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Reflexão Crítica “O Ensino no Estado

Novo e actualmente”

Fig. 1 – Sala de aula do Estado Novo


No Estado Novo, a escola era nacionalista e baseada em forte
doutrinação de carácter moral. Foi criada a Mocidade Portuguesa e a Obra
das Mães pela Educação Nacional. As reformas do ensino foram sobretudo
curriculares, com a simplificação dos programas e a separação entre a via
liceal, mais elitista, e o ensino técnico.
No ensino superior, foi criada a Universidade Técnica de Lisboa. Com
o Estado Novo, o perfil elitista do Liceu face à Escola Técnica foi claro e
nítido. E, daí para cá, a palavra ficou como que condenada a representar a
ideia de uma escola que participava, do lado dos vencedores, na grande
partilha pela qual os filhos das classes mais favorecidas, que se destinavam
a estudos superiores e que, para isso, frequentavam o Liceu, eram
separados dos filhos do operariado, que não
podiam aspirar a esses estudos e, que por
isso, eram quanto muito, recebidos nas
chamadas Escolas Técnicas.
As crianças que não pretendessem
prosseguir os seus estudos faziam as seis
classes (anos) obrigatórias e as que
quisessem continuá-los frequentavam
apenas as quatro primeiras classes que,
depois de aprovação em exame, dar-lhes-
-iam acesso aos liceus ou ao ensino técnico.
Fig. 2 - Aluno a ser examinado Isto era uma discriminação, pois não
havia igualdades, nem respeito pelos direitos
individuais e todos deveriam ter direito às mesmas condições e ao acesso
aos mesmos conhecimentos e atenções.

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Em 1964, havia o Centro de Estudos de Pedagogia
Audiovisual, que visava uma intensa difusão cultural através
da rádio e da televisão (Telescola). Neste domínio, foi um
progresso considerável, que trouxe à educação «novas
horizontes» e novos meios de divulgação dos
conhecimentos e além disso permitiu o cumprimento do Fig. 3 – Professor numa
emissão televisiva no
programa e da escolaridade obrigatórios em zonas mais
programa da Telescola (na
isoladas, onde não havia condições para a escolaridade RTP)
obrigatória, ou então quando as escolas estavam
superlotadas. No entanto, o facto de exigirem meios que apenas estavam
acessíveis às classes mais ricas levou a que a nível de conhecimentos e de
instrução não houvesse tantas melhorias como o esperado.
Em 1967, foi criado o ensino preparatório, resultante da fusão dos
dois primeiros anos dos ensinos liceal e técnico, já incluídos
na “Reforma Veiga Simão”.
Em 1971, a “Reforma Veiga Simão” (do ministro José
Veiga Simão) marcou o fim da violenta e cruel cisura do
acesso ao ensino, de acordo com as classes sociais. No fim
da instrução primária, todas as crianças, pobres ou
Fig. 4 – Veiga Simão ricas, passaram a ter, pelo menos formalmente, igual
acesso ao “ensino unificado”, isto é, à “Escola do Ciclo
Preparatório” e, mais tarde, ao ensino Secundário.
Esta reforma foi uma das reformas mais importantes e mais
abrangentes da área do ensino em Portugal, sendo que lhe trouxe profundas
e consideráveis alterações. Para além do aumento da escolaridade
obrigatória, que visou o alargamento dos conhecimentos e o aumento das
habilitações da população, fez com que as condições de ensino e de acesso
ao ensino melhorassem consideravelmente.
Não obstante, após o golpe de 25 de Abril de 1974, que repõe o
estado democrático há mais coisas para fazer do que feitas. Os diversos
graus de ensino com novas práticas pedagógicas e educativas continuam a
ser leccionados em edifícios do Estado Novo, sem espaços físicos adequados
e mal apetrechados de material didáctico.
Ainda em 1986, na regência de João de Deus Pinheiro, a escolaridade
obrigatória é alargada aos actuais nove anos de escolaridade. Esta medida
foi criada com o objectivo de combater o analfabetismo que ainda se
mantinha, no entanto ainda hoje há, não propriamente analfabetismo, mas
sim uma elevada taxa de insucesso escolar.
O ensino actual nas escolas não é encarado como um espaço fechado,
não tem o “monopólio” do saber exclusivo, há já muitas outras fontes de
informação igualmente credíveis. Nestas novas fontes de informação estão

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incluídas as novas tecnologias que são excelentes meias para a construção
do conhecimento.
Hoje, o papel do professor, no ensino, é no mínimo de dupla
responsabilidade em relação ao da época do Estado Novo não é só o
detentor ou transmissor do conhecimento mas tem como papel principal
criar e estimular o ambiente educativo. Neste novo perfil de escola, o
ensino tem de se processar ao nível da coordenação e acompanhamento, das
informações (conteúdos) devendo fornecer os contextos e o conhecimento
base que promova uma verdadeira autonomia.
No entanto, a maior parte das vezes a escola não possui suficientes
equipamentos/materiais lúdico-educativos, tais como equipamentos
audiovisuais, equipamentos informáticos, microscópios, projectores, …
Há necessidade de pôr ordem e
estabilidade no ensino, porque se
ainda durante o Estado Novo, a
reforma de Veiga Simão unificou os
ensinos liceal e técnico, não faz
sentido o que se passa actualmente
no ensino secundário: a separação
dos cursos gerais dos cursos
tecnológicos e profissionais e a
política que encaminha «os melhores»
Fig. 5 – Sala de aula actual
alunos para os cursos gerais e daí para a
Universidade e «os piores» para os cursos tecnológicos e profissionais.
Actualmente, numa tentativa de cultivar mais o saber, o Estado
pretende prolongar a escolaridade obrigatória até ao 12º Ano, até porque
“um homem mais culto é um homem mais livre” . No entanto, esta medida
poderá contribuir para o aumento do abandono escolar, pois alguns dos
jovens de hoje não toleram tanto tempo na escola.
Em relação ao sistema de ensino antigo, o actual possui algumas
melhorias, mas também várias lacunas. Se por um lado, se aspirava para ter
acesso aos estudos, hoje com as coisas mais facilitadas verifica-se uma
elevada taxa de abandono escolar. No Estado Novo, um dos principais
objectivos do ensino era estimular nos jovens a formação do carácter, a
cultura do espírito e a devoção ao serviço social, no amor de Deus, da Pátria
e da Família; no actual sistema, apesar da existência das áreas curriculares
não disciplinares, essencialmente a Formação Cívica, em geral, os jovens são
alheios à educação para a cidadania, desmotivados para a moral e bons
costumes.
Hoje, à semelhança do que existiu em 1980, continua o ingresso ao
ensino superior a ser limitado.

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O regime democrático instaurado após o 25 de Abril continuou a
tradição de controlar o ensino, executando uma «liberdade vigiada». A
Constituição de 1976 consagra o ensino oficial, mas não a liberdade do
privado. O Estado português continua a reservar ao ensino particular o lugar
supletivo, o que é injusto e vai contra as bases do regime democrático. As
famílias têm o direito de escolher o tipo de ensino que desejam para os seus
filhos. Para isso, pagam impostos que devem ser bem geridos e não usados
ao serviço de uma ideologia do Estado.

Trabalho realizado por:


José Eduardo Madeira Celeiro Diniz Rebelo, nº 10610, 9º B
Março de 2007

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