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Comunicado 253

Técnico ISSN 0103-9458


Fevereiro, 2003
Porto Velho, RO

Resposta do Guandu (Cajanus cajan) à Altura e


Freqüência de Corte
1
Newton de Lucena Costa
2
Claudio Ramalho Townsend
3
João Avelar Magalhães
1
José Ribamar da Cruz Oliveira

Introdução Porto Velho, durante o período de abril de 1996 a


novembro de 1997. O clima da região é tropical
O guandu (Cajanus cajan) é uma leguminosa úmido do tipo Am, com precipitação anual de
arbustiva, perene de vida curta, que apresenta raízes 2.200 mm, estação seca bem definida (junho a
profundas, característica que lhe confere excelente setembro); temperatura média anual de 24,9oC e
tolerância à seca. Altamente palatável, produz umidade relativa do ar de 89%.
elevadas quantidades de forragem com altos teores
de proteína e minerais, notadamente em solos de alta O solo da área experimental é um Latossolo
fertilidade natural, sendo portanto, uma alternativa de Amarelo, textura argilosa, com as seguintes
baixo custo para a substituição parcial dos produtos características químicas: pH = 5,2; Al = 2,2
comerciais comumente utilizados na suplementação cmol/dm3; Ca + Mg = 1,6 cmol/dm3; P = 3 mg/kg e
animal (Costa, 1996, 1999). K = 69 mg/kg.

No manejo de leguminosas arbustivas diversos O delineamento experimental foi em blocos


parâmetros relacionados com a resposta morfo- casualizados com parcelas divididas e três
fisiológica e a sobrevivência das plantas devem ser repetições. As freqüências de corte (40, 60 e 80
considerados, destacando-se o estádio de dias) representaram as parcelas principais e as
crescimento e a altura de corte em que são colhidas, alturas de corte (60 e 90 cm), as subparcelas, as
as quais afetam marcadamente o rendimento e a quais foram constituídas por quatro linhas de 5,0
qualidade da forragem (Costa et al., 1992a,b). Em m de comprimento, espaçadas de 1,0 m entre si. A
geral, o aumento do intervalo entre cortes resulta em cultivar de guandu utilizada foi a Preta. A
incrementos significativos na produção de forragem, adubação de estabelecimento constou da
contudo, paralelamente, ocorre decréscimo em seu aplicação de 20 t/ha de esterco bovino e 50 kg de
valor nutritivo. Já, a altura de corte é importante na P2O5/ha, sob a forma de superfosfato triplo.
rebrota pela eliminação ou não dos pontos de
crescimento, pela área foliar remanescente e pela Durante o período experimental foram realizados
diminuição ou não das reservas orgânicas 10, 7 e 5 cortes, respectivamente para as
acumuladas durante os períodos favoráveis de freqüências de 40, 60 e 80 dias. Após o corte da
crescimento (Costa & Saibro, 1985). área útil, procedia-se a separação da fração
utilizável (folhas, flores, vagens e ramos com até
O presente trabalho teve por objetivo determinar a 6,0 mm de espessura) da fração grosseira (caules
freqüência e a altura de corte mais adequadas para o e ramos com diâmetro superior a 6,0 mm),
manejo do guandu, nas condições ecológicas de baseando-se no fato de que ramos mais espessos
Porto Velho, Rondônia. e fibrosos não seriam consumidos pelos animais.
As amostras referentes à fração utilizável como
Material e Métodos forragem foram colocadas em estufa à 65ºC, por
72 horas, para determinação dos rendimentos de
matéria seca comestível (MSC). Posteriormente,
O ensaio foi conduzido no Campo Experimental da
as amostras foram moídas através de malha
Embrapa Rondônia, localizado no município de

1
Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa Rondônia, Caixa Postal 406, CEP 78900-970, Porto Velho, Rondônia
2
Zootec., M.Sc. Embrapa Rondônia.
3
Med. Vet., M.Sc., Embrapa Meio Norte, Caixa Postal 341, CEP 64200-000, Parnaíba, Piauí
2 Resposta do Guandu (Cajanus cajan) à Altura e Freqüência de Corte

de 1,0 mm e preparadas para a quantificação dos Referências Bibliográficas


teores de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e
magnésio. COSTA, N. de L. Programa de pesquisa com
pastagens em Rondônia. Porto Velho: Embrapa
Resultados e Discussão Rondônia, 1996. 24p. (Embrapa Rondônia.
Documentos, 32).
A análise da variância revelou significância (P <
0,05) para a interação freqüência x altura de corte. COSTA, N. de L. Adubação fosfatada na
Para as freqüências de corte de 40 e 60 dias, os recuperação de pastagens degradadas da
maiores rendimentos de MS foram obtidos com região amazônica. Macapá: Embrapa Amapá,
cortes a 90 cm acima do solo, enquanto que para 1999, 16p. (Embrapa Amapá. Documentos, 16).
cortes a cada 80 dias não se detectou efeito
significativo da altura de corte. Independentemente COSTA, N. de L.; OLIVEIRA, J.R. da C. Cutting
da intensidade de utilização, cortes menos height affects Cajanus cajan yield and protein
freqüentes foram os mais produtivos, sendo os content. Nitrogen Fixing Tree Research Reports,
maiores rendimentos de MS registrados com o v.10, p.119-120, 1992a.
intervalo entre cortes de 80 dias.
COSTA, N. de L.; OLIVEIRA, J.R. da C. Produção
de forragem e composição química do guandu
Com cortes mais freqüentes e intensos, o (Cajanus cajan cv. Preta) afetadas pela altura e
desenvolvimento do guandu foi severamente freqüência de corte. In: REUNIÓN DE LA RED
prejudicado, o que implicou na obtenção dos INTERNACIONAL DE EVALUACIÓN DE PASTOS
menores rendimentos de forragem (Tabela 1). Na TROPICALES - SABANAS, 1., 1992, Brasília.
região dos cerrados de Rondônia, Costa & Oliveira Memórias... Cali, Colombia: CIAT, 1992b, p.637-
(1992b) obtiveram um incremento de 89% no 641.
rendimento de forragem do guandu, efetuando cortes
a cada 120 dias, em comparação com cortes a cada COSTA, N. de L.; MAGALHÃES, J.; TOWNSEND,
30 dias. Resultados semelhantes foram reportados C.R. Desempenho agronômico de cultivares de
por Souza et al. (1991) e Costa & Oliveira (1992a), guandu (Cajanus cajan) em Rondônia. In:
que constataram que o melhor manejo para o REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA
guandu consistia em cortes a cada 120 dias e a 60 DE ZOOTECNIA, 33., 1995, Fortaleza. Anais...
cm acima do solo. Fortaleza: SBZ, 1995. p.218-219.

