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1.

TENSÕES RESIDUAIS

1.1. CONCEITO

Tensões residuais são as tensões que permanecem numa peça ou estrutura após a remoção de toda
solicitação sobre a mesma.

As tensões residuais podem ser originadas de duas maneiras : quando uma peça ou parte de um material é
trabalhado a frio, ou devido a um aquecimento localizado, numa temperatura suficientemente alta para
provocar grandes dilatações no metal. Para o aço carbono essa temperatura é da ordem de 500° C. (a peça
fica avermelhada).

As tensões residuais são uma conseqüência das restrições impostas a dilatação e contração do metal
aquecido. As figuras 1 e 2 mostram exemplos típicos da introdução de tensões residuais em peças devido ao
aquecimento.

A A
A B B
B

FRIO AQUECIDO RESFRIADO

OBS. 1. O bloco b foi colocado no vão do bloco a por interferência.


2. Apenas o bloco b foi aquecido.
3. O bloco b está sujeito a uma dilatação impedida durante o
aquecimento e contração livre no resfriamento.
4. Após o resfriamento o bloco b ficou menor.

FIGURA 1 - Tensões residuais devido a dilatação impedida e contração livre.

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CURSOS: INSPEÇÃO E MANUTENÇÃO EM VASOS DE PRESSÃO - PARTE 3
Autor: Nestor Ferreira de Carvalho
A A
B A B B
A
B

FRIO AQUECIDO RESFRIANDO SERRADO

FURO NO B = PARTE IMAGINÁRIA DE A


BLOCO A QUE SERÁ AQUECIDA

OBS. 1. O bloco a é inteiriço com um furo.


2. B é uma parte imaginária de A que será aquecida.
3. Durante o aquecimento a parte B tende a aumentar suas dimensões - só a parte B
do bloco A é aquecida.
4. Durante o resfriamento B tende a ficar menor, por ter sido deformado por
compressão.
5. Após o resfriamento o bloco A é serrado no meio da parte B - as faces da linha
serrada vão se distanciar.

FIGURA 2 - Tensões residuais devido a dilatação e contração impedidos.

1.2. TENSÕES RESIDUAIS DEVIDO A SOLDAGEM

As tensões residuais devido a soldagem são geradas por escoamento parciais localizados, que ocorrem
durante o ciclo térmico de soldagem. Em juntas soldadas, em geral, temos uma situação similar ao bloco A da
figura 2, onde é feito um aquecimento com dilatação e contração impedidos.

As tensões residuais devido à soldagem podem ser melhor entendidos pela analogia da barra aquecida com
mostra a figura 3.

Descrição da experiência representada pela figura 3

1. Admita que apenas a parte B da chapa seja aquecida.


2. A dilatação térmica restringida provoca tensões de compressão na parte B da chapa e de tração nas partes
A e C, para que o equilíbrio seja mantido.

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3. À medida que a temperatura se eleva, as tensões nas barras aumentam, atingindo o limite de escoamento
na parte B (ponto 1). A partir desse ponto, a dilatação térmica é absorvida com a deformação da parte B
que está aquecida e tem sua resistência mecânica reduzida.

4. As curvas de σe indicam a variação do limite de escoamento com a temperatura. Continuando o


aquecimento, a tensão na parte B evolui ao longo de 1 para 2, onde a plastificação impede o
estabelecimento de tensões superiores ao limite de escoamento. O ponto 2 corresponde à temperatura
máxima atingida θ2.
5. Durante o resfriamento, a parte B se contrai tende para um comprimento livre menor do que L em
virtude da deformação plástica a que foi submetido. A tensão diminui, muda de sinal e atinge o limite de
escoamento, à tração, no ponto 3.
6. A partir do ponto 3 a contração térmica é absorvida por deformação plástica, não permitindo que a
tensão na barra ultrapasse o limite de escoamento. Ao longo de 3 para 4, o valor da tensão acompanha a
variação do limite de escoamento com a temperatura.
7. Concluído o resfriamento, a chapa ficará submetida a um sistema de tensões residuais. Na parte B a
tensão é de ração e da ordem do limite de escoamento do material na temperatura ambiente.

σ
TRAÇÃO CURVA DA VARIAÇÃO DE σe
σeco 4 COM A TEMPERATURA

θ0 θ1 θ2
θ
2

CURVA DA VARIAÇÃO DE σe
COM A TEMPERATURA

COMPRESSÃO
1
L
ONDE: σ = Tensão
σe = Limite de Escoamento A
θ = Temperatura FURO
θ0 = Temperatura Ambiente B
θ1 = Início da Deformação Plástica FURO
θ2 = Início do Resfriamento C
σe0 = Limite de Escoamento na Temperatura
Ambiente
REGIÃO AQUECIDA
1→2 = Deformação Plástica no Aquecimento
3→4 = Deformação Plástica no Resfriamento
3 CHAPA DE TESTE
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FIGURA 3 - Variação da tensão devido ao aquecimento localizado na parte B da chapa.

Esse raciocínio é evidentemente simplificado. Não foi considerada a variação do módulo de elasticidade e do
coeficiente de dilatação térmica com a temperatura. A variação do limite de escoamento com a temperatura
foi considerada com a mesma configuração tanto à tração quanto à compressão. A fluência do material
também foi desprezada.

Uma peça soldada se assemelha ao descrito na figura 3. A curva de repartição térmica mostra que a zona
aquecida acima de θ1 sofre deformação plástica, analogamente à chapa da figura 3, determinando o
aparecimento das tensões residuais de contração (figura 4). O nível das tensões dependerá do grau de
restrição da estrutura, na direção longitudinal do cordão de solda. Verificações experimentais confirmam que
nessa direção as tensões são muito próximas do limite de escoamento do material.

SOLDA

θ1

L
6L
σ
σe

TENSÃO TENSÃO
TRANSVERSAL LONGITUDINAL

L
4 6L
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FIGURA 4 - Tensões residuais numa solda entre chapas livres.

