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HISTERIA

Tereza Dubeux

 A histeria é uma neurose geralmente latente que eclode por


ocasião de acontecimentos marcantes, ou em períodos
críticos, da vida de um sujeito.

 É possível pensar a histeria como o teatro da subjetividade,


como um fundamento da construção subjetiva que tem
necessariamente seu eixo na ênfase da relação com o Outro.

 O sofrimento histérico expressa-se, principalmente,através


de sintomas somáticos que, em sua maioria, são transitórios,
que não resultam de nenhuma causa orgânica e que, em sua
localização corporal, não obedecem a nenhuma lei anatômica
ou fisiológica.
HISTERIA
• A histeria é uma forma neurótica de funcionamento do
aparelho psíquico, que se manifesta por meio de múltiplas
maneiras, sendo que as duas formas sintomáticas mais bem
identificadas são a histeria de conversão e a histeria de
angústia ( a fobia ).

• Três pontos principais caracterizam esse quadro clínico:

o A apresentação do conflito edipiano com pontos de


fixação nos registros orais e fálico;
o A escolha de um mecanismo de defesa específico: o
recalque;
o A prevalência de uma determinada forma de identificação.
HISTERIA Tereza Dubeux

 Freud destaca no histérico uma antecipação


somática, uma espécie de apelo ao corpo para que
uma representação recalcada vá nela se alojar.

 O corpo que adoece na histeria é o corpo sexuado


e este corpo sofre por se dividir entre a parte genital
surpreendentemente anestesiada e atingida por
fortes inibições sexuais (ejaculação precoce,
frigidez, impotência, aversão sexual etc.) e todo o
resto não genital do corpo, que, paradoxalmente,
aparece muito erotizado e sujeito a excitações
sexuais permanentes.
 Do ponto de vista descritivo, a histeria apresenta
uma entidade clínica definida, com
sintomatologias e traços estruturais próprios. Do
ponto de vista relacional, reproduz um vínculo
doentio com o outro que se repete na
transferência.

 Inicialmente, Freud formula o problema etiológico


da histeria em termos de quantidade de energia: a
histeria deve-se a um excesso de excitação que não
foi descarregada por via verbal, ou somática,
porque a representação psíquica do trauma, ao ter
sido impedida de expressão, torna-se um corpo
estranho que atua no psiquismo.
HISTERIA
A Histeria na 1ª Tópica Freudiana
 O mecanismo de defesa que preside à formação dos
sintomas histéricos é o recalcamento da representação
incompatível com o eu.

 Freud afirma que o trauma vivenciado na histeria


decorre de uma experiência sexual precoce vivida com
desprazer, tanto nos meninos quanto nas meninas,
apesar da atribuição exclusivamente feminina da
histeria.

 Esta concepção inicial de Freud pressupõe que a


relação entre a mente e o corpo são de dois lugares
distintos, ocupando a mente um lugar de maior
relevância, sendo separados por uma barra
ultrapassável por uma representação psíquica.
HISTERIA
A Histeria na 1ª Tópica Freudiana

 Dessa forma , Freud destaca na histeria uma


antecipação somática, espécie de apelo ao corpo para
que uma representação recalcada vá se alojar nele.
 Freud propõe, assim, que o problema desta neurose é o
encontro entre o corpo biológico e o representante
pulsional, da ordem da linguagem, isto é, um
significante.
 O sintoma seria uma mensagem ignorada pelo sujeito
que deve ser entendida em seu valor metafórico e
inscrita em um corpo enfermo de forma codificada.
HISTERIA
A Histeria na 2ª Tópica Freudiana

 O desejo da histérica revela a natureza geral do desejo,


de ser o desejo do Outro.
 Revela, ainda, que a histérica só pode aceder ao desejo
pelo desvio da identificação imaginária a um outro, seja
uma amiga, ou alguém que a conduz à apropriação do
sintoma ou um traço, de um semelhante por um
raciocínio inconsciente.
 Além disso, através do fracasso no caso Dora, Freud
compreende a questão do enigma da feminilidade para a
histérica.
 Ao deixar de ver a dimensão homossexual dos desejos
de Dora, Freud não vê a sua identificação com o homem,
através da qual ela se questiona sobre o enigma da
feminilidade.
HISTERIA
A Histeria na 2ª Tópica Freudiana

