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INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS — MG

DIRETORIA DE BIODIVERSIDADE
GERÊNCIA DE PROJETOS E PESQUISAS

MG.BIOTA Belo Horizonte v.2, n.5 dez./jan. 2009/2010


Distribuição, impactos ambientais e conservação da fauna de peixes
da bacia do rio Doce

Fábio Vieira1

Resumo
O rio Doce drena os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e representa a maior bacia de um conjunto
denominado genericamente como “leste brasileiro”. Está inserido no bioma Mata Atlântica, formação vegetal
que foi quase toda suprimida no decorrer das últimas décadas. Os registros indicaram a ocorrência de 71
espécies de peixes nativos (onze ameaçadas de extinção) e 28 exóticas. Impactos ambientais diversos são
observados ao longo de toda a drenagem e no conjunto respondem pela perda crescente de qualidade
ambiental para a ictiofauna. Ações para conservação são bastante tímidas em toda a bacia e demonstram
que a diversidade de peixes continuará a ser perdida progressivamente em médio/longo prazo, demandan-
do ações urgentes para estabilização e reversão do processo.

Palavras-chave: espécies ameaçadas, peixes exóticos, barramentos, introdução de espécies.

Abstract
The Doce river drains of Minas Gerais and Espírito Santo states and it represents the largest basin of a group
denominated as “Eastern Brazilian”. It belongs to the Atlantic rain forest bioma, vegetation formation that was
almost all suppressed during the last decades. Records indicated the occurrence of 71 native fish species
(eleven threatened of extinction) and 28 exotic species. Several environmental impacts can be observed
throughout the entire drainage and these impacts respond for the increasing loss of environmental quality for
the ichthyofauna. Actions for conservation are quite shy in the whole basin and they demonstrate that fish
diversity will continue decreasing in a medium/long term perspective, demanding urgent actions to stabilize
and reverse such process.

Key words: threatened species, exotic fishes, impoundments, species introductions.

1
Biólogo, Doutor em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais, Caixa Postal -
4011, Belo Horizonte, MG, 31.250-970, Fundação Biodiversitas, riodocemg@gmail.com

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Introdução

As raízes da conservação têm sido his- Atlântico, os quais se encontram agrupados


toricamente fundamentadas em argumen- genericamente como “leste brasileiro”
tos morais sobre o valor intrínseco da natu- (GÉRY, 1969; MENEZES, 1972; RINGUE-
reza, além dos direitos e necessidades das LET, 1975). Embora tratadas em conjunto,
gerações futuras para desfrutar dos recur- essas drenagens possuem características
sos oferecidos (VAN DIKE, 2008). O autor diferenciadas quanto à composição da
aponta que a Biologia da Conservação fauna de peixes e o grau de endemismo por
representa um produto deste processo his- bacia (BIZERRIL, 1994).
tórico e dos esforços contínuos de conser- Mais recentemente Abell et al. (2008),
vação, devendo ser apresentado e com- incluiu a série de drenagens do leste do
preendido como uma unidade de fatos, teo- Brasil na ecoregião no. 238 “Northeastern
rias e valores ligados entre si por um objeti- Mata Atlantica”. Esse trabalho cobriu vir-
vo comum. tualmente todos os ambientes de água
A evidência disponível sugere fortemen- doce do mundo e associado com dados
te que a abundância e diversidade de pei- sobre as espécies, disponibilizou uma ferra-
xes estão mundialmente em declínio, ao menta que tem como objetivo ser utilizada
mesmo tempo em que as populações em conservação a nível regional e mundial.
humanas e atividades destrutivas estão Para a América do Sul, a definição das eco-
aumentando. Sob este cenário, a conserva- regiões foi baseada inicialmente em provín-
ção dos peixes é um campo de interesse cias ictiogeográficas reconhecidas histori-
crescente para um público surpreendente- camente e exemplificadas em Géry (1969)
mente elevado (HELFMAN, 2007). e Ringuelet (1975). Embora o mapa esteja
Este trabalho constitui uma síntese dos disponível, será necessário maior detalha-
estudos conduzidos com a ictiofauna do rio mento sobre cada bacia nas ecoregiões
Doce, abordando de forma sucinta aspec- reconhecidas, incluindo o rio Doce.
tos da ocorrência, distribuição, impactos e O rio Doce nasce em Minas Gerais, no
conservação das espécies. Foram usadas município de Ressaquinha a 1220 m de alti-
informações da literatura, estudos de tude, onde os índices pluviométricos variam
impacto ambiental e dados inéditos de tra- de 1.400 a 1.500 mm (FIG. 1). Entretanto,
esses valores diminuem na parte centro-
balhos tanto em Minas Gerais como no
norte da bacia, voltando a se elevar na
Espírito Santo.
região litorânea.
Em Minas Gerais seus principais
A bacia hidrográfica do rio Doce afluentes pela margem direita são os rios
Xopotó, Casca, Matipó, Cuieté e
O sudeste brasileiro possui diversos Manhuaçu, enquanto pela margem esquer-
rios que drenam diretamente para o oceano da são os rios Piracicaba, Santo Antônio,

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Corrente Grande e Suaçuí Grande Oceano Atlântico, perto da cidade de Nova
(CETEC, 1983). No Espírito Santo são os Regência (ES), o rio Doce percorreu uma
rios Pancas, Mutum e São João Grande distância de 853 km, drenando uma bacia
(margem esquerda) e Guandu, Santa hidrográfica de 83.431 km2 (71.852 km2 em
Joana e Santa Maria do rio Doce (margem Minas Gerais e 11.579 km2 no Espírito
direita) (MORAES, 1974). Até desaguar no Santo) (ANA, 2001).

