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O direito romano é considerado a mais

importante fonte histórica do direito.


Sua atualidade é evidente. Ele está
presente em vários institutos jurídicos
e princípios atuais. Ao estudá-lo,
ocorre a análise das origens do direito
vigente.
2 AS FASES DO DIREITO ROMANO
2.1 O Direito Romano na Realeza (753
a.C. a 510 a.C.)
2.1.2 Organização social
Dentre os habitantes de Roma havia quatro
classes bem distintas: os patrícios, os clientes,
os escravos e os plebeus. Os primeiros, homens
livres, fundadores da cidade e seus
descendentes, agrupados em clãs familiares
patriarcais, denominados gentes, formavam a
classe detentora do poder e privilegiada.
Nomeados dentre os chefes das gentes pelo rei,
os “senadores, por serem os mais velhos em
suas gens, chamavam-se patres, pais. O
conjunto deles acabou formando o Senado
(de senex, velho, ancião – conselho dos
anciãos)” (ENGELS, 2006, p. 139/140). E, o
“poder, de fato, estava nas mãos dos patres-
familias, sendo o Senado sua representação
máxima” (FIUZA, 2007, p. 41).
Então, o povo era a sociedade romana, constituída, no
início, apenas de patrícios. Após Sérvio Túlio, que deu
à plebe a cidadania, também passaram a compor
a populus romanus.
O povo exercia seus direitos em assembléias,
denominadas comícios, onde votavam para decidir
sobre propostas específicas de casos concretos.
2.1.5 Fontes do direito
As fontes do direito na fase da realeza são
apenas duas: o costume (fonte principal) e
a lei (secundária). E, tendo em vista o
amplo domínio dos deuses sobre o
homem, essas fontes são extremamente
influenciadas pela religião.
Já a lei decorre de uma iniciativa do rex, tendo em vista um caso
concreto em que alguém deseja agir contrariando algum costume. Essa
proposta do rei pode ou não ser aceita pelo povo. Se for aceita, a lex é
analisada pelo senado. Caso ratificada torna-se obrigatória perante
todos.
Aqui, a autoridade da lei resulta, ao contrário do costume, de um acordo
formal entre todos os cidadãos. Então, o Direito na realeza é:
“Casuístico, porque era criado para cada caso concreto. Empírico,
porque se baseava na observação prática, nada possuindo de científico.
A posteriori, porque nascia depois do fato concreto.
Finalmente, concreto, uma vez que nada tinha de abstrato, vinculando-
se exclusivamente ao caso concreto” (FIUZA, 2007, p. 42).
2.2 O Direito Romano na República
(510 a.C. a 27 a.C.)
2.2.1 Principais eventos
No início da fase da república, logo
após a expulsão de Tarqüínio, o
Soberbo, houve a “substituição
do rex por dois comandantes militares
(cônsules) dotados de iguais poderes”
(ENGELS, 2006, p. 143).
Foi nessa época que a diferença entre
patrícios e plebeus já não se justificava.
Inclusive, por volta dos séculos IV e III
a.C., “a plebe já ocupava todos os
cargos da magistratura, antes
reservados só aos patrícios” (FIUZA,
2007, p. 54).
2.2.4 Fontes do direito
As fontes do direito na fase da
República são cinco: os costumes, as
leis escritas, o senatusconsultos, a
jurisprudência e os editos dos
magistrados.
SENATUS-CONSULTOS: Eram as
deliberações do Senado de Roma. Na
época da República Romana as
deliberações do senado eram dirigidas
as magistrados.
Pela incerteza oriunda de um ordenamento baseado
em costumes, a plebe luta por uma lei escrita,
pública, conhecida e que possa ser invocada contra
qualquer um. Havia duas espécies de leis escritas,
as leges rogatae e as leges datae. As primeiras eram
propostas por iniciativa de um magistrado, votadas
pelo povo e homologadas pelo Senado. Já as leges
datae eram medidas unilaterais tomadas diretamente
pelos cônsules, em nome do povo, sem votação e
nem homologação do Senado.
Das leis escritas, fundamental mencionar sobre
a Lei das XII Tábuas, considerada até mesmo
como sendo fonte de todo o direito privado.
Elas “foram escritas em meio a uma evolução
social; foram os patrícios que as fizeram, mas a
pedido e para uso da plebe” (COULANGES,
2007, p. 334). Esse pedido foi feito através de
protestos e revoltas populares.