1.3. EFEITO DAS TENSÕES RESIDUAIS NUMA SOLDA

As tensões residuais numa junta soldada afeta as zonas fundida e térmicamente afetada (figura 5). Os
principais efeitos são:

a) Aumenta a dureza.
b) Redução da tenacidade.
c) Aumento do nível de tensões localizadamente.
d) Aumento do risco de fissurações associadas aos procedimentos de soldagem.
e) Redução da resistência à corrosão sob-tensão.
f) Redução da resistência à fissuração pelo hidrogênio.
g) Redução da resistência à fratura frágil.
h) Redução da resistência à fadiga.
i) Podem colaborar para a propagação de defeitos na solda.

ZONAS TÉRMICAMENTE AFETADA

ZONA FUNDIDA

METAL METAL
BASE BASE

FIGURA 5 - Regiões de uma junta soldada.

2. MÉTODOS DE REDUÇÃO DAS TENSÕES RESIDUAIS

Os principais métodos de redução das tensões residuais estão descritos de maneira sucinta a seguir.

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2.1. ALÍVIO DE TENSÕES A FRIO

Nestes métodos a estrutura metalúrgica do metal não é modificada, os principais são :

2.1.1. Martelamento

Introduz tensões de compressão na região aquecida para equilibrar as tensões de tração existentes. Este
método só alivia tensões superficiais e é muito difícil de ser controlado.

2.1.2. Teste de Carga

Consiste na aplicação de uma sobrecarga na peça tencionada. Nos pontos onde a sobrecarga se somar as
tensões residuais e o limite de escoamento for ultrapassado haverá escoamento do material e a tensão é
aliviada. Este é bastante usado em pontes rolantes que são ensaiadas com sobrecarga de 50% acima de sua
capacidade nominal.

2.1.3. Teste de Pressão

Bastante usado em vasos de pressão. A pressão é 50% acima da pressão de projeto. As tensões que
ultrapassarem o limite de escoamento serão aliviadas por deformação local.

No caso de vasos de pressão o efeito é possível para as juntas longitudinais, onde as tensões são o dobro
das tensões circunferênciais.

Pode ocorrer fissuras em vez de deformação local, dependendo do material e do estado de tensões do
equipamento antes do teste.

2.1.4. Vibração

Este é empregado para peças pequenas. O princípio é o mesmo do teste de carga, apenas a carga é aplicada
por vibração.

2.2. ALÍVIO DE TENSÕES A QUENTE

2.2.1. Pré - Aquecimento

Este método consiste em aquecer a região a ser soldada antes de se iniciar a solda, aumentado a área da zona
afetada pelo calor. Isso provoca um gradiente de temperatura que se estende por uma área mais larga, com
uma transição menos brusca de temperatura entre pontos vizinhos (menor gradiente de temperatura),
reduzindo o nível das tensões residuais, devido a uma redução no grau de restrição. (figura 6).

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2.2.2. Alívio com Chama

Quando uma junta soldada é aquecida até uma temperatura inferior a 300°C pode ocorrer uma pequena
redução de picos de tensão, devido a uma redução do limite de escoamento que ocorre nessa temperatura.

2.2.3. Alívio com Tratamento Térmico

Quando uma junta soldada é aquecida a uma temperatura cerca de 50 a 100° C abaixo da temperatura de
transformação do metal, ocorre uma grande redução do nível das tensões residuais.

Este fato se deve a deformações plásticas localizadas que ocorrem nos locais onde as tensões residuais estão
atuando, devido a uma grande redução do limite de escoamento do metal que ocorre com a elevação da
temperatura. (figura 7).
2.2.4. Alívio por Normalização

Quando uma junta soldada é aquecida a uma temperatura que ultrapasse a temperatura de transformação do
metal ocorrerá um alívio das tensões residuais acompanhado por uma modificação da estrutura metalúrgica
do metal. O princípio de redução das tensões é o mesmo descrito no item anterior.

TEMPERATURA

TEMPERATURA
DE FUSÃO

TEMPERATURA DE
TRANSFORMAÇÃO

TEMPERATURA
AMBIENTE

ZTA ZTA

JUNTA SOLDADA COM PRÉ JUNTA SOLDADA SEM PRÉ -


- AQUECIMENTO AQUECIMENTO

- MAIOR ZTA. - MENOR ZTA.


- MENOR VELOCIDADE DE - MAIOR VELOCIDADE DE
RESFRIAMENTO. RESFRIAMENTO.
- MENOR GRADIENTE - MAIOR GRADIENTE
TÉRMICO. TÉRMICO.
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- MENOR NÍVEL DE - MAIOR NÍVEL DE TENSÃO
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TENSÃO RESIDUAL. RESIDUAL.
FIGURA 6 - Influência do pré - aquecimento no nível das tensões residuais.

FASE 1 FASE 2
40

o
35 T=200 C
TENSÃO RESIDUAL (KSI)

30 T=320oC
T=430oC
25

20 T=490oC

15

10 T=540 oC
o
T=590 C

5
T=760 oC T=704oC T=650 oC

0
0 0,5 1 1,5 2 4 6 8 10

TEMPO NA TEMPERATURA DE TRATAMENTO (HORAS)

FIGURA 7 - Influência do tempo e temperatura no tratamento térmico de alívio de tensões.

3. ALÍVIO DE TENSÕES COM TRATAMENTO TÉRMICO

3.1. CONCEITO

De um modo geral os métodos térmicos de alívio de tensões residuais podem ser divididos em:

- Tratamentos realizados no interior de fornos - o vaso é colocado totalmente ou em partes dentro de um


forno.
- Tratamento utilizando o vaso como forno - coloca-se uma fonte de calor no interior do equipamento e
este é isolado externamente.
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- Tratamento localizado - só as partes que necessitam tratamento são tratadas, com aquecimento
localizado.

Admitindo algumas simplificações, o tratamento térmico de alívio de tensões consiste em aquecer


uniformemente o equipamento de modo que o limite de escoamento do material fique reduzido a valores
inferiores às tensões residuais. Nesta condição, as tensões residuais provocam deformações plásticas locais e
diminuem de intensidade.

