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Programa INTEGRIDADE de Proteção ao Idoso

Vítimas de Maus Tratos Doméstico

The INTEGRALITY Elder Protection Program


Domestic Mistreatment Victim

Paulo Guilherme Santos Chaves 1


Patrícia Luíza Costa 2
Tânia Maria Coutinho Ricas 3

Resumo:

Busca-se estruturar um programa de cuidado ao idoso vítima de maus tratos dentro


da Delegacia Especializada de Proteção ao Idoso DEPI/MG, com a formação de um
Grupo de Idosos Vítimas de Maus Tratos Doméstico. O objetivo principal é a
redução dos delitos contra a comunidade de idosos cuja expectativa de vida vem
crescendo desagregada de sua qualidade de vida que, segundo estimativas, tende a
duplicar no Brasil em 2023, concomitante às agressões a que estão submetidos.

Palavras-chave: Violência. Idoso. Maus - tratos. Medida.

Abstract:

This work tries to structure an Elder Victim Care Program to the Mistreatment within
the Elder Protecting Specialized Agency- DEPI/MG, creating an Elder Victim Group
of Domestic Mistreatment. The main target is the reduction of the crime against the
elder community that the life expectation is going to increasing shatter of their life
quality, according to the estimation, tends to become twice as much in the 2023´s
Brazil, concomitantly the violence they are suffered.

Key Words: Violence. Elder. Mistreatment . Measure.

1
Bacharel em Fisioterapia pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Especialista em Geriatria e
Gerontologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Responsável pelo projeto de Qualidade de Vida do
Centro de Apoio e Convivência- CAC, em Belo Horizonte. Responsável técnico-científico pelo Curso de
Gerontologia aplicada ao Agente Policial Civil realizado pela Academia de Polícia Civil de Minas Gerais, em
parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública- SENASP e o Hospital Espírita André Luiz- HEAL.
Responsável pelo Projeto de Violência Doméstica contra o Idoso, realizado na Delegacia Especializada de
Proteção ao Idoso- DEPI, de Belo Horizonte, Minas Gerais. Professor- orientador de monografias do Curso de
Pós- Graduação “Lato Sensu”, Especialização em Criminologia, da PUCMINAS/ ACADEPOL.
2
Bacharel em Química pela UFMG. Especialista em Fonética da Língua Inglesa pela UEMG. Mestre em
Administração pela FGV. Doutora em Química Analítica pela UNICAMP. Detetive da Polícia Civil de Minas
Gerais. Atua na Divisão Psicopedagógica da Academia de Polícia Civil de Minas Gerais.
3
Bacharel em Pedagogia pela Newton Paiva. Bacharel em Psicologia, pelo Unicentro Newton Paiva. Pós-
graduada em Psicologia Clínica. Psicanalista. Coordenadora do Curso de Especialização “Lato Sensu” em
Criminologia, da PUCMINAS/ ACADEPOL. Detetive da Polícia Civil de Minas Gerais. Atua na Divisão
Psicopedagógica da Academia de Polícia Civil de Minas Gerais.
1 INTRODUÇÃO

“Este peso que nos é comum, ou por já


presente a velhice, ou por prestes a se
apresentar, pretendo tornar mais leve para
nós ambos” (CÍCERO : a C.)

Segundo CHAVES 2002 pode-se perceber que a violência doméstica representa

76,83 % dos 1388 casos registrados desde 1997 na Delegacia Especializada de

Proteção ao Idoso- DEPI/MG. De todos os Termos Circunstanciados de Ocorrência-

TCO´s realizados, o resultado encontrado demonstra o descrédito pelo sistema

judicial e pela proteção policial. O medo é o principal fator que leva ao não

comparecimento da vítima à Delegacia Especializada de Proteção do Idoso somado

ao desconhecimento quanto ao aos seus direitos. Será que os casos reais de maus-

tratos domésticos contra o idoso de uma comunidade grande como a da cidade de

Belo Horizonte, refletem realmente, os números armazenados no banco de dados da

DEPI/MG? Como minimizar o medo das vítimas na luta pelos seus direitos e na

busca de ajuda? Como descobrir casos de maus- tratos sem que estes sejam

delatados pela vítima?

Sem a necessidade de ter que provar o contrário, uma vez que é evidente a

dificuldade físico- emocional e cultural que estes indivíduos possuem para

acercarem-se e delatarem o ocorrido, decidiu-se desenvolver um programa dentro

da DEPI/MG para fornecer orientação, proteção indireta e encaminhamento da

vítima durante o processo de vitimização, como também, a descoberta de casos de

violência doméstica dentro da comunidade, que não foram delatados pelas vítimas e
a avaliação global do ambiente ao qual ela está submetida, para que se possa ter

um discernimento maior da problemática e da causalidade.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O programa iniciou-se com a avaliação de 48 (quarenta e oito) idosos pertencentes

a um grupo de convivência da própria delegacia. Nos meses de janeiro e fevereiro

de 2003 foram realizadas todas as avaliações. O instrumento de medida utilizado foi

o ÍNDICE DE CHAVES, um instrumento de medida que quantifica a violência

doméstica ao qual o idoso esteja submetido e qualifica, em níveis de gravidade, a

situação de violência do ambiente, evidenciando o risco ao qual a vítima se encontra

exposta.

