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PALAVRAS-CHAVE
Biomassa, fonte de energia, impactos socioeconômicos, energia limpa, cana-de-açúcar, biodiesel,
biogás.
Rodolfo Gado
Engenheiro civil, formado pela Universidade Mackenzie.
rgado@sabesp.com.br
Sérgio Yoshima
Engenheiro eletrônico, formado pela Universidade São
Judas Tadeu.
syoshima@sabesp.com.br
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INTRODUÇÃO A maioria das negociações ambientais
relacionada à energia ainda está a meio
eletricidade, o racionamento de 2001
demonstrou que a manutenção da
Todos os processos da cadeia termo. A padronização dos critérios de dependência de mais de 90% da
energética (produção, transformação, segurança no transporte de petróleo e hidreletricidade é estrategicamente
transporte, distribuição, armazenagem e as diretrizes internacionais para arriscada. Além disso, o potencial hídrico
uso final) envolvem uma série de perdas construção de grandes hidrelétricas de geração de eletricidade a baixo custo
que reduzem a quantidade de energia, estão em debate e a Convenção sobre é, hoje, bastante limitado, sendo os
efetivamente útil à sociedade, a apenas Segurança Nuclear, assim como o melhores sítios encontrados na região
uma fração do total de energia captada Protocolo de Kyoto, ainda aguardam a Norte, distante dos grandes centros
da natureza. Por contingência das ratificação dos países signatários. consumidores.
próprias leis físicas, um certo nível de No âmbito brasileiro, até a década de A crítica ambientalista ao plano de
perdas é inevitável ao longo da cadeia 70, as grandes barragens e centrais instalação de um parque termoelétrico
de transformações energéticas. hidrelétricas eram consideradas ícones do movido a gás natural, uma fonte
Como contrapartida a toda desenvolvimento energético e considerada mais limpa que o petróleo,
incorporação de um aporte de fontes desfrutavam da convicção de serem reside, justamente, no aumento da
energéticas, existe a perda da energia projetos de baixo impacto, com emissão nacional de óxidos de
degradada, rejeitada para o ambiente possibilidade de agregar usos múltiplos nitrogênio (NOx), resultantes do
externo na forma de calor ou de (atenuação de cheias e abastecimento de processo de queima, e de ozônio de
resíduos (gases, material particulado). água na região circunvizinha, habilitação baixa altitude (O3), formado pela reação
Além disso, o uso de energia também de áreas para lazer e aqüicultura), sem fotoquímica do NOx à radiação solar.
origina impactos sociais e econômicos oferecer riscos ambientais como a Além dos resíduos produzidos no
decorrentes do próprio aproveitamento emissão de poluentes. processo de queima, a alta porcentagem
de recursos naturais. Alguns deles As mudanças produzidas no de metano (CH4), contido no gás natural
podem ser significativos, mesmo no caso ambiente construído se encarregariam (90%), transforma as perdas potenciais
de fontes, em virtude das áreas extensas de demonstrar conseqüências mais (estimadas em 1% do total) na rede de
as quais são necessárias para a drásticas do que se poderia mensurar. O transporte e distribuição em fontes com
produção em grande escala. elevado nível de eutrofização (aumento contribuição significativa para o aumento
Durante muito tempo, utilizando as de nutrientes na água resultante da do efeito estufa, conforme veremos
forças disponíveis da natureza e decomposição orgânica submersa), adiante.
adequando-as à sua localização, o associado ao descontrole do grau de O século 20 ficará conhecido como o
homem pode gerar, transmitir e consumir assoreamento de rios represados século dos combustíveis fósseis, uma vez
energia sem alterar significativamente o favoreceram, em grande parte dos casos, que o carvão, o petróleo e o gás,
ambiente global, o uso do espaço e os a proliferação de determinadas espécies praticamente, dominaram o sistema
modos de produzir ou distribuir bens, de vegetais e animais (algas, mosquitos, energético de todos os países
acordo com os modelos sociais, políticos parasitas), comprometendo o equilíbrio industrializados. O desenvolvimento e a
e culturais prevalecentes. Apesar de ter se ecológico e a qualidade de vida em seu otimização das tecnologias para utilização
confrontado com vários episódios de entorno. desses combustíveis e alguns dos
escassez, provocados pela apropriação Resultados de pesquisas recentes progressos extraordinários os quais
intensa das fontes disponíveis, como foi o apontam outro problema a ser testemunhamos, tais como as viagens
caso da lenha durante a idade média, até considerado: a decomposição orgânica aéreas e a geração de eletricidade por
a Revolução Industrial a humanidade da biomassa, submersa nos lagos das turbinas a gás, são verdadeiramente
evoluiu com um consumo de energia represas, produz dióxido de carbono notáveis.
