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CONSTRUÇÃO
Aprovado por:
Ficha catalográfica:
Sumário
Introdução................................................................. 01
Bibliografia ..............................................................196
viii
Índices de Figuras
Índice de tabelas
Agradecimentos
Introdução
Na sua forma tradicional, a produção dos edifícios passa por uma seqüência
de etapas, cada uma sob responsabilidade e comando diferentes, cabendo
unicamente ao projeto a função de dar um sentido a todos esses esforços.
No quadro que surge, as alterações organizacionais buscam reordenar toda
a cadeia de produção para obter uma melhor produtividade, redistribuindo
as tarefas entre os diversos participantes do processo de produção e
reforçando a importância da etapa de concepção do produto, como
descrevemos no Capítulo V.
: As edificações na Construção
indicativo de que o seu progresso técnico foi mais lento que no outro sub-
setor.
A segmentação do mercado
3 A lista é extensa mas destacamos: LIMA, Maria Helena Beozzo, “Em busca da casa
própria: autoconstrução na periferia do Rio de Janeiro”, in. VALADARES, Licia, Habitação
em Questão, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1980; MASCARÓ, Juan Luis e Lucia R. de
MASCARÓ, A construção na economia Nacional, Ed. PINI, SP, 1980; JACOBI, Pedro,
o
“Autoconstrução: mitos e contradições”, Espaços e Debates, ano 1 N : 3, set. 1981, Cortez
Editora; VALADARES, Licia, Repensando a Habitação no Brasil, Zahar Editores, Rio de
Janeiro, 1982; AZEVEDO, Sérgio, Habitação e poder, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1982
; TREIGER, Bertha e BINS, Patrícia Grillo, “Dos conjuntos Habitacionais à rua”, in Morar
na Metrópole, Iplan Rio, Rio de Janeiro, 1988. Além destes trabalhos lembramos também
dos autores Carlos Nelson Ferreira dos Santos, Raquel Rolnik, Nabil Bonduki que em
diversas ocasiões manifestaram-se a respeito.
xvii
Mesmo que desde então continue à margem das estatísticas nada nos leva
a crer na redução de sua importância relativa, ao contrário, visivelmente há
um crescimento das ocupações informais, apesar de alguns esforços das
municipalidades em regularizar esta produção. Aparentemente os custos
decorrentes da legalização mantém a população pouco interessada e
quando ela ocorre costuma ser posterior à obra, atingindo apenas o imóvel e
não a fase de execução.
podemos afirmar que existe uma forte especialização das empresas que
operam no mercado privado de incorporação, com algumas poucas
operando também no mercado privado de empreitada e, muito mais
raramente, no mercado público, nesse caso em disputa com as grandes
empreiteiras.
Presença esporádica
Presença freqüente
Tabela 0-B Segmentos de atuação das empresas
4 Além do IBGE as outras fontes usuais são o SINDUSCON RJ- Sindicato da Indústria da
Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro (patronal), a ADEMI - Associação de
Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário, as prefeituras, através de seus
departamentos de edificações e , finalmente, o CREAA, Conselho Regional de Engenharia
Arquitetura e Agrtonomia. Cada um destes sistemas levanta dados sobre seu campo de
atuação, nem sempre comparáveis.
xix
Unidades:
350.000
300.000
250.000
200.000 FGTS
150.000 SBPE
100.000
50.000
-
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
Figura 0-A Unidades financiadas pelo FGTS e SBPE
Fonte: BNH (até 1984); ABECIP (1985 para FGTS e 1985 a 1990 para SBPE); CEF (1986 a
1990 para FGTS)
F i n a n c i a m e n to s (U S $ m i l h a r e s)
4 5 0 .0 0 0
4 0 0 .0 0 0 4 0 0 .7 6 9
3 5 0 .0 0 0
3 0 0 .0 0 0
2 8 1 .0 8 3
2 5 0 .0 0 0 2 3 7 .6 1 0
2 3 1 .2 3 2
2 0 0 .0 0 0
1 5 0 .0 0 0
1 0 0 .0 0 0 1 0 2 .6 6 2 9 9 .7 0 6 1 0 8 .6 6 0
5 0 .0 0 0 5 9 .6 5 7 5 7 .9 6 4
2 2 .8
0
1985 1987 1989 1991 1993
3.500.000
3.000.000
2.500.000
2.000.000
m2
1.500.000
1.000.000
500.000
0
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
Figura 0-C Produção de imóveis no Municípiodo Rio de Janeiro
Fontes: ADEMI, IDEG e SINDUSCON RJ.
