Sílvio Ávila

Gado de Corte
Beef Cattle
 cenário . scenario
Com o boi
na sombra
Depois do período de turbulência, quando o
pecuarista foi obrigado a se desfazer das matrizes,
agora está com o boi na sombra, como se diz
A bovinocultura de corte brasileira vive um de seus me-
lhores momentos dos últimos cinco anos. As exportações
voltaram a crescer no primeiro semestre de 2010, os aba-
tes também aumentaram e os preços, tanto no mercado
interno como no externo, estão num bom patamar, tendo
crescido 18% por cabeça este ano, de acordo com o con-
sultor Alex Santos Lopes, da Scot Consultoria. Ele acres-
centa que as cotações médias praticadas em 2009 giraram
em torno de US$ 786,00 por cabeça, rendendo faturamen-
to de US$ 183 milhões. Para Antenor de Amorim Nogueira,
presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de
Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), houve redução na idade de abate dos animais.
Em uma análise dos últimos cinco anos, pode-se dizer
que 2006 foi um ano muito difícil para a bovinocultura, de-
vido à ocorrência de casos de febre aftosa, no ano anterior,
em Mato Grosso do Sul e no Paraná, mas cujas repercus-
sões atingiram todo o rebanho. Além disso, desde 2001 o
pecuarista vinha convivendo com preços baixos e, devido
à falta de renda, foi obrigado a se desfazer das matrizes,
cujos abates atingiram altos índices em 2006 e 2007. Se-
gundo Nogueira, houve momentos em que a taxa de abate
de fêmeas alcançou variação entre 45% e 47%, ou seja, de
cada 100 animais abatidos, quase metade eram matrizes.
Em 2008, as cotações voltaram a melhorar e havia de-
manda de carne, mas faltava gado, pois com a venda das
vacas, o número de terneiros e, em consequência de boi
14
gordo, diminuiu. Além disso, a crise econômica internacio-
nal afetou as exportações brasileiras em 2008 e 2009. Por-
tanto, neste 2010 o pecuarista começa a se recuperar de
um longo período de “vacas magras”.
As exportações no primeiro semestre cresceram 23%
em faturamento, atingindo a US$ 2,352 bilhões, graças
à elevação do preço médio e do volume embarcado. As
perspectivas são de que continuem crescendo no se-
gundo semestre, pois nesse período os embarques ao
exterior costumam ser maiores. Além disso, o rebanho
encontra-se estabilizado e o valor do bezerro, que vinha
pressionando os invernistas, cedeu bastante desde a
segunda quinzena de junho. De acordo com dados do
Centro de Pesquisas Avançadas em Economia Aplicada
da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Uni-
versidade de São Paulo (Cepea/Esalq/USP), o preço do
bezerro, que chegou a R$ 740,00, havia caído para R$
689,14 na última semana de julho.
Outra boa notícia é o incremento da demanda de car-
ne no mercado interno, o que elevou os abates. Segundo
a Superintendência Federal de Agricultura, o crescimento
atingiu 8,8% no primeiro semestre de 2010 em compa-
ração a igual período do ano passado. Foram 1.669.147
animais contra 1.534.206 de 2009. Só no mês de junho fo-
ram abatidas 289.185 cabeças, 9,6% a mais que em junho
do ano passado. O recorde, no entanto, foi alcançado em
março, quando os abates chegaram a 291.706 animais.
Sílvio Ávila
 Cattle resting in
the shade
After a period of turbulence,
when cattle ranchers were forced
to get rid of their parent breeds,
now the time has come for a good
rest in the shade, as they say
Brazilian beef cattle business is going through one of its
best moments over the past five years. Exports resumed
their rising trend in the first half of 2010, slaughter also
soared and the prices, both in the domestic market and
abroad, are on a good level, and rose 18% per head this
year, says consultant Alex Santos Lopes, of Scot Consul-
toria. He adds that average prices per head in 2009 were
about US$ 786, generating revenues of US$ 183 million.
Antenor de Amorim Nogueira, president of the Permanent
National Forum for Beef Cattle at the Brazilian Federation
of Agriculture and Livestock (CNA), understands that there
has been a reduction in the slaughter age.
By analyzing the past five years, one can conclude
that 2006 was a very difficult year for beef cattle farming,
mainly due to foot and mouth disease outbreaks in the
previous year, in Mato Grosso do Sul and Paraná, with rip-
ple effects hitting the entire herd. Furthermore, since 2001
the cattle breeders had been putting up with low prices
and, due to scarce income, they were forced to get rid
of their parent breeds, making slaughter rates soar con-
siderable in 2006 and 2007. According to Nogueira, there
were times in which female slaughters varied from 45% to
47%, that is to say, out of every 100 animals slaughtered
almost half were female breeders.
In 2008, prices began to react and there was demand
for meat, but there was a shortage of cattle, because lots of
cows had been slaughtered, resulting into a smaller num-
16
ber of calves and, consequently, a shortage of fat animals.
And there is more, the international economic downturn af-
fected Brazilian exports in 2008 and 2009. It is therefore
believed that the year 2010 will mark the recovery from a
long period of “lean cows”.
In the first half of the year, exports rose 23%, reaching
US$ 2.352 billion, thanks to higher average prices and big-
ger volumes shipped abroad. The perspectives hint at the
continuity of the rising trend over the second half of the
year, as shipments abroad normally soar during this period
of the year. Furthermore, the herd has reached a stabilized
position and the price for calves, which had been exert-
ing pressure over the cattle rearers, began receding since
mid June. According to data released by the Advanced Re-
Seu rebanho não é o único que pode fazer
você crescer muito com o seu negócio.
search Center for Applied Economics of the Higher Agricul-
ture school Luiz de Queiroz of the University of São Paulo
(Cepea/Esalq/USP), the price of a calf, which soared to R$
740 had fallen to R$ 689.14 in late July.
Rising demand for meat in the domestic market is good PECUÁRIA. ONDE TEM CRESCE NORDESTE, TEM CRESCIMENTO.
news too, pushing up slaughters. According to the Fed-
eral Agriculture Superintendency, there was an 8.8-percent O Cresce Nordeste, do Banco do Nordeste, continua sendo a melhor opção para você implantar,
growth in the first half of 2010, compared to the same pe-
ampliar ou modernizar o seu negócio. São financiamentos com prazos mais longos e juros
riod last year. In all, 1,669,147 animals were slaughtered,
mais baixos para qualquer porte ou setor. E se o investimento for no semiárido, as condições
compared to 1,534,206 in 2009. In the month of June
são ainda melhores. Aproveite e não esqueça: onde tem Cresce Nordeste, tem crescimento.
alone, 289,185 animals were slaughtered, up 9.6¨% from
June last year. The record, nevertheless, was hit in March,
when 291,706 animals were slaughtered. C LIENT E C O NS ULTA | O UVID O RIA : 0800 728 3030 • C LIENT EC O NS ULTA @ BNB. GOV. BR • W W W. BNB.G OV.B R
17

Tamanho é
documento
Apesar da menor oferta de
boi gordo para abate, rebanho
bovino comercial brasileiro
ainda é o maior do mundo
Mesmo com redução de 3% nos últimos anos, o reba-
nho bovino brasileiro continua sendo o maior do mundo,
comercialmente falando, superando o indiano e o chinês.
De acordo com informações da Associação Brasileira das
Indústrias de Carne (Abiec), o número de cabeças está em
torno de 190 milhões de animais. No entanto, os núme-
ros oficiais são os do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e os últimos se referem a 2008, quan-
do haviam 202,287 milhões de cabeças. Segundo o IBGE,
de 2006 para 2007 houve queda de 3% no efetivo bovino,
que antes era de 205.886.244 e passou para 199.752.014
animais. No entanto, em 2008 o rebanho cresceu 1,3%,
sendo o primeiro resultado positivo depois de dois anos de
18
retração. A diminuição é atribuída à descapitalização dos
produtores, que acabaram abatendo matrizes.
Segundo o órgão oficial, Mato Grosso é responsável
por 12,9% do efetivo nacional, com 25.683.031 animais.
Em segundo lugar está Minas Gerais, com 22.575.194
cabeças, que representam 11,3% do total. Vêm a seguir
Mato Grosso do Sul, com 21.832.001 de cabeças e 10,9%
do total; Goiás, com 20.471.490 de cabeças e 10,2% do
efetivo; e Pará, com 15.353.989 de cabeças e 7,7 do total.
Esses cinco estados abrigam mais da metade (53%) dos
bovinos brasileiros e foram o destino de uma migração que
ocorreu dos estados do Sul para os do Centro-Oeste. Até
2006, o segundo lugar era ocupado por Mato Grosso do
Sílvio Ávila
Sul, que foi superado por Minas Gerais. Os dados indicam
ainda que, de 1997 a 2007, houve aumento de 78% no re-
banho nos municípios da Amazônia Legal, com destaque
para o Sul do Pará, o Norte de Mato Grosso e Rondônia.
O IBGE acrescenta que a criação de gado no Brasil
tem-se deslocado em direção ao Norte do País, em parte
devido à disputa por áreas ocupadas com as lavouras de
cana-de-açúcar, soja e milho no Centro-Sul. Houve redu-
ção de 46%, de 1997 a 2002, para 22%, de 2002 a 2007,
no ritmo de crescimento do rebanho bovino na região. De
2006 a 2007, houve queda de 5% no efetivo bovino na
Amazônia Legal, que chegou a 69.575 milhões de cabe-
ças, ou seja, 34,8% do todo nacional.
CONSEQUÊNCIA O abate de matrizes, cujo ápice foi
nos anos de 2006 e 2007, está mostrando agora os seus
efeitos, pois um bezerro leva de três a quatro anos para se
transformar em boi gordo em condições de abate. Devido
a isso, em algumas regiões os confinadores estão com di-
ficuldades para encontrar bezerros e está faltando boi para
abate. Em Mato Grosso, os estoques de animais acima de
36 meses estão em queda e paira a ameaça de faltar gado
nos próximos três anos. “Se houver aumento na demanda,
não vai ter boi”, afirma Luciano Vacari, superintendente da
Associação de Criadores do Estado (Acrimat).
Ele diz que, de acordo com estudo realizado pela asso-
ciação, com base nos números oficiais de vacinação, os es-
toques entraram 2010 com 1,53 milhão de cabeças prontas
para serem abatidas. A projeção aponta, para 2011, redução
de cerca de 19%. Em 2012, o volume deve cair para 1,09 mi-
lhão de animais com mais de dois anos, recuo de 29% ante
2010 e de 12% se comparado a 2011. “O rebanho nacional
só deve voltar a se normalizar a partir de 2014”, assinala.
Vacari explica que o Brasil tem condições de atender
ao consumo interno, mas as exportações de carne, que
hoje representam 30% do volume total, podem recuar. “O
melhor preço e as políticas públicas vão definir o destino
da carne”, arremata. Na opinião de Alan Nangi, super-
visor do Departamento de Acompanhamento de Abate
da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), “o
criador avaliou que é mais rentável vender o boi magro ou
esperar a safra, pois nesse período o preço da arroba tem
atingido os melhores picos”.
Por outro lado, Alex Santos Lopes da Silva, da Scot
Consultoria, acredita que o número de bovinos inverna-
dos em 2010 deve recuar 8%. Em 2009, os animais con-
finados, que representam em torno de 10% do total de
40 milhões de cabeças abatidas por ano, somavam 2,69
milhões. Vacari, da Acrimat, concorda que houve redução
no confinamento e explica que, em abril e maio, época de
tomada de decisão para o confinador, o cenário da pecu-
ária não estava claro. “Gastos em aquisição de garrotes,
alimentação e cotações futuras não fechavam as contas”,
observa. Segundo Nangi, da Assocon, a diferença no valor
da arroba do boi no pasto para o animal confinado pode
variar de 28,5% a 32,3%. “Um boi de três anos estava co-
tado de R$ 68,00 a R$ 70,00 a arroba no final de julho. A
arroba do confinado valia R$ 90,00”, aponta.
19
 Size
counts
Although fat cattle are in short
supply, the national bovine herd
still ranks first in the world
In spite of the 3-percent reduction over the past years,
the Brazilian bovine herd is still the largest in the world, in
commercial terms, outstripping Indian and Chinese herds.
From information released by the Brazilian Association of
Meat Industries (Abiedc), the number of head remains at
190 million animals. Nevertheless, the official figures re-
leased by the Brazilian Institute of Geography and Sta-
tistics (IBGE), the most recent refer to 2008, when there
were 202.287 million head. According to IBGE, from 2006
Sílvio Ávila
20
to 2007 there was a decrease of 3% in the number of bo-
vines, falling from 205,886,244 to 199, 752,014 animals.
However, in 2008 the herd grew 1.3%, being the first posi-
tive result after two years on the decline. The reduction
is attributed to cash-strapped farmers, who ended up
slaughtering their breeding herds.
According to the IBGE, Mato Grosso is responsible for
12.9% of the national herd, with 25,683,031 animals, fol-
lowed by Minas Gerais, with 22,575,194 head, represent-
ing 11.3% of the total. Then comes Mato Grosso do Sul,
with 21,832,001 head and 10.9% of the total; Goiás, with
20,471,490 head and 10.2% of the total; and Pará, with
15,353,989 head and 7.7 of the total. These five states are
home to more than half (53%) of the Brazilian bovines and
were the destination for a migration that occurred from
the southern states to the Center-West. Up to 2006, Mato
Grosso do Sul had been ranking second, but was out-
stripped by Minas Gerais. The data also reveal that from
1997 to 2007, the herds of the municipalities of the Legal
Amazon region soared 78%, particularly in the municipali-
ties of South Pará, North Mato Grosso and Rondônia.  ply, a fact that could lead to meat shortages over the next
The IBGE also mentions that cattle farming in Brazil
has been moving towards the North of the Country, partly
due to tight competition for the land planted to sugar cane,
soybean and corn in the Center-South. Nevertheless, from
1997 to 2002, there was a reduction of 46%, and from
2002 to 2007, 22%, in the growth rate of the bovine herds
throughout the region. From 2006 to 2007, the herd in the
Legal Amazon dropped 5%, reaching 69,575 million head,
representing 34.8 % of the national herd.
CONSEQUENCE Indiscriminate slaughter of parent
breeds, which reached its peak in 2006 and 2007, is now
showing its effects, once a calf takes three to four years
to reach ideal slaughter age. Due to this, in some regions
cattle confinement operations are having difficulty finding
calves and there is a shortage of fat cattle for slaughter. In
Mato Grosso, over 36-month old cattle are in short sup-
three years. “Should demand rise, there will not be enough
animals”, says Luciano Vacari, superintendent of the State
Breeders’ Association (Acrimat).
He says that, according to a study conducted by the
association, based on official vaccination numbers, in early
2010, cattle stocks amounted to 1.53 million head, ready
for slaughter. Projections for 2011 point to a reduction of
19%. In 2012, the volume is expected to fall to 1.09 million
over-two-year-old animals, down 29% from 2010 and 12%
from 2011. “The national herd is supposed to get back on
track from 2014 onward”, he notes.
Vacari explains that Brazil is in a position to meet do-
mestic needs, but meat exports, which now represent
30%¨of the total volume, might recede. “Best prices and
government policies will define the destination of the
meat”, he concludes. In Alan Nangi’s view, supervisor of
the Follow-Up Department at the National Association of
Confinement Operations (Assocon), “rearers considered if
it was more profitable to sell lean livestock, or wait for the
high season, when prices normally achieve their peak”.
On the other hand, Alex Santos Lopes da Silva, of Scot
Consultoria, believes that the number of bovines in confine-
ment in 2010 should recede 8%. In 2009, confined animals,
which represent about 10% of the 40 million head slaugh-
tered a year, reached 1.69 million head. Vacari, of Acrimat,
also sees a reduction in confinements and explains that, in
April and May, a time when confinement operators take their
decisions, the cattle farming scenario was not clear. “Ex-
penses on the acquisition of young bulls, food and future
quotations were leaving bill settlements unclear”, he ob-
serves. According to Nangi, of Assocon, the difference be-
tween the price on the hoof for grass-fed cattle and confined
animals could vary from 28.5% to 32.3%. A three-year old
animal sells for R$ 68 to R$ 70 per arroba by the end of July.
Confined cattle sell for R$ 90 per arroba”, he observes.
21
 O dono da
pastagem
Raça Nelore é dominante no
rebanho brasileiro, espalhando-
se por todo o território,
enquanto o gado de origem
europeia concentra-se no Sul
As qualidades do rebanho bovino brasileiro, que o tor-
nam tão atrativo para os consumidores nacionais e inter-
nacionais, são provenientes de duas origens de raças — as
zebuínas e as taurinas — e também do cruzamento entre
elas. As primeiras respondem por 80% do gado nacional
e, dentre elas, a raça Nelore é o grande destaque, pois
responde por 90% dos zebuínos brasileiros. Os outros
20% são formados por raças taurinas (Bos taurus), entre
as quais se sobressaem as de origem europeia.
O gado zebuíno, que veio da Índia, está distribuído ao
longo do território brasileiro e tem sua marca na rustici-
dade. Esse diferencial lhe confere resistência ao calor, a
doenças e a parasitas devido às características corpóreas.
São elas pelos curtos e finos, que facilitam a perda de calor,
e pele com melanina, que protege o animal contra os raios
ultravioleta, atributos que tornam o gado ideal para regiões
de clima tropical. A rusticidade também contribui para o
melhor aproveitamento de pastagens mais grosseiras, que
eles transformam em alimento, facilitando a adaptação a
locais onde esse tipo de pastagem é comum.
O rebanho taurino está concentrado nos estados da re-
gião Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), cujo
clima é muito parecido com o europeu, de onde ele procede.
22
Os animais de porte médio (raças britânicas) são conhecidos
pela precocidade sexual e pela produção de carne macia, su-
culenta e com excelente acabamento de gordura, o que dá
um sabor especial, garantindo a mistura adequada de gor-
dura e músculo, a que se dá o nome de marmoreio. Quanto
melhor é o marmoreio, maior é a qualidade da carne.
A precocidade da vida reprodutiva é vantagem para o
criador, que consegue obter um terneiro mais cedo. Entre
as raças britânicas, destacam-se o Hereford, o Shorthorn
e o Angus como as mais criadas no Sul. As raças Simental
e Limousin (continentais) são de maior porte e um pouco
mais tardias, produzindo uma carcaça mais pesada. Além
da precocidade, os animais de origem europeia apresen-
tam alto índice de fertilidade, rápido ganho de peso, ha-
bilidade materna e bom rendimento de carcaça, o que os
tornam lucrativos para o pecuarista.
Além das raças puras, é frequente o cruzamento de ze-
buínos e taurinos, aproveitando o que cada um oferece de
vantagem. Assim aproveita-se a rusticidade dos zebuínos
e a precocidade dos taurinos. Entre as características mais
desejáveis dessa prática estão precocidade sexual, habi-
lidade materna, muscolosidade, acabamento de carcaça,
conversão alimentar e ganho de peso a pasto.
King of the
grassland
Nelore breed predominates in
the Brazilian herd, scattered
across the entire territory,
whereas European cattle are
more common in the South
The qualities of the Brazilian herds, which make them
very attractive to both domestic and international consum-
ers, stem from two breed origins – zebu and taurine – and
also from the crossing between the two. The former account
for 80% of our national cattle and, among them, the Nelore
breed is the highlight, as it accounts for 90% of all Brazil-
ian zebu animals. The other 20% come from taurine breeds
(Bos Taurus), where the European breeds stand out.
Zebu cattle, brought in from India, are scattered across
the Brazilian territory, and rusticity is their leading trait. It gives
these animals resistance to warm temperatures, diseases and
parasites, mainly due to their corporeal characteristics. These
characteristics are as follows: fine and short fur, which facili-
tate loss of heat, and melanin-induced skin pigment, which
protects against ultraviolet radiation, attributes that make
these animals ideal for warm tropical climates. Their rustic-
ity also makes them take advantage of rough pasturelands,
which they transform into food, facilitating their adaptation to
places where this type of pasturelands are common.
The taurine herds are concentrated in southern states
(Paraná, Santa Catarina and Rio Grande do Sul) where
climate conditions are very similar to Europe, their place
Sílvio Ávila
of origin. The medium-sized animals (British breeds) are
known for their sexual precocity and for the production of
tender, succulent meat, with an excellent fat finishing, im-
pairing a special flavor, ensuring adequate mixture of fat
and muscle, normally referred to as marbled meat.
Their early reproductive capacity favors the farmers,
who manage to produce calves in short periods of time.
Among the British breeds, the Hereford, Shorthorn and
Angus stand out over the others in that they are the most
common in the South. The Simental and Limousin breeds
(continental) are bigger in size and take longer, resulting
into a heavier carcass. In addition to their precocity, the
European animals are renowned for their fertility rates, fast
gain in weight, maternal ability and good carcass yield,
making them profitable for the ranchers.
Besides the purebreds, frequently zebus are crossed
with taurines, taking advantage of the good traits of both of
them. Therefore, the rusticity of the zebus and the precoc-
ity of the taurines are combined. The most desired charac-
teristics of this practice include sexual precocity, maternal
ability, robust muscles, carcass finishing, food conversion
and gain in weight on pastureland.
23

