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Universidade da Beira Interior

Mestrado em Educação Social e Comunitária

DOSSIER DE IMPRENSA – Realidade escolar


actual

Problemas Sociais do Mundo Contemporâneo

Elaborado por
Steven M.B. Casteleiro

Orientação: Professora Doutora Amélia Augusto

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Lista das notícias que constituem o Dossier de Imprensa

1- “Qualidade da água e abandono escolar abaixo do nível nacional no


Algarve”

2- “Chumbos por faltas vão deixar de existir”

3- “Alunos mais difíceis seguidos de perto”

4 - “Procurador – Geral da República quer saber os números da


Indisciplina Escolar”

5- “A Escola deve ter uma atitude Preventiva”

6 - “Pinto Monteiro quer que Ministério Público investigue casos de


violência escolar”

7 - “Governo quer metade dos alunos em cursos Profissionais”

8 - “Insucesso escolar em Portugal Baixa sete pontos percentuais”

9 - “Ministra assume desvalorizar faltas às aulas”

10 - “Ranking: Sucesso depende das oportunidades”

11 - “Ministra diz que novo estatuto do aluno não acaba com conceitos de
faltas justificadas e injustificadas”

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1. Introdução

O Dossier de Imprensa temático que se apresenta foi construído ao


longo dos últimos meses no âmbito do Mestrado em Educação Social e
Comunitária, para a disciplina de Problemas Sociais do Mundo Contemporâneo.
Uma vez que exerço funções de professor do ensino secundário numa
escola pública situada na Covilhã, o ensino constitui uma realidade que
interessa compreender e explorar pois o conhecimento fundamentado é o
primeiro passo para se poder operar, numa fase mais avançada, mudanças
profícuas num espaço que constitui os alicerces duma sociedade desenvolvida
e sustentável.
A Escola tem representado, principalmente nas últimas décadas, um
espaço alvo de permanentes mudanças, quer do ponto de vista das políticas
educativas quer do ponto de vista social.
A realidade escolar portuguesa coloca o ensino no que respeita a vários
parâmetros, abaixo dos restantes países europeus. Esses parâmetros, como as
taxas de abandono escolar e o absentismo são um dos indicadores que importa
ter em consideração na aferição do grau de desenvolvimento de um país.
A pesquisa efectuada teve como objectivo a procura de notícias relativas
a aspectos que afectam de forma negativa a escola pública portuguesa
condicionando o seu futuro; é o caso da violência escolar, o abandono precoce
da escola antes da conclusão do ensino obrigatório, o absentismo ou a
utilização das taxas de abandono escolar como indicador (na região do Algarve)
do grau de desenvolvimento sustentável duma região.
Os fenómenos referidos correspondem a problemas sociais que devem
ser combatidos com estratégias que visem em última instância, a prevenção da
exclusão social. A entidade responsável pela definição das estratégias
educativas é o Governo através das suas Políticas para a Educação. Essas
estratégias surgem como resposta aos inúmeros problemas que persistem no
sistema de ensino em Portugal.

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A primeira notícia escolhida para desenvolver o comentário crítico é
relativa ao número de alunos inscritos nos cursos profissionais (notícia número
7). A escolha recaiu nesta pois retrata uma das novas apostas do Ministério da
Educação na redução das taxas de abandono escolar precoce do sistema de
ensino. A redução dos níveis de pobreza, bem como o crescimento da
economia do país devem ser solucionados com as competências adquiridas na
formação pessoal dos indivíduos, mas também com a redução dos níveis de
desemprego desqualificado.

2. Comentário da Notícia nº 7

“Governo quer metade dos alunos em cursos Profissionais”