450.000
400.000
350.000
333.024
317.208
300.000 295.351 293.612 304.353
269.388 262.703
250.000 247.886
226.494
200.000
150.000
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
Figura 0-D Produção No Município do Rio de Janeiro e financiamentos
totais.
2
Obs.: A produção foi baseada no total de “habite-se” e está representada em dezenas de m
para facilitar a visualização.
Fontes: ver Figura I.3 e Tabela I-3 Produção de Imóveis no Município do Rio de Janeiro
mais elevado para a sua vizinhança o novo produto termina por beneficiar
essas áreas contíguas.
6 GALLON, Elie,” Du “juste temps “au “juste a temps” “, in Travail et productivité dans le
Bâtiment, Rapport du Seminaire, Plan Construction, Paris, s.d.
7 VELTZ, Pierre; ZARIFIAN, Philipe, “Modèle systemique et flexibilité”, texto interno LATTS
ENPC, Paris, 1993. Ver também “Vers une sociologie de l’organisation industrielle: un
itinnéraire de recherche” Rapport pour l’habilitation à diriger des rechcerches, Université
Paris X, Nanterre, 1992
xxvii
P a rt ic ip a ç ã o n o m e rc a d o
9 0 ,0 0 % F a ix a d e
c a p it a l:
8 0 ,0 0 %
7 0 ,0 0 %
6 0 ,0 0 %
3 0 .0 0 0
5 0 ,0 0 % 1 3 0 .0 0 0
2 7 0 .0 0 0
4 0 ,0 0 %
1 .3 0 0 .0 0 0
3 0 ,0 0 % 2 .7 0 0 .0 0 0
5 .3 0 0 .0 0 0
2 0 ,0 0 % >5300000
1 0 ,0 0 %
0 ,0 0 %
1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993
50%
<5
40% <15
<50
30%
>50
20% A utonom.
10%
0%
1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993
90%
80%
70%
60% <5
<15
50% <50
40% >50
30%
20%
10%
0%
1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993
A tecnologia da Construção
9 Entre outros textos deste autor ver Savoir Bâtir ... ; e Tecnologías de la Construction
Industrializada, Col.” Tecnología e Arquitetura”, Ed. Gustavo Gili, Barcelona, 1977
10 GAMA, Ruy, “A Tecnologia em Questão”, Revista USP, vol. 7, set./out./nov. 1990, pag. 43
a 48
xxxvi
negativa para a Construção. Como veremos, ainda que ela não seja
desprovida de fundamento, a competição entre os diferentes setores da
economia não permite que um deles distancie-se demasiado dos demais.
Tampouco as discrepâncias entre este setor e os demais segmentos
industriais são uma exclusividade brasileira.
12 Nos referimos aqui à medida geral de produtividade, expressa pela relação do valor
adicionado a produção e quantidade de trabalhadores, Ver BACHA, Edmar L. , "Emprego
e salários na indústria de transformação", 1949/1969, in 25 anos de Pesquisa
Econômica, IPEA, Rio de Janeiro, 1988, e SABÓIA, João, "Salário e produtividade na
indústria brasileira, os efeitos da política salarial no longo prazo", Pesquisa e
Planejamento Econômica, vol. 20, no3 , IPEA, Rio de Janeiro, dezembro de 1990.
13 PROCHINIK, opus cit , pag. 98 a 101
14 MARGIRIER, Gilles, “Le Secteur du Bâtiment et des travaux publics dans la crise:
comparaison entre France, RFA, Italie, Royaume-Uni”, pág 82 in Europe et Chantiers,
Actes du Colloque, Plan Construction, Paris, 1988, pág 57 a 137.
xxxviii
Como este não é o caso das edificações que na sua maioria ocorrem nos
centros urbanos e estão sujeitas, portanto, a competir com outros setores
econômicos, tanto nas opções de investimento como nas ofertas de
emprego, suas condições de rentabilidade e de condições de trabalho não
podem ser muito diferentes da média geral.
