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Alta gerência

29/03/2007 11:19:24

A dura prova comportamental de muitos profissionais


(cont.)

Dra. Elizabeth Zamerul*

Pesquisas atuais mostram que, especialmente nos cargos executivos, cada vez mais
pessoas são demitidas por questões comportamentais. Um estudo de Daniel
Goleman examinou os fatores que mais prejudicam o desempenho dos executivos e
detectou deficiências nas seguintes áreas:

1. Flexibilidade: dificuldade de se adaptar frente às mudanças na cultura


organizacional ou frente aos feedbacks.
2. Vínculos: eram muito críticos, insensíveis ou exigentes e distantes das pessoas
com quem trabalhavam, estabelecendo laços frouxos, não genuínos.
3. Autocontrole: tinham pouca capacidade de trabalhar sob pressão, com
tendência ao isolamento ou a explosões de raiva, por perderem a autoconfiança em
situações de tensão ou crise.
4. Responsabilidade: não assumiam seus erros e reagiam defensivamente,
culpando os outros, ou escondendo seus erros.
5. Generosidade: eram gananciosos, dispostos a levar vantagem à custa dos
outros, não se mostravam íntegros ou atentos às necessidades dos subordinados e
colegas.
6. Habilidades sociais: não demonstravam empatia, nem sensibilidade; eram
mais propensos a intimidar, a enganar e a manipular os subordinados, além de
cáusticos e arrogantes.
7. Respeito e cooperação: dificuldade de construir uma rede de relacionamentos
de colaboração e eliminavam a diversidade, buscando homogeneizar o grupo.

O autor conclui que estes “desvios” profissionais e empresariais têm causas


emocionais, esclarecendo que, no início da carreira estas incompetências
emocionais não aparecem tanto, ficando muito óbvias quando o profissional se
transforma em gestor de pessoas, cargo para o qual não está preparado.

É importante ter cuidado para não generalizar estes dados, porém, minha
experiência acompanhando intensamente executivos como coach, mostra que este
estudo reflete a realidade. Por motivos como os apontados acima, é cada vez maior
o número de empresas que treina os comportamentos de seus líderes e cresce o
número de consultorias especializadas em coaching executivo e treinamentos no
amplo leque da liderança.

Porém, apesar de bem indicadas, estas soluções são corretivas e, quando não há
acompanhamento, podem ser superficiais. Para atuar preventivamente, é
necessário preparar os profissionais antes de entrarem na vida ativa.
Independentemente de quem sejam os responsáveis pela formação
comportamental das pessoas, é importante que alguma iniciativa seja tomada para
auxiliar os profissionais em ação a obterem melhores resultados.
E quem tem mais poder nas mãos para isto do que a universidade? É ela que se
responsabiliza pelo preparo de milhares de novos profissionais a cada ano e, em
geral, a lacuna entre a necessidade real das competências comportamentais do
mercado e a bagagem adquirida nos bancos escolares é clara.

Desta forma, tecnicamente bem formado, o jovem passa por entrevistas de


seleção, que geralmente avaliam algumas competências necessárias para o perfil do
cargo, como iniciativa, liderança, criatividade, protagonismo, administração do
tempo, relacionamento interpessoal, foco em resultados, organização e
planejamento, comunicação, assertividade, inovação, trabalho de equipe,
negociação, administração de conflitos, pensamento sistêmico e estratégico,
flexibilidade e outras. Imagino, cheia de compaixão, o nível da angústia por que
passam tantos profissionais nestes momentos, conscientes de que não foram
preparados de fato para este grau de exigência. E, mesmo que sejam vitoriosos na
entrevista, enfrentam, em seguida, uma segunda seleção, muito mais dura e
decisiva, a dos desafios cotidianos na empresa.

Não é à toa que Goleman notou, em seu estudo, tantos jogos de poder entre as
pessoas. Se não há preparo real, é preciso esperteza (no mau sentido) para vencer.

Por outro lado, cada profissional também pode perceber suas deficiências e tratar
de repará-las, se tiver desenvolvido autopercepção suficiente. Porém, até este
ponto, pode-se passar muito tempo e os prejuízos serem altíssimos, para ele e para
as empresas.

Não há mistério em treinar pessoas em comportamentos. Há profissionais


habilitados para ensinar estas competências no mercado e, como vimos, há
carências enormes da parte das pessoas. Para esta complementação na formação
profissional atual, seria fundamental que a universidade tomasse para si, pouco a
pouco, esta incumbência.

O nicho de mercado está aí e as faculdades que se adiantarem para atendê-lo,


poderão se beneficiar da iniciativa. Isto representaria uma atuação visionária,
corajosa e de grande avanço na resolução deste problema.

Fonte: Portal HSM On-line

28/03/2007
Zamerul, Elizabeth

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