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Colonialismo e

Totalitarismo 10º seminário


Introdução à história da cultura
Adriana Romeiro

Gabriel Augusto, Guilherme Augusto, Isabella Barreto, Luiz Antônio


Hannah Arendt
As origens do totalitarismo
(Arendt, 1951)
Prefácio
 “A convicção de que tudo o que acontece no mundo deve ser
compreensível pode levar-nos a interpretar a história por meio de
lugares-comuns. Compreender não significa negar nos fatos o
chocante e eliminar deles o inaudito, ou, ao explicar fenômenos,
utilizar analogias e generalidades que diminuam o impacto da
realidade e o choque da experiência. Significa, antes de mais
nada, examinar e suportar conscientemente o fardo que o nosso
século colocou sobre nós — sem negar sua existência, nem
vergar humildemente ao seu peso. Compreender significa, em
suma encarar a realidade sem preconceitos e com atenção, e
resistir a ela — qualquer que seja.”

 “Já não podemos nos dar ao luxo de extrair aquilo que foi bom no
passado e simplesmente chamá-lo de nossa herança, deixar de
lado o mau e simplesmente considerá-lo um peso morto, que o
tempo, por si mesmo, relegará ao esquecimento. A corrente
subterrânea da história ocidental veio à luz e usurpou a
dignidade de nossa tradição. Essa é a realidade em que
vivemos. E é por isso que todos os esforços de escapar do horror
do presente, refugiando-se na nostalgia por um passado ainda
eventualmente intacto ou no antecipado oblívio de um futuro
melhor, são vãos.”
Raça e Burocracia

“A raça foi uma tentativa de explicar a existência de seres


humanos que ficavam à margem da compreensão dos
europeus, e cujas formas e feições de tal forma
assustavam e humilhavam o homens brancos, imigrantes
ou conquistadores, que eles não desejavam mais
pertencer à comum espécie humana”
 Fim do século XIX.
 Corrida do ouro sul-africano atraía, primeiramente, o
sub-produto do mundo “civilizado”.
 “...não se haviam retirado voluntariamente da sociedade,
mas sim, tinham sido cuspidos por ela; eram suas
vítimas sem função e sem uso”.
 Simbolismo do contato com o mundo pré-histórico.
 Extermínio de grupos hostis era prática comum nas
guerras entre nativos africanos. Portanto, os
colonizadores naturalizavam o processo de extermínio.
 Bôeres-holandeses. Organizações familiares e
escravização dos africanos.
 Ausência de estrutura política e organizações
comunitárias sofisticadas. Ausência de qualquer
discurso de progresso.
 Baixa produtividade do trabalho escravo impedia o
desenvolvimento.
 Desvinculação da escravidão dos nativos pelos bôeres
e os grandes fluxos de negros tornados escravos na
Europa e suas colônias.
 Discurso da diferenciação racial para ressaltar a
distinção entre os bôeres e os nativos africanos.
 “O racismo como instrumento de domínio foi usado
nessa sociedade de brancos e negros antes que o
imperialismo o explorasse como idéia política”.
 Perda do espaço dos bôeres após o início da corrida do
ouro conduzida pelos colonizadores ingleses e outras
nações européias.
 Importância dos financistas judeus e reação anti-
semitista dos bôeres.
Salto da empreitada
Imperialista
 “A corrida do ouro só se tornou empresa capitalista
completa depois que Cecil Rhodes desapossou os
judeus, transferiu a política de investimentos das mãos
da Inglaterra, para as suas próprias, e se tornou a
principal figura do Cabo”.
 “Rhodes conseguiu que o governo britânico se
interessasse por seus negócios pessoais, persuadiu-o
de que a expansão e a exportação dos instrumentos de
violência eram necessárias para proteger os
investimentos e de que tal política era um dever
sagrado de qualquer governo nacional”.
 Diferença das colonizações da Austrália, Nova Zelândia
e Canadá: desestímulo a qualquer empreendimento
industrial legítimo
Lições do imperialismo na África
para o mundo europeu ocidental
 Vínculo com o nazismo:
“As possessões coloniais africanas tornaram-se o solo
mais fértil para que florescesse o grupo que viria a ser
mais tarde a elite nazista. Viram ali como era possível
transformar povos em raças e como, pelo simples fato de
tomarem a iniciativa desse processo, podiam elevar o seu
próprio povo à posição de raça dominante”.
Segunda fase imperialista:
Argélia, Índia e Egito
 Transformação do acaso em ato consciente
 Interpretações da história para explicar o acaso: lendas
históricas e interpretação cristã.
 Posterior perda de monopólio da religião na explicação
do mundo, dá margem para novas teorias. Século XIX
como ponto de inflexão.
 Rudyard Kipling - O Império Britânico
 “Fardo do homem branco” e “matadores de dragões”.
Senso de dever e de sacrifício.
 Lord Cromer:Cônsul Geral Britânico no Egito(1883 a
1907)
 Burocrata: figura de contraponto a Cecil Rhodes.
 Semelhança:a expansão imperialista é vista não como
um fim, mas como um meio de alcançar
pretensamente mais elevados.
 “Alheiamanento” como motor do processo.Confere
mais sofisticação e complexidade ao processo, e o
torna mais perigoso.
 Ausência da vaidade pessoal e do ímpeto
individualista
Eichmann em Jerusalem
(Arendt, 1963)
O tema do mal em Arendt
 Mal radical -> Kant.
 Mal banal (superficial) -> Arendt.
- Superficialidade.
- Superfluidade.
 Será que a natureza da atividade de pensar, o hábito de
examinar, refletir sobre qualquer acontecimento, poderia
condicionar as pessoas a não fazer o mal? Estará entre
os atributos da atividade do pensar, em sua natureza
intrínseca, a possibilidade de evitar que se faça o mal?
Ou será que podemos detectar uma das expressões do
mal, qual seja, o mal banal como fruto do não exercício
do pensar?”
Hannah Arendt
“O problema de Eichmann era exatamente que muitos
eram como ele, e muitos não eram nem pervertidos, nem
sádicos, mas eram e ainda são terrível e
assustadoramente normais” (Arendt, 1999, p. 299).
O Coração das
Trevas
Joseph Conrad, 1902
“Eu já testemunhei o diabo da
violência e o diabo da ganância,
além do diabo do desejo ardente,
mas, por todas as estrelas do céu,
aqueles eram demônios de olhos
vermelhos, fortes e robustos que
governam e conduzem os
homens... Mas homens, isso
posso lhes dizer. Mas de pé, ali
naquela ribanceira, eu antevi que,
sob a luz ofuscante do sol naquela
terra, eu conheceria um demônio
flácido, dissimulado, de olhos
débeis de uma estupidez
opressora e cruel”.
O autor
 Publicado em 1902.
 Experiência pessoal de Joseph
Conrad como inspiração: capitão de
um barco a vapor no Rio Congo em
1890, trabalhando para uma
companhia belga.

