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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

FACULADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA


CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

RELATÓRIO DE LABORATÓRIO DE MATERIAIS

Disciplina: MEC 008- Laboratório de Materiais


Acadêmicos: Douglas Alves e Jean Becker
Professor: Luiz Airton Consalter
Data: 23/06/2009
1- Introdução/ objetivo

Este trabalho tem o objetivo de avaliar o efeito de diferentes velocidades


de resfriamento sobre a transformação da austenita nas amostras de aços ABNT
1020, ABNT 1045, ABNT 8640 e VC131*, que serão aquecidos em torno de 50
a 80 ºC acima da temperatura de austenitização (727 ºC), durante quinze
minutos e submetidos a diferentes velocidades de resfriamento, entre elas:
têmpera em água, salmoura (água e sais), óleo, ar e também através do ensaio de
temperabilidade Jominy. Após isso as amostras serão lixadas e submetidas ao
teste de dureza superficial em um durômetro, e também será feita a análise
metalográfica de outras amostras buscando avaliar e identificar suas
microestruturas.
* (VC131 será aquecido por volta de 180 ºC acima da temperatura de austenitização,
por causa de seus elementos de liga que deslocam a curva de inicio da formação da austenita para
cima.)

2 – Materiais

Os seguintes tipos de aços foram estudados: aços do tipo ABNT 8640, ABNT
1020, ABNT 1045, aço liga do tipo VC 131, ferro fundido branco, nodular, cinzento e
maleável, cujas composições químicas são apresentadas na tabela 1.

Aço C Mn S P Cr Ni Si W V Mo
0,38 0,4 0,4 0,15 0,15
ABNT 8640 0,43 0,75-1,00 0,04 0,03 0,6 0,7 0,35 - - 0,25
0,18
ABNT 1020 0,23 0,3-0,6 0,05 0,03 - - - - - -
ABNT 1045 0,4 - 0,5 0,6-0,9 0,05 0,03 - - - - - -
VC131 2,1 0,3 - - 11,5 - - 0,7 0,2 -
FOFO 0,06 -
BRANCO 1,8 - 3,6 0,25-0,8 0,06-0,20 0,20 - - 0,5-1,9 - - -
FOFO
NODULAR 3,0 - 4,0 0,10-1,00 0,01-0,03 0,01-0,10 - - 1,8-2,8 - - -
FOFO
MALEÁVEL 2,2 - 2,9 0,15-1,20 0,02-0,20 0,02-0,20 - - 0,9-1,9 - - -
FOFO
CINZENTO 2,5 - 4,0 0,20-1,00 0,02-0,25 0,02-1,00 - - 1,0-3,0 - - -
Tabela 1 – Composição química dos aços (% em peso).
2.1 – Equipamentos

Para o experimento em questão foram utilizados os equipamentos abaixo:


- Aparelho para ensaio de temperabilidade Jominy;
- Durômetro; - Forno tipo mufla;
- Lixas d’água com granulometria tipo 180 a 1000; - Microscópio Óptico;
- Luvas; - Politriz;
- Óculos de proteção; - Relógio Comparador;
- Avental de couro; - Alicate.

2.2 – Métodos

Para o procedimento: efeito da velocidade sobre a transformação da


austenita.
Foram recebidas amostras de aço 1020 e 1045 e colocadas no forno tipo mufla a
uma temperatura de 850°C acima da linha de austenitização e deixadas por
aproximadamente 15 minutos. Passado esse tempo foram retiradas as amostras e
umas a uma foram resfriadas com sais, água, óleo, ao ar. Após atingirem a
temperatura ambiente, foram realizadas análises visuais. As amostras foram então,
limpas através do uso de lixas d’água de granulometria 180 até 1000,
gradativamente da menor ate a maior granulação, sendo retirada assim a camada de
óxidos das amostras nas superfícies onde seriam realizadas as medições de dureza
com ponteira piramidal de diamante, para os aços resfriados na água, sais e óleo, e
ponteira esférica com aço endurecido para os aços resfriados ao ar.

Para o procedimento: têmpera – efeito da composição química sobre a


transformação da austenita.
Foram recebidas quatro amostras de aço ABNT 8640 e quatro amostras de aço
VC 131 para a realização do procedimento. Após, as oito amostras foram colocadas no
forno para atingirem uma temperatura pouco acima da de austenitização (800ºC) e no
caso do aço VC131 o aquecimento foi de 900 ºC - devido à sua composição química
possuir mais elementos de liga -, durante quinze minutos. Depois disso realizaram-se
quatro procedimentos de resfriamento para os aços, partindo do resfriamento em água,
em salmoura, em óleo e ao ar livre. As amostras foram então limpas através do uso de
lixas d'água de granulométrica 180 à 1000, gradativamente da menor ate a maior
granulação, sendo retirada assim a camada de óxidos das amostras nas superfícies onde
seriam realizadas as medições de dureza. Posteriormente foram realizadas três medições
de dureza com ponteira piramidal de diamante com carga de 10Kg em cada uma das
amostras, tendo sido estas realizadas com durômetro de bancada.

