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John Wesley
'E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia,
porque já não poderás ser mais meu mordomo'. (Lucas 16:2)
II. Quando Ele requer nossas almas de nós, nós 'não podemos mais ser
mordomos'.
IV. Não existe ocupação de nosso tempo, nenhuma ação, ou conversa que seja
inteiramente indiferente e nunca podemos fazer mais do que nossa
obrigação.
1. A relação que temos para com Deus; a criatura para com seu Criador é
apresentada a nós nos oráculos de Deus, sob várias representações. Considerado como
um pecador, uma criatura caída, ele é lá representado como um devedor para com seu
Criador. Ele é também representado freqüentemente como um servo que, de fato, é
essencial a Ele como uma criatura; de tal maneira, que esta apelação é dada para o
Filho de Deus, quando, em Seu estado de humilhação, ele 'tomou para si a forma de
um servo, sendo feito na semelhança de homens'.
Pode ser útil, então, considerar este ponto totalmente, e fazer nosso completo
aperfeiçoamento dele. Com este objetivo, vamos:
II. Em Segundo Lugar, vamos observar que, quando ele requer nossas almas
de nós, 'não podemos mais ser mordomos'.
I
1. Primeiro, nós iremos inquirir, em quais aspectos nós somos agora
mordomos de Deus. Nós estamos, no momento, em débito para com Ele, por tudo que
temos; mas embora um devedor seja obrigado a retornar o que ele recebeu, ainda
assim, até que o dia do pagamento chegue, ele está livre para usá-lo como lhe agrada.
Mas não acontece o mesmo com o mordomo; ele não está livre para usar o que está
temporariamente em suas mãos, como lhe agrada, mas como agrada a seu senhor. Ele
não tem o direito de dispor de coisa alguma que esteja em suas mãos, mas de acordo
com a vontade de seu senhor. Porque ele é proprietário de nenhuma dessas coisas, mas
apenas incumbido delas por outro; e incumbido nesta condição expressa, -- que ele
deva dispor de tudo como seu mestre ordena.
Agora, este é exatamente o caso de todos os homens com relação a Deus. Nós
não estamos livres para usar o que Ele nos colocou temporariamente em nossas mãos,
como nos agrada, mas como agrada a Ele, que é o único proprietário do céu e terra, e
o Senhor de toda criatura. Nós não temos o direito de dispor de coisa alguma que
temos, a não ser de acordo com a vontade Dele, uma vez que não somos donos de
qualquer uma dessas coisas; elas todas, como diz, largamente, nosso Senhor, são
pertencentes à outra pessoa; nem coisa alguma propriamente é nossa, na terra de nossa
peregrinação. Nós não podemos receber o que nos pertence, até virmos para nossa
região. Somente as coisas eternas são nossas: Com respeito a todas essas coisas
temporais, nós fomos apenas encarregados por outro, o Disponente e Senhor de tudo.
E Ele nos incumbe com elas nesta condição clara, -- que a usemos apenas como bens
de nosso Mestre, e de acordo com as direções pessoais que Ele nos dá em Sua palavra.
2. Nestas condições, Ele nos confiou com nossas almas, nossos corpos, nossos
bens, e quaisquer outros talentos que temos recebido: Mas, com o objetivo de
estampar esta verdade valiosa em nossos corações, será necessário virmos para os
particulares.
3. Agora, é certo que, disto tudo, somos apenas mordomos. Ele nos encarregou
desses poderes e faculdades; não para que possamos empregá-los, de acordo com
nossa vontade, mas de acordo com as ordens expressas que Ele nos deu; embora seja
verdade que, ao fazer a vontade Dele, mais efetivamente, asseguramos nossa própria
felicidade; vendo que é desta forma, tão somente, que podemos ser felizes, quer no
tempo, quer na eternidade. Assim, deveremos usar nosso entendimento, nossa
imaginação, nossa memória, para glorificarmos totalmente a Ele que os deu a nós.
Assim, nossa vontade deverá estar totalmente entregue a Ele; e todas as nossas
afeições, ajustadas como ele direciona. Nós somos capazes de amar e odiar; de nos
regozijarmos ou nos afligirmos; de desejarmos e evitarmos; de termos esperança e de
temermos, de acordo com a regra que Ele determina, a que, e a quem deveremos
servir em todas as coisas. Mesmo nossos pensamentos não são nossos, neste sentido;
eles não estão à nossa disposição; mas para cada movimento deliberado de nossa
mente, deveremos prestar contas ao nosso grande Mestre.