 As dificuldades encontradas no tratamento levaram Freud a criar


uma segunda tópica, embora não tenham surgidos novos estudos
sobre a histeria.
 A releitura que Lacan faz de Freud, no entanto, permite entender a
pertinência da clínica freudiana.
 O sonho da “ bela açougueira” permite que Freud afirme que a
sonhadora histérica é obrigada a criar para si um desejo
insatisfeito. A histérica reserva o lugar do desejo enquanto ele não
se confunde nem com a demanda de amor, nem com a satisfação
da necessidade.
 A falta constitutiva do desejo é articulada por meio de uma
demanda ao lugar do Outro, definido como lugar simbólico da
linguagem. A falta está no Outro, articulação significante da falta do
objeto como tal, cujo significante é o falo.
HISTERIA
• Na histeria, por efeito do recalque, o afeto aderido à
representação inconciliável com o eu, ganhará outro destino. O
afeto como excitação psíquica é convertido em excitação
somática, ou seja, em sintoma corporal.

• Esta conversão, no entanto, não é gratuita, ela mantém um


nexo com a vivência traumática sobre a qual incidiu o
recalque.

• É como se diante da confrontação com a radicalidade do


enigma que diz respeito a quem somos nós, o que nos deixa
confrontados com o vazio, a histérica respondesse
defensivamente: “eu sou meu corpo”, e tentasse a todo custo
resolver-se por seu intermédio.
HISTERIA
• O corpo de que se trata nesse caso é aquele no qual sua função
orgânica foi invadida pela função sexual. O órgão é destacado
da função que lhe é destinada normalmente para servir à
função que lhe é conferida pela fantasia.

• Um exemplo é o caso da cegueira histérica em que o olho


pode ver inconscientemente, sendo afetado pelo que estiver
vendo, mas não ver de maneira consciente, apontando
claramente para uma divisão psíquica.

• O que a psicanálise visa mostrar é que qualquer função


orgânica pode ser apropriada pelo imperativo de dar expressão
a uma questão psíquica, o que significa ser investida de modo
erógeno, histerógeno.
HISTERIA
• O analista precisa, portanto, estar atento não apenas
às evidências fenomenológicas, mas buscar identificar
a estrutura defensiva do sujeito a partir de sua fala, e
de seu modo de se endereçar ao Outro na elaboração
de seu discurso.

• Essa investigação da dimensão estrutural da defesa do


sujeito é o eixo que permite ao analista orientar seu
trabalho de modo a se precaver da infinidade de
apelos imaginários que buscam a todo tempo seduzi-
lo e confundi-lo.
HISTERIA
• Esse termo, histerógeno, é proposto por Freud para designar
esse incremento imaginário que faz com que as zonas erógenas
se multipliquem barbaramente na sintomatologia histérica e
possam acampar em qualquer local do corpo. As zonas
erógenas são localizações no corpo que se revelam vias
prioritárias de expressão sexual, sendo, portanto vias
fundamentais de intercâmbio com o outro, em que a pele e as
mucosas ganham uma função prevalente.

• O problema da histeria é que além de poder configurar


manifestações que se confundem com qualquer quadro clínico,
como esquizofrenia, perversão, depressão, transtornos
bipolares devido a sua plasticidade, ela confunde o próprio
sujeito que as produz, tendo como conseqüência, dificuldades
de delimitações diagnósticas.
HISTERIA
• É a partir do Outro que a criança é introduzida no
universo sexual. Essa, em sua posição de passividade,
vive uma experiência de sedução primária na qual é
despertada para o gozo pelos cuidados da mãe ou de
quem for seu cuidador. Nos próprios cuidados com o
bebê, na forma de limpá-lo, tocá-lo, protegê-lo, abre-se
um universo de apelo ao contato.