Para o procedimento: temperabilidade – ensaio Jominy.


Foram recebidos três corpos de prova padronizados com uma polegada de
diâmetro por quatro polegadas de comprimento para serem aquecidos até a temperatura
de austenitização (850ºC) e submetidos ao resfriamento por um jato de água pelo
dispositivo de resfriamento Jominy, sob condições controladas de quantidade, pressão e
temperatura contra uma de suas extremidades, conforme representado na figura 1. A
temperabilidade foi avaliada através da análise da profundidade da camada temperada
em uma escala de 1/16 avos de polegada até a sexta medição e 2/16 avos de polegada
até a décima segunda medição, com ponteira de diamante cônica, que se dá pela
distância até o ponto onde incide o jato d’água. Verificou-se a distância da extremidade
esfriada até a zona de meia dureza, percebendo-se que quanto mais longe da
extremidade resfriada menor é a dureza.

Figura 1 – Aparelho para ensaio de temperabilidade Jominy.

Para o procedimento: análise micrográfica.


Foram recebidas amostras de aço carbono já tratadas termicamente e ferros
fundidos com e sem embuti mentos para serem lixadas até terem sua superfície lisa.
Após foram polidas em uma politriz na qual adicionou-se um composto de alumina
líquida para ter melhor acabamento, obtendo como resultado uma superfície espelhada.
As amostras foram levadas ao microscópio para análise das suas microestruturas. Após,
as amostras foram atacadas com um reativo de Nital 2% para uma melhor análise micro
estrutural, e em seguida foram novamente observadas no microscópio com uma
resolução de 100x até 1000x para comparar os efeitos ocorridos na microestrutura após
os ataques.
3 – Resultados

A tabela 2 apresenta os resultados de dureza obtidos para as amostras dos dois


diferentes tipos de aço ABNT 8640 e VC131 submetidos as diferentes velocidades de
resfriamento.

Aço Meio de Resfriamento Valores Vickers Média de Dureza

(HV) (HV)
Como fornecido 215 / 205 / 210 210,00
Água 500 / 450 / 460 470,00
ABNT 8640 Água+Sal 440 / 430 / 460 443,33
Óleo 410 / 400 / 410 406,66
Ar 245 / 235 / 217 232,33
Como fornecido 200 / 205 / 210 205,00
Água 660 / 640 / 640 650,00
VC 131 Água+Sal 660 / 660 / 660 660,00
Óleo 660 / 660 / 660 660,00
Ar 600 / 640 / 600 613,33
Como fornecido 250 / 250 / 245 248,33
Água 560 / 550 / 550 553,33
ABNT 1070 Água+Sal 580 / 560 / 580 546,66
Óleo 530 / 580 / 530 546,66
Ar 245 / 245 / 240 243,33

Tabela 2 – Resultados de dureza obtida nos ensaios.

A tabela 3 apresenta os resultados de dureza obtidos para as amostras dos dois


diferentes tipos de aços ABNT 1020 e ABNT 1045 submetidos as diferentes
velocidades.

Aço Meio de resfriamento Valores de Média de dureza


resfriamentos (escala HV)
ABNT 1020 Normalizada (ar) 138 / 133 / 130 133,66
Tempera em óleo 185 / 200 / 200 195,00
Tempera em água 300 / 260 / 260 273,33
Tempera em sais 272 / 280 / 260 270,66
ABNT 1045 Normalizada (ar) 190 / 210 / 205 201,66
Tempera em óleo 470 / 481 475,50
Tempera em água 600 / 550 / 550 566,66
Tempera em sais 580 / 580 / 520 560,00

Tabela 3 – Resultados de dureza das amostras.


A tabela 4 apresenta os resultados de dureza obtidos para as amostras dos
diferentes tipos de aço ABNT 8640, ABNT 1045 e ABNT 1020 submetidas ao
resfriamento pelo método Jominy.(Ver gráfico 1).