Saldo
positivo
Exportações brasileiras de carne
bovina, em 2010, devem voltar aos
níveis de 2008, quando o Brasil
faturou mais de US$ 5 bilhões
São boas as tendências para as exportações brasileiras
de carne bovina em 2010, que devem voltar a volumes ra-
zoáveis, segundo opinião de Antenor de Amorim Nogueira,
presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de
Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA). Ele diz que estão sendo abertos novos mercados. O
Grupo JBS-Friboi adquiriu uma empresa frigorífica da Co-
reia do Sul; existem negociações com a Coreia do Norte
para compra de carne do Brasil; e há o desejo da União
Europeia de restabelecer o acordo com o Mercosul. Além
disso, a CNA e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
tecimento (Mapa) montaram em conjunto um banco de
dados para dar mais transparência às informações sobre
rastreabilidade, o que deve facilitar as auditorias da União
Europeia. Tudo isso beneficiará as vendas ao exterior.
No primeiro semestre de 2010 já pôde ser verificado
crescimento de 23% nos embarques a outros países em
relação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a ju-
nho, o rendimento foi de US$ 2,352 bilhões, de acordo com
informações da Associação Brasileira das Indústrias Expor-
tadoras de Carne (Abiec). Em volume, o aumento foi menor,
alcançando a 970,7 mil toneladas em equivalente carcaça (T
Eqc), apenas 2% a mais que no primeiro semestre de 2009.
Somente no segmento in natura o incremento das exporta-
ções foi de 32,9%, saindo de US$ 289 milhões, em 2009,
para US$ 384 milhões, devido ao aumento de 23,8% no
preço médio e de 7,3% na quantidade embarcada.
No mês de junho, as vendas externas chegaram a
US$ 455 milhões, alta de 19% sobre igual período do
ano anterior. Quanto ao volume, houve queda de 2%,
ficando em 177 mil toneladas. O principal motivo da
queda foi a suspensão pelo governo brasileiro, em 27 de
maio, dos embarques de carne industrializada para os
Estados Unidos devido à presença de resíduos do para-
24
siticida Ivermectina em um lote que seria exportado.
De janeiro a dezembro de 2009, os envios brasileiros
de carne bovina ao exterior somaram 1,924 milhão de T
Eqc e receita de US$ 4,118 bilhões, ficando 23% abaixo
de 2008 em valor (US$ 5,325 bilhões) e 11% a menos
em volume (2,163 milhões de T Eqc). O resultado nega-
tivo foi devido aos efeitos da crise econômica mundial,
iniciada no segundo semestre de 2008, à falta de crédi-
to para financiar os embarques e ao preço internacional
O melhor da agropecuária brasileira para o mundo.
pago pela carne, que era baixo.
Otávio Cançado, diretor executivo da Abiec, diz que
os resultados do primeiro semestre de 2010 mostram que
há recuperação dos preços no mercado internacional. A
cotação média do produto in natura, por exemplo, subiu
para US$ 3.986,00 por tonelada em junho, 24% a mais
do que há um ano. Levando em conta o comportamento
no primeiro semestre, Cançado considera possível atingir
novamente os níveis de 2008, quando o Brasil exportou
US$ 5 bilhões em carne bovina in natura e derivados. Ele
destaca que, entre julho e dezembro, as transações inter-
nacionais costumam crescer.
A Rússia continua como o maior importador do produ-
to in natura do Brasil, tendo adquirido, de janeiro a junho,
203 mil T Eqc, o que representou faturamento de US$
455,2 milhões. O Irã é o segundo do ranking com 139,6
mil T Eqc e US$ 367,818 milhões. Para a União Europeia,
foram US$ 148,7 milhões. Em relação às vendas de gado
em pé, a estimativa é de encerrar o ano com 620 mil
cabeças enviadas ao exterior, superando as 519 mil de
2009. A Venezuela tem sido a principal responsável pelo
incremento dessas exportações. No primeiro semestre de
2010, foram embarcadas para Venezuela, Líbano, Egito
e alguns países africanos 291 mil bovinos vivos, o que
gerou rendimento de US$ 270 milhões.
Quando se conquista confiança, o mundo todo reconhece.
When a reputation for reliability is gained, the whole world recognizes it.
The best of Brazilian cattle breeding to the world.
Desde 1988 divulgamos e exportamos a cadeia produtiva da agro-
pecuária brasileira para o mundo. Sempre difundindo os avanços
da genética bovina e inovando em parcerias que garantam sustent-
abilidade e eficiência dos países em desenvolvimento. Hoje, além
da exportação de animais vivos, a AgroExport, atua na transferência
de tecnologia e know-how, exportando todo o pacote tecnológico,
bem como seus produtos: sêmen, embriões, produtos veterinários,
sementes para pastagem, implementos agrícolas e equipamentos
para agroindústria. Desenvolvemos projetos agrícolas e pecuários,
que vão desde a preparação, implantação e execução. Possuímos
parcerias em vários países, entre eles: Angola, Venezuela, Senegal,
Burkina Faso, Benin, entre outros. Somos a mais tradicional empresa
brasileira qualificada em efetuar a exportação de animais vivos, com
uma equipe altamente qualificada, que atende a todos os padrões
de qualidade, preocupando-se com o bem-estar animal em todo
o processo, desde a seleção no momento da compra, transporte,
quarentena e embarque dos animais. Nossas estações próprias para
quarentena em Uberaba e Belém possuem reconhecimento oficial
do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil. Compromisso, re-
speito e confiança fazem da AgroExport uma referência no comércio
agropecuário mundial.
UBERABA MG BELÉM PA
Telephone +55 (34) 3317 7100 Telephone +55 (91) 3252 3550
Fax +55 (34) 3317 7175 Fax +55 (91) 3252 2052
Rua Marcos Lombardi, 450 Av. 16 de Novembro, 39
Santa Maria . Brazil Largo do Redondo - Cidade Velha
agroexport@agroexport.agr.br Zip Code 66023 220 . Brazil
www.agroexport.agr.br
Since 1988 we have been promoting and exporting the production
chain of Brazilian agribusiness throughout the world. Always featur-
ing technical advances in bovine genetics and innovating in partner-
ships that ensure sustainable and efficient methods to developing
countries. Nowadays, besides the export of live animals, AgroExport
operates in technology transference and know-how, exporting the
entire technology package, as well as its products: semen, embryos,
veterinary products, pasture seeds, farm equipment and implements
for agroindustrial purposes. We also develop agricultural and cattle
farming projects that range from preparation, implementation and
execution. We have partnerships agreements in several countries,
among them: Angola, Venezuela, Senegal, Burkina Faso, Benin, and
others. We are the most traditional Brazilian company qualified to
carry out exports of live animals, with a highly qualified team, in line
with all quality requirements, concerned with the well-being of the
animals throughout the entire process, from selection at purchasing
to transportation, quarantine and shipment. We have our quaran-
tine stations in Uberaba and Belém, and they have been officially
acknowledged by the Brazilian Ministry of Agriculture, Livestock and
Food Supply (Mapa). Commitment, respect and reliability are part of
AgroExport and turn the company into a reference in global agribusi-
ness transactions.
Tradição e confiança além das fronteiras.
Tradition and confidence beyond the borders.
25

balance
Brazilian exports of bovine meat
in 2010 are expected to match
2008 year levels, when revenues
amounted to US$ 5 billion
There are good perspectives for Brazilian bovine meat
exports in 2010, and reasonable volumes are to be reached,
says Antenor de Amorim Nogueira, president of the Perma-
nent National Forum for Beef Cattle at the Brazilian Federa-
tion of Agriculture and Livestock (CNA). He refers to the
recently opened new markets. Grupo JBS-Friboi has just
acquired a meat packing company in South Korea; nego-
tiations are going on in North Korea, a country interested
26
Positive
in importing meat from Brazil; and the European Union is
signaling a new agreement with Mercosur. Furthermore, the
CNA and the Ministry of Agriculture, Livestock and Food
Supply (Mapa) jointly set up a database to make informa-
tion on traceability more transparent, a fact that should
facilitate the audits by the European Union. All these initia-
tives are supposed to benefit foreign meat sales.
In the first half of 2010 exports to other countries
Sílvio Ávila
Boas perspectivas . Bright perspectives
Exportação brasileira de carne bovina - Janeiro a junho de 2009 e 2010
Segmento
In natura
Industrializada
Miúdos
Outros
Total
Fonte: Abiec / *Toneladas em equivalente carcaça
soared 23%, compared to the same period last year. Janu-
ary through June, revenues reached US$ 2.352 billion, ac-
cording to figures released by the Brazilian Association
of Export Industries (Abiec). In volume, the increase was
somewhat smaller, reaching 970.7 thousand tons equiva-
lent carcass weight (T Eqc), up only 2% from the first half
in 2009. Only in the segment of fresh meat exports went up
by 32.9%, from US$ 289 million in 2009 to US$ 384 million,
due to the 23.8-percent rise in average prices and 7.3-per-
cent in volumes shipped abroad. In the month of June, for-
eign sales amounted to US$ 455 million, up 19% from the
same period the year before. As to the volume, it was down
2%, remaining at 177 thousand tons. The main reason of
the decline was the suspension by the Brazilian govern-
2009 2010
US$ (milhões) T Eqc* US$ (milhões) T Eqc
1.359 667. 686 1.841 714.580
336,1 210.069 294 179.631
93,9 43.383 100,3 42.692
125,7 33.898 116,3 33.811
1.915 955.036 2.352 970.714
ment, on 27th May, of all industrialized meat shipments to
the United States because of the presence of ivermectin
parasites in a lot that was to be shipped.
January through December 2009, shipments abroad of
Brazilian bovine meat reached 1.924 million T Eqc and rev-
enue of US$ 4.118 billion, down 23% from 2008 in value
(US$ 5.325 billion) and 11% less in volume (2.163 million
T Eqc). The negative result is blamed on the effects of the
global economic downturn, which started in the second
half of 2008, on the lack of credit lines for shipments and
on the low international meat prices.
Otávio Cançado, executive director of Abiec, has it that
the results of the first half in 2010 reveal a recovery in the
international meat prices. Average prices for fresh meat, for
example, rose to US$ 3,986 per ton in June, up 24% from a
year ago. Taking into consideration the first half of the year,
Cançado thinks it is possible to reach the 2008 levels again,
when Brazilian meat exports amounted to US$ 5 billion, in
fresh meat and derivatives. He recalls that, from July to De-
cember, international transactions normally rise in volume.
Russia is still the leading importer of fresh meat from Bra-
zil, with purchases reaching 203 thousand T Eqc, January
through June, and revenue of US$ 455.2 million. Iran ranks
second with 139.6 thousand T Eqc and US$ 367.818 million.
Shipments to the European Union amounted to US$ 148.7
million. As to shipments of cattle on the hoof, it is estimated
that 620 thousand head will be shipped abroad until the end
of the year, compared to 519 thousand in 2009. Venezuela
has been a major importer of this type of shipments. In the
first half of 2010, shipments to Venezuela, Lebanon, Egypt
and some African countries reached 291 thousand live bo-
vines, generating revenue of US$ 270 million.
27
 Role
reversal
India boasts the largest cattle

