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PONTO DE VISTA

Temos tido mais do


que o suficiente
sobre fatos
externos, mais que
algum erudito, em
algum momento,
possa ser capaz de juntar em um todo, o suficiente para manter
todos os que lidam com conhecimento ocupados pelo resto de
seus dias. Mas, sobre os fatos internos - aquilo que acontece no
ponto onde nascem as forças do nosso destino - nós ainda
estamos totalmente ignorantes. (W. Barret)

Atualmente, estamos diante de uma mudança na visão científica da ecologia. O


ambiente urbano e a interferência do ser humano estão começando a entrar na
equação e não mais estão sendo tratados como se fossem estruturas complexas a
serem ignoradas ou repudiadas. Já podemos encontrar (principalmente nos
países do dito Primeiro Mundo) cursos de pós-graduação em Ecologia Urbana e
Ecologia Humana.

Por isso, é preciso enfatizar que a saída do homem (em termos gerais) não parece
mais se tratar de tentar voltar a um estado natural e primitivo, de coletores ou
caçadores da floresta. É muito comum ainda, uma postura romântica e saudosista
em relação ao meio ambiente. Os rios da cidade são importantes, o verde da
cidade é importante, sem dúvida, mas a proposta vai muito além disto. A sociedade
e cultura evoluíram demais e é dentro do padrão de realidade atual que devemos
buscar as respostas.

Se tentássemos imaginar um ambiente urbano rico em vegetação, cursos de água


e animais silvestres, ainda assim, restaria a pergunta: o ser humano seria capaz
de se relacionar com o meio ambiente e consigo mesmo de forma mais
harmônica? Haveria um salto em termos de consciência, atitudes, conhecimento,
capacidades, emocionalidade? Haveria alguma mudança efetiva na relação entre
os habitantes da cidade, no sentido de aumentar o grau de sensibilidade frente às
necessidades e direitos do outro e ao mesmo tempo, uma percepção e maior
daquilo que é o dever de cada um?

Sem dúvida, estas perguntas envolvem muitas áreas para serem respondidas de
forma ampla e adequada. Mas ainda assim, qual o tamanho da "fatia" que envolve
a relação com o meio ambiente?

2. RECONHECENDO OS ANTEPASSADOS

Os povos indígenas têm um enorme arsenal de informação sobre


a natureza, o homem e a relação equilibrada entre ambos. Desde
suas crenças acerca do mundo espiritual até seu conhecimento
sobre as florestas, agricultura e técnicas de cura, essas
sociedades representam uma oportunidade para novas
interpretações sobre o mundo e sobre nós mesmos. (Congresso
dos EUA)
Os povos antigos podem nos ajudar a compreender muitas coisas. Apesar da
realidade atual ter mudado tanto e em tão pouco tempo, ainda assim, alguns
elementos essenciais permanecem os mesmos, e se expressam fortemente. Se
foram ou não empurrados para o inconsciente, isto abre outra discussão, que será
retomada adiante.

O xamanismo pode ser categorizado como a tentativa de situar o indivíduo para


além da realidade consensual com a qual a maioria das pessoas está identificada
e, deste ponto, sua relação com o ambiente e com os outros seres é,
conseqüentemente, mais harmônica e adequada..

O xamanismo está baseado em métodos e técnicas bem precisas. Não se trata


portanto, de uma religião com um conjunto fixo de dogmas. Mas, o xamanismo tem
como objetivo básico gerar indivíduos que estejam a "serviço". Ele não lida com
jogos de poder e vantagens de qualquer espécie, sejam políticas, monetárias,
sexuais, etc.. Isso não acontece devido a um aspecto moralista ou que de alguma
forma é imposto ao xamã. Ao contrário, é comum encontrarmos citações onde o
xamã se mostra como alguém esperto e que pode ludibriar as pessoas. Ou seja,
as regras que norteiam sua conduta não nascem de fora, mas sim, de uma
percepção acurada da realidade e seguem um padrão ético determinado por um
tipo de sabedoria superior e não por um conjunto de acordos vantajosos que
normalmente norteia o modo de agir da maioria dos homens. É bom esclarecer,
que falamos aqui do real xamanismo. Casos de embuste estão presentes em
todos os campos.

