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APRESENTAÇÃO 17
Elementos climáticos
O tempo de uma região varia não só ao longo do ano, em plexa. Só dois exemplos: a variação de intensidade da radiação
consequência do movimento de translação da Terra em torno solar e a da transparência da atmosfera terrestre, a qual pode ser
do Sol, como ao longo do dia, devido ao seu movimento de provocada por grandes erupções vulcânicas e, numa escala
rotação; para além desta variabilidade cíclica, há que contar menor, pela latitude, distância ao mar, posição nos relevos,
com variações não periódicas, por vezes de origem muito com- exposição aos ventos dominantes e, até, embora com um peso
Nº de horas
Nº de dias de sol ºC
150 3 100 18
140 2 900 16
130 2 800 14
120 2 700 12
110 2 600 10
100 2 500 8
90 2 400 6
80 2 300
70 2 200
0 25 50 km
mm
3 300
2 800
2 400
2 000
1 800
1 600
1 400
1 200
1 000
800
600
N
Nota: os últimos apuramentos estatísticos disponíveis
0 25 50 km
referem-se ainda aos valores normais de 1961/1990.
bem menor, pela interferência do homem, como é o caso do com o sentimento de conforto sentido pelo Homem; e nele,
chamado efeito de ilha urbana provocado pelas grandes cidades. também, se encontra uma diferenciação entre o interior do
Num mundo em que o turismo atinge foros de importante País, onde as direcções e intensidades são variáveis, em
actividade económica, o conhecimento do clima torna-se cada correlação importante com o relevo e seus alinhamentos; e o
vez mais necessário tanto para a obtenção de informação o mais litoral, onde são bem marcadas as direcções norte e noroeste.
precisa possível do estado médio – e valores extremos – do As frentes separam massas de ar de densidades diferentes;
tempo numa dada época do ano, como para a escolha da loca- pela sua posição, em especial o Continente e o arquipélago
lização das estações turísticas. dos Açores estão mais sujeitos à passagem de frentes no
As condições gerais da circulação atmosférica provocam Inverno do que no Verão; ainda devido à posição,
uma sensível diminuição da precipitação anual de norte para esporadicamente, o Continente e a Ilha da Madeira podem
sul do Continente, reforçada pela assimetria orográfica; a ser atingidos por poeiras oriundas do Sara.
barreira de relevos no Norte e o afastamento do litoral pro- Da relação entre os vários elementos de clima obtêm-se
vocam menor queda de chuva no interior, notoriamente na os índices de conforto bioclimático, através dos quais, uma
rede hidrográfica, muito encaixada, do Douro. vez mais se nota, de uma maneira geral, o contraste entre o
Em paralelo com a distribuição da chuva encontra-se a dis- Norte e o Sul. Outra medição menos frequente, mas
tribuição do número de dias com precipitação igual ou superior essencial pela repercussão em duas actividades importantes
a 1 mm e, em sua oposição, os valores da insolação – número de – a pesca e o turismo – é a da temperatura da água do mar à
horas de sol descoberto acima do horizonte – que atingem, no superfície, junto à costa que, tal como em terra, aumenta de
Algarve, 3 100 horas, dos maiores valores da Europa. norte para sul e cuja média varia entre 12,3ºC, no mês de
A temperatura média do ar evolui em sentido contrário ao Janeiro, em Leixões, e 21,4ºC, nos meses mais quentes (Julho
das chuvas, ou seja, aumentando de norte para sul onde as e Agosto), no Cabo de Santa Maria; mas, tal como noutros
amplitudes térmicas são maiores; evolução idêntica se nota indicadores, notam-se algumas diferenças ao longo dos anos;
entre as temperaturas ao longo do litoral – sempre mais amenas por exemplo, em Leixões, entre 1956 e 1999 registou-se uma
e as do interior com muito maiores amplitudes térmicas. As significativa “tendência crescente de cerca de 0,04ºC/ano”.