• O bebê encontra-se, nesse contexto, em posição de


dependência absoluta, como um objeto oferecido ao
Outro, podendo aparecer como instrumento de seu
gozo, posição essa de suma importância na construção
da estrutura fundamental da fantasia, ou mesmo como
dejeto, comprometendo sua possibilidade de advir
como sujeito.
HISTERIA
• Freud menciona que a histeria é uma estrutura que
conjuga três elementos: um arquivo de lembranças,
um núcleo traumático e um fio lógico. Ao não olhar a
histeria como um defeito ou uma degeneração, ao vê-
la como uma modalidade de defesa que se articula ao
estilo do sujeito, Freud a aborda em sua positividade.
• Freud não nega as dificuldades e sofrimentos que a
fixação e a intensificação de tal defesa pode trazer e,
até por isso, se dispõe a clinicar, porém sem pretensão
de extirpar o estilo defensivo da histérica como a uma
má-formação qualquer.
• Considera o estilo como uma manifestação subjetiva e
extirpá-la seria suprimir o próprio sujeito, o que seria
um contrasenso.
HISTERIA
 Segundo Nasio, em seu livro “A Histeria”, é
possível observar três posições permanentes e
duradouras do eu histérico no processo
transferencial: o primeiro estado é de um eu
insatisfeito, passivo, em que o eu está
constantemente à espera de receber do Outro,
não a satisfação que completa, mas,
curiosamente, a não resposta que frustra. É
como se o sujeito buscasse uma insatisfação e
o descontentamento de que tanto se queixa.
HISTERIA Tereza Dubeux

 O segundo estado é de um eu histericizante: um


estado ativo de um eu que transforma a realidade
concreta do espaço analítico numa realidade
fantasmática de conteúdo sexual.

 O terceiro estado é de um eu tristeza que se


caracteriza pela tristeza do eu ao se confrontar com
a única verdade do seu ser: não saber se é homem
ou mulher.
O EU INSATISFEITO Tereza Dubeux

 A histeria é, antes de mais nada, o laço que o


neurótico tece com os outros a partir de suas
fantasias.

 O histérico, como qualquer sujeito neurótico, é


aquele que, sem ter conhecimento disso, impõe na
relação afetiva com o outro, a lógica doentia de sua
fantasia inconsciente. Uma fantasia em que ele
desempenha o papel de uma vítima infeliz e
constantemente insatisfeito.

 O estado fantasmático de insatisfação é o que


marca e domina toda a vida desse neurótico.
O Eu Insatisfeito Tereza Dubeux

A razão disso é clara: o histérico é fundamentalmente um ser


de medo que, para atenuar sua angústia, não encontrou outro
recurso senão manter incessantemente, em suas fantasias e
em sua vida, o estado de insatisfação.

 De que ele tem medo? Ele teme o perigo de viver a satisfação


de um gozo máximo. Um gozo tal que, se o vivesse, ele
enlouqueceria. Pouco importa que ele imagine esse gozo
máximo como o gozo do incesto, o sofrimento da morte ou a
dor da agonia.

 O problema consiste em evitar a qualquer preço qualquer


experiência que evoque de perto, ou de longe, um estado de
plena e absoluta satisfação.
O EU INSATISFEITO
Tereza Dubeux

 Em suma, o problema do histérico é, antes de mais nada, seu


medo profundo e decisivo, jamais sentido, mas atuado em todo
o nível de seu ser. O medo do gozo intolerável: é justamente o
medo e a recusa de gozar que ocupa o centro da vida psíquica
do histérico, afastando-o, inclusive, do seu próprio desejo.

 Para afastar essa ameaça de um gozo maldito e temido, o


histérico inventa inconscientemente um cenário fantasmático
destinado a provar a si mesmo e ao mundo que só existe o
gozo insatisfeito.

 Para manter o seu descontentamento, ele sempre considera o


outro decepcionante, sempre portador de insatisfação. Quer se
trate do poder do outro, ou da falha do outro, seja com o outro
de sua fantasia, ou com o outro da sua realidade, é sempre a
insatisfação que o histérico faz questão de encontrar.
O EU TRISTEZA Tereza Dubeux

 O sujeito histérico não consegue definir sua identificação


como homem nem como mulher, decorrendo daí a tristeza
do eu histérico, correspondente ao vazio e à incerteza de
sua identidade sexual.

 Para histericizar a realidade, o eu histérico tem que ser


maleável e capaz de se estirar desde o ponto mais íntimo
do seu ser até a borda mais externa do mundo.

 Essa plasticidade singular do seu eu instala o histérico


numa realidade confusa, meio real, meio fantasiada, onde
se desenrola o jogo cruel e doloroso das identificações
múltiplas e contraditórias com diversos personagens e ao
preço de ele permanecer estranho a sua própria identidade
de ser sexuado.
O EU HISTERICIZANTE Tereza Dubeux

 Histericizar é fazer nascer no corpo do outro uma


fornalha ardente de libido; é erotizar qualquer
expressão humana por si só, intimamente, mesmo
que ela não seja de natureza sexual.