3. APRENDIZADO

"Você é um Deus?", perguntaram ao Buda. "Não", ele respondeu.


"Você então é um anjo?" "Não."
"Um santo?" "Não."
"Então o que você é?"
O Buda respondeu: "Eu estou desperto."

As técnicas que levam o xamã a atingir o conhecimento que lhe é característico,


passam necessariamente através da experiência pessoal, e este conhecimento diz
respeito a si mesmo, ao homem e a relação deste com a terra. Essas tecnologias
formativas envolvem rituais, iniciações, sonhos, cânticos, "jornadas" feitas através
de técnicas sofisticadas de visualização e imaginação ativa, etc. Elas conduzem à
uma jornada em direção ao mundo interior em busca de sua origem ou raiz.
Começam por um nível pessoal, depois social, tribal e vão em direção aquilo que é
chamado de "mundo subterrâneo". Essa dimensão tem uma influência
transformadora no desenvolvimento do indivíduo, pois utiliza imagens universais,
acerca da origem e destino do homem, o que termina por gerar um conhecimento
e emocionalidade bastante específicos e o desenvolvimento de capacidades
especiais.

Alguns aspectos básicos de seu treinamento podem ser aqui apresentados de


forma resumida. Esse treinamento apresenta duas dimensões: uma dela é
pessoal, onde o xamã desenvolve capacidades e qualidades e a outra é
"relacional", ou seja, envolve o ambiente onde ele vive, seja a floresta ou a cidade.

Inicialmente, o xamã é levado a desenvolver uma atitude básica que o diferencia


fortemente do meio social: ele é capaz de exercer e manter uma maior capacidade
de atenção. Assim sendo, ele consegue obter informações do ambiente que são
mais objetivas, ou dizendo de outra forma, menos poluídas por seus aspectos
pessoais internos. É a partir dessa apreensão limpa e intensa da realidade que ele
começa o seu aprendizado. Ele pode, observando e interagindo com o meio, obter
conhecimento. Ou seja, ele é treinado a buscar no ambiente uma atuação mais
interativa e isso se torna possível graças ao seu poder de atenção. O
desenvolvimento da capacidade de atenção e observação voltadas para si permite
ao xamã ter consciência de seus limites que o separam da realidade, e também de
seus potenciais, que devem ser despertados para que ele possa interagir de
forma adequada com o meio. Por outro lado, esta atenção, quando voltada para o
ambiente, permite ao praticante o uma percepção da vitalidade aparente e do
conjunto de forças e símbolos sutis que atuam de forma consciente ou
inconsciente sobre os indivíduos e sobre a própria terra.

O segundo componente apoia-se num tipo de sensibilidade, que desenvolve-se a


partir de uma atitude que poderíamos chamar de "identificação". Os xamãs
possuem uma maior capacidade de identificação com a meio ambiente e não se
distraem facilmente com seus próprios conteúdos internos ou com eventos
socialmente impostos ou valorizados. Geralmente, ele é treinado a buscar
estabelecer relações com elementos que transcendem a realidade ordinária com a
qual a humanidade normalmente se identifica, que na maioria das vezes, resume-
se em constructos mentais formados internamente.

A partir disso, numa escala crescente, ele é direcionado a sensibilizar-se a blocos


de eventos, onde existe a busca por apreender totalidades ou padrões mais
globais e unitivos. Disso nascem as histórias onde o xamã é descrito como aquele
que consegue prever os acontecimentos por causa do canto de um determinado
pássaro, ou que é capaz de fazer chover, etc. O pressuposto aqui é de que o xamã
mantenha uma postura onde a relação com a realidade, seja sempre nova. Ele
relaciona-se com o evento que está ocorrendo no momento presente e não com
uma memória formada anteriormente.