FIGURA 1 - Bacia do rio Doce com destaque para os principais afluentes, MG/ES.

Apesar de algumas diferenças nas deli- Foto: Fábio Vieira

mitações, em diversos estudos o rio Doce


tem sido subdividido em três seções: alto,
médio e baixo curso. A forma mais rotineira-
mente apresentada delimita como alto
curso a drenagem desde as cabeceiras até
a foz do rio Matipó, o médio desde a con-
fluência desse rio até a divisa de MG/ES e
o baixo da divisa dos estados até a foz. Nas
Figuras 2 a 6 são mostradas algumas
características de ambientes aquáticos da
FIGURA 2 - Rio Casca evidenciando o leito rochoso e corredei-
bacia do rio Doce. ras, ambientes comuns nos trechos mais altos das drenagens.

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Foto: Fábio Vieira
FIGURA 3 - Rio Santo Antônio evidenciando águas de coloração escura, característica observada somente nessa drenagem.

Foto: Fábio Vieira

FIGURA 4 - Lagoa Grande, margem direita do rio Doce, um típico ambiente lacustre do médio rio Doce.

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Foto: Fábio Vieira
FIGURA 5 - Rio Doce próximo a Aimorés, MG.

conhecimento relativamente amplo sobre a


Foto: Fábio Vieira
composição das espécies de peixes da
bacia. As informações geradas nesses estu-
dos, aliadas àquelas da literatura, foram pri-
mordiais para uma estimativa inicial do
número de espécies de peixes nativos (64
sp.) que existe na porção mineira da bacia
do rio Doce e fundamentaram a seleção de
áreas prioritárias para conservação da ictio-
fauna (DRUMMOND et al., 2005).
Considerando que o baixo rio Doce foi
ainda pouco estudado quanto à composi-
FIGURA 6 - Rio Doce em trecho com margens rochosas, Baixo ção da sua ictiofauna, aliado a recentes
Guandu, ES.
descrições de novas espécies (PEREIRA et
al., 2007; OTTONI & COSTA, 2008) e exis-
Ictiofauna da bacia do rio Doce tência de várias ainda por serem descritas
(obs. pes.), pode-se inferir que o número
O conhecimento acerca da composição total na bacia deverá suplantar 80 espécies
e distribuição da ictiofauna para a bacia não nativas (Listagem tentativa da ictiofauna do
se encontra adequadamente sistematizado. rio Doce é apresentada na TAB. 1). Essa
A maioria dos estudos disponíveis na litera-
estimativa para o total se relaciona somen-
tura se concentrou no seu curso médio, prin-
te a espécies exclusivamente de água
cipalmente no sistema de lagos existente
doce, pois se incluídas aquelas de origem
dentro do Parque Estadual do Rio Doce e
entorno (SUNAGA & VERANI, 1991; VIEI- marinha, confinadas atualmente ao trecho
RA, 1994; GODINHO, 1996), se estendendo de jusante da UHE Mascarenhas, esse
ao seu maior afluente nessa região, o rio número deverá ser bem mais elevado. Nas
Piracicaba (BARBOSA et al., 1997). Figuras 7 e 8 estão algumas espécies de
Entretanto, devido a uma série de estudos peixes representativas na bacia, tanto nati-
ambientais pode-se admitir que exista um vas como exóticas.

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TABELA 1
Lista preliminar das espécies de peixes da bacia do rio Doce
(Continua...)
Ordem Família Espécie Registro por região Exó- Status de Endê- Impor-
tico conservação mica tância
na
pesca
Alto Médio Baixo
Characiformes Anostomidae Leporinus conirostris sim sim sim não não não sim
ameaçada
Characiformes Anostomidae Leporinus copelandii sim sim sim não não não sim
ameaçada
Characiformes Anostomidae Leporinus sim sim não sim não não sim
macrocephalus ameaçada
Characiformes Anostomidae Leporinus mormyrops sim sim sim não não não sim
ameaçada
Characiformes Anostomidae Leporinus thayeri não sim não não ameaçada não não
ES, MG e
IBAMA
Characiformes Characidae Astyanax bimaculatus sim sim sim não não não sim
ameaçada
Characiformes Characidae Astyanax fasciatus sim sim sim não não não sim
ameaçada
Characiformes Characidae Astyanax scabripinnis sim sim sim não não não não
ameaçada
Characiformes Characidae Astyanax spp. sim sim sim não não ? não
ameaçada
Characiformes Characidae Astyanax taeniatus sim sim sim não não não não
ameaçada
Characiformes Characidae Brycon devillei sim sim sim não ameaçada sim sim
ES, MG e
IBAMA
Characiformes Characidae Brycon opalinus sim sim não não ameaçada não sim
ES, MG e
IBAMA
Characiformes Characidae Characidae gen e sp. não sim não não não ? não
nova ameaçada
Characiformes Characidae Colossoma não não sim sim não não sim
macropomum ameaçada
Characiformes Characidae Deuterodon pedri não sim não não não sim não
ameaçada
Characiformes Characidae Hasemania sp. não sim não não não ? não
ameaçada
Characiformes Characidae Henochilus não sim não não não sim não
wheatlandii ameaçada
Characiformes Characidae Hyphessobrycon sim sim não sim não não não
eques ameaçada
Characiformes Characidae Knodus sp. não sim não não não ? não
ameaçada
Characiformes Characidae Metynnis maculatus não sim não sim não não não
ameaçada
Characiformes Characidae Moenkhausia não sim sim não não não não
doceanus ameaçada
Characiformes Characidae Oligosarcus não não sim não não não não
acutirostris ameaçada
Characiformes Characidae Oligosarcus sim sim sim não não não não
argenteus ameaçada
Characiformes Characidae Oligosarcus solitarius não sim não não ameaçada sim não
MG
Characiformes Characidae Piaractus não sim sim sim não não sim
mesopotamicus ameaçada
Characiformes Characidae Pygocentrus nattereri não sim sim sim não não sim
ameaçada
Characiformes Characidae Salminus brasiliensis sim sim sim sim não não sim
ameaçada

