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1.

CARACTERIZAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO: O ESCRITURÁRIO DE


SERVIÇOS BANCÁRIOS – O CAIXA DE BANCO
1.1 O TRABALHO COMO PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL
1.2 A ORIGEM DAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
1.3 O ESCRITURÁRIO DE SERVIÇOS BANCÁRIOS – O CAIXA DE BANCO
1.3.1 DESCRIÇÃO SUMÁRIA DO POSTO DE TRABALHO
1.3.1.1 Condições gerais de exercício da profissão
1.3.1.2 Formação e experiência
1.3.1.3 Áreas de Atividades
1.3.1.4 Características físicas do posto de trabalho
1.3.1.5 Competências pessoais
1.3.1.6 Recursos de trabalho

2. AS PATOLOGIAS PSICOSSOMÁTICAS
2.1 CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PSICOSSOMÁTICAS
2.1.1 O ADOECIMENTO NO TRABALHO EM PROCESSOS REPETITIVOS

3. AS CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS INERENTES AO EXERCÍCIO DA


PROFISSÃO DE CAIXA DE BANCO
3.1 OS FATORES ESTRESSANTES VINCULADOS AO POSTO DE
TRABALHO ANALISADO
APRESENTAÇÃO

O Trabalho: Avaliação dos Fatores Estressantes para a Profissão de


Bancário na Função de Caixa apresenta o percurso trilhado desde os
primórdios: as lutas pelo reconhecimento das L. E. R. como doenças
ocupacionais, vinculadas ao posto de trabalho analisado bem como as
condições psicológicas e psicossomáticas inerentes ao exercício da Profissão
de Bancário na Função de Caixa.
Diante das relações entre o surgimento das L. E. R. e condições mais
gerais e subjetivas da organização do trabalho como divisão do trabalho
observa-se esses aspectos como marca principal da Sociedade Capitalista.
PROBLEMA

Quais são os esforços e as dores humanas implicadas no trabalho


dividido, partido e repetitivo? Quais são esses esforços e essas dores na
diversidade do corpo e alma de quem labuta na Profissão de Bancário na
Função de Caixa? Por que há sofrimento psíquico implicado nas
dores/lesões que são das articulações, dos músculos e dos tendões na
Função de Caixa de Banco?
OBJETIVO GERAL

Estabelecer relações de determinação entre organização do trabalho


em processos repetitivos, sociabilidade no trabalho, patologias
psicossomáticas, adoecimento no trabalho em processos repetitivos,
condições psicológicas estressantes inerentes ao exercício da Função de
Caixa na Profissão de Bancário, fatores de trabalho vinculados ao posto de
trabalho analisado tal como acontecem no trabalho de Caixa em diferentes
agências bancárias de Brasília-DF e Formosa-GO.

OBJETIVO ESPECÍFICO

Definir as dinâmicas de organização do trabalho dos processos


repetitivos que produzem formas particulares de sociabilidade no trabalho
implicando no surgimento de patologias psicossomáticas e L. E. R. na Função
de Caixa de Banco na Profissão: Bancário.
INTRODUÇÃO

A eleição do contexto de emprego deve-se à aguçante relevância que


tem para a saúde em importantes setores de nossa população. As doenças
ocupacionais, mentais e físicas em termos monetários, o custo oculto do
estresse no trabalho, se não se procura criar o âmbito de trabalho propício
para o bem-estar e para a produtividade. É muito provável que as patologias
associadas à atividade de trabalho apresentem um maior índice de incidência
em países em desenvolvimento como o nosso e que, por esta razão, influam
sobre o bem-estar e qualidade de vida dos trablhadores, especialmente na
função de Caixa de Banco.
Os elementos percebidos na situação de trabalho como Caixa Bancário
podem agir como estressores e podem conduzir a reações de tensão e
estresse. Se estes estressores (por ex: ambigüidade de funções, conflito e
incerteza a respeito do futuro no trabalho) persistem e se os sujeitos
perceberem sua potencialidade de confrontamento como insuficiente, então
poderão produzir-se reações de estresse psicológico, físico e de conduta e,
desta maneira conduzir à doença e ao absentismo.
Uma abordagem completa dos fatores estressantes inerentes à
ocupação do Escriturário de Serviços Bancários, especificamente o Caixa de
Banco, deve contemplar três aspectos distintos:
a) a descrição das características deste posto de trabalho;
b) a apresentação teórica das principais patologias psicossomáticas; e
c) as condições físicas e psicológicas incapacitantes para o exercício desta
profissão.
1. CARACTERIZAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO: O ESCRITURÁRIO DE
SERVIÇOS BANCÁRIOS – O CAIXA DE BANCO

Um estudo sobre as condições de saúde dos Caixas Bancários passa


necessariamente pela compreensão de seu trabalho: o trabalho de caixa
bancário.
Entretanto, a observação desavisada do Caixa Bancário em seu
trabalho não possibilita reconhecer aspectos fundamentais de sua constituição
para a compreensão das indeterminações presentes. Ao contrário, mais
frequentemente essa observação é informada por mitos e preconceitos
decorrentes de interesses mais imediatistas em jogo, não dando conta dos
condicionantes do objeto em questão.
Assim, ao falar do “trabalho de Caixa Bancário”, é preciso recorrer a
dimensões mais abrangentes em que esse trabalho se situa: o processo
histórico e social e as conseqüências nos tempos atuais.

