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BEAUTIFUL
MAÍRA
Edição Antropófagos Erótikos
2008
Passo por meus trabalhos tão isento
De sentimento grande nem pequeno,
Que só por a vontade com que peno
Me fica amor devendo mais tormento.
(Luís de Camões)
1
É Outono
Dispo-me de cores e imagens
(como se fosse uma árvore)
Reuno-me apenas em células necessárias.
O inverno virá. De frio e energias contrárias
Bom-dia, Nada
Boa-tarde, Coisa Nenhuma
Boa-noite, Vazio Absoluto
Maíra se foi
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E me revolto.
Ao acaso, uma outra mão percorre as estantes
Ao acaso me vem As Lágrimas de Eros
E lembro Maíra insistindo, os olhos brilhando
“Coincidências não existem”
No retrato, rasgado
Uma quase Maíra insiste que ainda é viva
E eu quase acredito em reencarnação
Mas o dia, a hora mesma em que Maíra se foi ficou retida nas retinas
assim como uma fotografia antiga
a nos chamar de volta ao fundo dos baús
C
a
i
r
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A voz
de um desertor
Maíra era como uma prima, mordida antiga
cheirando a adolescência de interior
Olhando para mim com todo o horror néscio dos tédios e os planos
de fugir dali, subir
aos céus como uma nossa senhora tupiniquim
Aparecendo aos fiéis entre malhas e cetins, bordados dourados, babados
coisas assim, anunciando os mistérios da moda, proferindo as regras
de melhor comprar, de melhor usar, de melhor mostrar, de melhor tudo-o-
que-você-precisa-saber-sobre-tudo, enfim
Desaparecendo sem deixar vestígios, mas haviam os vídeos
A provar a existência da inteligência, da graça, do charme
E tudo se resumia numa questão de fé
Em si
Não olvidando as viagens, e os colares
Boeings para Paris, Nova york, férias na Jamaica
Uma esticada às terras de James Joyce, um romance das arábias
E ela amava as esmeraldas, os diamantes da África
Os elegantes homens sem pátria, os marginais do ócio
cum dignitat
Castelos ingleses, armas, brasões, fantasmas
Talvez uma visita a Marte, organizar um sabá
de feiticeiras
Ficar na História, anita, guerrilheira
Abrir um hospício, inventar um método
Liberar geral, apagar os egos masculinos
Acender um brilho, um pavio
que exploda os mundos paralelos aos femininos modos
e fuzilar todos os que se opõem à nova ordem amazônica imperial,
ou outro nome
qualquer nome, menos nome de homem
Podia ser helena, virgínia, podia até nepomucena
Luciana, podia; valia lucrécia, geórgia, neferasta
Tantas maíras
quanto havia de estrelas
nas galáxias
E seria abolida a gravidez ventríloqua, tudo in vitreo
Ia nascer um mundo sem a tal diferença, e a engenharia genética
cibernética era, aquariana
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Dela,
terrivelmente dela,
sem a mais ínfima liberdade
Desta falsidade a que chamam
o p ç ã o
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Escurece rápido
e uma gota de suor me escorre pelo sovaco
Suor que disfarço, com medo que ela
perceba os tremores e os tambores do coração
Do lado que ainda não lhe pertence de todo, o lodo
que mantenho por baixo
Ou, que fosse só mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa
E ela as águas virgens castas
em que se banham as nove musas
Ou fossemos errantes Bonita e Lampião
Tanto que fomos samba e canção vinho e bênção hóstia e pão
Que fôssemos algo para além desses outossolentes
modos, de chuva prestes a cair
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Há um ritmo
O coração compreende
com quantos paus
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Sem que ousemos, olhos nos olhos, por uma única vez
contemplar o sol se pôr
Sabemos, no entanto, a hora dos embora
Semente que não germinou
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Nem pensar
outra porta lá por trás
Mesmo assim um sátiro, desenjaulado
Assoma e assume o cetro do carrasco
Frio como a lâmina ao fio do machado
Cumprindo sina por mal predestinado
Ao lapso dessas horas que afinal são dele
Imune aos sofrimentos, aqueles revoltados
Atento que apenas à claque da gentalha
Que tem na vida sua mesmo sendo chula
Frente a toda morte assim tão impudica
Mesmo grande ainda em vida fora a vítima
Ele inda maior, agora que as risadas
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C
a
i
outra folha de outono
aos nossos pés cansados
Uma brisa convida a filosofias:
como é dura a vida de casado!
In vino veritas
e quero mentiras
Ela, que importa a hora que chega, se chega
e com vontade?
