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1 introdução necessária.
bove encontra esta abertura naquilo que está sempre prestes a acontecer
sem que saibamos. ele literalmente arranca daquele momento ordinário a força
do mistério de seu expressar.
seu universo é cinza e as coisas no mesmo se movem como se
estivessem sempre prontas a devorar o além daquilo que está à volta. há como
uma onisciência do inanimado que não delibera ação alguma, mas que é
enunciado como tal, senão vejamos:
2 .... quando acordo, minha boca está aberta. meus dentes estão
sujos, escová-los seria melhor, mas nunca tenho coragem. lágrimas secaram
no canto de minhas pálpebras. meus ombros não doem mais. cabelos hirsutos
cobrem minha testa. com meus dedos abertos, afasto-os para trás. e inútil:
como as páginas de um livro novo, rebelam-se e voltam a cair sobre meus
olhos.
ele faz uso de verbos como estar e parecer, fato que torna ainda mais
misteriosa a força de seu texto. ele nos convida ao rigor de uma imagem que
pode habitar nossas mentes remetendo-nos sempre ao desconhecido. seu
movimento gira sempre em torno de estados repletos de súbitas modulações.
observemos agora este escamotear descritivo:
4...a água, que escorre por toda a largura dos vidros, corrói a massa de
vidraceiro e forma uma poça, no chão.
poemas esparsos.
poema 2
esta alma pequena
circula por aí
com jeito de quem nunca esteve
longe de casa por alguns míseros dias
esta alma carregada
este peso de mil séculos
como todos aqueles que se arrastam pelos cantos
tarde da noite na insônia dos proscritos
para cheirar um corpo morto
e perceber que a vida se despede
como alguém que dá as costas
com uma garrafa de vinho à mão.
poema 3
tire a roupa
e encontre o nada
no seu corpo
frente ao espelho
indiferente como o tempo
que não mente ao dizer
que os anos se foram
em sua carcaça de nada
quando os membros estão gastos
e os orgãos não mais respondem
como num short dialog
perdido em algum livro estrangeiro
jogado no chão da cozinha
com cheiro de coisa morta.
poema 4
poema 5
conto frio