O passo seguinte consiste em aprender a entrar em contato com a natureza das


coisas ou dos eventos, ou de outra forma, com a sua realidade essencial. Isso
somente é possível se a pessoa em treinamento é capaz de se "transformar" no
objeto ou assumir a sua característica de "ser". Neste campo surge o trabalho já
bem conhecido com o "animal de poder", que não necessariamente é um animal
"real", mas sim um estado ao qual o xamã tem acesso e capacidade de expressar
e controlar.
Desse treinamento básico, associado com muitas outras técnicas paralelas, surge
aos poucos, a capacidade de entrar em contato com algo que transcende os
próprios elementos da realidade, mas que é a causa deles. Disso nasce um
conhecimento objetivo e sofisticado que envolve as relações e modo de atuação,
as causas e conseqüências dos eventos da realidade, como se tudo estivesse
unido em uma totalidade e cada ato fizesse toda essa "totalidade" modificar-se
delicadamente. Disso nasce também a capacidade de estar a "serviço". Ela
repousa nesse conhecimento e apreensão sofisticada da função e da necessidade
de cada pequeno elemento da realidade.

A emocionalidade é um fator fundamental e também é treinada e desenvolvida ao


longo do processo, em vários níveis de sofisticação. Ela deixa de ser reativa e
passa a ser ativamente gerada, com a intenção de ampliar a qualidade do contato
com o ambiente. Além disso, as emoções servem como um tipo de "combustível"
para que o praticante possa entrar em contato de forma harmônica, com as reais
necessidades do momento e também, seja capaz e agir de forma eficiente. Elas
são também, em grande parte, portas de acesso aos níveis inconscientes, tendo
um papel fundamental no trabalho que envolve os "mundos subterrâneos". A
emoção se associa ao conhecimento acima referido, conferindo a ele uma
coloratura onde não mais há divisão entre ambos. Podemos dizer que nesse ponto
o xamã atinge aquilo que dentro do Sufismo é chamado do "conhecimento do
coração". Não é um conhecimento intelectual, mas sim uma qualidade de ser e
agir, que permanece totalmente integrada com os processos.

As sensações, pensamentos, emoções e decisões de um indivíduo com este grau


de consciência levam em conta informações de vários níveis, que são englobadas
em totalidades crescentes e é disso que resulta a capacidade de interagir consigo
mesmo e com o meio de forma responsável, respeitosa e harmônica.

Os tópicos acima consistem em apenas uma pequena pincelada sobre um assunto


que é vasto demais para ser detalhado aqui. Mas, em linhas gerais, eles
conduzem nossos olhos para uma outra direção. E essa direção é para dentro de
cada um de nós, no sentido de nos perguntarmos: quais são as forças que puxam
os fios de nossa existência, crença, atitude, emocionalidade e que na maior parte
das vezes, nos fazem passar a vida toda como nada mais que marionetes? Será
que algum de nós alguma vez teve um vislumbre do que é a realidade, do
significado que existe por trás da relação que temos com o meio e com os outros
seres que nos cercam? O quanto estamos fazendo no sentido de sermos capazes
de atingirmos uma qualidade maior em temos de nossa compreensão e atitude
para com o ambiente que nos cerca?

4. ATUAÇÃO

Isto nós sabemos: todas as coisas estão conectadas como o


sangue que une uma família. O que recair sobre a terra, recairá
sobre os filhos da terra. O homem não tece a teia da vida. Ele é
apenas um de seus fios. O que quer que ele faça à teia, ele faz a
si mesmo. (Índio norte-americano).
O ser humano é parte de um todo que chamamos de universo,
uma parte limitada no tempo e no espaço. Ele experiencia a si
mesmo, os seus pensamentos e emoções como algo isolado do
restante, um tipo de ilusão de ótica da consciência. Esta ilusão é
um tipo de prisão para nós, pois nos restringe a nossos desejos
pessoais e restringe nosso afeto às poucas pessoas mais
próximas. Nossa meta deveria ser libertar a nós mesmos desta
prisão, expandir nosso círculo de compaixão para abraçar todas
as criaturas vivas e toda a natureza em sua beleza. (A. Einstein)

