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a caminho da sustentabilidade

energética
como desenvolver um mercado de renováveis no Brasil
© Greenpeace/Rodrigo Baleia

[r]evolução energética
1 introdução 3
2 Proinfa: resultados e falhas 5
3 políticas de desenvolvimento de fontes renováveis 14
4 experiências internacionais 20
5 uma nova política pública de energias renováveis 24
6 conclusão 26

anexos 28
referências 31

edadilibatnetsus ad ohnimac a
acitégrene

Greenpeace Brasil
Maio 2008

Greenpeace Brasil
autor Ricardo Baitelo
edição Rebeca Lerer
colaboração Luis Piva
revisão técnica Fernando Almeida Prado e Marcelo Furtado
edição de arte e revisão Caroline Donatti
design Tania Dunster, Jens Christiansen, onehemisphere, Sweden www.onehemisfere.se
diagramação Gabi Juns
impressão D’Lippi
tiragem 1.000 exemplares
© Greenpeace/Rodrigo Baleia

Impresso em papel certificado.

foto capa Turbinas do Parque Eólico de Osório, RS.


imagem Vista de turbinas eólicas ao amanhecer.
introdução
Este relatório analisa o Proinfa, as experiências bem sucedidas de incentivo às renováveis em diversos países e
mostra como criar um mercado nacional de energias limpas

© Paul Langrock/zenit/greenpeace
imagem Teste de turbina eólica N90 2500, construída pela empresa alemã Nordex, no porto de Rostock, Alemanha. O mercado de energia eólica cresce a taxas de
quase 30% ao ano nesta década.

No início de 2008, o Brasil esteve na iminência de um novo apagão de elétrica limpa baseada na hidroeletricidade, sujou sua geração com
energia. A falta de chuvas colocou o país em estado de alerta, temendo o despacho de térmicas a gás, carvão mineral e óleo combustível.
uma repetição da crise de 2001. Enquanto a sociedade era bombar- As conseqüências desta opção também serão sentidas nos bolsos dos
deada diariamente por matérias na imprensa, a indústria sentiu a alta consumidores com o aumento da taxa de reajuste da conta de luz no
dos preços da energia no mercado spot, que chegaram a quase Sudeste a partir do próximo ano.
R$ 600/MWh. O governo federal procurou relevar os acontecimentos.
O parque elétrico nacional é hoje extremamente dependente do regime
Desta vez, a situação não foi tão grave como em 2001 porque o nível de chuvas, pela escolha de investimentos em um modelo hidrotérmico de
dos reservatórios (veja figura 1) estava mais alto e por conta da recen- geração centralizada. A insegurança desse modelo, estruturado em investi-
te ampliação da malha de transmissão, o que permitiu a transferência mentos bilionários em obras hidrelétricas de grande porte e no acionamen-
de energia entre regiões. Porém, as poucas chuvas do início do ano to de termelétricas a combustíveis fósseis quando as chuvas da estação
levaram o Operador Nacional do Sistema (ONS) a acionar usinas úmida não garantem os reservatórios, tende a aumentar em um cenário de
térmicas para garantir a estabilidade do suprimento de energia. Estas mudanças climáticas com impactos no regime hidrológico e na instabilida-
usinas térmicas utilizam combustíveis fósseis como carvão, óleo com- de de suprimento de combustíveis fósseis como o gás natural.
bustível e gás natural, insumos de fornecimento cada vez mais caro e
instável e de grandes emissões de gases de efeito estufa. No caso do Em tempos de aquecimento global, a grande discussão é justamen-
gás natural, sequer havia combustível suficiente para atender às usinas te como reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O Brasil está
térmicas, veículos e indústria ao mesmo tempo. perdendo a oportunidade de liderar uma verdadeira revolução energé-
tica, impulsionada pela abundância nacional de fontes renováveis de
E assim, o Brasil, que há muito tempo contava com uma matriz energia. A sensação de oportunidade perdida fica ainda mais evidente
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a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

figura 1: : nível de armazenamento dos reservatórios do submercado Sudeste/Centro-Oeste

90

80

70

60

50

40

30

20

meses de janeiro de cada ano


10

% 0 meses de fevereiro de cada ano


1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

fonte PRADO, F.A.A., HEIDEIER, R. B.“O crescimento da intensidade de emissões de gases de efeito estufa na matriz elétrica brasileira - uma visão crítica”-
XVIII Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica. Não publicado.

quando o alto preço de despacho das usinas térmicas torna competitiva condições adequadas para o desenvolvimento deste mercado.
grande parte dos empreendimentos de fontes alternativas de energia.
A iniciativa mais recente no Brasil foi o Programa de Incentivo a
Em âmbito global, as energias renováveis já foram incorporadas aos Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). Lançado pelo
planejamentos energéticos de larga escala e são consideradas opções governo federal em 2002, foi um primeiro passo importante ainda que
maduras do ponto de vista tecnológico e econômico Após décadas de tímido em escala. Porém, o programa vem enfrentando inúmeros pro-
progresso técnico, turbinas eólicas, usinas de biomassa, pequenas centrais blemas em sua implantação e até o presente momento não atingiu suas
hidrelétricas (PCHs), coletores solares térmicos e painéis fotovoltaicos se metas originais. Dos 3,3 mil MW contratados pelo programa, pouco
consolidaram como a principal tendência do mercado energético. O mer- mais de mil MW tinham entrado em operação até abril de 2008.
cado de energia eólica tem crescido a quase 30% ao ano nesta década e o Menos de um terço dos projetos inicialmente classificados já estão for-
de energia solar a quase 50% ao ano desde 2002. Um relatório da Rede necendo energia para o sistema. No cenário de insegurança energética
de Políticas de Energias Renováveis, Renewable Energy Policy Network, do começo de 2008, estes mais de 2 mil MW não implementados do
apresentado na Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Proinfa fizeram muita falta e poderiam ter minimizado o acionamento
Mudanças Climáticas, realizada em dezembro de 2007 em Bali, mostrou do parque térmico no período.
que os investimentos em novas fontes de energia renovável aumentaram de
US$ 44 bilhões em 2005 para US$ 75 bilhões em 2007. O Proinfa deve terminar no fim de 2008. Existem algumas propostas
sugerindo sua continuação e outros projetos de incentivo às energias
De acordo com o relatório [r]evolução energética1, produzido renováveis. Pode-se até discutir a modalidade de política de incentivo
pelo Greenpeace, este mercado de energias renováveis, combinado ao às renováveis, mas o que fica claro, ao analisar-se as experiências em
uso racional e eficiente de energia, poderá suprir metade da demanda mais de trinta países, é que o desenvolvimento deste mercado só acon-
energética mundial em 2050. O estudo indica que a adoção maciça de tece quando os geradores têm garantias de acesso à rede a partir de
fontes de energia renovável é tecnicamente possível e, aliada a medidas contratos de longo prazo e um marco regulatório com tarifas especiais.
de eficiência energética, pode reduzir as emissões globais de gases de
efeito estufa do setor energético em até 50%. Este relatório precipita uma discussão justamente sobre este e outros requi-
sitos fundamentais à efetiva estruturação de um mercado de energias reno-
Para a matriz elétrica brasileira foi desenvolvido um cenário específico, váveis fundamentado em uma lei de acesso de energias renováveis à rede
modelado pelo Grupo de Energia do Departamento de Engenharia e elétrica. O documento explora ainda as principais deficiências do Proinfa,
Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica (GEPEA/USP), bem como as correções executadas ao longo da vigência do programa e seus
segundo o qual em 2050, medidas de eficiência energética reduziriam resultados, além de detalhar casos de sucesso em outros mercados e analisar
a geração de eletricidade em 29% e a energia renovável seria respon- as propostas nacionais de legislação para as renováveis.
sável pelo suprimento de 88% da eletricidade total. A geração estaria
distribuída em 38% de energia hidrelétrica (incluindo PCHs), 26% de O Greenpeace acredita que a segurança e a eficiência energéticas do
geração a partir de biomassa, 20% de energia eólica e 4% de geração Brasil dependem de um arcabouço regulatório que realmente incenti-
solar a partir de painéis fotovoltaicos. Neste cenário, a geração elétrica ve as energias renováveis. E dependem também da formação de uma
a carvão, óleo diesel e nuclear é totalmente eliminada da matriz. massa crítica capaz de influenciar e participar verdadeiramente do pla-
nejamento estratégico do setor de energia, direcionando a matriz para
Porém, este plano só poderá ser colocado em prática com forte apoio a descentralização e para as baixas emissões de carbono.
político. Faz-se necessária uma estrutura regulatória sólida que crie
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Proinfa: resultados e falhas
Dos 3.300 MW contratados pelo programa, apenas um terço dos projetos estão fornecendo energia para o sistema

© greenpeace/Rodrigo Baleia
imagem 286 usinas termelétricas são responsáveis pela produção de 4.100 MW, dos quais 74% são gerados a partir de bagaço de cana-de-açúcar.

histórico dezembro de 1996, 9.648, de 27 de maio de 1998, 3.890-A, de 25


de abril de 1961, 5.655, de 20 de maio de 1971, 5.899, de 5 de
O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica julho de 1973, 9.991, de 24 de julho de 2000, e outras providências.
(Proinfa) foi instituído pelo Artigo 3º da Lei 10.438 de 26 de abril
de 2002. Seu objetivo principal era “aumentar a participação da O programa governamental para energias renováveis incorporou
energia elétrica produzida por empreendimentos de Produtores características do sistema feed-in, tais como a garantia do acesso da
Independentes Autônomos, concebidos com base em fontes eólica, eletricidade renovável à rede e o pagamento de preço fixo diferencia-
pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e biomassa, no Sistema do para a energia produzida. O Proinfa também adotou premissas do
Elétrico Interligado Nacional”. O programa também tinha como sistema de cotas, como o leilão de projetos de energia renovável deter-
meta atender, em 20 anos, 10% do consumo nacional de eletricidade minando cotas de potência contratada para cada tecnologia, além de
a partir destas três fontes renováveis: eólica, PCHs e biomassa. Para subsídios por meio de linhas especiais de crédito do Banco Nacional de
tanto, o governo incentivaria pequenos produtores no desenvolvimen- Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)2.
to de um mercado de energias renováveis e seus benefícios conse-
qüentes, como distribuição e geração de renda e emprego, progresso Na regulamentação do Proinfa, ficou estabelecido que o Ministério das
tecnológico e desenvolvimento regional. Minas e Energia (MME) seria responsável pela administração do progra-
ma, o que incluía as seguintes atribuições: planejamento anual de ações a
Além do incentivo às fontes alternativas de energia, a Lei dispôs serem implementadas; estabelecimento e divulgação dos valores econômi-
também sobre a expansão da oferta de energia elétrica emergencial, cos; definição de medidas de estímulo tecnológico com impactos progressi-
a recomposição tarifária extraordinária, a universalização do serviço vos sobre o cálculo dos valores econômicos; e submissão do planejamento
público de energia elétrica, a nova redação às Leis 9.427, de 26 de anual do programa ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
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a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

A Lei 10.438 também definiu o Produtor Independente Autônomo Assim, os valores econômicos foram definidos pelo MME e pela
(PIA) como “aquele cuja sociedade não é controlada ou coligada de Eletrobrás, considerando os aspectos técnicos e as condições de mer-
concessionária de geração, transmissão ou distribuição de energia elé- cado de cada uma das fontes e publicados na Portaria MME n° 45 de
trica, nem de seus controladores ou de outra sociedade controlada ou 2004. A Eletrobrás garantia a compra da energia a valores acima dos
coligada com o controlador comum”. Os demais agentes que não se praticados pela geração hidrelétrica (R$128/MWh). Os valores defini-
enquadram na classificação PIA tiveram sua participação no programa dos foram de R$ 110/MWh para biomassa (bagaço de cana), R$ 135/
restrita a 25% de projetos de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e MWh para PCHs e entre R$ 208 e R$ 240/MWh para eólicas (variá-
biomassa, e a 50% dos projetos eólicos. Esta restrição gerou questiona- veis de acordo com o fator de capacidade, entre 32,4 e 41,9%).
mentos pois limitou a atuação das concessionárias de energia elétrica.
Estes números foram bastante criticados. O valor estabelecido para a
Na primeira etapa do programa, de 2002 a 2004, os contratos foram energia eólica, por exemplo, foi apontado como obstáculo à viabilidade
celebrados pela Eletrobrás (até 29 de abril de 2004) para a implan- econômica dos empreendimentos desta fonte. No caso da biomassa, a
tação de 3.300 MW de capacidade, distribuída em partes iguais de tarifa também foi considerada baixa pelos investidores, que alegaram ser
1.100 MW para cada uma das fontes: biomassa, eólica e PCH. Este insuficiente para cobrir os custos de produção do sistema de co-geração.
critério foi questionado por seguir uma lógica simplista ao dividir igual- Neste caso, vale lembrar que empreendimentos de biomassa para a gera-
mente a capacidade de geração entre as fontes, deixando de considerar ção de eletricidade competem com a produção de álcool e açúcar, ativida-
aspectos essenciais da política energética tais como pólos de desenvolvi- des que operam com taxas de retorno da ordem de 25 a 30%, de acordo
mento tecnológico, a criação de mercados visando a redução de custos com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), contra uma taxa de
de tecnologias promissoras e a ênfase inicial nas fontes renováveis mais 15% adotada para a venda de energia elétrica. Basta lembrar do quarto
competitivas (como o bagaço de cana) ou mais favoráveis regionalmente leilão de energia nova (em julho de 2007), que comercializou esta energia
(como a energia eólica na Região Nordeste do país). na faixa de R$ 128/MWh.

Em princípio, a Lei 10.438 determinou que a aquisição da ener- A Eletrobrás foi declarada responsável pela contratação, por 20 anos,
gia fosse feita pelo Valor Econômico Correspondente à Tecnologia dos projetos selecionados no âmbito do programa e também pela admi-
Específica de cada Fonte, o chamado VETEF, que é definido pelo nistração da Conta Proinfa. Esta incluía os custos da energia gerada,
Poder Executivo e adota como piso 80% do valor da tarifa média custos administrativos e financeiros e encargos tributários e seria
nacional ao consumidor final. rateada entre todas as classes de consumidores finais atendidos pelo
Sistema Elétrico Interligado Nacional. O contrato era desbalanceado a
Os valores econômicos foram calculados considerando os seguin- favor da Eletrobrás, vide, por exemplo a questão dos créditos de car-
tes critérios: bono que seriam todos da estatal.

