O documento discute o cinema marginal e o cinema novo no Brasil das décadas de 1960 e 1970. Apresenta três blocos de cinema na época: o cinema de mercado, o cinema novo e seu vínculo inicial com o ativismo político, e o cinema marginal produzido na "Boca do Lixo" que refletia a contracultura da época de forma política.
O documento discute o cinema marginal e o cinema novo no Brasil das décadas de 1960 e 1970. Apresenta três blocos de cinema na época: o cinema de mercado, o cinema novo e seu vínculo inicial com o ativismo político, e o cinema marginal produzido na "Boca do Lixo" que refletia a contracultura da época de forma política.
O documento discute o cinema marginal e o cinema novo no Brasil das décadas de 1960 e 1970. Apresenta três blocos de cinema na época: o cinema de mercado, o cinema novo e seu vínculo inicial com o ativismo político, e o cinema marginal produzido na "Boca do Lixo" que refletia a contracultura da época de forma política.
Fábio Leonardo Castelo Branco Brito Stéfany Marquis de Barros Silva Diante da imagem: possibilidades da lida com a arte e o audiovisual como fonte histórica
• Para o historiador da arte Georges Didi-Hubermanm (2013), o
historiador deve assumir o risco de interpretar o inverificável.
• Mudar de perspectiva: não se contentar em constatar que não há
saberes.
• Familiarizar-se com fontes da época.
• Criar associações. Diante da imagem: possibilidades da lida com a arte e o audiovisual como fonte histórica
• O que vemos e o que nos olha: o visual como histórico.
• O filme como enunciado.
• Percepção dos regimes de dizibilidade e visibilidade que
constituem uma determinada obra de arte.
• O que é possível ver, sentir e narrar a partir do audiovisual.
Diante da imagem: possibilidades da lida com a arte e o audiovisual como fonte histórica • “Após a História da Arte, é a Antropologia, dentre as ciências humanas e sociais, que vai cedo descobrir o valor cognitivo dos fatos e, sobretudo, dos registros visuais, em particular servindo-se do desenho e, muito mais ainda, da fotografia, posteriormente acompanhada do filme (mudo e sonoro) e do vídeo. [...]” (MENESES, 2003, p. 16)
• Bergson e as teses sobre o movimento: “o movimento não se confunde com o
espaço percorrido. O espaço percorrido é passado, o movimento é presente, é o ato de percorrer. O espaço percorrido é divisível, e até infinitamente divisível, enquanto o movimento é indivisível, ou não se divide sem mudar de natureza a cada divisão. O que já supõe uma idéia mais complexa: os espaços percorridos pertencem todos a um único e mesmo espaço homogêneo, enquanto os movimentos são heterogêneos, irredutíveis entre si” (DELEUZE, 2004). Diante da imagem: possibilidades da lida com a arte e o audiovisual como fonte histórica • “[...] Com efeito, o cinema opera com dois dados complementares: cortes instantâneos, que chamamos imagens; um movimento ou um tempo impessoal, uniforme, abstrato, invisível ou imperceptível, que existe ‘no’ aparelho e ‘com’ o qual fazemos desfilarem as imagens. [...]” (DELEUZE, 2004)
• “[...] O cinema nos oferece então um movimento falso, ele é o exemplo
típico do movimento falso. [...] Com efeito, diz Bergson, quando o cinema reconstitui o movimento por meio de cortes imóveis, ele não faz nada além do que já fazia o mais antigo pensamento [...], ou do que faz a percepção natural. [...]” (DELEUZE, 2004) Cinefilia: “notas sobre um roteiro em processo” • Para Jaislan Honório Monteiro, grande parte das referências que estabelecerão as bases da estética fílmica no Brasil contemporâneo partirão dos movimentos em torno do cinema que emergem na Europa, notadamente na França e na Itália, a partir da década de 1950.