relativamente moderado. A inserção de (CO2) e metano (CH4) em quantidades Por esses motivos, a tendência era
uma nova tecnologia – a máquina a similares às termoelétricas, quando esquecer que, até a metade no século
vapor – no modo de produção considerados períodos históricos 19, mais de 85% do total da energia
provocou uma ruptura no sistema, relativamente pequenos (menos de 100 usada no mundo era biomassa, na
exigindo uma nova ordem de grandeza anos). Com relação à necessidade da forma de lenha, resíduos da agricultura e
no uso da energia. busca de alternativas para a geração de de animais.
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essencialmente no controle das emissões biológicos (digestão anaeróbia e elétrica e a cogeração (produção
de CO2 e enxofre. fermentação). A Figura 1 apresenta os combinada de calor útil e energia
No Brasil, além da produção de principais processos de conversão da mecânica).
álcool, queima em fornos, caldeiras e biomassa em energéticos. Embora seja difícil avaliar o peso
outros usos não-comerciais, a biomassa relativo da biomassa na geração mundial
apresenta grande potencial no setor de de eletricidade, por conta da falta de
geração de energia elétrica. Os setores informações confiáveis, projeções da
sucroalcooleiro e de papel e celulose
geram uma grande quantidade de
GERAÇÃO DE ELETRICIDADE A Agência Internacional de Energia indicam
que ela deverá passar de 10 TWh em
resíduos, a qual pode ser aproveitada
na geração de eletricidade,
PARTIR DE BIOMASSA 1995 para 27 TWh em 2020.
No Brasil, a biomassa representa cerca
principalmente em sistemas de Embora ainda muito restrito, o uso de de 20% da oferta primária de energia. A
cogeração. A produção de madeira, em biomassa para a geração de eletricidade imensa superfície do território nacional,
forma de lenha, carvão vegetal ou toras tem sido objeto de vários estudos e quase toda localizada em regiões tropicais
também gera uma grande quantidade aplicações, tanto em países desenvolvidos e chuvosas, oferece excelentes condições
de resíduos, que pode, igualmente, ser como em países em desenvolvimento. para a produção e o uso energético da
aproveitada na geração de energia Entre outras razões estão a busca de biomassa em larga escala. Apesar disso, o
elétrica. fontes mais competitivas de geração e a desmatamento de florestas naturais vem
O aproveitamento da biomassa pode necessidade de redução das emissões de acontecendo por razões essencialmente
ser feito pela combustão direta (com ou dióxido de carbono. não-energéticas, como a expansão da
sem processos físicos de secagem, Na busca de soluções para esses e pecuária extensiva e da agricultura
classificação, compressão, corte/quebra, outros problemas subjacentes, as itinerante.
etc.), processos termoquímicos reformas institucionais do setor elétrico Segundo dados do Balanço Energético
(gaseificação, pirólise, liquefação e têm proporcionado maior espaço para a Nacional de 1999, a participação da
transesterificação) ou processos geração descentralizada de energia biomassa na produção de energia elétrica
é resumida em 3%, dividida entre o
bagaço de cana-de-açúcar (1,2%), os
Figura 1 – Diagrama esquemático dos processos de conversão energética da biomassa resíduos madeireiros da indústria de
papel e celulose (0,8%), resíduos
agrícolas e silvícolas diversos (0,6%) e a
lenha (0,2%).