Talvez ainda na boca o gosto de outro, mas
guardada a última etapa para nós
Uma inocência se faz com quantos nãos culpados?
Talvez só avançou demais, talvez
só separou a alma do corpo
e outra Maíra flutua em braços clones
Talvez
não haja
ninguém mais
que uma noite apenas, um modo de me ferir, e daí?
Talvez
me pense na hora
Quem sabe é outra a escolha
e nem basta uma noite para ser feliz?
Talvez o corpo não valha a fuga da alma, e eu
consiga dormir
In dubio veritas
só quero mentir
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Abrimos janelas como quem abre os braços quando nos chega a nau
do amor amigo
Uma aragem fresca lava o pó das serpentes
e as artérias latejam ao som dos passarinhos
que havíamos esquecido
esses pequeninos, feitos de cantos e vôos e ninhos
As notícias da cidade são átimos, apenas
frações, que Maíra salta com sorrisos de eternidade
Nos encontraremos em Marte?
Ah! Quem sabe Júpiter, ou um quasar
será mais quente?
Voltamos pisando exatas marcas deixadas quando fomos
os nossos pés na praia
beijados pelas ondas mansas
espumas brancas de um mar agora calmo
Nossas almas se abraçam e
juram que se amam
que sempre se amaram
E há amor também no som que vem dos carros no asfalto, nos tiros
dos bandidos que naufragam
nos mendigos, esses meninos que estendem as mãos vazias
para o Nada, nas passeatas operárias
nas risadas dos exus de encruzilhada,
nas contas bancárias dos sem cara
que governam as mágoas e as
tábuas herdadas de Moisés
Que há o amor, e
as agruras da raça
Esses acidentes da alma não são mais que pernas e braços infantís
vestindo um corpo recém saído das fraldas
Maíra me deixa brincar em sua face escura
a me proteger do sol que tudo mostra
nenhuma culpa em ser pequeno, imperfeito
ser de muito barro
e pouco sopro
Despedimos os corpos sem mágoa, sem choro
Como um mero até logo, um beijo de portão
Despidos no leito, como se nada mais acontecendo
conosco, senão o amplexo carnal mais cotidiano,
como um casal feito de sábados
Amanhã partiremos, mas
hoje, e para sempre, os registros do tempo acolhem nossos ais-
gêmeos de paz
Dorme, Maíra!
Deixa eu sonhar
Deixa eu pensar
na vênus primeva
que busquei em você
E você que me deixa
um adolescente que tenta
espiar
Dorme, Maíra!
Ainda há muito que pensar
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Tããññññññññññññññññññ
Lightnin’ Hopkins geme a guitarra
O blues adentra a alma
Vasculha
quase dói
E nós, trás as pálpebras
semi-cerradas
nos olhamos
curiosos do momento
Bruxas voejam
Asas abraçam lâmpadas
Apagamos as luzes
Bruxos nós somos
Nesse mágico momento
em que nos debruçamos, curiosos
sobre as próprias almas
E ali estamos nós, mais outra vez
ela me olha dentro de si
assim também eu olho
Impossível mundo
múltiplo
divisível
E o destino das almas, pálidas
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Chorará, talvez?
Fará planos de nunca mais?
Quem sabe só deseje mudar de ares, e companhia?
Talvez hoje mesmo se decida
e ontem foi a última vez
Acordará cantando aquelas melodias?
Talvez sorria de canto
Uma valsa no olhar brincando, vingativa
A sussurrar o nome de um outro par
Ao menor motivo corriqueiro de me lembrar
Que sempre há quem a queira
Que é só me deixar
E eu mesmo, sempre na prateleira
Para quando quiser
De quantas gavetas é feita a alma de uma mulher?
Amanhecerá pálida?
Terei que tirar coelhos da cartola?
Servir-lhe o café na cama?
Qual das apologizes, atenderá suas medidas?
Talvez nem mesmo diga
bon-jour tristesse!