A figura 7 mostra que o alívio de tensões se faz em duas fases:

FASE 1: Durante aproximadamente a primeira hora de tratamento ocorre a maior redução de tensões. Nos
tratamentos realizados em temperaturas elevadas (acima de 500° C), a principal causa de alívio de tensões é
a plastificação local resultante da redução do limite de escoamento. O pequeno alívio de tensões que ocorre
em temperaturas baixas, como por exemplo, a 200° C, não poderá ser atribuído à redução do limite de
escoamento e sim ao fenômeno de recuperação.

FASE 2: Nas horas subsequentes as tensões residuais diminuem também por deformação plástica, resultante
da fluência do material, quando a temperatura for superior a 500° C.

Somente os tratamentos feitos em temperaturas superiores a 500° C, para os aços carbono, são realmente
eficazes. Quanto maior for o nível inicial de tensões residuais, mais elevadas serão as tensões após o
tratamento térmico. Os aços resistentes à fluência requerem temperatura, ou tempo de tratamento, mais
elevados que para os aços carbono. Na soldagem em vários passes, a sucessividade dos passes não reduz a
intensidade das tensões residuais.

3.2. PARÂMETROS DO TRATAMENTO


TEMPO DE
Durante a realização do tratamentoTRATAMENTO
térmico deverão=ser controladas principalmente as seguintes variáveis:
- Taxa de aquecimento; 2,36 MINUTOS/mm
MAS, NO MÍNIMO DE 15 TEMPERATURA DE
- Temperatura de tratamento;
MINUTOS
- Tempo de permanência na temperatura de tratamento (tempoTRATAMENTO
de encharque);
- Taxa de resfriamento.
TAXA DE
TAXA DE RESFRIAMENTO
Os códigos de construçãoAQUECIMENTO
especificam essas variáveis em função da composição química e espessura do
metal a ser tratado. A figura 8 faz um 〈 260°C / h .pol..ASME. Os
resumo dessas variáveis, conforme os requisitos do código
〈 220°C / h.pol.
códigos: BS 5500 (código Inglês), ANCC (código Italiano), API e o DnT (código Alemão), apresentam
valores
427°C semelhantes.
ABAIXO DE 427°C NÃO É NECESSÁRIO CONTROLE

TEMPO

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FIGURA 8 - Variáveis do tratamento de alívio de tensões, conforme o código ASME.

A tabela 1 mostra as temperaturas de tratamento térmico de alívio de tensões recomendadas por diversos
códigos de construção para aços carbono e aços liga.

MATERIAL ANCC ASME BS 5500 DnT


AÇO C / C - Mn 600-650°C 〉 593°C 580-620°C 550-600°C
AÇO C-1/2 Mo 620-670°C 〉593°C 650-680°C 580-620°C
AÇO 1C r-1/2 Mo 630-680°C 〉593°C 630-670°C 620-660°C
AÇO 2.1/4Cr-1/2Mo 660-710°C 〉677°C 680-720°C 620-750°C
AÇO 5 Cr - 1/2Mo 680-730°C 〉677°C 710-760°C 670-740°C

TABELA 1 - Temperatura de alívio de tensões conforme vários códigos.

O controle de temperatura em qualquer estágio da realização de um tratamento térmico é fundamental. O


fluxo de calor e a distribuição de temperaturas, ao longo de toda a região tratada devem ser controlados para
que não se perca o controle do tratamento. O mais importante, evidentemente, para o devido sucesso de um
tratamento térmico de alívio de tensões, é medir e controlar adequadamente a distribuição de temperaturas
em todos os estágios do tratamento.

A medição e o controle da distribuição de temperaturas no componente tratado, deve ser realizada por meio
de termopares ligados à estrutura tratada térmicamente. A junção do dois arames constituintes do termo-par
deverá ser devidamente protegida da ação direta dos elementos de aquecimento e também, da circulação da
atmosfera existente no interior do forno. O número e a distribuição dos termopares deverão ser adequados
para avaliar a maior variação de temperaturas prevista e possível de ocorrer na estrutura durante o tratamento
térmico.

Um outro aspecto que deverá merecer a maior atenção durante a realização de um tratamento térmico é a
suportação do equipamento. A perda de resistência mecânica com o aumento de temperatura, inerente à
realização do tratamento térmico, poderá provocar deformações exageradas se:

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- A suportação for inadequada ou insuficientemente quando o equipamento estiver na temperatura de
tratamento.
- A suportação não apresentar rigidez suficiente, na temperatura de tratamento, para suportar o peso do
equipamento.

Em certas situações, dependendo da geometria e rigidez do equipamento, será inevitável a utilização de


suportes ou reforços provisórios durante a realização do tratamento térmico.

3.3. INFLUÊNCIA DO ALÍVIO DE TENSÕES TÉRMICO NAS


PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS MATERIAIS.

Experiências feitas com corpos de prova em aço carbono e carbono-manganês confirmam que o tratamento
térmico para o alívio de tensões residuais altera as propriedades mecânicas de um material. Da mesma
maneira as experiências confirmam que restringindo-se a temperatura e o tempo de tratamento, bem como o
número de tratamento sucessivos esses efeitos ficam dentro de valores aceitáveis para a construção de vasos
de pressão.

Os principais efeitos do tratamento térmico de alívios de tensões em temperaturas ou tempo acima dos
especificados pelos códigos de construção, ou a repetição do tratamento várias vezes, mesmo dentro dos
valores especificados são os seguintes:

- Progressiva redução do limite de escoamento.


- Aumento da temperatura crítica de transição, do comportamento dúctil para frágil (redução da tenacidade).
- Redução da resistência a fluência para materiais que deverão operar acima de 400° C, após o tratamento.

Esses feitos também podem ocorrer nos casos em que houver um descontrole da temperatura e/ou tempo de
tratamento, durante um ciclo térmico.