• Nouvelle Vague francesa: “Sendo de início caracterizado pela limitação de
recursos financeiros e pela jovialidade de seus propositores, o referido movimento cinematográfico surgido na França em fins da década de 1950, trazia, como linhas intercambiáveis, a quase que completa anulação das regras utilizadas pelo cinema de formatação comercial e a necessidade de repensar os postulados da sétima arte por meio de uma ação que privilegiasse a expressividade do autor – redefinindo, destarte, a maneira de ver e dizer o cinema” (MONTEIRO, 2015, p. 111). Cinefilia: “notas sobre um roteiro em processo” • Jean-Luc Godard e sua “anticartilha” sobre cinema: a proposta de uma estética que se vinculasse não aos modelos tradicionais, mas sim a instrumentos, atores e planos não-convencionais.
• Após as movimentações de maio de 1968,
se voltaria para o cinema político, com a criação do grupo de cinema Dziga Vertov, do qual nascem filmes como Pravda (1969), Le Vent d’Est (1969) e Jusqu’a La Victorie (1970). Cinefilia: “notas sobre um roteiro em processo” • O neorrealismo italiano e o cinema pós-Segunda Guerra Mundial – contraponto à estética fascista – Roberto Rossellini, Vittorio de Sica e Luchino Visconti.
• Pier Paolo Pasolini, o pós-neorrealismo e a
renovação da proposta de cinema italiano – críticas à direita e ao comunismo.
• Trilogia da vida – Decameron (1971), Os Contos
de Cantebury (1972) e As Mil e Uma Noites (1974). Cinefilia: “notas sobre um roteiro em processo”
• “Escreve aí: o tal de cinema de arte dessa cidade é uma graça.
Escreve aí: que diabo de programação de arte é essa? Pra enrolar os trouxas ou porforice e estupidez no duro? Parece, pelo que soube, que começou com “Oliver”, um superespetáculo comercialização e eventualmente até bonitinho, mas que não tem nada que ver... ou terá amizadesinha? E o “Dr. Fausto”, cafonice pra debiloides medianos, teatro filmado de décima categoria, papo furado em matéria de cinema? Isso faz cócegas no “intelecto” de nossos filmecultores? Pintou um Godard, e desse espanto eu ainda não me refiz. [...]” (ARAÚJO NETO, A Hora Fa- Tal, 1972). Cinefilia: “notas sobre um roteiro em processo” • “ [...] Acho que só pode ter sido um acaso, porque não dá pra entender uma comissão (comissão?) que dois sábados depois de ‘Masculino Feminino’, verdadeira maravilha, acha que é ou ‘dever ser’ de arte essa absurda adaptação de Ulisses de Joyce, um filme ridicularizado em toda a parte onde foi exibido até hoje, e que bastava a alguém da comissão conhecer o livro para sacar que não pode ser, hum? Que não tem nada se ver. Escrever aí: esse cinema de arte anda meio sobre o ridículo. Acredito que exista uma opção qualquer para os diretores do cinema de arte, fora das limitações contratuais com essas ou aquelas distribuidoras americanas a que estão presos os donos do cinema Royal. Filmes italianos do neo-realismo clássico (Visconti, De Sica, Rosselini, etc), filmes de Felinni dos anos sessenta, Antonionni... Toda a Nouvelle Vague Francesa (Godard, Daniol Valcroze, Truffaut etc) [...] “O vento levou” é superespetáculo para faturar muito em exibição normal, agora e sempre. O cinema de arte deve servir para outra coisa, não? Assim como está é só de mentirinha.” (ARAÚJO NETO, A Hora Fa-Tal, 1972). Apontamentos em torno do Cinema Marginal e do Cinema Novo
• Segundo Alcides Freire Ramos, no final da década de 1960, o
cinema brasileiro atravessava um de seus períodos mais importantes, tendo em vista as profundas transformações históricas que estavam ocorrendo.