1.1 O TRABALHO COMO PROCESSO HISTÓRICO E SOCIAL

Os modos de organização dos seres humanos em sociedade são


determinados pelas relações que estabelecem visando à produção de bens. O
atual estágio do desenvolvimento dos modos de produção é conhecido como
Capitalismo deve ser visto como parte de um processo histórico que, desde o
início da vida gregária, procurava transformar os bens e riquezas naturais em
outros bens que melhor satisfizessem as necessidades humanas. Nesse
sentido, O Capitalismo é a forma mais avançada atingida até o momento para
produção de bens de uso dos seres humanos, mas sua instalação enquanto
sistema hegemônico que subordina as demais relações de produção e
impulsiona o processo histórico da sociedade, não se faz de maneira
harmônica. Ao contrário, são grandes suas contradições intrínsecas dadas à
impossibilidade de estender a toda a sociedade o acesso aos bens nele
produzidos.
De certo ponto de vista, a Idade Média constituiu um longo período de
latência em termos de uma organização social e de produção imutável.
Entretanto, sua incapacidade de garantir a sobrevivência dos diferentes
estratos sociais gradativamente colocou esses modelos de organização em
cheque, com o surgimento do Renascimento como expressão sociocultural e
do Mercantilismo como potência impulsionadora da produção econômica.
Nessa etapa, chamada de pré-capitalista, surgem as condições
materiais de concentração de riquezas que darão origem ao capital, bem como
as idéias e os valores que darão sustentação sociocultural e política ao
surgimento e instalação da burguesia como classe dominante no sistema
capitalista.
No modo de produção capitalista o processo de trabalho realiza-se por
meio da distribuição diferenciada da propriedade dos elementos que o
compõem, subdividindo a sociedade em duas classes fundamentais e
antagônicas quanto a seus interesses: de um lado os proprietários do capital e
dos meios de produção (matéria-prima, instrumentos de trabalho e demais
condições materiais de produção)- a burguesia – e de outro, os proprietários
da força de trabalho – os trabalhadores.
As relações de produção que se estabelecem são de venda da força de
trabalho pelos trabalhadores aos proprietários do capital e dos meios de
produção, em troca de condições para sua subsistência, intermediada pelo
salário que recebem. Dessa forma, a força de trabalho é comprada como
qualquer mercadoria mercado, tornando-se o capitalista proprietário de todos
os elementos para realizar o processo de trabalho, passando a controlar
totalmente o processo de produção de bens, segundo seus interesses.
Para que o capitalista atinja o objetivo de gerar lucro por meio do seu
capital, do processo de produção devem resultar bens que possuam não
apenas um valor de uso (caráter da utilidade humana), mas também um valor
de troca para serem negociados no mercado e, mais ainda, um sobre-valor.
Um valor excedente em relação ao valor gasto na produção dos bem de uso,
também chamado de mais-valia. Assim, o processo de produção no modo de
produção capitalista é também um processo de valorização, ou de produção de
mais-valia.
Não obstante, apesar de aparentemente ser na circulação e troca que a
mercadoria adquire seu valor, na essência é no próprio processo de trabalho
que há produção de valor pela extração de mais-valia, uma vez que é apenas o
trabalho humano que é capaz de adicionar valor ao produto.
Quando o trabalhador vende sua força de trabalho como mercadoria,
vende-a como valor de troca, alienando seu valor de uso, ou seja, vende seu
potencial de trabalho – habilidades e capacidades físicas e mentais – o qual
passa a ser utilizado pelo novo proprietário da maneira que lhe aprouver.
Na medida em que o valor da matéria-prima e das condições materiais
de trabalho (instrumentos, maquinários e edificações) for fixado, na época da
aquisição, somente é possível obter um valor excedente do processo de
trabalho se a força deste puder ser sobre utilizada e, com seu valor fixado,
gerar um número maior de produtos. Dessa forma, os valores fixados dos
custos (meios de produção e força de trabalho) gerarão produtos cujo valor
final é maior em decorrência da apropriação de mais-valia à força de trabalho.
Conforme MARX (citado por BORGES 2001), a alienação do
trabalhador se dá, assim, não somente em relação ao processo de trabalho
(executará o que não foi por ele concebido e planejado) e ao deste (que é
propriedade do capitalista possuidor de sua força trabalho), mas também à
própria espécie humana (em se reconhecer, junto aos demais trabalhadores,
como construtor e propulsor da humanidade).
Essa situação impede que se reconheçam as condições de exploração
capitalista, que, junto à mais-valia, produzem a desvalorização do trabalhador,
quanto a utilidade de suas habilidade e capacidades, desgastadas e
espoliadas, que se expressam em adoecimento e na diminuição da qualidade
e de sua expectativa de vida.
Principalmente desde o início deste século, podem ser destacadas duas
concepções diferentes (e até antagônicas em vários de seus aspectos) – o
taylorismo-fordismo e o toyotismo – que se tornaram paradigmas das formas
de organização do processo de trabalho. Apesar de um relativo antagonismo,
mostraram-se historicamente adequadas à continuidade da exploração
capitalista, unificadas pelo lema de maior lucratividade com maior controle
sobre o trabalho.
As bases da intensificação do controle por parte da organização do
trabalho foram estabelecidas pelo taylorismo, orientação desenvolvida por
Taylor por meio do que chamou de “Organização Científica do Trabalho”, que
visava aumentar sua produtividade FLEURY & VARGAS, 1983 (citados por
BORGES, 2001).
Seus princípios eram:
1) Colocar o conhecimento sobre como realizar o trabalho nas mãos da
gerência. Partia do pressuposto de que quando o trabalhador realizava seu
trabalho de maneira espontânea, fazia-o com grande desperdício de
produtividade, visto que não utilizava os procedimentos e movimentos mais
racionais, rápidos e eficientes do que poderiam. Desta forma, propôs o estudo
racional e “científico” do trabalho pela observação das diferentes maneiras que
determinado trabalho era realizado, sua decomposição em movimentos
elementares, a mensuração dos tempos despendidos para realização dos
diferentes movimentos elementares, a eliminação dos movimentos inúteis e a
seleção dos mais rápidos que, reagrupados, criavam o modo mais eficiente e
produtivo de trabalho.
2) Selecionar os operários mais apropriados para executar o modo “científico”
de trabalhar e treiná-los. Para algumas atividades, eram requeridas habilidades
como a força física, outras, a destreza manual, mas, certamente, a condição
de não pensar era comum a todos. O fato de pensar no modo de realizar a
tarefa cria resistências no operário, dificultando-lhe seguir à risca as
prescrições da gerência sobre o modo racional de trabalhar.
3) Propor uma nova estrutura administrativa na fábrica, opondo-se ao sistema
vigente na época, que era centrado na responsabilidade de um operário antigo
na administração da produção. Na nova estrutura, insuflada de novos
departamentos e setores (departamentos de programação e controle da
produção, tempo e métodos, controle de qualidade, arranjo industrial, etc.),
caberiam à gerência as funções de planejamento e controle do trabalho. O
elemento central da programação do trabalho é a tarefa que o operário deve
realizar, recebendo, para tanto, instruções escritas completas que especificam
o que deve ser feito, como e o tempo exato concebido para sua execução.
Com isso, estavam lançadas as bases do controle sobre o trabalho com
a fragmentação das tarefas e o coletivo de trabalho: a desapropriação do saber
operário sobre o trabalho e sua desqualificação, com conseqüente apropriação
pelas gerências; a divisão do trabalho entre concepção/planejamento e
execução, com contratação da utilização de apenas algumas habilidades (ou
partes) do operário; a divisão dos trabalhadores em posição diferenciadas de
poder e salário na organização (gerentes, supervisores, operários de linha,
etc.), opondo-os uns aos outros.
Demonstrando a relação intrínseca entre desenvolvimento tecnológico
dos equipamentos e maquinário e o desenvolvimento das formas de
organização do trabalho, o fordismo constituiu-se na conseqüência lógica do
taylorismo, com intensificação do trabalho e extração da mais-valia relativa.
Em 1913, Henry Ford aplica, pela primeira vez, os princípios da linha de
montagem, baseados no sistema de carretilhas aéreas, usadas nos
matadouros para esquartejar reses: a introdução da esteira rolante com
funcionamento ininterrupto, a combinação das operações extremamente
parcelada dos trabalhadores distribuída em postos fixos na ordem natural das
operações, de maneira que a peça percorresse o menor caminho possível e o
trabalhador não desse passos supérfluos, cansando-se inutilmente.
Esses princípios predominam na grande indústria capitalista neste
século, possibilitando a produção em massa de produtos mais homogêneos e
a existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas. Como
subproduto, constituiu-se e consolidou-se o operário-massa, o trabalhador
coletivo fabril, abrindo perspectivas para negociações sindicais sobre as
condições de trabalho e remuneração.
Segundo Antunes, 1995 (citado por BORGES 2001), nas novas
estratégias de valorização que se ensaiam principalmente na década de 80, o
fordismo e o taylorismo mesclam-se com outros processos produtivos em
algumas experiências (Terceira Itália, Suécia, Vale do Silício nos EUA e
Alemanha) ou são substituídos por estes (toyotismo no Japão). A necessidade
de atender a um mercado interno que solicita produtos diferenciados e pedidos
pequenos, contrariamente à produção em massa do fordismo, incentivou a
busca de novos padrões de produtividade e novas formas de adequação da
produção à lógica do mercado. Tornam-se lemas a competência e a
competitividade, que, entretanto, somente serão possíveis com o
desenvolvimento de formas de controle de trabalho, as quais permitiam ainda
maior expropriação da mais-valia (tanto absoluta quanto relativa). Aliada á
tecnologia de automação, da robótica e microeletrônica, surgem novas formas
de gestão da força de trabalho na produção.
A nova ótica produtiva que se instala - conduzida diretamente pela
demanda de consumo mais individualizada - requer o máximo de flexibilidade
das estruturas, sejam trabalhadores mais disponíveis e menos resistentes às
rápidas mudanças, um mercado de trabalho com ampla força de trabalho
disponível, relações de trabalho que pressuponham estabilidade de emprego
ou direitos trabalhistas que onerem os custos.
Como parte da flexibilização do processo produtivo novas
exigências colocam-se quanto à qualificação dos trabalhadores e à
organização do trabalho. Contrariamente ao preceito taylorista-fordista de cada
homem em seu posto, com sua máquina, no toyotismo cada operário deve ser
capaz de operar várias máquinas (em média cinco máquinas, na Toyota).
Entretanto, por combinar várias tarefas simples, tornam-se trabalhadores
multifuncionais, polivalentes, mas desespecializados. Além disso, o trabalho é
feito por uma equipe de trabalhadores, operando diante de um sistema de
máquinas automatizadas.
Ampliando a flexibilização do sistema, rompe-se com a integração
vertical própria do fordismo, implantando uma horizontalização onde a
empresa reduz seu âmbito de montagem, repassando a empresa
subcontratada (terceirização). Reportando para os dias atuais verifica-se em
bancos privados ou estatais a contratação de serviços terceirizados para
atendimento ao público especialmente após a implantação dos caixas
eletrônicos em todas as instituições bancárias brasileiras.
1.2 A ORIGEM DAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS

Aliado ao estudo de como ocorreu o processo produtivo ao longo da


história do homem, cumpre analisar-se a origem das instituições bancárias,
como locais de atuação dos Caixas de Banco.
Por definição, banco é a instituição que comercializa dinheiro e crédito; é
a casa onde se realizam transações de valores; é a empresa que toma
recursos através de um sistema de captação para proceder a uma posterior
aplicação, estabelecendo, para isto, algumas normas de trabalho e utilizando-
se de alguns instrumentos. A palavra vem do italiano, significando a mesa que
os cambistas utilizavam para suas operações monetárias.
A origem dos bancos remonta à antiguidade, pois na Babilônia já
existiam pessoas que emprestavam, tomavam emprestado e guardavam
dinheiro de outros. Tendo certo caráter sagrado, o dinheiro era confiado aos
sacerdotes nos templos. Mas, segundo estudiosos de arqueologia, foram os
fenícios os primeiros a realizar operações bancárias.
Na época a principal ocupação dos bancos era a troca de moedas, mas
também aceitavam depósitos e faziam empréstimos. A expressão "bancarrota"
derivou do fato de que, quando o negócio não prosperava, era costume
quebrar a mesa.
Na Idade Média, em muitos locais, era considerada ilegal a atividade dos
que emprestavam dinheiro cobrando juros. Como a Igreja desaprovava esta
prática, os cristãos abstinham-se de exercê-la, fato que, segundo alguns
autores, explica a preponderância de judeus no ramo.
A revolução industrial fez surgir um novo tipo de banco, que dinamizou
suas operações para adaptar-se ao progresso econômico. As inovações
consistiram principalmente em mobilizar vultosos capitais para o
desenvolvimento industrial e assumir funções empresariais onde estas fossem
imprescindíveis.
A necessidade de enfrentar as novas exigências da economia e a
diversidade das políticas econômicas levaram os bancos a especializar-se e,
assim, existem hoje bancos comerciais, industriais, centrais e internacionais,
entre outros.