Sílvio Ávila
herd in the world, but Brazil
is the leader in commercial
herds and in exports
Brazil is home to the biggest commercial herd in the
world, but India leads in number of head. The difference
lies in religious beliefs, as no beef is consumed in that
country, where part of the production is exported, esti-
mated at 2.7 million tons in 2008, according to the United
States Department of Agriculture (USDA).
equivalent carcass (T Eqc). In this sector, Brazil reaches 9.9
million T Eqc, China, 8.1 million and the European Union
countries reach 7.9 million. Over the past 10 years, how-
ever, Brazil almost doubled its production volumes, while in
the other countries production soared only slightly.
With regard to global beef exports, Brazil accounts

Inversão de
According to data furnished by the North American for 33% of this market. The major clients are Russia,

papéis
department, the Indian herd in 2010 reaches 280.8 million
head, while the Brazilian herd is estimated at 190.3 million,
followed by China, with 103.9 million head, and the United
States, with 92.7 million. The 27 European Union countries
come next, with 88 million head; Argentina, with 49.7 mil-
lion; and Australia, with 27.8 million.
Enquanto a Índia tem o maior Although ranking fourth in number of head, the United
número de cabeças de gado do States is the leading producer of beef, with 11.9 million tons
which absorbs 17% of the shipments, the European
Union (11%), Egypt (4%), the Philippines (3%), Taiwan
and Hong Kong, with 2% each. Over the past years, new
markets were conquered, like Egypt, Bulgaria, Iran and
Iraq. The United States is the leading buyer of processed
meat, with 30% of total shipments, followed by the Unit-
ed Kingdom, with 29% and the European Union, wich
absorbs 19% of total shipments.

mundo, Brasil lidera no rebanho

Entre grandes . The major ones
comercial e nas exportações Maiores rebanhos mundiais (em milhões de cabeças)
País 2006 2007 2008 2009 2010
O maior rebanho bovino comercial do mundo é do canos detêm a maior produção de carne bovina, com 11,9
Brasil, mas a liderança em número de cabeças é da Ín- milhões de toneladas em equivalente carcaça (T Eqc). Nes- Índia 282,0 281,7 281,4 281,1 280,8
dia. A diferença dá-se por motivos religiosos, visto que se setor, o Brasil alcança a 9,9 milhões de T Eqc, a China Brasil 173,6 175,4 179,5 185,3 190,3
não se consome carne de gado naquele país, que expor- obtém 8,1 milhões e os países da União Europeia somam China 104,7 105,9 105,7 104,9 103,9
ta parte da sua produção, calculada em 2,7 milhões de 7,9 milhões. Nos últimos 10 anos, contudo, os brasileiros
Estados Unidos 96,6 96,0 94,5 93,7 92,7
toneladas em 2008, segundo o Departamento de Agri- praticamente dobraram a produção, enquanto os demais
União Europeia 88,5 89,0 88,8 88,4 88,0
cultura dos Estados Unidos (USDA). países tiveram pequeno crescimento.
De acordo com os dados de 2010 do órgão norte- Em relação às exportações mundiais de carne, o Brasil Argentina 55,7 55,7 54,3 49,9 49,7

americano, o rebanho indiano é de 280,8 milhões de responde por 33% desse comércio. Seus principais clientes Austrália 28,4 28,0 27,3 27,0 27,8
cabeças, enquanto o brasileiro é estimado em 190,3 são Rússia, que absorve 17% dos embarques, União Euro- México 23,3 22,9 22,7 22,1 21,4
milhões, vindo em terceiro lugar a China, com 103,9 mi- peia (11%), Egito (4%), Filipinas (3%), Taiwan e Hong Kong, Rússia 19,0 18,4 17,9 17,5 17,2
lhões, e em quarto, os Estados Unidos, com 92,7 mi- com 2% cada. Nos últimos anos, novos mercados foram
Canadá 14,2 13,9 13,2 13,0 12,7
lhões. A seguir aparecem os 27 países da União Euro- conquistados, como Egito, Bulgária, Argélia, Irã e Iraque.
peia, com 88 milhões de cabeças; a Argentina, com 49,7 Os Estados Unidos são o mais forte comprador de carne Outros 117,4 117,8 112,7 103,1 84,8

milhões; e a Austrália, com 27,8 milhões. processada, respondendo por 30% do total embarcado, Total 1.003,6 1.004,7 998,0 986,0 969,3
Apesar de possuírem o quarto rebanho, os norte-ameri- seguindo–se Reino Unido (29%) e União Europeia (19%). Fonte: USDA

28 29
 Paving

Caminho
the way
aberto Positive analysis by the EU with

Análise positiva da UE quanto
ao controle da produção de
carne brasileira pode levar à
retomada das exportações
As perspectivas favoráveis ao crescimento das expor-
tações de carne bovina foram engrossadas com uma boa
notícia, divulgada em 27 de julho de 2010. A informação é o
primeiro resultado positivo da visita que o ministro da Agri-
cultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Wagner Rossi, e
uma missão brasileira fizeram à Europa, no início daquele
mês, para destravar as negociações relacionadas ao produto
brasileiro. As autoridades sanitárias da Comissão Europeia
afirmaram que os controles da produção de carne bovina no
Brasil para venda ao mercado europeu foram “satisfatórios”.
Os inspetores comunitários visitaram nove fazendas e seis
frigoríficos nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato
Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.
O relatório do Escritório de Alimentação e Veterinária
(FVO, na sigla em inglês) elogia a ação das autoridades
brasileiras e reforça, de forma indireta, a iniciativa nacio-
nal de passar a gerenciar a lista de fazendas habilitadas
Sílvio Ávila
Inspeção Federal (SIF) também foi positiva. Quanto ao pro-
cesso de certificação oficial, os auditores verificaram que
têm sido cumpridas todas as recomendações de missões
anteriores. No início de julho, Rossi teve reuniões com os
comissários de Saúde e Agricultura e com parlamentares
europeus justamente para reafirmar o cumprimento das
exigências impostas pela UE para recuperar os níveis his-
tóricos de embarque de carne bovina.
Em relação às negociações com os Estados Unidos
para a retomada dos embarques de carne processada,
os resultados não foram tão favoráveis. As autoridades
sanitárias americanas informaram ao governo que passa-
rão a exigir testes laboratoriais para verificar a presença
de substâncias de medicamentos veterinários usados no
rebanho bovino. A nova exigência passaria a valer após a
retomada das vendas, o que ocorreria na segunda semana
de agosto. Uma missão veterinária dos EUA virá ao Brasil
regard to the production of the
Brazilian meat might get the
exports back on track
The favorable perspectives for rising beef exports were
supported by a piece of good news, released on 27th July
2010. The information is the first positive result from the visit
of the minister of Agriculture, Livestock and Food Supply
(Mapa), Wagner Rossi, and a Brazilian delegation to Europe,
early that month, intended to get the negotiations related to
the Brazilian product back on track. The sanitary authorities
of the European Committee stated that the controls of Bra-
zilian beef destined for the European market were “satisfac-
tory”. The community inspectors visited nine farms and six
meat packing plants in the states of Goiás, Mato Grosso do
Sul, Minas Gerais, São Paulo and Rio Grande do Sul.
The report by the Food and Veterinary Office (FVO),
praises the initiatives of the Brazilian authorities and
strengthens, indirectly, the national move intended to man-
age the list of farms qualified to supply cattle to meat pack-
ing companies that ship the product to Europe. “The situ-
ation with regard to general and specific hygienic controls,
along with traceability services and official controls were
satisfactory in all meat plants visited”, attested the FVO
veterinarians. Nevertheless, they pointed out some “minor”
compliance requirements imposed by the EU if the histori-
cal levels of beef shipments are to be recovered.
As to the negotiations with the United States for getting
shipments of processed meat back on track, the results
were not favorable. The American sanitary authorities in-
formed the government about the requirement for labora-
tory tests to detect the presence of residues of veterinary
medicines used on the bovine herds. The new requirement
is supposed to enter into force after sales resumption,
scheduled for mid August. A veterinary delegation is to
come to Brazil to evaluate the efficacy and the results of
the action plan adopted by the Country in all meat packing
companies qualified to export to the United States.
On 27 May 2010, on its own initiative, Brazil interrupt-
ed the shipments of processed meat to the United States
because ivermectin residues were detected in a lot to be
shipped to the United States by Grupo JBS-Friboi. Since
then, the two countries have been negotiating changes to
the methodology employed to detect medicine residues
and guarantees for the correction of the problem.

a fornecer gado aos frigoríficos que comercializam para
a União Europeia. “A situação em relação a controles hi-
giênicos gerais e específicos, rastreabilidade e controles
oficiais foram satisfatórios em todos os estabelecimentos
visitados”, atestaram os veterinários do FVO. No entanto,
apontaram algumas deficiências “menores” encontradas
em dois estabelecimentos e, em um caso, detectaram um
sistema de certificação que não era satisfatório, fazendo
novas recomendações para corrigir os problemas.
A avaliação sobre as condições operacionais dos frigo-
ríficos exportadores e o acompanhamento pelo Serviço de
para avaliar a eficácia e os resultados do plano de ação
adotado pelo País em todos os frigoríficos habilitados a
exportar para os americanos.
O Brasil suspendeu, por iniciativa própria, no dia 27 de
maio de 2010, os embarques de carne processada para os
Estados Unidos em razão da descoberta de resíduos da
substância Ivermectina em um lote que seria enviado pelo
frigorífico do Grupo JBS-Friboi. Desde então, os dois pa-
íses vêm negociando alterações na metodologia utilizada
para detecção de resíduos de medicamentos e garantias
para a correção dos problemas.
Robispierre Giuliani
deficiencies found in two plants and, in one case, detected
a non-satisfactory certification system, and made recom-
mendations for correcting the problems.
The evaluation about the operational conditions of the
meat packing industries engaged in exports and follow-up
operations by Federal Inspection Services (FIS) were also
positive. With regard to the official certification process, the
auditors concluded that all the previous recommendations
had been complied with. In early July, Rossi had meetings
with the Health and Agriculture delegates and with Euro-
pean parliament members with the intention to reaffirm the

30 31
Inor /Ag. Assmann

Os problemas comerciais com a Comunidade Euro-
peia, formada por 27 países, começaram no final de 2007,
quando o bloco determinou adequação das propriedades
habilitadas a fornecer carne para a Europa ao Serviço Bra-
sileiro de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos
e Bubalinos (Sisbov), que monitora eletronicamente a per-
formance sanitária de cada animal. Como muitos produto-
res não cumpriram a exigência, a Europa reduziu as impor-
tações do Brasil, que despencaram de 313 mil toneladas
em 2006 para 44,7 mil toneladas em 2009.
Das oito mil propriedades que exportavam para o bloco,
restaram menos de duas mil. No encontro que Rossi teve
com o comissário da Saúde e Defesa do Consumidor da UE,
John Dalli, o ministro procurou convencer as autoridades eu-
ropeias a reduzir as restrições e permitir a inclusão de novas
propriedades, bem como transferir para o Brasil a adminis-
tração da lista de fazendas credenciadas, hoje em poder dos
europeus. Eles reservam-se o direito de auditar o processo a
qualquer momento, com o que o Brasil concorda.
Depois do encontro, o ministro da Agricultura garantiu
ter avançado nas negociações e informou ainda ter feito
acordo para o uso de ração vegetal na alimentação do
gado cujos cortes nobres são vendidos dentro da chama-
da Cota Hilton, no montante de 10 mil toneladas, mas que
não tem sido atingido nos últimos dois anos por questões
sanitárias. Dentro da cota, os cortes bovinos pagam tarifa
de 20%, mas fora dela o imposto é de 12,8% mais 3.041
euros por tonelada. Desde julho de 2009 o Brasil só conse-
guiu negociar 10% do total. Essa é a venda mais cobiçada
pelos exportadores, em função dos preços pagos.

Inimigo na
trincheira
Um grande esforço tem sido
feito para retomar as exportações
de carne bovina para a União
Europeia, que, desde 2009,
reduziram-se em 75%
As autoridades brasileiras estão firmemente empenhadas
em comprovar a qualidade da carne bovina produzida no País
com o objetivo de abrir novos mercados e retomar os volumes
embarcados para União Europeia (UE) e Estados Unidos, que
caíram sensivelmente nos últimos anos. Com esse objetivo,
uma missão esteve, no dia 9 de julho, em Bruxelas (Bélgica),
sede da UE, e o próprio ministro da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa), Wagner Rossi, realizou um périplo de
três dias, de 12 a 15 do mesmo mês, por gabinetes da Co-
missão Europeia e do Parlamento europeu para dialogar com
as autoridades e tentar um acordo para flexibilizar as exigên-
cias desse mercado. No entanto, todo esse esforço tem sido
prejudicado por fatos ocorridos em território nacional e que
depõem contra a sanidade do rebanho.
O primeiro deles foi a constatação da presença de re-
síduos de Ivermectina, um vermífugo para bovinos, em um
lote de carne do frigorífico do Grupo JBS-Friboi a ser ex-
portada, o que levou o governo a suspender, no dia 27 de
maio, os embarques de carne processada para os Estados
Unidos. O segundo foram três vídeos, um documentário e
folhetos divulgados pelo Ministério Público Federal com o
objetivo de promover a carne bovina brasileira de origem
legal, mas que acabaram tendo efeito contrário e servindo
como instrumento protecionista pelos governos europeus.
A peça publicitária, denominada “Carne Legal”, vincula
o produto a fazendas ilegais, desmatamento, trabalho es-
cravo e lavagem de dinheiro e, na avaliação dos ministérios
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)
e da Agricultura, prestaram um desserviço ao comércio do
País. A campanha, elaborada pela Fundação Padre An-
chieta, foi questionada judicialmente pelos produtores por
meio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), e obrigou o governo federal a preparar uma nova
campanha, na tentativa de reparar o equívoco.