áreas montanhosas do Norte mantêm-se como ilhas de frescura Para além desta distribuição normal dos elementos
ao longo dos meses de Verão e no Inverno atingem as tempe- climáticos básicos, verificou-se, pelo estudo de séries longas
raturas mais baixas sendo relativamente alto o risco de geada, de valores registados nas estações meteorológicas mais
praticamente desconhecido a sul do Tejo e em todo o litoral. significativas do Continente, “que o aumento [actual] da
A humidade relativa tem uma distribuição regional pouco temperatura média do ar ocorre em todas as estações [do
marcada de Inverno e uma diminuição acentuada, paralela ao ano], sendo maior no Outono/Inverno do que na
litoral, nos meses de Verão. Primavera/Verão... e que a [tendência] da taxa de aumento da
O vento, ou movimentos horizontais de massas de ar, é temperatura média anual do ar, 0,0074ºC/ano, é semelhante à
outro elemento de clima que interfere muito directamente da média global calculada para todo o planeta”.
Precipitação e temperaturas
Total Max. diária Nº dias/ Média Amplitude Média dos Média dos Máxima do Mínima do
anual (mês) ano anual méd. anual máx. mensais mín. mensais mês mais quente mês mais frio
(mês) (mês) (mês) (mês)
1149,6 102,2 (Nov) 155 Porto 14,4 10,8 25,0 (Ago) 4,7 (Jan) 40,1 (Jul) -4,1 (Jan)
505,7 63,0 (Set) 79 Moncorvo 15,2 18,0 30,9 (Ago) 3,4 (Jan) 41,8 (Jul) -5,7 (Fev)
1916,3 243,5 (Fev) 144 Penhas Douradas 8,9 14,8 21,7 (Jun) -0,4 (Jan) 32,8 (Jul) -13,3 (Fev)
(+34 neve)
707,5 87,5 (Nov) 113 Lisboa 16,6 11,7 27,7 (Ago) 7,8 (Jan) 40,3 (Ago) -1,2 ( Fev)
518,8 93,0 (Nov) 84 Campo Maior 16,5 16,4 33,8 (Jul) 4,4 (Jan) 45,6 (Jul) -5,0 ( Fev)
452,6 129,0 (Nov) 62 Faro 17,8 11,8 28,2 (Jul/Ago) 9,0 (Jan) 41,3 (Jul) -0,8 ( Fev)
ºC ºC %
24 32 90
22 30 85
20 28 80
18 26 75
16 24 70
14 22 65
20 60
55
50
ºC ºC
14 10 Muito elevado
12 8 Elevado
10 6 Médio
8 4 Baixo
6 2 Fraco ou
4 0 inexistente
2
0 25 50 km
m/s
>8
8
7,5
7
6,5
6
5,5
5
4,5
4
3,5
3
<3
Altitude de 80m
Resultados de simulação
numérica
Média anual
de 1999 corrigida
pela variabilidade
de longo termo
0 25 50 km
Rosas de vento
A irregularidade do tempo
no Continente
Frente fria
Frente quente
Frente oclusa
B Depressão
A Anticiclone
Máxima ºC
Ano 2002/03 Valores normais 1961/1990
Média Máxima Média Máxima
anual diária anual anual
Mínima ºC
Ano 2002/03 Valores normais 1961/1990
Média Mínima Média Mínima
anual diária anual anual
ºC
>3,6
2,7 – 3,6
1,7 – 2,6
1,2 – 1,6
0,7 – 1,1
-0,3 – 0,6
-0,8 – -0,4
-1,3 – -0,9
-2,3 – -1,4
-3,4 – -2,4
<-3,4
Nº de dias ºC ºC
15 a 17 40 23
12 a 14 38 22
9 a 11 36 21
6a8 34 20
Não existiu 32 19
18
17
0 25 50 km
precipitação alguma vez observados nos últimos sessenta a cem Precipitação total anual.
anos nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real, Terceira, São Miguel e Madeira
no nordeste do distrito de Aveiro e no noroeste do de Viseu”.
As ondas de calor
Precipitação total nos meses de Inverno. Precipitação total nos meses de Verão.
Terceira, São Miguel e Madeira Terceira, São Miguel e Madeira
mm mm
1 800 600
1 400 500
1 200 400
1 000 300
800 200
600 150
500 100
400 50
300
200
Média da temperatura mínima do ar nos meses Média da temperatura máxima do ar nos meses de Verão.
de Inverno. Terceira, São Miguel e Madeira Terceira, São Miguel e Madeira
0C 0C
13 24
12 23
11 22
10 21
9 20
8 19
7 18
6 17
5 16
4 15
0 25 50 km
médias de 15ºC dos três meses mais frios e a de 22ºC dos três Rede hidrográfica principal
meses mais quentes.