5. Nos mesmos termos, Ele nos concedeu o talento mais excelente, o da fala.
'Tu me deste uma língua', diz o escritor antigo, 'para que eu possa louvar a Ti, por
meio dela'. Para este propósito, ela foi dada a todos os filhos dos homens, -- para ser
empregada em glorificar a Deus. Nada, portanto, é mais ingrato, ou mais absurdo do
que pensar ou dizer: 'Nossa língua é nossa'. Não pode ser, a menos que tenhamos
criado a nós mesmos, e assim, sermos independentes do Altíssimo. Mais do que isto,
'foi Ele quem nos fez, e não nós mesmos'; a conseqüência disto, é que Ele é ainda
Senhor sobre nós; nisto, e em todos os outros aspectos. Segue-se que não existe uma
palavra de nossa língua, a qual não devamos prestar contas a Ele.
6. A Ele nós devemos igualmente prestar contas pelo uso de nossas mãos e pés,
e todos os membros de nosso corpo. Estes são os muitos talentos que estão confiados
à nossa responsabilidade, até o tempo determinado pelo Pai. Até, então, nós temos o
uso de todos esses; mas como mordomos, não como proprietários; para a finalidade
que devemos 'atribuir a eles, não como instrumentos da iniqüidade, junto ao pecado,
mas como instrumentos da retidão junto a Deus'.
8. Em Quarto Lugar, Deus nos encarregou com diversos talentos, que não
propriamente vieram sob alguns desses títulos. Tais como força física, saúde, uma
personalidade prazerosa, um trato agradável; tais como aprendizado e conhecimento,
em seus vários níveis, com todas as outras vantagens da educação. Tais como a
influência que temos sobre outros, quer através do amor e estima deles por nós, quer
pelo poder; o poder de fazer-lhes o bem ou lhes causar dano; de ajuda-los ou afastá-
los, nas circunstâncias da vida. Acrescente a esses, aquele talento invariável do tempo,
com o qual Deus nos incumbe de momento a momento. Acrescente, por fim, aquilo
do qual tudo o mais depende, sem o que, eles todos seriam maldições, e não bênçãos,
ou seja, a Graça de Deus, o poder de seu Espírito Santo, o único que opera em nós
tudo que é aceitável aos olhos Dele.
II
2. Parte daquilo de que fomos encarregados antes está no fim, pelo menos,
com respeito a nós. O que teremos de fazer, depois desta vida, com o alimento,
vestuário, casas e posses mundanas? O alimento dos mortos é o pó da terra; eles são
cobertos apenas com vermes e podridão. Eles habitam na casa preparada para toda
carne; suas terras não mais o conhecem: Todos os seus bens mundanos são entregues a
outras mãos, e eles não têm 'mais porção, debaixo do sol'.
Tanto mais, portanto, podemos aprender das palavras de Salomão que 'não
existe' tal 'conhecimento ou sabedoria na sepultura', como para ser de algum uso para
o infeliz espírito; 'não existe conselho', lá, por meio do qual podemos aperfeiçoar
aqueles talentos que Ele uma vez nos confiou. Porque não existe mais o tempo; o
tempo de nosso julgamento para a felicidade eterna ou miséria é passado. Nossos dias,
o dia do homem, estão terminados; o dia da salvação está terminado! Nada agora
permanece, a não ser 'o dia do Senhor', anunciando amplamente a eternidade
imutável!
9. De igual maneira, o entendimento irá, sem dúvida, ser liberto dos defeitos
que são agora inseparáveis dele. Por muitas épocas, tem existido uma máxima
inquestionável, -- a ignorância e o erro são inseparáveis da natureza humana. Mas a
totalidade desta afirmativa é apenas verdadeira, com respeito aos homens viventes; e
não duram mais do que enquanto 'o corpo corruptível pressiona a alma'. A
ignorância, de fato, pertence a todo entendimento finito (vendo que não existe nada
além de Deus que conhece todas as coisas); mas o erro: quando o corpo é deixado de
lado, este também é colocado aparte para sempre.