1.3 O ESCRITURÁRIO DE SERVIÇOS BANCÁRIOS – O CAIXA DE BANCO

Decorrente do processo de especialização advindo do modelo taylorista,


as instituições bancárias discriminaram as atividades exercidas pelos
profissionais alocados nos bancos, criando postos de trabalho diferenciados.
Assim, tem-se hoje:
a) o gerente geral, que tem a tarefa de administrar a agência do ponto de vista
estratégico;
b) o gerente de atendimento, que administra a agência, operacionalmente;
c) o gerente de expediente, que faz o gerenciamento operacional; e
d) os escriturários de serviços bancários – posto de trabalho que inclui as
atividades dos Caixas, que executam a tarefa de atender diretamente ao
público.

1.3.1 DESCRIÇÃO SUMÁRIA DO POSTO DE TRABALHO

O Ministério do Trabalho e Emprego - MTE regulamentou a profissão de


Escriturário de Serviços Bancários, caracterizando o profissional como aquele
que “presta atendimento a usuários de serviços bancários; realiza operações
de caixa; fornece documentos aos clientes e executa atividades de cobrança.
Apóia as atividades das agências e demais setores do banco; administra fluxo
de malotes; compensa documentos e controla documentação de arquivos.
Estabelece comunicação com os clientes, prestando-lhes informações sobre os
serviços bancários.”.
Em função da diversidade de atividades executadas por estes
profissionais, o MTE subdividiu-os em: Atendente de Agência; Caixa de Banco;
Compensador de Banco; Conferente de Serviços Bancários; Escriturário de
Banco; e Operador de Cobrança Bancária.
O presente trabalho busca delimitar a análise dos profissionais que
atuam como Caixa de Banco.

1.3.1.1 CONDIÇÕES GERAIS DE EXERCÍCIO DA PROFISSÃO

Os Caixas de Banco trabalham como empregados assalariados, com


carteira assinada, em instituições financeiras. Organizam-se em equipe, sob
supervisão constante. O trabalho é exercido em ambiente fechado, no período
diurno. Eventualmente, estão sujeitos a estresse.
O horário de expediente interno das agências é das 07h30min até
18h00min horas, e do externo das 10h00min as 16h00min horas. Próximo ao
horário de fechamento, ocorre aumento no fluxo de clientes. O setor de auto-
atendimento funciona, de 2a. a 6a. feira, das 09h30min às 17h00min horas, e
aos sábados, domingos e feriados das 10h00min às 22h00min horas.
Os funcionários cumprem período de trabalho de 6 horas, com intervalo
para alimentação e descanso de 15 minutos entre a 2a. e a 4a. hora de
trabalho. Quando necessário, fazem hora extra.
1.3.1.2 FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA

O exercício dessa ocupação requer, no mínimo, ensino médio completo.


Caixas de Banco recebem treinamento de cerca de duzentas horas-aula. O
pleno desempenho das atividades é atingido após um a dois anos de atuação
na área.

1.3.1.3 ÁREAS DE ATIVIDADES

ÁREAS DE DETALHAMENTO
ATIVIDADES
ATENDER Identificar necessidades do usuário; Sugerir
USUÁRIOS auto-atendimento; Oferecer produtos e
serviços; Descrever benefícios do produto;
Contratar produtos e serviços; Solicitar
cartão magnético; Cadastrar ordem de
pagamento; Liberar ordem de pagamento;
Providenciar aplicações e resgates
financeiros; Sustar cheques; Organizar
usuários em filas
REALIZAR Abrir caixa; Conferir numerário; Examinar
OPERAÇÕE documentos; Calcular juros, multas,
S DE CAIXA descontos e abatimentos; Conferir
autenticidade de cédulas, cheques e outros
documentos; Conferir assinaturas; Pagar
benefícios; Pagar restituição de imposto de
renda; Pagar saques com cartão eletrônico;
Pagar cheques; Pagar ordem de pagamento;
Receber fichas de compensação, carnês e
assemelhados; Receber tributos; Acolher
valores em depósito; Debitar valores em
conta; Realizar transferências; Enviar
documento de operação de crédito (doc.);
Controlar fluxo de numerário; Recolher
depósitos e pagamentos do caixa expresso;
Preparar cheques administrativos; Enviar
cheques para retaguarda; Fechar caixa
FORNECER Entregar talões de cheques e cartão
DOCUMENT magnético; Desbloquear talões de cheques;
OS AO Habilitar cartão magnético; Entregar
CLIENTE cheques devolvidos; Fornecer extratos de
contas
APOIAR Consultar SPC e Serasa; Montar dossiê de
AGÊNCIAS E clientes; Pesquisar documentos no dossiê do
DEMAIS cliente; Providenciar cópia de documentos
SETORES do cliente
DO BANCO
ADMINISTR Receber malotes; Verificar número do lacre;
AR FLUXO Distinguir conteúdo do malote; Protocolar
DE recebimento de malotes; Distribuir
MALOTES documentos para áreas específicas; Lacrar
malote; Expedir malotes
COMPENSA Separar documentos (cheques e títulos);
R Endossar cheques
DOCUMENT
OS
CONTROLA Classificar documentos; Ordenar
R documentos; Criar pastas; Atualizar
ARQUIVOS documentos em arquivo; Expurgar
documentos do arquivo; Encaminhar
documentos expurgados para almoxarifado
COMUNICAR Orientar usuários; Imprimir relatórios;
-SE Acessar sistemas eletrônicos para troca de
informações; Ler jornal interno; Ler mural
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego – Classificação Brasileira de
Ocupações

Os Caixas trabalham em sistema de rodízio com outros profissionais,


não possuindo local fixo de trabalho. Este rodízio parece ter por objetivo, além
da substituição de colegas ausentes ou em férias, romper a monotonia do
trabalho e buscar experiência em setores diferentes, mas do mesmo nível.
O tempo de permanência em um mesmo setor é variável, podendo ir de
alguns dias a alguns meses. Este sistema é adotado para a maioria dos
funcionários, embora alguns ocupem permanentemente um mesmo posto.
1.3.1.4 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO POSTO DE TRABALHO

ELEMENTOS DETALHAMENTO
PISOS O revestimento do piso das agências em
geral é de paviflex. As plataformas elevadas
são revestidas com carpete colado sobre
placas de madeira apoiadas sobre a
estrutura do piso flutuante. Este recurso
possibilita a inspeção das tubulações de
telefonia, do sistema "on-line" e de energia,
que abastecem os equipamentos nos
diversos setores.

VEDAÇÕES As vedações externas são compostas por


EXTERNAS três tipos de elementos: paredes de
alvenaria, esquadrias de alumínio com vidro
fumê e parede de tijolos de vidro.

FORROS A cobertura é composta por laje de concreto


armado e telhado com telhas de
fibrocimento. Internamente, a laje é
revestida com reboco pintado.
Externamente, o forro do beirado é
revestido com lambris. Os dutos de ar
condicionado apresentam-se aparentes.

VEDAÇÕES As vedações internas são poucas,


INTERNAS resumindo-se a divisórias à meia altura,
algumas com vidro transparente ou opacas.
Possuem estrutura metálica e revestimento.

PLACAS As placas informativas são de dois tipos:


INFORMATIV auto-portante e suspensa ao forro por fios.
AS A placa auto-portante encontra-se em
frente à porta de entrada, contendo
informações sobre os diversos serviços
prestados pelo banco. As placas suspensas
estão distribuídas no salão indicando os
diversos setores da agência.

