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MERCADOS DE TRABALHO
Em primeiro lugar cabe perguntar-se o que há de novo no que se entende por globalização da
economia mundial. Desde o início do século temos uma mobilidade e uma integração
crescentes dos capitais a nível mundial, com grandes empresas investindo e construindo
instalações produtivas em várias partes do mundo, inicialmente concentradas nos setores dos
serviços públicos, utilizando muitas vezes o mercado internacional de capitais. Daí
disseminou-se o conceito de imperialismo e o conjunto de teorias e concepções críticas
quanto às perspectivas de concentração/cartelização do capital e monopolização dos
mercados. Na verdade, a chamada fase imperialista sucedeu e aperfeiçou a etapa anterior
fundamentada exclusivamente na mobilidade de produtos, de um lado os produtos primários
dos países coloniais para os centrais e, de outro, de produtos industrializados dos últimos
para os primeiros. Esta mobilidade não deixou de constituir a base material das trocas
internacionais na etapa imperialista, ela apenas foi subordinada ao movimento de capitais
altamente concentrados, no geral estruturados na forma de sociedades anônimas, que foram
investidos em setores altamente rentáveis e com rendimentos mais ou menos assegurados por
políticas públicas na periferia do capitalismo mundial: em primeira linha nos serviços
públicos, mas também em grandes plantations voltadas para a exportação.
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Professor Titular do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ.
Victor Hugo Klagsbrunn - Globalização e Mercados de Trabalho - 2
Já antes das duas guerras mundiais e de modo mais marcante no pós-guerra o investimento
de capitais também em países menos desenvolvidos se dirigiu, de início apenas
marginalmente, para a produção industrial. O objetivo inicial era via de regra o de suprir o
mercado local com produtos que encontravam pouca concorrência e traziam altos lucros. O
fim da reconstrução das economias européias nos anos 50 permitiu canalizar maior
quantidade de capital para o investimento em atividades produtivas, agora não
necessariamente em atividades primárias, em países do terceiro mundo. As prioridades eram
então as de suprir os maiores mercados locais que, no geral, apresentavam também condições
mais adequadas de produção e de infrastrutura, incluindo a existência de mercados de
trabalho asssalariado suficientemente estabelecidos.
A etapa atual vem sendo caracterizada pela globalização crescente, embora este termo seja
utilizado e entendido de modos muito variados e até contraditórios. O seu uso corrente
subentende atividades de empresas em geral de maior envergadura, que são coordenadas e
planejadas globalmente, quer dizer, levando em conta os investimentos realizados em
diferentes países.
grandes empresas nunca deixará de estar condicionada pelos diferentes espaços físicos,
culturais, políticos, institucionais e econômicos existentes nos vários países em que atuam. A
importância desses espaços multifacéticos não desaparece, apenas se modifica,
condicionados em primeiro lugar pelas transformações tecnológicas na produção, no
transporte, nas comunicações e na penetração de interesses internacionalizados na própria
condução das políticas econômicas e sociais locais, informada pela disseminação de idéias
sociais, econômicas e políticas no meio das camadas sociais que elaboram e propõem os
caminhos que acabam predominando nos vários países.
Mas talvez em nenhum outro setor o avanço tenha sido mais contundente do que nos meios
de comunicação. A dissseminação da telefonia internacional via satélite e mais recentemente
a integração mundial através da rede INTERNET tornaram as comunicações, decisões e
transferências sobretudo de valores praticamente instantâneas. Por isto, é antes de mais nada
na área das conexões e transferências financeiras que podemos falar de uma verdadeira
globalização. A transferência de valores e de aplicações financeiras, cuja existência é
meramente contábil e indepente de transposição no espaço físico, tornou-se tão rápida e fácil
seja dentro da mesma cidade ou com o outro lado do planeta. Em todos os demais setores e
campos de atividade seguem atuando, mais ou menos fortemente, as limitações espaciais e
territoriais para a transposição de bens e serviços. Em outras palavras, em todas as demais
áreas das relações internacionais podemos falar apenas de uma globalização mais ou menos
relativa.