Contudo, a conjuntura atual do setor
elétrico brasileiro sinaliza um novo quadro
para a biomassa no país. Entre outros
mecanismos de incentivo ao uso da
biomassa para a geração de energia
elétrica, destaca-se a criação do Programa
Nacional de Incentivo às Fontes
Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA
–, instituído pela Medida Provisória n. 14,
de 21 de dezembro de 2001. Esse
programa tem a finalidade de agregar ao
sistema elétrico brasileiro 3.300 MW de
potência, instalada a partir de fontes
alternativas renováveis, cujos prazos e
regras estão sendo definidos e
regulamentados pela Câmara de Gestão
Fonte: Elaborado a partir de MME, 1982 da Crise de Energia Elétrica – GCE – e
Figura 2 – Sistema de cogeração tipo topping Figura 3 – Sistema de cogeração tipo bottoming
Fonte: VELASQUEZ (2000) Fonte: VELASQUEZ (2000)
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utilizado para atender aos requisitos de por ano, entre faturamentos diretos e processo industrial. Esse tipo de utilização
energia térmica do processo; assim, essa indiretos, o que corresponde a 2,3% do do vapor é chamado de cogeração.
modalidade de cogeração produz energia PIB brasileiro, sendo responsável por
elétrica ou mecânica para depois aproximadamente 1 milhão de Aspectos socioeconômicos e ambientais
recuperar calor, fornecido geralmente na empregos diretos. – Geração descentralizada, próxima
forma de vapor para o processo O estado de São Paulo é também o aos pontos de carga: em particular, nas
(podendo também fornecer água quente maior produtor de açúcar e álcool do regiões Sudeste e Centro-Oeste ocorre
ou fria e ar quente ou frio). Essa é a país, produzindo cerca de 60% do total durante o período de baixa
configuração mais comum dos processos nacional. hidraulicidade, podendo complementar
de cogeração. O período de safra na região Centro- de forma eficiente a geração hidrelétrica.
As tecnologias que operam segundo o Sul acontece entre os meses de maio e A cogeração de eletricidade poderia
ciclo bottoming envolvem a recuperação novembro, enquanto na região Norte- colaborar com esse objetivo,
direta de calor residual (que Nordeste o período é de dezembro a fornecendo esta às regiões rurais
normalmente é descarregado na abril. próximas às usinas/destilarias. Com uma
atmosfera), para a produção de vapor e eletrificação rural, poderiam ser
energia mecânica ou elétrica (em turbinas Bagaço de cana oferecidas melhores condições de vida
de condensação e/ou contrapressão). O bagaço de cana é um grande àquela população, colaborando para
Nesse tipo de tecnologia, primeiro a empecilho nas usinas, pois é produzido fixar o trabalhador no campo e
energia térmica é usada no processo, e em grandes quantidades (30% da reduzindo o êxodo rural.
então a energia dos gases de exaustão é cana), ocupa grandes áreas e pode vir a – Utilização de mão-de-obra na zona
utilizada para a produção de energia sofrer combustão espontânea. Por outro rural: a geração de empregos é
elétrica ou mecânica. lado, possui grande porcentagem de particularmente importante. Na
Apenas os ciclos topping podem fibras, o que lhe concede boas agroindústria canavieira, a mão-de-obra
fornecer real economia na energia características combustíveis; por esse representa 48% do custo total de
primária, pois a maioria das aplicações motivo, juntamente como fato de ser um produção.
dos processos requer vapor de baixa combustível gratuito, o bagaço de cana é – Combustível limpo e renovável: a
pressão, convenientemente produzido queimado nas caldeiras visando à queima de energéticos oriundos da
neste ciclo. geração de vapor para o processo. cana-de-açúcar apresenta balanço de
A produção de eletricidade em um carbono nulo, pois o carbono emitido
ciclo a vapor, de forma geral, é feita por Tecnologias para geração de eletricidade pela combustão desses materiais é
meio do ciclo de Rankine tradicional com A tecnologia utilizada na indústria absorvido e fixado pela cana-de-açúcar
turbina a vapor, o que corresponde a sucroalcooleira é baseada no ciclo durante seu crescimento. No entanto, a
uma tecnologia em uso comercial há mais convencional de vapor (ciclo Rankine), queima desses combustíveis emite
de 100 anos. usando-se, em grande parte, o bagaço óxidos de nitrogênio; isto ocorre porque
de cana, in natura, com 50% de o nitrogênio faz parte da constituição
umidade, para a queima em caldeiras química dos vegetais. Esse problema
SETOR SUCROALCOOLEIRO que produzem vapor com pressão de
21 kgf/cm2 e temperatura de 300 ºC em
pode ser reduzido aplicando-se
lavadores de gases e filtros, já disponíveis
O setor sucroalcooleiro no Brasil média. Esse vapor aciona uma turbina comercialmente no país.
possui 377 usinas cadastradas no acoplada a um gerador, produzindo
Ministério da Agricultura, Pecuária e parte da energia elétrica necessária para
Abastecimento; destas, 272 unidades
estão localizadas na região Centro-Sul. O
sua operação.
