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O império do efêmero: Moda nas

sociedades modernas
Gilles Lipovetsky
Sobre o autor
• Filósofo francês, produtor da chamada hipermodernidade.
• Dentro de sua obra, O Império do Efêmero - A moda e seu destino
nas sociedades modernas ele
• destaca-se como um painel de um pensamento ao mesmo tempo
rebelde às tradições críticas clássicas e uma defesa do
individualismo democrático daquelas sociedades.
• Ele tenta ver esse aspecto individual partindo da perspectiva de
moda e de como passamos a abandonar as tradições para construir
valores individuais sobre si e os outros.
• Sua tese pode ser resumida como a afirmação moderna de uma
descontração das atitudes, gosto pela intimidade e pela expressão
de si, ligados à galáxia dos valores democráticos - autonomia,
hedonismo, psicologismo...
Aspectos gerais da obra
• Uma das principais questões formuladas pelo A. refere-se à centralidade
da moda nas sociedades contemporâneas, o que a constitui como força
efetiva na produção e reprodução social.
• A moda que surgiu como um fenômemo muito localizado na modernidade
- nas cortes européias e por muito tempo restrito aos estratos sociais
dominantes - experimentou um paulatino desenvolvimento até tornar-se
um fenônemo onipresente e força hegemônica na atualidade;
• e se, até poucas décadas, ainda estava restrita a determinados estratos da
população, hoje insinua-se fortemente em faixas etárias, tipos físicos e
classes sociais(jovens que não trabalham) que antes não alcançava. (Plus
size)
• Sua intensa difusão constituiria um processo fundamental das sociedades
pós-industriais, fato que motiva uma dura crítica do A. à intelectualidade,
em razão da marginalidade do tema nos estudos acadêmicos.
A moda e o ocidente: movimento
aristocrático
• Temos uma tendência a frivolidade, a fantasia individual
• No entanto, nas sociedade primitivas, há a força da tradição, do
legado ancestral
• Repetição dos modelos herdados do passado
• Não há brechas para falhas de ser ou parecer
• Não se trata de não haver interesse em se embelezar ou se arrumar
• Mas criar modas desqualificam o passado, substituem o antigo e
rompem com estruturas tradicionais.
• As sociedades antigas interessa reproduzir um passado coletivo
• O homem replicava o que entendia das narrativas míticas
• Não havia uma valorização do individual, que viria com as distinções
de poder.
O surgimento do poder e do estado
• Com o aparecimento do poder, a relação com a moda não mudou rapidamente
• Os egipcios por exemplo, tinham uma toga unissex
• Em roma e na grécia, temos trajes também que acompanharam essas civilizações
até o seus respectivos declínos
• O quimono japonês durou muito tempo
• E na china a aparência das mulheres não mudou muito até o século XIX!
• Quando se fala em mudanças nesse período, mutio se dá oela relação com
estrangeiros, que por vezes obrigam os povos dominados a absorverem sua
cultura.
• E vice e versa
• No entanto há uma dificuldade em ver um movimento autônomo para a moda
local.
• Mesmo as sociedades mais luxuosas e liberais, seguiam normas e codigos de vestir.
• Não eram efêmeras, de rápidas flutuações.
A moda efêmera
• Para o autor surge no século XIV
• Aqui vemos as primeiras experiências de vestuários adaptados para
homens e mulheres
• Os homens usam uma espécie de jaqueta chamada gibão e as
mulheres usam um vestido longo mais ajustado e decotado
• O traje feminino agora ressalta traços da feminilidade da mulher:
• Bustos, quadris, curvas das ancas ficam mais clarividentes.
• As variações de roupas serão mais estravagantes
• A mudança não é mais acidental ou vinda do estrangeiro, a
mudança sobre a roupa se torna permanente e constante.
• A intenção sobre a moda muda. De caracterizações de grupos
sociais, passam a servir os interesses de indivíduos.
Séculos XIV a XIX
• È evidente que as mudanças não ocorreram do dia pra
noite
• As mudanças na idade média vão ocorrer bem mais
lentamente que no renascimento
• Mas é no período do fim da idade média em que a
mudança ganha contornos incontroláveis.
• Muitos cronistas da época faziam metáforas em que
comparavam a passagem do tempo as mudanças da
moda.
• Não se trata agora de um traje por toda a vida.