Contexto Histórico
 Política e Economia: Neocolonialismo e Expansão
Global do Capitalismo.
 Internacionalização e financeirização do capital.
 Hegemonia inglesa.
O Livro
 Charles Marlow: Narrador Personagem. Narrativa
dentro da Narrativa.
 Aventura: atração pelo desconhecido.
 O mundo selvagem versus o mundo civilizado.
 Pessimismo, ceticismo.
 Contestação do heroísmo da empreitada imperialista e
destaque para a ambição financeira.
 Contrapartida: O fascínio e a persuasão do
personagem Kurtz.
A crítica ao livro

 Estratégia narrativa: o real X o imaginário.


 Subjetividade X objetividade.
 Refutação ou justificação do imperialismo?
 Eurocentrismo na caracterização do povo africano: A
África sem voz (Chinua Achebe).
 Retrato da África como ambiente selvagem, em
contraposição à civilização ocidental.
Caracterização animalesca
dos africanos

“Eles estavam morrendo lentamente –isso era bem claro.


Eles não eram inimigos, eles não eram criminosos, eles
não eram nada mais na terra, além de sombras negras de
doença e fome, lançados de maneira confusa dentro de
trevas esverdeadas... Essas formas moribundas eram
livres como o ar e, tão transparentes como ele”.
 A distinção entre os povos africanos e o mundo
ocidental serve ao propósito de deslegitimaçao da
cultura dos colonizados e justificação do massacre, da
exploração de terras e da escravidão.
Hannah Arendt

“O que os fazia diferente dos outros seres humanos não


era absolutamente a cor da pele, mas o fato de se
portarem como se fossem parte da natureza; tratavam-na
como sua senhora inconteste; não haviam criado um
mundo de domínio humano, uma realidade humana e,
portanto, a natureza havia permanecido, em toda a sua
majestade, como a única realidade esmagadora, diante do
qual os homens pareciam meros fantasmas, irreais e
espectrais. Pareciam tão amalgamados com a natureza,
que careciam de caráter especificamente humano, de
realidade especificamente humana, de sorte que, quando
os europeus os massacravam, de certa forma não sentiam
que estivesse cometendo um crime contra os homens”.
“O lugar das trevas: Leituras e
releituras de O Coração das Trevas em
tempos de pós-modernismo”

 Artigo escrito por Raquel Gryszczenko que apresenta


discussões sobre interpretações mais usuais de O
Coração das Trevas.

 Análises de Chinua
Achebe e de Edward W.
Said são utilizadas para
explorar a ambiguidade
do caráter da obra.
“Uma imagem da Africa: Racismo
em O Coração das Trevas”
 Análise feita em 1977 por Chinua Achebe, nigeriano
ganhador de prêmio Nobel de literatura.
 Considera o livro de Conrad como sendo um romance racista.
Ele diz que a obra trata os africanos como selvagens, sem
idioma e sem cultura, completamente oposto aos Europeus.
 Também era considerada uma obra Imperialista, na qual
haveria dicotomia entre a África e a Europa. Esta seria o
centro da civilização, enquanto aquela apareceria como um
território selvagem, necessitando assim da intervenção dos
Europeus para seu desenvolvimento. Para ele, a narrativa
seria fundamentalmente eurocêntrica e não se preocuparia
com o território e o povo africano, ambos seriam apenas
“panos de fundo” para o desenvolvimento das concepções
europeias.
 Achebe assume que tem consciência de que quem conta a
história não é o Conrad, e sim o personagem fictício Marlow,
o que poderia inocentar o escritor polonês da acusação de
compactuar com a mentalidade colonial.
 Segundo Achebe, o autor dificilmente dá voz aos africanos
em seu romance, e, quando isso ocorre, o africano é incapaz
de articular frases corretas, mostrando sempre uma
incapacidade de dialogar com um idioma europeu. Um
exemplo é a passagem do romance em que, navegando pelo
rio Congo, a embarcação de Marlow é preenchida pelo som
de dissonâncias selvagens, como segue o trecho:

