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Mobilidade Humana e Transformações na dinâmica psicosociourbana

 
Maria Rita de Cássia Sales Régis
Mestrado profissional Criatividade Aplicada – Universidade de Ciências
da Educação – Espanha . Professora em programas de Pós graduação –
FAESA e formação de Administradores e psicólogos - IESFAVI.
E-mail:profmariarita.s@gmail.com

Maria Cristina Dadalto


Doutora em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), Brasil pesquisadora do CNPq e da FAPES. Professora do
Departamento de Ciências Sociais, e dos Programas de Pós-Graduação
em História e em Ciências Sociais da Ufes.
E-mail: mcdadalto@gmail.com
INTRODUÇÃO
 Discute  os  efeitos  da  implantação  de  grandes  projetos  industriais  no 
município  de Aracruz/ES  –  Brasil  –  entre  as  décadas  de  70  a  90    e 
migração. 
 Projetos  promoveram  acentuada  mobilidade  humana,  provocaram 
expansão  demográfica  desordenada,  intensificação  da  desigualdade 
social  e  marginalização  de  migrantes  por  meio  de  um  discurso 
segregador. 
 Argumento:  migrantes  são  afetados,  sobretudo,  por  uma  política 
pública pouco eficiente.
Aporte Teórico

Perspectiva  de  Castles,  centrando  a  observação  no  estado  do  Espírito 


Santo – localizado na região Sudeste, Brasil –, mais especificamente, no 
município  de  Aracruz.  Para  tanto,  definem-se  os  anos  de  1960-1970, 
como  marco  fundador  do  processo  de  transformação  com  a 
industrialização do Espírito Santo – e por extensão o de Aracruz –, nos 
moldes modernizadores do capitalismo internacional.
• CASTLES, Stephen. Entendendo  a  Migração  Global  -Uma  perspectiva  de 
transformação social - Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XVIII, Nº 35, p. 11-
43, jul./dez. 2010
História - Contexto
No  Espírito  Santo  o  sustentáculo  da  implantação  desse  modelo  de 
desenvolvimento estabeleceu-se entre os anos de 1962 e 1967, a partir 
da  execução  do  plano  de  erradicação  dos  cafezais  pelo  Governo 
Federal. Esse processo modificou os rumos da estrutura econômica do 
Espírito  Santo,  que  se  direcionou  ao  padrão  industrial  internacional 
com a instalação de plantas industriais  – então denominadas “grandes 
projetos industriais” – na região da Grande Vitória.
• Segundo  levantamentos  da  Secretaria  de  Planejamento  do  Governo  do  Estado  do  Espírito  Santo  (1979),  a 
erradicação provocou o êxodo, de uma única vez, de 150 mil pessoas.
Contexto
Espírito  Santo,  com  3.514.952  habitantes  e  uma  área  (km²)  de 
46.095,583,  com  densidade  demográfica  (hab/km²)  de  76,25 
(IBGE,  2010),  atingiu,  em  2013,  a  6ª  posição  do  Produto 
Interno Bruto (PIB) no país. Todavia, com um padrão ordenado 
numa perspectiva que, de acordo com Dupas (2007, p.73), traz 
consigo “exclusão, concentração de renda, subdesenvolvimento 
e  graves  danos  ambientais,  agredindo  e  restringindo  direitos 
humanos fundamentais.” 
Aracruz/ES
Município  localizado  próximo  à  Região  Metropolitana 
da  Grande  Vitória,  correspondente  a  3,15%  da  área  do 
Espírito Santo, detém 81.832 habitantes (IBGE 2010), e 
divide-se em cinco distritos: Sede, Santa Cruz, Riacho, 
Guaraná e Jacupemba. 
  Tabela 1
Evolução da População Residente no município de Aracruz

Ano Habitantes
1960                                                   25.193
                               1970                                                   26.507
                               1980                                                   35.791
                               2000                                                   64.637
                               2010                                                   81.832
 

Fonte: IBGE, 2014


Efeitos
Dos 45 bairros constantes no Censo 2010, destacamos entr os dez     
mais    populosos  os  três  com  maior  percentual  de  moradores  para 
análise: Barra do Riacho, Barra do Sahy e  Coqueiral de Aracruz.
1)  Segregação  sociourbana  que  se  articulou  paralelamente  ao 
desenvolvimento  socioeconômico  e  a  implementação  industrial 
do município; 
2) Expansão urbana – provocada por investimentos empresariais, 
imobiliários  e  pela  ação  de  parte  da  população  migrante, 
localizada em bairros mais periféricos;
3) Quanto ao migrante: mudança na percepção de si, do seu papel 
e do entorno, alterado pela vivência de ser o outro, o estrangeiro, 
ainda que sua prática de vida tenha agregado ao local.
     
