a análise correspondeu a 26,6% de nascidos vivos referentes a cada ano estudado para toda o
do total de óbitos femininos em idade fértil ocorridos no pri- estado da Paraíba (disponibilizados pela secretaria de saúde),
meiro semestre de 2002. obedecendo-se à fórmula padrão:
Levando em consideração que os dados relacionados a
mortes maternas são mal informados, os pesquisadores geral-
mente fazem uso do fator de correção como uma forma de se
corrigir as estatísticas de mortalidade, aproximando o CMM O presente estudo respeitou as normas da resolução 196/
para seu valor estimado, caso os óbitos femininos em idade fér- 96 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisa em seres hu-
til não tenham sido investigados em sua totalidade. Este fator manos, tendo sido autorizado pela Coordenadora do Serviço de
foi proposto a partir de estudos realizados em todas as regiões Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Estado
do país, após intensiva análise das informações contidas nas da Paraíba após ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesqui-
D.O, nos prontuários hospitalares e em entrevistas domiciliares sa da Universidade Estadual da Paraíba cujo número de proto-
(TANAKA, 2000). colo é: 1099.0.133.752-05.
Quanto ao fator de ajuste ou de correção, cumpre ressal-
tar que é um grande desafio, portanto, entender como são pro- Resultados
duzidas as estatísticas de mortalidade materna no nosso país e
avaliar se as mesmas são confiáveis. Estudos locais e estaduais, De acordo com os dados pesquisados, foram identifica-
sobretudo nas capitais, onde os registros vitais são de melhor dos 109 óbitos maternos no período de 2000 a 2004, conferin-
qualidade, têm sido realizados a fim de dimensionar a magnitu- do uma taxa média de 35,7 p/100.0000 nascidos vivos. A Taxa
de da mortalidade materna no Brasil. Esses estudos são os que mais alta foi encontrada no ano de 2003 (49,5 p/100.0000 n.v)
têm sido utilizados para estimar a razão de mortalidade mater- e a mais baixa em 2000 (24,9 p/100.0000 n.v).
na no país e por região, aplicando-se fatores de correção para
diminuir o impacto da subinformação desses óbitos. Atualmen-
te, o fator de correção para o Brasil como um todo é de 1,4
(LAURENTI; MELLO-JORGE; GOTLIEB, 2004).
Com base na investigação realizada por Laurenti, Mello-
Jorge e Gotlieb (2004) com outros pesquisadores os dados do
SIM corrigidos pelo fator 1,4, foi equivalente a 63,8 por 100.000
nascidos vivos (OPAS, 2004). Trata-se de uma razão alta, não
há dúvida, mas não exageradamente alta, sendo necessário am-
pliar a investigação para os municípios e avançar no conheci-
mento das causas com a finalidade de subsidiar o planejamento Estudando-se a mortalidade materna em relação à faixa
de ações que possam ser mais efetivas no controle das causas etária e escolaridade observa-se na Tabela 2 que o maior
mais prevalentes para a região e contribuir para uma destinação percentual de mortes maternas ocorreu na época de maior ativi-
mais adequada de recursos públicos. dade reprodutiva (25-34 anos) enquanto que 2,9% dos óbitos
ocorreram em mulheres com idade abaixo dos 15 anos. 31,1%
Métodos das pacientes não tinham nenhuma escolaridade e 3,7% das
pacientes tinham mais que 12 anos de estudo. No que diz res-
Este trabalho trata-se de um estudo transversal, de cará- peito a raça, 68,7% eram não brancas.
ter exploratório com abordagem quantitativa. A população foi

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Com relação a variável escolaridade diversos trabalhos


realizados por Massachs (1996) e Andrada (2001) vêm eviden-
ciando riscos inversamente proporcionais à quantidade de anos
de estudos, colocando a baixa escolaridade da mãe e condição
sócio-econômica como importante fator de risco para morte
materna.
De acordo com o Censo do IBGE (2000) o estado da
Paraíba com 3.542.167 habitantes possuía 29,7% de analfabe-
tos da população com idade de 15 anos. No Nordeste este índi-
ce chegava a 26,3% e o Brasil a 13,6%. O analfabetismo conti-
nua latente, longe de ser erradicado e certamente esta situação
não traz implicações apenas para as oportunidade de trabalho,
emprego e renda, mas também para o setor saúde.