O método mais confiável para se estimar as propriedades mecânicas de um material após um ou mais
tratamentos térmicos é simular o ciclo térmico num corpo de prova com características iguais (mesma corrida,
mesma composição química, mesmo número de ciclos térmicos etc.) ou similares ao material que será
submetido ao novo ciclo térmico, ou seja, o procedimento de tratamento térmico deve ser qualificado para
cada caso específico.

Em equipamentos que já operaram ou já sofreram ciclos térmicos, é conveniente antes de se prescrever um


tratamento térmico verificar as condições em que o material se encontra. Quando possível isto deve ser feito
com a remoção de corpos de prova do equipamento e após submetido ao novo ciclo térmico determinar suas
propriedades mecânicas. Como na grande maioria dos casos isso é inviável, pode se usar um parâmetro
representativo para fazer essa avaliação. Esse parâmetro foi desenvolvido por Larson-Muller.

O parâmetro de Larson-Muller (LMP), permite expressar com um único valor, as características de um ciclo
térmico considerando todas as suas variáveis. Este parâmetro está descrito a seguir:
LMP = T.(C + log. t ). 10-3

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ONDE: - LMP = parâmetro de Larson-Muller (admensional).
- T = temperatura do tratamento térmico (°K).
-t = tempo equivalente de tratamento (horas), calculado pela expressão: t = te + ta + tr
com: te = tempo de encharque (horas).
ta = tempo de aquecimento (horas), calculado pela expressão :
ta = T / [ 2,3 .Ka .(C - log. Ka)]
para : Ka = velocidade de aquecimento (°K / hora).
C = constante, igual a 20 para os aços C e C-Mn.
tr = tempo de resfriamento (horas), calculado pela expressão :
tr = T / [ 2,3.Kr. (C - log. Kr )].
para : Kr = velocidade de resfriamento (°K / hora).
C = constante, igual a 20 para os aços C e C-Mn.

Por essa expressão, vê-se que o efeito da temperatura no alívio térmico é bem mais forte que o tempo de
tratamento.

Trabalhos técnicos recomendam que o valor de LMP seja sempre inferior a 19,5, mesmo após vários
tratamentos sucessivos
A figura 9 mostra a influência do alívio de tensões nos limites de resistência à tração e ao escoamento para
aços carbono e carbono-manganês. Os testes foram feitos com corpos de prova de aços nas especificações:
ASTM A-537 C1.1; A-537 C1.2 e A-516 GR. 70.

4
MODIFICAÇÃO NO LIMITE DE

2
ESCOAMENTO EM %

0
-2 VALORES
MÁXIMOS
-4
VALORES
-6 MÍNIMOS

-8

-10
-12
17 18 18,5 19 19,5 20
PARÂMETRO DE LARSON-MILLER

12
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0

RESISTÊNCIA À TRAÇÃO EM %
MODIFICAÇÃO NO LIMITE DE
-2

-4

CURVA MÁXIMA
-6
CURVA MÍNIMA

-8

-10

-12
17 18 18,5 19 19,5 20
PARÂMETRO DE LARSON-MILLER
FIGURA 9 - Influência do TTAT nos limites de resistência à tração e ao escoamento dos aços carbono e
carbono-manganês.

0
REDUÇÃO DAS TENSÕES RESIDUAIS
EM % DO VALOR INICIAL

20
TEMPO DE
ENCHARQUE DE 1
HORA
40
TEMPO DE
ENCHARQUE DE 4
HORAS
60
TEMPO DE
ENCHARQUE DE 6
HORAS
80

100
315 370 430 480 540 595 650 705
TEMPERATURA DE ENCHARQUE
EM GRAUS CELSIUS
FIGURA 10 - Relação entre temperatura e tempo de tratamento no alívio das tensões residuais.

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30

AUMENTO DA TEMPERATURA DE

PARA 20 ft-lb, EM GRAUS CELSIUS


TRANSIÇÃO, DETERMINADA
25

20

15

10

0
16 17 18 19 20 21
PARÂMETRO DE LARSON-MILLER

FIGURA 11 - Influência do TTAT na temperatura de transição dúctil/frágil.

A figura 9 mostra que em média, para um tratamento térmico de alívio de tensões residuais realizado
conforme os requisitos dos códigos de construção, o limite de escoamento do material cai de 5 a 10%, por
tratamento realizado. Essa redução do limite de escoamento é acompanhada por uma perda de resistência
mecânica e está associada a esferoidização dos carbonetos e a transformação da ferrita em perlita.

Da figura 11 podemos verificar que em média, para cada tratamento de alívio de tensões residuais realizado
conforme os requisitos dos códigos de construção, a temperatura de transição pode aumentar até 30° C.
Essa queda progressiva da tenacidade ao entalhe é explicada pela migração do carbono e das impurezas para
os contornos de grãos da ferrita.

A figura 10 mostra a redução de tensões alcançada com cada tratamento térmico de alívio de tensões
realizado conforme os requisitos dos códigos de construção, em função do tempo de encharque.

Conjugando-se as curvas de propriedades (figuras 9 e 11) com a curva de relaxação (figura 10), tem-se uma
metodologia de prescrever-se o tratamento térmico que compatibilize o grau de alívio de tensões, com as
propriedades mecânicas necessárias ao serviço do equipamento. Por essas evidências, se estabelecem que o
alívio térmico das tensões, para os aços ao carbono, se deve enquadrar na faixa de 580 a 620° C, como
prescrito pela maioria dos códigos de construção.

Quanto à redução da tensão de ruptura em altas temperaturas, nos aços carbono e carbono-manganês
acalmados com silício, particularmente, em virtude do tratamento térmico prolongado e/ou temperaturas
próximas a 650° C, a variação é significativa. Atribui-se esse comportamento à remoção do nitrogênio ativo,
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dos interstícios dos grãos, pela precipitação como nitreto de silício, o que reduz a resistência nas altas
temperaturas (acima de 400° C). No caso de aços carbono acalmados com alumínio ocorre a precipitação
de nitreto de alumínio, com efeitos similares aos aços acalmados com silício.

Para avaliar sucessivos tratamentos térmicos pode-se usar o parâmetro de Larson-Muller, usando com tempo
de tratamento ″t″ a soma de todos os tempos ″t″ dos tratamentos realizados.