– Começa-se a produzir uma história dos trajes usados ao
longo da vida.
Historiadores da moda
• Aumenta a atenção em relação ao efêmero, a
vontade de transcrever s mudanças das formas
do vestuário
• Reis passam a se interessar pela moda de seus
antepassados, para entender a flutuação da
moda no presente é buscado por alguns reis
franceses
• As mudanças são tão rápidas que autores
comentam a dificuldade de alfaiates se
adaptarem as velozes mudanças
Sobre as mudanças na moda
• modificações rápidas dizem respeito sobretudo aos ornamentos e aos acessórios,
às sutilezas dos enfeites e das amplitudes, enquanto a estrutura do vestuário e as
formas gerais são muito mais estáveis.
• A mudança de moda atinge antes de tudo os elementos mais superficiais, afeta
menos frequentemente o corte de conjunto dos trajes.
– O verdugadim, essa armadura em forma de sino que arma o vestido, surgido na Espanha por
volta de 1470, só será abandonado por volta da metade do século XVII;
– o calção bufante ficou em uso perto de um quarto de século, e o gibão justo perto de setenta
anos;
– a peruca conheceu uma voga de mais de um século;
– o vestido à francesa manteve o mesmo corte durante várias décadas a partir da metade do
século XVIII.
• São os adornos e as bugigangas, as cores, as fitas e as rendas, os detalhes de
forma, as nuanças de amplidão e de comprimento que não cessaram de ser
renovados:
• o sucesso do penteado à la Fontanges sob Luís XIV durou uns trinta anos, mas com
formas variadas — há sempre um edifício elevado e complexo feito de fitas, de
rendas e de cachos de Cabelos...etc
Modas e os pequenos nadas
• A partir de agora, a moda se fará pelas pequenas diferenças
• Essas particularidades passam a qualificar e desmoralizar a pessoa
que os adota
• A distinção social se faz agora dentro do dominio do sutil
• A moda no período não traduz o simples gosto pela novidade e pelo
enfeite, mas rompe com a lógica imutável da tradição
• Temos a valorização do presente, não do passado e dos
antepassados.
• Imitação de modelos presentes e estrangeiros
• Queremos imitar os contemporâneos e não os antepassados.
– Quem hoje quer se vestir como Luis XIV se vestia?
– A ideia era de que só o presente deve insirar respeito
A sociedade modal da era moderna
• A alta sociedade foi tomada pela febre das novidades, inflamou-se
por todos os últimos achados, imitou alternadamente as modas em
vigor na Itália, na Espanha, na França,
• houve um verdadeiro esnobismo por tudo o que é diferente e
estrangeiro.
• Com a moda, nasce uma nova paixão própria ao Ocidente, a do
“moderno”.
• A novidade tornou-se fonte de valor mundano, marca de excelência
social;
• é preciso seguir “o que se faz” de novo e adotar as últimas
mudanças do momento:
• O presente se impôs como o eixo temporal que rege uma face
superficial mas prestigiosa da vida das elites
Era da eficácia era das frivolidades
• Com a agitação própria da moda, surge uma ordem de fenômeno
“autônoma”, correspondendo aos exclusivos jogos dos desejos, caprichos
e vontades humanas:
• mais nada impõe de fora, em razão dos usos ancestrais, tal ou tal maneira
de vestir; tudo na aparência está, de direito, à disposição dos homens
livres para modificar e sofisticar os signos frívolos nos exclusivos limites
das conveniências e dos gostos do momento.
• Era da eficácia(dominio racional) e era das frivolidades (loucuras lúdicas
da moda) são só aparentemente contraditórios.
• Embora os homens consagram uma lógica que exploram tarefas e
conformam sujeitos em comportamentos.
– A forma quase coreografada para falar com o rei é um bom exemplo.
• Eles também afirmaram, através da efemeridade da moda, seu poder de
iniciativa sobre o parecer.
– Eles usam da moda para serem bem vistos e bem falados. São os artifícios,
que mais adiante o autor cita.
Teatro dos artifícios
• Mesmo nas civilizações clássicas, onde a moda era aproximada do
passado, temos exemplos de refinamentos frívolos.