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(Continua...)
Characiformes Characidae Serrapinnus cf. não sim não não não não não
heterodon ameaçada
Characiformes Crenuchidae Characidium cf. sim sim sim não não não não
timbuiensis ameaçada
Characiformes Curimatidae Cyphocharax gilbert sim sim sim não não não sim
ameaçada
Characiformes Erythrinidae Hoplias intermedius sim sim sim não não não sim
ameaçada
Characiformes Erythrinidae Hoplias malabaricus sim sim sim não não não sim
ameaçada
Characiformes Prochilodontidae Prochilodus costatus sim sim sim sim não não sim
ameaçada
Characiformes Prochilodontidae Prochilodus sim sim sim não ameaçada não sim
vimboides ES
Cypriniformes Cyprinidae Aristichthys nobilis não sim não sim não não ?
ameaçada
Cypriniformes Cyprinidae Ctenopharyngodon não sim sim sim não não ?
idella ameaçada
Cypriniformes Cyprinidae Cyprinus carpio sim sim sim sim não não sim
ameaçada
Cypriniformes Cyprinidae Hypophthalmichthys não sim não sim não não ?
molitrix ameaçada
Cyprinodontiformes Poeciliidae Phalloceros não sim sim não não sim não
elachistos ameaçada
Cyprinodontiformes Poeciliidae Poecilia reticulata sim sim sim sim não não não
ameaçada
Cyprinodontiformes Poeciliidae Poecilia vivipara não sim sim não não não não
ameaçada
Cyprinodontiformes Poeciliidae Xiphophorus hellerii sim não não sim não não não
ameaçada
Cyprinodontiformes Rivulidae Simpsonichthys não não sim não Ameaçada sim não
izecksohni ES e IBAMA
Gymnotiformes Gymnotidae Gymnotus carapo sim sim sim não não não não
ameaçada
Gymnotiformes Sternopygidae Sternopygus cf. não sim não não não não não
macrurus ameaçada
Mugiliformes Mugilidae Mugil spp. não sim sim não ameaçada não sim
MG
Perciformes Carangidae Caranx sp. não não sim não ameaçada não sim
MG
Perciformes Centrarchidae Lepomis gibbosus sim não não sim não não não
ameaçada
Perciformes Centrarchidae Micropterus sim não não sim não não não
salmoides ameaçada
Perciformes Centropomidae Centropomus spp. não sim sim não ameaçada não sim
MG
Perciformes Cichlidae Astraloheros aff. sim sim sim não não não não
facetus ameaçada
Perciformes Cichlidae Astronotus ocellatus não sim sim sim não não sim
ameaçada
Perciformes Cichlidae Australoheros não sim não não não sim não
ipatinguensis ameaçada
Perciformes Cichlidae Cichla cf. kelberi sim sim sim sim não não sim
ameaçada
Perciformes Cichlidae Crenicichla lacustris sim sim sim não não não não
ameaçada
Perciformes Cichlidae Geophagus sim sim sim não não não não
brasiliensis ameaçada
Perciformes Cichlidae Oreochromis niloticus sim sim sim sim não não sim
ameaçada
Perciformes Cichlidae Tilapia rendalli sim sim sim sim não não sim
ameaçada
Perciformes Gerreidae Eugerres sp. não não sim não não não sim
ameaçada
Perciformes Gobiidae Awaous tajasica não sim sim não não não não
ameaçada

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(Continua...)
Perciformes Sciaenidae Pachyurus adspersus sim sim sim não não não sim
ameaçada
Siluriformes Ariidae Genidens genidens não sim sim não não não sim
ameaçada
Siluriformes Ariidae Potamarius não não sim não ameaçada sim não
grandoculis ES
Siluriformes Auchenipteridae Glanidium sim sim sim não não não não
melanopterum ameaçada
Siluriformes Auchenipteridae Pseudauchenipterus sim sim sim não não não não
affinis ameaçada
Siluriformes Auchenipteridae Trachelyopterus sim sim sim não não não não
striatulus ameaçada
Siluriformes Callichthyidae Callichthys callichthys não sim sim não não não não
ameaçada
Siluriformes Callichthyidae Corydoras aeneus sim sim não não não não não
ameaçada
Siluriformes Callichthyidae Corydoras nattereri não não sim não não não não
ameaçada
Siluriformes Callichthyidae Hoplosternum sim sim sim sim não não não
littoralle ameaçada
Siluriformes Callichthyidae Scleromystax não não sim não não não
prionotos ameaçada
Siluriformes Clariidae Clarias gariepinnus sim sim sim sim não não sim
ameaçada
Siluriformes Heptapteridae Imparfinis sp. não sim não não não ? não
ameaçada
Siluriformes Heptapteridae Pimelodella sp. sim sim sim não não ? não
ameaçada
Siluriformes Heptapteridae Rhamdia quelen sim sim sim não não não sim
ameaçada
Siluriformes Ictaluridae Ictalurus punctatus sim não não sim não não não
ameaçada
Siluriformes Loricariidae Delturus carinotus sim sim sim não não sim sim
ameaçada
Siluriformes Loricariidae Harttia spp. sim sim sim não não ? não
ameaçada
Siluriformes Loricariidae Hypostominae gên. e sim sim sim não não não não
sp. nova ameaçada
Siluriformes Loricariidae Hypostomus affinis sim sim sim não não não sim
ameaçada
Siluriformes Loricariidae Hypostomus luetkeni sim sim sim não não não sim
ameaçada
Siluriformes Loricariidae Loricariichthys sim sim sim não não não sim
castaneus ameaçada
Siluriformes Loricariidae Neoplecostomus spp. sim sim sim não não ? não
ameaçada
Siluriformes Loricariidae Pareiorhaphis nasuta não sim não não não sim não
ameaçada
Siluriformes Loricariidae Pareiorhaphis spp. sim sim não não não ? não
ameaçada
Siluriformes Loricariidae Parotocinclus sim sim sim não não sim não
doceanus ameaçada
Siluriformes Loricariidae Parotocinclus não sim não não não sim não
planicauda ameaçada
Siluriformes Loricariidae Pogonopoma não sim sim sim não não não
wertheimeri ameaçada
Siluriformes Loricariidae Rineloricaria sp. sim sim não não não ? não
ameaçada
Siluriformes Pimelodidae Lophiosilurus sim sim sim sim não não sim
alexandri ameaçada
Siluriformes Pimelodidae Pimelodus maculatus não sim sim sim não não sim
ameaçada
Siluriformes Pimelodidae Pseudoplatystoma sim sim sim sim não não sim
sp. (híbrido) ameaçada
Siluriformes Pimelodidae Steindachneridion sim sim não não Ameaçada sim sim
doceanum MG e IBAMA