O vapor gerado pela caldeira não é
SETOR DE PAPEL E CELULOSE
estado de São Paulo possui o maior usado, exclusivamente, para a geração O setor de produção de papel e
número de usinas; no total são 165 de energia elétrica, porque também é celulose se caracteriza por um processo
unidades produtoras. empregado como fluido de trabalho produtivo que apresenta uma excelente
O mercado sucroalcooleiro para equipamentos de preparação, relação entre as demandas de
movimenta em torno de R$ 12,7 bilhões moagem da cana e para utilização no eletricidade e de calor (vapor) para
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realizados testes com óleos vegetais em de combustíveis fósseis em motores de Fontes de matérias-primas para a produção
motores estacionários, sendo Rudolf ignição por compressão interna de biodiesel
Diesel um empreendedor pioneiro (motores do ciclo Diesel). • Óleos Vegetais: Todos os óleos
nesse sentido. No entanto, apesar de vegetais, enquadrados na categoria de
fazer o motor funcionar de modo Processo de produção de biodiesel óleos fixos ou triglicerídicos, podem ser
satisfatório, os primeiros testes de longa A transesterificação é um processo transformados em biodiesel: grão de
duração revelaram que a utilização de químico que consiste da reação de óleos amendoim, polpa do dendê, amêndoa
óleos vegetais apresentava alguns vegetais com um produto intermediário do coco de dendê, amêndoa do coco
inconvenientes. Além disso, com a ativo (metóxido ou etóxido), oriundo da da praia, caroço de algodão, amêndoa
redução do custo de prospecção do reação entre álcoois (metanol ou etanol) do coco de babaçu, semente de girassol,
petróleo e aumento da oferta do e uma base (hidróxido de sódio ou de baga de mamona, semente de colza,
produto, algumas frações derivadas do potássio). Os produtos dessa reação semente de maracujá, polpa de abacate,
refino do óleo cru mostraram-se química são a glicerina e uma mistura de caroço de oiticica, semente de linhaça,
bastante adequadas à utilização como ésteres etílicos ou metílicos (biodiesel). O semente de tomate, entre muitos outros
combustível em motores de combustão biodiesel tem características físico- vegetais em forma de sementes,
interna. Assim, e com o passar dos químicas muito semelhantes às do óleo amêndoas ou polpas.
anos, novos melhoramentos foram diesel e, portanto, pode ser usado em • Gorduras de Animais: Os óleos e
realizados tanto no combustível motores de combustão interna, de uso gorduras de animais possuem estruturas
derivado do petróleo quanto no motor veicular ou estacionário. químicas semelhantes as dos óleos
que o utilizava, levando ao
esquecimento a idéia da utilização direta
de óleos vegetais para esse fim. A
origem das limitações ao uso
automotivo de óleos in natura está
relacionada com certas características
intrínsecas aos óleos vegetais, tais como
alta viscosidade, composição em ácidos
graxos e presença de ácidos graxos
livres, assim como pela tendência que
apresentam à formação de gomas por
processos de oxidação e polimerização,
durante sua estocagem ou combustão.
No entanto, vários estudos
demonstraram que uma simples reação
de transesterificação poderia dirimir
muito dos problemas associados à
combustão de óleos vegetais, tais como
a baixa qualidade de ignição, ponto de
fluidez elevado e altos índices de
viscosidade e densidade específica,
gerando um biocombustível
denominado biodiesel, bastante
compatível com o óleo diesel
convencional. De modo geral, biodiesel
é definido como derivados monoalquil
éster de fontes renováveis como óleos
vegetais ou gordura animal, cuja Figura 4 – Processo de obtenção de biodiesel
utilização está associada à substituição Fonte: Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – ABIOVE
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crescimento acumulado de 42,5%, no Diante do grande volume de um tipo de energia em outro. No caso
período de 1992 a 2001. Para suprir a resíduos provenientes das explorações do biogás, a energia química contida em
demanda crescente, foi necessário agrícolas e pecuárias, assim como suas moléculas é convertida em energia
aumentar o volume importado do aqueles produzidos por matadouros, mecânica por um processo de
combustível, de 2,3 milhões de m3, em destilarias, fábricas de laticínios, combustão controlada. Essa energia
1992, para 6,6 milhões de m3, em 2001. tratamentos de esgotos domésticos e mecânica ativa um gerador o qual a
É importante destacar que, em 1992, aterros sanitários, a conversão converte em energia elétrica.