 O histérico com toda a inocência, sexualiza tudo o


que não é sexual, qualquer gesto, qualquer palavra,
qualquer silêncio que percebe no outro ou que
dirige ao outro.
O EU HISTERICIZANTE
 A sexualidade histérica não é uma sexualidade genital, é
um simulacro de sexualidade, mais próximo da
masturbação e das brincadeiras sexuais infantis do que
de uma verdadeira relação sexual.

 O histérico emite sinais sexuais levando o outro a crer


que seu verdadeiro desejo é enveredar pelo caminho de
um ato sexual. No entanto, o que o histérico deseja é que
o ato sexual fracasse: mais exatamente, ele se apega ao
desejo inconsciente da não realização do ato e, por
conseguinte, ao desejo de continuar como um ser
insatisfeito.

 A fala do histérico é carregada de um sentido sexual,


suscita imagens fantasmáticas, provoca efeitos erógenos
no corpo, mas não realiza nada.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA
Tereza Dubeux

 Em qualquer tipo de histeria a economia do


desejo mantém-se fundamentalmente idêntica.
Uma identidade assim só pode ser balizada
segundo índices mais profundos que contribuirão
para precisar a estrutura: os traços estruturais.

 O primeiro traço é a alienação subjetiva do


histérico em relação ao desejo do outro.

 O caráter específico da problemática histérica,


na lógica fálica, diz respeito a ter ou não ter o falo.
Em todos os casos, os processos identificatórios
atestam, em sua maioria, a alienação subjetiva do
histérico em sua relação com o desejo do outro,
especialmente sob a forma dessa sujeição do
desejo ao que se pode supor, pressentir, até
mesmo imaginar, que seja o desejo do outro.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA Tereza Dubeux

 A identificação histérica se fundamenta nesta


alienação subjetiva do histérico em relação ao
desejo do Outro. A identificação com a mulher
que supostamente conhece a resposta ao enigma
do desejo e que lhe dará a solução para essa
questão é um exemplo dessa identificação.

A dialética do desejo do histérico circula entre o


ter e o ser. O ter é revelado através do narcisismo
fálico da histérica em que ela se coloca em cena
como um objeto brilhante que seduz. Essa
sedução é colocada a serviço do falo, visando
fazer o outro desejar e permanecer insatisfeito.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA

 A passagem do ser para o ter é determinada pela


intrusão paterna: pai imaginário, privador e
frustrador na medida em que o pai é reconhecido
pela mãe como aquele que faz a lei, e em que o
desejo da mãe se revela à criança como um
desejo inscrito na dimensão do ter e não do ser.
Ao tirar a questão do desejo da criança da
dimensão de ser o falo da mãe, o pai conduz a
criança para o registro da castração.

 O pressentimento da castração é aquilo através


do qual a criança descobre não ser e não ter o
falo. Só assim, o pai tem acesso à função de pai
simbólico.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA Tereza Dubeux

 Para agradar e tentar preencher o que imagina


ser o prazer do outro, a histérica se engajará de
bom grado numa cruzada sacrificial, colocando-
se a serviço do outro.
 O sacrifício é feito para que ela seja vista. A
histérica procura mostrar-se através desse outro.
Seu caráter sacrificial é essa permanente
identificação com o falo do outro.
 A histérica queixa-se de não ter sido amada pela
mãe e essa falta de amor se inscreve num jogo
fálico. Por essa razão, a identidade do histérico é
insatisfatória, frágil.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA
• O que quer a histérica? O que ela gostaria é de um saber
em seu inconsciente que viesse ordenar, regular seu
próprio desejo. Quer dizer que ela não agüenta mais
estar sempre a serviço do desejo dos outros;
especialmente do desejo dos mestres. Ela não agüenta
mais estar sempre a serviço do desejo dos outros e
gostaria de ter em seu inconsciente a expressão de seu
próprio desejo.

