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FUTEBOL FEMININO NA ESCOLA: QUE MUNDO É ESSE?

Sheila Duarte Bandeira Mestrado em Ciências da Atividade Física, Cultura e Sociedade (UNIVERSO) – Instituto Geremário Dantas
Bruno Inocencio Vicente Mestrado em Ciências da Atividade Física, Cultura e Sociedade (UNIVERSO) – Prefeitura Municipal de Duque de Caxias

Após a observação de duas turmas de 9º ano, uma da rede privada e


INTRODUÇÃO outra da rede publica, percebeu-se bastante resistência das meninas em
Grupos antes relegados a uma maior invisibilidade passam a exigir
desenvolver o futebol, lógico que diferente dos meninos, que já desciam para
direitos antes providos a uma determinada parcela da população. Neste
a quadra perguntando aos professores se era futebol.
contexto, podemos destacar o papel da mulher e sua luta pela igualdade de
A professora de Educação Física tinha todo um planejamento bem
condições e acesso ao trabalho, ao lazer, ao voto e a outros contextos que
estruturado acerca da modalidade em destaque e utilizava estratégias para
eram vistos como reservados a população masculina.
contextualizar a história da mulher na sociedade brasileira e a história do
No esporte o panorama não é diferente, principalmente quando falamos
futebol feminino, levando os alunos e alunas à reflexão e ao diálogo sobre
de futebol. Ainda perdura a velha chaga que diz que “futebol é coisa de
padrões que fora incorporado aos homens e as mulheres com o passar dos
homem”, construindo com isso uma barreira quase que intransponível de
tempos e que necessitam ser descontruídos. Estratégias como aula teórica
acesso ao esporte. Porém, podemos notar movimentos de resistências de
com exposição de imagens e textos em Power Point, leitura de textos e
mulheres contra esse paradigma. Podemos perceber a cada dia mais e mais
vários bate papos sobre o papel da mulher e do homem na sociedade, a
mulheres se organizando, colocando a bola em baixo do braço e partindo
igualdade de gênero, práticas adaptadas e o jogo em questão foram
para suas partidas de futebol, tanto em nível de lazer como competitivo, o
desenvolvidas. Mesmo com todo o planejamento traçado e boas práticas, as
que demostra que, diferentemente do que passa pela representação social, o
meninas quando eram lançadas para o jogo propriamente dito, resistiam e
futebol é de todos e, agora também, de todas.
jogavam envergonhadas, (expressão utilizada pela maioria), poucas se
Partindo do exposto em tela, o presente estudo, pretende mapear
envolveram totalmente. Acredita-se que por conta do futebol feminino ter sido
estratégias interventivas nas aulas de educação física escolar em turmas do
uma prática proibida durante anos nesta Instituição extremamente tradicional,
9º ano do ensino fundamental, de duas escolas, uma publica e outra
e que somente agora foi autorizado aos professores e professoras
particular, que busquem desconstruir velhos paradigmas e preconceitos nas
desenvolvê-la, tais meninas já incorporaram padrões de condutas
suas relações entre futebol e mulheres, buscando com isso contribuir com a
estereotipadas e que com muito esforço a professora tenta desmistificá-los.
igualdade e equidade que a mulher vem conquistando com muita luta e suor.
Observando a turma da rede pública de ensino, percebeu-se que o
Futebol era conteúdo daquele bimestre e estava explícito no planejamento,
OBJETIVO contudo, o professor em todas as aulas deixavam as meninas escolherem a
Identificar estratégias interventivas durante as aulas e nos modalidade, que em geral era o queimado. Elas realizavam a atividade no
planejamentos dos professores e professoras de educação física que pátio, enquanto os meninos desenvolviam o futebol na quadra, ou seja, o
levem os alunos a reflexão e dialogo acerca de posturas estereotipadas, professor reforça a tese da quadra ser território masculino, oportunizando que
sobretudo a respeito do futebol. os meninos utilizem os melhores espaços e reforça posturas e padrões
estereotipadas. Também não se percebeu em momento algum diálogos sobre
intenções de estimular a pratica do futebol feminino.
MÉTODO
A escolha da metodologia adotada na pesquisa requer dedicação e CONCLUSÕES
cuidado do pesquisador. Ela é mais do que uma simples descrição de A escola por se um espaço democrático e multicultural deve oportunizar
métodos e técnicas, devendo indicar as conexões com o quadro teórico e a discussão de problemas sociais, o desenvolvimento do pensamento crítico
os objetivos do estudo. Portanto, para dar conta do objetivo proposto foi a formação da identidade pessoal dos alunos, alunas e o reconhecimento dos
utilizado a observação participante e a análise documental. diversos grupos sociais (FRIGOTTO, 1999; MURAD, 2009). Neste contexto,
refletir, criticar e contextualizar temas sociais contemporâneos, entre eles, as
RESULTADOS E DISCUSSÃO questões relacionadas ao futebol e o acesso as mulheres ao esporte é um
dos seus papéis. Porém, após o estudo identificou-se que ainda existe
Quando colocamos em pauta a escola, crianças ingressam na mesma resistência em se praticar o futebol por parte das meninas dentro da escola.
com uma representação sobre o que é para meninos e o que é para Os preconceitos existem de todos os lados, seja das próprias meninas,
meninas. Percebemos isso nas cores ditas específicas para cada sexo, quanto dos professores e professoras, fato preocupante, pois com isso,
assim como na boneca, nos utensílios de casa e cozinha, para as meninas exclusões e desigualdades estão sendo perpetuadas dentro da escola.
e, para os meninos, o carrinho, os bonecos, os super-heróis, as bolas,
REFERÊNCIAS
camisas de times de futebol. (ALTHMANN, 2015; LOURO, 2014).
ALTMANN, H. Educação física escolar: relações de gênero em jogo. São Paulo: Cortez, 2015.
Nas aulas de educação física e no âmbito educacional posturas BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
estereotipadas ainda são reproduzidas. Segundo Louro (2014) mais do que BOURDIEU, P. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
em outros ambientes da escola, nas aulas de educação física, as BOURDIEU, P; PASSERON, J. C. A reprodução Elementos para uma teoria do sistema de
ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.
desigualdades entre meninos e meninas é mais evidente, muito devido ao FRIGOTTO, G. A produtividade da escola improdutiva. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1999.
histórico da disciplina. Ainda segundo a autora, a escola não vê razão para LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 16. ed.
intervir neste processo. Dessa forma, a disciplina vem contribuindo na Petrópolis: Vozes, 2014.
MURAD, M. Sociologia e Educação Física: diálogos, linguagens do corpo, esportes. Rio de
reprodução de representações sexistas presentes em nossa sociedade.
Janeiro: FGV, 2009.

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