CORTINAS Todos os vãos fechados por esquadrias com


vidro possuem cortinas tipo persiana
vertical. As cortinas só são utilizadas
quando a Agência está fechada, servindo
mais como elemento que resguarda o
interior da visão externa do que como
elemento de obstrução dos raios solares.

QUADROS E Os quadros decorativos distribuídos nas


PAINÉIS paredes do salão são com produtos do
banco. Outros elementos fixos às paredes
são alguns painéis que consistem em dois
trilhos horizontais, entre os quais pode-se
introduzir cartazes e folhetos com
divulgação de eventos, alterações de
serviços ou lembretes aos clientes. Atrás da
bateria dos Caixas existem dois painéis
digitais. Um deles expõe informações
acerca de datas limite, dias de pagamento
de salário, eventos, etc. Outro é acionado
pelos caixas indicando, junto com um sinal
sonoro, quando um deles está vago.

MOBILIÁRIO As escrivaninhas e armários são de


madeira. As cadeiras e sofás possuem
estrutura metálica e estofamento. As
cadeiras são de três tipos: as dos caixas
são altas, sem rodízios e dispõem de ajuste
de altura do assento e do encosto, as dos
outros funcionários têm rodízios e dispõem
apenas de ajuste de altura do assento. Já as
dos clientes são totalmente fixas e com
braços. As floreiras, balcões, arquivos dos
correntistas e guichês dos caixas são
confeccionados em madeira revestida com
laminado. Há armário metálico com
escaninhos chaveados que serve ao
atendimento opcional dos clientes.

EQUIPAMEN Os equipamentos disponíveis são:


TOS máquinas registradoras "on-line", terminais
de computadores, máquinas de datilografia,
terminais de saque, terminais de extrato,
telefone, arquivos portáteis e calculadoras.

OUTROS Junto a cada escrivaninha há uma lixeira.


Várias outras se encontram distribuídas no
salão. Todos os móveis e objetos são
padronizados.
Junto aos panos envidraçados existem
floreiras contínuas no nível do piso. Podem
existir pilares na zona central do salão.
As luminárias têm 1.20m de comprimento,
são metálicas e possuem quatro lâmpadas
fluorescentes, aparentes, de 40w cada uma.
Existem bebedouros. Distribuídos no salão
estão fixos às paredes os extintores de
incêndio.
Fonte: Maristela Moraes de Almeida - ANÁLISE DAS INTERAÇÕES
ENTRE O HOMEM E O AMBIENTE - estudo de caso em agência bancária

1.3.1.5 COMPETÊNCIAS PESSOAIS

Comunicar-se; demonstrar senso de organização; agir com discrição;


trabalhar com ética; trabalhar em equipe; demonstrar dinamismo; evidenciar
atenção; demonstrar dedicação; atualizar-se profissionalmente; demonstrar
raciocínio lógico; demonstrar versatilidade; demonstrar capacidade de
relacionamento interpessoal.

1.3.1.6 RECURSOS DE TRABALHO

Telefone e acessórios; equipamento de microfilmagem; impressora de


cheques; máquina de escrever; material de escritório; visor para microfilme;
EPI (acessórios anatômicos); Manual de Serviços; copiadora; máquina
autenticadora; carimbos; microcomputador e periféricos; máquina
classificadora de cheques; máquina leitora de cheques; scanner; calculadora;
fax; máquina pós-marcadora de cheques; máquina endossadora de cheques.

2. AS PATOLOGIAS PSICOSSOMÁTICAS

As relações entre o adoecimento e os processos de produção


econômica aparecem como preocupação social, no mínimo, desde sua etapa
mercantilista, acompanhando, em seguida, a industrialização.
A sociedade sempre esteve atenta em promover ações que
controlassem quaisquer processos que impedissem o crescente
desenvolvimento econômico. Bons exemplos a esse respeito – por meio de
controles populacionais e saneamento do meio ambiente – são a prioridade
dada aos portos e as transformações no espaço urbano durante o século XIX,
coma abertura de largas avenidas em áreas muito populosas e realocação
mais organizada de moradia de trabalhadores em regiões periféricas
SENNETT, 1988 (citado por BORGES, 2001).
Decorrentes das necessidades do sistema capitalista de produção, que
gradativamente se instala como propulsor do desenvolvimento econômico
amplia-se as vias para circulação de mercadorias e intensificam-se as formas
de controle da população que aflui às cidades, expulsa do campo pelas
transformações que lá ocorrem, de maneira a enquadrá-la, reconhecê-la e
discipliná-la para melhor servir como força de trabalho. São ações promovidas
principalmente pelo Estado, visando garantir a constituição das condições para
desenvolvimento pleno do novo sistema, como organizador das relações de
produção e existência da sociedade.
Integrados a esse processo, os conhecimentos e práticas relacionadas
à saúde, tanto físicas quanto psicológicas, vão se estruturando também, tanto
como seu resultado quanto como gerador de condições para sua efetivação.
Quando a fábrica se tornou o local privilegiado de realização das novas
relações de produção, o médico foi chamado a participar na seleção de
trabalhadores sadios e na vigilância para que seu adoecimento não
comprometesse os interesses lucrativos da capital. Nesse momento surgiu a
Medicina do Trabalho, que visava controlar a força de trabalho por ações
individualizadas sobre o corpo do trabalhador MENDES & DIAS, 1991 (citados
por BORGES, 2001).
Mais tarde, particularmente após a 2ª Guerra Mundial, surgiu a Saúde
Ocupacional, agrupando profissionais como psicólogos e assistentes sociais.
O crescente desenvolvimento tecnológico, as novas matérias-primas e
processos produtivos, trazendo novas repercussões à vida e saúde dos
trabalhadores que constituíam a força de trabalho, aliados ao domínio de
conhecimento do capital sobre o processo de produção e trabalho, levaram ao
aparecimento da Higiene Industrial e, paralelamente, da Saúde Ocupacional.
Durante muito tempo, o primado da abordagem da vida psíquica
e emocional dos trabalhadores foi exercido pela Psicologia Industrial ou
Organizacional, como desdobramento das concepções tayloristas de
selecionar os indivíduos mais capazes e treiná-los para que contribuíssem
com o aumento da produtividade das empresas. Mesmo com variantes, a
aparência de constituir um trabalhador idealmente criativo e feliz no trabalho
não conseguiu esconder o resultado esperado de trabalhadores submetidos à
ordem da produção, excluídos da concepção do trabalho e do usufruto dessa
produção.
Nos países de economia mais forte da Europa e nos EUA, houve
um primeiro desenvolvimento dentro da Saúde Ocupacional e de disciplinas
que a integram (Epidemiologia, Toxicologia, Ergonomia, etc.), com a
predominância de estudos sobre as repercussões psiconeurológicas de
agentes tóxicos no ambiente de trabalho, dando início á importante corrente
que estuda a relação entre fatores do ambiente de trabalho, as manifestações
neuropsicoendócrinas de estresse e as chamadas doenças psicossomáticas.
A partir da década de 70, o desenvolvimento desse campo tem sido
influenciado pelas concepções da Saúde do Trabalhador, colocando em
evidência os processos de trabalho, a organização do trabalho e a
subjetividade dos trabalhadores nele inseridos, aprofundando a compreensão
de sua inter-relação no processo saúde-doença.
Em muitos momentos da vida, uma pessoa pode viver situações difíceis
e de sofrimento tão intenso, que pensa que não será capaz de suportar ou
sobreviver a elas. Nesses momentos, o indivíduo necessita de apoio de seu
grupo (família, o trabalho, os amigos), que este grupo não o exclua, não o
descrimine, e entenda seu sofrimento e suas dificuldades.
Além disso, a depender da capacidade do indivíduo em suportar o
sofrimento, nem mesmo o apoio de seu grupo é suficiente: um profissional
capacitado deve ser acionado para tratar do que se entende por
psicopatologia.
Segundo a Wikipédia, psicopatologia é um termo que se refere tanto ao
estudo dos estados mentais patológicos, quanto à manifestação de
comportamentos e experiências que podem indicar um estado mental ou
psicológico anormal. O termo é de origem grega; psykhé significa espírito e
patologia, estudo das doenças, seus sintomas. Literalmente, seria uma
patologia do espírito.
Para a psiquiatria clássica, a doença mental é uma doença cerebral.
Sua origem é dentro do organismo, e refere-se a alguma lesão de natureza
anatômica ou distúrbio fisiológico cerebral. Alguns distúrbios de anomalia da
estrutura ou funcionamento cerebral levam a distúrbios do comportamento, da
afetividade, do pensamento etc.
Já para a psicologia, a doença mental é uma desorganização da
personalidade. Ela define-se a partir do grau de perturbação da personalidade,
do grau de desvio do que é considerado como comportamento padrão ou
como personalidade normal.
KARL JASPERS, o responsável por tornar a psicopatologia uma ciência
autônoma e independente da psiquiatria, afirmava que o objetivo desta é
"sentir, apreender e refletir sobre o que realmente acontece na alma do
homem".
A partir daí, psicopatologia passou a designar o ramo da psicologia que
se ocupa dos fenômenos psíquicos patológicos e da personalidade
desajustada. A psicopatologia estuda o comportamento anormal, sua gênese,
sintomas, dinâmica e as possíveis terapias.
Para a psicanálise, teoria psicológica desenvolvida por Freud, a etiologia
comum ao inicio de uma psicopatologia sempre permanece a mesma. Ela
consiste em uma frustração, em uma não-realização, de um dos desejos de
infância que nunca são vencidos e que estão profundamente enraizados em
nossa constituição. Essa frustração é em última análise sempre uma frustração
externa, mas no caso individual, ela pode proceder do agente interno (no
superego) que assumiu a representação das exigências da realidade. O efeito
patogênico depende de o ego, numa tensão conflitual desse tipo, permanecer
fiel à sua dependência do mundo externo e tentar silenciar o id, ou ele se
deixar derrotar pelo id e, portanto, ser arrancado da realidade.
A tese de que as neuroses e as psicoses se originam dos conflitos do
ego com as suas diversas instancias governantes - isto é, portanto, de que elas
refletem um fracasso ao funcionamento do ego, que se vê em dificuldades para
reconciliar todas as várias exigências feitas a ele - essa tese precisa ser
suplementada em mais um ponto. Seria desejável saber em que circunstâncias
e por que meios o ego pode ter êxito em emergir de tais conflitos, que
certamente estão sempre presentes, sem cair enfermo. Trata-se de um novo
campo de pesquisa, onde sem dúvida os mais variados fatores surgirão para
exame. Dois deles, porém, podem ser acentuados em seguida.
Em primeiro lugar, o desfecho de todas as situações desse tipo
indubitavelmente dependerá de considerações econômicas - das magnitudes
relativas das tendências que estão lutando entre si. Em segundo lugar, será
possível ao ego evitar uma ruptura em qualquer direção deformando-se,
submetendo-se a usurpações em sua própria unidade e até mesmo, talvez,
efetuando uma clivagem ou divisão de si próprias. Desse modo as
incoerências, excentricidades e loucuras dos homens apareceriam sob uma luz
semelhante às suas perversões sexuais, através de cuja aceitação poupa a si
próprios repressões.

