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A Redescoberta do Mundo Encantado dos Elfos

FREY

Apesar de serem ténues as referências que permitem estabelecer uma comparação clara entre Devas e
Elfos na tradição germano-nórdica, existem, porém, traços que nos conduzem ao cruzamento entres
este seres. Isto porque se considerarmos que os Devas são um tipo de Anjos que organizam a
actividade dos elementais, orientando-os nos processos criativos e depurativos ao longo do ano, sendo
por vezes representados no imaginário cultural com uma vara na mão, talvez exista algum ponto de
convergência, já que os Elfos são seres elementais.

O Mundo de Utgandr
Curiosamente, existe uma dimensão de realidade paralela à de Midgard (Terra) designada por Utgandr,
o reino de elementais no nível mais puro da sua natureza e, por isso, dotada de um enorme potencial
para trabalhos mágicos.

"Gandr" significa na linguagem germânica vara/bastão que contém ou exprime um determinado poder
mágico que é projectado/orientado para um certo objectivo, com ajuda de expressões verbais de
idêntico poder.

"Ut" leva-nos para o que está para além. Percebe-se, então, de certo para quem está mais familiarizado
com questões da magia, a grande característica destes seres tão subtis quanto o vento. É interessante
sublinhar aqui uma das obras de Skakespeare, "Tempestade", cuja acção se desenvolve em torno de
mago desterrado que numa ilha estabelece uma relação de domínio com um elemental que o usa com
propósitos mágicos, com força suficiente para provocar uma valente tempestade. Não deixa de ser
curioso que expressão Shakespeare significa "Aquele que Agita a Lança" (shake+spear) tal como o
inspirado Odin, com a sua lança Gaugnir ou na sua faceta de Girmnir (Mascarado) que ao longo da sua
caminhada por entre os mortais, apoiado com no seu bastão, fixando uma cadência de ritmo nas
escaldas.

Estes seres diversificados pertencem a "famílias" variadas, sendo encontrados também em dois dos
Nove Mundos da cosmogonia nórdico-germânica, ou seja a Grande Árvore Yggdrasil.

Os Elfos Brilhantes

Alfheim está situado abaixo de Asgard (Mundo dos Deuses) e é o reino dos Elfos Brilhantes (Alf),
morada de Frey e de Balder. Este patamar um lugar de emanação de luz translúcida. Estes pequenos
seres luminosos habitam nos raios solares (Sól alvglans)e cantam doces canções de verão, lembrando a
alegria das crianças. São tão brilhantes que não se consegue olhar para eles de frente. Trata-se de um
mundo de criaturas sobrenaturais vivendo na essência vital da natureza e tendo uma relação estreita
com as fadas.

Devido à sua proximidade com Vanaheim, o reino dos Elfos também inspira à sexualidade e fertilidade.
Foram os obreiros das cintas de seda que prenderam o lobo Fenris. A sua resistência deve-se às suas
artes mágicas que engendraram uma fórmula composta por coisas secretas e impalpáveis originárias
da terra: das raízes de uma montanha, do barulho de um gato em movimento e da respiração de um
peixe.

Os Elfos Negros

Depois temos SVARTALFAHEIM. Aqui habitam os elfos-negros e os anões.

É o mundo subterrâneo que se localiza logo abaixo de Midgard, onde o minério era trabalhado e onde
foram criados os tesouros dos Aesir.

Eles criam e dão a forma a todas as coisas metálicas oriundas do subsolo. Os elfos-negros são exímios
trabalhadores do ouro (simbologia com o Sol), e revelam a força telúrica de Frey (um Deus
curiosamente relacionado com o culto dos mortos). São seres da Natureza que vivem debaixo das
rochas, nas montanhas e podem ser encontrados sobretudo junto das pedras circulares, geofania do
Sol.
É neste plano que, também, vivem os anões, estes mais talhados para os trabalhos com os metais
pesados. Os elfos-negros lidavam somente com o ouro, um dos aspectos de Frey. Aqui entra a relação
dual Beleza-Fealdade, Luminoso-Escuro, Terreno-Celeste, Ctónico-Uraniano.

É um mundo simétrico a Alfheim e representa a energia telúrica de Frey, a sua força sexual
reprodutiva. Existem, nomeadamente, esculturas em Uppsala deste Deus com um enorme falo. O Deus
Frodi/Frey foi enterrado num pequeno monte (mamoa) para garantir três anos de boas colheitas. Frey
rege, portanto, este mundo subterrâneo da morte e da vida, o "Homo Humus" de que fala Regis Boyer.
Existem lendas germânicas de pedidos de boas colheitas a um Sol Subterrâneo, temendo um inverno
rigoroso.

O Mundo dos Anões Ferreiros

Os anões vivem também debaixo das rochas e das montanhas. Eles eram artesãos metalúrgicos, com
predomínio no trabalho do ferro. Os anões construíram o barco de Frey e criaram o javali com pêlos de
ouro.

Mas os anões (os dwarvs) também tinham uma faceta destrutiva, como poderás encontrar na lenda de
Kvasir. Kvasir era considerado o homem mais sábio da terra porque nasceu da fervura das salivas dos
Vanir e dos Aesir, num pacto de tréguas na guerra entre estas divindades.
Dois anões assassinaram Kvasir e do seu sangue fizeram o hidromel que ainda hoje bebemos nos Blots
(rituais), e que Odin acabaria por roubar ao gigante Suttung. Desta forma tentamos cerimonialmente
participar da sabedoria de Kvasir e equilibrar a nossa dupla origem mágica vinda dos impulsos
mistéricos dos Vanir e dos Aesir.
Enfim, outras das muitas histórias de um longo imaginário cultural dos povos de origem germana e que
tanto nos tocam: a nós que trazemos o barro dos Suevos no nosso sangue.

Com esta explanação oferece-se algumas pistas úteis para uma reflexão sobre um mundo fantástico
que nos ajuda a exercitar a imaginação. Ao redescobrir a generosidade dos elementais estaremos
também a reatar a nossa união com a natureza, a Grande Mãe que nos nutre e acolhe, oferecendo-nos
a alegria de viver. Como no “Sonho de uma Noite de Verão”, de Shakespeare, despertaremos com um
novo significado para a nossa existência.

Hail, Hail

Valquiria Valhalladur

http://www.projectokarnayna.com/textesot/textosap.htm

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