O Governo, numa parceria conjunta entre o Ministério da Educação e o


Ministério da Segurança Social e do Trabalho assinou no ano de 2004, o
Despacho que cria e regulamenta os Cursos de Educação e Formação (CEF)
profissionalmente qualificantes1. Estes cursos constituem uma das estratégias
do Plano Nacional de Prevenção do Abandono Escolar (PNAPAE)2 incluídos na
acção governativa.
A sete de Abril de 2004 o plano dos cursos CEF foi oficialmente
apresentado. O objectivo da criação dos cursos relaciona-se com o Plano
Nacional de Prevenção do Abandono Escolar; “corresponde a um esforço
colectivo para prevenir o abandono escolar, em sentido alargado, isto é,
prevenir a saída da Escola e do sistema de Formação Profissional ou dos
sistemas de educação e de formação, por um jovem com menos de 25 anos
(para o sistema regular de ensino de nível secundário, a idade máxima de
frequência serão os 21 anos, de acordo com a Proposta de Lei de Bases da
Educação – PPL nº 74/IX), sem conclusão de estudos ou sem obtenção de
qualificação de nível secundário ou equivalente”3. Daqui se pode inferir a
preocupação em diminuir as taxas de abandono escolar e de saída precoce do
sistema de ensino.
Existe um grupo de condicionantes presentes na esfera do indivíduo que
têm influência no abandono escolar, como seja a família, a escola, o meio
envolvente e o próprio indivíduo. Estes aspectos ao interagirem entre sí de
forma negativa potenciam o risco social para que o aluno abandone de forma
precoce e definitiva o sistema de ensino. Este facto origina mais tarde
indivíduos não preparados para a empregabilidade qualificada, engrossando os
números do desemprego associado a baixas qualificações.

___________________________
1
Acessível a partir de http://www.portugal.gov.pt/NR/rdonlyres/8CF5A479-C14C-41C1-B43E-
D5ACAE4D8252/0/Prevencao_Abandono_Escolar.pdf (consultado em 04/12/2007)
2
acessível em resumo alargado a partir de http://www.portugal.gov.pt/NR/rdonlyres/579BB849-F5AF-
40CD-84B8-7BDABD5FF474/0/PNAPAE_sintese.pdf (consultado em 04 de Dezembro de 2007)
3
retirado da página quadro do documento PNAPAE acessível a partir de
http://www.portugal.gov.pt/NR/rdonlyres/579BB849-F5AF-40CD-84B8-
7BDABD5FF474/0/PNAPAE_sintese.pdf

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Avaliando a notícia publicada no jornal on-line Sol, no dia 30 de Outubro
de 2007 verifica-se que o objectivo por parte do Ministério da Educação é o de
levar à redução dos níveis de abandono escolar até 2010, fazendo com que
metade dos alunos do ensino secundário frequentem com sucesso um curso
profissional. Esta ambição pretende atingir a meta de redução em 25 % das
taxas de saída precoce do sistema de ensino português.
A situação apresentada na notícia corresponde a uma estratégia seguida
pelo Governo para responder a um dos principais problemas que atingem a
escola pública em Portugal: o abandono precoce do sistema de ensino.
Segundo a literatura específica sobre Educação, entende-se como
abandono precoce em sentido restrito a saída dos adolescentes do sistema de
ensino antes da conclusão do ensino básico obrigatório. Em sentido mais lato,
entende-se o abandono escolar, como a saída do sistema de ensino antes dos
doze anos de escolaridade obrigatória, meta que deverá ser cumprida e
implementada nos tempos mais próximos.
As taxas de abandono escolar em Portugal, segundo os últimos dados
apontam para valores residuais ou mesmo inexistentes ao nível do primeiro
ciclo, revelando-se crescentes à medida que se caminha para os níveis de
ensino seguintes. Portugal é um dos países da União Europeia com maiores
taxas de abandono escolar precoce, segundo o II documento de trabalho anual
da Comissão Europeia sobre os progressos registados pelos 25 estados-
membros. Em 2004, Portugal registava uma taxa de 39,4% de abandono
precoce. Esta taxa é bastante superior relativamente a outros países novos
membros da União Europeia. Uma vez que afecta um grupo específico da
população portuguesa, caracterizado por indivíduos pouco preparados em
termos de habilitações literárias e profissionais para ingressar no mercado de
trabalho, gera indivíduos mais vulneráveis a fenómenos de exclusão social.
A intervenção para a resolução deste problema social passa pela
valorização da educação em Portugal. Esta valorização implica que cada aluno
deve efectuar o seu percurso educativo e formativo numa via de ensino mais
adequadas ao seu perfil.
Pretende-se encontrar estratégias que permitam que os alunos sigam
percursos distintos segundo as suas capacidades, aptidões e interesses
pessoais. Nesta perspectiva surgem os cursos CEF, estando inseridos num
conjunto de medidas para solucionar a prevenção dos fenómenos de abandono
escolar precoce associado a baixas qualificações escolares e profissionais.
O Ministério da Educação aposta assim na valorização da educação dos
jovens em risco como uma das formas de combater os problemas estruturais do
país.