Os teores de nitrogênio, fósforo e magnésio não 3.COSTA, N. de L.; SAIBRO, J.C. de.
foram afetados (P > 0,05) pelos diferentes regimes Estabelecimento e regimes de corte de alfafa e
de corte. Para os teores de cálcio, os maiores Paspalum guenoarum sob cultivo estreme e
valores foram obtidos com cortes a cada 80 dias, consorciado. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
independentemente da altura de corte, enquanto que v.20, n.12, p.1433-1442, 1985.
para os de potássio, a maior concentração foi
verificada com cortes a cada 60 dias, SOUZA,, J.M. de; CARBONERA, R.; VIAU, L.V.;
independentemente da altura de corte (Tabela 1). DHEIN, R. Rendimento e qualidade de forragem do
Em geral, as concentrações registradas neste guandu (Cajanus cajan) no noroeste do RS. In:
trabalho são semelhantes ou superiores às relatadas REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA
por Xavier et al. (1991), Costa & Oliveira (1992b) e DE ZOOTECNIA, 28., 1991, João Pessoa. Anais...
Costa et al. (1995) para diversas cultivares de João Pessoa: SBZ, 1991. p.46.
guandu. Já, os teores de fósforo,
independentemente dos regimes de cortes adotados, XAVIER, D.F.; BOTREL, M.; ALVIM, M.J.;
foram superiores ou semelhantes ao nível crítico FREITAS, V.P. Altura e época de corte do guandu
interno estimado por Costa (1996, 1999) para o para produção de forragem na zona da mata de
guandu (1,97 mg/kg). Minas Gerais. In: REUNIÃO ANUAL DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 28.,
Conclusões 1991, João Pessoa. Anais... João Pessoa: SBZ,
1991. p.67.
Cortes a cada 80 dias, a 60 ou 90 cm acima do solo,
proporcionaram os maiores rendimentos de MS e
teores de cálcio, além de assegurarem maior vigor
de rebrota e persistência das plantas; Os teores de
N, P e Mg não foram afetados pelos diferentes
regimes de cortes; Cortes frequentes e a baixa altura
mostraram-se inviáveis para o manejo do guandu,
proporcionando baixos rendimentos de MS.
Resposta do Guandu (Cajanus cajan) à Altura e Freqüência de Corte 3

Tabela 1. Rendimento de matéria seca comestível (MSC), teores de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e
magnésio do guandu, em função da freqüência e altura de corte.

Freqüência Altura de MSC Nitrogênio Fósforo Potássio Cálcio Magnésio


de corte (dias) corte (cm) (kg/ha) ------------------------------------ g/kg ------------------------------------

40 60 1.231 e 35,22 a 1,99 a 18,90 b 4,02 c 3,22 a


90 1.758 d 38,08 a 2,12 a 17,93 b 4,22 c 2,64 a

60 60 2.123 c 37,50 a 2,36 a 21,46 a 5,65 b 3,57 a


90 2.798 b 38,54 a 2,21 a 20,14 a 5,77 b 3,60 a

80 60 3.976 a 36,97 a 2,02 a 15,29 c 7,21 a 3,29 a


90 4.435 a 37,21 a 1,97 a 14,87 c 7,54 a 2,98 a
- Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si (P > 0,05) pelo teste de Tukey

Comunicado Exemplares desta edição podem ser Comitê de Presidente: Newton de Lucena
adquiridos na: Costa
Técnico, 253 Publicações Secretária: Marly Medeiros
Normalização: Alexandre Marinho
Embrapa Rondônia Membros: Claudio R. Townsend,
Endereço: BR 364, km 5,5 Marilia Locatelli, Maria Geralda de
Caixa Postal 406, CEP 78900-970 Souza, José Nilton M. Costa, Júlio
Porto Velho, RO César F. Santos, Vanda Gorete
Fone: (69) 222-0014 Rodrigues,
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
Fax: (69) 222-0409
PECUÁRIA E ABASTECIMENTO E-mail: sac@cpafro.embrapa.br Supervisor Editorial: Newton de
Lucena Costa
Expediente Revisão de texto: Ademilde
Andrade Costa
1ª Edição Editoração Eletrônica: Marly
1ª Impressão 2003 Medeiros
Tiragem 100 exemplares

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