O xamã, originalmente, busca ajudar a realidade como um todo, mas num sentido
que transcende a própria realidade comum. Ele está a serviço do Grande Espirito
ou da Mãe Natureza e, como conseqüência disto, ele pode interferir na evolução
de sua comunidade e de seu meio ambiente.

O caráter mais comum de sua atuação geralmente relaciona-se com o aspecto


terapêutico, onde a cura de doenças físicas ou psíquicas é conseguida através de
vários métodos bastante bem descritos na bibliografia. Porém, a cura não se
restringe ao aspecto individual. A cura pode voltar-se à toda a comunidade, onde
por exemplo, o xamã sonha com eventos do futuro ou com elementos de risco que
podem envolver mudanças na hierarquia da tribo ou até mesmo na sua
localização. Pode também envolver uma interferência na geografia do lugar, por
exemplo, a criação de um tótem em um ponto determinado, a alteração de um
curso de água, a mudança em relação aos pontos cardeais, o aterramento de
pedras grandes ou pequenas, devidamente trabalhadas, em pontos específicos,
etc. Toda essa atuação consciente sobre a paisagem lida com fluxos de energia
telúrica de diferentes intensidade e qualidade, e que afetam toda a comunidade. O
xamã é capaz de "perceber" essas correntes energéticas e atuar no sentido de
harmonizá-las. Disto nasce o que poderíamos chamar de "mitologia da paisagem"
onde alguns pontos especiais (comumente chamados de pontos de poder) passam
a ser reverenciados ou protegidos pois são pontos que mantém a "saúde" da tribo
e do lugar.

Mas, o aspecto da cura pode ir ainda mais além, quando adentra o campo das
deidades e seus mitos, muitas destas acessadas pelo xamã e passadas para a
tribo através de cantos, estórias, etc. Esses mitos e deuses plasmam o caráter da
tribo, desenvolvem comportamentos e emoções que são frutos de um
conhecimento superior, "incorporado" na deidade. O próprio aspecto do
desenvolvimento espiritual pode ser aqui retomado e redirecionado, seja em
termos da comunidade, ou de indivíduos especialmente selecionados.

Existe, porém, alguns conceitos básicos e primordiais e um deles é o conceito da


terra, ou do contato com a terra. O canto com tambor, por exemplo, pode ser
considerado uma forma bastante simples de contato. Nas formas mais sofisticadas
busca-se o contato com a origem ou com a essência dos fenômenos. O termo
"terra" pode ser correlacionado com o próprio universo; não é apenas terra em um
sentido “mineral” ou relativo aos povos indígenas ou aos animais selvagens ou à
floresta e rios. Engloba tudo isso, mas é mais que isso.

Partindo desse ponto básico podemos tentar especular mais diretamente o que
poderia ser um xamanismo voltado ao ambiente urbano. Seus objetivos e
premissas básicas seriam as mesmas do xamanismo tradicional, porém a
formação do xamã e seu modo de atuação seriam algo diferenciados, pelo menos
no aspecto externo ou aparente.

Poderíamos dizer que o xamanismo urbano consiste no desenvolvimento de uma


sensibilidade e de certos potenciais que possibilitem ao ser humano entrar em
hamonia com as forças que orientam a vida urbana, com o intuito de obter uma
maior qualidade de vida e um aior grau de consciência, tanto em nível pessoal com
em nível natural urbano, ou seja, em nível das informações conscientes e
inconscientes da cidade.