“Se um homem tem fome não lhe dês um peixe, ensina-o a pescar”
Provérbio chinês:

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A segunda notícia seleccionada para efectuar o comentário crítico é
relativa ao novo estatuto do aluno do ensino não superior concebido pela
presente equipa ministerial e que foi aprovado na Assembleia da República
aguardando agora a promulgação por parte do Presidente da República.
O assunto constitui um tema importante que reflecte as transformações
que se encontram a decorrer na escola pública portuguesa. Uma vez que o
documento constitui um instrumento central e de máxima importância para
regular o estatuto dos alunos em cada escola será aqui comentada a notícia
número 2: “Chumbos por faltas vão deixar de existir”.

3. Comentário da Notícia número 2

“Chumbos por faltas vão deixar de existir”

O Novo Estatuto do Aluno nasce num contexto social e educativo muito


particular. Se por um lado a escola pública portuguesa sofreu profundas
transformações nos últimos trinta anos, sendo a realidade das escolas na
actualidade bastante diferente de há décadas atrás, por outro nos últimos dois
anos, a fúria legislativa do actual Ministério da Educação visou mitigar todos os
aspectos que posam atribuir a Portugal dados estatísticos menos favoráveis em
termos de reprovação por parte dos alunos assim como relativamente ao
abandono escolar e ao elevado nível de absentismo nalguns anos lectivos.
Algumas correntes menos benéficas à educação têm sido criticadas por
personalidades da sociedade portuguesa como é o caso do professor
universitário Nuno Crato, opositor do que chama “eduquês” conceito associado
ao facilitismo que parece ter tomado de assalto as escolas do país.
Os rankings de insucesso escolar fizeram também a lógica da escola que
existe actualmente (ver notícia número 10 deste dossier de imprensa): uma
escola em que o esforço do aluno parece ter deixado de ser valorizado assim
como a presença dos alunos nas aulas – o conceito de assiduidade começa
cada vez menos a ter sentido.
O verdadeiro motivo sobre o novo Estatuto do Aluno, no que respeita à
definição de faltas é simples: destina-se a diminuir as estatísticas das
reprovações, do absentismo e abandono escolar.
Em relativamente poucos anos a escola portuguesa massificou-se. Com
a massificação surgiram novos problemas que a escola teve de dar resposta.
Um dos problemas, terá sido a luta contra o abandono escolar precoce e
adaptação às novas realidades sociais, políticas, tecnológicas, culturais e
laborais da sociedade.
A notícia publicada no jornal Público on-line, em 27 de Outubro de 2007
tem enfoque em torno da polémica da tipologia das faltas dadas pelos alunos
(justificadas ou injustificadas) que corriam o risco, até ao atalho presidencial, de
deixarem de ser tidas em conta na progressão ou retenção dos alunos.
O hipotético absentismo dos alunos teria que ser resolvido pelas escolas
através de uma prova de recuperação. Esta solução apontada pelo Governo
causou enorme polémica nos partidos da oposição. Assistiu-se por um lado, a
uma tentativa do Ministério da Educação de converter um problema social que
afecta a escola pública portuguesa, num problema particular das escolas e dos
indivíduos.

6
O absentismo escolar corresponde a um fenómeno complexo, com
causas variadas dependendo do meio onde se encontra inserida a escola, mas
dependente de causas intrínsecas ao próprio indivíduo, que o levam à ausência
da escola. As soluções não podem passar por medidas que façam tábua rasa
entre os alunos que estão na escola a cumprir o seu dever, participando
activamente no percurso educativo escolhido e os alunos ausentes.
O absentismo constitui por sí um problema individual grave na medida
em que representa um entrave ao sucesso educativo de cada aluno. Pode
conduzir mais tarde a situações de abandono escolar e a situações de
delinquência e exclusão social levando o problema para a esfera da questão
social. Ao reduzir o problema do absentismo para a esfera do individual está a
contribuir-se para o aparecimento de uma geração de indivíduos apartados das
responsabilidades sociais ao mesmo tempo que se perpetuam as dificuldades
de resolução.
Na tentativa de solucionar e prevenir o problema, as escolas devem
delinear programas de intervenção consoante a realidade local específica. Para
isso, em cada ciclo de ensino, devem ser desenvolvidos programas de
acompanhamento especial através dos professores das turmas e/ou directores
de turma que devem estar atentos e vigiar os alunos mais propensos a faltar à
escola. O objectivo é o de tentar perceber as razões que levam os alunos a
essa atitude no sentido de poder solucionar de forma mais eficaz o problema
em causa.

Covilhã, 07 de Dezembro de 2007

Steven Casteleiro

--- FIM ---

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