3.4. BENEFÍCIOS E INCONVENIENTES DO ALÍVIO DE TENSÕES

O principal objetivo do tratamento térmico é aquecer o material a um nível de temperatura suficiente, para
reduzir a sua resistência ao escoamento, a uma pequena fração do seu valor à temperatura ambiente. Esse
processo é acompanhado por um revenimento da região endurecida durante o processo de soldagem do
material, reduzindo sua dureza e restabelecendo a tenacidade da zona térmicamente afetada pelo calor
(ZTA).

Os benefícios mais importantes do alívio térmico, em relação à condição ″como soldado″, são:

1. Redução dos picos de tensão em cerca de 10 a 20% do seu valor residual após a soldagem. Isso é válido
quando há total liberdade de dilatação durante o tratamento térmico.
2. Promove a estabilidade dimensional da peça ou componente, especialmente para os que serão usinados.
3. Elimina ou reduz a tendência à corrosão sob tensão do material.
4. Reduz a dureza e restaura a ductilidade e a tenacidade da junta soldada.
5. Melhora a resistência à fratura frágil.
6. Elimina o hidrogênio dissolvido na solda, evitando a fissuração pelo hidrogênio.
O alívio térmico no entretanto apresenta alguns inconvenientes :

1. A queda da resistência mecânica com a temperatura, pode ensejar a propagação de fissuras preexistentes.
2. O relaxamento das tensões compressivas que impediam a propagação de trincas.
3. A redução da tensão de escoamento e o aumento da temperatura crítica de transição dúctil/frágil, do
material tratado térmicamente, comparativamente ao metal base, sem solda.
4. Risco de reação, do hidrogênio dissolvido, na estrutura do metal, com o carbono, gerando o gás metano
com conseqüente fragilização do material.

No caso do tratamento térmico localizado acresce-se também o risco de geração de novas tensões térmicas
residuais nas interfaces da região aquecida, e o risco de falha estrutural em equipamentos esbeltos.

3.5. EXIGÊNCIAS DO CÓDIGO ASME QUANTO A NECESSIDADE DE


TRATAMENTO TÉRMICO PARA ALÍVIO DE TENSÕES

a) PARA SOLDAS NOVAS EM AÇO CARBONO

O tratamento térmico para o alívio de tensões em soldas de vasos novos é requerido nos seguintes casos:
a.1. Espessuras maiores do que 38 mm.
a.2. Espessuras maiores do que 31 mm a menos que se faça pré-aquecimento de 100°C durante a soldagem.
a.3. Qualquer espessura para vaso em serviço letal.

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a.4. Qualquer espessura para vaso em serviço à temperatura inferior a - 45° C.

b) PARA SOLDAS NOVAS EM AÇO BAIXA LIGA C-1/2 Mo e ½ Cr-1/2 Mo

O tratamento térmico para o alívios de tensões em soldas de vasos novos é requerido no seguintes casos:
b.1. Para espessura superiores a 16 mm.
b.2. Qualquer espessura para vaso em serviço letal.
b.3. Qualquer espessura para vaso em serviço à temperatura inferior a - 45°C.

c) PARA REPAROS DE SOLDA EM AÇO CARBONO

É exigido tratamento térmico ADICIONAL em vasos de pressão novos que tenham sido reparados com
solda nos seguintes casos :
c.1. Qualquer profundidade de reparo para vasos em serviço letal.
c.2. Qualquer profundidade de reparo para vasos em serviço à temperatura inferior a - 45° C.
c.3. Qualquer profundidade de reparo em bocais com diâmetro inferior a 2 polegadas não precisam ser
tratados, desde que sejam pré - aquecidos a 100°C, durante a soldagem, não tenham : chanfro superior
a 13 mm, altura de garganta superior a 13 mm e anel de reforço.

c.4. As soldas com garganta inferior a 13 mm não precisaram ser tratadas se utilizarem pré - aquecimento
de 100° C, durante a soldagem.
c.5. Os revestimentos feitos com depósito de solda ou solda de fixação de lining’s não precisam ser tratados
se pré - aquecidos a 100° C, durante a soldagem.
c.6. Pequenas restaurações da superfície devido a remoção dos dispositivos de soldagem não precisam ser
tratados se não houver risco de contato com o produto a ser armazenado.
c.7. Quando a profundidade total do reparo de qualquer junta soldada, que não se enquadrem nos itens
acima, exceder a 38 mm (soma das profundidades de reparos de cada lado da solda).

d) PARA REPAROS DE SOLDA EM AÇO BAIXA LIGA C-1/2 Mo e ½ Cr-1/2 Mo

É exigido tratamento térmico ADICIONAL em vasos de pressão novos que tenham sido reparados com
solda nos seguintes casos :
d.1. Qualquer profundidade de reparo para vasos em serviço letal.
d.2. Qualquer profundidade de reparo para vasos em serviço à temperatura inferior a - 45°C.
d.3. Soldas de bocais e acessórios em paredes não pressurizadas, com chanfro até 13 mm o tratamento
não é exigido se a solda for executada com pré - aquecimento de 100°C e o carbono equivalente1 for
inferior a 0,25%.
d.4. Soldas circunferênciais em tubos de espessura inferior a 13 mm, o tratamento térmico não é exigido
se o carbono equivalente for inferior a 0,25%.
d.5. Os revestimentos feitos com depósito de solda ou solda de fixação de lining’s não precisam ser tratados
se pré - aquecidos a 100°C, durante a soldagem e se o carbono equivalente for inferior a 0,25%.

1
O The Welding Institute recomenda que o carbono equivalente, para aços carbono e carbono-manganês, seja calculado
pela expressão: Ceq = %C + (%Mn) / 6 + (%Cr + %Mo + %V) / 5 + (%Ni + %Cu) / 15

16
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d.6. Pequenas restaurações da superfície devido a remoção dos dispositivos de soldagem não precisam ser
tratados se não houver risco de contato com o produto a ser armazenado.
d.7. Quando a profundidade total do reparo de qualquer junta soldada, que não se enquadrem nos itens
acima, exceder a 16 mm (soma das profundidades de reparos de cada lado da solda).