Não há fúria, nem calma nenhuma, apenas os beijos dizem que fazemos
amor
Atento sou apenas à textura da pele, ao perfume dos pêlos
os seios pequenos, meu peito de remador
A faca e o queijo, apenas, derretendo ao próprio calor
Fornalha ocupada apenas ao aço da espada
Nada mais que o ofício de macho e a fêmina arte de abrir e fechar
pedir e negar, harmonizar, igualar
No gozo somos anjos sem corpos
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Mas
se me vê com os males tão contente
faz-se avaro da pena, por que entende
que quanto mais me paga, mais me deve
a b l a d
c m a e n o
L I B E R T A D
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Há um cheiro na sala
incensos da Ìndia
Uma cozinha arrumada
e a pia sempre limpa
Discos e livros em fila
educados em Harvard
Há um palco iluminado
lupicínios e gardéis aguardam
apenas, que a platéia dessa temporada
ordene se abra
a jaula dos leões
s
Consulto alquimistas, leio poesias, tento
transmutar ouro em gozo
sem o fogo de Maíra
Inspeciono as bundas
que enfeitam as avenidas
Vasculho seios
por frestas e esquinas
Avalio as pernas que erguem
sempiternas odes femininas
Meço os lábios, as bocas
o tamanho e o peso dos beijos
Às vezes, ouso
adentro belos olhos, percebo
imagens invertidas
A registrar possíveis
fotografias kirlians
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I can get no
Satisfaction
E novamente o arco aponta a seta ao alvo
Atinge em cheio o mais vermelho
E cravo em cima, perfuro embaixo
Aproveito cada centavo dessa paga vil
I can get no
Satisfaction
Anoitece
Uma chuva outonal barulha na vidraça
Maíra dorme
Ao longe ecoa uma risada
Ou será sua alma que ri, vitoriosa?
Aproximamo-nos as perplexidades
Como se nos vangloriássemos da falta de respostas
Nem há mais perguntas, nem respostas interessam mais
Que o momento fugaz próprio das coisas em mutação
Let it be, que assim driblamos sinais de dividir
Enforcamos esse nosso tempo sem platéias ou razões legais
Apenas desconsideramos o passado porque já passou
E o futuro porque ainda não veio
Simples, não? Assim ao menos persisto em lhe dizer
Já é noite outra vez, volto outra vez, quem sabe desta vez Maíra?
Súbito sei de uma única questão transcendental
Que me assalta e repete, verruma na tábua lisa do meu coração linchado
Arregala-se o cérebro, um mundo murado e lá dentro, caído coitado
Treme um minotauro ateu
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It’s a long, long, long, longo, longo, longo, it’s a long way
It’s a hard, it’s a hard, hard, long way
Caetano canta os sons da minha alma
Concha acústica fechada
Em que ensimesmo as palavras que devia gritar para ela
Um modo de mostrar toda a minha solidão
De fingir que não me importo se ela se for
Uma chuvinha miudinha um dia já foi nossa amiga abrasando os lençóis
Também o vinho, veritas antiqua, e tantas coisas mais
Que agora me apontam a porta sem volta para a implosão do coração
Nem cabe falar dos motivos
Sabe-se lá quais são os tais motivos que nunca se encaixam
Seja de frente, seja em contrário, seja dos lados
Pois só o amor se engata
Não importa quantas farpas, nem qual direção
A lã encharca no corpo, meus pés são heavy trips
Dois cubos de gelo, nem mesmo meus eles são
A alma desgruda do corpo sem no entanto liberá-lo a sossegar-se
Também a mente não tem aonde ir
Não há qualquer significado nos pares de enamorados que passam
Nem mesmo os invejo, sábio dos infernos
Então, Maíra! Tudo tem mesmo um fim
Nem há como parar os braços dos relógios, seus abraços de thanatos
A marcar apenas o necrológio dos corpos
Nos mesmos números usados para medir cotidianas coisas
A iludir que a vida mais longa
Mantendo a foice à distância da alma ingênua
Que a carne aponta aos espelhos
Como se a sua existência fosse tal qual vê
Talvez seja sempre melhor despedir os lábios
Os lábios já roxos desses beijos antropofágicos
Antes que a dança das línguas seja mais, seja a troca das almas
Ah! Maíra, devo erguer a fronte acima do teu colo de mulher!
Fomos tão longe dos nossos nós primordiais
Cordão áureo esticado ao máximo varando a escuridão
E o medo, que afinal venceu
Ah! Maíra, devo recolher as âncoras que me prendem a teu cais!
Zarpar mar aberto, naufragar
No oceano das lágrimas que o céu verteu por nós
Deixar-me estar sob a imensidão azul-clara que o sol
Dormir sob as estrelas que apontam outras direções
Sob esses olhos de Deus que tanto nos viram nus
Ocultar a alma sob as garras, deixá-las crescer, afiá-las
No dorso frágil dos que nunca morreram
Esvaziar o sexo
Ser só um rubro furador do gelo das donzelas de espírito
Nublar esses olhos para que não seja espelho d’alma
Mas as frias geleiras de Aldebarã
Aceitar em mim enfim o caminhante que não há caminho
Que se faz o caminho ao caminhar
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Que só assim ou
Talvez assim
Te livrarás do amor
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O girassol, Maíra!