• Por que a histérica aceita se tornar o objeto capaz de


satisfazer o mestre? Há muitas histéricas que aceitam,
se devotam se sacrificam para que o mestre seja o
verdadeiro mestre; para que seus desejos sejam sempre
realizados.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA
• Quando a histérica aceita satisfazer o desejo do mestre
desta maneira, o que ela se torna? Ela se torna o falo;
ela se torna o instrumento com que o mestre sustenta o
seu poder, tornando-se, assim, indispensável ao
mestre para que ele possa exercer seu poder. Ela se
torna o cetro do mestre. Quer dizer que é ela quem se
torna o mestre de seu mestre.

• Todos nós conhecemos, seja na vida social, seja na


família ou na prática clínica, este dispositivo em que a
serva é que é a patroa.

• No entanto, o que a histérica quer é outra coisa: ela


quer ter em seu inconsciente um desejo que seria o
desejo específico da mulher.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA
• O que seria um desejo no inconsciente que seria o desejo
específico de uma mulher e que viria organizar sua
existência é uma grande questão contemporânea.

• No momento em que a mulher procura a especificidade da


expressão do seu desejo, ela encontra um modo de
expressão que é viril.

• Lacan dizia que há na mulher um desejo que não é apenas


fálico, mas que há um gozo Outro. No entanto, este gozo
Outro não tem referente, e se não há referente como seria
possível expressar um Outro gozo?
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA
• Para uma mulher, o gozo não é somente fálico, mas diz
respeito a um Real, que é um puro vazio, onde não há
nada. A esse gozo Outro Lacan vai chamar de gozo da
vida em oposição ao gozo fálico, associado à morte.

• Nesta perspectiva, o gozo fálico estaria associado à


morte? Sim, porque o sexo está ligado à morte. É
exatamente a reprodução sexuada que nos leva à
morte.E é exatamente o gozo fálico que faz com que
tenhamos uma pulsão de morte e que, de certo modo,
queiramos a morte.
A Relação da histérica com o outro sexo Tereza Dubeux

 Na relação com o outro sexo,a histérica busca


sempre o falo no outro. Procura, portanto, no outro
o que ela não tem. Constituir-se como podendo ser
o falo do outro implica recusar a dimensão da falta,
da castração, enfim, da entrada do pai como
representante da lei que regula o gozo.

 Cabe à mãe reconhecer na palavra do pai a única


capaz de mobilizar seu desejo. Essa mobilização do
desejo da mãe pelo pai faz com que criança institua
o pai imaginário num lugar onde ele é depositário
do falo, tornando-se, para a histérica, um pai
idealizado.
A Relação da histérica com o outro sexo
 A circulação do desejo entre um homem e uma
mulher é, obrigatoriamente, suspensa pelo
reconhecimento recíproco da castração no
outro. A escolha do parceiro amoroso da
histérica é feita com hesitação e visa a
insatisfação do desejo. Nesse sentido, a
histérica busca um parceiro que reproduza um
pai completo, perfeito, idealizado, que nunca
existiu. Na realidade, tem convicção da
imperfeição do parceiro, assim como tinha das
insuficiências paternas.

 O jogo histérico é a questão da assunção da


conquista do falo que deveria ter sido
solucionada pelo declínio do Edipo. Para ter o
falo, é preciso ser colocado na posição de não
tê-lo. A possibilidade de ser castrado é
essencial na assunção do fato de ter o falo.
A HISTERIA MASCULINA Tereza Dubeux

 A grande crise do histérico aparece como um


acesso de cólera, que pode significar uma
confissão de impotência sexual transvestida
através dessa descarga libidinal.
 Na histeria masculina, a sedução se constitui
como um suporte privilegiado de uma negociação
de amor. O histérico oferece seu amor sem se
poupar, um amor de fachada, já que o histérico é
incapaz de se engajar, realmente, com a sedução:
deseja ser amado por todos, sem perder nenhum
objeto de amor, o que denota o traço
característico da histeria, a sua insatisfação.
 O histérico tem uma incapacidade de gozar, não
consegue usufruir do que ele tem, faz-se de
vítima, lamenta pelo que não tem.
TRAÇOS ESTRUTURAIS DA HISTERIA MASCULINA
 O fracasso: quando o histérico consegue obter o que
cobiçava no outro, apressa-se a fracassar. É o fracasso
diante do sucesso.

 Pode-se observar uma duplicidade de elementos


incompatíveis: uma tendência ostensiva para mostrar
suas ambições, suas potencialidades e êxitos e outra
tendência vitimista que consiste em imputar à realidade
externa o fracasso da realização dessa tendência
primeira.