32 33
 Enemy in
the trench
Great efforts have been made
Rossi, visited several offices, 12 – 15 June, of the European
Committee and the European Parliament to contact the au-
thorities and try to reach an agreement intended to make
the United States, on 27th May. The second unfortunate
event were three videos, a documentary and pamphlets
disclosed by the Federal Office of Public Affairs with the
the requirements of this market more flexible. However, all aim to promote Brazilian bovine meat of legal origin, but
in getting beef exports to these endeavors have been jeopardized by events occurred prompted an antagonistic reaction now used as a protec-
Europe back on track, after in the national territory and they affected the reputation of tionist instrument by the European governments.

having fallen 75% in 2009
The Brazilian authorities are strongly engaged in at-
testing to the quality of the bovine meat produced in the
Country with the aim to pave the way for new markets and
resume the volumes shipped to the European Union (EU)
Sílvio Ávila
and to the United States, which went down considerably
over the past years. To this end, a delegation went to the
central EU office in Brussels, on 9 June. The minister of
th
Agriculture, Livestock and Food Supply (Mapa), Wagner
the sanitary standards of the national herd.
The first of them was the detection of Ivermectin res-
idues, which is a vermifuge given to bovines, in a batch
of meat which was to be shipped abroad by Grupo JBS-
Friboi, a meat packing company. This detection made the
government interrupt all shipments of processed meat to
An advertisement on television, called “Legal Meat”, links
the product to illegal farms, deforestation, slave labor and
money laundering and, in the evaluation of the ministries of
Development, Industry and Foreign Trade (MDIC) and Agricul-
ture, they acted against the Brazilian market. The campaign
worked out by Fundação Padre Anchieta, was sued by the
producers and by the Brazilian Federation of Agriculture and
Livestock (CNA), and obligated the federal government to
prepare a new campaign, in an attempt to repair the mistake.
The commercial problems with the 27 countries of
the European Community started in late 2007, when the
bloc determined that the Brazilian farms qualified to sup-
ply meat to Europe should adjust to the Brazilian System
of Identification and Certification of origin for Bovine and
Buffalo (Sisbov), an organ that monitors electronically the
sanitary performance of each animal. As lots of breeders
were not complying with the requirement, Europe reduced
its imports from Brazil, which plummeted from 313 thou-
sand tons in 2006 to 44.7 thousand in 2009.
Out of the eight thousand farms that exported to the
bloc, only some two thousand remained. At Rossi’s talks
with John Dalli, EU Health and Consumer Defense commis-
sioner, the minister tried to convince the European authori-
ties to reduce their restrictions and allow for the inclusion
of new credentialed farms, as well as transfer to Brazil the
administration of the list of credentialed farms, now under
the responsibility of Europe. They reserve the right to audit
the process at any moment, and Brazil agrees on it.
After the meeting, the minister of Agriculture was con-
vinced that the negotiations had advanced and also in-
formed on the agreement for the use of vegetable feed
for the cattle whose premium cuts are sold within the so-
called Hilton Quota, totaling 10 thousand tons, an amount
not achieved over the past two years because of sanitary
questions. Within this quota, the bovine cuts pay a 20-per-
cent tariff, but for other cuts it is 12.8%, plus 3,041 euros
per ton. Since July 2009, Brazil has only managed to nego-

tiate 10 percent of the total. This is the sale exporters are

eagerly seeking, by virtue of the good prices.

34 35
 Sílvio Ávila
perfil . profile
O salto do
Brahman
Uma das raças mais difundidas no mundo, o
Brahman ganha espaço no Brasil como o zebuíno
com características mais próximas do gado europeu

Introduzida há apenas 16 anos no Brasil, a raça Brah-
man é originária dos Estados Unidos e é o zebuíno que pre-
domina em todo o mundo, inclusive nas Américas. Trata-se,
dentre os zebuínos, daquele que reúne características de
qualidade mais próximas do gado europeu. A primeira im-
portação foi realizada em 1994 por Rômulo de Camargos,
ex-presidente da Associação Brasileira dos Criadores de
Zebu (ABCZ), e por John Jefcoat, presidente da Associação
Americana de Criadores de Brahman (Abba), que assinaram
protocolo para facilitar o ingresso da raça no País.
Desde então, os pecuaristas identificaram no Brahman
o potencial adequado aos cruzamentos e comemoram o
desempenho da raça. É o caso de Gabriel Rezende, ex-
presidente da Associação de Criadores de Brahman do
Brasil (ACBB), que adquiriu duas reses na abertura das
importações e hoje conta com mais de 600 animais puros.
Rezende optou pelo Brahman após acompanhar o desem-
penho da raça nos Estados Unidos: ela resulta do cruza-
mento de Nelore, Gir, Guzerá e Krishna Valley. É um animal
ideal para áreas quentes e úmidas.
José Amauri Dimarzio, atual presidente da ACBB, ini-
ciou o plantel em 2000. “O Brahman é muito equilibrado,
um zebu com algumas características mais próximas do
gado europeu, como marmoreio superior aos demais zebu-
ínos”, descreve. “Além disso, é gado rústico, de boa habi-
lidade para campo, com resistência a parasitas, habilidade
materna e precocidade, que gera bezerros mais pesados
no desmame”, garante. Ele destaca ainda que os novilhos
ficam prontos para o abate até seis meses antes de outras
raças, o que significa margem maior para o produtor.
Segundo Dimarzio, o Brahman pode agregar qualidades
ao Nelore, que predomina no Brasil, como precocidade e
marmoreio, e características importantes ao gado europeu
do Sul. “Nos Estados Unidos, os melhores resultados eco-
nômicos têm sido obtidos por animais com 37,5% de sangue
Brahman, mesmo quando comparados aos europeus”, cita.
O rebanho de 20 reses de Brahman trazido na primei-
ra importação da raça hoje se traduz em mais de 60 mil
cabeças puras e até 250 mil animais cruzados, concen-
trados em Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Mato Grosso
e Rio de Janeiro. Atualmente, representa 8% das vendas
de sêmen entre as raças zebuínas.

RAÇA NA VITRINE José Amauri
Dimarzio, presidente da Associação
dos Criadores de Brahman do Brasil
(ACBB), considera que não basta ficar
na teoria, mas é preciso mostrar na
prática as vantagens da raça. Assim a
entidade promove ações estratégicas
e de marketing para mostrar as reais
qualidades dos animais. Destacam-se
as provas de ganho de peso, realiza-
das no Centro de Pesquisas da As-
sociação Brasileira dos Criadores de
Zebu (ABCZ), em Uberaba (MG), e os
abates técnicos para testar a qualida-
de dos animais.
A entidade representativa do
Brahman, que participa do Programa
de Melhoramento Genético da ABCZ,
tem presença forte e constante em
exposições e feiras de todo o Brasil.
Ainda na área técnica é desenvolvido
um programa de uso de marcadores
moleculares para selecionar as ca-
racterísticas positivas da raça, com
o objetivo de assegurar material para
melhoramento e cruzamentos. Tam-
bém são mantidos convênios com a
Embrapa Gado de Corte, de Campo
Grande (MS), e a Universidade de São
Paulo (USP), entre outras instituições
técnicas voltadas ao melhoramento
genético e testagem de qualidade de
raças e animais.

36
 The jump of
the Brahman
One of the most widely spread
breeds in the world, the Brahman
is gaining momentum in Brazil as
a zebu with characteristics very
similar to European cattle
Introduced in Brazil only sixteen years ago, the Brah-
man breed comes from the United States and predomi-
nates all over the world, even in the Americas. Within the
zebu breeds, it is the one that shows quality traits very
similar to European cattle. The first importation took place
in 1994, by Rômulo de Camargos, former president of the
Brazilian Association of Zebu Breeders (ABCZ), and by
John Jefcoat, president of the American Association of
Zebu Breeders (Abba), who signed a protocol to facilitate
the introduction of the Breed into Brazil.
Since then, the cattle ranchers have identified in this
breed the appropriate potential for crossings and are now
celebrating its performance. It is the case of Gabriel Rezende,
former president of the Association of Brahman Breeders in
Brazil (ACBB). He acquired two animals at the time imports
started, and now he has more than 600 purebreds. Rezende
opted for the Brahman after keeping track of the perfor-
mance of the breed in the United States. The breed results
from crossings of Nelore, Gir, Guzera and Krishna Valley. It is
the ideal animal for warm and wet regions.
José Amauri Dimarzio, current president of ACBB, start-
ed his flock in 2000. “The Brahman is very balanced, a zebu
BREED IN THE SHOWCASE José Amauri Dimar-
zo, president of the Association of Brahman Breeders in
Brazil (ACBB), has it that it is no use just sticking to the
theory, but the advantages of the breed have to appear
in practice. To this end, the entity promotes strategic and
marketing initiatives to demonstrate the real qualities of
this breed. Of note are the weight gaining contests, con-
ducted in the Research Center at the Association of Zebu
Breeders in Brazil (ABCZ), in Uberaba (MG), and the tech-
nical slaughters to test the quality of the animals.
The entity that represents the Brahman breed, and
38
with characteristics very similar to European cattle, like high-
er quality marbled meat, compared to other zebu breeds”,
he describes. “Furthermore, the Brahman is a sturdy animal,
with great grassland ability, resistant to parasites, great ma-
ternal ability and precocity, and generates stronger calves at
weaning time”, he assures. He also mentions that the calves
are ready for slaughter six months earlier, compared to other
Aqui tem
breeds, meaning bigger margins for the producer.
According to Dimarzio, the Brahman could impart
qualities to Nelore breeds, which predominate in Brazil,
like precocity and marbled meat, and relevant charac-
teristics to European cattle in the South. “In the United
States, the best economic results have been obtained
qualidade BELGO.
from animals with 37.5% Brahman blood, even if com-
pared to European breeds”, he recalls.
The 20 head flock of Brahman brought in at the first
A agropecuária brasileira possui uma grande diversidade, por isso
import operation have already translated into more than
60 thousand head or purebreds and 250 thousand animals o produtor rural necessita de soluções específicas, com tecnologias
from crossings, concentrated particularly in Minas Gerais, exclusivas, qualidade com longa durabilidade.
Goiás, São Paulo, Mato Grosso and Rio de Janeiro. Cur-
rently, the breed accounts for 8% of all zebu semen sales.
Belgo Bekaert Arames.
ACBB has more than 500 associate members.
A preferida por todos os criadores de gado.
takes part in the ABCZ Genetic Enhancement Program,
is always impressively present in exhibitions and fairs
throughout Brazil. Still in the technical area, a program
suggesting the use of molecular markers for the selec-
tion of the positive traits of the breed, is now underway
with the aim to promote ideal crossings and enhance-
ment characteristics. There are also agreements with
Embrapa Beef Cattle, in Campo Grande (MS), and the
University of São Paulo (USP), and other technical insti-
Cercou, tá cercado.
tutions focused on genetic enhancement programs and
animal and breed quality tests.
 Mui
valorosa rio continua com demanda aquecida, especialmente para
touros. No mês de julho, o Dia de Campo e Shopping Brah-
man Vitória e Seg Brahman, realizado em Araçatuba (SP),
ras e embriões. “Em menos de duas horas, os 30 touros
que colocamos à venda haviam sido vendidos. A média
de preço dos touros alcançou R$ 6,5 mil”, diz Alexandre
Brahman destaca-se entre os ofertou 180 lotes, entre touros, matrizes, bezerros, doado- Ferreira, da Brahman Vitória.

zebuínos pela média de preços
obtida e o rebanho brasileiro da
raça é o terceiro maior do mundo
A raça Brahman, com pouco mais de 16 anos de sele-
ção no Brasil, contabiliza uma trajetória de sucesso que a
guindou às melhores médias de preços em
leilões entre os zebuínos. A valorização não
ocorre por acaso, mas muito em razão das
características diferenciadas dos plantéis na-
cionais. Os criadores ainda comemoram um
feito histórico alcançado em 2009, quando a raça
foi apontada como a mais bem cotada entre os ze-
buínos de corte pela publicação especializada DBO
Rural. A indicação resulta da média de preços de co-
mercialização de 63 leilões da raça, que movimentaram
R$ 26,1 milhões e ofertaram 2.544 lotes.
Com esse volume, a Brahman ocupa a segunda posição
em lotes comercializados, entre machos, fêmeas, prenhe-
zes e aspirações foliculares. Além disso, manteve a melhor
média em leilões entre as raças zebuínas de cor-
te com R$ 10.297,00. A Associação dos
Criadores de Brahman do Brasil (ACBB)
comemora a valorização de 35% dos
touros comercializa-
dos em leilões
2009, além do aumento de lotes ofertados: de 562, em 2007,
para 1.727 em 2009. No período, a média paga pelos repro-
dutores passou de R$ 3.784,00 para R$ 5.113,00.
Com as fêmeas o sucesso se repetiu. Houve crescimen-
to de 21% no valor médio em relação a 2008, superando
o das demais raças zebuínas e ficando em R$ 21.449,00,
aumento de R$ 4.334,00 no valor médio se comparado a
2008. Em 2009, também houve a quebra do recorde mun-
dial de preço de uma fêmea Brahman, com a venda de 50%
da matriz Miss Diamond A 69/9 por R$ 2,5 milhões durante
a 10ª edição do leilão Querença, em Inhaúma (MG).
No primeiro semestre de 2010, a raça manteve o pri-
meiro lugar entre as melhores médias de preços em leilões.
Nesse período, foram realizados 23 remates Brahman no
Brasil, ofertando 614 animais. Juntos, os leilões comercia-
lizaram R$ 9,8 milhões e a média de preços da raça chegou
a R$ 16.072,00, a melhor dentre os zebuínos de corte.
A expectativa para o segundo semestre é
muito positiva, uma vez
que o merca-
do pecuá-
REGIONAL O Centro-Oeste foi res-
ponsável pelo maior número de touros
comercializados em leilões no Brasil
em 2009. Ao todo, foram vendidos na
região 826 machos Brahman. A venda
de fêmeas em leilões foi maior no Su-
deste, com 453 lotes negociados. Re-
ferência na venda de touros Brahman
na região Centro-Oeste, o Grupo IMA
concorda com os números divulgados
ao observar na prática o crescimento
do interesse pela raça e os excelentes
resultados obtidos, tanto por vende-
dores como por novos criadores.
André Zambrim, diretor do gru-
po IMA, explica que, por comportar a
maior parte do rebanho brasileiro, a re-
gião Centro-Oeste tem uma demanda
expressiva por touros. Segundo ele, o
resultado mais expressivo com a raça
é no bezerro meio-sangue Brahman. “É
tão rústico quanto o Nelore e tem, como
fator preponderante em sua produção, o
custo operacional baixo. Os
animais conseguem
transformar gra-
mínea grosseira em carne de qualidade. animais Brahman, entre machos e fê-
E temos observado que a heterose pro- meas. Há no Brasil mais de 1,5 milhão
de animais fruto do cruzamento com a
picia ganho de uma arroba na desmama
e até duas arrobas no abate, na mesma raça. Em 16 anos de seleção, o Brasil
idade, ou antecipação de seis meses no alcançou a posição de terceiro maior
abate com o mesmo peso”, revela. rebanho de Brahman do mundo, atrás
Outros números são comemorados apenas da Colômbia e da
pelos investidores da raça Brahman. Austrália. Atualmente, 926
Entre 2006 e 2009, foi verificado cres- criadores da raça estão
cimento de 14,5% no número de regis- distribuídos em 22 estados
tros genealógicos feitos pela Associa- da Federação. O maior nú-
ção Brasileira dos Criadores de Zebu mero de criatórios e animais
(ABCZ) em todo território nacional. De está em São Paulo, Minas
janeiro de 1994 a julho de 2010, foram Gerais, Rio de Janeiro, Mato
registrados pela ABCZ mais de 160 mil Grosso do Sul e Paraná.
Mistura fina
Algumas vantagens do cruzamento Brahman x Nelore
Fêmeas com mais leite e maior habilidade materna
Precocidade (novilhos prontos para abate até seis meses antes,
na criação a pasto, e dois meses antes em confinamento)
Bezerros desmamados com até 15% a mais de peso
Animais mais calmos
Qualidade (mais peso de traseiro)
Fonte: ACBB

entre 2007 e
Sílvio Ávila

40 41
 Sílvio Ávila
Fine mix
Some advantages from Brahman x Nelore crossbreeding
Cows produce more milk and show more maternal ability
Precocity (grass-fed calves ready for slaughter six months in ad-
vance, and two months in advance in confinement system)
Weaned calves with up to 15% more weight
Calmer animals
Quality (heavier hindquarter)
Source: ACBB