2.1 CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS PSICOSSOMÁTICAS

Um tipo primário de psicopatologia é conhecido por neurose, que é um


distúrbio de aspectos da personalidade; permanecem íntegras a capacidade de
pensamento, de estabelecer relações afetivas, mas a sua relação com o
mundo encontra-se alterada, como no caso do indivíduo que tem medo intenso
de cachorro e não consegue nem passar a mão num bichinho de pelúcia.
Todas as formas de manifestação da neurose têm sua origem na vida infantil,
mesmo quando se manifestam mais tarde, desencadeados por vivências,
situações conflitivas etc.

São características da neurose:

a) a neurose mostra perturbações cognitivas e emocionais menos severas;

b) o contato com a realidade é preservado;

c) o indivíduo tem alguma compreensão da natureza do seu comportamento;

d) dificilmente se comporta de maneira perigosa para si ou para as outras


pessoas;

e) raramente exige hospitalização.


O paciente é tomado por sentimentos generalizados e persistentes de
intensa angústia sem causa objetiva. Alguns sintomas somáticos,
ocasionalmente, podem se manifestar, tais como palpitações do coração,
tremores, falta de ar, suor, náuseas. Exagerada e ansiosa preocupação por si
mesmo.

Já as psicoses são uma forma extrema de desorganização da


personalidade. A pessoa psicótica típica tem delírios e alucinações, falta-lhe o
discernimento da natureza do seu estado, sente-se desorientada.

Características:
- o psicótico mostra perturbações cognitivas e emocionais muito grave;

- pode sofrer alucinações e delírios;

- tende a perder a compreensão de seu comportamento;

- pode estar completamente desorientado em seu ambiente;

- perde o contato com a realidade.

Mais aguda que a psicose é a esquizofrenia, na qual a perturbação


principal se reflete numa alteração do juízo e dos processos do pensamento.
“A esquizofrenia é uma desorganização da personalidade de caráter grave,
com manifestação de sintomas psicóticos”.

As características típicas são: grande distorção nos processos de


pensamento; alterações do afeto; alterações dos limites do ego; dificuldades
nas relações pessoais. “(Frazier e Carr, 1973, p. 117)”. Um dos sinais da
esquizofrenia é o transtorno e dissociação dos processos do pensamento.

Outras psicopatologias dignas de nota são:

a) psicose maníaca – depressiva: o estado maníaco pode ser leve ou agudo e


é assinalado por atividade e excitamento. Os maníacos são cheios de energia,
inquietos, barulhentos, faladores e tem idéias bizarras, uma após a outra. Nos
casos hiperagudos os pacientes se tornam selvagens, delirantes e
completamente impassíveis de manejar. “O estado depressivo, ao contrario, é
caracterizado por inatividade e desalento, muitas vezes com sentimentos de
culpa e preocupação com a morte”. O aspecto exterior dos depressivos; seu
semblante é triste, como se estivessem mergulhados em si mesmos. Parece
que choram sem derramar lagrimas, seus movimentos são inseguros, fala
pouco e quando o faz é com voz baixa e monótona. Procura não encontrar-se
com seus amigos e os evita na rua. Veste-se com descuido e negligencia, não
expressa suas opiniões, os enfermos se consideram perdidos e crêem que
ninguém poderá compreendê-los e muito menos ajudá-los. Repetidamente se
tiram à vida, sem que alguém suspeite os motivos. Seu sintoma fundamental é
o abatimento angustioso. O depressivo autentico está sempre em perigo de um
suicídio.
b) paranóia: caracterizada sobretudo por ilusões fixas. Sistema delirante
durável. Os ressentimentos são profundos e o paranóico procura agredir
aqueles que estiveram presentes em seus conflitos. É um tipo perigoso para a
sociedade: egocêntrico e destruidor conhece seus inimigos e julga que sua
grandeza depende da eliminação de pessoas que o prejudicam. O paranóico é
agressivo, mas não se dá conta de sua agressividade; é incapaz de solicitar
carinho, preocupado em defender seus direitos, não confia em ninguém.

c) psicopata: o termo psicopatia se aplica aos indivíduos de comportamento


habitualmente anti-social, se mostram sempre inquietos, incapazes de extrair
algum ensinamento da experiência passada, nem dos castigos recebidos.
Costumam ser insensíveis e de muita imaturidade emocional, carentes de
responsabilidade e de juízo lúcido e muito hábeis para racionaliza seu
comportamento a fim de que pareça correto, sensato e justificado.

2.1.1 O ADOECIMENTO NO TRABALHO EM PROCESSOS REPETITIVOS

As características do posto de trabalho do Caixa de Banco, descritas no


item 1.3.1 sugerem a possibilidade de ocorrência de doenças próprias de
profissionais submetidos a tarefas repetitivas.

A inserção dos trabalhadores nos processos de trabalho repetitivos


ocorre pela submissão de sua constituição e existência singulares às
necessidades das relações de trabalho e formas de organização deste que,
para a maioria dos processos de trabalho vigentes, configuram quatro
dimensões integradas:

1) tarefas fragmentadas, desqualificadas, repetitivas, sem significado humano;


superutilização de alguns poucos grupamentos musculares com super e ou
subutilização de funções cognitivas mentais (como atenção e coordenação
psicomotora) e subutilização das funções imaginativas e criativas;

2) ritmo acelerado de trabalho, vencendo o tempo na busca de maior volume


de produção e com qualidade; determinado pela máquina e controlado por
supervisores e chefias; com jornadas extensas e ausências de pausa para
recuperação;

3) isolamento no trabalho e individualização do sucesso ou fracasso no


cumprimento das expectativas de produção; sistema de premiação, salário ou
promoção na carreira para melhores cargos (inclusive os de comando) para
aqueles que se destacam, gerando competitividade exacerbada e minando o
suporte social ligado à solidariedade no trabalho;

4) desemprego estrutural que aumenta o exército de excluídos – doentes,


inadaptados, insatisfeitos com condições oferecidas – e dificulta a reinserção
no trabalho, além de pressionar para o rebaixamento do nível salarial dos que
continuam trabalhando.
3. AS CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS INERENTES AO EXERCÍCIO DA
PROFISSÃO DE CAIXA DE BANCO