10. O que, então, podemos dizer para um homem engenhoso, que descobriu
ultimamente que os espíritos desprovidos da matéria não têm apenas sentidos (nem
mesmo visão ou audição), mas nenhuma memória, ou entendimento; nenhum
pensamento ou percepção; nem mesmo, a consciência de suas próprias existências!
Que eles estão em um sono profundo, da morte até a ressurreição! Na verdade, tal
sono nós podemos chamar de 'um parente próximo da morte', se não for a mesma
coisa. O que podemos dizer, a não ser que esses homens engenhosos têm sonhos
estranhos; e estes eles confundem, algumas vezes, com realidades?
11. Mas para retornarmos. Como a alma irá reter seu entendimento e memória,
não obstante a dissolução do corpo, então, sem dúvida, a vontade, incluindo todas as
afeições, irá permanecer em seu completo vigor. Se nosso amor ou ira; nossa
esperança, ou desejo perecerem, será apenas com respeito àqueles que deixamos para
trás. A eles não importa, se eles foram objetos de nosso amor ou ódio; de desejo ou
aversão. Mas, nos espíritos separados, em si mesmos, nós não temos razão para
acreditar que alguns desses serão extinguidos. É mais provável que eles irão operar
com uma força muito maior do que enquanto a alma esteve obstruída com a carne e
sangue.
12. Mas, embora todos esses; embora tanto nosso conhecimento e sentidos;
nossa memória e entendimento, juntos com nossa vontade, nosso amor, ódio e todas
as nossas afeiçoes, permaneçam depois do corpo ser sepultado; ainda assim, neste
aspecto, eles estão como se não existissem – nós não mais somos mordomos deles. As
coisas continuam, mas nossa mordomia não: Nós não mais atuamos naquela aptidão.
Mesmo a graça que foi anteriormente confiada a nós, com o objetivo de nos capacitar
a sermos fiéis e sábios mordomos, não mais se incumbirá deste propósito. Os dias de
nossa administração estarão terminados.
III
1. Agora permanece que, sendo não mais mordomos, nós daremos um relato
de nossa mordomia. Alguns têm imaginado, que isto será feito imediatamente depois
da morte, tão logo entramos no mundo dos espíritos. Mais ainda, a Igreja de Roma
absolutamente afirma isto; sim, faz disto uma cláusula de fé. Tanto assim, que nós
podemos admitir que, no momento em que a alma deixa o corpo, e fica nua diante de
Deus, e não pode deixar de saber qual será sua porção para toda a eternidade. Ela terá,
diante dessa visão, tanto a alegria eterna completa, quanto o tormento eterno
completo; já que não mais será possível ser enganado no julgamento que temos sobre
nós mesmos. Mas as Escrituras nos dá nenhuma razão para crer, que Deus irá, então,
sentar-se, em julgamento sobre nós. Não existe passagem em todos os oráculos de
Deus que afirme tal coisa. O que tem sido freqüentemente alegado para este propósito,
parece, antes, provar o contrário, ou seja: (Hebreus 9:27) 'E, como aos homens está
ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo. Porque, em toda razão, a
palavra 'uma vez' está aqui aplicada ao julgamento, tanto quanto à morte. De modo
que a inferência justa a ser esboçada deste mesmo texto é que não haverá dois
julgamentos: um particular e outro geral; mas que nós seremos julgados, assim como
iremos morrer, apenas uma vez: Nem uma vez, imediatamente depois da morte, e
novamente depois da ressurreição geral; mas, então, apenas 'quando o Filho do
homem deverá vir em Sua glória, e todos os seus santos anjos com Ele'. A
imaginação, portanto, de um julgamento na morte, e um outro no fim do mundo, pode
não ter lugar com aqueles que fizeram da Palavra escrita de Deus o total e único
estandarte de sua fé.