Mais que tu, ou mesmo eu
É que nos dá adeus
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Ah, Maíra! Aceitar que sejas apenas mais uma entre tantas
Não a encarnação da Deusa, deusa entre tantas
De um Olimpo que não sonega o assédio aos mortais terráqueos
Esta a maior dor: não ter revelado a Uma
Condenado a não ser o Um
Amamos para a plenitude de nós mesmos
Eis o castigo:
quando fracassamos, voltamos ao plural dos vencidos
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Enfeitiçada de si
As pedras cobrindo os pés, e
embora os veios das incertezas
Orgulhosa da opção mais fria
Até que bem combine com toda a sua beleza
Da mulher que é
Da alma que se aceita, plena
Oh! Via estreita
Que maíra vou?
Ela quer uma planta rasteira sob a sombra dos seus galhos
Seguir-me uma eva é trair-se, lilith que é
Preservar-nos como manguezais de praia, insignificantes
Grandes apenas no que temos de secreto e amargo
- sob as patas dos que constróem as cidades, aço e fôrma
sem contar com os nós - não, isso seria como abdicar ao trono inglês
No entanto me deseja mais que as pernas e os abre/fecha da flor
que nasce desses matagais
Que não há terreno propício ao amor sem que a alma goze também
Que o amor ignora quaisquer outras razões, tem suas próprias asas
E por si se morre
Por si se muove, e nós
Corsários de tantas esferas
Secretamente teimamos
Que as regras giram em torno aos lençóis
Que jamais haverá amor sem as peles imantadas de êxtase
Mesmo que as idades, mesmo que as algemas da cidade
Em troca do respeito assexuado, essa moeda vil
Por mais que se cubram de vergonha as partes pudendas
Do que as almas desejam, e - por isso! - o corpo reclama
Por mais que se aceite, apenas, as diferenças formais
Ah! Jesus! Tão iguais em essência e conteúdo
Que amar o próximo como a si mesmo é mesmo amar demais
Que mal há que nos beijemos nesses pontos obscuros do ser?
A alma vibra ao desvendar a carne amiga
Que lhe concede harmonia e prazer
E a uníssona maneira, única maneira
De completar as lacunas entre o Existir e o Ser
Fora, fora!, com esses que anunciam a alma sem crer
senão em energia, em estados mentais
ou em concessão divina, provação
a ocupar a carne um território inimigo
carente de superação
Que pai, por menor, quereria seu filho de volta ao úter-paraíso?
Somos um espaço múltiplo
A exercer com a carne cada qual dos seus milímetros
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Ah! Maíra
Aportar-me en sus brazos
Atracar-me en su cuerpo, y
lançar fuera todo lo que sonhé
en mar más alto
Mas o vento amplia a alma, enfuna os sonhos
Que nos levam ainda mais para lá
Onde as quimeras que verdadeiramente assustam
ganham existência e ser
Velejai!
Através dessas janelas que a alma escancara
Ao lado que será
O lado de allá
Trêmulo, ainda
Aproximo
Os braços em brasas
Ao cruel destino
De lançar-me aos seus pés, beijar-lhe o umbigo
Curvar-me ao centro do mundo feminino
Deixar que as lágrimas
Escorram sossegadas
De tanto siso
Ó Maíra Beatrix
Suba ao patíbulo!
Que a carne me abre
Bem mais doce paraíso
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Há um sorriso giocondo, e eu
o brilho de uma lâmina de dois fios
Atento e presto tenho a alma de um tigre
no corpo envelhecido
Ah, Maíra
Recusa a tiara dos diamantes eternos
Há vida ainda por detrás dessas carnes de sal
Há vida ainda por detrás desses olhos de gesso
A olhar que não vê
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Quanto a mim, sou feito de gestos que não tocam os mesmos pontos
Que nem acariciam nem dóem
Como a sombra bruxuleante de uma vela
soprada sem nenhum desígnio
Muito mais dos que dela ainda se acercam, e cercam
Mais do que ela mesma
Sei
Que está a trocar as penas velhas
pelas asas e garras, fênix
de uma era que se aproxima (acredita)
Nova estrela de salém
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Então, o que se há de fazer agora que ela se maqueia para sair só?
Deixar cantar na vitrola um just fuck you
E calar na garganta o rugir desses cães que nunca ladram
Ah, Maíra!
Querias assim, assim será!
Querias assim desde antes que eu nasci
E no entanto entendo que também tu tentaste
Que este mundo não girasse assim, impávido às dores
Do eixo que agüenta o peso dos ventos, o calor dos jeitos
De se amar mesmo assim
Agüenta, mundo! E eu
Rego e espreito
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Ouça, maíra
Por acaso deixei de ser o mesmo rockin’boy?