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(Conclusão)
Siluriformes Pseudopimelodidae Microglanis sp. não sim não não não ? não
ameaçada
Siluriformes Trichomycteridae Trichomycterus cf. sim sim sim não não não não
alternatus ameaçada
Siluriformes Trichomycteridae Trichomycterus cf. sim sim sim não não não não
brasiliensis ameaçada
Siluriformes Trichomycteridae Trichomycterus cf. sim sim sim não não não não
immaculatus ameaçada
Siluriformes Trichomycteridae Trichomycterus spp. sim sim sim não não ? não
ameaçada
Symbranchiformes Symbranchidae Symbranchus sim sim sim não não não não
marmoratus ameaçada
FONTE: Literatura, trabalhos de campo e registros em museus. ? = sem informação adequada.

Alto rio Doce

Foi considerado como alto rio Doce o tre- do-rio-Doce (Steindachneridion doceanum),
cho compreendido entre as nascentes deste estão restritas a calha central dos rios
rio e a foz do rio Matipó. Nesse trecho da maiores. Os reservatórios de usinas hidrelé-
bacia existem registros de cerca de 70 espé- tricas construídas nessa área abrigam uma
cies de peixes, das quais 19 são exóticas fauna menos diversa, onde a maior parte
(aproximadamente ¼). O número de espé- das espécies é de pouca exigência quanto
cies nativas é relativamente alto em função às características do ambiente.
da ictiofauna do rio Doce ser considerada Entre as espécies registradas estão
por alguns autores como pouco diversa. algumas confirmadas como novas:
Praticamente todos os grandes grupos Trichomycterus sp. n e Rineloricaria sp. n,
da ictiofauna neotropical estão representa- que ocorrem somente na calha central em
dos na região. Siluriformes é o mais diver- trechos de fundo rochoso e correnteza
so, destacando-se as famílias Loricariidae moderada a forte
(9 sp.), Trichomycteridae (5 sp.) e
Pimelodidae (4 sp.). Os characiformes são Médio rio Doce
representados por vinte espécies nativas.
Nessa ordem, a família com maior número Esse trecho engloba as drenagens do
de espécies é Characidae (11 sp.), seguida rio Doce no trecho compreendido entre a
de Anostomidae (4 sp.). foz do rio Matipó até a divisa dos estados
Uma grande parcela das espécies que de Minas Gerais e Espírito Santo. Nesse
compõem a ictiofauna nesse trecho da bacia trecho existem registros de mais de 70
é de pequeno a médio porte (até 30 cm), e espécies de peixes, das quais número ele-
ocorre principalmente em trechos lóticos. vado é representado por exóticas.
Espécies de maior porte, como o dourado Siluriformes é o grupo mais diverso, com 21
(Salminus brasiliensis - exótico) e o surubim- espécies nativas, entre as quais o caçari

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Fotos: Fábio Vieira
A B

C D

G H

I J

K L

FIGURA 7 - Peixes da bacia do rio Doce nativos:


A) Traíra – Hoplias malabaricus;
B) lambari – Astyanax aff. bimaculatus;
C) Andirá – Henochilus wheatlandii;
D) Curimatá – Prochilodus vimboides
E) Timburé – Leporinus thayeri;
F) Piau-vermelho – Leporinus copelandii;
G) Timburé - Leporinus mormyrops;
H) Piau-branco – Leporinus conirostris;
I) Sairú – Cyphocharax gilbert e exóticos;
J) Piranha – Pygocentrus nattereri;
K) Pacu – Metynnis maculatus e
L) Curimba – Prochilodus costatus.

14 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.2, n.5, dez./jan. 2009/2010


Fotos: Fábio Vieira
A B

C D

E F

G H

I J

FIGURA 8 - Peixes da bacia do rio Doce nativos:


A) Cascudinho – gênero e espécie não descritos;
B) Cascudinho - Pareiorhaphys sp.;
C) Cascudo – Hypostomus affinis;
D) Cascudo-barata – Harttia sp.;
E) Cascudinho – Neoplecostomus sp.;
F) Cumbaca – Trachelyopterus striatulus;
G) Surubim-do-rio-Doce – Steindachneridion doceanum;
H) Cambeva – Trichomycterus sp.;
I) Cambeva – Trichomycterus sp.; K
J) Cará – Geophagus brasiliensis e exóticos;
K) Tilápia – Tilapia rendalli.