Dos 48 (quarenta e oito) idosos do grupo, 18 (dezoito) foram selecionados segundo

os resultados da gravidade de violência do ambiente ao qual estão submetidos.

Todos os 18 (dezoito) selecionados passarão a compor um grupo de idosos

denominado “Grupo INTEGRIDADE da Delegacia de Proteção do Idoso”. O

indivíduo vitimado permanecerá no grupo durante um ano quando será

encaminhado a um centro de convivência para pessoas maiores de 60 anos de

idade, através de um convênio CENTROS-DEPI/MG.

Todos os participantes receberão reavaliações periódicas da situação de violência

de seu ambiente doméstico. Uma equipe multidisciplinar avaliará seu ambiente

doméstico quanto ao aspecto sócio- cultural, centros de apoio, quanto à família,


recursos financeiros, barreiras ambientais, fatores agravantes e quanto ao aspecto

da saúde, dependência. Durante o ano trabalhar-se-á temas de interesse da 3a

idade: a) direitos do idoso; b) saúde física e mental; c) cuidados; d) sistema judiciário

e, finalmente e) maus- tratos. Será oferecido apoio psicológico ao idoso e aos

familiares envolvidos no processo de vitimização, assim como, o serviço assistencial.

3 RESULTADOS

A conclusão de que os 18 (dezoito) idosos deveriam ser selecionados do grupo de

48 (quarenta e oito), para o incremento de um trabalho mais científico e profundo,

ocorrera ao observar o seguinte resultado:

q Situação de Abuso Econômico MUITO GRAVE – 2 casos

q Situação de Negligência GRAVE – 3 casos

q Situação de Negligência MUITO GRAVE – .5 casos

q Situação de Violência Psicológica MUITO GRAVE – 14 casos

q Situação de Violência Física MUITO GRAVE – .7 casos

É importante lembrar e considerar que um mesmo indivíduo sofre, às vezes, mais de

um tipo de violência doméstica.

O programa servirá para que estes resultados sejam avaliados periodicamente ao

longo do período das atividades do grupo e da atuação da equipe multidisciplinar.

Assim ficará evidenciado a importância do programa de proteção empregado.


4 DISCUSSÃO

É sabido, de antemão, que mensurar violência doméstica é desde logo uma árdua

tarefa. A busca de estabelecer critérios para que sejam transformadas,

quantitativamente, as informações colhidas no ÍNDICE DE CHAVES e, de pronto,

estabelecer limites a estes números para que se criem níveis de gravidade de

violência qualitativamente é explicado pelo fato de que as vítimas de violência

doméstica têm a necessidade de serem atendidas pelo sistema, antes que elas

sejam transformadas em vítimas fatais ou adquiram lesões irreversíveis. Todo o

processo de quantificação do ÍNDICE DE CHAVES segue uma lógica relacionada ao

número correspondente aos meses, ou seja, ao tempo que o Código Penal

Brasileiro- CPB, estipula para cada tipo penal.

O programa torna -se fundamental quando a vítima apresenta o medo da

reincidência motivada pela sua atitude ao denunciar o ocorrido, sendo assim, o

período em que a vítima será acompanhada no grupo, trata-se de um espaço de

tempo considerado suficiente para que se trabalhe todos os aspectos causais do

fenômeno da agressão e, se possa criar em cada indivíduo a capacidade de reagir e

proteger-se junto aos órgãos responsáveis.


5 CONCLUSÃO

É muito importante que tenhamos a consciência da dificuldade dos idosos quando

precisam tomar a atitude de denunciar os maus- tratos que sofrem. Muitos, apesar

de alegarem conhecimento, não têm, na verdade, a consciência da abrangência de

seus diretos, outros não conseguem se aproximar da delegacia, e muitos padecem

do medo de denunciar aqueles que os cuidam.

O programa proporciona uma aproximação àqueles idosos que estão deslocados e

mantidos no esquecimento na tentativa de sua reinserção na sociedade e de

preservação de sua integridade física e emocional.

Sabemos muito pouco sobre o relacionamento dos membros familiares. Sabemos

pouco sobre as vivências que netos, filhos, pais e avós experimentaram ao longo de

suas interações intergeracionais. Sabemos pouco também, sobre as causas reais

das agressões. Estas, muitas vezes violentas e que deixam seqüelas permanentes.

Entretanto temos a consciência de que todo o ser humano tem o direito de

esclarecer junto aos órgãos legais, todas as suas falhas passadas e caso elas nunca

existiram, o mesmo tem o direito de viver com respeito, preservando sua esperança

no futuro e principalmente sua integridade.


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