8,5% do consumo brasileiro de óleo energética do biogás se apresenta Não podemos esquecer de
diesel era suprido via importações. Em como uma solução a agregar ganho mencionar o uso da queima direta do
2001, essa participação já havia saltado ambiental e redução de custos na biogás em caldeiras para cogeração e do
para 16,5%. De acordo com a ANP, medida em que reduz o potencial surgimento de tecnologias
cada 5% de biodiesel misturado ao óleo tóxico das emissões de metano, ao remanescentes, porém atualmente não
diesel consumido no país representa mesmo tempo em que produz energia comerciais, como a da célula combustível.
uma economia de divisas em torno de elétrica. Mas as turbinas a gás e os motores de
US$ 350 milhões/ano. combustão interna do tipo “ciclo Otto”
O aproveitamento energético de óleos Processo de formação do biogás são as tecnologias mais utilizadas para
vegetais e a produção de biodiesel são O processo consiste na esse tipo de conversão energética.
também benéficos para a sociedade, decomposição do material pela ação de
pois gera postos de trabalho, bactérias (microrganismos acidogênicos Aspectos socioeconômicos e ambientais
especialmente no setor primário. Outro e metanogênicos). Trata-se de um O primeiro fator a ser analisado é o
aspecto positivo de sua utilização refere- processo simples, que ocorre da utilização de um gás combustível de
se ao aumento da oferta de espécies naturalmente com quase todos os baixo custo, uma vez que o biogás é um
oleaginosas, as quais são um importante compostos orgânicos. subproduto de um processo de
insumo para a indústria de alimentos e O tratamento e o aproveitamento digestão anaeróbica e, normalmente, é
ração animal, além de funcionarem energético de dejetos orgânicos desprezado, ora emitido diretamente na
como fonte de nitrogênio para o solo. (esterco animal, resíduos industriais, atmosfera e agravando o impacto
etc.) podem ser feitos pela digestão ambiental por meio da emissão de gases
anaeróbica em biodigestores, na qual o de efeito estufa, ora pela queima em
BIOGÁS processo é favorecido pela umidade e
aquecimento. Este é provocado pela
“flares” para minimizar o impacto
ambiental.
Até há pouco tempo, o biogás era própria ação das bactérias, mas, em Uma receita adicional pode ser
simplesmente encarado como um regiões ou épocas de frio, pode ser gerada pela venda do gás ou pelo uso
subproduto, obtido a partir da necessário calor adicional, pois a do mesmo na geração de energia
decomposição anaeróbica (sem temperatura deve ser de pelo menos elétrica. É importante salientar que, no
presença de oxigênio) de lixo urbano, 35 °C. caso do tratamento de esgoto, o uso
resíduos animais e de lodo proveniente Em termos energéticos, o produto do biogás para geração de energia
de estações de tratamento de efluentes final é o biogás, composto, elétrica possibilita a redução do
domésticos. No entanto, o aquecimento essencialmente, por metano (50% a consumo de energia, enquanto, no
da economia nos últimos anos e a 75%) e dióxido de carbono. Seu caso de um aterro sanitário, possibilita a
subida acentuada do preço dos conteúdo energético gira em torno de venda da energia elétrica gerada à rede.
combustíveis convencionais têm 5.500 kcal por metro cúbico. A emissão do biogás para a
encorajado as investigações na atmosfera provoca impactos negativos
produção de energia, a partir de novas Principais tecnologias de conversão do ao meio ambiente e à sociedade, pois
fontes alternativas e economicamente biogás contribui para o agravamento do efeito
atrativas, tentando, sempre que possível, Existem diversas tecnologias para estufa pela emissão de metano (CH4)
criar formas de produção energética que efetuar a conversão energética do na atmosfera (o impacto do metano é
possibilitem a redução do uso dos biogás. Entende-se por conversão 24 vezes maior que o do dióxido de
recursos naturais esgotáveis. energética o processo que transforma carbono (CO2), provocando odores
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períodos de construção, no caso das
termoelétricas a óleo, de três anos
aspectos críticos com relação ao
processo de conversão. Praticamente o
BIBLIOGRAFIA
somente. Foi considerada a possibilidade único efluente a requerer controle ATLAS de Energia Elétrica do Brasil. Brasília, DF:
de operação de termoelétricas a bagaço específico em uma termoelétrica é Agência Nacional de Energia Elétrica. 2002.