No grupo das categorias diagnósticas, aparecem, de um lado, as


chamadas doenças psicossomáticas e doenças decorrentes do estresse, em
que se reafirma a relação entre os funcionamentos psíquicos e fisiológico-
orgânico. De outro, os distúrbios psiquiátricos menores (DPM), agregando um
conjunto de distúrbios caracterizados por sintomas de ansiedade, depressão
ou somatização, classificados pela psiquiatria clínica tradicional. Entretanto,
sua ocorrência, não determina necessariamente uma demanda de atenção
médica especializada e, na maior parte das vezes, nem o afastamento do
trabalho para tratamento.
Os estudos sobre a categoria estresse no trabalho
desenvolveram um modelo explicativo de reações psiconeuro-endocrino-
fisiológicas articuladas, que podem ser conseqüência tanto de estímulos
negativos quanto positivos. Distinguem o “estresse sadio”, que acompanha
situações de motivação em que a possibilidade de atingir um objetivo é
visualizada, aquecendo e preparando o organismo para sua realização, do
“estresse patológico”, cujos estímulos são reconhecidos como podendo atacar
a integridade biológica, psíquica e/ou social da pessoa, levando ao
adoecimento.
Dessa forma, esses estudos apontam para outras dimensões da vida
psíquica, introduzindo tanto a idéia de que uma tensão não significa
necessariamente um estado mórbido (podendo, inclusive, levar ao prazer),
quanto à idéia de um estado de mal-estar que antecede ao surgimento da
doença, sem confundir-se com ela. Mais propriamente, trata-se de um “estado
de sofrimento” em que o organismo se modifica numa luta para afastar o
agente agressivo e manter o estado de saúde.
As influências dos diferentes fatores psicossociais do trabalho passam
pelo investimento de produção de sentido que o trabalho veicula somente
identificável por meio do estudo das vivências dos trabalhadores na sua
relação com o emprego e as situações concretas de trabalho. Nessa linha,
DEJOURS 1987 (citado por BORGES 2001) propôs a noção de “sofrimento
psíquico”, referindo-se a uma instância intermediária entre as pressões
originárias das formas de organização do trabalho e o adoecimento.
A carga psíquica de trabalho está relacionada ao sofrimento psíquico. A
existência da carga psíquica, em si, é indicativa da possibilidade de
desenvolvimento dos potenciais do trabalhador quando estimula a utilização da
inteligência astuciosa. Dado que, como transgressão a normas de trabalho pré-
estabelecidas, representa a possibilidade de recuperar ao trabalhador o
sentido de agente na transformação material e cultural (do conhecimento sobre
o trabalho e da importância de suas habilidades para o grupo social) perante à
organização do trabalho, constituindo um embate. Não é um estado de
equilíbrio estatístico, mas acarreta ao trabalhador o sofrimento criativo, a busca
continuada em vencer obstáculos para atingirem objetivos e metas desejadas
num processo de produção de sentido do mundo e de si mesmo.
Tradicionalmente, a análise da relação saúde-trabalho tem sido
realizada sob a perspectiva da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional,
que utiliza como categorias básicas as de risco, periculosidade e
insalubridade. Os riscos são condições presentes no ambiente de trabalho,
potencialmente causadoras de acidentes e doença nos trabalhadores.
Periculosidade é o caráter dos riscos do ambiente de trabalho relacionados
aos acidentes de trabalho (de explosão, de incêndio, de queda, etc.), os quais
são objetos de intervenção da área de Segurança do Trabalho. Insalubridade é
o caráter dos riscos do ambiente de trabalho (agrupados em riscos químicos,
físicos e biológicos) relacionados às doenças do trabalho, os quais são objetos
de intervenção na área de Higiene do Trabalho.
Em relação ao trabalho do Caixa de Banco, a arquiteta Maristela
Moraes de Almeida, em sua dissertação “ANÁLISE DAS INTERAÇÕES
ENTRE O HOMEM E O AMBIENTE - estudo de caso em agência bancária -”,
aponta a existência de três critérios para avaliação destes: territorialidade;
privacidade; e identidade.
Cruzando-se os fatores de avaliação propostos pelo Inventário de
Avaliação de Estressores Psicossociais no Ambiente de Trabalho no Contexto
do Emprego, obtém-se o demonstrado no quadro abaixo.

FATOR DE RESULTADOS ENCONTRADOS


AVALIAÇÃO
1. Durante o período de expediente é utilizada
Luminosid iluminação artificial em todos os setores do
ade salão público. Em alguns locais mais
afastados das aberturas exteriores como o da
bateria dos caixas, a iluminação artificial
utilizada parece não ser suficiente, pois
percebe-se ali certa penumbra. Nestes locais
onde predomina a iluminação artificial, as
cores apresentam-se acinzentadas e parece
não haver estímulo à permanência mais
prolongada. Observa-se, ainda, como fonte de
desconforto visual, o tipo de luminária
existente, onde as lâmpadas fluorescentes
ficam aparentes, causando fadiga visual e
ofuscamento.

2. Quanto à temperatura do ar, verificam-se


Calefação / duas situações. Quando a temperatura do ar
refrigeraçã externo é amena, o condicionador central de
o ar fica desligado e os diversos setores
apresentam condições térmicas conforme sua
orientação solar, proximidade às aberturas e
quantidade de pessoas em atividade. Já
quando a temperatura do ar exterior é alta e
o condicionador de ar é acionado, alguns
locais passam a apresentar sensação térmica
de frio, enquanto outros permanecem
apresentando sensação térmica de calor. Há,
portanto, desconforto quanto à sensação
térmica.

3. Em alguns locais a separação entre interior e


Ventilação exterior é feita por esquadras fechadas com
vidro que se estendem do piso ao teto. As
esquadrias são moduladas, verticalmente, em
três partes, na plataforma das contas comuns
e auto-atendimento e em quatro partes nas
aberturas junto às floreiras. A parte móvel
localiza-se, em ambos os casos, no segundo
módulo a partir do chão. Em nenhum caso,
inclusive nas bandeiras das portas, é possível
abrir a(s) parte(s) superior (es). Deste modo o
ar quente, que tende a subir, não é retirado
do ambiente e a renovação de ar é
dificultada. Outro aspecto de desconforto é
quanto à dificuldade de manusear as janelas
que se localizam junto às floreiras, pois elas
estão próximas do chão. Para abri-las ou
fechá-las é preciso pisar entre as folhagens e
inclinar o corpo para baixo e para frente, de
modo a alcançar o comando de movimento.

4. Espaço A privacidade é afetada e os funcionários


próprio / mostram-se constrangidos quando realizam
individual algumas atividades publicamente, tais como
demorar-se mais tempo com um cliente
conhecido, utilizar o telefone para contatos
pessoais, atender clientes intransigentes ou
agressivos e, sobretudo, manterem-se sob
permanente vigilância e à disposição do
público.
Não existe, nas agências, um local específico
para que os funcionários coloquem seus
objetos pessoais, tanto os utilitários como
carteira, bolsa, casaco, pasta e material de
higiene, como os decorativos, destinados a
personalizar e demarcar território. Na área de
uso restrito aos funcionários não existe um
local onde eles possam deixar seus pertences
de forma organizada e em segurança.

5. Ruído A inexistência de paredes e portas internas x


necessidade de conforto ambiental,
privacidade, territorialidade e identidade
acarretam desconforto acústico, com ruídos e
sons emitidos por máquinas ou pessoas
propaga-dose por todo o ambiente.

6. Toda vez que precisam depositar os carbonos


Condições das guias no lixo os funcionários necessitam
de higiene abaixar-se inclinando o corpo para frente até
quase encostar o queixo na bancada, pois o
compartimento do lixo localiza-se junto ao
piso e à extremidade frontal do guichê. Como
o movimento é freqüente e incômodo, alguns
funcionários simplesmente jogam os carbonos
no chão. Assim, após algumas horas de
trabalho, o piso ao redor deles fica cheio de
papéis que atrapalham o deslocamento.

7. Algumas características do projeto dos


Mobiliário guichês dos caixas afetam o conforto dos
usuários. Os funcionários precisam assumir
posturas inadequadas para exercerem
algumas atividades. Outro problema é quanto
ao manuseio das gavetas para dinheiro. Elas
abrem na direção do corpo do funcionário
obrigando-o a afastar-se da bancada cada vez
que for apanhar dinheiro. Também ocorre que,
quando as gavetas laterais da bancada ao
lado estão abertas há dificuldade de sair do
local para buscar um talão de cheques, por
exemplo. O jeito, neste caso, é empurrar a
cadeira para trás até liberar a passagem pela
lateral. Este movimento ocasiona, algumas
vezes, colisão com alguém que no momento
circula por trás, já que o espaço entre os
caixas e os armários com documentos de
expediente é bastante restrito.
Outro fator de desconforto refere-se ao
anteparo de vidro fixo que separa funcionário
e cliente. Sua altura prejudica a comunicação
entre eles quando o cliente é de estatura
baixa. Ou seja, quando a altura de sua boca é
inferior a altura do limite superior do vidro.
Observa-se, também, que a abertura deixada
entre a bancada e o vidro, destinada a servir
de passagem de papéis, dinheiro e caneta, é
estreita, pois muitas vezes estes materiais
são passados por cima do vidro.