Material 1,58 3,2 4,75 6,32 7,9 9,5 12,64 15,8 18,96 22,12 25,28 28,44
(mm)
ABNT 250 235 230 200 180 165 160 155 155 145 135 135
1020
VC 131 680 680 640 620 620 600 580 580 560 560 550 520

ABNT 550 530 520 550 500 490 440 375 295 280 270 255
8640
ABNT 620 580 480 272,5 245 240 235 225 220 218 - -
1045

Tabela 4 – Resultados de dureza obtida nos ensaios Jominy, transformados para Vickers já
com suas devidas correções.

No gráfico abaixo se pode analisar melhor a profundidade de têmpera de cada


material.

Gráfico 1: O gráfico apresenta dados referente à variação na profundidade de têmpera


nos aços temperados pelo método Jominy.

Análises Micrográficas
Como se pode ver na figura abaixo, este ferro fundido cinzento apresenta veios
de grafita do tipo E6.

Figura 2 - Ferro fundido cinzento antes do ataque com nital (aumento 200x).

Analisando as demais regiões da amostra pôde-se verificar uma trinca devido ao


possível tipo de grafita E, que favorece o caminho para trinca.

Figura 3 – Ferro fundido cinzento antes do ataque, com uma pequena trinca (aumento de
100x).
Ferro fundido cinzento após ataque com Nital. Notam-se os constituintes ferrita
(mais claro), perlita, e grafita (em forma de veios).

Figura 4 – Ferro fundido cinzento após ataque com Nital (aumento 1000x).

Aço ABNT 1045 normalizado antes do ataque com Nital.

Figura 5 – Aço ABNT 1045 antes do ataque com Nital (aumento 100x).
Aço ABNT 1045 normalizado após ataque com Nital. Nota-se aos micro
constituintes perlita e ferrita.

Figura 5 – Aço ABNT 1045 normalizado após ataque com Nital (aumento 100x)

4 – Discussão
De acordo com a literatura (Chiaverini, Vicente e Colpaert, Hubertus), depois de
atingida a temperatura de austenitização tem-se uma total dissolução do carboneto de
ferro no ferro gama: essa austenitização é o ponto de partida para as transformações
posteriores desejadas, as quais ocorrerão em função da velocidade de resfriamento
adotada.
Analisando os resultados de dureza da tabela 2 para o aço VC 131 e ABNT 8640
foi possível observar primeiramente que:
O aço VC 131 resfriado drasticamente torna-se mais duro, consequentemente
mais frágil, devido a essa característica é muito utilizado na indústria como aço
ferramenta. Além disso, percebe-se que no mesmo pode-se obter uma dureza desejável
até mesmo resfriado ao ar. Já o aço ABNT 8640 apresentou níveis muito inferiores ao
aço VC 131, o que lhe confere maior ductilidade e maior tenacidade sendo menos frágil
que o aço VC 131.
Analisando a tabela 3, sobre os aspectos de dureza dos aços ABNT 1020 e
ABNT 1045, pode-se observar que o aço ABNT 1045 sempre obteve uma maior dureza
que o aço ABNT 1020 em todos os meios de resfriamento, sendo aplicados na indústria
de fabricação de eixos, bases para matrizes e na indústria automobilística.
Analisando a tabela 4 verificou-se que quanto mais longe da extremidade
resfriada menor é a dureza, sendo que a partir da zona de meia dureza os índices se
tornam constantes, com isso na extremidade resfriada se concentra a maior dureza no
material.
Os aços compostos com vários elementos de liga deslocam as curvas T.T.T. para
a direita, aumentando o tempo para a transformação e afetam a parte isotérmica dos
diagramas de transformação como também a reação de formação da martensita.
Em relação ao tamanho de grão da austenita verifica-se que quanto maior o
tamanho de grão, mais atrasada será a formação de perlita que se formará nos contornos
de grão da austenita.
Analisando as micrografias, percebe-se fato importante em relação ao ferro
fundido cinzento. Onde o qual apresenta tipo de grafita E, que favorece o aparecimento
de trincas, devido suas formas alinhadas. Através de análises pôde-se verificar que o
mesmo continha uma trinca, confirmando dados da literatura.

5 – Conclusão

Concluiu-se que quanto maior for a velocidade de resfriamento maior será a


dureza do material, devido a formação de uma estrutura puramente martensítica, quando
a velocidade de resfriamento é lenta a estrutura transforma-se basicamente em perlita,
velocidades de resfriamento muito altas podem ocasionar conseqüências sérias, como
tensões internas excessivas, empenamento das peças e até mesmo aparecimento de
trincas. Assim, o conhecimento da temperabilidade dos aços é essencial, porque o mais
importante objetivo do tratamento térmico do aço é obter a maior dureza e a mais alta
tenacidade, em condições controladas de velocidade de esfriamento, a uma
profundidade determinada ou através de toda a sua secção e de modo a reduzir ao
mínimo as tensões de esfriamento.