• Prazos, sendo 30 anos para hidrelétricas e 20 para demais fontes; Em relação ao financiamento, foi estipulado que as linhas de crédi-
• Taxas de retorno do capital próprio do empreendedor, compatíveis to do BNDES cobririam até 70% do investimento dos empreendi-
com os riscos; mentos (excluindo apenas bens e serviços importados e a aquisição
• Índices de eficiência, de acordo com grau de desenvolvimento tecno- de terrenos) desde que fossem apresentadas garantias reais. O res-
lógico e potenciais energéticos nacionais; tante do investimento (30%) seria garantido com capital próprio
• Custos unitários médios para a determinação do valor a ser investido de investidores. Foi acertado também que a Eletrobrás, no Contrato
no empreendimento; de Compra de Energia de Longo Prazo (PPAs), asseguraria ao
• Previsões de despesas operacionais, incluindo perdas, custos médios empreendedor uma receita mínima de 70% da energia contratada
de conexão e uso de sistemas elétricos e tributos; durante o período de financiamento e proteção integral quanto aos
• Condições especiais de financiamentos; riscos de exposição ao mercado de curto prazo. Esta porcentagem
• Relação entre capital próprio e capital de terceiros; foi posteriormente aumentada para 80%, a fim de viabilizar mais
• Descontos específicos para a utilização da rede de transmissão. projetos e aprimorar o desempenho do programa. Ficou definido
que o custo de transporte não poderia ultrapassar 50% do valor
Foram também fixados parâmetros para as fontes participantes do total para projetos de até 30 MW de potência.
programa como taxa de câmbio, taxa mínima anual de atratividade,
financiamento, custo de transporte da energia e impostos. Para cada A Lei 10.438/02 estabeleceu ainda que a contratação das instalações
fonte, foram adotados ainda parâmetros específicos. No caso da bio- seria feita por chamada pública, priorizando instalações por antiguidade
massa, por exemplo, foram consideradas diferentes categorias - arroz, de Licença Ambiental de Instalação (LI) e Licença Prévia Ambiental
bagaço de cana-de-açúcar, biogás e madeira. (LP). Definiu também o limite do contrato de fornecimento de 220 MW
6
para cada estado e o índice de 60% de nacionalização de empreendi-
mentos energéticos. Tal índice considera a nacionalização não apenas do figura 2: situação de todos os projetos contratados
equipamento, mas do empreendimento como um todo, e foi criticado por pelo Proinfa (maio/2008)
dificultar empreendimentos eólicos. Em função dessas críticas, o índice
de nacionalização acabou sendo flexibilizado para viabilizar projetos Fonte PCH biomassa eólica total
contratado
eólicos, ainda dependentes de equipamentos importados.
Operação comercial
Posteriormente, a Lei 10.762, de 11 de novembro de 2003, permitiu pelo PROINFA
Unidades 16 19 6 41
a participação de um maior número de estados no programa e excluiu % 25,4% 70,4% 11,1% 28,5%
MW 299,34 504,34 218,5 1.022,18
consumidores de baixa renda do pagamento do rateio da compra de % 25,1% 73,6% 15,4% 31%
energia nova3. Em seguida, o Decreto 5.025, de 30 de março de 2004,
incluiu benefícios financeiros provenientes de créditos de carbono entre
as receitas da Conta Proinfa. Por último, a Lei 11.075, de 30 de Concluídas aguardando
dezembro de 2004, alterou os prazos de celebração de contratos e de regularização da operação
comercial pelo PROINFA
início de funcionamento de empreendimentos. O início de funcionamento, Unidades 1 0 0 1
previsto para 2006, foi postergado para o final de 2008 para contratos MW 22,50 0 0 22,5

celebrados pela Eletrobrás até 30 de junho de 2004. Após esta data, a


diferença entre os 1.100 MW e a capacidade contratada por fonte seria
celebrada em contratos por fonte até 28 de dezembro de 2004. Em construção
Unidades 42 1 15 58
% 66,7% 3,7% 27,8% 40,3%
MW 812,7 10 123,83 946,53
% 68,2% 1,5% 8,7% 28,7%

resultados do Proinfa

Não iniciada construção


No total, foram contratados 144 projetos que devem totalizar, até Com EPC*
o final do Proinfa, 3% da geração de energia elétrica do Sistema Unidades 1 1 28 30
% 1,6% 3,7% 51,9% 20,8%
Interligado Nacional. Deverão ser gerados mais de 13.500 GWh, com MW 18 30,5 839,89 886,39
% 1,5% 4,5% 58,9% 26,9%
potência instalada de 3.299,40 MW. De acordo com o MME, na últi- Sem EPC*
ma atualização de dados do Proinfa (em abril de 2008), há 42 usinas Unidades 2 2 5 9
% 3,2% 7,4% 9,3% 6,3%
concluídas ou em operação (totalizando 1.044,7 MW) e outras 102 MW 28,7 61 242,7 332,4
% 2,4% 8,9% 17,1% 10,1%
usinas não concluídas, que poderão agregar 2.165,3 MW. Destas, 58 Total
usinas estão em construção (em um total de 946,5 MW) e 39 não tive- Unidades 3 3 33 39
% 4,8% 11,1% 61,1% 27,1%
ram sua construção iniciada (1218,8 MW). Outras 5 usinas estão em MW 46,7 91,5 1.080,59 1.218,79
processo de rescisão contratual (89,4 MW)4. % 3,9% 13,4% 75,9% 36,9%

Dos projetos contratados, 27 são empreendimentos de biomassa, sendo


que 19 já entraram em operação, 1 está em construção, 3 não iniciaram Sub judice/
em rescisão contratual
as obras e 4 solicitaram rescisão de contrato. Há 63 empreendimentos de Unidades 1 4 0 5
PCHs, dos quais 17 encontram-se concluídos ou em operação comercial, % 1,6% 14,8% 0% 3,5%
MW 10 79,4 0 89,4
42 em construção, 3 ainda não iniciados e 1 projeto em dissolução de % 0,8% 11,6% 0% 2,7%
contrato. Na fonte eólica, foram 54 empreendimentos - 6 em operação
comercial, 15 em construção e 33 ainda não iniciados.
Total contratado
Os problemas se concentraram nos projetos de geração eólica. Apesar Unidades 63 27 54 144
MW 1.191,24 685,24 1.422,92 3.299,4
do enorme potencial energético de 143 mil MW estimados no Atlas do
Potencial Eólico Brasileiro5, o setor eólico carece de estrutura indus-
trial para atingir maturidade no curto prazo. O monopólio na produção
* Engineering, Procurement and Construction contracts
de aerogeradores por uma única empresa no país elevou os custos dos
componentes e conseqüentemente da energia eólica. fonte 2008, Eletrobrás

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a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

Já os projetos de biomassa e PCHs não apresentaram gargalos tecno- Em termos de legislação, a demora na regulamentação do programa
lógicos. As PCHs têm um acúmulo de mais de cem anos de experiência pelo governo gerou incertezas sobre a divisão de competências, condi-
e o Brasil é líder mundial no setor com 1.300 MW instalados distribu- ções de aquisição de energia e prazos de contratação. Houve também
ídos por 260 empreendimentos em operação. Apesar de enfrentar atra- problemas relacionados à obtenção de licenças ambientais por conta de
sos nas obras por conta da lentidão na obtenção de licenças ambien- fatores jurídicos, técnicos e financeiros.
tais, é a fonte que mais se aproxima do cumprimento da meta de
geração do Proinfa, já que todos os projetos estão com financiamentos Já em termos de mercado, os principais problemas foram o financia-
solicitados ou contratados e encontram-se dentro do prazo previsto. mento e o acesso de empreendedores ao crédito, o valor econômico dos
projetos, a falta de segurança para investidores e o índice mínimo de
Em relação à biomassa, há 286 usinas termelétricas em operação nacionalização (este último, específico para a energia eólica).
produzindo 4100 MW, dos quais 74% são gerados a partir do baga-
ço de cana. Três projetos de biomassa tiveram problemas de acesso à Alguns equívocos foram corrigidos no decorrer do Proinfa. A própria
eletricidade e solicitaram rescisão. A conexão à rede básica é justa- Eletrobrás reconhece as falhas e assume que faltou objetividade em
mente o maior entrave à ampliação do setor uma vez que não houve algumas datas estipuladas, que acabaram prorrogadas para completar
investimento das distribuidoras na ampliação das linhas de trans- a contratação da capacidade prevista inicialmente. A alteração das
missão. O mesmo vale para projetos de parques eólicos. Pelo menos regras no meio do jogo intimidou empreendedores e fabricantes de
para as usinas de co-geração, a situação pode melhorar: a Empresa equipamentos. Hoje, há consenso entre o governo e o mercado de que
de Pesquisa Energética (EPE) deve licitar a construção de linhas uma política transparente é necessária para encorajar a estruturação
de transmissão e subestações coletoras. Isto facilitaria a conclusão de um mercado de energias renováveis no país.
da interligação das usinas, que ficariam responsáveis por um trecho
menor de conexão, até as subestações.

As Regiões Sudeste e o Centro-Oeste do país são as preferidas para as imprecisões legais


PCHs, abrigando 41% do total dos projetos e, assim, serão responsá-
veis pelos maiores volumes de geração com 50% da energia ofertada. A Imprecisões no texto da Lei 10.438/02 e do Decreto 4.541/02 relacio-
Região Nordeste abrigará 31% dos projetos, mas totalizará apenas 22% nadas à regulamentação comprometeram o andamento do programa
da energia gerada, por conta do número de projetos de pequena escala. As nos seguintes aspectos: garantia de compra da eletricidade, definição
Regiões Norte e Sul do país responderão por 24% e 4%, respectivamen- das competências dos diferentes agentes (Ministério de Minas e Energia
te, da geração total e contam com a mesma proporção de projetos. (MME), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e Eletrobrás),
chamada pública e forma de fixação do preço da energia. Alguns destes
Do total, foram contratados 143 projetos de PCHs, 52 projetos com pontos foram posteriormente regulamentados pelo Decreto 5.025, de 30
potência inferior a 15 MW e 91 com potência superior a 15 MW. Em de março de 2004 e pelas Resoluções Normativas número 56, 62 e 127,
termos de energia gerada, os pequenos projetos (< 15 MW) serão res- de 2004. Outros pontos permaneceram imprecisos, como é o caso da
ponsáveis por quase 2.000 GWh (14% do total de geração) e projetos gestão dos Certificados de Energia Renovável (CER).
com potência superior a 15 MW gerarão 11.500 GWh (86% do total
de geração). As Regiões Sudeste e Centro-Oeste serão responsáveis por
41% da energia gerada por projetos de PCHs com potência inferior a
15 MW e por 52% da oferta dos projetos maiores que 15 MW. definição das regras de aquisição de energia elétrica

Na conta final, os projetos de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) As disposições legais relacionadas à garantia de compra da energia
contribuirão com 51% da energia gerada pelo Proinfa, seguida dos gerada por projetos do Proinfa são contraditórias. A Lei 10.438/02
projetos eólicos (28%) e dos projetos de biomassa (21%). diz que, na primeira etapa do programa, a compra da energia a ser
produzida no prazo de 15 anos estaria assegurada a partir da entrada
em operação definida no contrato. A informação, no entanto, não foi
complementada ou ratificada no decreto 4.541/02.

pontos críticos e falhas do Proinfa Houve também dúvidas sobre a definição dos limites de compra de
energia de cada fonte, do controle de colocação de energia na rede em
Devido à inexperiência e falta de cultura tecnológica, o Proinfa apre- função da produção, da variação da demanda e do sistema hidrelétrico
sentou diversas falhas, divididas aqui em aspectos legais e de mercado. e do pagamento por disponibilidade de capacidade em momentos de
8
oferta abundante de energia. pública. Embora sutil, a diferença entre licitação e chamada pública
é importante. O Decreto 4.541/02 define chamada pública como uma
A regra de garantia de compra de energia também gerou dúvidas em modalidade autônoma de licitação cujos regramentos não são inteira-
função de dois artigos do decreto 4.541/02 que definiam a quantidade mente compatíveis com a Lei de Licitações e Contratos. Essa impre-
de energia passível de contratação e estabeleciam o montante de ener- cisão do decreto poderia colocar em risco os contratos, tornando-os
gia que seria adquirido pela Aneel. Ambos os artigos diziam que o con- passíveis de anulação. Vale ressaltar, porém, que não houve problemas
trato garantiria a compra da energia de referência – que é a energia nas chamadas públicas realizadas. Foram realizadas duas chamadas
passível de ser contratada -, provocando uma redundância e sugerindo públicas e todos os 3300 MW foram habilitados.
que a implementação do Proinfa seria discricionária apenas à Aneel. A
definição dos valores e da forma de aquisição da energia elétrica são Em relação à contratação de projetos, houve também uma grande
pontos cruciais para aplicação correta do programa e para garantir discussão sobre os critérios adotados para escolha e desempate de pro-
estabilidade de investimentos6. jetos. O Proinfa estabelece como critério de seleção a disponibilidade,
nesta ordem, da Licença Ambiental de Instalação e da Licença Prévia
Ambiental. Em casos de desempate, foram privilegiados projetos com
licenças mais antigas, critério que deixou em segundo plano outros
divisão de competências e responsabilidades parâmetros fundamentais para a avaliação dos empreendimentos, tais
como a eficiência do projeto.
O Decreto 4.541/02 também foi impreciso quanto à definição de atu-
ação e de competências específicas de cada agente do setor elétrico,
leia-se MME, Aneel e Eletrobrás.
forma de fixação do preço da energia
O decreto atribuiu à Aneel a competência de criar critérios para auto-
rizar e rever periodicamente o montante da energia elétrica contratada Apesar do enorme potencial nacional, o custo de produção da energia
no âmbito do Proinfa. Em outros artigos, o decreto estipulou regras de renovável no Brasil ainda é superior ao da energia hidrelétrica, especial-
competência da Aneel em relação a procedimentos de rateio, fiscaliza- mente a energia velha proveniente de geradoras com investimentos amor-
ção da qualificação dos PIAs e regulação da aplicação dos recursos da tizados. A Lei do Proinfa definiu que o preço das energias alternativas
Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). No entanto, por princípio, seria fixado pelo VETEF, tendo como piso 80% da tarifa média nacional
a Aneel não poderia ser incumbida de competências via decreto, já que de fornecimento ao consumidor final. Já o Decreto 4.541/02 determinou
a agência foi criada por lei e constitui uma entidade autônoma, e não uma metodologia para a fixação de preço para cada fonte de energia, a
departamento ou órgão do MME7. partir de uma média do fluxo de caixa geral das empresas geradoras de
energia de fontes alternativas (custos, remuneração de capital, produtivi-
O decreto estabeleceu ainda uma divisão inadequada de funções entre dade, etc), com piso indicado também pela média da tarifa nacional.
a Eletrobrás, a Aneel e o MME. A Eletrobrás celebra o contrato de
compra de energia, mas cabe à Aneel e ao MME a definição de parâ- Esse preço, apesar de incluir critérios econômicos e características
metros de energia de referência, qualificação dos contratados, valor dinâmicas das fontes (como custo/benefício), deixou de contemplar
econômico de cada tipo de energia e necessidade de chamadas públi- especificidades de projetos, tais como economia de escala, compor-
cas, entre outros pontos importantes. Essa repartição de competências tamento do vento ou impactos positivos como o desenvolvimento
pode provocar uma quebra de vínculo de responsabilidade do contra- regional, pesquisa e desenvolvimento e ganhos ambientais. Um pro-
tante em relação ao contrato, uma vez que a Eletrobrás não tem o jeto considerado pouco atrativo do ponto de vista econômico pode ser
poder de decidir sobre os aspectos de contratação citados acima. Essa valorizado de acordo com seus benefícios sociais e ambientais. Assim,
divisão de funções também pode gerar decisões incoerentes, desperdí- este mesmo projeto poderia ser mais competitivo caso seu nível de
cio de recursos e, principalmente, insegurança nos investidores. remuneração contabilizasse custos externos evitados – tais como emis-
sões de gases estufa, alagamento de áreas habitadas e a economia na
ampliação da geração elétrica convencional.