8. Item não avaliado na pesquisa.


Manutençã
o predial
9. Item não avaliado na pesquisa.
Exposição
a cheiros

Ressalta-se, ainda, a privacidade, afetada pela proximidade entre os


guichês. Tanto clientes como funcionários são ouvidos pelas pessoas que
estão ao lado. Para o cliente isto pode ser constrangedor se houver
irregularidades em sua conta, formulário ou cheque. Para o caixa a
proximidade e falta de barreiras divisórias entre os colegas permite que eles
ouçam quando um cliente reclama do atendimento ou faz observações
inconvenientes.
Por outro lado, o senso de identidade dos funcionários foi reduzido, não
havendo especializações de sua identidade nos locais de trabalho. O homem
individualmente, também precisa apropriar-se do seu local de trabalho para se
sentir conectado a ele e para expressar seus valores pessoais através de suas
atividades. A falta de apropriação do espaço por parte dos funcionários parece
ter implicações com sua percepção de desvinculação da identidade pessoal
com a identidade da empresa, ou de sua adesão integral à identidade da
mesma.

3.1 OS FATORES ESTRESSANTES VINCULADOS AO POSTO DE


TRABALHO ANALISADO

Analisado sob o ponto de vista dos fatores próprios da tarefa de Caixa


de Banco, o mercado de trabalho, na economia globalizada, tem engendrado
vagas diversificadas para um reduzido número de trabalhadores, incentivados
e valorizados por sua criatividade, capacidade de planejamento, inovação e
liderança. De outro lado, a massa de trabalhadores homogeneizados, dos
quais, sob a aparência da maior participação no processo de trabalho,
propalada pelas novas formas de gestão da força-de-trabalho, é exigida uma
maior qualificação para a execução de múltiplas tarefas simples, rotineiras e
repetitivas, trazendo instabilidade no posto de trabalho, dificultando a plena
utilização das capacidades individuais e, por impedir a realização de tarefas
variadas acaba por um excessivo número de horas na execução de trabalho
burocrático e repetitivo.
Um outro fator significativo para o trabalho dos Caixas de Banco
avaliado na pesquisa refere-se às filas em frente aos mesmos, fator
relacionado à organização do tempo de trabalho. A própria existência, já
tradicional nos Bancos, de um espaço destinado à formação de fila em frente
aos caixas expressa desacordo entre as necessidades dos clientes e o tipo de
serviço oferecido. Ou seja, a organização deste espaço visa tão somente que
ele ocupe o mínimo de área e que conduza uma pessoa de cada vez ao caixa
livre. Assim, cada pessoa precisa aguardar sua vez em pé, durante um tempo
incerto, suficiente para que os que estão na sua frente sejam atendidos. No
período observado, a quantidade de pessoas na fila oscilou entre 6 e 15,
chegando ao máximo de 30. É interessante notar que, quando as pessoas
atingem a reta final da fila há a tendência de observar o primeiro a ser
atendido e de controlar visualmente o trabalho dos caixas. Já quando se
posicionam mais atrás, elas em geral olham ao redor, sem fixar algum ponto
específico. A ocorrência de fila para atendimento afeta o senso estético dos
usuários da agência. Tanto clientes como funcionários consideram a fila um
elemento que prejudica a imagem do ambiente. Os funcionários sentem-se
pressionados pelo número de pessoas que aguardam atendimento e os
clientes sentem-se incomodados por terem que se submeter à fila. A formação
de fila para atendimento nos caixas repercute desfavoravelmente tanto na
imagem da instituição quanto na imagem pessoal dos funcionários e dos
clientes. A instituição passa a idéia de incapacidade para gerir o atendimento
de seus clientes; os funcionários parecem ineficientes no desempenho de sua
tarefa; e os clientes sentem-se desconsiderados em seu direito de serem
atendidos adequadamente e com rapidez, sentindo-se diminuídos em seu
valor humano.
A carga de trabalho é integrada por tradicionais riscos ocupacionais
que, em si, determinam vários problemas à saúde dos trabalhadores, não
somente físicos, mas também psicoemocionais, dada a tensão gerada pela
percepção da existência desses riscos. Além disso, passaram a integrar a
carga de trabalho uma série de novas exigências, decorrentes da necessidade
de operação das novas tecnologias e das formas de organização do trabalho.
Segundo Liliana Segnini, no estudo “Reestruturação nos Bancos no
Brasil: Desemprego, Subcontratação e intensificação do trabalho”, as
mudanças referentes aos aspectos institucionais no interior dos bancos são
compreendidas como sendo expressão de um processo mais amplo que não
simplesmente decorrentes de aspectos tecnológicos, mas mais de opções
econômicas, políticas e sociais. As diferenças observadas entre eles ocorrem
muito mais em termos quantitativos do que efetivamente qualitativos, quer
dizer, são implementadas estratégias que apontam para a mesma direção:
racionalização do trabalho pela minimização de custos e pela ampliação de
serviços competitivos num mercado também cada vez mais competitivo.
Três fenômenos sociais caracterizam o processo de reestruturação nos
bancos e estão completamente imbricados com a questão central desta
pesquisa, ou seja, "a nova qualificação do bancário". São eles:
1) intenso desemprego – em 1986, a categoria bancária no Brasil representava
um milhão de trabalhadores; em 1996, 497 mil, conforme dito anteriormente. A
elevada taxa de desemprego no setor refere-se a diferentes políticas que
objetivam a redução de custos, num contexto altamente competitivo. Assim, é
possível destacar a eliminação e a fusão de postos de trabalho, em decorrência
das práticas de gestão que possibilitam a flexibilização funcional do trabalho
(que se traduz pela realização de várias tarefas ao mesmo tempo), a redução
de níveis hierárquicos e a opção política e econômica que embasa o uso das
inovações tecnológicas, determinando, ao mesmo tempo, crescimento da
produtividade e a redução de postos de trabalho, sem contudo alterar a jornada
de trabalho dos que permanecem empregados. Pelo contrário, é registrado um
número maior de horas extras, de acordo com as entrevistas realizadas.
Os postos de trabalho passíveis de um grau elevado de normatização –
como, por exemplo, caixa de banco, encarregado da separação de documentos
e cheques, digitador – foram os mais atingidos pela racionalização através do
desenvolvimento de softwares que possibilitaram a transferência de tais tarefas
para o cliente, no momento da realização da operação bancária (auto-
atendimento), ou para o funcionário que as executa. Dessa forma, é observada
uma redução mais intensa do trabalho em tempo parcial, executado por
bancários denominados escriturários. Essas tarefas, na sua grande maioria,
não implicam um alto grau de qualificação porque são repetitivas, comumente
submetidas a tempos predefinidos. No entanto, exigem um alto grau de
atenção e responsabilidade, características que os bancos consideram, com
freqüência, femininas.
As mulheres, majoritariamente, são escriturárias, o que possibilita
levantar a hipótese de que elas estejam vivenciando o desemprego mais
intensamente do que os homens, após 35 anos de crescimento da participação
feminina nesse setor da economia.
O banco estatal vivencia também um processo de redução de postos de
trabalho, em decorrência de mudanças nas formas de gestão e difusão
tecnológica, mas, sobretudo, por estar sob intervenção do Banco Central do
Brasil, num processo que o prepara para a privatização, em conformidade com
os programas de "ajuste". Com esse objetivo foram criados os Programas de
Demissão Voluntária e Estímulo à Aposentadoria; no início de 1997 foi criado
um Programa de Demissão Dirigida. Assim, em 1988, o número de funcionários
no banco estatal era 38 mil (41% mulheres); em 1993, entre 35.339
trabalhadores, 47% eram mulheres; em 1997 seu quadro de funcionários foi
reduzido para 23 mil, sendo que, entre eles, as mulheres passaram a
representar 49% . Durante o período 1993/97, 121 agências consideradas não-
rentáveis foram fechadas.
Observa-se, assim, que houve uma redução de 35% dos funcionários do
banco, sendo 40% homens e 30% mulheres.

