José Machado Carregosa OBJETIVOS DA AULA 1) Conhecer as operações de arrendamento mercantil ou leasing imobiliário;
2) Compreender as demais formas de
financiamento imobiliário e seus aspectos jurídicos. O segmento e definição de Leasing De acordo com o art. 1º da Lei no. 7.132/83 é considerado arrendamento mercantil, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta. O segmento e definição de Leasing O leasing ou arrendamento mercantil é uma operação em que a arrendadora de um bem móvel ou imóvel transfere ao arrendatário o uso desse bem por prazo determinado, recebendo em troca uma contraprestação. Esta operação se parece com um financiamento que utilize o bem móvel ou imóvel como garantia e que pode ser pago em prestações, apresentando um valor residual referente à opção de compra no final do contrato. Deve ser ressaltado que a arrendadora deverá ser pessoa jurídica e a arrendatária poderá ser pessoa física ou jurídica. O segmento e definição de Leasing Segundo o art. 5º da Lei no. 6.099/74 os contratos de arrendamento mercantil conterão as seguintes disposições: a) prazo do contrato; b) valor de cada contraprestação por períodos determinados, não superiores a um semestre; c) opção de compra ou renovação de contrato, como faculdade do arrendatário; d) preço para opção de compra ou critério para sua fixação, quando for estipulada esta cláusula. O segmento e definição de Leasing Portanto, ao final do contrato de arrendamento, o arrendatário tem as seguintes alternativas, ou seja, comprar o bem por valor previamente contratado; renovar o contrato tendo como principal o valor residual; ou efetuar a devolução do bem a arrendadora. No primeiro caso, é assegurado ao arrendatário adquirir o bem pelo valor residual, que será o previamente estabelecido no contrato ou o de mercado. Para ser exercido esse direito, o arrendatário deverá ter cumprido corretamente as obrigações contratuais. O segmento e definição de Leasing O contrato de leasing tem prazo mínimo determinado na legislação. O art. 8º da Resolução no. 2.309/96 estabelece como prazo mínimo de arrendamento dois anos para bens com vida útil de até cinco anos e de três anos para os outros bens. O segmento e definição de Leasing Em face disso, não é possível a liquidação do arrendamento mercantil antes do prazo determinado. O direito à opção de compra do bem só é obtido ao final do prazo contratual. Assim, não é aplicável ao contrato de arrendamento mercantil a opção de o cliente liquidar a dívida e adquirir o bem antecipadamente. O segmento e definição de Leasing Por sua vez, é permitida, desde que esteja expressa no contrato, a transferência dos direitos e obrigações a terceiros, com a concordância da empresa arrendadora. A Portaria do Ministério da Fazenda n.º 564/78 define Custo de Aquisição e VRG (Valor Residual Garantido) na apuração de resultados, para efeito de tributação, de operações de arrendamento mercantil. Leasing e alternativas (aluguel e financiamento) O leasing apresenta características próprias que o diferenciam do aluguel e do financiamento. No caso do leasing, o valor do bem arrendado vai sendo gradativamente amortizado durante o pagamento das contraprestações, tendo a arrendatária, ao final do contrato, a opção de adquirir definitivamente o bem arrendado. Existem vantagens tributárias aplicadas de forma específica nas operações de Leasing. Leasing e alternativas (aluguel e financiamento) No caso do aluguel não existe o valor residual durante a vigência do contrato. No leasing, o arrendatário tem a opção de aquisição do bem ao final do contrato. O locatário ao alugar o imóvel tem a posse do bem, entretanto, não poderá ser o proprietário do imóvel em nenhum momento do contrato de locação. Leasing e alternativas (aluguel e financiamento) Por outro lado, no financiamento o comprador do bem recebe os recursos para sua aquisição. No arrendamento mercantil, durante a vigência do contrato, o bem continua sendo propriedade da empresa arrendadora. A propriedade no caso do financiamento apresenta um tratamento diferenciado em relação ao arrendamento mercantil. O bem em questão poderá ser ou não garantia para o pagamento do financiamento. Leasing e alternativas (aluguel e financiamento) Para efeitos contábeis, a compra à vista ou financiada gera benefícios à empresa por meio da depreciação, o que é uma despesa dedutível da base de cálculo do Imposto