chamada pública e critérios de contratação de projetos Vale ressaltar que a fixação de preços por valores normativos ou valo-
res limites de repasse dos preços de eletricidade é justamente uma das
As contratações da administração pública direta e indireta são sempre grandes dificuldades enfrentadas pelos programas de incentivo a reno-
precedidas de licitação. Porém, a Lei 10.438/02 estabeleceu que a váveis tanto no Brasil como em outros países.
contratação pelo Proinfa seria precedida da modalidade de chamada
9
a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

licenciamento e financiamento arrecadação e rateio da CDE

Foram detectados entraves burocráticos na obtenção de licenças ambien- A Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) foi estabelecida pela
tais, atrasos na aprovação de projetos por questões jurídicas, técnicas Lei 10.438/02 com o objetivo de promover o desenvolvimento energé-
e de documentação, além da reprovação de projetos pelo BNDES por tico dos estados e a competitividade de fontes energéticas renováveis,
falta de garantias suficientes da parte de pequenos e médios investidores. como eólica e biomassa; e fósseis, como o gás natural e o carvão. A
previsão é que a CDE tenha validade de 25 anos.
Em relação aos projetos eólicos, a data de emissão da Licença de
Instalação (LI) desconsiderou questões técnicas, exercendo grande Os recursos da conta provêm de pagamentos anuais de uso de bem
pressão sobre os órgãos ambientais para agilizar o processo e poster- público nas atividades de geração e transmissão de energia, cotas
gou entraves técnicos. Houveram também denúncias de irregularida- pagas por comercializadoras de energia e multas aplicadas pela Aneel
des na emissão de Licenças de Instalação (LI) e casos de comerciali- a concessionários e autorizados. Tais recursos destinam-se, basicamen-
zação ilegal de licenças. te, a cobrir custos de combustível para usinas térmicas que utilizam
carvão mineral nacional, gastos com a instalação e transporte de gás
Já a reprovação do financiamento de projetos ocorreu basicamente por natural para estados sem fornecimento e pagamentos aos produtores
falta de uma opção de modelo de financiamento adequada para pro-
de eletricidade no âmbito do Proinfa. Neste último caso, a CDE é uti-
jetos de energias renováveis, como é o caso do Project Finance (vide
lizada para custear a diferença entre o valor econômico estabelecido
item acesso ao crédito).
para cada fonte participante do programa e seu valor de mercado.
No caso das PCHs, os projetos selecionados pelo Proinfa já estavam
As indefinições iniciais quanto às formas de arrecadação e de rateio
sendo desenvolvidos por empresas de engenharia habilitadas tecnicamen-
te. Porém, tais empresas não dispunham de estrutura financeira para dos recursos da CDE resultaram na inadimplência inicial da maioria
arcar com os custos de construção e seguros das obras. Para contornar das distribuidoras de eletricidade. O índice de inadimplência foi de
tal dificuldade, foram formados consórcios nos quais a maior parte de quase 90% no pagamento da primeira parcela em 2003. Já em 2008,
empreendedores era despreparada e entrava com participações minoritá- está previsto o recolhimento de R$ 2,48 bilhões para a CDE, valor
rias apenas para “fazer negócio”. O BNDES acabou aprovando somente próximo ao arrecadado no exercício anterior.
projetos que dispunham de sócios de grande capacidade financeira8.
Além de obscura, a distribuição dos recursos da CDE é contraditória no
Em outros casos, não havia nem a capacitação técnica: os titulares âmbito das fontes alternativas porque inclui subsídios ao carvão mineral
das concessões não estavam interessados em realmente construir as nacional, ao gás natural e aos consumidores de baixa renda. A CDE
usinas e sim em gerar movimento especulativo, repassando a outorga prioriza ainda o tema da universalização do serviço público. Este é um
a outros compradores9. exemplo claro de objetivos cruzados do próprio Proinfa, ao tentar pro-
mover, por uma mesma lei, tanto recursos renováveis que ainda depen-
Outro entrave para as pequenas hidrelétricas era o fato de que muitos dem de incentivos para penetrar no mercado, quanto recursos fósseis já
empreendimentos não eram elegíveis ao financiamento por conterem implantados e participantes do Sistema Interligado Nacional (SIN).
equipamentos não registrados na Agência Especial de Financiamento
Industrial (Finame). Estes equipamentos, formados basicamente pela
parte eletromecânica, rotores e turbinas representam, em alguns casos,
até 40% do custo da obra. O cadastro no Finame é possível, mas é
obstáculos de mercado
mais uma amostra da burocracia do processo de financiamento10.

Neste tópico, são comentadas as principais dificuldades enfrentadas


na primeira fase do Proinfa para atingir os objetivos de promoção e
expansão do mercado brasileiro de energias renováveis.

Entre os problemas identificados, constam a capacidade limitada de


aporte de recursos próprios de empreendedores para a obtenção de
financiamentos, o índice de nacionalização – que, no caso da energia
eólica restringe a entrada de fabricantes internacionais de equipa-
mentos, entre outras.
10
acesso ao crédito Já a divisão das fontes em parcelas iguais restringia a implantação do
potencial de uma determinada fonte em detrimento de outra. Sabe-se
A dificuldade de acesso ao financiamento do BNDES foi apontada por que os potenciais das energias de biomassa, pequenas centrais hidre-
investidores como a maior barreira para o sucesso do Proinfa, devido létricas e eólica são totalmente diferentes entre si e encontram-se em
ao perfil dos empreendedores envolvidos nos projetos. A maior parte dos posição de desenvolvimento tecnológico e curva de aprendizado dife-
investidores inscritos era de pequeno e médio porte, com capacidade finan- rentes no país. A divisão igualitária foi abandonada, conforme visto no
ceira abaixo da média das empresas de energia e, em alguns casos, sem item resultados do Proinfa.
tradição no setor. Muitos projetos acabaram travados na burocracia do
BNDES por falta de garantias suficientes de parte destes empreendedores.

preços
É importante ressaltar que o BNDES tampouco estava preparado para
apoiar projetos do Proinfa. Isto porque as condições de financiamento
O valor econômico estabelecido para a energia do Proinfa contratada
oferecidas inicialmente eram próximas às de um sistema corporativo sim-
pela Eletrobrás ficou abaixo das expectativas dos produtores, resultando
ples, exigindo uma grande porcentagem de capital próprio nos empreendi-
em pouca atratividade econômica dos empreendimentos eólicos. Alguns
mentos. Este tipo de financiamento não favoreceu os projetos do Proinfa,
produtores alegaram que os preços de compra estabelecidos eram baixos
sem histórico operacional no momento da construção e, portanto, sem
em comparação aos custos de financiamento. O baixo valor econômico
confiabilidade de crédito para os bancos. O esquema que viabilizou de fato
também dificultou, segundo os investidores, a importação de tecnologia,
os empreendimentos do Proinfa foi o Project Finance, no qual fluxos de
no caso da energia eólica.
caixa esperados do projeto são suficientes para saldar os financiamentos.

Em relação à energia de biomassa, o valor inicial proposto, de R$


A partir de março de 2005, foram acatadas demandas dos investidores
105/MWh seria razoável para uma usina de açúcar e álcool mas não
tais como o aumento dos prazos de pagamento de 10 para 12 anos, o
para uma usina de co-geração, cujos investimentos adicionais em equi-
adiamento do início das operações dos projetos de 2006 para 2008 e o
pamentos demandam uma tarifa de R$ 150/MWh para garantir taxas
aumento do índice de financiamento de 70% para 80% do valor total
de retorno de 15%. Vale lembrar que esta taxa de retorno é bastante
do projeto. Estas alterações nas exigências para obtenção do financia-
inferior àquela que pode ser obtida com a produção de açúcar e álcool.
mento viabilizaram projetos de PCHs e eólicas, os mais afetados pelas
Posteriormente, o valor da biomassa foi corrigido para valores mais
dificuldades iniciais de crédito.
próximos do custo estimado.

A definição dos preços foi baseada apenas em aspectos técnicos e nas


condições de mercado de cada fonte, deixando de contemplar externa-
distribuição de capacidade entre fontes e limitações
lidades relacionadas a benefícios ambientais e sociais. Assim, as tari-
estaduais
fas fixadas para energias renováveis acabaram sendo superiores as das
fontes energéticas já consolidadas tais como hidrelétricas de grande
A divisão da capacidade de geração em parcelas iguais entre as fontes
porte e usinas térmicas. Por exemplo, se os custos sócio-ambientais da
(1.100 MW para cada tipo de energia renovável – eólica, biomassa
poluição gerada por energias fósseis fossem incorporados à tarifa, as
e PCH) e a limitação de capacidade estadual (estabelecendo um teto
fontes renováveis já seriam mais competitivas no mercado.
de contratação de 20% da potência total por estado) foram medidas
iniciais que poderiam ter resultado na restrição do desenvolvimento de
O preço deveria considerar ainda impactos positivos da complementari-
mercados locais de energias renováveis.
dade da geração elétrica a partir de vento e biomassa na estação seca, de
baixa geração hídrica. O potencial destes energéticos em “armazenar” a
No caso da capacidade estadual, a limitação era preliminar - o poten-
energia hidrelétrica e, desta maneira, minimizar a oscilação dos preços
cial não contratado foi distribuído entre estados que possuíam as licen-
de liquidação da diferença em épocas de estiagem, é decisivo para con-
ças ambientais mais antigas. A medida desfavoreceu o fortalecimento
ter os aumentos do valor da energia repassada aos consumidores. Outro
de pólos regionais de desenvolvimento tecnológico e a conseqüente
impacto positivo da complementaridade é a redução da necessidade de
criação de mercados capazes de reduzir os custos de tecnologias pro-
importação de energia para alguns submercados em períodos de seca.
missoras. O desenvolvimento de fontes energéticas regionais como é o
caso da energia eólica na região nordeste do país, também foi compro-
metido. Em resumo, a restrição por estado não faz sentido, na medida
que o que interessa em termos energéticos é o submercado.

11
a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

limitação tecnológica e índice de nacionalização incertezas e falta de sinalização para investidores

A obrigatoriedade de um elevado índice de nacionalização para os As imprecisões legais e de regulamentação do Proinfa geraram incerte-
empreendimentos e a falta de sinalização de uma continuidade do zas quanto às suas condições para a compra de eletricidade e a fixação
incentivo após o fim da primeira fase do Proinfa foram prejudiciais do preço da energia, entre outros pontos importantes já comentados
para o setor eólico. anteriormente. A falta de transparência no início do programa au-
mentou a insegurança dos potenciais investidores. Outros fatores que
O índice de nacionalização de 60% dificultou o estabelecimento de contribuíram para a desconfiança dos investidores foram a ausência de
fabricantes no país e afetou a importação de tecnologia para o seg- parâmetros claros e os atrasos no andamento dos projetos.
mento. Até hoje, existe apenas um fabricante de aerogeradores no
Brasil, a Wobben Windpower. Para 2008, está prevista a entrada da Ao término da primeira etapa do Proinfa, esse clima de incerteza con-
empresa argentina Impsa (Industrias Metalurgicas Pescarmona), que tribuiu para a instabilidade dos investimentos. Fabricantes estrangeiros
anunciou que construirá uma fábrica com capacidade anual para pro- não consideraram a capacidade inicial de 1.400 MW de geração eólica
duzir 300 MW em aerogeradores. em escala suficiente para justificar sua instalação no Brasil. E, assim,
com falta de fabricantes e a conseqüente ausência de concorrência,
Prevista na Lei do Proinfa, a obrigatoriedade do índice mínimo de não se estabeleceu um mercado nacional de energia eólica.
nacionalização de 60% do custo total de equipamentos e serviços dos
projetos foi um grande entrave para o ingresso de fabricantes de tec- Uma prova da viabilidade da indústria de renováveis em países em
nologia eólica no país. A intenção dessa medida era fomentar o desen- desenvolvimento é a China. O relatório Global Trends in Sustainable
volvimento da indústria nacional de equipamentos eólicos. Porém, a Energy Investments (Tendências Globais de Investimentos em Energias
existência de apenas um fabricante de aerogeradores no país dificultou Sustentáveis), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
o cumprimento desta exigência e a realização da maior parte dos (PNUMA), apontou que o país atraiu, em 2006, US$ 4,5 bilhões
projetos. Como forma de corrigir esta limitação, o governo optou pela em empreendimentos de energias renováveis. A capacidade eólica da
progressiva isenção do imposto de importação de partes dos aerogera- China dobrou neste período, pulando de 1.300 MW para 2.650 MW e
dores a partir de meados de 2007. colocando o país entre os cinco maiores produtores deste tipo de ener-
gia. Em 2007, a China acrescentou mais 3.449 MW ao seu parque
Para PCHs e usinas de biomassa, contudo, o índice de nacionalização instalado, um crescimento de 150% em relação ao ano anterior. Estes
não representou um problema, uma vez que o país já detém as tecnolo- números impressionantes são fruto da política de incentivo ao desen-
gias de produção de maquinário para ambas as fontes. volvimento de seu parque industrial, que levou os principais fabricantes
de equipamentos eólicos a instalar-se em seu território. Mais exemplos
Por fim, ainda não existe uma infra-estrutura de serviços para de formação e desenvolvimento de mercados internacionais de energias
atender à demanda da indústria eólica, tanto em termos de maqui- renováveis podem ser conferidos no capítulo a seguir.
nário como de recursos humanos, com uma classe de profissionais
capacitados em diferentes áreas de ensaios, normatização e cer-
tificação. A lentidão do mercado desestimula a entrada de novas
empresas. Para quebrar esse marasmo, é imprescindível que polí-
ticas de incentivo a renováveis sejam mantidas e aprimoradas, seja
através da continuação e reformulação do próprio Proinfa ou do
início de um novo programa.