Em ambos os arquipélagos a temperatura desce quando a
altitude sobe, tendo sido calculado um decréscimo de 0,6ºC
por cada 100 m.
A rede hidrográfica
0 25 50 km
Cheias do Tejo em Santarém, 7 de Janeiro 2001 Assoreamento do Tejo em Santarém, Maio 1997
Bacias
hidrográficas
Rios internacionais
Rio (estação) Anos Caudal médio Caudal máximo Extensão dos rios nacionais, em km
de série m3/seg. m3/seg.
Ave 85
Minho (Foz do Mouro) 10.1973/04.2004 330,04 898,0 (07.02.79)
Vouga 136
Lima (Rabaçal) 10.1971/09.1990 51,81 916,0 (30.12.78)
Douro (Rio Mau) 10.1976/09.1985 467,15 568,0 (15.01.77) Mondego 220
Mondego (Ponte Sta Clara) 10.1939/06.1985 79,74 147,0 (29.01.48)
Tejo (Ponte Santarém) 10.1943/11.1988 411,45 5078,6 (16.02.83) Sado 175
Sado (Alvalade) 01.1980/07.2001 1,73 368,2 (06.06.91)
Guadiana (Pulo do Lobo) 10.1946/11.2000 161,28 127,3 (06.03.47) Mira 130
Distribuição de tipos de solos pelo que vários especialistas consideram os rios portugueses
como aqueles em que “o valor da oscilação do nível das águas se
conta entre os mais acentuados da Europa”.
Os rios que marcam mais profundamente o território
continental são todos internacionais; as suas águas, em per-
cursos de diferente importância limitam troços de fronteira;
como particularidade, o rio Minho define, na íntegra, a
fronteira do noroeste; as bacias hidrográficas dos quatro
principais rios ibéricos (Minho, Douro, Tejo e Guadiana)
ocupam, em território português, 53 600km2. O único
‘grande’ rio correndo exclusivamente em Portugal é o Mon-
dego (220km de comprimento).
Nas Ilhas, devido à sua pequenez e aos imponentes rele-
vos, centrais e marcadamente paralelos às costas mais alongadas,
os rios permanentes são curtos, por vezes com importantes
quedas de água; os de regime efémero têm, com muita
frequência, registos torrenciais, de acordo com as chuvadas
que fustigam os arquipélagos, principalmente no outono.
Os solos
Os solos, ou resultam de alterações químicas, físicas e bio-
lógicas das formações geológicas, as quais dependem, em grande
parte, do tipo de clima e do ritmo do tempo – dando os solos
eluvionares, em geral pouco espessos, pedregosos e de baixa pro-
dutividade –, ou são o resultado da acumulação de detritos
transportados pelos cursos de água – os aluviões ou solos alu-
vionares, em geral mais profundos do que aqueles, mas que só
se encontram em áreas reduzidas nos vales largos do norte e
nuns largos quilómetros quadrados nas bacias do Tejo-Sado.
Seja qual for a sua origem, os solos estão sujeitos a vários
tipos de erosão que contribuem para aumentar a sua degra-
dação e o seu empobrecimento. Um estudo efectuado no
início do último decénio do século passado, no Centro
Experimental de Erosão de Vale Formoso, perto de Mértola,
em terrenos xistosos e sob uma precipitação de 773,3mm
verificada de Setembro (1989) a Janeiro (1990) registou as
seguintes perdas de solo, segundo a ocupação de parcelas:
Com restolho: 1,130t/ha
N Com trigo (lavoura segundo as curvas de nível):
10,101t/ha
0 25 50 km
Com solo nu (lavoura perpendicular às curvas
Cambissolos solos castanhos relativamente móveis, produto de complexos rochosos antigos de nível): 40,992t/ha
Litossolos solos pedregosos muito pouco espessos e muito pouco evoluídos, estabelecidos Com pastagem natural: 0,041t/ha
sobre rochas-mãe duras
Luvissolos solos argilosos com elevado grau de saturação em bases
Podzois solos ácidos cuja evolução é condicionada pela presença de um húmus A destruição da cobertura vegetal por incêndios é outra
caracterizado por mineralização lenta da matéria orgânica fresca; são característicos
de florestas degradadas de resinosas causa acentuada de risco de degradação.