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(Genidens genidens), um bagre de origem bacia, mais precisamente do médio/alto
marinha cuja distribuição se estende ao curso do rio Santo Antônio, são elas: o andi-
baixo rio Doce. Os Characiformes também rá (Henochilus wheatlandii), o timburé
são bem representados na região, com (Leporinus thayeri) (VIEIRA et al. 2000;
vinte espécies nativas. MACHADO et al., 2008) e um caracídeo per-
Como no trecho alto, a maioria das tencente a um gênero ainda não descrito.
espécies que compõem a ictiofauna é de
pequeno a médio porte. Entretanto, as Baixo rio Doce
espécies nativas de maior porte como o
surubim-do-rio-Doce (Steindachneridion Trecho compreendido entre a área de
doceanum), a crumatã (Prochilodus vimboi- jusante da UHE Mascarenhas até a foz no
des), o piau-vermelho (Leporinus copelan- Oceano Atlântico, podendo ser considerada
dii) e a piabanha (Brycon sp. nova – tratada como a menos estudada do ponto de vista
na literatura como B. devillei – MACHADO da composição da ictiofauna. Cabe desta-
et al., 2008), também estão representadas car a recente publicação acerca da ictiofau-
na região. na na área de influência da UHE
As espécies estritamente reofílicas2 Mascarenhas, que embora de abrangência
ocorrem em maior abundância nos trechos local, inclui informações sobre 29 espécies
com fundo de rochas, os quais podem ser nativas e exóticas (CTA, 2009).
observados tanto na calha do rio Doce Para este trecho da bacia do rio Doce é
como nas porções mais elevadas dos aflu- esperado um número de espécies superior
entes. Entre as principais espécies que se a setenta. Cabe destacar que neste montan-
enquadram nessa categoria estão todos os te não foi incluída a maior parte das espé-
representantes da família Trichomycteridae cies marinhas que habitam o baixo curso
(cambevas – Trichomycterus spp.), pratica- nas proximidades da foz até a divisa de
mente todos os cascudos, exceto MG/ES. Por outro lado, esse é o único tre-
Hypostomus affinis e Loricariichthys casta- cho da bacia onde atualmente são encontra-
neus e alguns representantes da família das espécies diádromas3 e invasores mari-
Anostomidae (timburés - Leporinus mormy- nhos. Entre os representantes desses grupos
rops e L. tahyeri). de peixes podem ser destacados os robalos
Entre as espécies registradas está a pia- (Centropomus spp.), tainhas (Mugil spp.),
banha, Brycon devillei, que possui registros xaréus (Caranx spp.), carapeba (Eugerres
somente para a calha central do rio Doce e brasilianus), bagres marinhos (Ariidae),
baixo curso dos maiores afluentes. Três entre outros. A distribuição de algumas des-
espécies são endêmicas desse trecho da sas espécies, antes da construção da UHE

2
Peixes reofílicos são aqueles que necessitam do ambiente lótico para completarem o seu ciclo de vida. Esses peixes podem ser
migradores ou não.
3
O termo diádromo é utilizado para designar as espécies de peixes que migram entre os ambientes marinhos e dulcícolas.

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Mascarenhas, se estendia até a região de o restante da bacia, inclusive com os mes-
Governador Valadares – MG. mos representantes. Digno de nota é que
A maioria das espécies diádromas e os na atualidade essas espécies são ampla-
invasores marinhos representam importan- mente exploradas na pesca, em detrimento
te recurso para a atividade de pesca, tanto das nativas que compunham o elenco origi-
esportiva como profissional. Uma das mais nal (ALVES et al. 2007). Nos mercados de
valorizadas é o robalo, que inclui pelo Linhares e Colatina é comum o pacumã
menos duas espécies (Centropomus paral- (Lophiosilurus alexandrii), tucunarés
lelus e C. undecimalis), que normalmente (Cichla spp.), piranha (Pygocentrus nattere-
sobem os rios da região sudeste do Brasil. ri), apaiari (Astronotus ocellatus), tilápias
Esse trecho do rio Doce (calha central) (Oreochromis e Tilapia), entre outros.
apresenta características fisiográficas dife-
renciadas dos trechos alto e médio. Por Impactos ambientais e a ictiofauna
possuir declividade pouco acentuada são da bacia
favorecidos os processos de sedimentação,
os quais por sua vez tornam o substrato em A totalidade da drenagem do rio Doce
amplas áreas constituído por areia e sedi- encontra-se inserida no bioma Mata
mento orgânico. Atlântica, atualmente reduzido a menos de
Nessa seção da drenagem existe um 8% de sua área original (CONSERVATION
amplo sistema de várzeas próximo a foz e INTERNATIONAL, 2000). Segundo
várias lagoas tanto na margem direita como Espindola (2005), a cobertura vegetal da
esquerda. A maior parte do sistema de vár- bacia do rio Doce conservou-se de forma sig-
zeas foi alterada por drenagem ou retifica- nificativa até o início da década de 1930, con-
ção para a implantação de projetos agríco- centrando-se nas três décadas seguintes a
las, fato que deve ter alterado negativamen- fase de devastação generalizada. Esse pro-
te a sua importância para manutenção da cesso resultou em intensa fragmentação e
ictiofauna. O sistema de lagoas é menos eliminação da floresta, condição comum para
representativo em número que o existente toda a bacia. Dessa forma, o processo de
no médio rio Doce e também apresenta erosão causado pelo desmatamento genera-
gênese diferenciada. A lagoa Juparanã é a lizado e o posterior mau uso do solo, culmi-
maior entre as lagoas do baixo rio Doce e nou com extenso assoreamento em toda a
na qual ocorre intensa atividade de pesca, drenagem. A perda de habitats para os pei-
baseada tanto em espécies de água doce xes advinda do assoreamento deve figurar
como de origem marinha. A composição da entre os principais problemas para a conser-
ictiofauna que habita essas lagoas não é vação da ictiofauna na bacia do rio Doce.
conhecida em detalhes. Além de um enorme contingente popu-
O número de espécies exóticas presen- lacional, a drenagem do rio Doce também
tes no baixo rio Doce segue o padrão para recebe considerável carga poluidora prove-