12
© Paul Langrock/zenit/greenpeace
imagem instalação fotovoltaica próxima a berlim, alemanha.

segunda fase do Proinfa? o Proinfa e a mitigação do aquecimento global

Já prevista na Lei 10.438 de 2002, a idéia do governo era de iniciar a O potencial de redução de emissões das aplicação das energias reno-
segunda etapa do Proinfa depois que a meta de implantação de 3.300 MW váveis do Proinfa foi calculado em estudo da Universidade Salvador
da primeira fase fosse atingida. Diante dos problemas enfrentados pelo (Unifacs)11. Para determinar a contabilização adequada de reduções
programa e em função dos atrasos para atingir suas metas, especula-se de emissões, foi determinado o impacto dos empreendimentos reno-
que a segunda fase do programa não sairá do papel. váveis sobre a geração das usinas movidas a combustíveis fósseis. O
Sistema Interligado Nacional (SIN) estabelece o despacho prioritário
De qualquer maneira, a idéia original da continuidade do programa é de usinas hidrelétricas e nucleares, que apresentam custos marginais de
de que as três fontes, eólicas, PCHs e biomassa alcancem, em até 20 operação mais baixos que as usinas térmicas, despachadas em caráter
anos, uma meta de atendimento a 10% do consumo anual de energia suplementar. Respeitando critérios da UNFCC (sigla em inglês para
elétrica do país, considerando o potencial já instalado na primeira Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), o
fase. A aquisição dessa energia ocorreria mediante programação anual estudo considerou nulas as emissões de usinas hidrelétricas.
de compra da energia elétrica de cada produtor, atendendo a pelo
menos 15% da energia acrescentada anualmente ao mercado. O resultado do potencial de redução de emissões no SIN foi superior a
2,8 milhões de toneladas de CO2/ano; o sistema Sul responde por 55%
Outras diferenças importantes desta etapa em relação à primeira do total, seguido pelos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste (24%) e
fase do Proinfa são a atribuição de um limite de 0,5% no impacto Nordeste (21%). As receitas provenientes de transações com créditos
da contratação de fontes alternativas sobre a formação da tarifa de de carbono associados aos empreendimentos do Proinfa podem chegar
suprimento e o estabelecimento do preço das fontes por leilão, e não a R$ 80 milhões por ano estimando-se o valor da tonelada equivalente
mais não por valor econômico. O índice de nacionalização subiria para de carbono em US$ 15.
90%, a despeito da grande dificuldade verificada pelos empreendimen-
tos em atender a este requisito na primeira fase do programa. A diferença entre o preço de mercado da energia (em torno de
R$ 80/MWh) e os Valores Econômicos das diferentes Tecnologias
Além das restrições tarifárias, as fontes alternativas participantes do (VETEF) demonstraram que as receitas provenientes das vendas dos
Proinfa em sua segunda fase deveriam participar de sistema de leilão créditos de carbono representariam algo em torno de 12% do total dos
e competiriam entre si pela parcela do mercado estipulada pelo MME. subsídios da conta Proinfa.
Nesta etapa, não haveria o estabelecimento de valores econômicos
para cada fonte, visto que o sistema de leilão aproveita os empreendi- Vale frisar que a titularidade dos créditos de carbono dos projetos do
mentos que apresentam menores custos marginais. A expectativa seria Proinfa vem sendo um dos pontos de discussão do programa. O decreto
de que novos projetos pudessem ser instalados de forma mais competi- 5.882, de 31 de agosto de 2006, ratificou a apropriação dos créditos
tiva e menos onerosa. de carbono dos empreendimentos pela Eletrobrás. Este ponto provocou
muitas críticas de parte de empreendedores, que obviamente contavam
com os créditos como parte da receita de seus projetos.

13
a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

políticas de desenvolvimento de fontes renováveis


Incentivos do governo são fundamentais para formar e sustentar mercados de energias renováveis

© greenpeace
imagem O acesso à rede garante a formação de um mercado de energias renováveis e impulsiona o setor.

Para estabelecer um mercado brasileiro de renováveis, tão importante cado de energia eólica na Alemanha, Espanha e Dinamarca. A tarifa é
quanto o desenvolvimento tecnológico é a análise institucional dos prin- capaz de suportar grandes mercados de energia renovável a um custo que
cipais mercados de energias alternativas. Os principais casos de sucesso acaba pulverizado entre todos os consumidores de eletricidade.
de mercados energéticos ao redor do mundo são fruto de leis de incenti-
vos que apontaram benefícios diretos e indiretos de cada fonte à matriz As tarifas feed-in podem ser fixas ou prêmio. As tarifas fixas definem e
energética de cada país, tanto na geração de energia limpa quanto em garantem o preço mínimo da energia elétrica gerada independente do mer-
efeitos periféricos resultantes da criação e da sustentação de mercados. cado de eletricidade. Já as tarifas prêmio pagam um valor adicional além
do preço de mercado. As tarifas prêmio representam uma modificação das
O exemplo de sucesso de política de incentivo para fontes renováveis, tarifas de preço fixo em relação à incorporação de fatores de mercado.
aplicada em diversos países da União Européia é, sem dúvida, a utili-
zação de mecanismos de feed-in. Este e outros mecanismos, bem como Na Espanha, utiliza-se a opção de sistema de recompensa pré-fixada,
suas vantagens e desvantagens, são explicados a seguir. ou mecanismos de “bônus ambiental”, que funcionam pela adição de
uma recompensa somada ao preço básico de venda da eletricidade. Da
perspectiva do investidor, o preço total recebido pelo kWh não é tão fixo
como o da tarifa feed-in, por estar indexado ao preço da eletricidade.
tarifas feed-in Por outro lado, da perspectiva de consumo, uma recompensa pré-fixada
integra-se mais facilmente ao mercado global de eletricidade, já que os
A tarifa feed-in (ou FIT) é um preço especial pago pelas concessionárias envolvidos responderão a sinalizações do próprio mercado12.
de energia para a eletricidade proveniente de fontes renováveis. Utilizada
amplamente na Europa, a tarifa feed-in está na raiz do sucesso do mer- Normalmente, as regulamentações impõem obrigações contratuais
14
entre as concessionárias e os produtores de energia de fontes renová-
veis, como por exemplo, o pagamento de valores fixos por 20 anos, figura 3: tarifas feed-in na Alemanha entre 2004 e
nos casos da Alemanha e Espanha. Estas obrigações têm a função de 2013 (em centavos de e/kWh)
oferecer segurança aos investimentos e atrair novos investidores, justa- PCH biomassa eólica solar - PV
(de 0,5 a 5mw) (de 5 a 20 MW) (Onshore) (de 30 a 100kW)
mente os pontos deficientes do Proinfa.
2004 6,65 8,4 8,7 54

2005 6,65 8,27 8,53 51,3

como funciona?
2006 6,65 8,15 8,36 48,74

Os geradores recebem da concessionária um preço fixo por cada kWh de 2007 6,65 8,03 8,19 46,3
eletricidade injetada na rede. O custo adicional dessa energia é assumido
2008 6,65 7,91 8,03 43,99
pelos consumidores de eletricidade. Por exemplo, se o preço de venda é de
R$ 400/MWh e a energia renovável custa R$ 500/MWh, a diferença de 2009 6,65 7,79 7,87 41,79
R$ 100 é rateada entre os consumidores de eletricidade. Cem mil MWh
de energia renovável custariam R$ 50 milhões. Considerando 4 milhões de 2010 6,65 7,67 7,71 39,7
consumidores, cada um deles pagaria R$12 por ano ou adicional de R$ 1
2011 6,65 7,55 7,56 37,72
por mês na conta de luz. Este pequeno acréscimo na conta de eletricidade
do consumidor seria certamente um grande incentivo para o desenvolvi- 2012 6,65 7,44 7,41 35,83
mento da geração distribuída e um passo inicial na mudança da estrutura
da produção energética atual. 2013 6,65 7,33 7,26 34,04

A remuneração das tarifas deve cobrir os custos da geração de eletrici-


fonte ”Mindestvergütungssätze nach dem neuen Erneuerbare-Energien-
dade e, ao mesmo tempo, proporcionar uma margem razoável de lucro. Gesetz (EEG). vom 21. Juli 2004”, Ministério do Meio Ambiente da Alemanha.
O preço também deve atingir um nível de equilíbrio que o torne acessível Acessado em 2008. http://www.erneuerbare-energien.de/inhalt/

ao consumidor de energia e motive o investidor a aplicar seus recursos.


Ou seja, deve ser atraente e lucrativo ao mesmo tempo. O nível da tarifa
é geralmente mantido fixo durante um número variável de anos para dar
segurança aos investidores, garantindo, assim, parte da receita ao longo
da vida útil do investimento. O mecanismo de feed-in pode ser baseado
nos custos de geração de energia ou nos custos externos evitados pela
utilização de fontes renováveis tais como emissões de gases estufa.

A tarifa também pode ser complementada com subsídios do Estado. Há, e o tamanho da usina de geração. Existem casos de redução gradual
ainda, opções de tarifas que não incluem a obrigação da aquisição da da tarifa, de forma a incorporar a curva de aprendizado e evitar sobre-
eletricidade. Há países nos quais só é obrigatória a compra de energia compensação. Neste modelo, as tarifas são revistas regularmente para
renovável equivalente à quantidade de energia perdida na transmissão na mantê-las em linha com os objetivos da política energética e acompanhar
rede. Há também o caso de países onde é possível vender a energia reno- as variações no preço da energia. A tarifa de energia solar fotovoltaica,
vável diretamente no mercado spot. por exemplo, é reduzida em cerca de 5% ao ano, um reflexo direto da
curva de aprendizado da tecnologia e sua queda de custos.
A obrigação de compra apenas para compensar perdas de transmissão e
distribuição da rede é praticada na Estônia e na Eslováquia, países onde a vantagens
lei não permite que distribuidoras vendam eletricidade ou adquiram a tota- A grande vantagem das tarifas feed-in é a estabilidade financeira para o
lidade da energia renovável gerada. Já a venda da energia renovável exce- investidor graças a um mecanismo simples do ponto de vista administra-
dente no mercado spot é pratica comum na Espanha, República Tcheca, tivo. Os riscos financeiros são evitados por meio de contratos de compra
Dinamarca e, mais recentemente, na Eslovênia. A vantagem desta opção é e venda de energia a um prêmio ou preço pré-determinados. As garantias
que os produtores, ao invés de receber o preço fixo pela energia, recebem o de acesso à rede e despacho priorizado pelo prazo de 20 anos ajudam
preço de mercado somado a um prêmio para cada kWh comercializado13. a minimizar os riscos. O planejamento do balanço energético também é
influenciado positivamente à medida em que se prioriza o despacho das
As tarifas podem também variar de acordo com o combustível utilizado fontes renováveis e o aumento da capacidade é garantido no curto prazo.
15
a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

figura 4: como funcionam as tarifas feed-in na Alemanha

No sistema feed-in, a energia produzida pelos gerado-


res de energia renovável chega ao consumidor através
1. governo (GOV) do operador local e da distribuidora. O pagamento da
responsabilidades: energia gerada e fornecida é feito pelos consumidores
• criar arcabouço regulatório para conexão e distribuição de eletricidade à distribuidora que repassa o valor para a transmissora.
• determinar tarifas decrescentes para todas as fontes de energia renovável Essa, por sua vez, transfere o dinheiro arrecadado para
o operador local, que efetua o pagamento pela energia
para os geradores de energia renovável.

oferta (geração) demanda (consumo)

2. gerador de energia renovável (RE) 6. consumidor


responsabilidades: responsabilidades:
• seguir padrões técnicos de conexão e operação da rede • pagar a conta de eletricidade (incluindo o
• comunicar falhas técnicas ao operador da rede local (OR) custo extra para tarifas feed-in)
• operar usinas de energia renovável • receber eletricidade convencional e renovável
e e

3. operador de rede local (OR) 5. distribuidora (D)


responsabilidades: responsabilidades:
• garantir a conexão à rede • coletar dinheiro dos consumidores e transferir
• comunicar previsão e quantidade de eletricida- à transmissora (T)
Distribuidora

de renovável à transmissora (T) • organizar contas ao consumidor


• pagar tarifa feed-in ao gerador de energia • distribuir eletricidade renovável
renovável (RE)

4. transmissora (T)
responsabilidades:
• calcular a geração de energia renovável a partir de
informações do operador da rede local (OR)
• calcular total de tarifas feed-in a partir da produção
estimada de energia renovável
• repartir custos adicionais por kWh para distribuidora
• coletar dinheiro das distribuidoras (D)
• distribuir dinheiro ao operador da rede local para
pagamento da tarifa feed-in aos geradores

fonte “Futu[r]e Investment: A sustainable investment plan for the power sector to save the climate.” Greenpeace/Erec. Julho/2007

16
críticas determinada pelo mercado e não de forma administrativa, implica
Por outro lado, há críticas às tarifas feed-in quanto aos valores pagos infra-estrutura regulatória e gerencial sofisticada acarretando
pela energia gerada e ao sistema de tarifa fixa. Há dificuldade de ope- altos custos de transação.
rar ajustes que reflitam mudanças nos custos de produção das tecnolo-
gias renováveis e argumenta-se que a tarifa fixa não gera um mercado desvantagens
competitivo entre as fontes renováveis e entre empreendedores, já que a O sistema de cotas é instável e não oferece segurança no longo prazo.
remuneração independe do mercado de eletricidade. As cotas são determinadas para um período de tempo ou determinada
potência. Depois que a meta é atingida, não há mecanismos previs-
No mercado alemão, a competição ficou a cargo das indústrias tos para manter a produção de energias renováveis competitivas em
fabricantes de turbinas eólicas, que passaram a desenvolver tur- relação às fontes convencionais. Assim, o sistema de cotas desestimula
binas cada vez maiores e mais baratas para manter sua participa- a entrada de investidores. Quem acaba entrando no negócio está mais
ção. Vale lembrar, porém, que a adoção de tarifas prêmio, pagas interessado em especular do que em empreendimentos de longo prazo.
sobre o preço de mercado de eletricidade, representa um avanço
das tarifas feed-in em relação a um instrumento de apoio mais Outra desvantagem do sistema de cotas fixas é que a entrada das reno-
orientado ao mercado. Este tipo de tarifa prêmio incorpora o váveis no mercado acontece de forma rápida, não estimulando a pesqui-
risco da indefinição do total de remuneração e da não-obrigatorie- sa e desenvolvimento ou a aprendizagem tecnológica e acaba por forma-
dade de contratação 14. tar um setor com fontes pouco competitivas em termos comerciais.