– Na roma, os homens tingiam cabelos para parecer jovens
– Mulheres usavam tranças postiças ou perucas tingidas de loiro, joias e
bordados para compensar a rigidez do vestuário feminino
• Poderíamos até falar em uma experiência de moda num passado de que
vivia de tradições do passado?
– O autor diz que não por avaliar que houveram muito mais rupturas com esse
modelo, do que continuidades.
• Mesmo com esses artíficios para variar, não havia na sociedade romana os
dois elementos principais para que exista moda:
– O efêmero e a fantasia estética.
– As fantasias ou as variações promovidos por homens e mulheres na época,
não criaram novos modos de ser estar e se vestir, apenas adornaram, giraram
em torno do que já existia.
– Podemos falar em proto modas isoladas em casos como o de roma, mas moda
mesmo, só na era moderna.
Nas eras de tradição
• Mais significativo ainda, nas eras de tradição
as fantasias são:
• estruturalmente segundas em relação à
configuração de conjunto do vestuário;
• podem acompanhá-lo e embelezá-lo, mas
sempre respeitam sua ordenação geral
definida pelo costume.
• Ou seja, mesmo com toda a gama de joias,
cores e gestos, a vestimenta, pouco mudou.
Nas eras de moda
• Outrora contentava-se em ornar; enfeitar, agora inventa,
com toda supremacia, muda-se toda a estrutura do
parecer, para tornar-se outro de si mesmo.
• Mesmo carregada de fantasias, a aparência, nas eras de
tradição, permanecia na continuidade do passado, signo da
primazia da legitimidade ancestral.
• A emergência da moda fez mudar completamente a
significação social e as referências temporais da toalete:
• representação lúdica e gratuita, signo factício, o vestuário
de moda rompeu todos os elos com o passado e tira uma
parte essencial de seu prestígio do presente
efêmero,cintilante, fantasista.
Moda masculina e feminina
• O próprio da moda, nesse longo período, foi impulsionar um luxo
de sofisticações teatrais, tanto para os homens quanto para as
mulheres.
• No próprio momento em que a moda introduziu uma
dessemelhança extrema na aparência dos sexos, destinou-os
igualmente ao culto das novidades e das preciosidades.
• Sob muitos aspectos, houve, de resto, uma relativa preponderância
da moda masculina em matéria de novidades, de ornamentações e
de extravagâncias.
• Com o aparecimento do traje curto, na metade do século XIV, a
moda masculina imediatamente encarnou, de maneira mais direta
e mais ostensiva do que a da mulher, a nova lógica do parecer, à
• base de fantasias e de mudanças rápidas.
Virilidade
• O que hoje nos seria sinônimo de feminilidade, de maricas, era o
que definia a masculinidade no século de Luís XIV.
• O vestuário masculino é mais rebuscado, mais enfeitado com fitas,
mais lúdico (o calção bufante) do que os trajes femininos.
• A influência das modificações do equipamento militar sobre a moda
masculina não impediu de modo algum o processo fantasista de ser
dominante e de jogar com os signos viris:
• a moda colocou em cena e sofisticou os atributos do combatente
(esporas douradas, rosas na espada, botas guarnecidas de rendas
etc. Só me lembra o Girlthunder, a beleza refinada de nanatsu no
taizai.),
• Somente no século XIX para que a moda masculina se obscureça
diante da feminina.
• Esse inclusive é um dos probelmas desse trabalho: O excessivo
enfoque na moda masculina!
Logica da teatralidade da moda
• Temos aqui a cultura do exagero
• A moda deve estar sempre sofrendo
acréscimos, exageros de volume e forma
• Não gosto muito da ideia de colocar a
expressão ridículo em excesso no texto, isso é
uma opinião muito contemporânea e
particular dele sobre a época.
• No entanto há um excessivo uso de babados,
lantejoulas e caprichos
Aceitação sobre a moda
• Ela não foi prontamente aceita pela sociedade do antigo
regime
• Gerou críticas, chocou, criou questionamentos morais,
estéticos e religiosos, como até hoje cria.
• Vivemos uma era de julgar caráter pela roupa!
• Essas novas peças de vestuários são vistas como indecentes
imorais ou ridículas.
• É claro que os conservadorees tradicionalistas não
deixariam a mudança ocorrer, sem uma boa briga.
• A igreja reprovava essas mudanças na moda.