3.6. TRATAMENTO TÉRMICO LOCALIZADO

O tratamento térmico localizado produzirá deformações plásticas no equipamento tratado. O gradiente


térmico durante o aquecimento, encharque e resfriamento deverá ser cuidadosamente controlado para evitar a
introdução, de um novo estado de tensões. As tensões térmicas produzidas por um tratamento térmico
localizado indevidamente realizado, poderão originar um estado de tensões residuais mais perigoso ao
equipamento soldado do que o existente anteriormente ao tratamento.

Conforme já foi descrito, é fundamental o controle do gradiente térmico durante a realização do tratamento
térmico localizado. Diversos códigos limitam, além do gradiente térmico, a largura mínima da faixa localmente
aquecida e a extensão de seu isolamento térmico. A tabela 2 sintetiza estas exigências para alguns códigos de
construção tradicionalmente utilizados.

A figura 12 representa esquematicamente a preocupação da comissão 11 da Organização Internacional de


Normas Técnicas (ISO/TC 11- Boilers and Pressure Vessels), quanto ao gradiente térmico durante um
tratamento térmico localizado. Apesar de mais conservador que o código ASME estas dimensões tem sido as
preferidas na realização de tratamentos térmicos localizados de juntas soldadas, quando estes são realizados
no campo.

DIMENSÃO NORMA
BS 5500 ASME ISO DIS 2694
Extensão a Toda a
ser aquecida circunferência Toda a circunferência do vaso
para soldas Toda a circunferência do vaso do vaso numa numa extensão de 2,5. Rt ,
circunfe- numa extensão de 2,5. Rt , para extensão de 2. t para cada lado da junta
rênciais e cada lado da junta soldada , para cada lado soldada
longitu-dinais da junta soldada
Extensão a Toda a
ser aquecida circunferência
para soldas Toda a circunferência do vaso do vaso numa Toda a circunferência do vaso
de atracação numa extensão de 2,5. Rt , para extensão de 12 t numa extensão de 2,5. Rt ,
de bocais cada lado da junta soldada + a maior para cada lado da junta
largura externa soldada
da junta soldada
A temperatura nas bordas da A temperatura nas bordas da
Gradiente região aquecida deverá ser igual a região aquecida deverá ser
térmico ½ da temperatura máxima, em Não especifica igual a ½ da temperatura
qualquer instante do tratamento máxima, em qualquer instante
do tratamento
260°C / hora.
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DIMENSÃO NORMA
BS 5500 ASME ISO DIS 2694
Taxa de 220°C / hora. pol. da menor pol. da menor 260°C / hora. pol. da menor
resfriamento espessura sendo tratada espessura sendo espessura sendo tratada
tratada
220°C / hora.
Taxa de 220°C / hora. pol. da menor pol. da menor 220°C / hora. pol. da menor
aquecimento espessura sendo tratada espessura sendo espessura sendo tratada
tratada

ONDE : R = Raio externo da junta soldada.


t = maior espessura da junta soldada, sem considerar o reforço da solda.

TABELA 2 - Exigências para a execução de tratamento térmico localizado.

As zonas fundida e térmicamente afetada


deverão estar submetidas à temperatura de
tratamento.

T
T = temperatura de
tratamento.

T/2

2,5. Rt

ISOLAMENTO
TÉRMICO
t 18
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R
FIGURA 12 - Limitações para o gradiente térmico durante um tratamento térmico localizado, conforme a
ISO / TC 11 da ISO / DIS 2694.

3.7. TRATAMENTO TÉRMICO LOCALIZADO NO CAMPO

3.7.1. INTRODUÇÃO

A necessidade da realização de tratamento térmico localizado em vasos de pressão após a execução de


reparos tem se tornado usual em paradas de manutenção.

O aumento do grau de detectabilidade dos exames não destrutivos tem resultado na identificação de defeitos
de fabricação em soldas aceitas com os recursos da época, isto tem resultado num aumento das necessidade
de reparos em soldas principalmente de bocais com o casco dos vasos e muitas vezes é necessário o TTAT
localizado do vaso, que devido aos problemas de custos e prazo são realizados com o equipamento na sua
posição de operação.

A análise da possibilidade de realização do TTAT localizado no campo envolve cálculos de engenharia, o


estabelecimento de métodos para acompanhamento do tratamento e em alguns casos, até a necessidade da
instalação de dispositivos provisórios, com a finalidade de garantir um mínimo de alteração do vaso após o
tratamento, tanto do ponto de vista dimensional (verticalidade, ovalização etc.) e metalúrgico, como do
estado de tensões, garantindo-se que o TTAT seja um benefício para o equipamento.

3.7.2. ANÁLISE DE ENGENHARIA

Antes de decidir sobre a forma de tratamento são necessários os seguintes estudos :


a) Cálculo das tensões aplicadas sobre a região a ser aquecida, considerando o efeito da temperatura no
limite de escoamento do material.

NOTAS: - Considerar os valores reais de espessura medidos.

19
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- Considerar as cargas devido ao vento.

b) Analisar a necessidade de se prever sustentação adicional do equipamento, durante o tratamento.


c) Definir os serviços necessários para deixar o equipamento em condições de livre expansão.
Exemplo: quebra de fire - proof, lubrificação e provisão de espaço para livre expansão do vaso, soltar as
linhas e plataformas, etc.
d) Definir variáveis a serem monitoradas durante o tratamento.
Exemplo: verticalidade para vasos verticais, movimentação linear dos vasos horizontais no apoio
deslizante, ciclo térmico, etc.