de Renda a pagar. O leasing gera benefícios à empresa arrendatária da dedutibilidade das contraprestações pagas da base de cálculo do Imposto de Renda a pagar, assim como a imobilização do valor residual. Leasing ou arrendamento mercantil imobiliário Apesar de pouco praticado no Brasil em comparação ao financiamento, o leasing imobiliário é uma modalidade que deverá apresentar crescimento expressivo nos próximos anos/décadas. A entrada de pessoas jurídicas adquirindo imóveis para realizar seus empreendimentos ou como investimentos, deverá estimular cada vez mais as operações de leasing imobiliário. Leasing ou arrendamento mercantil imobiliário O art. 11 da Resolução do Banco Central do Brasil no. 2.309/96 determina como objeto de arrendamento, bens móveis, de produção nacional ou estrangeira, e bens imóveis adquiridos pela entidade arrendadora para fins de uso próprio da arrendatária, segundo as especificações desta. Leasing ou arrendamento mercantil imobiliário A legislação concede um grande espaço para aplicação do arrendamento mercantil nas operações imobiliárias. No momento em que a carreira do Corretor de Imóveis se diversifica e sua atuação como consultor/assessor imobiliário se intensifica, as oportunidades se apresentam nesse novo mercado de financiamento de imóveis. O conhecimento de seu funcionamento será importante para o crescimento profissional do Corretor de Imóveis no segmento imobiliário. Leasing ou arrendamento mercantil imobiliário O art. 19 da Resolução no. 2.309/96 estabelece que as sociedades de arrendamento mercantil podem empregar em suas atividades, além de recursos próprios, os provenientes de: I - empréstimos contraídos no exterior; II - empréstimos e financiamentos de instituições financeiras nacionais, inclusive de repasses de recursos externos; [...] VII - outras formas de captação de recursos, autorizadas pelo Banco Central do Brasil. Leasing ou arrendamento mercantil imobiliário Portanto, as fontes de financiamento são as mais variadas possíveis, especialmente quanto aos repasses de recursos externos, o que poderá facilitar a transação imobiliária de multinacionais instaladas no país com acesso ao mercado internacional de crédito. As vantagens fiscais e operacionais tornam muito atrativo esse mercado de financiamento de imóveis. Características do “lease back” imobiliário O “lease back” imobiliário tem sido empregado com freqüência pelas empresas como forma de se capitalizar ser ter que sair do imóvel ocupado. Nesse caso, a empresa é proprietária de um imóvel que será negociado com uma sociedade de arrendamento mercantil, e, de forma simultânea, a empresa fará uma operação de leasing com este mesmo agente. Características do “lease back” imobiliário Com isso, a empresa ficará com a posse do imóvel deixando de ser proprietária do bem que será transferida a sociedade de arrendamento mercantil. No entanto, a empresa poderá obter recursos financeiros a um custo mais reduzido e maiores vantagens de natureza fiscal. Características do “lease back” imobiliário Ao final do contrato poderá obter de volta o imóvel exercendo seu direito de opção de compra. Isso evita o desgaste que teria para renegociar o contrato de aluguel em caso de decidir pela locação do imóvel. Companhias transferem, por exemplo, plataformas de petróleo para empresas de arrendamento mercantil, que depois fazem uma operação de leasing com essa mesma empresa. O leasing imobiliário e as organizações O sistema de arrendamento mercantil permite maior flexibilidade na gestão financeira e patrimonial das empresas. O prazo alongado de pagamento das prestações do arrendamento mercantil facilita a administração do fluxo de caixa da companhia. Além disso, as vantagens fiscais advindas dessa modalidade de operação financeira resultam em ganho adicional para a arrendatária. O leasing imobiliário e as organizações No entanto, a companhia não poderá utilizar o bem como garantia em outros financiamentos. Por sua vez, como o leasing não pode ser interrompido no decorrer do contrato, a empresa perde em flexibilidade no caso de necessidade de desfazimento do imóvel antes do final do contrato. A impossibilidade de quitação da dívida antecipada pode resultar em conflitos com a sociedade de arrendamento mercantil. O leasing imobiliário e as organizações Existe, por fim, alguma dificuldade de registro do leasing imobiliário nos cartórios