17Destacamos “Europe et Chantiers”, Actes du colloque, opus cit, div aut e o livro de
HASEGAWA, Fumio, Built by Japan, John Wiley & Sons, New York, 1988.
18CAMPINOS DUBERNET, Myriam; Emploi et Gestion da la Main d’oeuvre dans le BTP,
CEREQ, Paris, 1985, pág. 48 (trad. do autor)
xlii
Nunca ficou claro a partir de que estudos ou indicativos esta decisão foi
tomada. Apesar disto, ela "tornou-se tão arraigada que nem mesmo nos
anos de 1971/73 - quando em São Paulo houve uma crise de mão-de-obra
para a construção provocada pelo "boom" de obras públicas - mudou-se de
orientação"22. Decorrente, a nosso ver, de uma análise simplista da relação
homem hora/ m2 no sistema convencional face a sistemas pré-fabricados,
esta decisão manteve-se inalterada até 1978 e apesar de não ser
claramente enunciada ela ainda permeia diversos instrumentos das políticas
públicas para o setor.
Porém, num exemplo talvez único no mundo, foi adotada uma política
tecnológica "às avessas" pois seu objetivo foi, declaradamente, evitar a
inovação, quando em outros países a busca pelo progresso técnico tem sido
primordial nas políticas tecnológicas de qualquer setor. Baseado na
premissa de que através de processos inovadores é possível atingir "uma
sociedade que responda às mudanças e aos desafios"29, políticas
inovadoras têm sido encorajadas como um meio para melhorar a
competitividade internacional e, também, a qualidade de vida dos
trabalhadores, inclusive na construção.
plants, and thus to attract young talent workers from others industries
or straight from school" 32
• O poder de compra;
• O investimento direto, ou através de subsídios para as empresas
inovadoras;
• Através de legislação e outros regulamentos que regem a oferta de
serviços;
• Apoio a infra-estrutura tecnológica básica em universidades e
institutos de pesquisa
É interessante notar que estas regras são pouco divulgadas e não estão
claramente expostas em nenhum documento da CEF para uso do público
externo. O único indicativo, para o possível pretendente a um financiamento
é, nos manuais de solicitação de financiamentos, um cronograma que deve
seguir o modelo padronizado da CEF, organizado a partir de um sistema
convencional e no qual não são admitidas inclusões de itens 48 (podem
apenas ser suprimidos). Já nos documentos internos , tais como Ordens de
Serviço e fichas de avaliação de projetos, elas surgem claramente. Por
exemplo, no modelo de parecer de análise e avaliação definitiva de
liv
Ao garantir volumes mais elevados com prazos mais longos, esse gênero de
contratação facilita o investimento tecnológico. Outras exigências e
vantagens foram também foram agregadas a este tipo de contrato,
lv
Isto nos leva a crer que aos municípios não cabe, a princípio, legislar sobre
as condições internas das edificações, mas somente sobre aquelas que
dizem respeito ao uso do solo, tais como gabaritos máximos (e não
tipológicos), relação de unidades por área de terreno (densidade), taxa de
ocupação do lote e tipologia de uso. Estes parâmetros tem pouca influência
direta sobre a tecnologia da construção, sendo, em tese, bastante neutros
quanto a seus impactos sobre os processos construtivos e a qualidade dos
edifícios ainda que, às vezes, tenham alguma influência indireta, como
veremos adiante.
Ë claro que todos os investidores desejam ter o maior lucro possível, isto faz
parte da lógica do sistema em que vivemos, mas há uma simbiose entre a
lei “falha” e a prática predatória. Ao não estabelecer claramente um padrão
qualitativo para o ambiente urbano e suas unidades, preferindo definir
padrões de solução, expressos em características rígidas que o produto que
lix
É claro que a escolha dos materiais e processos utilizados nas obras não
depende exclusivamente dos aspectos legais decorrentes destes Códigos
mas, eles dificultam uma escolha baseada unicamente no desempenho
qualitativo, pois uma alternativa não prevista dependerá de um “jeitinho” em
algum nível da fiscalização a ser compensado de algum modo . Configuram-
se assim como um dos empecilhos a uma melhora das condições do
produto-edifício e de suas condições de produção e trabalho , daí a
importância de nos determos na análise de alguns deles, como ilustração
deste impacto.