REGIONAL The Center West region was responsible

for the biggest number of bulls sold in auctions in Brazil
in 2009. In all, 826 male Brahmans were sold in the region.
Female sales in auctions were bigger in the Southeast re-
gion, with 453 lots negotiated. Reference in sales of Brah-
man bulls in the Center-West, Grupo IMA agrees with the
figures published by observing in practice the soaring inter-
est in the breed and the excellent results obtained, either

Valuable by dealers or by new breeders.

indeed
Brahman stands out among the
zebu breeds for the average prices
it fetches, and the Brazilian herd is
the third largest in the world
The Brahman breed, in Brazil for 16 years now, boasts a
trajectory of success and has managed to attract the best
average prices at zebu breed auctions. This high-value sta-
tus does not happen by chance, but for the most part, is
due to the outstanding characteristics of the national herds.
The breeders are still celebrating a historical deed achieved
in 2009, when the breed was chosen as the most success-
ful among the beef zebus, by the specialized DBO Rural
publication. The indication stems from the average selling
prices in 63 auctions of this breed, where business deals
amounted to R$ 26.1 million from 2,544 lots.
With such a volume, the Brahman now ranks second
among all commercialized lots, including males, females,
female breeders and follicular aspirations. Moreover, the
breed sustained the best average price among all zebu beef
breeds, R$ 10,297. The Association of Brahman Breeders
in Brazil (ACBB) celebrates the 35-percent higher commer-
cialization price of the bulls at the auctions from 2007 to
2009, besides the bigger number of lots offered: from 562
in 2007 to 1,727 in 2009. Over the period, average prices
fetched by the bulls rose from R$ 3,784 to R$ 5,113.
The females accomplished the same performance. Av-
erage values were up 21% from 2008, outstripping the val-
ue of all other zebu breeds and remaining at R$ 21,449, an
average increase of R$ 4,334 compared to 2008. In 2009, a
female Brahman also hit global record prices, with the sale
of 50% of Miss Diamond A 69/9 for R$ 2.5 million during
the 10th edition of the Querência auction, in Inhaúma (MG).
In the first half of 2010, the breed ranked first among
the best average prices fetched at auctions. During this
period, 23 Brahman auctions were held in Brazil, when
614 animals were offered. Together, the business deals
at the auctions amounted to R$ 9.8 million and the aver-
age prices of the breed remained at R$ 16,072, a record
among the beef zebu breeds.
There is great expectation for the second half of the year,
considering that the cattle market continues on the rise, es-
pecially with regard to bulls. In the month of July, the Field
Day and Shopping Brahman Vitória and Seg Brahman, held in
Araçatuba (SP), offered 180 lots, among bulls, parent breeds,
heifers, donors and embryos. “In less than two hours, the 30
bulls for sale had been sold. Their average price reached R$
6.5 thousand”, says Alexandre Ferreira, of Brahman Vitória.
André Zambrim, director of IMA, explains that, as home
to the biggest herd in Brazil, bulls are in great demand in
the Center-West region. According to him, the most expres-
sive result of the breed is the half-blood Brahman heifer. “It
is as sturdy as the Nelore and its preponderant production
factor lies in its low operational cost. The animals manage
to convert rough grass into premium beef. And we have
observed that heterosis provides for a gain in weight of one
arroba at weaning time and up to two arrobas at slaughter,
at the same age, or at a six-month slaughter anticipation,
with the same weight”, he explains.
Other figures are reason for joy for those who invested
in the Brahman breed. From 2006 to 2009, there was a rise
of 14.5%, in the entire national territory, in the number of
genealogical records by the Brazilian Association of Zebu
Breeders (ABCZ). From January 1994 to July 2010, up-
wards of 160 thousand animals were registered by ABCZ,
including males and females. In Brazil there are more than
1.5 million animals from crossings of this breed. In 16 years
of selection, Brazil climbed to the position as home to the
third biggest Brahman herd in the world, coming only after
Colombia and Australia. Currently, 926 Brahman breed-
ers are scattered across 22 states. The biggest number of
breeding farms are located in São Paulo, Minas Gerais, Rio
de Janeiro, Mato Grosso do Sul and Paraná.

42 43
 Um pedacinho
da Europa
Clima, topografia e cultura
muito particular fazem do Rio
Grande do Sul o polo brasileiro
por excelência de raças
europeias de corte
As circunstâncias climáticas e topográficas que dife-
renciam o Rio Grande do Sul do resto do Brasil transfor-
maram o Estado no polo nacional de produção de pecuá-
ria e genética de raças bovinas de corte com procedência
europeia. A pecuária gaúcha, dentro desse contexto, pos-
sui condições ideais para a criação do Bos taurus (raça
europeia). Além disso, possui grandes áreas de campos
nativos, que, aliadas à cultura, à história e à tradição, pro-
porcionam diferencial único a ser explorado.
Com base nesse cenário, surgiram iniciativas para bus-
car indicações geográficas, como a da Carne do Pampa
Gaúcho, já consolidada, e a da Carne dos Campos de Arau-
cária, que está em processo. Essas iniciativas visam a agre-
gar ainda mais valor ao boi de pasto gaúcho, que, por suas
características genéticas e de procedência, poderá encon-
trar mercados diferenciados no Brasil ou mesmo fora dele.
De acordo com o pecuarista Carlos Simm, ex-presiden-
te da Comissão de Pecuária da Federação da Agricultura
do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), esse fenôme-
no eleva a importância dos programas de valorização dos
plantéis e dos rebanhos gaúchos. “Buscamos mercados
que demandem carne com diferencial de qualidade e per-
mitam agregação de valor”, cita.
O Estado tem quase 14 milhões de cabeças bovinas e
ocupa a sexta posição no ranking dos maiores criadores do
Brasil, segundo dados da Confederação da Agricultura e Pe-
cuária do Brasil (CNA), destacando-se como principal polo de
produção de carnes e de genética nas raças europeias. Atu-
almente, destacam-se nos rebanhos gaúchos as raças britâ-
nicas, como Aberdeen Angus, Hereford, Devon e Shorthorn;
as francesas Charolês, Blonde D’Aquitaine e Limousin; além
das sintéticas e/ou compostas, formadas a partir dessas ra-
ças, entre outras. O Rio Grande do Sul configura um mosaico
muito interessante de variações do Bos Taurus.

ELOGIO AO SABOR As caracterís-
ticas das raças criadas nos campos gaú-
chos geram, além de um rebanho com
padrões diferenciados, a possibilidade
de fornecer genética para cruzamentos
com animais zebuínos (Bos Indicus) cria-
dos nos demais estados da Federação,
especialmente no Brasil Central. Tem-se,
assim, a união da precocidade e da qua-
lidade de carne dos plantéis europeus
conjugada à rusticidade das raças zebu-
ínas, com destaque para o Nelore.
Para a produção de carne, há ca-
racterística importante no cruzamento
de animais com base genética do Bos
Taurus e do Bos Indicus. A maior con-
tribuição é a alta heterose, o chamado
vigor híbrido, que resulta em produto
(novilho) mais precoce, com maior
marmoreio de carne e maciez, sem
perder a rusticidade e a adaptabilidade
do zebuíno. Dentro do gosto de alguns
mercados, as raças inglesas, em espe-
cial, “melhoram” a qualidade da carne
Nelore, principalmente pelo marmoreio,
que são os filetes de gordura entreme-
ados nas partes nobres da carcaça,
conferindo maciez e sabor.
No entanto, em virtude da busca do
padrão de cortes e da escala de pro-
dução, além das qualidades objetivas
e subjetivas, o Brasil é atualmente um
player mundial graças à exportação de
carne das raças derivadas do B. Indicus.
Nesse aspecto, por exemplo, os esta-
dos do Centro-Oeste brasileiro levam
grande vantagem sobre o Rio Grande
do Sul, pois o forte deles está na produ-
ção em escala. Para isso, conta o abate
de animais das mesmas raças e idades,
com boa condição nutricional, o que
estabelece um padrão nos cortes, dife-
rentemente dos rebanhos gaúchos, que
precisam de número maior de animais,
ou daqueles criados em condições es-
peciais, para fechar um contêiner de ex-
portação com determinados cortes de
mesmas dimensões, por exemplo.

44 45
 A little part
of Europe tradition, lead to a unique difference to be explored.
This scenario prompted the search for geographical in-
the South. “We look for markets that demand high quality
value-added meat”, he notes.
Very peculiar climate, topography dications, like the already consolidated Carne do Pampa The State is home to almost 14 million head of cattle
and culture turn the state of Rio Gaúcho (meat from the southern plains) and Carne dos and ranks sixth among the leading producers in Brazil, ac-

Grande do Sul into a typical
Brazilian hub where European
beef cattle breeds prevail
The topographic and climatic circumstances that make
Rio Grande do Sul different from the rest of Brazil have also
turned the State into a national hub of cattle production and
beef cattle genetics of European origin. Within this context,
the cattle rearing business in Rio Grande do Sul boasts
the ideal conditions for raising the Bos Taurus (European
breed). Furthermore, the state possesses huge areas of
native grassland, which, along with its culture, history and
Campos de Araucária (meat from the Araucária grasslands),
now underway. Such initiatives are intended to add more
value to the meat from the southern grasslands, which, due
to its genetic traits and origin, could find its way into dis-
cerning markets both at home and abroad.
According to cattle rancher Carlos Simm, former presi-
dent of the Cattle Farming Committee at the Rio Grande do
Sul State Agriculture Federation (Farsul), this phenomenon
adds to the importance of herd enhancement programs in
cording to data from the Brazilian Federation of Agriculture
and Livestock (CNA), standing out as major hub in the pro-
duction of meat and European cattle breeds. Currently, the
breeds that perform best in Rio Grande do Sul are the Brit-
ish Aberdeen Angus, Hereford, Devon and Shorthorn; and
the French Charolais Blonde D’Aquitaine and Limousin;
besides the synthetic and/or compounds, which stem from
these breeds, among others. Rio Grande do Sul boasts a
very impressive mosaic of variations from the Bos Taurus.

APPEALING TO THE TASTE The characteristics of

the breeds raised in Rio Grande do Sul generate, besides
a herd of discerning standards, the chance for genetic in-
terchanges by crossings with zebu breeds (Bos Indicus)
Robispierre Giuliani

reared in the other states of Brazil, especially in the Center-

West. This makes it possible to join the precocity and the
quality of the European herds with the sturdiness of the
zebu breeds, where the Nelore stands out.
For the production of meat, an important characteris-
tic stems from the crossing of animals genetically based
on the Bos Taurus and Bos Indicus. The biggest contri-
bution lies in the high level of heterosis, the so-called hy-
brid vigor, resulting into precocious calves (vealers), with
marbled and tender meat, without loosing their sturdiness
and adaptability. Some markets show preference for the
British breeds, as they enhance the quality of Nelore beef,
especially because of the marble, the intermixing of fat and
muscle fibers in the premium portions of the carcass, im-
parting tenderness and flavor.
Nevertheless, by virtue of the search for quality cuts
and production scale, besides the objective and subjective
qualities, Brazil is now a global player in exports thanks to
beef from the B. Indicus breeds. Within this context, for ex-
ample, the states in the Brazilian Center-West have an edge
over Rio Grande do Sul, once their strong point consists
in scale production. To this end, what counts is the same
slaughter age and breed, under excellent nutritional condi-
tions, which sets standard cuts that differ from the herds
in the South, where more animals are needed, or animals
reared under special conditions, for filling an export con-
tainer with cuts of the same size, for example.

46 47
 Rebanho gaúcho
Número de animais 14.115.643

Um continente
inteiro
Participação no rebanho nacional 7%
Posição no ranking brasileiro 6º
Raças europeias Mais de 30
Raças em destaque
Aberdeen Angus, Hereford, Devon, Shorthorn, Charolês, Blonde
D’Aquitaine, Limousin, Marchigiana, Braford, Polled Hereford,
Brangus, Lincoln Red, Santa Gertrudes e Red Poll, entre outras.
Fonte: Produção da Pecuária Municipal (PPM/IBGE) — Ano de referência 2008

CARNE DE GRIFE Uma das experiências de maior

destaque da pecuária gaúcha foi concretizada em 2006: a
conquista da certificação de procedência concedida para
a Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional. A
Associação dos Produtores do Pampa Gaúcho (Apropam-
Robispierre Giuliani

pa) é detentora do selo de certificação. A entidade busca

Com a grande diversidade de atender às especificações dos mercados de alto valor
agregado. “Nosso objetivo é que o Rio Grande do Sul se
materiais genéticos da pecuária torne referência nacional em defesa sanitária, com re-
gaúcha, desafio é ampliar a gramento claro e rigoroso. E também propomos que se
novas adesões em sua região de abrangência; do mesmo
modo, é permitido levar animais de outras áreas para se-
rem engordados e terminados na área certificada.
A outorga de Indicação de Procedência Geográfica e
a concessão do selo Carne do Pampa Gaúcho da Cam-
panha Meridional ocorreram em dezembro de 2006, como
resultado do trabalho realizado em conjunto com o Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Se-
brae/RS) e o governo do Rio Grande do Sul. O processo
de concessão do selo de indicação geográfica, por parte
do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), liga-
do ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior (MDIC), levou cerca de dois anos e meio até ser
concluído. Foi a primeira concessão de indicação geográ-
fica para esse tipo de produto na América Latina.
A indicação de procedência é um conceito que associa
produtos e serviços a um determinado padrão de qualidade
característico de uma região. Por meio do código de barras
impresso no selo, os consumidores acessam dados do corte

padronização do gado
Mais de 30 raças bovinas de corte são criadas no Rio
Grande do Sul, com predominância daquelas de origem
europeia. Também é significativa a presença de plantéis
genéticos e de rebanhos nos quais há forte presença de
sangue zebuíno. Criou-se, em alguns setores da pecuária,
a ideia de que o número excessivo de raças provoca a per-
da de escala; ou seja, de que não há um padrão para os
lotes de animais que chegam ao frigorífico.
No entender do pecuarista Carlos Simm, ex-presi-
dente da Comissão de Pecuária da Federação da Agri-
cultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), o pro-
blema talvez não seja o número excessivo de raças, mas
a falta de padronização do gado. “É um erro o pecuarista
colocar no seu rebanho diferentes raças de touros numa
mesma estação de monta. Cada produtor deve definir
para a sua propriedade e o seu modelo de produção
um cruzamento mais adequado ou até mesmo uma raça
pura”, explica o pecuarista.
A Farsul defende que a pecuária gaúcha trabalhe
no sentido de investir em padronização do gado para
rastreie todo o rebanho para não sofrer com embargos
sanitários de países importadores”, afirma Carlos Rivaci
Sperotto, presidente da Farsul.
Segundo ele, para que o Rio Grande do Sul possa as-
segurar preço diferenciado, deve ter uma pecuária diferen-
ciada. Como a maioria do rebanho brasileiro é composto
de raças zebuínas, os gaúchos deveriam fugir desse pa-
drão. “Um alinhamento com o Uruguai e com a Argenti-
na é sempre positivo, pois eles têm qualidade de carne
reconhecida mundialmente. Podemos buscar sinergia e,
em conjunto, como bloco econômico Mercosul, acessar
mercados que pagam mais”, assinala.
adquirido, como data do abate, idade do animal e alimen-
tação ministrada ao bovino. O sistema de rastreabilidade foi
assegurado com a assinatura de convênio entre o Frigorífico
Mercosul, a Apropampa e o Sebrae/RS, em agosto de 2006.
A área demarcada na Campanha Meridional abrange
1,2 milhão de hectares, distribuídos em 11 municípios:
Santana do Livramento, Dom Pedrito, Bagé, Aceguá, Hu-
lha Negra, Lavras do Sul, Pinheiro Machado, Candiota, Pe-
dras Altas, Herval e Caçapava do Sul. A meta é ampliar o
volume de produtores e do rebanho certificado. O Sebrae/
RS trabalha para que outras regiões gaúchas conquistem
selo de certificação de qualidade.