competentes. A Lei no. 6015/73 que disciplina os registros públicos não faz menção específica ao registro do arrendamento mercantil. Entretanto, no art. 127 da referida lei, estabelece que no Registro de Títulos e Documentos poderá ser feita a transcrição facultativa, de quaisquer documentos, para sua conservação. Caberá ao Registro de Títulos e Documentos a realização de quaisquer registros não atribuídos expressamente a outro ofício. O financiamento imobiliário O objetivo da casa própria é uma aspiração de uma parte significativa da população brasileira. O bem imóvel apresenta um valor elevado o que torna o pagamento à vista restrito a uma parcela muito reduzida da população. A opção pelo financiamento é inevitável para a maioria das pessoas que procuram adquirir um bem imóvel. O financiamento imobiliário Nos países com grau de desenvolvimento elevado existe financiamento para o imóvel com prazo bem dilatado. A disponibilidade de recursos de longo prazo permite o repasse para o mercado imobiliário com taxas atrativas para o tomador do empréstimo. As taxas de juros baixas existentes nos Estados Unidos/Europa possibilitam ao mutuário estender o financiamento imobiliário para além de duas décadas sem haver um comprometimento sério de sua renda. O financiamento imobiliário No entanto, a crise do setor imobiliário norte- americano de 2008 foi resultado da elevada insolvência verificada no setor. A facilidade na obtenção de financiamento com a própria garantia do bem não sobreviveu a uma baixa significativa dos preços dos imóveis. No Brasil, o volume de financiamento imobiliário em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) ainda não é comparável ao observado na economia norte-americana. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) O financiamento imobiliário consiste na forma mais empregada para retirada do FGTS do trabalhador que ainda não se aposentou. Além disso, o FGTS corresponde a uma poupança compulsória do trabalhador acumulada durante seu período de trabalho na empresa regida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O fato de apresentar uma baixa remuneração em relação às demais taxas de juros praticadas no mercado financeiro torna possível sua utilização para a compra do imóvel O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) Para utilizar os recursos da conta vinculada do FGTS na aquisição de moradia própria o proponente deve atender aos seguintes pré- requisitos (Fonte FGTS): a) contar com o mínimo de três anos, considerando todos os períodos de trabalho, sob regime do FGTS; b) não ser titular de financiamento imobiliário ativo, concedido no âmbito do SFH, em qualquer parte do Território Nacional; O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) c) não ser proprietário, promitente comprador, cessionário ou usufrutuário de imóvel residencial concluído ou em construção localizado: ● no município onde exerce sua ocupação principal; ● na região metropolitana na qual se situe o município onde exerce sua ocupação principal; O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ● nos municípios limítrofes daquele onde exerce sua ocupação principal;
● no atual município de residência;
● no município onde pretende adquirir com o
uso do FGTS. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) O montante do saldo disponível do FGTS nas contas vinculadas do trabalhador para aquisição da moradia, acrescido da parcela financiada, quando houver, não deve exceder ao menor dos seguintes valores (Fonte FGTS):
a) Limite máximo do valor de avaliação do imóvel
estabelecido para as operações no SFH; ou b) Da avaliação feita pelo agente financeiro; ou c) De compra e venda. O Mútuo O art. 586 do Código Civil brasileiro define o mútuo como o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. A devolução deverá ser em dinheiro no caso de empréstimo financeiro. O Mútuo A obtenção de empréstimo junto às instituições financeiras é uma alternativa de captação de recursos para a aquisição do imóvel. Os recursos serão destinados para a compra do imóvel mediante contrato de mútuo. O mútuo pode ser também empregado como forma de prover recursos para financiar a construção do imóvel. O Mútuo Conforme o art. 590 do Código Civil brasileiro o mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do vencimento o mutuário sofrer notória mudança em sua situação econômica. Portanto, em