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COMPORTAMENTO
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experimentação e na medida; e que a razão é o melhor caminho para se atingir o
conhecimento.
O associacionismo foi de muita importância para o desenvolvimento da
psicologia experimental. Sua questão central concentra-se em querer saber o que faz
com que as idéias se unam e se guiem umas às outras e como estas idéias
associadas se tornam estáveis e duradouras. Tanto James Mill (1773-1836),
elementista, que concebia a mente como um composto de idéias simples e
complexas, associadas por contigüidade; quanto Herbert Spencer (1820-1903),
teórico do associacionismo evolucional que precede a teoria das espécies de Darwin
(1809-1882), contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento da psicologia,
através do exame dos problemas, do pensamento, sob a perspectiva de realidade
das ciências naturais.
Apesar do materialismo ser uma tendência que remonta desde o período
Cosmológico, com os filósofos gregos, teve seus princípios da época retomados no
materialismo científico, a terceira corrente de emancipação da psicologia. No
entanto, nesta nova abordagem o princípio está em conhecer qual era o elemento
fundamental que segue a natureza (Água? Fogo? Átomo?), descartando toda uma
perspectiva de sobrenatural, de destino; e, sobretudo, mitos e princípios
deterministas religiosos.2
Como diversas outras ciências, a psicologia também adveio da filosofia.
Baum (1999), aborda em seu livro: “Compreender o Behaviorismo” que todas as
ciências – como a astronomia, química, física, biologia – tiveram sua gênese na
Filosofia, porém, cindiram-se dela, uma vez que, as especulações já não mais o
eram suficientes.
Para Isaac Newton (1642-1727)3, os conceitos de força e inércia, assim como
de corpos celestiais foram além de meras especulações; todavia, partiram de
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Houveram ainda tendências isoladas na época, que estiveram fora do cenário das correntes científicas e
filosóficas ; tais como : a Psicologia do Ato, criada por Franz Brentano (1838-1917), alemão de origem italiana; a
Psicologia Fenomenológica, com Carl Stumpf (1848-1936) e Edmund Husserl (1859-1938) e a Escola Romântica
e Naturalista (1712-1778) com Jean Jacques Rousseau (1712 – 1778).
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William Baum (1999) faz uma explanção evolutiva sobre esta visão filosófica com outras ciências , apontando as
contribuiçõesde Isaac Newton .
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esquemas observados e descritivos para compreensão do movimento. Newton,
como outros pensadores romperam com as verdades absolutas da Filosofia, para a
verdade científica, que se baseia na contestação, na refutação, por caracterizar a
ciência como relativa e provisória.
Como as respostas dadas pela filosofia não atendiam mais às necessidades
prementes, estava formado o palco para o surgimento da ciência psicologia. Como
pioneiros do período científico da ciência psicológica, estavam Gustav Theodor
Fechner (1801-1887), alemão, que contribuiu com a publicação de sua obra
“Elementos de Psicofísica” (1860), onde discutia o paralelismo mente x corpo e a
postulação metodológica para testagem das sensações através dos estímulos; e
Wilhelm Wundt (1832-1920), publicando “Elementos de Psicologia Fisiológica”
(1864), além de ter criado o primeiro laboratório experimental em Leipzig
(Alemanha), em 1879, o que lhe concedeu a paternidade da psicologia.
A psicologia estava preocupada neste período em estabelecer-se como
ciência; em banir a idéia de ser o estudo da vida mental e da alma e passar a ser o
estudo da consciência ou dos fatos conscientes. Posteriormente, com Watson e o
behaviorismo, a “luta” estabelecer-se-á em opor-se a processos mentalistas, como a
consciência, em razão de um objeto de estudo passível de observação – o
comportamento.
A estruturação do corpo da nova ciência que desabrochou, dá razão à
formação de cinco tendências ou escolas psicológicas no início do século XX, foram
elas: o Estruturalismo, o Funcionalismo, o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise.