No caso dos certificados verdes, o sistema é mais complexo que os


outros mecanismos de pagamento. Os operadores devem ser ativos
sistema de cotas e certificados verdes tanto no mercado de certificados quanto no de energia. Comparado
a um preço fixo de oferta, o modelo de certificados é mais arriscado
O sistema de cotas é uma política de incentivo focada na quantidade para o investidor porque o preço flutua diariamente. No longo prazo, o
de energia renovável produzida. O governo institui uma estrutura para risco poderia ser minimizado com o estabelecimento de um mercado de
o mercado produzir, vender ou distribuir uma quantidade mínima de contratos de títulos certificados.
energia elétrica derivada de fontes renováveis e decide quais serão as
fontes participantes do sistema de cotas. Assim, as renováveis podem
ser protegidas da competição de outras fontes de baixo custo, já que as
cotas são específicas por fonte. Normalmente, estas cotas podem ser sistemas de licitação e leilão
comercializadas entre companhias para evitar distorções de mercado.
Os procedimentos de licitação podem ser usados para apoiar os benefi-
Dentro do sistema de cotas, há a variação do sistema de certificados ciários em termos de investimento, produção ou outros direitos limita-
verdes, que também determina cotas mínimas crescentes de geração e dos, tais como locais para produção eólica. Os critérios para avaliar as
consumo de energia limpa para as concessionárias ou para o consumi- ofertas são determinados antes de cada rodada de licitação, quando o
dor final. A obrigação da aquisição destes certificados, em proporção governo decide o nível desejado de energia gerada, a potência a ser ins-
à geração e consumo de energia, são a garantia de que a energia será talada por cada fonte e as taxas de crescimento, entre outros fatores.
consumida e que a diferença entre o preço de mercado praticado e o
custo da geração renovável será coberta já que o valor dos certificados Em processos mais competitivos, como sistemas de leilões, o regulador
é adicionado à tarifa de eletricidade. define as reservas de mercado para um determinado montante de
energia renovável e organiza o processo de competição entre os
Entre os países que adotaram esse sistema figuram Reino Unido, produtores para alcançar tal montante. As propostas são classificadas
Suécia e Itália, na Europa, além de vários estados dos EUA, onde o em ordem crescente de custo até que se atinja o total a ser contratado.
sistema é conhecido como Renewable Portfolio Standard ou Padrão Na seqüência, elabora-se um contrato de longo prazo como garantia
de Portfólio Renovável. de pagamento da energia para cada produtor de fontes renováveis. Os
valores do contrato são baseados nos preços finais dos leilões.
vantagens
O sistema de cotas e os certificados verdes têm como pontos Os sistemas de leilões envolvem ofertas competitivas de contratos para
positivos a possibilidade de formação de um mercado paralelo construir e operar um projeto específico, ou uma quantidade fixa de
além do potencial de criar um mercado competitivo que garante o capacidade renovável em um país ou estado. Esse sistema tem sido
valor mais baixo para os investimentos. Porém, a tarifa, por ser usado para promover a energia eólica em países como Irlanda, França,
17
a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

© greenpeace/James Perez
imagem parque Eólico de Altamont, Califórnia, EUA.

o fracasso do primeiro leilão de energia alternativa

Em junho de 2007 foi realizado o primeiro leilão de fontes alternati- Outros motivos para a não participação de diversos empreendimentos
vas no Brasil. A intenção do leilão era testar a efetividade deste meca- no leilão foram ausência de documentação para habilitação e a falta
nismo como forma de incentivo às energias renováveis em alternativa à de acesso a linhas de transmissão. Foi o caso de diversas usinas de
continuação do Proinfa. álcool em Goiás, desconectadas às distribuidoras de eletricidade. Em
síntese, a maior parte dos problemas identificados foi muito semelhan-
No caso do Brasil, os empreendimentos vencedores fecharam contratos te aos de empreendimentos do Proinfa.
de comercialização de 30 anos de duração para PCHs e 15 anos para
térmicas a biomassa e centrais eólicas. A movimentação financeira Algumas lições foram aprendidas com a experiência e o Ministério de
total foi de R$ 4,2 bilhões. Mesmo assim, a oferta de energia foi con- Minas e Energia reconheceu que a energia eólica merece um tratamen-
siderada baixa; as usinas eólicas não entraram no processo, as usinas to diferenciado, incluindo o aumento do preço e do prazo de contrata-
térmicas à biomassa venderam apenas 542 MW de uma oferta inicial ção, melhores condições de financiamento e a possibilidade de contra-
de 1.019 MW e as PCHs venderam apenas 97 MW. tar energia por quantidade, utilizando o Mecanismo de Realocação de
Energia (MRE) para compensar variações de demanda.
O governo realizou esse leilão com base em pedidos dos controladores
das usinas, que inscreveram 87 empreendimentos totalizando 2.803 Luiz Pinguelli Rosa, presidente da Eletrobrás no início do governo
MW. A razão da negociação de um volume tão inferior ao habilitado Lula, defendeu a posição de que a estatal participe dos próximos
foi o preço médio praticado. A tarifa de R$ 137,32 por MWh foi con- leilões de fontes alternativas, oferecendo as energias a preços mais
siderada baixa tanto para térmicas a biomassa, cujos empreendedores baixos. Conforme explicitado anteriormente, a opção pelos leilões não
preferiram tentar preços mais altos de venda no mercado livre, como produziu resultados satisfatórios na ampliação da geração renovável
para eólicas, que sequer participaram do leilão. em outros mercados do mundo.

Veja abaixo um gráfico sobre a participação de fontes de energia


nos leilões.

figura 5: participação de fontes energéticas nos leilões de energia nova

26% 39%
óleo combustível renováveis

22% 61%
gás natural não renováveis

13%
carvão
35%
hidrelétrica

4%
biomassa

fonte PRADO, F.A.A., HEIDEIER, R. B.“O crescimento da intensidade de emissões de gases de efeito estufa na matriz elétrica brasileira - uma visão crítica”-
XVIII Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica. Não publicado.

18
Dinamarca e Reino Unido. No caso do Reino Unido, o sistema de Non- O sistema fiscal é utilizado no apoio a fontes renováveis em diferentes
Fossil-Fuel Obligation (NFFO) ou Obrigação de Combustíveis Não- modalidades de redução ou abatimento em impostos especiais aplica-
Fósseis vigorou entre os anos de 90 e 98 e permitia que empreendedo- dos na geração, isenção tributária para fundos verdes e utilização de
res oferecessem lances para diferentes tecnologias renováveis fundos específicos para geração limpa.

desvantagens Um bom exemplo de medida fiscal são os créditos de impostos ou


O processo de licitação tende a favorecer a escolha de projetos mais Production Tax Credits (PTC), utilizados nos EUA e no Canadá desde
eficientes e de custos reduzidos, mas é insuficiente para atrair gran- 1992. O PTC concede um desconto de 1,8 centavos de dólar no imposto
des investimentos. O índice de projetos de fontes renováveis ainda é de renda para cada kWh produzido em parques eólicos. O índice é rea-
baixo por estar sujeito a muitas variáveis do próprio setor de oferta e justado anualmente pela inflação. Originalmente programado para expi-
demanda de energia15. rar ao final de 2005, o PTC foi prorrogado até dezembro de 2008.

Já os sistemas de leilão aplicam mecanismos de mercado, mas tornam Outros países que utilizam incentivos fiscais como medida política de
este mercado intermitente e instável. A incerteza sobre a entrada de incentivo a renováveis são República Tcheca, Reino Unido, Chipre (nos
investimentos dificulta o crédito a taxas de desconto atrativas o que quais a política é adicional a outras medidas de incentivo), Finlândia e
termina por aumentar o custo do capital dos empreendimentos. Malta (que a utilizam como único instrumento de fomento ao mercado).

O sistema de leilões faz os empreendedores assumirem o risco de que vantagens


seus projetos não sigam adiante caso não vençam o leilão ou se houver Os subsídios reduzem o montante de capital inicial próprio necessário
problemas na concessão de licenças. Este risco favorece grandes inves- para começar o projeto e oferecem a garantia de que, no curto prazo,
tidores com capacidade para arcar projetos de maior estrutura, riscos haverá aumento de capacidade da fonte energética subsidiada. As
compartilhados e preços mais econômicos. medidas fiscais, quando aplicadas como subsídios, conseguem criar
uma fonte de renda (custo evitado) para o projeto ao longo da vigência
Há ainda o risco de investidores apenas especularem apresentando lan- do benefício fiscal. Em Minnesota (EUA), o PTC foi o responsável
ces baixos para depois não efetivarem os projetos. Foi o que aconteceu pelo crescimento anual de 18% da indústria eólica local, passando de
no esquema de Obrigação de Combustíveis Não-Fósseis (NFFO, na 290 MW instalados em 1999 para 900 MW em 2006. Por um lado,
sigla em inglês), do Reino Unido no qual o preço de oferta caiu em até o programa mostrou-se decisivo no desenvolvimento da energia eólica,
70% entre o primeiro e o último leilão e a maior parte dos projetos se comparado ao baixo desempenho da indústria solar local, que não
acabou sendo abandonada. O sistema falhou na promoção de energias contava com nenhuma política substancial de promoção. Porém, ao se
renováveis devido a problemas de formulação e burocracia na conces- comparar esta taxa de sucesso com o crescimento das indústrias solar
são das licenças de construção16. e eólica alemãs em 70% durante o mesmo período, fica mais evidente
o efeito positivo das tarifas feed-in em relação ao PTC18.

desvantagens
subsídios e medidas fiscais As definições do nível do subsídio e das tecnologias subsidiadas devem
ser pensadas de forma a não prejudicar a formação de um mercado
Os subsídios podem ser um mecanismo importante para superar competitivo no curto prazo. Subsídios aplicados em níveis inadequados
barreiras de um investimento com alto custo inicial, como no caso de podem acarretar barreiras comerciais e impedir a entrada de outros
empreendimentos em tecnologias de energias renováveis menos econô- atores, reduzindo a competitividade entre os empreendedores19.
micas. Os custos efetivos dos empreendimentos giram de 20% a 50%,
mas estes índices podem variar nos diferentes países em função da Já a opção por incentivos fiscais pode aumentar o custo de empreendi-
disponibilidade de recursos energéticos e a força política das diretivas mentos. O exemplo americano demonstrou que o caminho para a garan-
de proteção ambiental. tia de créditos de impostos requer a elaboração de estratégias complexas
de financiamento, o que pode acabar encarecendo o projeto20.
Taxas especiais para investimentos e medidas fiscais também podem ser
consideradas uma forma de subsídio. Do ponto de vista econômico, não faz
diferença se um incentivo acontece na forma de créditos em impostos ou na
redução de pagamentos; já politicamente, o impacto varia se a cobrança for
via contribuinte ou diretamente do consumidor de eletricidade17.

19
a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

experiências internacionais
diferentes políticas de incentivo foram usadas ao redor do mundo de acordo com as características de cada fonte e
de cada país

© greenpeace/xuan canxiong
imagem engenheiro faz a manutenção de uma turbina eólica na fazenda eólica de Dan Nan, na província de Guangdong. A China vem investindo em energia
eólica para minimizar suas emissões de gases de efeito estufa e garantir segurança energética.

Alemanha
de questionada pelas concessionárias, que discordavam do sistema
feed-in. A própria indústria de renováveis estava insatisfeita com a
A experiência alemã na implantação de políticas renováveis é um dos redução do valor do prêmio recebido pela geração elétrica limpa e exi-
grandes exemplos de desenvolvimento industrial e de mercado para gia mudanças na lei. O excesso de novos projetos eólicos até obrigou o
geração de energia solar, biodiesel e, principalmente, projetos eólicos. estabelecimento de um teto de compra de energia renovável. Foi então
A participação das fontes renováveis na matriz elétrica alemã chegou a adotada a Lei de Energias Renováveis, Renewable Sources Act, para
10% em 2005. garantir a continuidade dos empreendimentos eólicos.

O rápido crescimento do mercado eólico foi impulsionado pela apli- A lei implantou a divisão de custos dos prêmios pagos aos geradores
cação do Electricity Feed-In Act (Lei de Eletricidade Feed-in), de entre todas as distribuidoras e níveis da rede, equilibrando os encargos
1991. A lei garantia a compra de energias renováveis pelas concessio- totais. A lei favoreceu também as demais fontes de energia renováveis
nárias, o que era novidade no país. Foi fixado um preço mínimo e as estabelecendo metas e níveis diferenciados e decrescentes de tarifas para
distribuidoras foram obrigadas a conectar a energia limpa à rede de cada fonte limpa participante do programa. O aumento da competiti-
distribuição, além de reduzir a compra de energia gerada por fontes vidade entre as renováveis ao longo do tempo também foi considerado,
convencionais. A grande concentração de projetos e seu maior custo o que levou à definição de que a participação das fontes renováveis de
para as distribuidoras resultou no repasse de custos ao consumidor, o eletricidade deveria crescer de 5% em 2000 para 10% em 2010. Desde
que encareceu o preço final da energia. então, a cada dois anos, as tarifas são revistas em função do desenvolvi-
mento do mercado e da tecnologia, permitindo a fixação de novas metas
Em 98, a lei sofreu sua primeira revisão, após ter sua constitucionalida- de participação de renováveis na matriz elétrica alemã.
20
Na última revisão da Lei de Renováveis, datada de 2004, as metas de res estariam livres para vender sua energia renovável, recebendo por isso
participação das renováveis na matriz alemã foram revistas para 12,5% o preço pago no mercado mais um prêmio, ou valor bônus diferenciado,
em 2010 e 20% em 2020. calculado com base nos preços de mercado21.