de cana com operação em 11 meses/ material particulado dos gases de 153 p.
ano, ampliando-se a discussão sobre a combustão. O uso de precipitadores ou COELHO, S. T. Mecanismos para
possibilidade de trabalhar não só com filtros de mangas leva o nível de implementação da cogeração de eletricidade
bagaço excedente, mas também com a emissão desse poluente a valores a partir de biomassa. Um modelo para o
palha da cana-de-açúcar, resíduos aceitáveis pelas legislações mais estado de São Paulo. 1999. 278 p. Tese
(Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade
provenientes do processo de fabricação rigorosas.
de São Paulo, São Paulo, 1999.
de papel e celulose, e até mesmo O assunto mostra outra face quando
bagaço de laranja. se aborda o lado da obtenção do COELHO, S. T; SILVA, O. C.; CONSÍGLIO, M.;
Energeticamente, as vantagens para o combustível. É inegável que para PISETTA, M.; MONTEIRO, M. B. C. A.
Panorama do potencial de biomassa no Brasil
país são devidamente atraentes. algumas situações o aproveitamento de
– Projeto BRA/00/029 – Capacitação do setor
Lançando mão de uso de recursos biomassa pode ser extremamente
elétrico brasileiro em relação à mudança
locais e renováveis, diminuindo-se a benéfico, como no caso de resíduos global do clima. Brasília, DF: ANEEL – Agência
pressão futura sobre o balanço de urbanos agrícolas e industriais (lixo, Nacional de Energia Elétrica, 2002. 80 p.
pagamentos, com uma importação de esgoto), evitando problemas com a
COSTA, D. F. Biomassa como fonte de
petróleo compatível às receitas das disposição final.
energia, conservação e utilização. 2002. 38 p.
exportações e a despesa das Finalmente, entendemos que o uso Monografia (Especialização). Instituto de
importações totais, além de da biomassa na geração de energia Energia / Escola Politécnica – Universidade de
internacionalizar a geração de benefícios. elétrica constitui-se em uma das opções São Paulo, São Paulo, 2002.
Afora isso, a remuneração das usinas mais viáveis para a participação do
PARENTE, E. J. S. Biodiesel: Uma aventura
sucroalcooleiras, pelas noções de custo capital privado, no atendimento da tecnológica num país engraçado. Fortaleza:
evitado, gera nova receita aos parcela do mercado de eletricidade no Tecbio Tecnologias Bioenergéticas Ltda, 2003.
produtores e transfere ao setor privado, Brasil. 66 p.
que já produz álcool combustível, Algumas questões ficam no ar após a
VELÁZQUEZ, S. M. S. G. A cogeração de
também a responsabilidade pela geração realização do trabalho: energia no segmento de papel e celulose:
de energia, evitando a construção de 1 – Como a prática da biomassa, tão Contribuição à matriz energética do Brasil.
novas centrais térmicas pelas antiga e ambientalmente correta, pôde 2000. 205 p. Dissertação (Mestrado) – Escola
concessionárias de energia elétrica. ser esquecida pela humanidade? Politécnica, Universidade de São Paulo, São
Como autoprodutores, essas empresas 2 – Por que o combustível à base de Paulo, 2000.
também economizariam na construção cana-de-açúcar (o álcool), nacional e de Visita à Unidade Fabril da Klabin Monte Alegre
de redes de transmissão de energia, tamanho valor de interdependência – Telêmaco Borba/PR.
com a eliminação das linhas de energética, não se perpetuou com
Sites:
transmissão, pois o abastecimento seria sucesso? www.cenbio.org.br
obtido da própria fonte. 3 – O que se pode fazer para que a www.aneel.org.br
Quanto à questão ambiental, a implementação desses programas se www.iee.usp.br
energia da biomassa não apresenta tornem ações definitivas e permanentes? www.unica.com.br