3.7.3. PREPARAÇÕES RELATIVAS AO AQUECIMENTO

No campo, o aquecimento é normalmente produzido com resistências elétricas energizadas por máquinas de
solda. As maiores vantagens são a portabilidade do método, a disponibilidade das máquinas de solda em
qualquer obra industrial e a não limitação de potência, pois basta usar quantas máquinas necessárias à área a
ser aquecida e tratada. Como regra geral, a potência necessária corresponde a uma energia de 2 a 5
watt / cm2 de superfície externa, para o tratamento térmico de alívio de tensões, desde que
convenientemente isolada, externa e internamente. Outra facilidade é o fácil controle, pois as máquinas
de solda são geradores ou transformadores de corrente contínua, com controle da voltagem e amperagem.

O material dos elementos de aquecimento comumente usado é o fio de níquel-cromo, que permite
temperaturas da ordem de 800 a 900° C. Em aquecimentos mais severos, usam-se os fios de Kanthal, uma
liga especial que permite altas temperaturas, da ordem de 1000 a 1300° C.

Modernamente as máquinas de solda vêm sendo substituídas por módulos de tratamento térmico, que são
equipamentos específicos para prover a energia elétrica ao aquecimento. Possuem programas automáticos
que controlam totalmente o tratamento térmico a partir das informações fornecidas, usando as prescrições do
código ASME para vários materiais e espessuras diferentes. Os elementos de aquecimento continuam sendo
resistores, constituídos por espiras de fio ou em mantas pré-fabricadas. Nesse particular, as mantas
produzem um aquecimento mais uniforme da superfície, do que as espiras ou os elementos de fios dobrados.

Para o isolamento térmico, devido às altas temperaturas envolvidas, são usadas as mantas de fibras
cerâmicas, em camadas de 25 mm de espessura, perfazendo 50 a 75 mm de isolante.

3.7.4. PREPARAÇÃO DO VASO PARA O TRATAMENTO TÉRMICO

a) O vaso deve estar livre para dilatar-se em todas as direções, não devendo ser imposta nenhuma restrição à
expansão térmica. Assim, os seguintes pontos devem ser observados :
a.1. Todas as tubulações ligadas ao vaso devem ser desconectadas.
a.2. Todas as tubulações cujo seu apoio estão ligados ao vaso, devem ser removidas de seus suportes.
a.3. Remover todos os internos do vaso, localizados na extensão de aquecimento e isolamento da parte do
vaso a ser tratado.
a.4. Soltar ou remover as plataformas e escadas, localizadas na extensão de aquecimento e isolamento
térmico da região a ser tratada.

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a.5. Verificar a necessidade de remover o fire-proof, caso este esteja dentro da extensão de aquecimento
e isolamento da região a ser tratada.
a.6. Limpar e lubrificar os apoios deslizantes dos vasos horizontais.

b) Outras providências de preparação do equipamento para o tratamento térmico :


b.1. Remover os instrumentos, conduites e fiação próximos da extensão de aquecimento e isolamento da
região a ser tratada.
b.2. Marcar os pontos de acompanhamento topográfico do vaso, quando for o caso. O acompanhamento
deve ser espaçado de 90°, de modo a permitir o acompanhamento nas direções norte/sul e
leste/oeste. Os pontos devem estar iluminados com duplicidade, para evitar contratempos.
b.3. Instalar cobertura da região do vaso que será aquecida e isolada a uma distância de pelo menos 1,5
m. do vaso.
b.4. Remover todos os plugs existentes em chapas de reforço na extensão de aquecimento e isolamento
da região a ser tratada.
b.5. Executar furo de no mínimo 3,0 mm de diâmetro em todas as chapas sobrepostas ao casco do vaso
(chapas de reforço, de atracação de grampos, etc.), localizadas na extensão de aquecimento e
isolamento da região a ser tratada.
b.6. Distribuir as resistências de aquecimento, optando por um controle de temperatura setorial (melhor
para vasos verticais) ou o controle de toda a região a ser tratada (melhor para vasos horizontais).
b.7. Distribuir os termopares de maneira setorial ou global, conforme a opção anterior e de maneira a
garantir o controle do gradiente térmico dentro dos valores recomendados.
b.8. Distribuir as máquinas de solda também de maneira setorial ou global, conforme a distribuição de
resistências adotada, tomando o cuidado de se adotar no mínimo 1 termo-par para cada máquina
de solda e uma máquina para cada resistência.
b.9. Adotar, dentro das possibilidades, a duplicidade de resistência e termopares, de maneira a se ter
um par operando e outro reserva.
b.10. Montar um sistema de identificação e um mapa das distribuições de resistência, termopares e
máquinas de solda de maneira a permitir a substituição de resistência ou termo-par durante o
tratamento, sem a necessidade de remoção do isolamento térmico, usando-se a resistência ou
termo-par reserva, conforme o caso.

3.7.5. RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA

a) Ter em local de fácil acesso extintores de incêndio de pó químico. Não é recomendado o uso de água ou
CO2, próximo ao vaso devido ao risco de resfriamento descontrolado e setorial do vaso aquecido.
b) Evitar a proximidade de materiais combustíveis próximo a região de aquecimento do vaso.
Exemplo: evitar corda, pano, madeira, etc.
c) Isolar a área adjacente ao vaso num perímetro de pelo menos igual ao diâmetro do vaso, ao redor deste,
durante o período do tratamento.
d) Comunicar a todos o período do tratamento, principalmente os funcionários dos períodos fora do
administrativo. (como domingos, noites, etc.).

3.8. AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DO TRATAMENTO TÉRMICO

Existem duas maneiras básicas de se medir o nível de tensões de um equipamento que podem ser usados
antes e após o tratamento térmico, para se avaliar sua efetividade.
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1. Avaliação pelo extensômetria, sendo as técnicas mais utilizadas : furo central, difração de raios X,
elastomagnética e a ultra-sônica. Destas técnicas a mais utilizada no campo é a técnica de extensômetria
elétrica com a execução de um furo cego na superfície do equipamento.
2. Avaliação pela dureza é técnica que tem sido mais utilizada para avaliação de tratamentos térmicos em
equipamentos de grande porte, como vasos de pressão.