Tanto o Estruturalismo quanto o Funcionalismo preocuparam-se com
conteúdos de teor mentalista. O primeiro, sob representação de Eduard Bradford
Titchener (1867-1927), também define a psicologia como ciência da consciência ou
da mente, como Wundt, e tinha a tarefa de descobrir quais são os elementos que a
estruturam (‘sugestivamente’, o termo prediz); caracterizando um sistema
elementista, atomista e associacionista. Já o segundo, com respaldo em William
James, busca conhecer o funcionamento da mente e de suas operações, de como
atua e em que condições. O foco de estudo estava no aspecto instrumental da
consciência, cuja função é dirigir o comportamento e ajustar o homem às condições
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ambientais, isto é, ao meio físico e social onde a consciência exerce uma atividade
adaptativa e é um instrumento para a resolução de problemas. Isto faz com que o
funcionalismo se enquadre numa metodologia filosófica pragmatista; em virtude da
função da consciência não se conhecer, mas adaptar-se, envolvendo-se, portanto em
ordem prática de funcionabilidade.
Quanto ao Behaviorismo, o foco deste trabalho, John B. Watson (1878-1988)
não se contentou em “mentalizar”. Ao invés, visou provar que a psicologia para ser
ciência não pode ser tautológica, nem aceitar uma conceitualização determinista.
Buscou na psicologia animal apoio nos métodos que se assemelhavam às das
ciências naturais.
A Gestalt surge na Alemanha com Max Wertheimer (1880-1943) por volta de
1910/1912 e retroalimenta as raízes mentalistas da consciência ao se dedicar ao
estudo da percepção. Estuda os processos psicológicos (aprender, agir, relacionar-
se, motivar-se, etc) a partir das sensações e de uma organização de dentro para fora
e dá relevância ao estudo das relações entres as partes que compõe o todo.
Por último, mas não menos importante, vem Sigmund Freud (1856-1939),
idealizador do movimento psicanalítico. Este se caracteriza pelo maior
distanciamento quanto ao objeto de estudo em relação às outras tendências/escolas
da época (até hoje). Suas preocupações estavam voltadas para o que denominou de
inconsciente, contrapondo-se a todo saber até então configurado, já que tanto a
consciência quanto o comportamento eram presentes nas discussões. Distinguiu os
graus da vida em: consciente, inconsciente e subconsciente, postulou teorias sobre
as fases de evolução do sujeito associados ao seu desenvolvimento sexual e
estudos voltados para pessoas portadoras de perturbações mentais, de modo
especial às acometidas de histeria.
Resgatada a gênese da Psicologia, a seguir serão descritas as bases do
Behaviorismo, a ênfase de nosso trabalho.
Bases do Behaviorismo
Behaviorismo Watsoniano ou clássico
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Na última metade do século XIX tornou-se costumeiro chamar a psicologia de
“ciência da mente”, pois era mais acessível ao estudo científico do que psiche (usada
pelos gregos). Para o estudo da mente foi proposto o método do introspeccionismo
que deixava pouco à vontade alguns dos psicólogos dessa época, como relata Baum
(1999), em virtude de que tal método científico parecia pouco confiável, vulnerável à
distorções pessoais.
Esta subjetividade não permeava o que difundiam as outras ciências no
mundo inteiro, em que se utilizavam medidas verificáveis e replicáveis em
laboratórios.
Alicerçado no método objetivo, F.C. Donders (1818-1889)4, foi um dos
pioneiros da psicologia objetiva, que visava desenvolver métodos para medir os
processos mentais de forma objetiva. Ele se inspirou num intrigante problema
levantado pela astronomia, em como calcular a hora exata em que uma estrela
estará em determinada posição no céu.
Outra corrente que teve influência na base do behaviorismo foi a psicologia
comparativa, que tinha como pressuposto o fato de encarar o homem não com um
ente à parte, destacado das outras espécies de seres vivos e sim pertencendo a um
continuum, isto é, a idéia de que mesmo as espécies mantendo características
distintas entre si, assemelhavam-se umas às outras, à medida que compartilham
uma mesma história evolutiva. O objetivo era que entendendo a expressão
rudimentar de traços mentais, em espécies mais primitivas, pudesse dar uma idéia
de como se desenvolvia os traços mentais em nossa espécie.
Dentre as influências mais veementes para a posição comportamentalista,
estão os estudos com animais, delineados tanto na Psicologia Animal, como também
através da Psicologia Comparativa, citada anteriormente. A relação entre a psicologia
animal e o comportamentalismo está tão clara, que Watson, citado por
Schultz&Schultz (1981)5, declara:
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F. C. Donders (1818 – 1889) é descrito em Baum (1999) .
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Os autores Duane P. Schultz e Sydney Ellen Schultz, na obra: “História da Psicologia Moderna”, retratam todo
o curso histórico tanto da Psicologia, quanto das escolas de pensamento, dentre elas o comportamentalismo
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“O comportamentalismo é uma consequência
direta de estudos sobre o comportamento
animal[feitos] no decorrer da primeira década
do século XX” (Watson, 1929)”.