A jurisprudência, que também pode ser
chamada de interpretação dos prudentes, seria
como se fosse nossa atual doutrina jurídica,
contendo interpretações e adaptações à lei.
Como a lei na época tinha muitas lacunas, de
extrema importância o trabalho dos
jurisprudentes, que eram “jurisconsultos
encarregados de preencher as lacunas deixadas
pelas leis” (CRETELLA JÚNIOR, 2007, p. 34).
Os editos dos magistrados tinham grande
relevância na fase da república. Eram um
conjunto de cláusulas, que funcionavam
como normas, expondo a plataforma que
seria aplicada para os casos que fossem
apresentados. Eram divulgados assim que
os magistrados assumiam o cargo.
2.3 O Direito Romano no Alto Império
(27 a.C. a 284 d.C.)
Nessa fase ocorreram revoltas de
escravos e vários conflitos entre as
classes sociais. Esses acontecimentos
levaram a uma alteração política em
Roma.
Em 66 a.C., formou-se, com a associação política entre Júlio
César, Pompeu e Crasso, o primeiro triunvirato. Por volta de
43 a.C., “formou-se um segundo triunvirato, formado por
Otávio (sobrinho e filho adotivo de Júlio César), Marco
Antônio e Lépido”. (FIUZA, 2007, p. 55). E, considera-se
triunvirato “uma associação política entre três homens em pé
de igualdade. A palavra triunvirato originou-se a partir de dois
radicais do latim: trium (três) e vir (homem)” (TRIUNVIRATO,
2008).
Durante o segundo triunvirato, Lépido foi exilado e Marco
Antônio se suicidou. Restou Otávio.
“Otávio se tornou ditador. Em 36 a.C., foi-lhe
atribuída a tribunicia potestas (poder de veto e
inviolabilidade). Em 29 a.C., o título
de imperator (comandante-em-chefe das forças
armadas). Em 28 a.C., recebeu o título
de princeps senatus; em 27 a.C., o de augusto.
Otávio se tornou, então, o senhor absoluto, mas
sem o título de rei, do qual não fazia questão”.
(FIUZA, 2007, p. 56).
O imperador, que tinha autoridade máxima, inviolável, reunia
todas as atribuições que na república eram divididas entre
vários magistrados. Eram atribuições dele:
“a tribunicia potestas, o pró-consulado (comando militar de
todas as províncias), o direito de declarar guerra e celebrar
paz, fundar e organizar colônias, conceder cidadania,
convocar o Senado, cunhar moedas, instituir tributos,
administrar, dizer o direito (jurisdição civil em 2ª instância e
jurisdição criminal).” (FIUZA, 2007, p. 56).
2.3.3 Fontes do direito
As fontes do direito na fase do alto império
são seis, conforme ensina José Cretella
Júnior: costume,
lei, senatusconsultos, editos dos
magistrados, constituições imperiais e a
jurisprudência.
As constituições imperiais eram medidas
de ordem legislativa promulgadas pelo
imperador e elaboradas pelo consilium
principis, colégio constituído pelos mais
importantes jurisconsultos da época.
Os editos dos magistrados, nesta fase, perdem importância,
eis que os magistrados foram perdendo o direito de editar
editos de seus antecessores. Então, os pretores passaram a
apenas reproduzir os editos passados. Isso ocorreu até que
“Adriano (117 a 138), finalmente, encarregou o jurisconsulto
Sálvio Juliano de fixar e sistematizar em um único texto os
editos pretorianos. A obra denominou-se Edito Perpétuo, por
ser imutável. A partir daí, os pretores só podiam inovar por
solicitação do Imperador ou do Senado.” (FIUZA, 2007, p. 58).
Edicta: Proclamações do imperador ao ser consagrado, do
mesmo modo que os pretores quando assumiam as
preturas;
Mandata: Instruções dadas pelo imperador, na qualidade de
chefe supremo, aos funcionários subalternos;
Decreta: Decisões que o imperador tomava, como juiz, nos
processos que lhe eram submetidos por particulares em
litígio;
Rescripta: Respostas dadas pelo imperador a consultas
jurídicas que lhes eram feitas por particulares (subscriptio)
ou magistrados (epistola).
Decreta são decisões que o imperador
toma, como juiz, nos processos que lhe são
submetidos pelos particulares em litígio.
Tomadas com relação a um caso particular,
passam, como os atuais acórdãos, a ser
invocados para situações iguais ou
semelhantes.