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Não se pode perder de vista o fato de que as condições de valorização do capital financeiro
continua atrelada, embora com grande autonomia, às condições materiais de produção e de
valorização, que dependem do consumo e das taxas de lucro no setor produtivo e de serviços,
fortemente condicionadas pelas circunstâncias e conjunturas locais. A possibilidade de
combinar investimentos financeiros em diversos setores e países e de modificar rapidamente
essas combinações permite ampliar ainda mais a autonomia relativa dos investimentos nas
áreas financeiras, o que além de aumentar a volatilidade de investimentos nos setores
financeiros aprofunda a dependência de ondas especulativas que agora se espraiam quase
instantaneamente.
É bem verdade que, inicialmente, os migrantes entram pela porta dos fundos, para fazer os
trabalhos mais pesados, muitas vezes nos setores que apresentam rápido aumento de
demanda por trabalhadores, inclusive ramos emergentes da indústria. Logo, no entanto, a
importância dos migrantes deixa de ser marginal, para assumir papel determinante para
ramos e setores-chave. É o caso da agricultura californiana, mas também dos turcos nas
indústrias siderúrgicas e mesmo de automóveis alemãs. Nos serviços industriais e públicos
em países como a França e a Inglaterra a presença de migrantes é também marcante.
A discussão sobre globalização da economia mundial hoje centra no que se poderia designar
um novo nível de complementariedade entre empresas e dentro das empresas internacionais,
no âmbito regional e mundial, fruto de uma concorrência internacional extremamente
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acirrada, que inclui também a disputa dos mercados emergentes pelos grandes grupos
industriais que produzem para escalas supra-nacional, regional e mundial. A expansão
industrial do Japão, invadindo os países industrializados com seus produtos e dizimando
ramos industriais inteiros, criou sem dúvida toda uma nova configuração nas condições da
concorrência entre os capitais.
O Brasil, assim como outros países em vias de industrialização, é atingido por estas novas
imposições da concorrência em vários níveis. Em primeiro lugar mencione-se a entrada de
produtos novos ou diferenciados, via importação, para o qual a ideologia do chamado neo-
liberalismo faz o trabalho de convencimento, que ele mesmo não consegue fazer nos países
centrais, em grande parte ainda marcados pelo protecionismo. Um outro caminho que volta a
se apresentar é a abertura de novas fábricas no país, por parte de capitais estrangeiros,
antevendo uma grande expansão dos mercados para certos produtos, cujo consumo ainda é
baixo, como é o caso dos automóveis no Brasil e na América Latina de modo geral.
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Veja-se um quadro alarmante do desemprego e da menor qualidade do emprego nos países
industrializados, p.ex. em OCDE (1994).
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eles os trabalhadores brasileiros, têm logrado penetrar no mercado de trabalho dos países
industrializados.3
De modo geral, os governos dos países industrializados já não podem mais ignorar o
problema do desemprego. Desde pelo menos a crise de 1974/75 suas economias têm
apresentado dinamismo menor, com crises mais pronunciadas e mais longas. A fase
relativamente mais longa de crescimento durante o governo Reagan constituiu uma exceção
no período, durante a qual o crescimento foi fortemente impulsionado por uma política de
déficit spending conservadora: ao mesmo tempo que cortava impostos e gastos sociais, o
governo dos Estados Unidos aumentou em muito as despesas militares. Mesmo com o ciclo
relativamente mais longo da era Reagan, podemos reconhecer, sobretudo, desde meados da
década der 70, com crises pronunciadas e periódicas - que sempre incluíram diminuição da
produção e do emprego.
3
Uma visão sobre as tendências atuais de internacionalização do mercado de trabalho pode ser
encontrada em Van DIJK (1995) e SIMAI (1995). Uma boa seleção de teorias explicativas para as
migrações internacionais e sobre a forma de inserção dos emigrantes brasileiros nos Estados Unidos
encontra-se, por exempl, em SALES, T. (1995), p. 126 e segs. e 132-134.
4
Lembremos que para MARX a contituição do que ele designa por exército industrial de reserva
constitui a lei geral da acumulação capitalista. Veja-se MARX,K. (1985), Livro I, Cap. 23.
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Isto é verdadeiro tanto na discussão sobre o assim chamado Modelo Japonês de Gestão Industrial
quanto no que se refere a estudos mais globais como o da OCDE sobre o emprego (ver OCDE, 1994,
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Nos Estados Unidos e em boa parte da Europa as últimas décadas assistem a uma maior
concentração de renda devido a dois movimentos: por um lado, os trabalhadores com mais
qualificação, inseridos nos processos mais modernos de produção, e camadas médias com
especializações requeridas pelos novos avanços tecnológicos passam a ganhar mais e
aumentam sua participação no consumo. Por outro lado, uma proporção cada vez maior da
população economicamente ativa fica excluída destes avanços e passa a ocupar empregos
pouco exigentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, o nível de renda dos 10 % mais pobres
baixou sensivelmente no mesmo período, talvez por se empregar mais no setor de serviços 6.