E quanto aos meus boleros, não te agradam mais?
Ou tudo é desde sempre adrede preparado para o final infeliz?
Funcionários de Caim, tínhamos de nos trair?
Veja estas árvores, desnudam-se sem pejo algum
E, por quê nós, também nós, não nos despimos das folhas secas
herdadas dos nossos avós?
Espera, Maíra, ouça, maíra
Pára, por favor, de lavar essa louça
De ruminar por dentro a demência do nosso tempo
Pára com esse barulho ensurdecedor, please
Arranca do peito essa flor
de Baudelaire
Ah, maíra
Nada fará que o nada seja o contrário do nada
Pára com essa louça, Maíra, pára!
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olá, como vai?/eu vou indo, e você?/ o sinal/ vai abrir/ adeus
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Ah! Deus!
Prova de amor maior não há
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Outono, ó outono!
O que ainda mais vai ser?
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Sozinha
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Assovio alto
O infinito se cala, mostra os degraus de uma escada de lágrimas
E nem é dor, é saber dos acordes perfeitos, sempre maiores
E a cada passo o outro mais alto
A mostrar como fomos tolos
E quantos ainda faltam à estrada que some ao horizonte dos céus
Deus, ó Deus das alturas! Quero apenas a mulher que amo
Seus pêlos, seus cheiros, seus olhos brilhando, seus beijos dizendo
Eu te amo
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A verdade é que soprei minha própria liberdade aos seus ouvidos atentos
E agora, que sabe o gosto das frutas silvestres
Ela é corpo e alma entregues à sua própria causa de alargar o ego
E encerra o amor em torre medieval
Faz de mim um máscara de ferro, algo assim
Diz que um dia serei o rei, um dia, o fêmino reino consolidado
Vai, Maíra!
Ó, fêminas pasárgadas!
Acolhei minha menina!
Que a espécie avança seus próprios sacerdócios
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Sei, inda mais que ela mesma, das vezes que duvida
Sei dela que as árvores agitam os galhos, se esticam aos ventos
A abreviar os vazios
Sei dos seus poréns, sei dos seus depois
E ainda sei do seu talvez
Mas ninguém segura uma estrela que sobe
Tentar prendê-la é queimar-sd ao rastro da luz que deixa
Ao fogo das energias em combustão
É tentar agarrar-se à cauda de um cometa
É preciso (e é tudo o que ela realmente quer)
Que a veja por inteiro, primeiro, brilhando na imensidão dos escuros
Conhecer qual sua grandeza, quem é ela afinal entre tantas
Saber seu nome de ambição
E é assim que acontece nessa exata noite em que a lágrima acorda o sono
Sobe, amada minha, sobe, seja esse meu último adeus
Caminha tua estrela aos olhos dos que ainda precisam saber do amor
E qual seu preço em dor
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Mas nenhum espelho verá minha face sem que o cheiro de maíra
Sem que os olhos de Maíra
Mesmo que a distância alargue em oceanos
Mesmo que as galáxias, os escuros e as cores
E esta noite, particularmente esta noite
Em que sinto tanta falta dela
E a voz de uma Lavelle canta
Forget the few
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Laaa...
Lari-lari...lari-la-lá!...
Larilá...
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Outocientes, nós
E essa moeda que não cai
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...ou, não...
Abrir mão dessas peles quais cerdas de um violão do Tom
Da maciez dos lençóis ao forno das pernas dessas centopéias de verão
Abrir mão do mundo, vasto mundo, talvez chamar-se raimundo
Passar a contar as horas do lado de fora das portas
Usar coleira e cabresto, carregar papéis em pastas de couro
Acomodar os fundilhos no sofá, ligar a televisão da sala
...ou, não...
Talvez mandar tudo às favas
...ou, não...
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Aquáá ri ús...!
Aquáá ri ús...!
Quan-do vo cê foi em bo ra
Fêz-se noi te’m meu vi ver
No I won’t! be afraid!
No I won’t be afraid
Just as long as you stand
Stand by me
Stand by me
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Bem te ví!
Bem te ví!
Bem te ví!
Bem te ví!
Bem te ví!
Bem te ví!
Bem te ví!
Bem te ví!
Bem te ví!
Bem te ví!
E a alma de maíra em meio à passarinhada em algazarra
Responde:
Ví!... Ví!... Ví!...
Vem! Vem!
Vem............meu-me-ni-no-vadi...ô...
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It’s autumn
The naked trees escape their arms
to the infinite nothing
Almost winter
We wait for the snow as we waited our souls
And we never, never, never saw
the snow, our souls