caso de possibilidade de insolvência por parte do mutuário, o mutuante pode exigir garantias adicionais para evitar perdas na operação de mútuo. A Alienação Fiduciária O art. 22 da Lei no. 9.514/97 diz que a alienação fiduciária regulada por esta Lei é o negócio jurídico pelo qual o devedor, ou fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência ao credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel. A Alienação Fiduciária Por outro lado, o art. 23 da Lei no. 9.514/97 determina que a constituição da propriedade fiduciária de coisa imóvel se dá mediante registro no competente Registro de Imóveis, do contrato que lhe serve de título. Com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o desdobramento da posse, tornando-se o fiduciante possuidor direto e o fiduciário possuidor indireto da coisa imóvel. A Alienação Fiduciária A lei que dispõe sobre o Sistema de Financiamento Imobiliário - SFI instituiu a alienação fiduciária de coisa imóvel, permitindo agilidade ao empréstimo com as devidas garantias reais. A alienação fiduciária, tratada na aula anterior, tem uma relevância para a realização dos financiamentos imobiliários. A Alienação Fiduciária O Corretor de Imóveis deve orientar seu cliente sobre as vantagens do processo de alienação fiduciária como alternativa para a venda do imóvel e os procedimentos a serem adotados para a sua implantação. Como somente uma parcela reduzida dos adquirentes de imóveis tem condições de realizar o pagamento à vista, o Corretor de Imóveis deve conhecer as diversas possibilidades de financiamento e como garantir a operação financeira. A Alienação Fiduciária Mais adiante, o art. 24 da Lei no. 9.514/97 estabelece que o contrato que serve de título ao negócio fiduciário conterá o valor do principal da dívida; o prazo e as condições de reposição do empréstimo ou do crédito do fiduciário; a taxa de juros e os encargos incidentes; a cláusula de constituição da propriedade fiduciária, com a descrição do imóvel objeto da alienação fiduciária e a indicação do título e modo de aquisição; [...] A Alienação Fiduciária Com o pagamento dos débitos e encargos é finalizada a propriedade fiduciária do imóvel. No entanto, o fiduciário deverá entregar o termo de quitação ao fiduciante para o devido registro do cancelamento da propriedade fiduciária no cartório competente. O documento deve ser gerado pelo credor que deverá atestar a ausência de dívidas relativas ao contrato. A Alienação Fiduciária Ao longo do contrato de alienação fiduciária existem direitos e obrigações para as partes envolvidas. Assim como o direito de receber o documento de quitação de débitos ao final do contrato, o fiduciante poderá realizar as melhorias no imóvel sem a necessidade de anuência por parte do fiduciário. A Alienação Fiduciária Entretanto, o fiduciante deverá arcar com todos os impostos e encargos condominiais para a manutenção do imóvel. O fiduciário poderá também requerer a reintegração de posse e promover a cobrança judicial em caso de inadimplência de parte ou da totalidade do débito. Aspectos gerais sobre o financiamento imobiliário O Corretor de Imóveis deverá atentar ao fato de que o financiamento imobiliário está sujeito aos preceitos legais do Código de Defesa do Consumidor. A instituição financeira deverá fornecer todas as informações necessárias para a realização do contrato de financiamento, de forma clara e transparente, sem prejudicar qualquer das partes contratantes. Cláusulas abusivas poderão ser questionadas posteriormente causando insatisfação ao tomador do financiamento. Aspectos gerais sobre o financiamento imobiliário O papel de consultor/assessor imobiliário deve ser exercido com presteza pelo Corretor de Imóveis. A complexidade do sistema financeiro exige do profissional um conhecimento mínimo para que possa orientar seu cliente sobre as alternativas disponíveis e os riscos do financiamento. Aspectos gerais sobre o financiamento imobiliário O uso do FGTS para financiar um imóvel nem sempre é um processo simples e rápido. O cliente deve ser orientado sobre esses riscos que podem atrasar a liberação dos recursos. O mesmo ocorre com o financiamento bancário que requer o registro da hipoteca antes da liberação dos recursos. O Corretor de Imóveis deve ser transparente quanto às informações, transmitindo segurança ao cliente quando do desempenho de suas atividades profissionais.