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Introdução – Uma
Nessa tentativa de historicização dos processos que
história da conformaram diversos sujeitos como “impuros”, cuja
loucura ou a nau necessidade era apartá-los da sociedade, Foucault dedica
o primeiro capítulo do livro aos discursos produzidos a
da linguagem em respeito de diferentes males que assolaram o mundo
ocidental desde meados da Idade Média: primeiro a lepra,
desrazão mal físico degenerativo e contagioso, que, com aval do
Estado e da Igreja Católica, levava à exclusão de seus
portadores do convívio social. Seguido a ela, as doenças
venéreas, males que chegavam a causar repugnância aos
próprios leprosos. E, por fim, a loucura, que, ao lado das
doenças venéreas passavam a ocupar, para além da
própria degeneração física, espaço moral de exclusão.
Após período de lactância, de buscas novas de
compreensão sobre o fenômeno, o autor indica ser a
Renascença, ou Idade Clássica, o período no qual os
processos de divisão, exclusão e purificação
configurassem um objeto, de valor simbólico, que
aparece na paisagem imaginária do período: a Nau dos
Insensatos (Stutisfera Navis), “estranho barco que
Introdução – Uma desliza ao longo dos calmos rios da Renânia e dos
canais flamengos”. Ainda que a ideia das antigas naus
história da remetesse à figura onírica dos navegantes heroicos,
loucura ou a nau essa instituição imaginária ganharia forma justamente
como parte dos processos de invenção de um outro
da linguagem em regime de verdade que incidia sobre sujeitos cuja
desrazão instrumentação psíquica escapava aos modelos
vigentes. Ao mesmo tempo objeto do medo da
população sujeitada à norma e de fascínio por parte
dessa mesma população, os loucos, aqui descritos em
sua nau, passam a ocupar dimensão muito particular
dentre os modos de existência do período.
A existência errante dos loucos e a errância dos
veículos culturais de invenção no Brasil: Klaxon (1922-
1923), Revista de Antropofagia (1928-1929), Noigrandes
(1952-1962) e Invenção (1962-1967).