A população de mulheres negras brasileiras é de 36 mi-
lhões, e vive, na sua maioria, na zona urbana. Na Paraíba, em-
bora se registre que em 100 mulheres, há mais ou menos 3 ne-
gras, umas 53 pardas e, em média, 43 brancas, se considerar-
mos que as pardas são as que não assumem a sua negritude, isto
é, morena, cor-de-canela, e outras, a população de mulheres
negras aumenta de 3 para 56 em 100 mulheres. Desse modo, o
contingente de mulheres negras se torna maior do que o de bran-
cas (IBGE, 2000) .
Em estudo realizado em 1997 no Rio Grande do Norte,
Na Tabela 3, são apresentados os tipos de óbitos mater- Mato Grosso e Pará, incluindo 15 cidades foram estudados
nos ocorridos em mulheres residentes na Paraíba que foram a 981.847 mulheres e localizados 440 casos de morte feminina.
óbito por morte materna no período de 2000 a 2004, onde veri- Desse total, 35 foram de mulheres no ciclo gravídico puerperal,
fica-se que o maior (79,9%) número de óbitos foram por causas e nelas observou-se uma prevalência de óbitos maternos nas
obstétricas diretas. mulheres de cor branca de 28,5%, porém, ao somar as pardas e
morenas (claras e escuras) essa soma resultou em 51,5% e não
houve nenhum óbito onde a cor negra fosse declarada
(TANAKA, 1999).
Em relação ao tipo de óbito a toxemia ou doença
hipertensiva específica da gravidez (DHEG) foi a principal causa
de morte materna obstétrica direta (REZENDE; MORELI e
REZENDE, 2000), concordando com outro trabalho (COSTA
ET AL, 2002) cujo resultado mostrou que grande parte dos óbi-
tos por causas obstétricas diretas ocorre em mulheres com mais
de 30 anos, multíparas e hipertensas crônicas condições que
podem ser facilmente identificadas no pré-natal, adotando-se a
terapêutica adequada para minimizar as repercussões sobre o
binômio mãe-feto, inclusive o internamento precoce e o parto
prematuro terapêutico em centros de referência, além, é claro,
Discussão do óbvio papel do planejamento familiar, uma vez que parcela
considerável dessas gestações nunca deveriam ter ocorrido.
Neste trabalho pode-se evidenciar taxas bastante elevadas
nos cinco anos analisados. O CMM sem fator de correção foi de
35,7%, utilizando o fator de correção (este dado sobe para 78,5%. Conclusões
Apesar dos avanços do Programa de Assistência Integral à
Saúde da Mulher ao longo dos anos, o Brasil continua apresen- A partir dos dados deste estudo, conclui-se que a taxa de
tando índices altos de mortalidade materna. No ano de 1990 o mortalidade materna foi considerada alta nos cinco anos anali-
CMM foi de 141 por 100 000 nascidos vivos (MS, 1994)(5), o sados. Foram identificados 109 óbitos maternos no período de
CMM estimada para o ano 2000 foi de 64,3 ( MS, 1994). 2000 a 2004, na sua maioria atingindo mulheres com idade en-
Em relação às características maternas, pode-se verificar tre 25-34 anos, baixa escolaridade, não brancas e que foram a
que a faixa etária mais atingida foi entre 25-34 anos. Esta é uma óbito por causas obstétricas diretas.
variável materna que tem sido apontada como importante fator
de avaliação do óbito materno. Pesquisador apresentou resulta- Referências
dos semelhantes. Também essa idade parece ser a mais prevalente
na ocorrência das gestações, visto ser período de atividade AGUIAR, RAlP. Mortalidade Materna. Ginecologia e
reprodutiva. As mulheres muito jovens também podem compli- Obstetrícia - Manual Para o TEGO – Rio de Janeiro: Medsi,
car pela imaturidade fisiológica e por uma série de patologias 1997.
que são mais comuns nessa faixa etária (HAIDAR;OLIVEIRA, ALBUQUERQUE, RM. CECCATI, JG. HARDY, E.
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