Inicialmente, a tecnologia do xamanismo urbano é também "natural". Todas as


cidades são construídas a partir de pontos de poder e se desenvolvem segundo
elementos estruturais (ruas, caminhos, monumentos) de forma a manter uma
relação harmônica com o todo. Cidades como São Paulo começaram assim e
depois perderam essa capacidade por causa de seu crescimento aleatório,
exacerbado e em muitos aspectos, totalmente desprovido de conhecimento. Não
podemos omitir aqui que esta cidade, especificamente, foi fundada por jesuítas
que segundo muitos estudiosos, possuíam algum conhecimento em mapear e
utilizar as energias telúricas.

Basicamente, o xamanismo busca a cura da terra, da cidade e do homem da


cidade. Curando a cidade o homem pode voltar a viver em um ambiente saudável
e harmonioso. Curando o homem a cidade pode viver agradecida dando ao
homem seu lar e sustento e este, numa relação de amor e respeito, pode conferir à
ela as qualidades realmente humanas, que se refletirão desde a sua limpeza,
passando pela relação entre
seus habitantes e indo até
sua administração que
então poderá cumprir seu
papel de servir ao homem e
ao ambiente social, e não a
interesses pessoais,
políticos e econômicos de
elites.

Portanto, o que um
xamanismo urbano propõe
é um restabelecimento de uma relação saudável e equilibrada dentro de um
contexto urbano. Considerando que a cidade é a nossa Terra, onde vivemos, nos
relacionamos socialmente, e tiramos, através do trabalho o sustento, é à ela que
devemos nosso amor e respeito, é nela que devemos colocar nossa atenção e
empenho para restabelecer o equilíbrio entre homem e ambiente.

O xamanismo urbano seria uma forma de trabalho que visaria, basicamente, três
formas de atuação: a) identificar os "pontos de poder" da cidade através de um
levantamento que, a princípio, baseia-se na história e geografia e depois, num
segundo momento, envolve verificações in loco através de alguns trabalhos
práticos; b) restaurar e equilibrar os canais de energia ou as "Linhas Ley", termo
bastante antigo e bem documentado na literatura; esta harmonização já poderia
começar a gerar um campo energético de maior equilíbrio que provocaria
alterações em alguns aspectos básicos da relação do homem com o meio
ambiente. c) a partir disso, o trabalho se sofistica e pode envolver, por exemplo, a
interferência em pontos específicos, a geração de um padrão energético
geométrico, o estabelecimento de conexões ou ancoramentos de energias,
normalmente feito através de imagens geradas e trabalhadas de forma consistente
e que poderia culminar na geração consciente de um arquétipo ou "deus protetor"
que passaria então, a direcionar e manter o processo.

Tudo isso depende da qualidade, capacidade e formação das pessoas que se


propõem a interferir. Não devemos esquecer da afirmação colocada acima de que
o xamã está a serviço de uma força de qualidade superior e não a serviço de seu
ego ou desejos pessoais. Discernir isso já é, em muitos casos, quase impossível
para a maioria das pessoas.

5. UM CASO TÍPICO

Daqui não saio;


daqui ninguém me tira.
(canto popular)

Basicamente, toda a cidade nasce a partir da relação entre dois elementos: a


geografia, ou seja, o relevo, rios, áreas férteis e de fácil acesso e a interferência
humana que plasma lugares para onde convergem e se estabelecem os núcleos
humanos.

São Paulo, assim como muitas outras grandes cidades foram fundadas de modo
muito especial. Foram definidas como cidades que teriam um destaque e
importância, por isso a sua localização, assim como a de seu marco inicial e as
direções de seu crescimento foram definidos após um estudo cuidadoso. Como
dito acima, sabemos que a ordem dos jesuítas possuía conhecimento e
sensibilidade para estas constatações.