• De acordo com suas interpretações, num primeiro bloco, havia o
Cinema de Mercado (estrangeiro ou nacional) que, “adotando estratégias de marketing sofisticadas e ancorando-se em tecnologias de som e imagem de última geração, dominava a maioria das salas de exibição” (RAMOS, 2009, p. 43). Apontamentos em torno do Cinema Marginal e do Cinema Novo • Num segundo bloco, ainda segundo o mesmo autor, temos os cineastas vinculados ao Cinema Novo, originalmente vinculado às propostas dos Centros Populares de Cultura (CPCs) da União Nacional dos Estudantes (UNE), articulado à chamada estética da fome, manifesto lançado por Glauber Rocha.
• Sua primeira fase se caracteriza pela tendência de um Brasil
democrático de final dos anos 1950 e início dos anos 1960, marcado pela discussão dos temas nacionais, tais como a fome e o subdesenvolvimento, dos quais são exemplos os filmes Cinco Vezes Favela (Cacá Diegues, Leon Hirszman et al, 1961) e Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964). Apontamentos em torno do Cinema Marginal e do Cinema Novo
• A chamada segunda fase do Cinema Novo se caracteriza pelos
impactos do golpe civil-militar de 1964, que configurou um desencantamento da população com o ativismo político do movimento, o que marcaria sua desvinculação mais efetiva com a estética da fome e uma abordagem mais comercial, tendo como proposta filmes que analisavam o suposto fracasso do populismo, do desenvolvimentismo e dos intelectuais de esquerda.
• São exemplos da segunda fase filmes como Garota de Ipanema
(1968), de Leon Hirzsman, e seu desejo de pensar um filme que mostrasse a vida de classe média brasileira. Apontamentos em torno do Cinema Marginal e do Cinema Novo
• A terceira e última fase do Cinema Novo indica uma aproximação
entre seus filmes e uma estética mais carnavalizada do Brasil, articulada à emergência e cristalização do movimento tropicalista.
• São resultados desse último momento filmes tais como O Dragão
da Maldade Contra o Santo Guerreiro (Glauber Rocha, 1968), Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade, 1969) e Como Era Gostoso o Meu Francês (Nelson Pereira dos Santos, 1971). Apontamentos em torno do Cinema Marginal e do Cinema Novo
• O que seria, nesse contexto, o chamado Cinema Marginal?
• Para o historiador do cinema Fernão Ramos, afirma a existência de
dois significados centrais para o conceito: o primeiro, o de “estar à margem de, à beira de, ao lado de alguma coisa”; e o segundo, possuindo conotação ideológica, socialmente muito disseminada, com relação a “estar à margem de”, ou seja, carregando a pecha de “vagabundos”, “delinquentes”. Apontamentos em torno do Cinema Marginal e do Cinema Novo
• A Boca do Lixo (1969-1973), no âmbito do qual se produziram
muitos dos filmes do chamado “cinema marginal”, possui representantes cariocas, tais como Júlio Bressane, mas encontrou na cidade de São Paulo seu foco inicial de desenvolvimento.
• “Estudar essas obras é, sem dúvida, uma oportunidade de jogar
luz sobre uma conjuntura em que o impacto da contracultura foi muito significativo e não levou, necessariamente, à despolitização das artes. [...]” (RAMOS, 2009, p. 47) Apontamentos em torno do Cinema Marginal e do Cinema Novo
• A Boca do Lixo (1969-1973), no âmbito do qual se produziram
muitos dos filmes do chamado “cinema marginal”, possui representantes cariocas, tais como Júlio Bressane, mas encontrou na cidade de São Paulo seu foco inicial de desenvolvimento.
• “Estudar essas obras é, sem dúvida, uma oportunidade de jogar
luz sobre uma conjuntura em que o impacto da contracultura foi muito significativo e não levou, necessariamente, à despolitização das artes. [...]” (RAMOS, 2009, p. 47) Apontamentos em torno do Cinema Marginal e do Cinema Novo
• À Meia Noite Levarei Sua Alma (José Mojica Marins, 1964).
• O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, 1968).
• Gamal, o Delírio do Sexo (João Batista de Andrade, 1969).