A seguir serão apresentadas de maneira resumida e simplificada as três técnicas mais utilizadas atualmente
pelos técnicos na avaliação do nível de tensões de uma estrutura. (dureza, furo cego e raios X)

3.8.1. AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DO TTAT ATRAVÉS DA DUREZA

A medida da variação da dureza, antes e após o TTAT (tratamento térmico após a soldagem), é uma forma
de avaliar se o tratamento foi devidamente executado. Porém a dureza da ZTA não deve ser usada para
avaliar a tenacidade ou o nível de tensões residuais da junta soldada.

A variação da dureza depende primeiramente da facilidade da micro estrutura revenir. A estrutura


martensítica revine muito mais facilmente que a bainítica. Assim, em uma ZTA preponderantemente
martensítica, o TTAT pode levar a considerável queda de dureza, dependendo da % de carbono na
composição química do material. Já uma ZTA substancialmente bainítica , o TTAT resulta em baixa ou
mesmo nenhuma redução de dureza.
Outra característica que influi na variação da dureza é a presença dos elementos Nb, Va, Ti, que tornam o
aço microligado. Após o TTAT, devido a precipitação dos carbonetos que ocorre, a dureza pode mesmo
aumentar, dependendo da composição química do aço e dos parâmetros de soldagem.

Segundo o The Welding Institute para que o TTAT seja efetivo, a soma dos teores de V e Nb presentes na
composição química de um aço não pode ser superior a 0,1%.

Outra variável, que influi na dureza é o procedimento de soldagem. Na fábrica usa-se, normalmente,
processos automáticos ou semi-automáticos do tipo arco submerso. No campo, o reparo é feito com
eletrodo revestido e aporte de calor da ordem de 1,5 KJ / mm. Nestas condições as durezas nas zonas
fundidas e térmicamente afetadas de uma junta soldada no campo são bem diferentes da fábrica.

A dureza da ZTA é superior a do cordão de solda, mesmo após o TTAT. A razão é que o eletrodo,
normalmente, tem menor teor de carbono, que o metal base o que acarreta maior dureza na ZTA.

A medição da dureza na ZTA é de difícil realização, pela sua pequena largura (3 a 5 mm). Isso torna
impraticável o uso do aparelho Poldi ou Telebrineller para medir dureza na ZTA.

Qualquer medição com o Poldi na ZTA não é confiável, pois a esfera do penetrador é de 10 mm de
diâmetro, por isso não consegue atingir somente a ZTA. Por isso, considera-se que o Poldi é adequado para
medir a dureza do cordão de solda, de uma maneira genérica, ou seja, um valor de dureza média da junta
soldada.

Quando se deseja medir a dureza da ZTA o método de maior confiabilidade é o Ernst, este aparelho mede a
penetração do material e pode dar uma medida representativa da ZTA.
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Outros métodos utilizados para medir a dureza de juntas soldadas são:

- Ultra-som: não é representativo pois mede microdureza, com baixíssima carga, e pode estar medindo a
dureza do grão duro de uma inclusão.
- Microdur: é o aparelho que tem menos inconvenientes e pode ser usado para medir a dureza de ZTA, com
uma confiabilidade aceitável.

3.8.2. AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DO TTAT ATRAVÉS DA TÉCNICA DO FURO CEGO

A técnica chamada de ″ técnica do furo cego ″ consiste na confecção de um furo não-passante, de pequenas
dimensões, no ponto onde se pretende obter os valores das tensões residuais atuantes. Tais tensões são
calculadas a partir das deformações medidas por três extensômetros elétricos de resistência montados em
roseta. As deformações indicadas se referem à redistribuição de tensões, causadas pela retirada de material
por usinagem.

O procedimento é considerado semi destrutivo por introduzir um furo de até 3 mm de diâmetro de


profundidade, não prejudicando a resistência e o desempenho da maioria dos componentes de interesse. É
importante ter-se em mente que o furo usinado é um defeito e, como tal, produz um efeito concentrador de
tensões a partir de seus bordos.

Essa técnica se aplica a materiais elásticos, homogêneos e isotrópicos. São utilizadas a solução de Kirsch e as
relações constitutivas da teoria da elasticidade, para que, a partir da medição das deformações aliviadas,
sejam determinadas as tensões principais atuantes, bem como suas orientações. As medidas são obtidas com
um nível de precisão aceitável, desde que o rearranjo de tensões ocorra dentro do regime elástico.

O método possui um histórico evolutivo de mais de cinco décadas, tendo recebido várias contribuições. Pode
ser tomado como suficientemente desenvolvido e fundamentado para as aplicações de engenharia, desde que
respeitadas as premissas sobre as quais se apoia. A principal limitação para a aplicação do método é o fato
de ele pressupor tensões constantes ao longo da espessura na região do furo.
A introdução de um furo ( de pequeno diâmetro ) em um corpo sob tensões ocasiona um relaxamento local
dessas tensões. Isto ocorre porque, em quaisquer superfícies, no caso, na superfície do furo, nas suas
direções perpendiculares, as tensões normais e cisalhantes são necessariamente nulas. Naturalmente, a
eliminação destas tensões, mediante a confecção do orifício, provoca uma imediata variação em todo o
campo de tensões nas vizinhanças.

O processo é padronizado pelo método ASTM - E - 837 / 94.

3.8.3. AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DO TTAT ATRAVÉS DA TÉCNICA DA DIFRAÇÃO


DE RAIOS X.

Esta técnica, caraterizada como não-destrutiva, baseia-se no fato de que, quando um material se encontra
tencionado, as deformações resultantes acarretam alterações da distância entre os planos atômicos da
estrutura cristalina do metal. A técnica procura medir essa distância, sendo a tensão correspondente calculada

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a partira de expressões da teoria da elasticidade. A própria estrutura cristalina do material é usada como
extensômetro.

É amplamente aceito que a difração de raios X é a única técnica realmente não-destrutiva para a medição
confiável de tensões residuais. A evolução de seis décadas desde a primeira aplicação do método, tanto em
sua base teórica quanto na instrumentação, já permite seu uso no campo. A aplicação mais usual, chamada de
dispersão angular, é capaz de medir tensões a profundidades de até 0,05 mm. Esta pouca penetração
constitui uma das limitações do método.

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