Esta meta ambiciosa de renováveis foi acompanhada de um compro- Como reflexo deste plano, a capacidade eólica instalada que era de
misso de descomissionamento das 17 usinas nucleares em operação na apenas 52 MW em 1993, chegou a 15.145 MW em 2007, colocando a
Alemanha até o fim da década de 2020 e pelo objetivo de aumentar Espanha como terceira maior capacidade instalada no mundo. A meta
em 3% ao ano a economia de energia no país. Os resultados da lei esperada para 2010, quando termina o plano, é de 20 mil MW.
foram evidenciados pelo rápido crescimento do setor eólico, que pas-
sou de 6.100 MW de potência instalada em 2000 para quase o triplo, Apesar da insistência da indústria e do próprio governo espanhol em
16.630 MW, em 2004. direcionar recursos e subsídios para energias fósseis convencionais,
o avanço das fontes renováveis foi possível por incentivos regionais
A história do desenvolvimento das energias renováveis na Alemanha é um para a instalação de fábricas eólicas. Essa regionalização trouxe
feliz resultado da combinação entre investimentos públicos e de mercado. conseqüências positivas como a geração de empregos e facilidades de
A indústria de renováveis alemã movimentou, em 2006, e 21,6 bilhões, financiamento de bancos.
dos quais apenas e 2 bilhões eram recursos públicos. O potencial eólico
acumulado em 2007 foi de 1.667 MW. O país é o atual líder mundial em
termos de capacidade instalada, totalizando 22.247 MW.
Eslovênia

A Eslovênia é um dos poucos países da Comunidade Européia que tem avan-


Espanha çado em direção às metas de renováveis propostas pela Diretiva 2001/77/EC
do Parlamento Europeu. A atual participação de energias renováveis na
Apesar de uma matriz energética fundamentada na energia hidrelétrica, geração elétrica do país é de 30% e deve atingir 33% até 2010.
a Espanha iniciou o desenvolvimento de energias renováveis apenas após
o choque do petróleo dos anos 70. Este desenvolvimento foi motivado Para tanto, a Eslovênia adotou um sistema híbrido de modalidades de
principalmente pela necessidade de diversificação da matriz elétrica e para tarifas feed-in. As tarifas são diferenciadas de acordo com a capacidade
reduzir a dependência de importações de energia. O primeiro passo foi a instalada das plantas e o combustível utilizado (diferenciação por tipo
implantação de um Centro de Estudos de Energia, posteriormente chama- de biogás) e os produtores têm a opção da dupla tarifa em sua opera-
do de Instituto de Diversificação e Economia Energética, que desempenhou ção. Os geradores podem vender parte de sua eletricidade no mercado,
importante papel na implantação de programas energéticos no país. recebendo um prêmio adicional ao preço de mercado, e outra parte da
eletricidade ao operador do sistema, recebendo tarifas fixas.
Em 1994, o Decreto Real 2.366 obrigou as concessionárias a oferece-
rem um preço reduzido à energia gerada por fontes renováveis por um A garantia de compra aplica-se apenas a tarifas fixas, mas a possibili-
período de cinco anos. Quatro anos depois, em 1998, o setor elétrico foi dade de escolher entre uma ou outra permite aos produtores adaptarem
reformado e passou para o regime de mercado livre. O setor de reno- sua operação de forma a obterem o preço mais alto de eletricidade em
váveis foi então consolidado com outro Decreto Real, de número 2818, cada período do ano, o que se aplica bem no caso da geração a partir de
que harmonizou o regime de incentivos com o emergente mercado com- biomassa e biogás, amplamente utilizadas no país.
petitivo de eletricidade.
Em 2007, a Eslovênia se tornou o terceiro estado, juntamente com
Em 2000, foi criado o Plano para a Promoção de Energias Renováveis Espanha e Alemanha, a integrar a Cooperação internacional de
na Espanha, que previa a participação de 12% das fontes renováveis na Promoção ao Uso de Energias Renováveis a partir de mecanismos feed-
matriz energética e 29,4% na geração elétrica até 2010. Dividido em -in. Esta cooperação, fundada na Conferência Internacional de Energias
duas fases, primeiro de 2000 a 2006, em seguida de 2006 a 2010, o Renováveis de Bonn, em 2004, visa otimizar instrumentos de promoção
plano tem sido responsável por uma considerável expansão da geração de energias renováveis, intercambiar experiências na utilização do
eólica no país, apesar de não ser específico sobre a duração do apoio ao sistema feed-in e apoiar países que decidirem introduzir este sistema22.
sistema tarifário.

Em 2004, visando redução de custos e aumento da eficiência, o governo


introduziu um novo regime de venda de eletricidade, no qual os gerado-
21
a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

Índia China

Desde a sua independência, em 1947, a capacidade instalada de eletri- O setor de energias renováveis da China foi impulsionado pela Lei de
cidade na Índia cresceu de 1,4 GW para mais de 100 GW. Na rota da Energia Renovável que passou a vigorar no início de 2006. Esta Lei
industrialização e com uma população de mais de um bilhão de habitan- estabelece uma meta legal para o desenvolvimento de energias renováveis
tes, a Índia é atualmente um dos mercados mais promissores do mundo e adota um sistema de suporte tarifário.
para a energia renovável.
A política energética chinesa incentiva a implantação local de fábricas
O crescimento da geração renovável deveu-se, principalmente, ao ele- de aerogeradores para aumentar a competitividade da energia eólica
vando aumento da demanda por energia e ao alto índice de poluição em relação às fontes fósseis. Para o estabelecimento de uma indús-
associado ao uso da energia fóssil. Os principais fatores de atração de tria doméstica, foram promovidas concessões de geração eólica para
investidores foram o grande potencial de geração de energia renovável desenvolvimento comercial em alta escala. Autoridades locais convidam
tais como resíduos de biomassa, radiação solar, potencial eólico e de investidores a construírem parques eólicos de 100 MW, via processo de
pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), além da estrutura disponível licitação, com os objetivos de reduzir custos de geração e aumentar a
para o aporte de investimentos privados. Atualmente, a Índia conta proporção de componentes fabricados localmente. O resultado é que hoje
com a presença dos principais fabricantes mundiais de aerogeradores e há mais de quarenta empresas locais envolvidas na fabricação de turbi-
com um parque nacional da empresa indiana Suzlon, o maior provedor nas que atendem mais da metade do mercado chinês.
de aeroturbinas da Ásia.
Assim, a China dobrou sua capacidade eólica instalada entre 2005 e
A abordagem do governo indiano foi decisiva para o desenvolvimento 2006 e instalou outros 3.449 MW em 2007, passando a ser o quinto
deste mercado. A meta da política indiana de energias renováveis é de maior mercado mundial, com 6.050 MW. A meta original de atingir
que a capacidade instalada chegue a 10.000 MW até 2012; o mercado 5.000 MW até 2010 foi superada antes do prazo. Agora, a Associação
vai além e estima que este número será o dobro, 20.000 MW. da Indústria Chinesa de Energia Renovável prevê uma potência instalada
de 50.000 MW até 201524.
O governo indiano incentiva esta indústria por meio de reduções e isenções
de impostos, recursos para projetos-piloto e empréstimos para empreendi-
mentos. A Lei da Eletricidade, de 2003, estabeleceu comissões estaduais
regulatórias para a promoção de renováveis por meio de tarifas preferen- Estados Unidos
ciais e obrigação de contratação mínima para distribuidoras. Nos últimos
anos, tanto o governo quanto a indústria eólica garantiram estabilidade ao A indústria eólica norte-americana teve duas fases de crescimento
mercado indiano, atraindo investimentos de grandes empresas privadas e impulsionadas por políticas diferentes. Porém, a falta de estabilidade e
públicas. Esta medida também estimulou a indústria nacional e algumas continuidade destas políticas provocou ciclos de alto desenvolvimento
companhias já fabricam 80% de seus componentes nacionalmente23. seguidos por períodos de baixíssimo crescimento.

Foram estabelecidos programas específicos para a biomassa e peque- O início do desenvolvimento da indústria de renováveis aconteceu em
nas centrais hidrelétricas. Criou-se a Agência de Desenvolvimento de 1978, após a Crise do Petróleo, quando foi implementada a Lei de
Energia Renovável que financia projetos do setor. Os resultados são Políticas Regulatórias de Concessionárias (Purpa, na sigla em inglês)
concretos: o mercado de renováveis já alcança US$ 3 bilhões e cresce como parte da Lei Nacional de Energia. A lei visava desenvolver o mer-
a uma taxa de 20% ao ano. O mercado de energia eólica já é um dos cado de energias renováveis, obrigando as concessionárias a adquirir
mais fortes do mundo, com uma capacidade instalada de 8.000 MW, toda a energia renovável gerada por pequenos produtores.
dos quais mais de 2.500 MW foram instalados nos últimos dois anos. A
Índia ocupa a quarta posição na geração mundial de energia eólica e a A implementação da Purpa e o estabelecimento do preço destas energias
expectativa da Associação de Fabricantes de Aerogeradores da Índia é coube aos estados. O esquema de maior sucesso veio da Califórnia: o
de que a capacidade aumente mais de 1.500 MW por ano até 2010. ISO 4 (Interim Standard Offer ou Oferta Padrão Provisória) era um
contrato de 30 anos que garantia aos produtores que sua energia seria
comprada pelas concessionárias, e os dez primeiros anos deste contrato
teriam preços fixados. Com o ISO 4, o estado saiu de 10 MW de energia
eólica instalada em 1982 para 1.039 MW em 1985.

22
Os contratos ISO 4 foram suspensos neste mesmo ano, como resultado Reino Unido
da queda do preço do petróleo e a ainda baixa competitividade dos
empreendimentos renováveis em relação às térmicas a combustíveis Apesar de gerar a maior parte de sua energia a partir de térmicas
fósseis. Em 1992, veio o Crédito do Imposto de Produção (PTC, na sigla a carvão e gás natural e usinas nucleares, o Reino Unido possui o
em inglês), que garantia uma dedução de US$ 0,018 para cada kWh melhor potencial de energia eólica da Europa. O ainda baixo apro-
produzido por energia renovável. O PTC teve seu prazo expirado duas veitamento das renováveis não se deveu à falta de apoio político e
vezes, o que resultou em ciclos de alta e baixa geração (1.687 MW de sim a esquemas de incentivo inadequados. O primeiro deles aconteceu
eólicas acrescentado em 2003 contra apenas 389 MW no ano seguin- em 1989, quando o Electricity Act (Lei da Eletricidade) privatizou
te). Além da descontinuidade, outra grande desvantagem do PTC é o o setor elétrico e ofereceu apoio à geração renovável, mas também
favorecimento a empresas com grande “apetite fiscal”. Muitos empre- à geração nuclear, pela Non-Fossil-Fuel Obligation (NFFO) ou
endedores eólicos, que incluíam cooperativas rurais, não eram suficien- Obrigação de Combustíveis Não-Fósseis.
temente lucrativos para fazerem proveito do crédito. Esta limitação da
política do PTC ilustra a diferença da experiência americana para o Foi criada a primeira taxa de carbono, a Fossil Fuel Levy (Imposto
caso europeu, onde a indústria renovável foi essencialmente construída sobre Combustíveis Fósseis), que era aplicada à geração fóssil. Uma
por novos atores do setor energético. pequena parte do dinheiro arrecadado com a taxa era destinada às reno-
váveis, enquanto a maior parte era direcionada para o subsídio à energia
Outra política criada nos anos 90 em alternativa ao Purpa foi o Renewable nuclear, cujos custos eram bem superiores aos do mercado: em 1990,
Portfolio Standard (RPS) ou Padrão de Carteira Renovável. Este modelo £ 7,8 bilhões foram destinadas para nuclear contra apenas £ 400 milhões
ganhava em competitividade, como reflexo da transformação do mercado para renováveis. Aos poucos, o crescimento da indústria renovável foi
de energia nesta época. A evolução dos preços das renováveis passou a não disponibilizando mais dinheiro da NFFO para investimentos.
depender mais de preços fixos ou deduções de impostos, mas do mercado
livre e da criação do sistema de créditos de energia renovável. O exemplo A NFFO era baseada na divisão de recursos para as principais reno-
mais bem sucedido de aplicação do RPS no estado do Texas, onde vigora váveis, oferecimento de contratos a longo prazo, redução gradual de
desde 1999. As características principais que garantiram o sucesso da preços fixados para cada tecnologia e disponibilização do maior volu-
política foram a obrigação de adoção para todas as concessionárias, a fle- me de energia ao menor preço por leilões. O maior problema do instru-
xibilidade no cumprimento das metas com a possibilidade de empréstimo de mento foi o domínio da pressão competitiva sobre os demais objetivos
créditos de renováveis e a penalização nos casos de não cumprimento. da política. Os projetos competiam entre si, mas no final não eram
construídos. Houve especulação e práticas predatórias de preços e os
Mesmo assim, os Estados Unidos lideraram a instalação de novas turbi- leilões geraram um ciclo de altos e baixos que minou a estabilidade e
nas pelo terceiro ano consecutivo, com mais 5.244 MW adicionados e já as perspectivas da política.
totalizam 16.818 MW, a segunda maior capacidade eólica instalada no
mundo, atrás apenas da Alemanha. Em 2002, o NFFO foi finalmente substituído pelas Obrigações a
Renováveis (Renewables Obligation – RO), que mantinha o esquema
É importante notar que o modelo de política para energias renováveis de competitividade e baixos preços, mas obrigava as concessionárias a
baseado em incentivos fiscais e metas de capacidade instalada desenvol- adquirir energias renováveis e impunha penalizações sobre projetos que
veu parque eólico norte-americano, mas não incentivou o desenvolvimen- não eram implementados. O RO criou também os créditos de renováveis,
to da indústria local. Uma prova disto é que das dez maiores indústrias que funcionaram como importante subsídio para a energia eólica. Estes
eólicas mundiais, sete estão sediadas na Europa (Dinamarca, Espanha e créditos podiam ser negociados entre as concessionárias de forma que
Alemanha) e apenas uma nos Estados Unidos. todos atingissem sua meta de comercialização de energia renovável.