• Existe desde a antiguidade uma tradição de difamação da
futilidade
Moda e o refinamento
• A moda trouxe a crítica e com ela o
refinamento
• O olho passou a discriminar pequenas
diferenças
• Tem prazer nos detalhes bem acabados sutis e
delicados, para acolher formas novas.
• Pode-se julgar mais livremente o traje do
outro, colocando-o dentro do prisma do bom
ou do mal gosto.
Moda sobre si
• Mas a moda não foi somente um palco de apreciação do espetáculo dos outros;
– desencadeou, ao mesmo tempo, um investimento de si, uma autoobservação estética sem
nenhum precedente.
• A moda tem ligação com o prazer de ver, mas também com o prazer de ser visto,
de exibir-se ao olhar do outro.
– Se a moda, evidentemente, não cria de alto a baixo o narcisismo, mas o reproduz de maneira
notável.
• A moda encoraja os sujeitos a cuidarem melhor da sua
representaçãoapresentação,a procurar a elegância, a graça, a originalidade.
• As variações incessantes da moda e o código da elegância convidam ao estudo de
si mesmo, à adaptação a si das novidades, à preocupação com o próprio traje.
• A moda permitiu vínculos de posição e classe, mas também processos de
individualização, o culto do eu.
– Primeiro grande dispositivo a produzir social e regularmente a personalidade aparente, a
moda estetizou e individualizou a vaidade humana, conseguiu fazer do superficial um
instrumento de salvação, uma finalidade da existência.
Individualismo nacional e estético
• A expansão social da moda não atingiu imediatamente as classes
subalternas.
• Durante séculos, o vestuário respeitou globalmente a hierarquia das
condições:
• cada estado usava os trajes que lhe eram próprios; a força das tradições
impedia a confusão das qualidades e a usurpação dos privilégios de
vestuário;
• as classes plebeias eram proibidas de vestir-se como os nobres, de exibir
os mesmos tecidos, os mesmos acessórios e joias.
• O traje de moda permaneceu assim por muito tempo um consumo
luxuoso e prestigioso confinado, no essencial, às classes nobres.
• Contudo, a partir dos séculos XIII e XIV, quando se desenvolviam o
comércio e os bancos, imensas fortunas burguesas se constituíram:
• apareceu o grande novo-rico, de padrão de vida faustoso, que se veste
como os nobres, que se cobre de joias e de tecidos preciosos, que rivaliza
em elegância com a nobreza de sangue
Democratização da moda
• No início muito limitada, a confusão nos trajes só progrediu na
passagem do século XVI ao XVII:
• a imitação do vestuário nobre propagou-se em novas camadas
sociais, a moda penetrou na média e por vezes na pequena
burguesia, advogados e pequenos comerciantes adotam já em
grande número os tecidos, as toucas, as rendas e bordados usados
pela nobreza.
• O processo prosseguirá ainda no século XVIII, estritamente
circunscrito, é verdade, às populações abastadas e urbanas,
excluindo sempre o mundo rural;
• veremos, então, os artesãos e os comerciantes usar peruca à
maneira dos aristocratas.
• A burguesia, se apropriando e comercializando a roupa do nobre,
contribuiu para um movimento lento e limitado de democratização
da moda.
A lógica da moda
• A esse individualismo nacional fez eco o que é preciso chamar de um
individualismo estético.
• Com a abertura coletiva, a moda permitiu uma autonomia individual em matéria
de aparência.,
• instituiu uma relação inédita entre o átomo individual e a regra social.
• O próprio da moda foi impor uma regra de conjunto e, simultaneamente, deixar
lugar para a manifestação de um gosto pessoal:
– é preciso ser como os outros e não inteiramente como eles, é preciso seguir a corrente e
significar um gosto particular. Esse dispositivo que conjuga mimetismo(cópia) e individualismo
é reencontrado em diferentes níveis, em todas as esferas em que a moda se exerce, mas em
parte alguma manifestou-se com tanto brilho quanto no vestuário, e isso porque o traje, o
penteado, a maquiagem são os signos mais imediatamente espetaculares da afirmação do Eu.

• A lógica da moda usar os trajes e os cortes em voga no momento, vestir-se com as


peças essenciais em vigor, mas, ao mesmo tempo, favorecerá a iniciativa e o gosto
individuais nos enfeites e pequenas fantasias, nos coloridos e motivos de adornos.

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