O efeito principal das exigências legais parece ser a elevação dos custos
das obras, pois implicam em áreas de construção maiores e, às vezes,
dificultam o uso de soluções construtivas mais racionais. Ao elevar o
patamar de preços há uma diminuição das escalas de produção, ao mesmo
tempo que os limites do mercado não permitem agregar novos itens aos
produtos, salvo nos segmentos de luxo, restringindo indiretamente a
diversidade dos produtos e, por extensão, a competição.
Estacionamento:
Uma vez que, no Brasil, hoje em dia, este controle do trânsito é uma
atribuição municipal, nada impediria uma adequada articulação neste
sentido. Ou seja, trata-se de custear as vagas por aqueles que as
efetivamente usam, seja pela venda direta, seja por meio de taxas que
remunerem o Município pelas áreas eventualmente oferecidas. Uma política
fiscal diferenciada, através do IPVA - Imposto sobre Veículos Automotivos e
IPTU - Imposto Predial eTerritorial Urbano, poderia ser implementada para
otimizar este processo.
Elevadores
Áreas comuns:
Estabelece ainda que, caso haja moradia para o zelador, ela deve atender
regras específicas que, na prática, podem levar a esta unidade a ser a maior
do prédio, ou seja seus padrões são superiores aos exigidos para os
consumidores comuns!
Se, por um lado, podemos aceitar isto como uma solução emergencial, ela
não deve ser tomada como uma regra geral nem como um objetivo. As
lxviii
Escadas de emergência
ATE= N x 0,7 x S
Mesmo que este nível seja, de fato, abaixo do necessário para atender à
carência de habitações, na situação atual qualquer aumento de oferta
financeira na ponta de consumo será, na sua maior parte, absorvido pelos
detentores deste “insumo escasso”, não sendo repassado aos usuários,
nem produzindo o desejado aumento de produção. Ao contrário, um maior
nível de financiamento servirá principalmente para inflacionar o valor da
terra, terminando por ser necessário um novo teto de financiamentos, num
círculo vicioso que assistimos desde os tempos do BNH.
Para incrementar a construção civil será muito mais eficiente atuar sobre a
oferta de lotes, tanto através do incentivo da criação de novos lotes, como
através de mecanismos que elevem os custos do estoque da terra. O
barateamento relativo dessa maior oferta terá um impacto muito forte no
lxxvi
da produção de lotes, tais como exigências muito severas ou, ainda, pela
falta de regras que impeçam práticas especulativas predatórias, como no
caso do custo negativo para o estoque de lotes.
Neste aspecto, o governo federal tem aplicado muito pouco o seu poder
para normatizar o desempenho das construções. Até hoje não foi
implementada a coordenação modular dos componentes, projeto de 1978, e
inexistem normas de desempenho ambiental56, que poderiam reduzir muito
a demanda de energia para refrigeração nos grandes centros e estabelecer
novos padrões de eficiência para a obra, na medida que novos materiais
fossem incorporados , de modo semelhante ao que ocorreu no Hemisfério
Norte, com legislação similar.
Níveis de inovação:
• Nos produtos da Construção, por exemplo, um novo tipo
de imóvel, tal como o prédio “inteligente”;
• Nos produtos para a Construção (insumos e
equipamentos), como no caso de um novo tipo de
revestimento ou um novo equipamento de transporte;
• Na organização da produção, por exemplo, um novo
modelo de gerência do trabalho ou do projeto.
nível da inovação, a organizacional, que vem criar uma nova ordem capaz
de atender a essas condicionantes. Corresponde a uma visão estruturalista ,
onde “a produção de uma inovação é um ato de criação de ordem”69 e,
assim, ela “depende da desordem da estrutura do sistema. Como corolário
dessa assertiva, podemos dizer que os sistemas inovadores são aqueles
que estão em perpétua desordem”70.
Isto nos leva a crer que nos casos onde a tecnologia preexistente é capaz
de ser facilmente adaptada a uma nova situação os construtores podem
conduzir este processo mas, quando há introdução de uma nova tecnologia,
são os fornecedores que determinam as definições necessárias, como
resumido na figura 0-a.