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niente da extração mineral e de diferentes sua maioria exótica a drenagem.
atividades industriais. Siderúrgicas, fábri- Nos empreendimentos já construídos na
cas de celulose, usinas de açúcar e de bacia a maioria dessas alterações pode ser
álcool, frigoríficos, curtumes e a descarga constatada, embora possuam particularida-
“in natura” nos mananciais de esgotos des inerentes a cada um deles. Um caso
domésticos contribuem para a progressiva particular é a supressão de trechos lóticos na
perda da qualidade da água do rio Doce e bacia que ainda abrigam espécies de peixes
dos principais afluentes (ANA, 2001). ameaçadas de extinção (Henochilus whea-
Outro processo significativo que afeta a tlandii, Brycon devillei, Steindachneridion
ictiofauna do rio Doce está relacionado aos doceanum, Brycon opalinus e Leporinus tha-
barramentos, principalmente para constru- yeri), sendo marcante no alto rio Doce (dre-
ção de hidrelétricas. Entretanto, cabe des- nagem do rio Piranga) e no curso médio/alto
tacar que atualmente ainda existem gran- da bacia do rio Santo Antônio. As possibilida-
des trechos da calha central que não foram des de compatibilização dessas obras com a
barrados, uma situação que deve ser alte- manutenção dessas espécies é mínima e a
rada em curto/médio prazo. Em seqüência condição futura das mesmas deverá ser
de jusante para montante estão os barra- agravada (VIEIRA, 2006).
mentos de Mascarenhas, Aimorés, Baguari Para reversão ou mitigação dos impac-
e Risoleta Neves (originalmente tos dos barramentos não existem ações
Candonga). Nos afluentes e nos dois for- plenamente eficazes. Peixamentos cons-
madores principais (rio Piranga e do tantes representam uma medida no mínimo
Carmo) a situação é distinta, com vários questionável, pois não existem situações
barramentos já implantados e diversos em no Brasil onde tenha sido demonstrada a
processo de construção ou licenciamento. sua eficiência como medida de conserva-
Os barramentos estão entre os agentes ção de espécies de peixes (VIEIRA & POM-
modificadores dos sistemas lóticos que cau- PEU, 2001). A passagem de peixes migra-
sam maiores impactos para a biota aquáti- dores através de mecanismos de transposi-
ca. Alguns efeitos dos barramentos sobre os ção (FIG. 9) não representa uma garantia
rios e sua biota são imediatos e óbvios, mas de manutenção futura das espécies, pois
outros são graduais e sutis (PETTS, 1980), essas dependem de áreas específicas para
podendo se expressar em períodos diferen- completarem seus ciclos de vida, muitas
ciados. Em função da magnitude destas vezes perdidas com o processo de barra-
alterações é observada, em muitos casos, a mento. Essa situação se torna ainda mais
redução ou eliminação das espécies adap- crítica com a construção de empreendimen-
tadas à dinâmica da água corrente, ou seja, tos sequenciados em um mesmo trecho de
os peixes migradores e os reofílicos. Outro rio, situação que já é realidade em vários
impacto relacionado aos barramentos é a afluentes do rio Doce. Adicionalmente,
proliferação de espécies indesejadas, em deve-se considerar que além da mudança

18 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.2, n.5, dez./jan. 2009/2010


do regime lótico (rio) para lêntico (reserva- Entre os impactos relacionados com
tório), ainda são intensificadas as mudan- espécies exóticas destaca-se a competi-
ças no regime fluviométrico (regra operativa ção e predação, em alguns casos relacio-
dos empreendimentos) e também na quali- nando-se a extinção de espécies nativas,
dade da água. como nos lagos do Parque Estadual do Rio
Doce (GODINHO et al., 1994). ALVES et

Foto: Fábio Vieira


al., (2007), em estudo de caso na região de
Aimorés também demonstraram como
ocorreu a substituição na pesca profissio-
nal de espécies de peixes nativos por exó-
ticos (FIG. 10).

Foto: Fábio Vieira


FIGURA 10 - Produto de um dia de pesca profissional na região
de Aimorés/MG, onde a maioria das espécies capturadas são pei-
xes exóticos, principalmente piranhas e tilápias.

