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MIEB – 2007/08
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1. INTRODUÇÃO
Sempre que uma fonte potencial de água é considerada, é obrigatório efectuar análises físico-
químicas e bacteriológicas de amostras representativas dessa água. Dessa forma, obtém-se informação
sobre as suas características (incluindo a potabilidade), que será preciosa para a futura exploração, sem
esquecer de entrar em conta com os eventuais efeitos sazonais.
A vigilância legal da qualidade da água das várias utilizações possíveis (abastecimento, produção,
recreio, rega, efluentes industriais e urbanos) baseia-se na execução periódica de análises, de acordo com
a classificação das águas, e com a frequência prevista na legislação aplicável (Decreto-lei n.o 236/98 de 1
de Agosto).
Para as indústrias, a caracterização quantitativa e qualitativa das águas residuais tem por
objectivo assegurar o respeito dos limites legais de descarga, minimizar os gastos e optimizar a produção,
de preferência com efeito poluente mínimo. Também serve para definir os sistemas de tratamento que
tiver de implementar. Para isso também é necessário: conhecer os caudais, os picos de concentração e
carga (os sistemas de tratamento devem ser dimensionados para as cargas mais elevadas), a
variabilidade e os limites legais de emissão, depois de identificados todos os parâmetros de interesse;
considerar alternativas menos poluentes e processos de reciclagem e recuperação; remover substâncias
indesejáveis e, finalmente, projectar a unidade de tratamento.
As análises físico-químicas e bacteriológicas são efectuadas de forma rotineira em laboratórios
estatais e privados. Apesar de os métodos analíticos poderem variar entre laboratórios, a legislação
vigente informa quais são os métodos de referência autorizados. As análises “standard” podem ser
enunciadas pela própria denominação, sem se fazer uma descrição do método, assumindo-se que o
procedimento é único.
As pesquisas em campo são muito facilitadas pelo uso de conjuntos portáteis de análise. Já
existem disponíveis para medição da condutividade eléctrica, pH, vários iões (e. g., CO32–, HCO3–, Cl–, SO4–,
NO3–, Ca2+, Mg2+) e coliformes totais e fecais.
É muitas vezes necessário assumir uma solução de compromisso – custos vs precisão – no
momento de adquirir material analítico. Usualmente os aparelhos mais precisos são os mais caros e vice-
versa. O tempo de análise também é importante, tendo em conta os custos elevados da mão-de-obra. As
análises em tempo real, ou a monitorização contínua (e. g., pH, temperatura, oxigénio dissolvido,
condutividade), são outra forma de fazer análises, em contínuo, extremamente importante para o controlo
de processos.
representativa de toda a massa de água donde provém. Os volumes recolhidos devem ser proporcionais
aos caudais. Colher 1 L ou 2 L dum volume de muitos metros cúbicos implica sempre que haja uma
incerteza associada ao processo de amostragem.
Amostragem manual
Deve ser adoptada quando se quer uma amostra pontual (discreta). Quando se pretendem
amostras com intervalos curtos (e. g., horária, de duas em duas horas) a amostragem manual é pouco
interessante. Tecnicamente, este tipo de amostragem pode ser executado das seguintes formas:
– Um balde com corda que se mergulha, transferindo depois o conteúdo para os recipientes ou
introdução directa dos recipientes na água. Neste último caso, o bocal é voltado para a corrente e
mergulhado até um terço da massa líquida, ou num mínimo de 30 cm abaixo da superfície. Os
recipientes devem ser preenchidos completamente.
– Amostradores especiais para determinação de gases dissolvidos.
Documento adaptado das aulas de Elementos de Engenharia do Ambiente – João Peixoto
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– Frascos de mergulho: usam-se para análises microbiológicas porque permitem abrir e rolhar o
frasco debaixo da água, evitando o contacto com o ar.
Amostragem automática
Os amostradores automáticos são fundamentais quando a amostragem é muito frequente e/ou
quando a composição da água é muito variável. Cometem menos erros, têm menores custos, e são mais
regulares. Há amostradores automáticos programáveis para recolher amostras (discretas ou contínuas),
em recipientes individuais ou misturadas. Os sistemas de controlo podem comandar a recolha de
amostras quando tem lugar um determinado acontecimento, como atingir-se um volume escoado ou
verificar-se um registo mínimo ou máximo dum parâmetro (temperatura, pH, oxigénio dissolvido, etc.).
Funcionam a electricidade e alguns já incluem processos de refrigeração das amostras.
⎛t⋅s ⎞
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N ≥⎜ x ⎟ (eq. AM.1)
⎝ u ⎠
Tratando-se de águas com características pouco variáveis, as relações CQO/COT/CBO5 facilitam
e simplificam os procedimentos. Tendo em conta que a CQO se determina em cerca de 3 h, o COT em
apenas alguns minutos, e a CBO5 se arrasta por 5 d (e varia com o inóculo, a diluição, o pH, a
temperatura e a presença de tóxicos), é evidente que é o COT a solução de eleição. Determina-se o COT e
estimam-se os valores da CQO e CBO5 pelas relações pouco variáveis entre eles.
Congelação
A congelação a –20 oC deve ser feita até 6 h após a colheita. Com este método impede-se
praticamente toda a actividade química e biológica. Por outro lado, o forte arrefecimento tem o
inconveniente de favorecer a formação de precipitados.
Deve-se usar frascos (garrafas) de plástico e não encher completamente.
Refrigeração
A refrigeração a 4 oC apenas retarda todos os fenómenos. Por isso a análise deve ser efectuada,
de preferência dentro das 6 h ou, o mais tardar, 24 h após a colheita. Sendo feita mais tarde, ter-se-á de
aceitar que as contagens de bactérias serão mais baixas do que as que existem na água original.
Preservação química
A alteração do pH para valores muito ácidos preserva os catiões instáveis, impedindo a sua
precipitação/floculação ou adsorção na superfície do recipiente. Simultaneamente, pH muito ácido ou
muito alcalino impede a actividade biológica. O uso de biocidas (e. g., HgCl2), mais ou menos dirigidos a
um certo tipo de organismos (e. g., antibióticos e fungicidas), também impede o crescimento desses
organismos.
A acidificação até pH ≤ 2 faz-se, usualmente, com H2SO4, HCl ou HNO3 concentrados.
A alcalinização até pH ≥ 10 pode provocar a precipitação de hidróxidos metálicos, bem como a
floculação de outros constituintes, mas facilita a fixação de componentes voláteis como o HCN e o H2S.
2. SEGURANÇA NO LABORATÓRIO
Nunca esquecer que o laboratório é um local eventualmente perigoso, e que as nossas acções
menos reflectidas podem trazer perigo acrescido para nós mesmos e para os colegas.
No laboratório, usar sempre bata de protecção, não comer, não fumar, não pousar objectos
pessoais nas bancadas e não ter comportamentos desleixados. Não esquecer que podem ser
contaminados por infecções e/ou parasitoses veiculadas pela água, se menosprezarem os cuidados
básicos de higiene na manipulação das amostras.
Com compostos voláteis e/ou tóxicos, usar luvas, máscara e óculos de protecção. Usar a hotte
sempre que indicado. Não aproximar chamas de material ou reagentes inflamáveis.
Ler as especificações sobre a perigosidade dos reagentes.