Nos dois casos desse gênero relatados por NAM, a iniciativa partiu dos
fornecedores e eles executaram as principais tarefas de desenvolvimento
necessárias. No Brasil temos diversos exemplos em que o fornecedor de um
novo material ou equipamento, ao iniciar sua distribuição, tem a
preocupação de uma extensa assistência técnica, orientando os novos
usuários nos procedimentos necessários ao sucesso de sua utilização. Esse
é um procedimento bastante comum na área de aditivos para concretos e
argamassas e na indústria cerâmica .
a) mensurar a produção ;
b) compara-la a um fator de produção predefinido.
sido aceita, sendo preferível que ela seja estabelecida em termos físicos,
pois no primeiro caso ela estaria sujeita a uma infinidade de variáveis,
particularmente no Brasil, onde a moeda não pode ser um valor de
referência seguro.
se, mas as técnicas de execução ainda tem uma grande parcela pendentes
da prática do operário, pois são derivadas de uma formação que é muito
mais uma "habilitação" do que uma "qualificação". O operário da construção
desenvolve "habilidades", tanto assim que freqüentemente são analfabetos
sem que isto os prejudique demasiado no exercício das funções tradicionais.
Na verdade, essa não foi uma política exclusiva deste setor: CARVALHO
ressalta que nos anos 70 se impôs, no Brasil, “um certo padrão de uso e
controle da força de trabalho”, viabilizado pelas condições econômicas e
políticas então existentes, cuja “característica mais importante consistiu na
exploração predatória da força de trabalho”105. O que diferencia a
Construção foi a intensidade deste processo que nela chegou ao extremo
de prejudicar a dinâmica de renovação da mão-de-obra, afugentando os
trabalhadores do setor e desqualificando o conjunto.
Nesses trabalhos não há uma clara distinção entre perdas e falhas, sendo
que nos levantamentos os resultados se confundem e, para o cálculo de
perdas totais, essa diferenciação é realmente sem pertinência. Entretanto, a
“falha” não faz parte do processo de produção, mesmo que nenhum
processo seja imune à sua ocorrência. Elas são eventos em que um produto
ou serviço não atendeu às solicitações e, mesmo que seja possível
estabelecer uma freqüência estatística, elas são de natureza imprevisível.
Porém, podemos constatar que toda “falha”, seja de serviço ou de produto,
implica em uma “perda” de trabalho e/ou material, embora nem toda perda
seja realmente uma falha.
No quadro atual, cada etapa não tem como contratante o seu usuário
verdadeiro, aquele que vai depender de sua qualidade para realizar sua
parte. O “cliente” da etapa é um participante com pouca influência na
formulação deste contrato. Deste modo, o arquiteto faz os primeiros estudos
cxix
regulares. Mesmo o controle dos materiais, segundo cada serviço, pode ser
difícil se há tarefas sendo executadas em diversos locais: como garantir que
a distribuição de argamassa se deu de forma homogênea, por exemplo?
Ou seja, o mesmo item, tal como "contrapiso", mesmo que executado com
os mesmos materiais, exigiria quantidades e volumes de trabalho muito
cxxii
Essa parcelização do produto, segundo critérios que nada tem a ver com a
execução, evidencia uma ruptura entre o canteiro e os setores de projeto e
planejamento, entre produção e concepção, fator repetidamente apontado
por diversos pesquisadores como a maior fonte de problemas na
construção137. Se transposta para a indústria automobilística, esse
procedimento equivaleria a mensurar a produção de bancos dos
2
automóveis através dos “m de estofados”, ao invés de quantificar
unidades tipológicas...
Mesmo que nos casos estudados estes métodos tenham atingido uma
razoável precisão, com margens de erro nos orçamentos prediais em torno
de 5%, este método ainda está muito distante de ser um auxiliar eficaz para
o projeto ou para a inovação.
Ressaltamos que, neste caso, a idéia de “modelo” não é uma receita pronta
para ser seguida, ou uma formação rígida, mas uma tipologia da dinâmica
das relações socio-técnicas que delimitam as caraterísticas da organização,
como define VELTZ:
cxxix
Gerência
Assessorias
G e r e n c ia
C o o rd .P ro j
P r o je t o B
Proj A
Proj. B
Proj C
Empresa
Empresa B
Empresa B
Projeto
Empresa A
Empresa D
Proj. E
Proj. A Projeto B
Projeto A Proj. B
Projeto CProj. D
Projeto
Proj. C D
Empresa
EMPRESA
Essa análise nos leva a sugerir um quarto tipo, híbrido, onde uma empresa
lidera diversos projetos, cada um em parceria com terceiros, como
representado na figura 0-f. PROENÇA158 apresenta uma situação parecida
na indústria informática italiana, caracterizando uma “empresa sol” em torno
da qual se articulam algumas secundárias, os “planetas”.