Por fim, a jurisprudência, considerada
fonte eis que vinculava as decisões
judiciais, “equivalia a nossa doutrina. Diga-
se que o imperador podia atribuir a certos
juristas o chamado ius respondendi, que
conferia a seus pareceres maior força que
aos dos demais” (FIUZA, 2007, p. 59)
2.4 O Direito Romano no Baixo
Império (284 d.C. a 565 d.C.)
380 - Constituição Cunctos Populos, de Teodósio
I (379 a 395). Elevou o catolicismo a religião
oficial.
395 - Morte de Teodósio I e divisão do Império
em Oriente e Ocidente, com dois imperadores,
seus filhos: Arcádio, no Oriente, e Honório, no
Ocidente. A unidade jurídica foi mantida por
meio da legislação, que era a mesma.
2.4.2 Organização política e judiciária
Os poderes públicos eram exercidos pelo
Senado, pelas magistraturas republicanas e pelo
Imperador. O senado já não tinha quase
nenhum poder eis que nem mais repartia a
função judiciária com o imperador. Passa a ser
um mero conselho municipal.
As magistraturas republicanas eram compostas por
cônsules (que davam nome ao ano), pretores
(perderam as funções judiciais), tribunos da plebe,
questor para o Sacro Palácio (assessor do imperador),
Prefeitos para o Pretório (administravam prefeituras e
exerciam funções judiciais), vigários (governavam as
Dioceses) e governadores (governavam as províncias).
Então, as magistraturas não desaparecem, mas
perdem suas atribuições.
2.4.3 Fontes do direito
O imperador, conforme já mencionado, concentrava
em si todos os poderes nesse período. Detinha o
poder absoluto. E, além disso, o monarca invocava “a
vontade divina como fonte de inspiração de sua
autoridade: o que agradou ao príncipe tem força de
lei (“quod principi placuit, legis habet vigorem”). É
a monarquia absoluta.” (CRETELLA JÚNIOR, 2007, p.
46).
Diante dessa centralização de poderes, desaparecem
as antigas fontes, restando as constituições imperiais
como única fonte de direito no período do baixo
império, conforme José Cretella Júnior. Eram
chamadas de leges. Já César Fiúza considera como
fontes desse período, além das constituições
imperiais, “basicamente os costumes, a lei escrita e a
jurisprudência (doutrina).” (FIUZA, 2007, p. 62).
O Corpus Iuris Civilis, por reunir em um só
volume várias compilações de leis de sua
época e de épocas anteriores, é
considerado uma dos maiores heranças
deixadas pela civilização de Roma. Vale
mencionar que essa foi a procedência de
muitos institutos jurídicos do nosso tempo.
BIZANTINO
Chama-se período bizantino a fase
histórica que vai desde a morte de
Justiniano ocorrida em 565 até a tomada
da cidade de Constantinopla pelos turcos,
em 1453. Para alguns autores a civilização
bizantina é considerada continuação da
civilização romana.
2.5.2 Organização política e judiciária
Os poderes ainda estavam concentrados nas
mãos de um imperador. Então, o poder ainda
era centralizado e absolutista. Ocorreu intenso
desenvolvimento comercial, que foi
fundamental para o combate às invasões feitas
por povos bárbaros.
2.5.3 Fontes do direito
Entende-se por Direito Bizantino o “conjunto de regras jurídicas
justinianéias que continuaram em vigor de 565 a 1453, mas adaptadas à
vida dos povos do novo império.” (CRETELLA JÚNIOR, 2007, p. 56).
O Corpus Iuris Civilis, que reuniu em um só volume várias compilações
de leis e doutrina, na época do Reinado do Imperador Justiniano, trazia
muitas normas inflexíveis, adaptadas à época de sua elaboração. Com a
constante evolução das relações privadas, o direito deveria acompanhar.
Por isso, os imperadores ordenaram a edição de outras compilações
oficiais, para que fossem plenamente aplicáveis diante das inéditas
situações jurídicas que vinham surgindo.
Pode-se até afirmar que essas adaptações
perduram até os dias atuais, eis que, “a
perenidade do direito romano é fato
evidente. Sua atualidade não pode ser
negada, pela presença constante em
inúmeros institutos jurídicos de nossa
época” (CRETELLA JÚNIOR, 2007, p. 57).
A atualidade do direito romano é fato evidente
e resta comprovada pela sua presença em
vários institutos jurídicos atuais. É considerado
a mais importante fonte histórica do direito nos
países do ocidente. Sendo assim, inegável que o
nosso direito atual deriva do Romano. Diante
disso, ao estudá-lo, ocorre a análise das origens
do direito vigente.

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