48 49
Robispierre Giuliani
An entire
continent
With the great diversity of genetic
materials available in the cattle
breeding operations in South Brazil,
the challenge consists in expanding
cattle standardization initiatives
More than 30 beef cattle breeds are raised in Rio Grande
do Sul, and the European ones predominate. Also signifi-
cant is the presence of genetic herds and bovines strongly
characterized by zebu blood. In some areas, this gave rise
to the belief that an excessive number of breeds could pro-
voke scale losses; that is to say, there is no pattern for the
animals that arrive in the meat packing industries.
Cattle rearer Carlos Simm, former president of the
Cattle Farming Committee at the Federation of Agriculture
of Rio Grande do Sul (Farsul), understands that the prob-
lem might not lie in the excessive number of breeds, but
in deficient cattle standardization divisions. “Cattle breed-
ers should never leave bulls of different breeds in the same
flock at mating time. Each producer must define for their
farm or production models the most appropriate crossings
or even purebred cattle”, he explains.
50
Farsul supports the idea that the cattle rearers in Rio
Grande do Sul should invest in cattle standardization pro-
grams in order to meet the requirements of high added-value
markets. “Our goal consists in turning the State of Rio Grande
do Sul into a national reference in cattle sanity, based on strict
and clear rules. And we also suggest traceability services so
as to prevent any sanitary embargoes by importing countries”,
says Carlos Rivaci Sperotto, president of Farsul.
In his view, for Rio Grande do Sul to guarantee different
prices, its cattle farming standards must also be different. As
the Brazilian herd is almost entirely composed of zebu breeds,
Rio Grande do Sul should keep away from this pattern. “An
alignment with Uruguay and Argentina is always positive,
since the quality of their meat is acknowledged worldwide.
We could seek synergy and, together, as Mercosur economic
bloc, make it to markets that pay more”, he comments.
Rio Grande do Sul herd
Number of head 14,115,643
Share in the national herd 7%
Position in the Brazilian ranking 6º
CERTIFIED MEAT A major experience of the cattle European breeds: more than 30
operations in Rio Grande do Sul materialized in 2006: the
Outstanding breeds
certification of origin granted to Pampa Gaucho da Cam-
panha Meridional Meat. The Gaucho Pampa Association Aberdeen Angus, Hereford, Devon, Shorthorn, Charolais,
of Producers (Apropampa) detains the certification label. Blonde D’Aquitaine, Limousin, Marchigiana, Braford,
The entity is seeking new adhesions in the region under its Polled Hereford, Brangus, Lincoln Red, Santa Gertrudes
scope; likewise, it is allowed to bring animals into the certi- and Red Poll, among others.
fied area from other regions for their final fattening stage. Source: Municipal Livestock Production (PPM/IBGE) — Reference year 2008
The Geographical Origin Indication and the Pampa
Gaucho da Campanha Meridional Meat certifications
Robispierre Giuliani
were granted in December 2006, as a result of the work
carried out jointly with the Brazilian Micro and Small Busi-
ness Support Service (Sebrae/RS) and the government
of Rio Grande do Sul. The Geographical Indication label,
granted by the National Institute of Industrial Property
(INPI), linked to the Ministry of Development, Industry and
Foreign Trade, took about two years and a half to be con-
cluded. It was the first Geographical Indication granted for
this type of product in Latin America.
The Indication of Origin is a concept that associates
products and services with a defined quality standard, typi-
cal to a region. Through a bar code printed on the label,
consumers have access to all information pertinent to the
cut they want to acquire, like slaughter time, age of the
animal and type of food given to it. The traceability system
was assured through an agreement between Frigorífico
Mercosul, Apropampa and Sebrae/RS, in August 2006.
The area demarcated at Campanha Meridional com-
prises 1.2 million hectares, scattered across the following
municipalities: Santana do Livramento, Dom Pedrito, Bagé,
Aceguá, Hulha Negra, Lavras do Sul, Pinheiro Machado,
Candiota, Pedras Altas, Herval and Caçapava do Sul. At
the moment, the target is to broaden the number of the pro-
ducers and the certified herd. Sebrae/RS is now trying to
convince other regions to apply for quality certifications.
51

Um brinde
ao paladar
Maciez e sabor são duas
características diretamente
associadas à carne produzida
no Rio Grande do Sul
As raças britânicas e azebuadas, por suas caracterís-
ticas, têm suas virtudes e mercados. Mas a cultura geral
estabelecida no Sul do Brasil, a de que a carne de animal
azebuado é mais magra e firme e a proveniente de raças
europeias é macia e saborosa, tem razão de ser. As di-
ferenças genéticas e características de cada origem são
acentuadas por fatores como clima, ambiente e sistemas
de produção. Isso ocorre até com uma mesma raça criada
em diferentes regiões. Há, portanto, fatores não genéticos
que determinam a diferença no resultado da carne, razão,
por exemplo, do sucesso das picanhas argentinas e uru-
guaias nas principais churrascarias brasileiras. É de olho
nesse potencial que os frigoríficos gaúchos estão explo-
rando cada vez mais as raças bretãs nos pampas.
Ainda que sem a mesma característica de marmoreio
(carne entremeada por filetes de gordura, que estabele-
ce diferenciais como maciez, sabor e aroma), os animais
de origem indiana, sob condições adequadas de manejo,
podem produzir carnes muito macias e de alta qualidade,
similares aos de origem europeia. E, dependendo dessas
características, animais de genética procedente da Europa
podem não apresentar o mesmo padrão.
No caso do Rio Grande do Sul, a qualidade da carne é
assegurada não só pela genética das raças britânicas como
também pelo sistema de produção a pasto e, fundamen-
talmente, pelo ecossistema do Sul do Estado, formado por
grande diversidade de espécies de gramíneas e legumino-
sas. Por questões ambientais e de manejo, assemelha-se
ao sistema produtivo do Uruguai, onde predomina a raça
52
Hereford, e ao da Argentina, onde se sobressai o Angus.
Segundo Gustavo Moglia Dutra, da Marcon Consultoria,
de Bagé (RS), o ambiente é determinante para os sistemas
de criação. “Entretanto, há regiões de cultivo de soja, como
as Missões e o Planalto gaúcho, onde o sistema de produção
é marcado por alta integração entre lavoura e pecuária, em
períodos bem definidos, como ocorre no Paraná”, ressalta.
Dutra lembra que, enquanto em boa parte do Rio Gran-
de do Sul as pastagens nativas predominam, no Centro-
Oeste e no Sudeste do País os sistemas de terminação
têm maior participação de confinamentos, com abundante
aproveitamento de grãos e resíduos de culturas como ca-
na-de-açúcar, citros e algodão. Pela concentração de raças
zebuínas com o mesmo padrão racial, e por representar
uma grande parte do rebanho nacional, o volume de abate
é maior. “O sistema de produção influencia igualmente na
taxa de abate e é montado sobre o que o ambiente pro-
porciona. A suplementação no Paraná, por exemplo, custa
menos que no Rio Grande do Sul, pois há maior disponibi-
lidade de alguns grãos”, frisa o consultor.
De acordo com o ambiente em que o gado é criado e o
sistema de produção escolhido, a carne apresenta caracterís-
ticas muito próprias, como a coloração. O animal de confina-
mento, por exemplo, apresenta carne de coloração vermelha
menos intensa, quase rosada. “A raça também interfere na
cor”, explica Dutra. A picanha do zebuíno é maior, comprida
e mais fina, com acabamento de gordura mais “escorrido” e
uniforme. No animal europeu, a picanha é menor, mais alta e
com acabamento de gordura mais “embolorado”.
A toast to
the palate
Tenderness and flavor are two
major characteristics of the meat
produced in Rio Grande do Sul
British and zebu breeds have conquered markets for
their characteristics and virtues. But general cultural beliefs
in South Brazil have it that beef from zebu breeds is leaner
and more compact compared to the tender and tasty beef
from European breeds, which seems to make sense. The
genetic traits and characteristics of each breed are accen-
tuated by climate factors, environment and production sys-
tems. This also occurs with identical breeds raised in differ-
ent regions. There are, therefore, non-genetic factors that
determine the difference in the kind of meat, a fact that may
explain the success, for example, of the sirloin steaks from
Argentina and Uruguay in the renowned Brazilian barbe-
cue restaurants. It is with an eye towards this potential that
the meat packing industries in South Brazil are increasingly
sticking to British breeds in the pampas.
Although without the same characteristics of marbled meat
(intermixing of fat and muscle fibers in beef, which determine
such characteristics as tenderness, flavor and aroma), the an-
imals of Indian origin, under appropriate management, could
produce high quality and tender beef, similar to the European
breeds. And, depending on these characteristics, animals of
European origin might not present the same pattern.
In the case of Rio Grande do Sul, the quality of the beef
is not only assured by the genetics of the British breeds but
also by the pasture-fed production system and, basically, by
the ecosystem of the State, which comprises a huge amount
of grasses and leguminous plants. In terms of environmental
and management questions, it is very similar to the produc-
tion system in Uruguay, where Hereford breeds predominate,
and to Argentina, where the Angus stands out.
Robispierre Giuliani
According to Gustavo Moglia Dutra, of Marcon Con-
sultoria, in Bagé (RS), the environment is a determining
factor for the rearing systems. “Nevertheless, there are
regions where soybeans predominate, like the regions
known as Missões and Planalto Gaúcho, where the pro-
duction system is characterized by remarkable integration
between crops and cattle farming, in well defined periods,
as it happens in Paraná”, he notes.
Dutra recalls that, while in many regions across Rio
Grande do Sul pasturelands prevail, in the Center-West
and in the Southeast the final fattening stages rely mostly
on confinement systems, where the animals are fed cere-
als and remains of sugarcane crops, citrus and cotton.
Because of the concentration of zebu breeds with the
same racial pattern and for representing a huge part of
the national herd, the volume of slaughters is bigger. “The
production system also exerts an influence on the slaugh-
ter rate and is based on what the environment provides.
Supplementation in Paraná, for example, is less expen-
sive than in Rio Grande do Sul, simply because of lush
grain availability”, the consultant stresses.
According to the environment in which the cattle are
raised and the specific production system, the meat pres-
ents characteristics of its own, like coloration. The red color
of beef from confined animals, for example, is not very in-
tense, but it is rather rosy. “The breed also interferes with the
color”, Dutra explains. Sirloin steaks from zebu breeds are
bigger in size, length and are finer, with a smoother and more
uniform fat finishing. In European animals, the sirloin steaks
are smaller, higher and with a “not so fine” fat finishing.
53
 FAVORITAS Além da preferência pelas raças britânicas,
os frigoríficos gaúchos também privilegiam as que foram
originadas por elas, como os padrões Braford, Brangus e
suas cruzas. Atualmente, em quase 45% dos abates gaú-
chos há predominância de animais melhorados por raças
bretãs. E o volume é crescente. O uso da genética britânica
na cruza (meio-sangue), assegura a uniformização e a va-
lorização das carcaças, além de ganhos qualitativos.
A rastreabilidade é outro ponto fundamental para a
indústria e o produtor, assim como constância de forne-
cimento e padrão de carcaças. De nada adianta ter um
animal de altíssima qualidade e não ser rastreável, ou
oferecer um lote de qualidade e outro sem. “É preciso ter
um padrão para agregar valor no mercado de carnes”,
destaca Diogo Carvalho Soccal, consultor do Frigorífico
Silva. A garantia de oferta de produto superior é dada por
em parceria entre frigoríficos e associações de raças.
Animais enquadrados nesses padrões alcançam re-
muneração diferenciada, vinculada ao valor máximo do
indicador de preços do Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agri-
cultura “Luiz de Queioz” (Esalq), vinculada à Universidade
de São Paulo (USP), que é diário e variável. “Às vezes
alcança 10% sobre a tabela do frigorífico, outras vezes o
teto fica mais próximo da referência regional, de acordo
com as variáveis do mercado”, cita Soccal.
Ainda segundo o consultor, a referência de deman-
da dos frigoríficos é a carne superior, procedente de
animais jovens, bem terminados, cruzados ou de raças
europeias e com rastreabilidade. “São características
diretamente relacionadas com aparência, marmoreio,
maciez, sabor, suculência, aroma e, no caso de ser ras-

Padrão
diversos programas de qualidade e certificação da carne treável, sanidade”, aponta Soccal.

britânico
Angus, Hereford e Braford dão
O que o mercado quer
*Lotes de animais com cruza (1/2) ou puros de raças europeias, principalmente Angus, Brangus, Hereford e Braford
*Animais de até quatro dentes (cerca de 29 meses)
*Bem terminados, ou seja, com acabamento desejável de três milímetros de gordura uniforme na carcaça

Robispierre Giuliani
nova conformação ao rebanho *Animais classificados pelos técnicos das associações e com certificação

gaúcho, contribuindo para a *Lotes rastreáveis

padronização do plantel estadual
Por questões climáticas e ambientais, as raças euro-
peias adaptaram-se bem ao Sul do Brasil. Pesa nesse as-
pecto também a tradição pecuária da região, com desta-
que para a Campanha e a Fronteira Oeste. Mas o excesso
de raças criadas no território gaúcho é um problema recor-
rente em algumas regiões, uma situação indesejada pe-
los frigoríficos e que afeta o mercado. Os “invernadores”,
dependendo da pressão de demanda, compram qualquer
animal de rebanho geral para engorda, gerando lotes sem
padronização, com animais e peças de distintos tamanhos
e grau de terminação para a indústria.
Essas características têm sido penalizadas na hora da
comercialização, pois só é pago bônus para animais de
qualidade superior. Estes são produzidos por criadores
mais focados nas tendências do consumo, que trabalham
com genética superior, qualidade de carne e ganhos em
escala. “Quem estiver fora desse padrão precisará se ade-
quar, pois estará cada vez mais fora do mercado”, afirma
Diogo Carvalho Soccal, consultor de compras do Frigorífi-
co Silva, em Santa Maria (RS).
Fonte: Consultores Gustavo Moglia Dutra e Diogo Carvalho Soccal
Segundo ele, na última década o mercado de bovinos
mudou muito em território gaúcho, principalmente pelas Ao gosto do cliente meses. Há alguns anos, o que valia mudar, em função da preferência do
ações das indústrias e associações de criadores de Angus, mais no mercado gaúcho era o animal consumidor e da oferta, entre outras
Hereford e Braford, raças predominantes nos cruzamentos Há regras para definir a qualidade gordo. Depois, valorizou-se o pesado. razões”,  diz Gustavo Moglia Dutra,
industriais e melhoramento genético do rebanho sulista. da carne, tanto no sistema de produção Atualmente, a demanda é por volume da Marcon Consultoria, de Bagé (RS).
Hoje a remuneração dos lotes é definida pela diferencia- quanto dentro das indústrias, mas o pa- de lotes bem terminados. O novilho “Mas o pecuarista que oferecer ani-
ção dos padrões dos animais, mas no passado era defini- drão é aquele que o consumidor deter- mais procurado no Rio Grande do Sul, mal com essas características cer-
da apenas por machos e fêmeas. minar. Seguindo essa lógica, a indústria por mercados de valor agregado, deve tamente terá garantias diferenciais
Isso mudou porque os frigoríficos identificaram a de- estabelece seus critérios de compra ter ao menos meio-sangue britânico, no mercado”, completa. Além disso,
manda por carne de qualidade, a necessidade de esca- bonificando no preço os animais de ra- ser gordo, pesado, rastreado e com enfatiza que, diante da redução das
la de abate e competitividade para atender aos cada vez ças de melhor desempenho no merca- constância de oferta. Assim, o futu- áreas, do avanço da silvicultura e
mais exigentes mercados. Por iniciativa determinante da do e no processamento. E o produtor ro reserva à pecuária gaúcha a pre- do cultivo de grãos em regiões tra-
indústria, há mudanças nesse perfil. Assim, foram institu- precisa se adequar a esses padrões se sença marcante de raças europeias, dicionais de pecuária nos pampas, a
ídos bônus para os lotes de novilhos com predominância quiser se manter competitivo. valorização da cadeia produtiva com tendência é de criação mais intensi-
de sangue britânico, originando um processo de padroni- Em muitos estados do Brasil, por a criação de uma identidade, man- va e abate de animais cada vez mais
zação das carcaças. O apoio das associações de criadores exemplo, o abate é de animais intei- tendo foco num padrão de carcaças, jovens, com carne de qualidade su-
de Angus e de Hereford foi essencial e a busca da genética ros (touros jovens), enquanto no Rio na rastreabilidade e na constância de perior. Isso levará à forte procura por
dessas raças ampliou a comercialização, incluindo a inse- Grande do Sul são novilhos castrados oferta de produto superior. terneiros e à valorização das catego-
minação artificial ou a venda de reprodutores em busca de (bois), de preferência abaixo de 30 “Essa é uma tendência que pode rias de cria nos próximos anos.
uma identidade do boi de corte.