2. O tempo, então, em que deveremos dar este relato, é quando o 'grande trono
branco descer dos céus, e Ele que está assentado nele, de cuja face os céus e terra
fogem, e não é encontrado lugar para eles'. Então, 'os mortos, pequenos e grandes,
ficarão diante de Deus; e os livros serão abertos' (Apocalipse 20:11): O Livro das
Escrituras, àqueles que foram incumbidos disto; o livro da consciência de toda
humanidade. O 'livro da lembrança', igualmente (para usar uma outra expressão
bíblica), que foi escrito desde a fundação do mundo, irá, então, ser colocado aberto, às
vistas de todos os filhos dos homens. Diante de todos esses, até mesmo, de toda a raça
humana, diante do diabo e seus anjos, diante de uma companhia inumerável de anjos
santos, e diante de Deus, o Juiz de todos, tu irás aparecer, sem qualquer abrigo ou
coberta; sem qualquer possibilidade de disfarce, para dar um relato pessoal da maneira
como tu tens empregados todos os bens do Senhor!
"Tu seguiste minhas direções com respeito à tua vontade? Ela foi totalmente
entregue a mim? Ela foi tragada pela minha, de modo à nunca se opor, mas sempre
seguir paralelo a ela? As tuas afeições foram situadas e reguladas, da maneira como
eu indiquei em minha palavra? Eu fui objeto de teu amor? Todos os teus desejos
eram para comigo, e para com a lembrança do meu nome? Eu fui a alegria de teu
coração; o deleite de tua alma; o principal entre infinitos outros? Tu não te
entristeceste por coisa alguma, mas com o que afligiu meu Espírito? Tu temeste ou
odiaste alguma coisa mais, a não ser o pecado? Todo o fluxo de tuas afeições estava
de acordo com minha vontade – não com o propósito das finalidades da terra, nem
com a tolice, ou pecado, mas com quaisquer coisas que fossem puras; quaisquer
coisas que fossem santas; com o que quer que fosse condutivo para minha glória, e
para a paz e boa-vontade entre os homens?".
"Tu empregaste o corpo, no que eu incumbi a ti? Eu dei a ti uma língua para
me louvares por meio dela: Tu a usaste para a finalidade a qual ela foi dada? Tu a
empregaste, não na maledicência, ou diálogos vãos; em conversas impiedosas e
inúteis; mas em tais que foram boas, assim como necessárias e úteis, tanto a ti mesmo
quanto aos outros? Tais que sempre tenderam, diretamente ou indiretamente, a
'ministrar graça aos ouvintes?'".
"Eu dei a ti, juntamente com teus outros sentidos, essas grandes vias de
acesso de conhecimento, visão e audição: estes foram empregados para aqueles
propósitos excelentes, para os quais eles foram concedidos a ti? Para trazerem a ti,
mais e mais instrução na retidão e santidade verdadeira? Eu dei a ti, mãos e pés, e
vários membros, por meio dos quais executas as obras que foram preparadas para ti:
eles foram empregados, não para fazer 'a vontade da carne', da natureza
pecaminosa; ou a vontade da mente; (as coisas para as quais tua razão ou
imaginação conduzem a ti); mas 'para a vontade Dele que enviou' a ti para o mundo;
;meramente para operar tua própria salvação? Tu ofertaste todos teus membros, não
para o pecado, como instrumento de iniqüidade, mas a mim somente, através do
Filho de meu amor, 'como instrumentos de retidão?'".
"Tu tens sido um mordomo sábio e fiel, com respeito aos talentos de uma
natureza promíscua, os quais eu emprestei a ti? Tu tens empregado tua saúde e força,
não em tolice ou pecado; não nos prazeres que perecem ao uso, 'não em fazeres
provisão para a carne, para executares os desejos dela', mas na busca vigorosa
daquela melhor parte que ninguém poderia tirar de ti? Tu empregaste tudo o que era
agradável, em tua pessoa ou maneira; tudo o que conseguiste, através da educação;
tudo que compartilhaste do aprendizado; tudo que conheceste das coisas ou homens,
e que foram confiadas a ti, para promoveres a virtude no mundo, para ampliares o
meu reino?".
"Tu glorificaste a mim, com todo teu corpo e espírito, deste momento em
diante, através de tua alma e corpo, todos os teus pensamentos, tuas palavras e
ações, em uma chama de amor, como um sacrifício santo?".
E o que restará, tanto ao mordomo fiel, quanto infiel? Nada, a não ser a
execução daquela sentença que tem sido passada, através do justo Juiz; fixando a ti,
em um estado que admite nenhuma mudança, através dos tempos eternos!
Permanecerá, apenas, que tu serás recompensado, por toda eternidade, de acordo com
tuas obras.
IV