Fornec/
subemp.
Projeto A
Projeto B
Empresa sol
Projeto C
Sua idéia central é uma organização em “camadas” onde cada um tem uma
atribuição de nível decisório , ou seja: determinados aspectos do
funcionamento da firma são integralmente atribuídos a um nível, conforme
esquematizado na figura 0-g. Por exemplo, ao nível inicial, o “chão de
fábrica” é atribuída a capacidade de decisão sobre o “como fazer”,
enquanto à alta gerência cabe o planejamento de metas.
Base de O b je t iv o s
Dados
N iv e l e s t r a t é g ic o
N iv e l g e r e n c ia l
N iv e l o p e r a c io n a l
Sistemas de
comunicação e
bases de dados
Nível estratégico
Nível gerencial
Nível operacioncial
Proj A Proj B Proj C
0,2
Extração
M ineral Cim ento
0,1 1,8
0,5 5,7
Q uím icos
0,2 diversos
0,2
5,9
0,2
4,8
Lam inados de 0,5
2,0
aço 6,2
19,9 0,9
6,2
1,5
6,0
Estrut. metál.
Serrarias
3,4 9,5
7,2
1,4
5,7
Elementos
Q uím icos Artef. de
0,1 madeira
Vidro 1,9 3,3
2,4
0,2 1,1 0,5
Automobil.
0,2 Construção
64,0 0
In íc io
V iab ilid ad e
A rq u itetô n ic a
V iab ilid ad e
ec on ô m ic a
A p rov.
N eg ativa
D iretor.
A p rov.
N eg ativa
d ir etor .
P os itiva
P rojeto d e P rojetos
P roj. form as
in s talaç õ es c om p lem .
In s talaç ã o d o
c an teir o
P r ojeto d e P r oj. exec .
arm aç ã o ar q u itetô n ic o
C on trole
Meses 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 15 18 21 24
Etapas
Viabilidade
Est. Preliminar
Anteprojetos
Arquitetura
Instalação
Estrutura
Proj. Executivo
Arquitetura
Instalação
Estrutura
Planej. obra
Obra
Concepção Execução
Acompanhamento
Projeto executivo
Estudos de custo
Direção da obra
Planej. canteiro
Planej da obra
Concorrência
Est. de viabi,
Est. Prelim.
anteprojeto
Entrega
Execução
Programa
Cliente e agentes
Incorporador
Gerenciador
Arquiteto
Orçamentista
eng.estrutural
Eng. instalações
Construtora
Direção comercial
Arquitetura
Direção técnica
Planejamento
Eng. de obra
Pessoal de obra
Subcontratados
Concep. Execução
Acompanhamento
Tomada de Preço
Projeto executivo
Estudos de custo
Direção da obra
Planej. canteiro
Planej da obra
Est. de viabi,
Est. Prelim.
anteprojeto
Entrega
Execução
Promotor/cliente
Coord ou gerenc.
Arquiteto
Orçamentista
eng.estrutural
Eng. instalações
Construtora
Direção comercial
Arquitetura
Direção técnica
Planejamento
Eng. de obra
Pessoal de obra
Subcontratados
Concepção Execução
Acompanhamento
Projeto executivo
Estudos de custo
Direção da obra
Planej. canteiro
Planej da obra
Est. de viabi,
Est. Prelim.