2) Terceirização e precarização do trabalho – Nos processos terceirizados em


questão (compensação de cheques, telemarketing, desenvolvimento de
softwares, serviços de courrier) foi possível registrar, comparando-os com os
mesmos processos realizados nos bancos, redução de custos e índices de
produtividade mais elevados obtidos pelo uso das mesmas tecnologias
implementadas tanto pelas empresas terceirizadoras como pelos bancos.
Intensificação do trabalho, jornadas de trabalho mais longas, freqüentes horas
extras, salários relativamente inferiores informam as práticas de gestão que
determinam a precarização do trabalho em relação à mesma tarefa efetuada
nos bancos. Somando-se às condições de trabalho, a permanente incerteza
em relação à permanência no trabalho contribui na construção da precarização
social.
Por outro lado, o desemprego elevado no setor possibilita que bancários
anteriormente qualificados pelos bancos sejam contratados pelas
terceirizadoras de serviços em condições precárias, sobretudo em relação aos
direitos trabalhistas.
Uma análise de gênero a respeito dos processos de terceirização
observados revela que as empresas terceirizadoras reafirmam os estereótipos
referentes aos atributos masculinos e femininos na construção das
qualificações desejadas na execução das tarefas.
As mulheres são consideradas mais apropriadas para a tarefa de Caixa
de Banco em decorrência de atributos pessoais, construídos com base em
estereótipos sexistas, como: "voz mais suave", "convincente", "são mais
disponíveis para ouvir", "mais pacienciosas". Além disso, em decorrência do
número de crimes praticados por mulheres ser, estatisticamente, inferior ao dos
homens, a voz feminina é considerada "mais confiável" para realizar operações
bancárias.
Dessa maneira, no contexto da reestruturação dos bancos, a
qualificação feminina permanece extremamente vinculada aos atributos
pessoais, desejados, mas não reconhecidos em termos salariais pelos bancos.
3) Intensificação do trabalho – Quanto aos bancários que permanecem
empregados, nos diferentes processos de trabalho enfocados, foi possível
observar a intensificação do trabalho tanto pela fusão de postos de trabalho,
pela diminuição dos níveis hierárquicos, como pelas exigências decorrentes de
programas de gestão como, por exemplo, os Programas de Reengenharia, que
buscam a minimização dos custos, ou Programas de Qualidade, que procuram
a maximização dos resultados.
Nesse sentido, o medo da perda do emprego, sempre presente em
todas as entrevistas e nos debates em grupo, constitui-se em grande motivador
para o trabalho, em tempos de discursos participacionistas. As entrevistas
realizadas nos diversos locais de trabalho – nas agências, no trabalho
diretamente vinculado ao cliente – registram que o bancário compreende estar
trabalhando mais intensamente, comumente realizando horas extras,
percebendo salários relativamente menores em comparação com os anos
anteriores. No entanto, revela compreender também que dessa forma mantém
o emprego, transformando o medo em produtividade. Por intermédio da
"pedagogia do medo" do desemprego, o bancário qualifica-se, de acordo com o
conceito atribuído a essa expressão pelos bancos.
A análise dos postos de trabalho da pesquisa acima referencia aponta
que os procedimentos para executar as atividades tendem a ser cada vez mais
simplificados e seguros, com a difusão das tecnologias de informação e
submetidos a controles mais rígidos, tanto para os postos de trabalho passíveis
de alto grau de normatização (escriturário, caixa, compensador), como para
aqueles que vivenciam forte tensão entre os procedimentos pré-normatizados,
padronizados, e a particularidade, ou seja, aqueles que estabelecem relação
direta com o cliente. Relativamente às mudanças tecnológicas, o caráter da
tecnologia automatizada é sua autonomia em processar transformações no
objeto de trabalho com mínima interferência do trabalho requer do trabalhador
principalmente funções de vigilância do processo e rapidez na execução de
algumas atividades/movimentos, acompanhando o ritmo imposto pela máquina.
Aliás, essa é uma das exigências mais importantes do ponto de vista da
sobrecarga quantitativa, conseqüência do controle da força de trabalho para
que siga um ritmo condizente com o aumento da produtividade. Apesar de
ainda em um número expressivo, gradativamente vão perdendo espaço aquele
que desempenham a função de controle sobre o processo de trabalho e, mais
especificamente, sobre a força de trabalho. Essa função passa a ser exercida
por outros elementos do processo, seja a cadência da máquina, seja a pressão
da clientela do setor de serviços que, em longas filas, espera maior rapidez de
processamento.
Então, constituem novas exigências: atenção, destreza, rapidez de
execução e de adaptação (no caso, por exemplo, de caixas bancários que
diariamente tem que incorporar novas normas de serviços, acompanhando
mudanças nas políticas governamentais), autocontrole emocional. Este último,
adquirido o caráter de verdadeira repressão sobre impulsos e movimentos
mais espontâneos, que certamente levariam ao abandono do trabalho. Essas
novas exigências que compõem a carga de trabalho dos processos repetitivos
se expressarão no perfil patológico dos trabalhadores neles inseridos,
observando-se um procedimento dos distúrbios psicoemocionais e
psicossomáticos, da fadiga crônica e, nos últimos anos de lesões por esforços
repetitivos (L.E.R.)
As L. E. R. constituem hoje a principal causa de afastamento do
trabalho por “doença relacionada ao trabalhado”, não é só no Brasil. Apesar de
existirem a muitos anos – conhecidas como “cãibra dos escrivães”, “cãibra dos
telegrafistas” - somente nos últimos 20-30 anos têm sido preocupação em
diferentes regiões do mundo, associadas à implantação de novas tecnologias
de equipamentos – particularmente da automação e da informática – e de
formas de organização do trabalho.
Com relação aos aspectos pessoais ligados à atuação do Caixa de
Banco, apesar do claro componente físico-mecânico, sua natureza não pode
ser reduzida a essa dimensão, sendo necessário levar em consideração
também os aspectos psicoemocionais, principalmente aqueles relacionados à
produção da subjetividade dos trabalhadores nesses processos de trabalho. A
subjetividade produzida não dá conta de lidar adequadamente com conflitos
entre necessidades existenciais (materiais e psicoemocionais) e exigências do
trabalho, estas, profundamente despersonalizantes.
Em vista da meta de busca da qualidade e competência, num mundo
onde “somente os melhores sobreviverão”, a impossibilidade de autocontrole
emocional e a não realização dos objetivos de produção marcam um número
crescente de trabalhadores com valores negativos, identificados como
folgados ou, no mínimo como fragilizados e incapacitados para o trabalho
(doentes ou não). Essas concepções demonstram que a fragmentação dos
trabalhadores na organização taylorista de trabalho significou o desmonte da
subjetividade ligada á idéia de coletividade como solidariedade. Chamados a
responder individualmente com suas habilidades no trabalho, viram-se
reduzidos à realização de tarefas simplificadas e comparáveis com o
processamento da máquina (estas, mais rápidas e eficientes, menos sujeitos a
erros). Inferiorizados às máquinas, uma nova subjetividade coletiva é
engendrada, tendo por princípio a oposição e competição dos trabalhadores
entre si. Com isso, perdem a condição de se verem com características que os
identifiquem mutuamente. E, nessa perspectiva, torna-se pouco visível o
caráter social e histórico do trabalho, dimensão que possibilita entender as L.
E. R. como determinadas pelas relações de trabalho e atuais formas de
organização do trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Almeida, Maristela M. ANÁLISE DAS INTERAÇÕES ENTRE O HOMEM E O


AMBIENTE - estudo de caso em agência bancária -
http://www.eps.ufsc.br/disserta/maristela/cap6/CP6_MOR.htm#61

HISTÓRIA do Banco do Brasil (1988) Produção Editorial: Coordenadoria de


Comunicação do Banco do Brasil e Agência Brasileira de Comunicação - ABC,
Rio de Janeiro.
MOORE, G. T. (1984) Estudos de Comportamento Ambiental. In: Snyder &
Catanese (Eds.), Introdução à Arquitetura. Rio de Janeiro: Campus.
POLO, I. M. U. (1993) Análise dos aspectos ergonômicos dos produtos de
automação bancária com ênfase na interface com o usuário. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis.
BORGES, L.H Sociabilidade, Sofrimento Psíquico e Lesões por Esforços
Repetitivos entre Caixas Bancários. Dissertação (Doutorado em Ciências da
Saúde) – Área de concentração em Psiquiatria do Curso de Pós – graduação
em Psiquiatria, Saúde Mental e Psicanálise do Instituto de Psiquiatria, UFRJ,
Rio de Janeiro,
FIGUEROA, Nora Leibovich de et al. Um Instrumento para Avaliação de
Estressores Psicossociais no Contexto de Emprego. Psicol. Reflex. Crit., Porto
Alegre, v.14, n. 3, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttex&pid=S0102-79722001000300021&ing=pt&nm=iso.

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