Frente ao exposto, a perda das caracte-


FIGURA 9 - Escada para transposição de peixes na Usina
rísticas ambientais que propiciaram a diver-
Hidrelétrica de Aimorés, MG. sidade de peixes registrada atualmente na
bacia do rio Doce deverá continuar dentro
dos padrões aqui relatados. Entretanto,
Por último encontra-se o problema rela- existem evidências claras que serão
cionado à introdução de espécies exóticas, ampliados e intensificados, principalmente
questão avaliada em detalhes para o rio à medida que se construírem todos os
Doce em Minas Gerais (ALVES et al., 2007). aproveitamentos previstos dentro da bacia.
Algumas espécies só possuem registro de O ápice dessa perda deverá ocorrer quan-
introdução como exóticas no rio Doce, do todos estiverem concluídos e entrarem
sendo exemplos o pacumã (Lophiosilurus em operação, momento no qual grande
alexandri – nativo do rio São Francisco) e a parte da bacia perderá a sua importância
piranha (Pygocentrus nattereri). estratégica para a conservação das espé-

MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.2, n.5, dez./jan. 2009/2010 19


cies de peixes no estado de Minas Gerais, incluídas na lista oficial do IBAMA, embora
conforme apresentado no estudo se consideradas as listas estaduais, o total é
“Biodiversidade em Minas Gerais: um atlas elevado para dez. Entretanto, até o momen-
para sua conservação”. to não foram executadas ações concretas
que possam reverter em melhorias das con-
Conservação da ictiofauna da bacia dições de preservação das mesmas.
Como se observa, em termos de con-
Não existem estratégias claras e abran- servação da fauna de peixes, a bacia do rio
gentes sendo adotadas para conservação Doce encontra-se em situação muito similar
da ictiofauna na bacia do rio Doce, embora ao resto do país, embora as pressões
existam proposições disponíveis (MAR- antrópicas e perda de qualidade ambiental
QUES & BARBOSA, 2002; VIEIRA, 2006). possam ser definidas como bem mais inten-
Observa-se que em diversos empreendi- sas. Dessa forma, é previsível a que diver-
mentos são executadas ações direcionadas sidade de peixes registrada na bacia do rio
à proteção da ictiofauna, entretanto, pos- Doce continue a ser perdida progressiva-
suem abrangência local que não garantem mente em médio/longo prazo, o que
a conservação como um todo. demanda ações urgentes para estabiliza-
Entre os esforços preservacionistas, ção e reversão do processo.
deve-se destacar a definição das áreas
consideradas prioritárias para conservação Referências bibliográficas
de peixes no estado de Minas Gerais
(DRUMMOND et al. 2005), sendo esta a
ABELL, R. et al. Freshwater ecoregions of the world:
ferramenta primordial para as ações desti- a new map of biogeographic units for freshwater bio-
nadas a conservação. Entretanto, apesar diversity conservation. BioScience, v. 58, n. 5, p.
406-414, 2008.
de contar com esse instrumento de planeja-
mento, a falta de ações concretas basea- ALVES, C.B.M., VIEIRA, F., MAGALHÃES, A.L.B. &
BRITO, M.F.G. Impacts of non-native fish species in
das nos indicativos apresentados tem leva- Minas Gerais, Brazil: present situation and
do a perda de importantes áreas para a prospects. In: BERT, T.M. (Ed.) Ecological and gene-
tic implications of aquaculture activities. The
manutenção da diversidade de peixes Netherlands: Kluwer Academic Publishers, 2007, p.
nessa bacia. Adicionalmente, todas as 291-314.
áreas indicadas necessitam avaliações AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS- ANA. Bacias
subseqüentes detalhadas, o que permitiria Hidrográficas do Atlântico Sul – Trecho Leste: sinop-
se de informações do Rio de Janeiro, Espírito Santo,
traçar seus limites e definir a ações a serem Bahia e Sergipe. Brasília: ANA, 2001. (Série:
tomadas, uma condição que não tem sido Sistema Nacional de Informações sobre Recursos
Hídricos – Documentos)
efetivada para os ambientes aquáticos.
Outra forma de atuar em conservação é BARBOSA, F.A.R. et al. Impactos antrópicos e biodi-
versidade aquática. In: PAULA, J.A. et al. (Coord.).
a definição das espécies ameaçadas de Biodiversidade, população e economia: uma região
extinção. No rio Doce são cinco espécies de mata atlântica. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar,

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22 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.2, n.5, dez./jan. 2009/2010


Em Destaque:

Leporinus thayeri Borodin, 1929


Ordem: Characiformes
Família: Anostomidae
Nome popular: Timburé-Beiçudo, Timburé, Piau
Situação no Brasil: ameaçada de extinção

FIGURA 1 - Exemplar de timburé-beiçudo (Leporinus thayeri) coletado no rio Santo Antônio, bacia do rio Doce, MG. Obs. fotografia a
partir de exemplar conservado em álcool e mantido na coleção de peixes da UFMG.

O timburé-beiçudo é um anos- Paraíba do Sul (RJ e MG), Doce (MG) e


tomídeo cuja descrição foi feita a partir de Itapemirim (ES). Existe também uma
exemplares provenientes da bacia do rio citação para a bacia do Jequitinhonha
Paraíba do Sul (BORODIN, 1929), sendo (GARAVELLO & BRITSKI, 2003), mas até o
relativamente raro e com distribuição restri- presente não são conhecidos exemplares
ta a rios do sudeste do Brasil. Relatos sobre coletados nessa drenagem e a citação deve
a espécie na última década incluem os rios constituir um equívoco. A maior parte dos

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Foto: Fábio Vieira

registros recentes é ocasional e ao que científica até 1979, quando então foi consid-
tudo indica, as populações mais represen- erado um sinônimo de Leporinus mormyrops
tativas estão na drenagem do médio rio (GARAVELLO, 1979). Essa condição per-
Santo Antônio, na bacia do rio Doce em durou até que GaravelloO & Britski (2003)
Minas Gerais. voltaram a considerar a espécie como váli-
Após ter sido descrita não foram da. Segundo Vieira (2005; 2006), é uma
feitos novos relatos da espécie na literatura espécie que atinge pouco mais de 25

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FIGURA 2 - Trecho do rio Santo Antônio evidenciando o tipo de ambiente utilizado pelo timburé-beiçudo (Leporinus thayeri).