anteprojeto
Entrega
Execução
Programa
Dir. Com./Promotor
Arquitetura
Eng.estrutural
Eng. instalações
Direção técnica
Planejamento
Eng. de obra
Pessoal de obra
Subcontratados
Fases
Estudo de viabilidade
Planej. do canteiro
Projeto executivo
Est. Preliminar
Planej. Obra
Anteprojeto
Execução
Intervenientes
Incorporador
Arquiteto
Eng. de Instalações
Eng. Estrutural
Departo de Planejamento
Eng. de Obra
Legenda:
Participacão integral
Acompanhamento
Tabela 0-D Interfaces numa organização “por projeto”
É claro que isso não elimina a busca por maquinário capaz de atender a
solicitações diversas. Mas a mecanização da construção ainda é incipiente e
a principal estratégia de intensificar o trabalho na obra tem sido externalizá-
lo, através da substituição de um produto que precise de processamento no
canteiro por outro que possa ser aplicado diretamente. É o caso das
argamassas prontas, dos pré-moldados, dos revestimentos já agrupados e
com adesivos pré-aplicados, das esquadrias pré-montadas, enfim, de uma
infinidade de exemplos que surgem em volume crescente170 e que levaram
FARAH a identificar uma “tendência (que) consiste na transferência de uma
fração do processo construtivo do canteiro de obras para o setor produtor de
materiais de construção ou para centrais de produção organizadas pelas
próprias construtoras.” 171
A questão da Comunicação
clvi
tempo que se escoa, que corresponde ao planejamento, mas não pode ser
objeto de nenhuma contabilidade, pois um dia perdido nem sempre pode ser
recuperado. Ele se relaciona com o objeto de trabalho e provoca situações
tais como, estar adiantado no cronograma apesar de ter dispendido horas
demais, ou estar atrasado, mas ter saldo de horas contabilizadas.
90
80
70
60 Propria
50
Fornecedor
40
30 Externo
20
10
0
Dispersão e convergência
Mas na mão de cada ator por onde transita essa ordem de serviço é
acrescida pelas suas competências localizadas, resultando numa crescente
complexidade. Além disso, se a cadeia de transmissão for longa ela é
sujeita a falhas tanto na ida (ordem) quanto no retorno (controle), estando
também mais exposta aos “ruídos” que surgem a cada interface ou
“tradução”, alterando o conteúdo da comunicação. Da mesma maneira, se
essa cadeia for “rígida”, ou seja, muito burocratizada e hierarquizada, os
ruídos deturpam o conteúdo e atrasam a sua transmissão, enquanto numa
cadeia mais “flexível”, com várias possibilidades de encaminhamento da
ordem, alguns ruídos podem ser criativos, pois vão criar novas
possibilidades de solução.
clxx
Comunic
Projeto
Planejam. 84
Eng. obra 89 95
Mestre 47 47 100
Encarr. 37 26 100 89
Oficiais 11 11 79 95 95
Auxiliares 5,3 5,3 63 89 89 84
Dept. Pess. 5,3 32 84 63 47 42 37
Subemprei. 21 26 95 100 79 26 21 26
Depto.Comp. 37 63 89 37 21 5,3 5,3 21 37
Tabela 0-A Formas genéricas de comunicação.
Graf/info
Projeto
Planejam. 58
Eng. obra 68 74
Mestre 26 21 21
Encarr. 21 11 16 0
Oficiais 0 0 5,3 0 0
Auxiliares 0 0 0 0 0 0
Depto. Pess. 5,3 32 63 26 26 21 16
Subemprei. 21 26 63 5,3 0 0 0 11
Depto.Comp. 21 58 68 0 0 0 0 5,3 26
Quase como uma decorrência deste conceito, verifica-se que "quanto mais
tarde são realizadas mudanças nos projetos, mais onerosas elas se
tornarão"204, sendo, a princípio, mais econômico um projeto mais
detalhado, que inclua toda as atividades a serem realizadas durante a
execução do produto.
Nesse caso, não há uma absorção de uma etapa por outra, mas a
conjugação dos esforços comuns de diversos atores em torno de um
problema, viabilizada por uma estrutura comunicacional sofisticada e
articulada em um modelo organizacional com maior grau de autonomia para
seus integrantes.
Essa utilização da informática nas edificações vai bem além de seu lado de
maior impacto para o leigo, o Projeto Assistido por Computador (CAD). Na
verdade, após um primeiro instante na década de 70, em que tudo indicava
uma rápida substituição da representação gráfica pela informatizada, a
realidade mostrou-se diferente, talvez pelas dificuldades da interface
homem-máquina com a tecnologia então disponível. Mas já em 1987,
CAMPAGNAC, PICON e VELTZ210 indicavam os horizontes que essa nova
tecnologia abria em termos de reorganização da concepção e da produção
do edifício. Posteriormente, em 1990, CAMPAGNAC, BOBROFF e CARO211,
ao analisarem as transformações estruturais de duas grandes construtoras
francesas, também as vincularam ao processo de informatização que elas
levavam a cabo.