Apesar de algumas limitações e dúvidas da RO em relação ao desen-


volvimento do mercado local, é importante ressaltar que a política
elevou a capacidade eólica instalada. Em 2007 foram instalados 427
MW e o Reino Unido tem uma capacidade instalada de 2.389 MW, a
nona maior do mundo. A meta do governo para a energia renovável é
a uma participação de 15% na matriz elétrica em 2015, aumentando
para 20% em 2020.

23
a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

uma nova política pública de energias renováveis


O desenvolvimento de um mercado nacional depende de garantias de acesso à rede e de um novo marco regulatório

© greenpeace/Kate Davison
imagem produção de uma turbina eólica, em Campbelltown, na Escócia. A promoção da indústria eólica nacional é fundamental para que o Brasil tenha uma
matriz elétrica mais limpa.

Uma nova política pública para a promoção efetiva das energias reno- consumidores passaram a ter a liberdade de comprar energia direta-
váveis no Brasil deve adaptar à realidade brasileira os mecanismos que mente de comercializadoras autorizadas pela Aneel.
vêm sendo aplicados com sucesso em outros países, além de superar e
corrigir os problemas da primeira fase do Proinfa. Para tanto, é de fun- As alterações trazidas pela resolução 247 consolidam, na prática,
damental importância o estabelecimento de medidas legais para o setor o potencial de consumidores especiais, o que abre caminho para a
energético em linha com o desenvolvimento e estruturação de um merca- ampliação do mercado de energias renováveis. Porém, esta resolução
do nacional de energias renováveis. foi apenas um primeiro passo.

Um exemplo positivo foi a Resolução Normativa n° 247, de 21 de Um novo projeto de lei de promoção das energias renová-
dezembro de 2006, adotada no âmbito do Proinfa. A resolução criou veis deve ir além e contemplar as seguintes diretrizes:
condições para a comercialização de energia para geradoras que utili-
zam fontes primárias incentivadas, com unidade ou conjunto de unidades 1. A consideração econômica das fontes renováveis deve ultrapassar
consumidoras de carga igual ou superior a 500 kW. Ou seja, a resolução critérios como preço de mercado e incorporar outros aspectos técnicos e
socioeconômicos. O potencial de uma fonte renovável em uma determi-
permite que um grupo de consumidores que vivem em locais diferentes,
nada região deve ser maximizado e aproveitado, ao invés de restrito por
mas participa de um mesmo submercado, se reúna para comprar energia
limites de capacidade por estados. Benefícios sociais e ambien-
oriunda de uma mesma fonte incentivada escolhida por este grupo. tais devem ser internalizados no preço da energia, o que
o sistema feed-in já faz em alguns casos. Outros parâmetros técnicos
A resolução 247 também desvinculou os chamados consumidores espe- também devem entrar na conta tais como a economia de combustível
ciais (responsáveis pela unidade consumidora de alta e média tensão) pelo despacho evitado das usinas térmicas, a função das renováveis na
da obrigação de contratar energia da distribuidora local. Assim, estes manutenção do nível dos reservatórios hidrelétricos e a contribuição da
24
geração descentralizada para reduzir custos de transmissão de energia. 7. A fim de garantir a competitividade das fontes renováveis, é essencial que
medidas sejam tomadas em relação aos custos de distribuição. Enquanto
2. É necessária uma estrutura regulatória que garanta a promoção da usinas de grande porte têm o custo da distribuição embutido em sua tarifa,
indústria nacional eólica, a exemplo do que tem ocorrido na China. Tal os empreendedores do Proinfa são obrigados a custear as despesas de distri-
estrutura deve contar com incentivos fiscais e leis locais que criem con- buição. Este foi um dos principais motivos da baixa contratação de energia
dições favoráveis ao estabelecimento de fabricantes de turbinas eólicas. no leilão de energias alternativas realizado em 2007. Os contratantes encon-
O desenvolvimento da pesquisa e inovação tecnológica é traram uma opção de compra de energia mais barata no mercado livre onde
de grande importância para a exploração da energia eólica o preço não é fixo, mas a prática de desconto de 50% sobre a tarifa de
no Brasil. Cada sítio de ventos exige a confecção de turbinas específi- distribuição acabou tornando o preço final inferior ao da energia contratada
cas e adaptadas às condições locais. A condução destas pesquisas deve nos leilões. Assim, a tarifa de distribuição para projetos reno-
ser apoiada pelo governo e por empresas por meio de programas e par- váveis também deve receber descontos no mercado cativo, a
cerias com universidades e centros de pesquisa. fim de tornar estas fontes mais atrativas.

3. Uma próxima fase da política de incentivo às renováveis deve ajustar os 8. A utilização de modalidades tarifárias diferenciadas para
níveis de nacionalização de serviços e equipamentos de forma mais criterio- atender a objetivos específicos como a orientação de mercado e a redução
sa. Os índices visam o desenvolvimento da indústria eólica nacional, mas a de custos para as tecnologias renováveis deve ser complementada por
expansão do parque gerador só vai ocorrer com a redução, em um primeiro incentivos adicionais específicos. Exemplos: a adoção de mecanismos
instante, desta obrigação. A primeira fase do Proinfa mostrou claramente que nos quais produtores de renováveis pagam taxas a autoridades locais que
o atendimento ao potencial contratado depende da importação de equipamen- devem reinvestir este acréscimo de renda municipal em projetos de desen-
tos. Adotar índices elevados de nacionalização só será coerente volvimento local; o rateio de encargos sobre todos os consumidores de
quando houver uma indústria nacional sólida a ser protegida. energia; repotenciação como forma de aumento da eficiência de usinas;
Desta forma, o ajuste do índice deve ser precedido de maiores incentivos ao distribuição de custos de conexão de geradores à rede e a incorporação de
desenvolvimento da indústria brasileira e à nacionalização de empresas. ações de gerenciamento da demanda energética no valor final das tarifas.

4. Medidas que assegurem a transparência das bases e objetivos 9. É imprescindível que o foco de políticas públicas ou projetos de
das políticas e programas de incentivo às energias renováveis, lei de incentivo às renováveis seja restrito à estas fontes e
simplificando a definição dos marcos regulatórios e das responsabilidades de não inclua apoio a combustíveis fósseis. A legislação do setor
cada agente do setor elétrico. Essas medidas servem para garantir sinaliza- elétrico, ancorada no perfil de geração hidrelétrica, precisa ser adequada
ção, tempo e estratégia de planejamento para os investidores interessados. às particularidades e condições de geração das fontes do Proinfa. Nos
Estados Unidos e em vários países da Europa, a presença de uma legisla-
5. Para garantir estabilidade ao mercado de fontes renováveis, o ção específica para o desenvolvimento dessas fontes possibilitou o cresci-
governo deve priorizar o acesso desses empreendimentos mento tanto da geração quanto da indústria renovável locais.
à rede e, ao mesmo tempo, direcionar investimentos de
médio e longo prazos que contemplem o ciclo de desenvolvimento
e implantação plena dessas tecnologias. Devem ser aplicadas tarifas
feed-in para cumprir essa função por três razões: 1) as obrigações
contratuais entre as concessionárias de energia e os produtores de
fontes renováveis dão a segurança necessária aos investidores ; 2) o
tempo de duração do sistema tarifário influencia o retorno e a renda
para o gerador; e 3) a revisão periódica das tarifas mantém o mer-
© greenpeace/Bernhard Nimtsch

cado estável e gradualmente preparado para uma posterior fase de


maior competitividade.

6. Para a inserção de renováveis em leilões de energia, é necessária a


elaboração de metodologia apropriada para calcular o lastro da energia
contratada. O lastro assegura a cobertura da demanda quando a fonte
contratada não supre a energia estipulada no contrato, mas sua aplicação
baseada na geração física mensal é limitadora para fontes alternativas
como eólica e solar, cujos regimes de geração são sazonais. Uma alter-
nativa para melhorar a performance de contratação de
energias renováveis é a realização de leilões específicos veja box sobre geração descentralizada em anexos
para cada fonte.

25
a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

conclusão
Pequenas centrais hidrelétricas, biomassa e energia eólica já são soluções viáveis para complementar a demanda
energética do Brasil

© greenpeace/Rodrigo Baleia
imagem Parque Eólico de Osório, Rio Grande do Sul. instalações como essa atraem novos investimentos, aquecem a economia local e geram novos empregos.

O quarto relatório do IPCC e as negociações climáticas da Conferência A demanda por eletricidade pode ser atendida pela geração hidrelétri-
das Partes, realizada em Bali ao final de 2007, demonstraram a ca de pequeno porte, que apresenta bom potencial e impactos ambien-
urgência em combater os efeitos das mudanças climáticas a partir da tais reduzidos. O uso da biomassa para geração termelétrica ainda
redução drástica das emissões de gases de efeito estufa. O papel das não foi suficientemente explorado. Tanto a co-geração por bagaço de
energias renováveis nesta missão ficou evidente para líderes políticos, cana quanto a geração eólica apresentam a grande vantagem de com-
a indústria e a opinião pública mundial. plementarem a oferta de energia no período de menor produtividade
hidrelétrica. A estação seca, de menor índice de chuvas, nos quais os
Neste cenário, a expansão das fontes renováveis de energia e o desenvol- reservatórios das usinas baixam, coincide com a época de maiores ven-
vimento deste mercado no Brasil são amparados por diversos aspectos tos e o pico da safra da cana-de-açucar.
positivos. Além dos evidentes benefícios ambientais da geração de ener-
gia limpa, com baixíssima emissão de poluentes, somam-se motivações Na Região Nordeste do país, por exemplo, a vazão do rio São
sociais, tecnológicas e econômicas na adesão à revolução renovável. Francisco complementa-se bem com o regime de ventos do litoral.
Essa complementação pode garantir energia firme para a região
É política e economicamente estratégico que o Brasil gere sua ener- durante todo o ano e aumentar o valor agregado da energia comercia-
gia a partir de fontes limpas, renováveis e abundantes em território lizada. Estudos da própria Eletrobrás apontam os resultados da ener-
nacional. As recentes dificuldades de abastecimento de gás natural e as gia eólica na manutenção do nível dos reservatórios e mostram que os
constantes altas no preço do petróleo são exemplos de como a decisão projetos são perfeitamente viáveis, com paybacks de até oito anos.
por combustíveis fósseis e importados encarece a matriz elétrica nacio-
nal e coloca em risco a segurança energética do país. Para afastar os argumentos de que a energia renovável representaria
mais um encargo na conta dos consumidores, a Associação Brasileira

26
dos Pequenos e Médios Produtores de Energia Elétrica (APMPE) cal- o leilão deve ser específico por fonte e incorpore características que
culou o impacto da inserção do Proinfa nas tarifas de energia elétrica favoreçam as energias alternativas como, por exemplo, a complemen-
a partir de números da primeira fase do programa. O resultado indicou taridade da biomassa e da geração eólica com o sistema hídrico, que
que o impacto é inferior a 0,35% do valor total da tarifa – número minimiza as desvantagens de custos iniciais destas energias.
bastante reduzido em comparação aos subsídios a combustíveis fósseis.
Outro estudo, da Associação Brasileira de Energia Eólica, mostra a O estudo sugere ainda uma combinação dos sistemas feed-in e de cotas
redução do custo marginal de operação de eletricidade com a inserção em diferentes fases de um programa de incentivo a energias renová-
progressiva de geração eólica na próxima década. veis. As vantagens de cada mecanismo seriam úteis de acordo com o
estágio de maturidade do programa; no período inicial, o sistema feed-
De acordo com o relatório [r]evolução energética25, produzido -in emprestaria estabilidade financeira ao empreendedor e em seguida
pelo Greenpeace, a tendência é que a matriz elétrica proposta pelo o sistema de cotas criaria um cenário mais competitivo e reduziria os
governo se torne continuamente mais cara por conta do crescimento da custos iniciais de geração do sistema feed-in.
demanda, o aumento dos preços dos combustíveis fósseis e os custos das
emissões de CO2. O cenário mostra que uma matriz elétrica baseada em Ainda que o desenvolvimento de renováveis no mundo tenha ocorrido
energias renováveis e eficiência energética pode ser R$ 117 bilhões mais por meio de diferentes políticas de incentivo, a maioria dos casos de
barata do que uma matriz de referência, baseada em hidrelétricas, tér- sucesso mostra que a utilização da tarifa feed-in aliada a políticas
micas a gás natural e carvão e energia nuclear em 2050. complementares de incentivo e a simplificação dos procedimentos de
obtenção de licenças é a solução mais eficiente para apoiar a expansão
O governo brasileiro, ao apostar nas energias renováveis, estará inse- das energias renováveis.
rindo o Brasil em um mercado em franca expansão que vem apresen-
tando taxas de crescimento de até 30% para a fonte eólica e quase A perspectiva de longo prazo oferecida por este sistema é essen-
50% para a energia solar nesta década. Este modelo de energia cial quando o objetivo não é somente o de atrair investimentos em
descentralizada traz benefícios a toda a população. A inserção dessa renováveis, mas criar indústria para o suprimento destes mercados.
indústria em municípios brasileiros atrairá novos empreendimentos, Neste sentido, o desenvolvimento da indústria eólica aconteceu em
aquecer economias locais e gerar novos postos de trabalho. Estudo países que estabeleceram uma regulação baseada em tarifas feed-in,
do Professor José Goldemberg cita que a geração eólica pode produ- enquanto países que apostaram em sistemas de leilão ou cotas não
zir entre 900 e 2400 empregos para cada TWh de energia gerada. obtiveram resultados à altura.
Vale ressaltar ainda que a competência e a especialização nacional já
adquiridas em projetos de pequenas centrais hidrelétricas e co-geração Por fim, os exemplos das experiências alemã e espanhola, somados à
a biomassa podem e devem ser exportadas a outras regiões do mundo. nossa experiência com o Proinfa, mostraram que, além do mecanismo
ou sistema utilizado, a superação das barreiras econômicas e o desen-
Para aproveitar o potencial renovável do Brasil, é necessário partir de volvimento do mercado de renováveis só acontece com o estabeleci-
um programa bem estruturado de incentivos. O Proinfa, na condição mento de regras claras e políticas de longo prazo.
de iniciativa pioneira, enfrentou vários problemas legislativos e de
mercado. Alguns desses problemas foram corrigidos ao longo do pro-
grama, como a extensão de prazos e a revisão de índices; outros pon-
tos persistem. Estes problemas foram explicitados com o resultado do
primeiro leilão de energia alternativa, realizado em 2007, que expôs o
baixo interesse de produtores em venderem sua energia de acordo com
as regras vigentes e mostrou as limitações do sistema de leilões como
mecanismo de disponibilização de energias renováveis.

