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"Contrariamente ao que às vezes se diz, nossa época é por excelência o tempo do escrito.
Nenhuma tarefa, hoje, pode ser levada a bom termo sem o recurso ao escrito. Quer se trate
de tarefas profissionais, de tarefas ligadas à vida cotidiana, de atividades de lazer ou de
deveres do cidadão, é necessário antes de mais nada ler e muito freqüentemente escrever. E
todos aqueles que se desencorajam com essas atividades se acham condenados à
dependência, ficam marginalizados, e tornam-se presas fáceis de todas as formas de
manipulação e mesmo de opressão. Com o prodigioso desenvolvimento de novas técnicas,
esta tendência certamente se ampliará, resultando diretamente numa sociedade na qual os
que sabem ler terão sob seu poder aqueles que não sabem, os que se deixarão se distanciar -
ou que a sociedade distanciará - pelo conhecimento." (1) EVELINE CHARMEUX.
Aprender a Ler : Vencendo o Fracasso, p.10.
Não que os escritos sejam a pura expressão da verdade: há muito lixo, há muita mentira que
encontra na escrita o seu principal meio de circulação. Entretanto, havemos de convir que
as conquistas culturais da humanidade vêm sendo registradas por vários tipos de escrita ao
longo destes dois milênios de existência humana. Portanto, ser leitor é ter a possibilidade de
recriar essas conquistas e produzir outras tantas na linha evolutiva da história.
Não que o conhecimento ocorra única e exclusivamente através dos livros ou seus similares
- vendo, ouvindo, falando, fazendo, etc. também somos capazes de compreender e conhecer
os fenômenos. Porém, o adentramento crítico em um conjunto bem selecionado de textos
sobre um determinado assunto pode ajudar a conhecê-lo melhor e com maior profundidade.
Por vezes, reconheçamos, não simplesmente "ajudar" nesse processo, mas colocar-se como
imprescindível ou vital no processo de construção do conhecimento sobre esse assunto.
Esta breve introdução serve para desmistificar a idéia de que sem a leitura da palavra
escrita não existe a possibilidade de conhecimento da realidade. Analfabetismo não é
sinônimo de ignorância a respeito dos múltiplos problemas ou desafios que sempre
envolveram a existência do homem. A alfabetização e a leiturização abrem novas
perspectivas de participação social pela inserção da pessoa letrada no mundo da escrita -
mundo esse que conserva, registra bens culturais específicos, permitindo, pela leitura, a sua
recriação e o seu incremento pelos homens. Homens leitores...
Ai o ponteiro da tortura
naquela sala
que a matemática tornava mais escura
em vez de iluminá-la.
Felizmente só o nada-de-mim ficava lá dentro.
O resto ouvia no páteo em-que-nos-sonhamos,
pássaro a aprender os cálculos do vento
aos saltos do chão para os ramos.
Mas só quando voltava para casa à tardinha
encontrava a minha verdadeira matemática à espera
na lógica dura das teclas do piano,
no perfil-oiro-pedra da vizinha,
na flauta de água macia do tanque -
chuva de Mozart nos zincos da Primavera...
(B) Seleção e Seqüenciação de Textos Ciente do tema que acende a curiosidade do grupo,
pesquisar textos (de preferência literários) que atendam a essa curiosidade e que, uma vez
dinamizados através de atividades específicas, vá aumentando o seu grau de compreensão e
conhecimento ao longo do percurso curricular.
Não que uma andorinha só seja incapaz de fazer um verão: um único professor, se for um
leitor consciente e bem preparado pedagogicamente, pode fazer verdadeiros milagres no
que se refere ao desenvolvimento do gosto pela leitura junto aos seus grupos de alunos.
Mas, em caso de a promoção da leitura na escola ser assumida coletivamente,
integradamente, interdisciplinarmente, transversalmente pelo coletivo docente como um
todo, as chances do cultivo do amor pelos livros serão muito maiores. Não é chegada a hora
de fazer valer a máxima de que a leitura, por ser um instrumento do conhecimento, é
responsabilidade de todos os professores, de todas as disciplinas ?
Não que o desejo de interação com as obras escritas decorra somente de trabalhos
escolares; por vezes, esse desejo pode nascer de situações sociais as mais diversas,
conforme os rumos da vida de cada cidadão. Mas, convenhamos, a escola pode ser e deve
ser um reduto privilegiado para a aprendizagem da leitura e para a convivência prazerosa
com os livros. Quando, afinal, as nossas escolas retomarão, com a devida autoridade e
autonomia, a razão de ser da sua existência, ou seja, o compromisso com a promoção do
conhecimento junto às novas gerações ? Não que somente um único texto esporádico, lido
despretensiosamente em algum lugar deste mundo, leve o leitor a levitar na fantasia, a
sentir o prazer de ganhar um conhecimento. Entretanto, múltiplos olhares poéticos, numa
seqüência organizada de textos, podem refinar/educar as retinas que orientam a curiosidade
dos leitores no contexto da escola.
RUMO AO SUMO
Disfarça, tem gente olhando.
Uns, olham pro alto,
cometas, luas, galáxias.
Outros, olham de banda,
lunetas luares, sintaxes.
De frente ou de lado,
sempre tem gente olhando,
olhando ou sendo olhado.
Outros olham para baixo,
procurando algum vestígio
do tempo que a gente acha,
em busca do espaço perdido.
Raros olham para dentro,
já que dentro não tem nada.
Apenas um peso imenso,
a alma, esse conto de fada.
Achamos que o professor, no que se refere a sua vida como leitor e como responsável pela
formação de outros leitores, tem que reaprender a olhar. Olhar para todos os lados, para
dentro e para fora. Urgentemente !
NOTAS
(1) CHARMEUX, Eveline. Aprender a Ler: Vencendo o Fracasso. SP: Cortez, 1994, p. 10.
(2) NUNES, Lygia Bojunga. Livro. Um encontro com Lygia Bojunga Nunes. RJ: Agir,
1988, p.7-8.
(3) FERREIRA, José Gomes. "(Descoberta da 'outra' matemática)". In A Escola na
Literatura. Antonio Nóvoa e Jorge Ramos do Ó (org.) Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1997, p.131.
(4) CHARMEUX, Eveline, op. cit., p.89. * fotos de Harvey Finkle IN Readers. A Book of
Postcards. San Francisco : Pomegranade, 1996. BIBLIOGRAFIA MÍNIMA BRAGATTO
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Ezequiel Theodoro. Criticidade e Leitura. Ensaios. Campinas: ALB & Mercado de Letras,
1998. ZILBERMAN, Regina. A Leitura e o Ensino da Literatura. SP: Contexto, 1988.
ZILBERMAN, Regina (org.). A Produção Cultural para a Criança. Porto Alegre: Mercado
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