Esta desigualdade, própria do sistema, deixou de ser compensada pelo menos em parte, como
vinha sendo tentado no pós-guerra, devido ao desmonte progressivo de serviços públicos
voltados para as camadas menos afortunadas, resultado de políticas econômicas de cunho
neoliberal. Com isto, as camadas de poder aquisitivo crescente passaram a demandar mais
serviços pessoais, diretamente ou através de pequenas empresas como clínicas, restaurantes,
lavanderias, táxis, engraxates, etc. Estes são aparentemente os campos de trabalho que se
expandem na área de serviços, nos quais os migrantes, incluindo os brasileiros, vêm
encontrando emprego, por exemplo nos Estados Unidos.
Muito tem sido enfatizado, com razão, que as novas formas de produção e de organização do
trabalho exigem trabalhadores com características diferentes. Vejamos a seguir como se
coloca a exigência do “novo” tipo de trabalhador em função dos últimos avanços
tecnológicos, especialmente na indústria.
L´Ètude de l`OCDE sur l´Émploi - Données et Explications, Parties I et II, Paris. Sobre as novas
tendência da organização do trabalho, veja-se p.ex. KLAGSBRUNN (1994).
6
Ver OCDE, 1994, p.22 e seguintes.
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A este respeito veja-se MARX,K. (1985), Livro Primeiro, Cap.XIII.
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Sobre as transformaçöes tecnológicas ocorridas nas últimas três décadas, especialmente no Japäo, no
contexto da evoluçäo econômica no período, veja-se por exemplo CORIAT (1990).
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Esta é a razão de encontrarmos em tantos setores da indústria moderna uma crescente exi-
gência quanto à qualificação dos trabalhadores 9. Mesmo que estes ganhem forçosamente
mais, seu custo como parte do custo total torna-se por um lado menor e, por outro, aumenta
sua importância estratégica para manter o capital crescente em funcionamento. Assim en-
tende-se também a importância redescoberta, creditada ao sistema japonês de gestão, de en-
fatizar a capacidade e a autonomia relativa do trabalhador industrial no processo de produção
e, até mesmo, de integrá-lo na fase de projeto de novos investimentos.
Vejamos inicialmente mais de perto a emigração para os Estados Unidos. Por mais que as
poucas pesquisas e a observação enfatizem que a maioria dos migrantes é constituída de
indivíduos de nível de escolaridade bastante elevado e oriundos de famílias de classe média,
sua inserção no mercado de trabalho nos Estados Unidos ocorre, principalmente, em
ocupações no âmbito dos serviços. Margolis10 localizou a maioria dos imigrantes brasileiros
9
NEVES (1992) salienta o aumento da qualificaçäo dos trabalhadores em tarefas de manutençäo,
negando a mesma necessidade para os demais trabalhadores operadores.
10
Ver MARGOLIS,M.(1995)
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Nos Estados Unidos, o panorama do trabalho ilegal dos brasileiros se complica sobremodo
porque ele se mescla com o imenso turismo, por via aérea, tantas vezes mera forma encoberta
de transporte e comércio de bens para venda no Brasil. Segundo informações internas dos
Estados Unidos, citadas na Revista Veja, o turista brasileiro é o segundo que mais compra
em sua estadia no país, ficando só atrás dos japoneses. É claro que as compras tém sido
muito estimuladas pela sobrevalorização da moeda brasileira desde julho de 1994, mas o
fenômeno é bem anterior, como veremos. Deste modo, a própria viagem pode ser facilmente
financiada, total ou parcialmente, com a venda de alguns produtos eletrodomésticos. Além
disto, como os Estados Unidos exigem, para conceder o visto de entrada, uma passagem de
ida e volta, o trecho da volta é passado adiante, para algum migrante que queira passar
“férias” no Brasil, por preço abaixo do custo normal e, assim, todo este mixto de migração-
turismo-comércio se torna ainda mais atraente.