6 – Referências Bibliográficas

1- Chiaverini, V. Aços e Ferros Fundidos.


2- Colpaert, U. Metalografia dos produtos Siderúrgicos.
3- ASTM; ASTM Handbook – Vol. 9; ASTM; 1995.
Adendum

Efeito da Velocidade de Resfriamento sobre a transformação da austenita.

1- Qual o principal efeito do aumento da velocidade de resfriamento sobre a


microestrutura do aço?
R: Se o aço for esfriado rapidamente, não haverá tempo suficiente para uma
completa movimentação atômica e as reações de transformação da austenita se
modificam, podendo mesmo deixar de se formar os constituintes normais, como a
perlita. E surgem novos constituintes de grande importância para a aplicação dos
aços. A estrutura fica dura e quebradiça (aço duro e frágil).

2- Quais os cuidados que deve se tomar durante o aquecimento das amostras?


R: Deve-se aquecer no máximo a 50°C acima da linha de transformação da
austenita, não aquecer demais a amostra evita o crescimento de grão, oxidação e
também a descarbonetação do material.

3- Quais os critérios para a escolha da melhor temperatura de austenitização?


R: Quanto mais longo o tempo à temperatura considerada de austenitização, tanto
mais completa a dissolução de carboneto de ferro ou elementos de liga no ferro
gama, porém resulta em um tamanho de grão maior, o que é prejudicial. Diante
disso é preferível uma temperatura ligeiramente mais elevada, do que um longo
tempo a uma temperatura inferior, devido a maior mobilidade atômica.
Resumidamente, o tempo deve ser pelo menos o suficiente a se obter uma
uniformização através de toda a seção da peça.

4- Quais os inconvenientes de se utilizar uma temperatura muito alta ou um tempo


de permanência excessivo no aquecimento?
R: Pode ocorrer a oxidação, descarbonetação e também o crescimento de grão na
peça.

Análise micrográfica:

1- Qual a microestrutura esperada para os aços hipoeutetóides recozidos?


R: Perlita grosseira

2- Qual a microestrutura esperada para os aços hipoeutetóides normalizados?


R: Ferrita e perlita fina ou cementita e perlita fina.

3- Qual a microestrutura esperada para os aços hipoeutetóides temperados em água?


R: Martensita, devido a queda brusca de temperatura.

4- Qual a microestrutura esperada para os aços hipoeutetóides temperados em óleo?


R: Perlita mais Martensita, devido ao resfriamento mais brando.

5- Qual a microestrutura esperada para os ferros fundidos brancos?


R: Perlita e Ledeburita.

6- Qual a microestrutura esperada para os ferros fundidos modulares?R: Nódulos de


grafita esferoidal.
7- Qual a microestrutura esperada para os ferros fundidos cinzentos?
R: A microestrutura predominante é a presença de carbono livre ou grafita lamelar
(quanto maior a quantidade mais mole e menos resistente será o material).

8- Qual a microestrutura esperada para os ferros fundidos maleáveis?


R: Grafita na forma de nódulos e ferrita.

Tempera – Efeito da Composição Química sobre a transformação da austenita.


1- Qual o principal efeito do aumento do teor de carbono sobre a posição das
curvas T.T.T?
R: As curvas se deslocam para a direita, ou seja, retarda-se o processo de
transformação da austenita.

2- Qual a tendência de distribuição dos elementos de liga no aço VC131?


R: Dissolver-se na ferrita, formar carbonetos, formar inclusões não metálicas.

3- Qual é o critério para a escolha da temperatura de austenitização dos aços –


carbono hipoeutetóides?
R: Admite-se um aquecimento máximo de 50ºC acima da linha A3, pois com um
aquecimento em temperatura alta e menos tempo o que pode ocorrer é uma certa
quantidade de carbonetos não dissolvidos, o que é menos prejudicial que o
crescimento de grão da austenita.

4- Qual é o critério para a escolha da temperatura de austenitização dos aços –


carbono hipereutetóides?
R: É realizado um aquecimento acima da linha A1 não se devendo atingir ou
ultrapassar a linha ACM, porque no resfriamento lento posterior forma-se nos
contornos de grão da austenita um invólucro contínuo e frágil de carbonetos, o que
iria conferir excessiva fragilidade aos aços.

5- Por quê a temperatura de austenitização do aço VC131 é maior que a dos aços
carbono?
R: Porque o aço VC131 possui mais elementos de liga, ou seja, quanto mais
elementos, mais lento o processo de austenitização.

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