54 55
Robispierre Giuliani

FAVORITES Besides the preference for British breeds,
the meat packing industries in the South also privilege the
breeds they gave origin to, like the Braford, Brangus and
their crossbreeds. Currently, in almost 45% of all slaughters
in Rio Grande do Sul, animals enhanced by British breeds
predominate. And the volume is on the rise. The use of Brit-
ish genetics at crossbreeding (half-blood), ensures carcass
value and uniformity, besides quality gains.
Traceability is just another basic point for the industries
and producers, involving guaranteed supply and carcass pat-
tern. It is no use having a non-traceable, very high quality ani-
jointly by meat packing industries and breed associations.
Animals that fit into the patterns fetch higher remunera-
tion, linked to the maximum value of the price indicator of
the Center for Advanced Studies on Applied Economics (Ce-
pea), a division of the Luiz de Queiroz School of Agriculture
(Esalq), linked to the State University of São Paulo (USP),
which comes out every day and is variable. “Sometimes it
reaches 10% over the price table of the industry, and some-
times the ceiling remains closer to the regional reference, in
accordance with the variables of the market”, Soccal notes.
Still, according to him, the demand reference in the meat

British
mal, or supplying a quality batch and a non-quality batch. “If packing industries is superior beef, from young animals, well

pattern
value is to be added, there is need for a pattern in the meat
markets”, says Diogo Carvalho Soccal, a consultant at Frig-
orífico Silva. Supply assurance for superior quality product is
granted through different quality and certification standards,
finished, cross-breeds or European breeds, and traceable.
“These characteristics are linked directly to appearance,
marble, tenderness, flavor, succulence, aroma and, in the
case of traceability, sanitary status”, he mentions.

Angus, Hereford and Braford What the market wants

Cross-breeds (1/2) or pure European breeds, particularly Angus, Brangus, Hereford and Braford
impart a new configuration
Animals with up to four teeth (about 29 months old)
to the herds in Rio Grande Well finished animals, that is to say, with a desirable three-millimeter layer of fat and uniform carcass
do Sul, contributing towards Animals classified by association technicians and certified
standardizing the local herd Traceable batches
Source: Consultants Gustavo Moglia Dutra and Diogo Carvalho Soccal

For climatic and environmental questions, the European
breeds adapt well to South Brazil. What also plays a role in
this aspect is the cattle farming tradition in the South, where
the highlights are the grass-covered plains and Western Fron-
tier regions. Nevertheless, the excessive number of breeds
raised in the gaucho territory has been a recurrent problem
in some regions. A situation undesired by the meat packing
industries, with an influence on the market. “Winter pasturage
providers”, depending on demand pressures, when its comes
to fattening the animals, they just do not bother about the
breeds, thus generating batches of cattle that do not fit into
any pattern, with different sizes and finishing degrees.
These characteristics tend to be penalized at commer-
cialization, once bonuses are only paid to superior qual-
ity animals. The latter are produced by breeders focused
on consumption trends, who deal with superior genetics,
quality meat and scaled gains. “Those who are outside the
required pattern must either adjust or get out of the busi-
ness”, says Diogo Carvalho Soccal, buying consultant at
Frigorífico Silva, in Santa Maria (RS).
According to him, over the past decade the bovine
market went through considerable changes in the gaucho
territory, especially as a result of the initiatives by industries
and associations of Angus, Hereford and Braford breed-
ers, breeds that predominate in industrial crossbreedings
and genetic enhancements in the South. Nowadays, the
remuneration of the batches is defined by different animal
patterns, but in the past the definition was only based on
males and females.
Things have changed because the meat packing indus-
tries have identified great demand for quality beef, the need
for scaled slaughters and competitiveness to satisfy the
most discerning markets. At the industry’s own initiative,
changes have occurred in this profile. Therefore, bonuses
were established for batches of yearlings of British blood,
which gave origin to a carcass standardization process.
The support of the Angus and Hereford associations was
essential and the search for the genetics of these breeds
broadened the business, including artificial insemination or
the sale of bulls, in search of an identity for beef bovines.
Client-pleasing flavor
There are rules for defining the
quality of meat, both within the pro-
duction system and in the industries,
but the pattern is dictated by the
consumer. In line with this logics, the
industries set their purchasing crite-
ria, granting bonuses to animals from
breeds that perform well in the mar-
ket and at processing. And producers
should comply with these patterns if
they want to keep competitive.
In many states in Brazil, for exam-
ple, non-castrated animals (bulls) are
slaughtered, while in Rio Grande do
Sul steers (young oxen) are slaugh-
tered, preferable under 30-year-olds.
Some years ago, fat animals fetched
the best prices in the South. Then,
weight was the factor value. Nowa-
days, demand is for well-finished
batches. The preferred yearlings in Rio
Grande do Sul, by value added mar-
kets, are British half-blooded breeds,
fat, weighty, traceable and assurance
of supply. Therefore, what the future
has in store for the gaucho cattle
breeding operations is a remarkable
presence of European breeds, the
creation of a supply chain based on
an identity, focused on carcass pat-
terns, traceability and uninterrupted
supply of superior products.
“This is a trend that might change,
by virtue of consumer preference and
supply, among other reasons”, says
Gustavo Moglia Dutra, of Marcon Con-
sultoria, based in Bagé (RS). “Cattle
breeders who supply animals bearing
these characteristics will certainly enjoy
market privileges”, he concludes. Fur-
thermore, he adds, in light of area re-
ductions, silviculture advances and the
cultivation of crops in traditional cattle
rearing regions in the southern plains,
the trend is for intensive cattle farming
and early slaughters, with superior qual-
ity meat. This will lead to tight demand
for calves and to valued breeding cat-
egories over the coming years.

56 57

Retomada
vigorosa
Segmento de couro recobra o
ritmo de exportações e pode
chegar a elevar em 50% as
vendas externas em 2010
Depois de enfrentar os reflexos da crise financeira mun-
dial e estar entre os segmentos mais penalizados pelos seus
efeitos, a indústria de curtumes do Brasil retoma seu ritmo de
exportações e poderá ampliar em até 50% seu faturamento
em 2010 na comparação com 2009. A projeção é do Centro
das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB). Só no primeiro
semestre de 2010, os envios ao exterior de couro brasilei-
ro somaram US$ 879,64 milhões, registrando aumento de
78% em relação a igual período de 2009, segundo balanço
da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Wolfgang Goerlich, presidente do CICB, considera o
desempenho do primeiro semestre, especialmente do mês
de junho, quando a receita de US$ 165,68 milhões dos
embarques representaram crescimento de 73% diante do
58
mesmo mês em 2009 e elevação de 5% em relação a maio
de 2010, um demonstrativo dessa nova condição. “O valor
contabilizado este ano sinaliza a recuperação das vendas
externas, que podem fechar o ano próximas de US$ 1,7
bilhão”, estima o presidente do CICB. Tal receita significa
incremento de quase 51% em comparação às vendas ex-
ternas de 2009, que somaram US$ 1,16 bilhão, elevando
de forma relevante a contribuição da indústria curtidora no
saldo da balança comercial brasileira.
Ainda assim, esses resultados ficariam abaixo do pata-
mar das vendas externas de 2007, o ano pré-crise, quando
atingiram o montante de US$ 2,2 bilhões. Isso porque a reto-
mada das transações internacionais é inibida pela valoriza-
ção do real, pelos entraves representados pelo Custo Brasil
(pesada carga tributária, elevadas taxas de juros e gargalos
Inor /Ag. Assmann
logísticos), pela lenta reação de importantes mercados de
consumo e, recentemente, pelos reflexos da crise europeia.
Para manter a posição no mercado internacional, a
indústria brasileira, quarta maior exportadora de couros,
vem diversificando seus mercados e ampliando a oferta de
produtos sofisticados de maior valor agregado. Ao mesmo
tempo são reforçadas iniciativas para valorizar cada vez
mais o couro nacional no exterior, a exemplo da bem-su-
cedida campanha Brazilian Leather.
“O programa, conduzido pelo CICB em parceria com
a Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Expor-
tações e Investimentos), e renovado no dia 5 de julho, tor-
nou-se uma referência no setor e seus resultados positivos
já influenciam expressivamente na imagem do nosso couro
e nas vendas externas”, afirma Goerlich.
Desde 2000, quando iniciou-se o convênio, até 2010,
foi possível aumentar a quantidade dos couros exportados
anualmente de 14,6 milhões de peças para 24 milhões, alta
de 164% e, o que é mais importante, a parcela de itens de
maior valor agregado cresceu 279%. O número de países
importadores do produto nacional subiu de 68 para 90.
O novo convênio prevê investimentos de R$ 6,9 mi-
lhões e três objetivos estratégicos: aumentar o número de
empresas exportadoras, promover a diversificação de pro-
dutos e mercados, e intensificar o marketing internacional.
Com a iniciativa, espera-se que o número de empresas in-
ternacionalizadas cresça dos atuais 4% para 10% e que as
exportações aumentem 10% de 2010 para 2011, recupe-
rando assim o valor dos embarques registrados em 2007,
quando somaram US$ 2,2 bilhões.
O setor tem grande relevância para a economia brasi-
leira. O País é o segundo maior produtor mundial de couros
e a cadeia produtiva, que abrange os setores de curtumes,
calçados, componentes, máquinas e equipamentos para
calçados e couros, artefatos e artigos de viagem, reúne 10
mil indústrias, gera mais de 500 mil empregos e movimenta
receita superior a US$ 21 bilhões por ano.
Itália, China, Hong Kong e Estados Unidos são os prin-
cipais destinos do couro nacional, mas o Brasil abre novos
mercados, como Uruguai, Costa Rica, Tunísia e Turquia. Os
embarques nos seis primeiros meses do ano representam 1%
de todas as exportações brasileiras, contra 0,7% em 2009.
RANKING O balanço das vendas externas de couros dos
estados brasileiros no primeiro semestre de 2010, na com-
paração com o mesmo período de 2009, reafirma a lideran-
ça de São Paulo como maior exportador nacional, atingindo
faturamento de US$ 262,58 milhões, o que representa au-
mento de 116% e participação de 29,85% no total do País.
É seguido por Rio Grande do Sul, com US$ 219,86 milhões
(25% de participação); Ceará, alcançando a US$ 84,42 mi-
lhões (9,6%); e Paraná, com US$ 78,94 milhões (8,98%).
Os demais estados são Bahia (US$ 55,59 milhões), Mato
Grosso (US$ 55,18 milhões), Goiás (US$ 30,42 milhões), Mato
Grosso do Sul (US$ 29 milhões) e Minas Gerais (US$ 17,62
milhões). Cabe ressaltar o incremento significativo, no perío-
do, das transações internacionais do Pará, com alta de 331%
e faturamento de US$ 19,5 milhões; de Santa Catarina, com
US$ 11,9 milhões e elevação de 81%; de Rondônia, que subiu
129% e chegou a US$ 9,6 milhões; e de Sergipe, que cresceu
1.361%, saltando de US$ 54,77 mil para US$ 800 mil.
59
 Vigorous
resumption
Cattle hide segment gets export
rhythm back on track, while 2010
foreign sales could soar 50%
After facing the ripples effects of the global economic
downturn, as one of the hardest hit segments, the tannery
industry in Brazil is getting its exports back on track and
could earn 50% more in 2010, compared to 2009. This pro-
jection was made by the Brazilian Tanning Industries’ Cen-
ter (CICB). In the first half of 2010, Brazilian hide shipments
abroad amounted to US$ 879.64 million, up 78% from the
same period in 2009, according to sources from the Brazilian
Secretariat of Foreign Trade (Secex), a division of the Minis-
try of Development, Industry and Foreign Trade (MDIC).
60
Wolfgang Goerlich, president of CICB, considers the
performance of the first half of the year, particularly in
the month of June, when the US$ 165.68 revenue from
the shipments represented a 73-percent rise compared
to the same period in 2009, up 5% from May 2010, as a
demonstration of the new phase. “Revenues brought in
this year signal the recovery of foreign sales, which could
reach US$ 1.7 billion by year end”, the CICB president
estimates. This financial success represents almost a
51-percent increase from the 2009 foreign sales, when it
reached US$ 1.16 billion, meaning a relevant contribution
of the tanning industry to the Brazilian trade balance.
Even so, these results are below the levels of the 2007
sales, the pre-crisis period, when shipments amounted
to US$ 2.2 billion. The current situation stems from the
fact that the resumption of the international transactions
is inhibited by the high value of the Brazilian currency,
by the hurdles represented by the Brazil Cost (heavy tax
burden, high interest rates and logistic bottlenecks), by
sluggish reaction of consumer markets and, recently, by
the reflections of the European crisis.
To keep its position in the international scenario, the
Brazilian industry, fourth largest exporter of leather, has
been diversifying its markets and expanding the supply
of value added products. In the meantime, mounting ef-
forts are being taken towards promoting the value of our
hides abroad, following on the heels of the successful
Brazilian Leather campaign. “The program, conducted
by the CICB, jointly with the Brazilian Trade and Invest-
ment Promotion Agency (Apex Brasil), the renewal on 5
Inor /Ag. Assmann
July, turned into a reference in the sector and its positive
results have had expressive reflections on the image of
our hides and foreign sales”, Goerlich says.
From the year 2000, when the agreement started, to
2010, annual hide exports jumped from 14.6 million pieces
to 24 million, up 164% and, what is even more important,
the portion of high added value soared 279%. The number
of countries that import our product soared from 68 to 90.
The new agreement requires investments of R$ 6.9 bil-
lion and sets three strategic objectives: raise the number of
exporting companies, promote product and market diver-
sification, and intensify international marketing moves. The
initiative is expected to make the number of internationalized
companies rise from 4% to 10% and exports from 10% from
2010 to 2011, thus resuming the value of the shipments reg-
istered in 2007, when they totaled US$ 2.2 billion.
The sector plays an important role in the Brazilian econ-
omy. The country is the second largest producer and the
leather supply chain, which comprises the sector of tanner-
th
ies, footwear, components, footwear and leather equipment,
travel supplies, consists of 10 thousand industries, and gen-
erates upwards of 500 thousand jobs, ranking in revenues in
excess of US$ 21 billion a year. Italy, China, Hong Kong and
the United States are the main destinations for the national
leather, but new markets are being opened, like Uruguay,
Costa Rica, Tunisia and Turkey. The shipments over the first
six months in 2010 represent 1% of Brazil’s total exports
over the period, compared to 0.7% in 2009.
RANKING The balance of foreign leather sales by the
Brazilian states over the first half of 2010, compared to
the same period in 2009,reaffirms the leadership of São
Paulo as leading national exporter, reaching revenue of
US$ 262.58 million, representing an increase of 116% and
a share of 29.85% in Brazil’s total shipments. The state is
followed by Rio Grande do Sul, with US$ 219.86 million
(25% share); Ceará, reaching US$ 84.42 million (9.6%);
and Paraná, with US$ 78.94 million (8.98%). 
The other states are Bahia (US$ 55.59 million), Mato
Grosso (US$ 55.18 million), Goiás (US$ 30.42 million),
Mato Grosso do Sul (US$ 29 million) and Minas Gerais
(US$ 17.62 million). Special mention should be given to the
strides made by Pará in international transactions over the
period, which rose 331%, with revenue of US$ 19.5 mil-
lion; Santa Catarina, with US$ 11.9 million and increase of
81%; Rondônia, where sales soared 129% reaching US$
9.6 million; and Sergipe, with an increase of 1,361%, jump-
ing from US$ 54.77 to US$ 800 thousand.
61