Fluviossolos solos formados sobre depósitos fluviais recentes Nas Ilhas, apesar da intensa cobertura vegetal, nos solos
Regossolos solos muito pouco evoluídos, estabelecidos sobre rochas-mãe moles
Vertissolos solos negros e argilosos de regiões quentes com estação seca
vulcânicos mais evoluídos, a seguir a grandes temporais, é
Raukers solos pouco evoluídos, principalmente em áreas montanhosas de regiões temperadas ‘normal’ ver-se uma mancha de água amarelo-terroso interpor-
Solonchacks solos ligados à existência de toalhas de água salgada -se entre a terra firme e o mar habitualmente azul que as rodeia,
Planossolos solos fracamente permeáveis, com características hidromorfas
tão elevada é a quantidade de solo que escorre pelas encostas...
A vegetação ‘natural’
Pela latitude a que se encontra o território continental,
pela distribuição da temperatura, da queda de chuva e do seu
regime, distinguem-se duas regiões de vegetação ‘natural’: a
norte, caracteristicamente atlântica, com espécies de folha-
gem caduca, típicas da Europa oceânica – que encontram em
Portugal o seu limite meridional; a sul, a mediterrânea, predo-
minantemente com espécies de folha persistente e adaptações
xerofíticas, apanágio das áreas de clima mediterrânico.
Grosseiramente, pela latitude de Coimbra estabelece-se
uma faixa irregular de transição.
As Regiões Autónomas pertencem a um vasto conjunto
ambiental – a Macaronésia – que engloba também os arquipélagos
das Canárias e de Cabo Verde. Apesar das diferenças climáticas,
com especial relevo para a precipitação (muito abundante nos
Açores, rara em algumas ilhas cabo-verdeanas), todas as ilhas
foram revestidas por uma densa cobertura de árvores de grande
porte e de arbustos, porventura mais rica em número do que em
espécies: a laurissilva, floresta constituída maioritariamente por
lauráceas, como vinhático, pau branco, til, cedro do mato, entre
outras; foi desaparecendo pela intervenção do homem, primeiro
pela necessidade de arranjar espaço para culturas alimentares e
pastos para os gados, depois pelo desenvolvimento da popula-
ção e consequente aumento da construção imobiliária. Hoje, a
laurissilva só tem importante representação em algumas áreas
das Canárias Ocidentais e, principalmente, na Madeira, em
áreas compreendidas entre os 300-600m e os 1 500m, em
especial nas encostas setentrionais; aqui, pelo seu significado e
extensão (15 mil hectares) foi integrada no seu Parque Natural
e classificada, em 1999, como Património da Humanidade.
Nos Açores, pelo interior, ainda hoje se vêem matas de vinhá-
tico, queiró, uva da serra, urze e loureiro, aparecendo as duas
última espécies também no litoral, em lavas vulcânicas em estado
avançado de evolução, frequentemente juntas com o incenso,
subespontâneo; todavia, o cedro do mato já desapareceu em
algumas ilhas, sendo raro, e só resistindo em lugares de refúgio,
noutras, como em São Miguel. Mas, se umas espécies se
extinguiram, outras foram introduzidas, um pouco de todo o
mundo, e, pelas condições locais, se espalharam e adaptaram de
tal maneira que constituem, hoje, um elemento inseparável
destas paisagens: fetos arbóreos, coníferas – entre as quais se
contam algumas variedades de araucárias e a criptoméria, umas
e outras formando extensos povoamentos – belas hortênsias,
Exemplos de vegetação
que ainda vão dividindo os pastos, e as exóticas e perfumadas
atlântica, mediterrânea e de laurissilva
conteiras que cobrem grandes áreas dos maciços montanhosos.
Nas ilhas do arquipélago da Madeira, “que do muito arvo-
redo assim se chama”, como escreveu Camões, a devastação outras. Também neste arquipélago algumas plantas introdu-
ainda foi maior, nomeadamente em Porto Santo e na vertente zidas adquiriram carácter subespontâneo, como a opúncia, ou
sul da Madeira, onde da primitiva laurissilva, fora do Parque tabaiba, e o agave, ou pita, de adaptação xerófita, aqui encon-
Natural, já só se encontram algumas espécies em estado de relí- trando boa aclimatação nas encostas meridionais, evidenciando
quia, como o dragoeiro (que, pela sua beleza e imponência, é bem os largos períodos de secura estival; são, ainda hoje,
plantado em jardins), o jasmineiro amarelo e o zimbreiro, entre indissociáveis da fisionomia destas ilhas.