Relato da “Hélia” Migrante
O  relato  da  Hélia  (nome  fictício),  moradora  do  bairro, 
apresenta  a  dimensão  dessa  segregação.  Funcionária  do 
Posto  de  Saúde,  ela  chegou  a  Barra  do  Riacho  com  mais 
vinte e duas pessoas da sua família, no início dos anos 70. 
Veio  de  ônibus  de  Itabuna  –  Bahia.  Hoje  reside  na  Rua 
Orquídea.  Disse ela: “fico entristecida, amargurada, pois
mesmo tendo recebido um terreno da prefeitura, não
conseguimos melhorar de vida.  Meu  marido  (soldador), 
cunhado, primos e filhos e outros familiares (todos técnicos 
da  área  de  caldeiraria)  precisam  sair  para  trabalhar  em 
Recife,  Rio  de  Janeiro,  o  que  impossibilita  sobrar 
dinheiro”. 
Relato do “José” Migrante
O  relato  do  José  (nome  fictício),  morador  da  Avenida 
principal,  apresenta  a  dimensão  da  mudança  na  percepção 
do  seu  papel  enquanto  cidadão  migrante.  Proprietário  de 
estabelecimento comercial, chegou em Barra do Riacho em 
uma  Kombi com  uma caixa (sua mudança). Foi morar em 
um antigo terreno com uma meia água. Trabalhou, investiu 
e  hoje  sente-se  parte  da  terra  que  escolheu  para  viver. 
Destaca que “não recebeu ajuda do poder público, mas faz 
parte  da Associação  para  defender  os  direitos  e  interesses 
dos  moradores;  revela  o  orgulho  dos  filhos  terem  terceiro 
grau  e  atuarem  na  FIBRIA.  Hoje  tem  um  patrimônio 
significativo e é respeitado no bairro.
RELATOS E DADOS
O relato da Hélia é amparado pelos dados do IBGE que 
apontam,  por  um  lado,  que  a  população 
economicamente  ativa  entre  25  a  59  anos  em  2010, 
correspondia a 28,93%, enquanto 2,27 % da população 
na  mesma  faixa  etária  encontravam-se  desocupada.   
Naturalmente que, por uma série de circunstâncias, nem 
todos  os  desocupados  são  absorvidos  pelas  indústrias. 
Nessa direção, ao refletirmos concluímos que a taxa de 
desocupação,  somada  à  taxa  da  população 
economicamente ativa, deixa uma lacuna de quase 68% 
da população e questões a serem aclaradas. 
Recurso metodológico analítico

Para  tanto,  nesse  processo  utilizou-se  o  método 


“história  de  vida”  com  20  migrantes,  residentes 
no  município  desde  a  década  de  70,  quando  a 
Aracruz  inicia  suas  atividades,  tendo  fixado 
residência  até  os  dias  atuais.  As  pessoas  foram 
indicadas  pelos  vizinhos,  trabalhadores 
migrantes, por meio da indicação aleatória.
Considerações
O  processo  de  industrialização  em  Aracruz  produziu  efeitos 
que  alteraram  profundamente  a  dinâmica  psicosociourbana, 
resultando muitas vezes em sentimento de não pertencimento, 
exclusão;  na  expansão  demográfica  desordenada, 
intensificação  da  desigualdade  social  e,  por  fim, 
marginalização  de  migrantes,  que  no  campo  mostrou-se 
divergente. 
Neste sentido, observa-se que tanto os moradores nascidos em 
Aracruz quanto os migrantes são afetados pela ineficiência do 
Estado, incompetente na disponibilização de políticas públicas 
capazes de atender às necessidades dos migrantes, produzindo 
desigualdades e insuficiências de toda ordem. 

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