Porém após seu crescimento inicial, a velocidade e a direção de seu crescimento


saiu do controle e adquiriu uma forma mais caótica. Fato que não ocorreu em
certas cidades Européias como Paris, Roma e outras que obedeceram um plano
diretor.
Como dissemos acima, a terra, da mesma forma que o corpo humano, possui
fluxos de energia em toda a sua extensão. Tais energias, geralmente têm origem
interna; nascem basicamente do movimento do magma e das rochas no interior do
planeta. Porém, essa energia aflora em alguns pontos e flui por canais e linhas
condutoras. Estes pontos e linhas podem existir de forma ativa ou em estado de
latência, possíveis de serem ativados. Além dos fatores naturais, sua existência é
devida também à interferências do homem sobre a terra, seja de forma consciente
ou não.

Em uma cidade estes pontos e linhas encontram-se muitas vezes ativados por
construções, igrejas, monumentos, avenidas e etc. A construção de uma igreja, por
exemplo pode ser feita a partir de um conhecimento prévio da qualidade
energética do lugar. Um ponto de poder pode também ser ativado sem um
conhecimento prévio, mas por um tipo de sensação intuitiva de que “aquele lugar
parece ser o ideal”. Ou pode ocorrer também que linhas e pontos de poder possam
ser estabelecidos a partir de um fluxo energético constante desencadeado pela
passagem ou visitação de um número muito grande de pessoas. E, finalmente,
podem ser também ativados consciente e voluntariamente por pessoas
sensibilizadas e treinadas na arte do xamanismo.

Apenas como exemplo, poderíamos citar alguns pontos chaves dentro da evolução
urbana e histórica da cidade de São Paulo. Destacam-se, principalmente as igrejas
antigas e alguns monumentos específicos. Estes seriam o Pátio do Colégio, a
Igreja do Largo São Francisco, a do Largo São Bento e a do Largo Paissandu. Dos
monumentos, um dos que mais chama a atenção é o que existe no Largo da
Memória. Este tópico será melhor detalhado em um outro artigo.

Associado ao caráter geográfico e histórico da cidade está o próprio ser humano,


pois é ele que molda ou atua sobre o ambiente. Em termos humanos ou sociais
vemos que São Paulo enfrenta problemas muito acentuados, característicos de
uma cidade grande demais e que atrai cada vez mais pessoas de todo o país.

Dentro da crescente expansão populacional que vivemos e das dificuldades


econômicas que a população passa podemos observar alguns problemas básicos:
a ansiedade e tensão constantes, o trânsito caótico, a pobreza, a violência, as
crianças ignoradas pelo sistema que consomem e traficam drogas, a degeneração
de lugares históricos, a banalização e comercialização da sexualidade, a poluição
auditiva que mostra claramente o grau de insensibilidade dos habitantes, a
poluição visual causada por uma quantidade infinita de propaganda inútil e não
conscientizada, e por hábitos grosseiros como o de pichar a cidade inteira, sem
nenhum critério, escondendo lugares de beleza arquitetônica e lugares históricos,
etc. Por mais que tentássemos mapear a relação do homem urbano comum com
uma cidade como São Paulo, sempre deixaríamos escapar uma infinidade de
aspectos. Por isso, a discussão deve necessariamente, ser conduzida para uma
visão mais globalizante.

A partir do conhecimento obtido por uma análise global, pode-se atingir uma "visão
diagnóstica" da cidade, que resulta em um "mapa" que engloba os aspectos físico,
emocional, psicológico e espiritual. Dessa forma, podem ser estabelecidos quais
os aspectos a ser trabalhados de modo localizado ou global dentro da cidade. A
atuação seja sobre o lugar ou sobre a povo conduz aos mesmos resultados, pois
ambos estão interligados.