“Vários deles trocaram frases curtas, grunhidas, que pareceram


resolver o caso de maneira satisfatória. Seu capataz, um negro
jovem e troncudo trajando com apuro uma roupa azul escuro
franjada, com narinas agressivas e o cabelo habilmente
penteado com aneizinhos untados, estava ao meu lado. “Ola!”,
eu disse, para ser gentil. “Pegue eli”, vociferou, arregalando os
olhos injetados e fazendo relampear os dentes aguçados,
“pegue eli. Dê eli pra nóis.”. “Pra vocês, é?”, perguntei, “o que
fariam com eles?”. “Come eli!”, falou secamente, e, apoiando o
cotovelo no parapeito ficou olhando para a cerração com atitude
nobre e profundamente pensativa.”
“Cultura e Imperialismo”
 Análise feita por Edward W. Said, intelectual palestino que
enxerga a obra de Conrad como uma tentativa de denuncia
das ações imperialistas, todavia, percebe limitações nesse
objetivo.
 Said diz que Conrad usa de europeus, como Kurtz e Marlow,
como “porta-voz” do povo africano sendo através deles que
vamos perceber toda a violência e exploração. Nesses
personagens vemos o reflexo do sofrimento do povo
africano. Reflexo que faz com que Kurtz em meio a sua
loucura perceba “O horror!” que ele diz a beira da morte.
 A limitação do objetivo da obra por Said é que esta não
apresenta uma possível alternativa para a liberdade dos
povos nativos. Como uma obra de sua própria época, o
autor, apesar de reivindicar o que fora tomado pelo
imperialismo, não consegue concluir que seu fim é
necessário para que os nativos tenham sua própria vida,
livres da dominação imperial.
Representação do Mal no
cinema
 1º parte: Cinema como reflexo e estopim.

 Cobertura de atentado contra Ronald Reagan em 1981.


Fotografia por Sebastião Salgado.
 2º parte: Os gêneros e a moral.

 Plano de A Bela e a Fera, de 1991.


 Cartaz do filme Paixões em Fúria, de 1948.
 3º parte: Cinema e propaganda política.

 Fotografia de Margaret Bourke-White, durante um


período de enchentes de Louisville, EUA, em 1937.
 Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda no Terceiro
Reich.
 4º parte: Consumidores de mal?
O Filme
 Contexto histórico: Contracultura e pós-modernidade.
 Nova Hollywood.
 O Mal estar no cinema americano dos anos 70:
descrença política, crise econômica, degradação moral,
hostilidade social.
 Frustração pelo não atendimento das reivindicações das
minorias dos anos 60.
 Principais filmes: Taxi Driver, Rede de Intrigas,
Nashville, Nascido para Matar.
Apocalipse Now

 Ruptura com o modelo clássico


de aventura heroica.
 Discurso anti-guerra: descrença
da justificação da Guerra do
Vietnã e peso psicológico da
guerra.
 Crise do patriarcado, negação
do ideal do heroísmo da guerra
e do patriotismo norte
americano.
O Senhor Kurtz

 Marlon Brando.
 Paradoxo: destruição da
imagem de galã e reforço da
aura mítica do ator.
 Francis Ford Copolla.
 Problemas na produção,
crise pessoal e esgotamento
da Nova Hollywood.
Diálogo entre “Coração nas
Trevas” e “Apocalipse Now”
 Transposição do cenário de neocolonialismo no
continente africano para o Guerra do Vietnã.
 Externalização do mal (Coração nas Trevas) dá lugar à
Internalização do Mal (Apocalipse Now).
O mal exposto: Ascensão do
Nazismo
 M., O Vampiro de Dusseldorf (1931).
 Criação de um inimigo comum.
 Discurso de superioridade racial.
 Discurso de progresso em uma sociedade
desesperançosa.
 Expurgação da culpa social, com a demonização da
figura de Hitler.
O Bem X O Mal na
sociedade pós-moderna
 Construção dos ideais de bem e de mal e mecanismos
de legitimação:
- Racional
- Ética
- Religiosa
- Política
Contexto Pós-Moderno
 Desconfiança da política.
 Descrença nas instituições.
 Perda de espaço das teorias positivistas e
evolucionistas. Limitação do alcance das teorias
científicas.
 Exacerbação do individualismo.
 Formação de grupos. Reforço das hostilidades sociais.
Exemplos: linchamentos, xenofobia.
Provocações

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