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Mestranda em Educação na Universidade Católica de Santos - UNISANTOS
/ Santos(SP)
e na Universidade Paulista –UNIP / São Paulo (SP) End.: Rua Ministro
Gastão Mesquita, 663
Bairro: Perdizes-SãoPaulo-Capital Cep:05012-010 / Fone : (11) 3862-3559
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O processo de extinção da filosofia dos currículos dos cursos
secundários, que teve início com a redução gradativa do número de horas-
aula semanais, pós Reforma Gustavo Capanema em 1942, se acentuou a
partir do momento em que perdeu seu caráter de obrigatória e passou a ser
disciplina complementar (LDB 4024, 20/12/1961), depois optativa
(Resolução nº36, 30/12/68), culminou com a reforma de ensino introduzida
filosóficos semanalmente na carga horária destinada à Psicologia da
Educação: pouco convencional, porém muito proveitoso para as
alunas2 que se beneficiaram dessas aulas, segundo testemunho das
mesmas sempre que me cruzava com elas anos depois!
A decisão de conciliar a formação filosófica com a pedagógica para
atender às exigências legais definiu meu ingresso em um Programa
de Mestrado em Educação, que me oportunizasse essa aliança. Para
tanto, escolhi a FEUSP, que tinha como uma das áreas de
concentração, História e Filosofia da Educação. Como conseqüência
natural da conclusão do mestrado em 1982, iniciei meu doutorado em
1985, optando pela área de concentração, Didática.
Na ocasião, o cenário profissional em consonância com as atividades
acadêmicas propiciou a escolha do tema de minha tese sobre o
ensino da filosofia. Nunca deixei de ministrar filosofia, graças às boas
intenções das religiosas que sempre acreditaram no papel formador
da disciplina, mas a Lei nº 7044/82 que tornou opcional o ensino
profissionalizante, possibilitou a reintrodução da referida disciplina no
currículo do então 2º grau, e eu pude, “a céu aberto”, ser
novamente professora “oficial” de filosofia.
Nada melhor para objeto de estudo de um pesquisador um tema que
lhe é familiar. A filosofia e seu ensino sempre estiveram presentes
em minha vida como o ar que respirava... Incentivada pelo meu
orientador, planejei e executei uma pesquisa de campo junto a alunos
e professores de filosofia de 2º grau, atuantes na cidade de São
Paulo, com os objetivos de descrever e avaliar a realidade
educacional do ensino de filosofia no nível secundário, com vistas à
elaboração de sugestões que otimizassem sua função disciplinar.
Considerações finais
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SOUZA, Sonia Maria Ribeiro de. Um outro olhar: filosofia. São
Paulo:FTD, 1995.
Algumas universidades públicas bem como algumas particulares
adotam a Filosofia no vestibular. Relatos positivos dessa experiência
deram início, no âmbito do GT, ao processo de discussão sobre
eventual possibilidade de inclusão de questões de Filosofia no
vestibular da USP. Nesse sentido, foram elaboradas questões para
mapear a situação do ensino de Filosofia no curso médio.
O envolvimento com o tema me fez aceitar o convite para elaborar as
questões sobre a docência dessa disciplina no ensino médio no
referido questionário destinado a colher dados sobre processo
seletivo da Universidade de São Paulo (USP) e inclusão da Filosofia no
vestibular.
Seguem as questões tal como foram enviadas às escolas e os gráficos
com respostas a essas questões.
Questão 28 : Na sua escola, a disciplina Filosofia é
ministrada:
Lógica
Política
Ética
Filosofia
Teoria do
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Meio
Os gráficos expressam valores em números absolutos e não em
porcentagem. Passo a usar algumas siglas, tais como, PU=escolas
públicas, PA=escolas particulares.
De modo geral, a Filosofia é ministrada nas três séries do ensino
médio (250PU/99PA), prioritariamente, das duas primeiras séries (1ª
130PU/54PA; 2ª 146PU/38PA). Poucas escolas ensinam Filosofia na
3ª série (37PU/27PA). Curiosamente, o número de escolas
particulares nas quais a disciplina “Não está sendo ministrada”
(103PA) é superior ao total de escolas em que ela está presente
(soma das três séries=119 PA).
São três as áreas da Filosofia mais ensinadas nas escolas
pesquisadas: Ética (299PU/146PA), História da Filosofia
(156PU/44PA) e Teoria do Conhecimento(94PU/31). Embora em
número reduzido, a Lógica se faz presente em 12 escolas públicas e
em 07 particulares.
“Valores” foi o assunto mais abordado nas aulas de Filosofia. A
resposta foi assinalada por 354 escolas públicas e por 34
particulares. Na seqüência, “Filósofos” (82PU/34PA) e “Teoria do
Conhecimento” (81PU/26PA) foram os assuntos indicados. “Cultura”
aparece como o quarto tema eleito pelas escolas, num total de 22
escolas públicas e 20 particulares. “Verdade” (13PU/04PA) e
“Liberdade” (13PU/03PA) aparecem em quinto lugar, quase que em
números idênticos. “Trabalho” (04PU/05PA), “Sexualidade”
(04PU/04PA), e Meios de Comunicação (04PU/01PA) foram
igualmente os assuntos menos sinalizados pelas escolas.
Há correspondência e coerência de respostas, se comparar os dados
das questões 29 e 30: as áreas mais ensinadas foram Ética, História
da Filosofia e Teoria do Conhecimento e os assuntos mais abordados,
Valores, Filósofos e Tipos de Conhecimento.
Curiosamente, os dados obtidos em 2006 não são tão diversos
daqueles angariados na pesquisa empírica realizada em 1988, como
requisito para obtenção do doutorado (SOUZA, 1992, p. 117-175). As
aulas de filosofia eram ministradas, predominantemente, na 2ª série,
tanto nas escolas públicas como nas particulares. A História da
Filosofia, especialmente a Filosofia Antiga, e Teoria do Conhecimento,
ênfase nos temas conhecimento científico e conhecimento filosófico,
foram as áreas do conhecimento mais ensinadas e os assuntos mais
abordados nas aulas.
A filosofia tornou-se disciplina obrigatória no ensino médio. Há
professores preparados e vocacionados em número suficiente para
atender a esses jovens? Será que os jovens de hoje reconhecem a
importância e a contribuição da filosofia em sua formação e
endossam sua presença e/ou manutenção na grade curricular tal qual
aqueles que entrevistei no passado? Frente ao apelo irresistível das
mídias e das novas tecnologias da informação, as aulas de filosofia
serão percebidas como “úteis e agradáveis” e importantes para o
conhecimento e compreensão do mundo, de si mesmo e das demais
pessoas com as quais convivem, bem como uma disciplina capaz de
auxiliar o processo de aprendizagem das demais disciplinas do
currículo, como atestaram os jovens pesquisados? Os alunos de hoje
estão mais preparados para superar as dificuldades de entendimento
dos textos filosóficos e mais habilitados para a expressão oral e
escrita do que foi apreendido, do que aqueles que foram sujeitos de
minha pesquisa?
Tais perguntas podem ser condensadas em uma questão mais ampla
a ser investigada sobre o próprio “sentido educacional da filosofia”
(KOHAN, 2002, p.8-9): Qual o sentido educacional da filosofia
como disciplina obrigatória do ensino médio?
Fica o registro de um passado e o convite para um diagnóstico
acurado do presente com vistas a um prognóstico promissor do
ensino da filosofia no curso médio.
Referências bibliográficas