Aposta na
integração
O ex-ministro Alysson Paolinelli
é um dos defensores da
integração lavoura-pecuária
e adota a prática em sua
propriedade de Belo Horizonte
Um dos mais importantes difusores da pastagem Bra-
chiaria brizantha é o ex-ministro da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) e idealizador e fundador da Empre-
sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Alysson
Paolinelli. Engenheiro agrônomo formado em 1959 pela
Escola Superior de Agricultura de Lavras (MG), hoje univer-
sidade federal, ele tem uma propriedade de 1.300 hectares
em Belo Horizonte, próximo a Sete Lagoas, onde está no
oitavo ano de adoção da integração lavoura-pecuária.
Em uma área de 900 ha, faz rotação de pastagem com
milho e soja e cria gado da raça Nelore. Recentemente,
arrendou outra propriedade de 600 ha, onde adota a inte-
gração em metade da área. Destaca que na pastagem há
épocas em que o gado chega a ganhar 800 gramas por
dia, com lotação de cinco cabeças por hectare.
Para obter êxito no sistema, Paolinelli efetua a desseca-
ção do capim e realiza o plantio direto do milho com plan-
tadeira, com densidade de 70 centímetros entre as vergas,
fazendo um corte de 18 cm de profundidade e colocando
o fertilizante a 16 cm e a semente a 3 cm. “Quando a bra-
chiaria começa a voltar, o milho já cobriu a área e o capim
fica estiolado”, explica. Assim, o milho cresce e é colhido o
mais cedo possível, com 13% a 14% de umidade. Ele diz
que o ideal seria colher com índice de 16% a 19%, mas
para isso precisaria de secador.
O plantio é feito nos meses de novembro ou dezembro,
porém o indicado seria o fim de outubro, pois costumam
ocorrer veranicos que prejudicam o desenvolvimento. Por
isso, está construindo mais represas, com o objetivo de
fazer uma “rega de salvação”, como diz. Atualmente, são
67 represas de contenção, das quais 23 são permanen-
tes. A irrigação frequente seria inviável pelo custo e pela
62
Sílvio Ávila (2006)
falta de água, mas se justifica para evitar a morte das
plantas pela estiagem.
A área de 900 ha cultivados é dividida em três parcelas
de 300 ha, sendo aproveitada uma por ano, pois é preciso
dar de dois a três anos de descanso, em rodízio, para cada
parcela. Na nova área, pretende dar um ano de descan-
so. Na época de boa pastagem, o gado recebe apenas
sal mineral comum como complemento; nas épocas mais
críticas, é feita complementação de feno ou silagem. Os
animais são mantidos em confinamento por 120 dias.
Depois de colhido o milho, se ocorrer chuva, o capim
cresce intensamente e em pouco tempo (de 45 a 60 dias) é
possível colocar o gado na área. A brotação é natural, sem
necessidade de fazer nova semeadura depois da implan-
tação. Paolinelli diz que no milho plantado em dezembro, e
que sofreu com o veranico e o ataque de lagartas, conse-
guiu 1.200 quilos por hectare em produtividade, enquanto
no cultivado em novembro o rendimento alcançou a 2.000
kg/ha. Afirma que na soja tem enfrentado problemas. O
gado é retirado em setembro e é dado um prazo para o
capim brotar e fazer a dessecação.
O ex-ministro assinala que, nos 17 anos em que vem
usando a área, o solo só melhorou com a integração lavou-
ra-pecuária, além de produzir milho e soja e garantir o ga-
nho de peso do gado a custo baixo. A arroba do boi criado
a campo está valendo, em 2010 na região, em torno de R$
74,00 a arroba, mas o confinado está entre R$ 77,00 e $
78,00. A aposta de Paolinelli, entretanto, é no preço futuro,
que deve chegar a R$ 85,00 ou R$ 86,00. Aos 74 anos,
Paolinelli está conseguindo adotar na prática o que sempre
defendeu, mesmo antes de ser ministro da Agricultura, de
1974 a 1979, no governo de Ernesto Geisel.
 Betting on
integration In a 900-hectare area, corn and soybean are rotated with
pasturelands, where he raises Nelore breeds. Recently, he
leased another 600-hectare farm, where he devotes half of
sible, with moisture levels ranging from 13% to 14%. He
admits that, ideally, the corn should be harvested at mois-
ture levels of 16% to 19%, but it would require a drier.
Former minister Alysson Paolinelli the area to the integration system. He explains that during Plantings take place in the months of November and
comes strongly in favor of crop- certain periods of the year, the cattle gain up to 800 grams in December, although the recommended period is late Oc-

livestock integration systems and
adheres to this practice on his
farm in Belo Horizonte
Idealizer and founder of Embrapa and former minister
of Agriculture, Livestock and Food Supply (Mapa), Alysson
Paolinelli, is one of the leading advocates of Brachiaria brizan-
tha pasturelands. With a degree in agronomy from the Higher
Sílvio Ávila
School of Agriculture in Lavras (MG), now federal university,
Paolinelli owns a 1,300-hectare farm in Belo Horizonte, near
Sete lagoas, where for the eighth year in a row the crop-live-
stock integration system has been common practice.
weight per day, with a density of five head per hectare.
For the success of the system, Paolinelli resorts to
grass desiccation, followed by direct planting of corn with
a planter, where row-to-row distance is 70 cm, and the fur-
rows are 18 cm deep, the fertilizers are placed at a depth of
16 cm and the seed at 3 cm. “When the brachiaria grasses
begin to sprout, the corn has already covered the area and
the grass remains etiolated”, he explains. Under such con-
ditions, the corn grows and is harvested as early as pos-
tober, as sometimes Indian summers impact negatively on
the development of the crop. To this end, he is building
more dams, with the goal to carry out a “salvage irriga-
tion”, he remarks. Currently, there are 67 dams, of which,
23 are permanent. Frequent irrigation would make the
business unviable because of the high cost and water
shortages, but it is justifiable for preventing the death of
the plants from drought conditions.
The 900 hectares under cultivation are split into three
300-hectare parts, and only one of them is put to use every
year, as there is a need for a two to three year idle pe-

riod, in a rotation scheme. In his new area, the idea is for a

one-year idle period. At times of lush pasture, the cattle are
given only common mineral salt as a complement; during
critical periods, there is a complementation with hay and
silage. The animals are kept in confinement for 120 days.
After the corn has been harvested, and after a rainfall,
the grass grows lushly, and in about 45 to 60 days, it is
possible to let the cattle on it. Sprouting takes place natu-
rally, without the need for new seeding after the system has
been established. Paolinelli says that from his corn planted
in December, and suffered from Indian summer conditions
and worm outbreaks, he managed to harvest 1,200 kilos
per hectare, while the productivity rate of the corn planted
in November reached 2,000 kg/ha. He admits he has had
problems with the soybean crop. The cattle are withdrawn
in September and some time is needed for the grass to
sprout and be desiccated.
The former minister points out that, in the 17 years he
has been using the area, the soil only began to improve
when the crop-livestock system was implemented, and
now it is yielding corn and soy, with the animals gaining
weight at low costs. The arroba of grass-fed cattle catches
R$ 77 and R$ 78. Paolinelli’s bet, nevertheless, is geared
toward the future price, which is expected to reach from R$
85 to R$ 86. At the age of 74, Paolinelli is now putting into
practice what he has always advocated, even before his
tenure as minister of Agriculture, from 1974 to 1978, when
Ernesto Geisel was president.

64 65
 Reforço
científico
Embrapa Gado de Corte trabalha
com 27 áreas de pesquisa e
especialização visando à melhoria
da pecuária de corte nacional
A pecuária brasileira passou por um processo de tecnifi-
cação e modernização nos últimos anos e muito dessa evo-
lução se deve ao trabalho desenvolvido pela Embrapa Gado
de Corte, de Campo Grande (MS). A instituição é responsá-
vel por lançar variedades de pastagens, pesquisar sobre se-
leção e melhoramento genético, desenvolver novas práticas
de manejo, e estimular a integração lavoura-pecuária e os
sistemas silvipastoris, buscando as soluções tecnológicas
para o desenvolvimento e o crescimento dessa cadeia pro-
dutiva. São ao todo 234 ações de pesquisa em andamento,
classificadas por tema prioritário. De acordo com Cleber Oli-
veira Soares, chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento
da empresa, em torno de 70% das pastagens cultivadas no
Brasil originaram-se na instituição.
Inaugurada em 28 de abril de 1977, a Embrapa Gado
de Corte foi a grande responsável pela difusão da brachia-
ria, que deu um grande impulso na melhoria da nutrição
animal e hoje predomina nas áreas de pastagem cultiva-
da do País. De origem africana, o gênero brachiaria foi in-
troduzido no Brasil na década de 1950, mas foi a partir
de 1977, quando a Embrapa lançou a cultivar marandu,
que a pastagem ganhou impulso e, atualmente, é uma das
mais plantadas no País. São três os capins pertencentes
ao gênero Brachiaria difundidos pela Embrapa: marandu,
xaraés e piatã. Há também os capins tanzânia, mombaça
e massaí, do gênero Panicum, e campo grande e mineirão,
do gênero Estilosantes ou Leguminosas. Todas essas cul-
tivares de forrageiras foram desenvolvidas pela Embrapa e
são recomendadas para recuperação, manutenção e reno-
66
vação de pastagens e sistemas de produção a campo.
Além da seleção e do melhoramento dessas pastagens,
são estudados sistemas de manejo, integração agricultu-
ra-pecuária, sistemas silvipastoris, biotecnologia aplicada
e nutrição animal. A empresa desenvolve ainda pesquisa
em melhoramento animal, socioeconomia, tecnologia para
couro e pele, epidemiolgoia e etiopatologia de doenças de
bezerros, sanidade animal, kits e testes de diagnósticos,
rastreabilidade e certificação, entre outros. Ao todo são 27
itens na área de bovinocultura de corte.
Em sanidade animal são desenvolvidas vacinas contra
babesiose e anaplasmose, imunógenos contra carrapa-
to, soros imunógenos contra brucelose, soro hiperimune
contra botulismo, além do controle de carrapatos, ver-
minoses e mosca-do-chifre. Na parte de epidemiologia e
etiopatologia, é feita a implementação do Projeto Ladan,
em conjunto com a Agência Estadual de Defesa Sanitária
Animal e Vegetal (Iagro), e estudada a deficiência de zinco
associada a enfermidades de bezerros. Em rastreabilidade
e certificação são analisados métodos de rastreamento,
identificação eletrônica (chips), sistemas de certificação e
software para manejo do rebanho.
Os programas tecnológicos incluem Embrapa Carne de
Qualidade, Boas Práticas Agropecuárias, Integração La-
voura-Pecuária e Centros Tecnológicos de Carne e Couro.
Com um campo de estudo e pesquisa tão amplo, os resul-
tados que vêm sendo obtidos tornam a Embrapa Gado de
Corte uma referência mundial em soluções tecnológicas
para a pecuária de corte tropical.
67
 Scientific
strength
Embrapa Beef Cattle is engaged ture systems, always in search of technological solutions while these types of grass now predominate in the culti-
for the development and growth of this supply chain. At the vated pasturelands in the Country. From African origin, the
in 27 research and specialization moment, there are 234 research works underway, classified genus brachiaria was brought to Brazil in the 1950s, but it
areas aimed at improving the according to priority themes. According to Cleber Oliveira was only from 1977 onward, when Embrapa launched the

national beef cattle herd
Brazilian cattle farming operations have gone through
a technification and modernization process over the past
years, and much of this evolution is owed to the work de-
veloped by Embrapa Beef Cattle, in Campo Grande (MS).
Sílvio Ávila
The institution is responsible for launching pasture culti-
vars, for doing research on selection and genetic enhance-
ment, for the development of new management practices,
and for stimulating crop-livestock integration and silvopas-
Soares, assistant officer of the company’s Research and
Development Department, about 70% of the cultivated
pasturelands in Brazil owe their origin to the institution.
Inaugurated on 28 April 1997, Embrapa Beef Cattle
th
was responsible for spreading brachiaria grasses across
Brazil, a fact that improved animal nutrition considerably,
marandu cultivar, that it gained momentum and, currently,
is one of the most planted grasses throughout the Coun-
try. There are three grass species that belong to the genus
brachiaria, spread by Embrapa: marandu, xaraés and pi-
atã. Other grasses are known as Tanzania, Mombassa and
Massai, of the genus Panicum, and campo grande and mi-
neirão, of the genus Estilosantes or Leguminous. All these
forage cultivars were developed by Embrapa and recom-
mended for pasture recovery, maintenance and renewal
and for grass-fed production systems.

Besides pasture selection and enhancement, the

studies also include management systems, crop-livestock
integration, silvopasture, applied biotechnology and ani-
mal nutrition. The company also carries out research on
animal improvement, socioeconomy, hide and skin tech-
nology, epidemiology and etiopathology of calf diseases,
animal sanity, diagnostic kits and tests, traceability and
certification, among others. In all, research works cover
27 items in the area of beef cattle.
Regarding animal health, vaccines are created against
such ailments as babesiosis, anaplasmosis, immuno-
logical vaccines against ticks, immunological serums
against brucellosis, hyperimmune serum against botu-
lism, besides tick, worm and horn fly control medicines.
As far as epidemiology and etiopathology are concerned,
the Ladan Project is being implemented, jointly with the
State Agency for Animal and Vegetable Sanity (lagro), and
equally a study on zinc deficiency associated with calf
diseases is underway. As to traceability and certification,
the present studies include analyses of traceability meth-
ods, electronic identification (chips), certification systems
and software for herd management. The technological
programs include Embrapa Quality Beef, Best Agricultural
and Cattle Farming Practices, Crop-Livestock Integration
and Beef and Hide Technological Centers. With such a
vast study and research field, the results being achieved
turn Embrapa Beef Cattle into a global reference in tech-
nological solutions for tropical beef cattle operations.

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