 É na base dessa inaptidão inconscientemente


orquestrada que se desenvolvem processos de
supercompensação, como o alcoolismo e a toxicomania.
O álcool e a droga permitem assegurar ao histérico uma
compensação em seu ser masculino. Trata-se de tentar
parecer como um homem, já que o histérico se queixa de
não poder sê-lo.
A RELAÇÃO COM O OUTRO SEXO
Tereza Dubeux

 A relação com o outro feminino é alienada através da


representação da mulher como uma mulher idealizada e
inacessível. Desenvolve comportamentos de evitação de
contatos sexuais com a mulher, instituindo manifestações
sintomáticas: de natureza perversa, como a encenação
homossexual e o exibicionismo, encenação do próprio
corpo (fisiculturismo); além de outras manifestações, como
a impotência e a ejaculação precoce.

 O desejo da mulher é interpretado como uma injunção de


dar prova de sua virilidade. O histérico confunde desejo e
virilidade. Na relação desejante com a mulher, ele sente
necessidade de ter o que ele imagina que a mulher
demanda: o falo. Como não se sente possuidor desse
objeto, responde à mulher com a impotência.
A RELAÇÃO COM O OUTRO SEXO
Tereza Dubeux

 A impotência pode ser visto como uma resposta à


demanda inconsciente da mãe. Este sintoma se revela,
portanto, como uma solução de compromisso entre aquilo
através do que a mulher pode gozar e a fidelidade à mãe.

 A ejaculação precoce dá testemunho da ameaça que o


histérico sente diante do gozo feminino. Para ele, há um
perigo imaginário na concretização do ato sexual com a
mulher.

 Quanto mais ele se assegura de que o gozo da mulher


não pode resistir ao poder fálico, mais ele se instala na
posição de quem não o tem e gozará cada vez mais de
modo precoce.

 Inconscientemente, identifica-se com a parceira feminina


e goza com a ejaculação precoce, como imagina que uma
mulher goza ao sucumbir ao poder fálico.
AAHISTERIA
Histeria depois
DEPOISde
DEFreud
FREUD

• Charles Melman destaca que o recalcamento


próprio à histérica seria, de fato, um pseudo-
recalcamento.

• Se, como sustentava Freud, a menina passa por


uma fase na qual deve renunciar à mãe, não
deixando de conhecer, assim como o menino, a
castração, a instalação da feminilidade pressupõe
um segundo momento, no qual ela recalca
parcialmente a atividade fálica, à qual a castração
parecia autorizá-la.

• Para ele, o recalcamento incidiria sobre o


significante mestre, aquele ao qual o sujeito
recorre, eventualmente, para interpelar o objeto.
AAAHISTERIA
HISTERIADEPOIS
HISTERIA DEPOISDE
DEPOIS DEFREUD
DE FREUD
FREUD

• Esse recalcamento seria a primeira mentira do sintoma


histérico, pois ele se faz passar por uma castração real e
não simbólica, demandada pelo Outro, e está na origem da
idéia de que possa haver um fantasma próprio à mulher.

• A histérica interpreta a aceitação da feminilidade como um


sacrifício, um dom feito a vontade do Outro, que assim ela
consagraria. Desde então, ela se inscreve em uma ordem
que prescreve queixar-se e não desejar.

• Ela opõe, aos que reivindicam o desejo, uma nova ordem


moral, ordenada pelo amor de um pai doente e impotente,
cujos valores são o trabalho, a devoção e o culto à beleza.

• Nasceria, assim, uma nova humanidade, igualitária, porque


igual ao sublime e desembaraçada da castração.
AA
HISTERIA
Histeria DEPOIS
depois deDEFreud
FREUD
• Deduz-se disso uma economia geral da histeria que
evidencia duas formas clínicas paradoxais: a depressiva, em
que o sujeito vive como um estranho ao mundo e recusa
toda afirmação, assim como todo engajamento.

• Uma outra, é uma forma estênica, um modo ativo, no qual o


sujeito faz de seu sacrifício o sinal de uma escolha. A
histérica pode, então, se dedicar a rivalizar com os homens,
substituí-los quando forem demasiadamente medíocres, se
fazer de homem não castrado, à imagem do pai.