Esta intrincada rede impossibilita, além disto, todo e qualquer controle de quanto os
migrantes trazem ou mandam para suas famílias no Brasil. Sempre há algum conhecido,
amigo, parente ou vizinho disposto a trazer algum dinheiro. Os dólares que assim entram no
país fogem de qualquer controle por parte do Banco Central e alimentam o mercado paralelo
de divisas no Brasil.
Em todos os casos de emigração, uma das poucas vantagens dos imigrantes, frente aos
naturais do país, é que, nos primeiros tempos, quando predomina a idéia de uma migração
temporária, o migrante está disposto a aceitar qualquer tipo de trabalho, muitas vezes fazendo
coisas que não aceitaria fazer em seu próprio país. O caso dos migrantes estrangeiros talvez
11
SALES (1995), p. 134 se refere às ocupações principais dos brasileiros vivendo na região, oriundos em
grande medida da cidade mineira de Governador Valadares. MARGOLIS (1995), p. 31/32, julga ter
indícios suficientes de que os migrantes radicados em Newark ,N.J. e em áreas do Estado de
Massachusssetts, próximas a Boston, são em maior proporção operários que, em parte, também se
empregam na construção civil, como motoristas de caminhão, como frentistas ou como empregados de
restaurante.
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É o mesmo espírito de tudo sacrificar, por pouco tempo, que leva os migrantes a aceitarem
empregos que os naturais não aceitam e a viver sob condições muito precárias, dividindo
espaço com muitos companheiros em quartos apertados de pensões ou em apartamentos
minúsculos. Os naturais do país têm além disto acesso, embora cada vez mais restrito, a
assistência social e a outros programas sociais que lhes permitem não ser forçados a aceitar
qualquer tipo de emprego pouco qualificado e mal visto.
Os dados expostos no ítem seguinte indicam que o auge da emigração para o Japão teria
ocorrido no período 89-92, quando ocorreu uma saída líquida significativa para aquele país.
Segundo as informações veiculadas em revistas, o tempo de permanência no Japão não passa,
no geral, de três anos. É o tempo suficiente para economizar alguma reserva e com ela
comprar casa ou automóvel e tentar estabelecer-se em uma atividade autônoma no Brasil,
nos ramos que exigem menor capital inicial, como o comércio e os serviços. Como se vê,
como muitas vezes acontece nas migrações por razões econômicas, seu caráter é
12
As características básicas da emigração de brasileiros para o Japão, aqui sintetizadas, foram extraídas
de entrevistas bastante esclarecedoras com Reimei YOSHIOKA, do Centro de Apoio aos
Trabalhadores Brasileiros no Japão, que funciona em São Paulo, de YOSHIOKA, R. (199), da leitura
do jornal Notícias do Japão, editado em S.Paulo e da leitura de material publicado em vários órgãos de
imprensa brasileiros. Quanto a algumas diferenças entre a migração para o Japão e os Estados Unidos
veja-se também SALES (1995), p. 131-135.
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eminentemente temporário, com alta rotatividade. Não se sabe como a emigração evoluirá
em função de uma diminuição da demanda por trabalhadores no Japão. Se se confirmar o
aumento do desemprego também no Japão, aquele país poderá adotar medidas de controle de
imigração de brasileiros. A provável consequência poderá ser, por um lado, uma certa
diminuição da emigração de brasileiros, mas sobretudo a mudança de seu caráter temporário
para algo mais permanente. Se alguma limitação à imigração for introduzida, muitos tentarão
esticar sua estadia, com medo de perder a possibilidade de algum dia retornar para outra
temporada. Algo semelhante ocorreu com a limitação da imigração de mexicanos nos
Estados Unidos e dos turcos na Alemanha.
O incentivo para os próprios emigrantes nisseis e sanseis para o Japão não deve ter
diminuído, em 1994 e 95, mesmo com a menor demanda por trabalhadores naquele país. Isto
porque a valorização do ien frente ao dólar - de 20 % só no primeiro semestre de 1995 - e
por conseguinte com relação ao real, compensa possíveis perdas de salários decorrentes da
pior situação no mercado de trabalho japonês.