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Foto: Fábio Vieira
centímetros de comprimento e cuja ocorrên-
cia tem sido relatada para a calha de rios
com trechos encachoeirados, fundo
rochoso, margens vegetadas e não poluídos
ou com baixa carga de poluentes. Sua ali-
mentação consiste primariamente de inver-
tebrados aquáticos e em menores pro-
porções invertebrados terrestres, algas e
matéria orgânica junto com sedimento.
Como na maioria das espécies de peixes do
leste brasileiro, existem indícios que a repro-
dução ocorra durante o período chuvoso.
Atualmente está incluído nas listas
de espécies ameaçadas de Minas Gerais,
Espírito Santo e do Brasil (VIEIRA et al.
2008; VIEIRA & GASPARINI, 2007;
VIEIRA & BIRINDELLI, 2008). Não são
conhecidas populações cuja distribuição
se sobreponha a áreas delimitadas por
unidades de conservação.
Nas bacias onde o timburé-beiçudo é
encontrado são observados impactos ambi-
entais diversos que incluem desmatamento,
assoreamento, barramentos, introdução de
peixes exóticos, poluição industrial e
doméstica, fatores certamente relacionados
ao declínio populacional da espécie. Esses
problemas parecem ser mais marcantes no
rio Paraíba do Sul, que drena áreas
extremamente industrializadas junto às
cabeceiras no estado de São Paulo e no
Rio de Janeiro. Nos rios Santo Antônio
(MG) e Pardo (ES), que em grandes exten-
sões drenam regiões destinadas à
agropecuária e fora de grandes núcleos
urbanos, a qualidade dos ambientes aquáti-
cos parece ser melhor e as populações são
mais expressivas. Ironicamente, na bacia

MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.2, n.5, dez./jan. 2009/2010 47


do rio Santo Antônio, onde está a maior Referências bibliográficas
população conhecida, a construção de
varias usinas hidrelétricas pode tornar BORODIN, N. A. Notes on some species and sub-
inviável a conservação da espécie a médio species of the genus Leporinus Spix. Mem. Mus.
Comp. Zool. v. 50, n. 3, p. 269-290, p. 1-17, 1929.
e longo prazo. Essas hidrelétricas deverão
eliminar e/ou alterar extensas áreas de GARAVELLO, J.C. & BRITSKI, H.A. Family
Anostomidae. In: REIS, R. E.; KULLANDER, S. O. &
corredeiras, mudando de forma definitiva os FERRARIS, C. J. Check list of the freshwater fishes
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Edipucrs, 2003, 729 p.
como alimentação do timburé-beiçudo
(VIEIRA, 2006). GARAVELLO, J. C. Revisão taxonômica do gênero
Leporinus Spix 1829 (Ostariophysi, Anostomidae).
Representa um fato que a principal Tese (doutorado) São Paulo, Instituto de Biociências,
medida para a conservação da espécie Universidade de São Paulo, 1979, 451p.
encontra-se na criação de Unidades de VIEIRA, F. & BIRINDELLI, J. L. Leporinus thayeri
Conservação englobando áreas significati- Borodin 1929. In: MACHADO, A. B. M.; DRUMMOND,
G. M. & PAGLIA, A. P. (Org.). Livro vermelho da fauna
vas das drenagens onde este timburé brasileira ameaçada de extinção. Belo Horizonte:
ocorre. Dessa forma, essa representa a Fundação Biodiversitas, v. 2, 2008, p.42-48.

única alternativa viável para que gerações VIEIRA, F. Distribuição e aspectos da biologia e con-
futuras possam ver esse peixe nos seus servação de Leporinus thayeri (Anostomidae) nas
drenagens do leste brasileiro. In. ENCONTRO
ambientes naturais. Adicionalmente, deve- BRASILEIRO DE ICTIOLOGIA, 16, 2005.
se considerar que a manutenção de um Resumos... João Pessoa, PB, 2005.

estoque ex-situ através de reprodução em VIEIRA, F. Ictiofauna do rio Santo Antônio, bacia do
cativeiro, como realizada na CESP — rio Doce: proposta de conservação. 2003. Tese
(Doutorado em Ecologia, Conservação e Manejo de
Companhia Energética do Estado de São Vida Silvestre) Belo Horizonte: Universidade Federal
Paulo, pode representar uma linha paralela de Minas Gerais, 2006, 101 p.

de conservação (Vieira & Birindelli, 2008), VIEIRA, F.; ALVES, C. B. M.; POMPEU, P. S.;
embora não represente qualquer garantia VONO, V. Peixes ameaçados de Minas Gerais. In:
DRUMMOND, G. M. et al. (Org.). Listas vermelhas
de manutenção dos estoques selvagens. das espécies da fauna e flora ameaçadas de
extinção em Minas Gerais. 2. ed. Belo Horizonte:
Fundação Biodiversitas, 2008. 1 CD-ROM.
Fábio Vieira
Biólogo, Doutor em Ecologia, Conservação e VIEIRA, F.; GASPARINI, J. L. Os peixes ameaçados
Manejo de Vida Silvestre pela Universidade Federal de extinção no Estado do Espírito Santo. In: PAS-
de Minas Gerais, Caixa Postal - 4011, Belo SAMANI, M. & MENDES, S. L. (Org.). Espécies da
Horizonte, MG, 31.250-970, Fundação Biodiversitas, fauna ameaçadas de extinção no estado do Espírito
riodocemg@gmail.com Santo. Vitória, IPEMA, 1. ed., 2007.

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