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“Todo ato que, numa dada situação, produz
satisfação fica associado com essa situação,
de maneira que, quando a situação se repete o
ato tem mais probabilidade de se repetir do
que antes. Inversamente, todo ato que, numa
dada situação, produz desconforto se torna
dissociado dessa situação, de maneira que,
quando a situação se repete, o ato tem menos
probabilidade de se repetir do que antes”
(Thorndike, 1905).
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pai fugiu com outra mulher), vivendo em uma situação de extrema pobreza e
carregando nas costas o título de “delinqüente”. (contam Schultz & Schultz, 1981);
“tornar-se” o fundador e defensor do comportamentalismo.
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Considerado insolente e preguiçoso na infância e juventude, Watson se matricula na Unversidade Furman, dos
batista, em Greeville aos dezesseis anos decidido a ser ministro religioso, promessa feita á sua mãe ( este antes de
morrer o liberou da “dívida”.
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Indubitavelmente, os métodos do comportamentalismo foram um “atentado” e
teor de repúdio aos “ditos psicólogos” (os mentalistas com seus estudos acerca da
consciência) e através do método introspeccionista). Porém, os mais jovens,
provenientes da década de 20, apoiavam na surdina o movimento, que foi crescendo
gradativamente e alcançou popularidade com público leigo, pois, todos estavam
interessados e/ou curiosos na proposta de Watson de uma sociedade baseada no
comportamento cientificamente modelado e controlado.
Com relação aos métodos, Watson sumaria que seriam: a) a observação, com
ou sem instrumentos; b) os métodos de teste; c) método do relato verbal e d) os
métodos do reflexo condicionado.
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Instinto, emoção, aprendizagem e pensamento passaram do status de
tautologias mentalistas ao topo de respostas condicionas. Coisas que pareciam
herdados podiam ter sua origem no treinamento da infância, assim, não é que as
crianças nasciam com aptidão para ser grandes músicos ou atletas, mas eram
influenciados pelos pais nestas direções, através do reforço e encorajamento, não
reduzindo tal processo à concepção de que seria algo instintivo, exemplificando.
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Schultz & Schultz (1981) relata sucintamente a biografia de Skinner.
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“Escritor” de longa data (gostava de escrever quando criança) seus poemas e
histórias não faría-mo-nos imaginar que cederiam lugar para a postulação de
princípios tão “seguros” e precisos no desenvolvimento de uma Ciência do
Comportamento. Porém, após tantas desilusões amorosas, Skinner descarta de vez
seu lado poético, e inspirado por Watson e Pavlov, decide transferir seu interesse
literário pelas pessoas para um interesse mais científico, quando em 1928, inscreve-
se numa pós-graduação de psicologia em Harvard.
Por falar de operar, Skinner lega em seu estudo com ratos, utilizando um
instrumento, que ficou divulgadamente conhecido como “Caixa de Skinner”,
conceitos como Comportamento Respondente e Comportamento Operante (a
conceitualização do Behaviorismo Radical será retomada no tópico seguinte). De
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forma exemplificada: o comportamento do rato ao pressionar a barra e receber
comida é operante; ele não recebe nenhuma comida enquanto não pressionar a
barra. O recebimento da comida é o reforço por sua emissão de comportamento. Já
o comportamento respondente, conceitua-se ao comportamento do “cão de Pavlov”
que responde ao estímulo condicionado (a luz acesa) produzindo uma resposta
condicionada (salivação).
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Apontadas as “altas” e “baixas” do mesmo, ao fazer uma breve retomada
evolutiva; perpassando do auge ao que ele denominou não de declínio, mas, sobre
vitória, pois, o fato de ser menos discutido e debatido hoje em dia , é porque na
verdade ele venceu o debate intelectual(o comportamento venceu!). Apesar das
constantes tentativas de abafar a corrente fundamentada de pensamento seja nas do
início do século XX com a metodologia introspeccionista, seja na derrocada da
década de 60 com o cognitivismo, cujo retrata um retrocesso , um atraso em resgatar
a postura mentalista, ‘re-lançando’ termos como pensamento, emoção, etc. Isto é
tão evidente, que o próprio autor(Roediger,2004) - sendo cognitivista - assume este
‘ato falho’ – diria Freud – ou esta ‘discriminação’ – termo preferível, é claro – diria
Skinner.
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