É difícil reconhecer uma correlação direta e imediata entre a conjuntura econômica e o nível
de emprego geral na economia, por um lado, e a capacidade de absorção de imigrantes
brasileiros nos Estados Unidos e mesmo no Japão, por outro. No primeiro caso a primeira
dificuldade já começa com a própria estimativa da quantidade e das formas de emprego dos
emigrantes brasileiros. Tanto a estadia quanto o trabalho são ilegais e/ou informais. A
conjuntura da demanda industrial se reflete de modo atenuado na demanda por trabalhadores
formalmente empregados no setor. Podemos inferir que a parte informalmente empregada em
serviços prestados às indústrias, como por exemplo os de limpeza, também é afetada mais
diretamente pela conjuntura geral. Mas já é difícil concluir se o reflexo se dá na mesma
direção ou em sentido contrário. Por exemplo, uma indústria pode decidir cortar custos,
passando alguns serviços a subcontratantes que empreguem força-de-trabalho ilegal e, assim,
possam oferecer o mesmo serviço mais barato. Já para os serviços pessoais, a relação do
emprego informal dos brasileiros com a conjuntura geral de emprego é mais indireta e difícil
de precisar. As camadas sociais que necessitam de faxineiras, p.ex., só deixam de empregá-
las se perderem o emprego. Mas mesmo assim não imediatamente, pois precisam seguir
procurando trabalho. No entanto, não há nenhum indício de que os que mais contratam
serviços pessoais têm estado entre os primeiros a perder emprego quando a crise ocorre. Ao
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contrário, o longo processo de seleção tecnológica, ao qual estiveram expostos nas últimas
décadas, deixou-os muito preparados para adaptar-se a mudanças nos ambientes e nos
processos de trabalho.
Embora quase não tenham sido pesquisados, também por ser fenômeno dos mais recentes, a
emigração brasileira para os países industrializados compõe-se em sua maior parte, segundo
as informações e observações disponíveis, de indivíduos oriundos de mercados de trabalho
urbanos e relativamente modernos e que apresentam, em boa medida, níveis de escolaridade
elevados. Estas características lhes permitem penetrar com certa facilidade, através do
turismo por via aérea ou pela ascendência de pais e avós, e encontrar nichos nos mercado.
Mas não lhes permitem fugir de empregos de pior qualidade e baixa remuneração, pelo
menos nos primeiros tempos.
A forte emigração de brasileiros para países industrializados, desde meados dos anos 80, tem
certamente componentes conjunturais, mas já hoje se apresenta com características de
continuidade. O excesso de população em nossas cidades leva os brasileiros a procurar
formas de sobrevivência as mais variadas, inclusive a emigração. Por outro lado, esta acarreta
efeitos importantes quanto aos hábitos de consumo e a cultura em nossas cidades e ao
“turismo” internacional. Este se apresenta crescentemente combinado com o comércio
informal e a migração mais ou menos temporária. O excedente crescente de trabalhadores
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com níveis altos de escolaridade, sem ocupação correspondente nas cidades grandes e
médias, tem encontrado no exterior uma válvula de escape, nem sempre condigna com sua
formação pessoal e profissional.
Na discussão recente o aspecto da globalização dos mercados de trabalho tem sido pouco
focalizado. Trata-se de fenômeno mais antigo, que hoje perde interesse para outros como o
da globalização dos mercados financeiros. A evolução tecnológica recente impulsiona a
globalização destes últimos e a maior mobilidade dos trabalhadores também é muito
facilitada pela massificação dos meios de transporte internacionais especialmente do
transporte aéreo.
Por mais que a circulação de indivíduos seja sempre um dos últimos ítens a serem
regulamentados pelos blocos regionais, a migração interna aos blocos começa a se
incrementar quase que paralelamente ao maior comércio de bens e serviços. O conhecimento
mútuo dos respectivos mercados por parte das empresas dos países integrados e a maior
divulgação das condições imperantes nos demais países incentivam por si só uma maior
circulação de indivíduos em busca de regiões e setores onde possam melhor vender sua força
de trabalho. Por exemplo, não são apenas os professores brasileiros de português que migram
para a Argentina, mas também todos os profissionais que enxergam melhores condições de
competir no mercado de trabalho respectivo no outro país. O mesmo é verdadeiro para os
profissionais argentinos. Deste ponto de vista, quando os blocos regionais caminham no
sentido de regulamentar também a circulação de indivíduos, o emprego de trabalhadores
estrangeiros e até a conciliação de sistemas diferentes de previdência social, não se faz mais
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do que acompanhar uma tendência que já se observa nos vários segmentos dos mercados de
trabalho respectivos.
Referências bibliográficas