• Assim, ela fica apta a sustentar todos os discursos


constitutivos do laço social, porém marcados pela paixão
histérica, procurando fazer valê-lo para todos os outros.
AA
HISTERIA
Histeria DEPOIS
depois deDEFreud
FREUD
• A histeria masculina depende dos mesmos
discursos, economia e ética. Caracteriza-se pela
escolha de um jovem de se dispor do lado das
mulheres, e de cumprir sua virilidade pelas vias da
sedução, como uma criatura excepcional e
enigmática.

• Masculina ou feminina, a paixão histérica se


sustenta na culpa com a qual o sujeito se
sobrecarrega, quando se acusa de ser responsável
pela castração e assim romper a harmonia do
universo. Torna-se responsável pela impossível
cooptação natural dos homens e das mulheres, a
partir do momento em que são homens e mulheres
pelo fato da linguagem;
A HISTERIA DEPOIS DE FREUD
A Histeria depois de Freud
• A histeria tem como meta, em certos casos,
reabilitar o pai que ocupa o lugar do Outro, mas
numa posição de fraqueza, em que ele próprio não
é reconhecido, não tem força suficiente em sua voz
para fazer valer a sua lei.

• A histérica trabalha para a reabilitação desse pai


que lhe falta no campo do Outro, visando dar a ele
a expressão de sua plena potência, de sua
autoridade e, assim, de algum modo curá-lo. Trata-
se para a histérica de salvar o pai a fim de que ele
seja capaz de garantir a universalidade de seu
campo: de garantir o lugar do não-todo castrado.
A HISTERIA DEPOIS DE FREUD
• Freud, ao afastar radicalmente a interpretação
clássica na medicina, sobre a histeria como uma
mera simulação, afirma que a origem organo-
psíquica da histeria, pois a interpreta como ligada a
uma retenção de uma excitação sexual que não
encontrou um livre escoamento, essa retenção está
ligada, por outro lado, à recusa da mulher em
reconhecer essa excitação, em respeitá-la, e portanto
em admiti-la, dando-lhe um destino conveniente.
• É interessante observar a distinção, ou a falsa
simetria, existente entre o desejo sexual do homem
e a demanda que aparece no sintoma histérico.
A HISTERIA DEPOIS DE FREUD
• A demanda que surge à luz do sintoma histérico se
apresenta como muito mais imperiosa do que o
desejo do homem, muito mais irreprimível e
recusando qualquer limite, qualquer controle. Já o
desejo do homem passa por caminhos que
supõem uma organização que ao mesmo tempo
canaliza e organiza o desejo.

• O desejo como ele se expressa no homem é


dialetizado, passa por um encaminhamento da
linguagem que o deixa em suspenso frente ao
objeto explicitamente visado, mesmo que esse
desejo seja encarnado por alguma mulher em
direção a quem esse desejo se exprima.
A HISTERIA DEPOIS DE FREUD
• O que é visado por esse desejo do homem,
permanece enigmático para a mulher. Por essa
razão uma mulher o devolve facilmente àquele
que lhe manifesta interesse: “ O que ele quer de
mim? O que eu tenho que ele quer de mim?” Daí
ser esse desejo dialetizado, ao passo que a
demanda, tal como ela se exprime por ocasião do
sintoma histérico, é direta, imediata, imperiosa e
delineia sem nenhum rodeio o objeto visado.

• É neste ponto que esse tipo de demanda feminina


se aparenta com a pulsão, ao se apresentar como
algo que vindo do corpo não suporta nem controle,
nem dialetização, exige apenas satisfação
A HISTERIA DEPOIS DE FREUD
• Esse sintoma histérico se manifesta de tal forma
que a mulher se apresenta como transbordada por
ele, ou seja, à sua revelia isso demanda nela, ela
assiste à sua própria demanda, e é aí que se pode
inserir esse sintoma histérico que sempre intrigou
os médicos: “a bela indiferença histérica”.

• Ela é a espectadora de seu próprio sintoma, como


se ele lhe fosse estranho, e portanto, como se seu
corpo lhe fosse estranho. Essa demanda se
apresenta como uma necessidade orgânica, como
a fome, a sede, a respiração. A partir daí é
possível perceber como essas funções físicas
podem ser perturbadas pelo sintoma: há uma
sexualização das necessidades orgânicas.

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