6. QUAL É O SONHO?

Abandonamos apenas os aspectos verbais, e não os fatos


psíquicos responsáveis pelo nascimento dos deuses… Os deuses
tornaram-se doenças. Zeus não mais governa o Olimpo, mas o
plexo solar e produz espécimes curiosos que visitam o consultório
médico; também perturba os miolos dos políticos que
desencadeiam pelo mundo verdadeiras epidemias. (C. G. Jung)

Se as necessidades básicas do ser humano forem devidamente mapeadas, muitas


pessoas se surpreenderiam em perceber que elas esbarram em algo que
poderíamos chamar de "verdades absolutas" ou mais vulgarmente, de
"necessidades essenciais". Ainda dizem respeito aos valores humanos básicos,
tais como, o belo, a dignidade, o valor real e único de cada ser humano, o sentido
de pertencer a um lugar, ou a busca pela compleitude, a sensação de fazer parte
de um momento histórico único que nunca mais se repetirá e ao mesmo tempo,
pertencer a uma realidade que está muito além desta e ter a liberdade e as
oportunidades de buscar por ela da forma que lhe parecer melhor, ou seja, a busca
pelo sagrado ou transcendente, etc.
Estes sentimentos não desapareceram mas parecem ter sido empurrados para o
inconsciente, pois não mais são valorizados pelo meio social. Quando não mais
possuem liberdade para serem vividos, esses sentimentos ou necessidades,
formam um tipo de campo de informação não processada. Atuam como a "sombra"
da cidade e de seus habitantes. Enquanto não forem reconhecidos e permitidos,
eles se manifestam através das "doenças" mais variadas, desde doenças físicas
até violência, desemprego, racismo, sujeira, depredação, miséria, fome, corrupção,
superpopulação, alterações climáticas exacerbadas, etc..

O xamã é aquele que é capaz de mapear esse mundo inconsciente e traze-lo à


superfície. Ele pode transformar esse mundo inconsciente num mundo "sonhado"
ou desejado pela comunidade. Pois, apesar das dificuldades apontadas, esta
ainda é a "casa" de cada um de nós e estamos unidos ao lugar onde nascemos
por laços mais fortes do que imaginamos. Por isso, caberia a cada um dos
habitantes a responsabilidade de tornar possível aquilo que seria o "sonho" em
termos do ambiente em que vivem.

Em um primeiro momento é preciso que a maioria das pessoas se torne mais


sensível e "unida" ao lugar onde vive. Esta atitude poderia iniciar um canal pelo
qual, o "mundo das idéias" poderá se expressar. Idéias e atitudes emocionais que
surgirão a partir de uma constatação das necessidades e realidades objetivas, de
cada um e do "outro". A invocação e canalização das idéias, necessidades,
posturas emocionais e atitudes que estejam relacionadas diretamente ao "mundo
das idéias" poderá possibilitar a atuação de forças transformadoras na realidade.

O fluxo dessas forças ocorrerá de várias formas. Passa pelas linhas de energia da
terra, por seus pontos de entrada e saída e canais de fluxo. Envolve também a
qualidade das relações inter-pessoais, como numa espécie de contágio, através de
conversas, atitudes e pela própria presença de pessoas que possuem uma
qualidade especial pois estão envolvidas no trabalho. Ou seja, passa pelas
entranhas da terra e pelo inconsciente coletivo; povoará os sonhos, fantasias, e
desejos da alma humana até que se torne realidade.

Passa também através dos canais por onde fluem as informações: mídia, telefone,
Internet, pensamentos, etc. A tecnologia ganha grande importância, pois se
desejamos estar em harmonia com a terra temos que estar familiarizados com a
sociedade industrial e informatizada que vivemos.

Cabe ressaltar que só agora graças a tecnologia, estamos ligados à todos os


povos do mundo a toda a cultura do mundo de uma forma que nunca antes havia
acontecido, e que isto pode significar uma união e simbiose em uma forma de
relação com o planeta que venha a superar e transcender a qualquer forma mais
particular ou unilateral de relação.

Portanto não cabe aqui escolher um ou outro caminho mas buscar o caminho atual
e do futuro que una os povos, indo para além das formas, que externamente são
superfícies diferenciadas por épocas e lugares diferentes, mas internamente, são a
expressão de algo que é essencial a todo o ser humano e comum a qualquer
época e lugar.

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