Experiências internacionais mostram que o sistema de leilões, por si


só, é ineficiente para desenvolver indústrias de renováveis. No caso do
Reino Unido, a maioria dos projetos eólicos leiloados não chegou a ser
implementado e a indústria acabou não se desenvolvendo.

Por outro lado, simulações executadas em estudo da COPPE-UFRJ26


mostram que é possível obter um crescimento lento e gradativo das
fontes renováveis na matriz energética brasileira. O estudo indica que
27
a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

anexos

Projetos de Leis de incentivo a renováveis em trami-


tação no Congresso (maio/2008)

1) PL 1.563/2007 – Paulo Teixeira (PT-SP) 2) PL 7.692/2006 Mauro Passos (PT-SC) e Ariosto


Holanda (PSB-CE)
Resumo:
Resumo:
Consiste na ampliação do uso de energias renováveis na matriz elétrica
brasileira e na universalização do acesso à energia elétrica, incorporan- Institui o Programa Brasileiro de Geração Descentralizada de Energia
do aspectos não explorados no Proinfa. Elétrica e dá outras providências.

Pontos Principais: Pontos Principais:

• Propõe que a lei 10.438, que institui o Proinfa, amplie o incentivo • Define Pequena Geração de Energia Elétrica Descentralizada como
a fontes renováveis das atuais fontes eólica, de biomassa e de pequenas geração renovável inferior a 5.000 kW de potência, conectados ou não
centrais hidrelétricas às energias solar, geotérmica e de marés. a redes de distribuição.
• Institui o Provedor de Serviços de Energia Elétrica Descentralizado
• O projeto propõe também que a proporção de energia eólica, de como responsável pela comercialização da energia produzida pelos produ-
biomassa e de PCHs na matriz elétrica chegue a 15% em 2020 e que tores descentralizados e distribuição para o atendimento de consumidores.
sistemas de aquecimento solar sejam completamente incorporados A concessionária local tem prioridade em receber a energia gerada.
aos setores residencial e comercial até 2014, por meio de financia- • Propõe que os pequenos geradores em área urbana poderão ser co-
mento da União. nectados à rede de distribuição e que a fonte solar seja incluída dentre as
fontes beneficiadas pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).
• Para tanto serão criados três programas específicos, para sistemas
isolados, aquecimento solar e incentivo à geração distribuída. Pontos Positivos:

• A geração de pequeno porte, não contemplada no Proinfa, seria • A possibilidade ainda inexistente de que pequenos geradores possam
gerenciada pelo agente comunitário de energia elétrica, que asse- se ligar à rede e a garantia de que a energia descentralizada será ad-
gura a compra e a distribuição desta energia pela concessionária quirida e comercializada.
por um período de 20 anos. O pequeno produtor descentralizado de
energia elétrica teria comercialização prioritária garantida com a Status:
concessionária local.
Apensado ao PL-630/2003.
Pontos Positivos:

• Preenche diversas lacunas do Proinfa, ao incluir fontes de energias


renováveis não contempladas na primeira fase do programa, incorpo- 3) PL 2.505/2007 Silvinho Peccioli (DEM-SP)
rar um programa maciço de aquecimento solar, e incluir incentivos ao
produtor de energia descentralizada. Resumo:

Status: Cria o Certificado de Empreendedor de Energia Renovável (CEER),


para produtores de energia elétrica a partir de fontes alternativas e
Tramitando em conjunto, apensado ao PL 7692/2006, que está apen- renováveis.
sado ao PL 630/2003.
Pontos Principais:

• Propõe a criação do Certificado de Empreendedor de Energia Reno-


vável (CEER).
28
• Sugere que a concessionária seja obrigada a comprar a energia do Pontos Positivos:
possuidor do CEER, por um valor maior ou igual a 100% da tarifa
média nacional de fornecimento ao consumidor final. • Benefício a consumidores e a fornecedores de recursos para a gera-
• O excedente de energia produzido poderá ser transformado em ção de energias renováveis.
créditos de energia elétrica junto às concessionárias do serviço público
de distribuição de energia elétrica. Status:
• O Poder Público Federal concederá facilidades para a compra e
financiamento dos equipamentos necessários à geração de energia Também apensado ao PL 630/2003. Os textos tramitam em caráter
elétrica por fontes alternativas e renováveis. conclusivo e serão analisados por comissão especial, ainda em fase
de criação, que responderá pelas comissões de Defesa do Consumidor
Pontos Positivos: (CDC), do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) e
Finanças e Tributação (CFT).
• Estimula a geração distribuída pela criação do certificado, obriga-
ção da compra de energia pela concessionária e facilidade de financia-
mento e compra pelo poder público.
5) PL 523/2007 Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP)
Status:
Resumo:
Tramita em caráter conclusivo, apensado ao PL 630/2003.
Estabelece, por meio de uma Política Nacional de Energias Alterna-
tivas, princípios e diretrizes para a ampliação e o desenvolvimento do
uso destas energias em progressiva substituição às energias fósseis.
4) PL 2.023/2007 Guilherme Campos (DEM-SP)
Pontos Principais:
Resumo:
• É prevista uma participação destas fontes na matriz elétrica nacio-
Institui incentivos tributários para a aquisição de bens e prestação de nal em 25% do total até 2020 e 35% do total em 2030.
serviços necessários para a utilização de energia solar, eólica ou outras • Para tanto, são estabelecidos incentivos isenções tributárias, subsí-
formas de energia alternativa. dios, e linhas de financiamento pelas instituições financeiras e de fomento
sob controle da União, que destinaria 25% dos recursos orçamentários
Pontos Principais: federais anuais para pesquisa e desenvolvimento destas fontes.
• Ao lado das fontes alternativas, são apontados estímulos à adoção e
• Os contribuintes poderão deduzir da base de cálculo do Imposto de implementação de programas de melhoria de eficiência energética, por
Renda, pessoas física e jurídica, e da Contribuição Social sobre o Lucro parte da indústria e dos consumidores residenciais.
Líquido (CSLL), as despesas referentes à energia utilizada. • Para o cumprimento destas metas são previstas obrigações como a
• As empresas que fabricam os bens e prestam serviços para a utili- incorporação, em prédios e construções, de células e painéis solares para
zação de energias alternativas serão dispensadas do recolhimento do aquecimento de água, para efeito de validação de registro imobiliário.
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), da Contribuição para
os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Pontos Positivos:
Servidor Público (PIS/Pasep) e da Contribuição para o Financiamen-
to da Seguridade Social (Cofins) incidentes sobre operações com os • Metas contundentes para um cenário de 2020, fundamentando-as
referidos bens. ao demandar a redução das emissões de gases de efeito estufa por meio
de alternativas ao consumo de energias fósseis.
• O incentivo a renováveis não se extende à energia nuclear.
• O cumprimento da meta até 2020 baseia-se no artifício da proibi-
29
a caminho da sustentabilidade energética
como desenvolver um mercado de renováveis no brasil

ção da expedição de licenças ambientais para novos empreendimentos


de geração energética convencional caso a participação das fontes de
energia alternativa não atinja o percentual estabelecido.

© greenpeace/Bernhard Nimtsch
Status:

Apensado ao PL-630/2003.

6) PL 630/2003 Roberto Gouveia (PT-SP)

Resumo: geração descentralizada

Altera o art. 1º da Lei n.º 8.001, de 13 de março de 1990, consti- A maior parte da geração elétrica mundial provém de grandes usinas
tuindo fundo especial para financiar pesquisas e fomentar a produção hidrelétricas, nucleares e a carvão ou gás natural. Estas usinas conse-
de energia elétrica e térmica a partir da energia solar e da energia guem economias de escala, mas estão geralmente localizadas distante
eólica, e dá outras providências. dos centros de consumo por motivos geográficos, técnicos e logísticos.
Tal distância faz com que a eletricidade tenha que ser transportada até
Pontos Principais: o consumidor através de longas linhas de transmissão, que implicam
perdas consideráveis de energia.
• Altera o art. 1º da Lei n.º 8.001, de 13 de março de 1990, que
“define os percentuais da distribuição da compensação financeira de A geração descentralizada minimiza a necessidade de construção de
que trata a Lei n.º 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e dá outras linhas de transmissão e reduz as perdas desse processo, por ser próxima
providências”, constituindo fundo especial para financiar pesquisa e ou no próprio local de consumo da energia. A conexão, em vez de acio-
produção de energia elétrica e térmica a partir da energia eólica e da nar um sistema de transmissão de alta voltagem, é feita a um sistema
energia solar. de rede de distribuição local que abastece casas, escritórios e estabeleci-
• Constitui fundo especial para financiar pesquisas e fomentar a mentos comerciais. Além de sistemas locais, a geração descentralizada
produção de energia elétrica e térmica a partir da energia solar e da também pode atender a sistemas totalmente isolados das redes públicas.
energia eólica.
A energia descentralizada pode ser gerada por painéis solares e peque-
Pontos Positivos: nas turbinas eólicas, opções de energia limpa cujos custos vêm decain-
do nos mercados europeu e norte-americano e já são mais baratos que
• Amplia o incentivo a energias renováveis, a partir de fundo especial os da geração termelétrica a carvão e nuclear, com as vantagens adi-
para financiamento de pesquisa e produção de energia. cionais de redução de emissões de gases estufa, impactos de mineração
e custo do combustível.
Status:
A geração descentralizada de energia tem um enorme potencial de
Os projetos citados anteriormente estão apensados a este. Em virtude dis- crescimento e deverá provocar uma grande mudança na estrutura do
to, a Comissão de Finanças e Tributação deverá se pronunciar quanto ao setor elétrico, evitando impactos da construção de grandes empreendi-
seu mérito. Proposição sujeita à apreciação conclusiva pelas Comissões. mentos energéticos, diminuindo a necessidade de redes de transmissão
e reduzindo a demanda de energia como resultado da eficientização do
sistema como um todo.

30
referências

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gia global e sustentável” Greenpeace e Conselho Europeu
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de Energia Renovável (EREC), 2007.
Position for a New Renewable Energy Electricity
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sobre a legislação e regulamentação. PPE/COPPE/UFRJ, 2004.
18 FARRELL, J. “Minnesota Feed-In Tariff Could Lower Cost,
3 BERMANN, C. “As Novas Energias no Brasil – Dilemas Boost Renewables and Expand Local Ownership”, New
da Inclusão Social e Programas de Governo, Capítulo 2: Rules Project - Policy Brief, 2008.
Proinfa: Da Proposta à Realidade”, Rio de Janeiro, 2007.
19 DUTRA, R. M. Propostas de Políticas Específicas para
4 Eletrobrás, 2008. Energia Eólica no Brasil após a Primeira Fase do PROINFA,
COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007.
5 Amarante, O. A. C. et al “Atlas do Potencial Eólico
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Boost Renewables and Expand Local Ownership”, New
6 FELISBERTO, C. & SZKLO, A. Proinfa e CDE: questionamentos
Rules Project - Policy Brief, 2008.
sobre a legislação e regulamentação. PPE/COPPE/UFRJ, 2004.
21 “As Políticas de Promoção de Fontes Renováveis
7 FELISBERTO, C. & SZKLO, A. Proinfa e CDE: questionamentos
de Energia: uma Análise das Experiências Alemã e
sobre a legislação e regulamentação. PPE/COPPE/UFRJ, 2004.
Espanhola”, 2007.
8 BERMANN, C. “As Novas Energias no Brasil – Dilemas
22 International Feed In Cooperation http://www.feed-in-
da Inclusão Social e Programas de Governo, Capítulo 2:
cooperation.org
Proinfa: Da Proposta à Realidade”, Rio de Janeiro, 2007.
23 MALLON, K. et al “Renewable Energy Policy and Politics
9 “Fontes energéticas alternativas ainda patinam no
– A handbook for decision making”. Earthscan, 2006.
País”, Portal Exame, Fevereiro de 2008.
24 Global Wind Energy Council, 2008.
10 BERMANN, C. “As Novas Energias no Brasil – Dilemas
da Inclusão Social e Programas de Governo, Capítulo 2: http://www.gwec.net
Proinfa: Da Proposta à Realidade”, Rio de Janeiro, 2007.
25 “[r]evolução energética – Perspectivas para uma ener-
11 PEREIRA, O. REIS, T. ARAÚJO, R. 2006. Uma análise do gia global e sustentável” Greenpeace e EREC, 2007.
potencial do PROINFA para gerar emissões certifica-
26 DUTRA, R. M. Propostas de Políticas Específicas para
das de redução de CO2 sob dois diferentes cenários.
Energia Eólica no Brasil após a Primeira Fase do PROINFA,
Grupo de Pesquisa em Meio Ambiente, Universalização,
COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007.
Desenvolvimento Sustentável e Energia Renováveis –
G-MUDE, Universidade Salvador – UNIFACS.

12 “[r]evolução energética – Perspectivas para uma ener-


gia global e sustentável” Greenpeace e EREC, 2007.

13 Klein, A. et al “Evaluation of different feed-in tariff


design options - Best practice paper for the International
Feed-in Cooperation”. Fraunhofer Institut Systems and
Innovation Research, 2006.

14 DUTRA, R. M. Propostas de Políticas Específicas para


Energia Eólica no Brasil após a Primeira Fase do PROINFA,
COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007.

15 DUTRA, R. M. Propostas de Políticas Específicas para


Energia Eólica no Brasil após a Primeira Fase do PROINFA,
COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007.

16 TESKE, “Target for Clean Energy- The Greenpeace


Position for a New Renewable Energy Electricity

31
edadilibatnetsus ad ohnimac a
acitégrene

O Greenpeace é uma organização global e independente que


promove campanhas para defender o meio ambiente e a paz,
inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos.
Nós investigamos, expomos e confrontamos os responsáveis por
danos ambientais.
Também defendemos soluções ambientalmente seguras e
socialmente justas, que ofereçam esperança para esta e para as
futuras gerações e inspiramos pessoas a se tornarem responsáveis
pelo planeta.

A produção deste relatório só foi possível graças à colaboração de


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físicas e não arrecada dinheiro com partidos políticos, empresas ou
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imagem turbinas eólicas.

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