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Estatuto do conhecimento
científico
2.1. Conhecimento vulgar e
conhecimento científico
2. A Filosofia na cidade
2.1.1. A reflexão filosófica sobre a
ciência
CIÊNCIA TÉCNICA E TECNOLOGIA
•O que é a ciência?
•O que distingue uma boa teoria científica de uma má teoria? Algumas questões
•Qual deve ser o método a adotar em ciência? epistemológicas
•Como progride a ciência?
•Será que o conhecimento científico é objetivo?
•O contexto cultural e social tem alguma influência sobre a atividade científica?
2.1.2. A especificidade do conhecimento
científico – distinção entre senso
comum e conhecimento científico
Realidade
Senso comum
ou Conhecimento
conhecimento científico
vulgar
SENSO COMUM
(CONHECIMENTO VULGAR)
Resulta de uma leitura dos fenómenos diferente da do conhecimento vulgar e de uma atitude
diferente face ao real
Procura descrever, explicar e prever os fenómenos e as suas relações, apontando as leis que
presidem a tais fenómenos.
Conhecimento vulgar Conhecimento científico
Resulta de um método Tal método apoia-se, no caso das ciências empíricas, na verificação e no controlo
específico. experimentais.
Resulta da formulação de
Elas procuram ordenar a diversidade empírica.
hipóteses.
É constituído por um As teorias são hipóteses já estabelecidas e comprovadas.
conjunto de teorias.
Procura leis. As leis exprimem a invariância e a repetibilidade dos factos; muitas vezes, este conhecimento
exprime os factos em termos estatísticos ou probabilísticos.
É provisório. Mantém-se como aceitável até surgir outra teoria mais eficaz e mais próxima da
verdade.
•biologia •sociologia
•química •psicologia
•lógica
•física •história
•matemática
•astronomia •economia
•… •…
Formulação de
Observação Experimentação Lei
hipóteses
Operações fundamentais do método indutivo
Enunciados do indutivismo
Princípio da Princípio de
Princípio da indução
acumulação confirmação
O conhecimento
Articula a plausibilidade
científico é o resultado
Há uma forma de, a das leis com o número
de factos bem
partir da acumulação de de instâncias a que o
estabelecidos, a que
factos singulares, inferir fenómeno a que se
progressivamente se
enunciados universais. refere a lei foi
acrescentaram outros
submetido.
sem alteração daqueles.
2.2.2. O critério da verificabilidade
Verificação da hipótese
Problema da indução
Se todos e cada um dos corvos observados até ao momento Alguns filósofos neopositivistas
forem negros, o enunciado «Todos os corvos são negros» traduz afirmam, porém, que basta que os
uma proposição verdadeira. Assim, o enunciado confirma-se, o enunciados sejam empiricamente
que é suficiente para que seja reconhecido como científico.. confirmáveis.
2.2.3. Críticas ao indutivismo
Críticas ao indutivismo
Problema da indução
(levantado por David Hume)
princípio de uniformidade
Decorre do hábito.
Exemplo
Não é possível justificar, com rigor, aquilo que é proposto numa teoria ou lei científica que decorra
da generalização indutiva. O rigor e a verdade do conhecimento científico ficam comprometidos.
David Hume
Karl Popper
Mostra que o
Propõe outro método Propõe outro critério
problema da indução
– conjeturas e de cientificidade –
não tem o peso que
refutações. falsificabilidade.
Hume lhe atribui.
2.2.4. A conceção de ciência de Popper
– o método conjetural
Karl Popper
Rejeita o critério da
Considera que a especificidade verificabilidade e da confirmação
metodológica da ciência não das hipóteses e teorias científicas
pode assentar na indução. tal como proposto pelo
positivismo lógico.
Hipótese Testes
Problema
(conjetura)) (refutação)
Etapas do método hipotético-dedutivo (ou conjetural)
1 – Formulação da Hipótese
hipótese ou conjetura
Exemplo:
Experiências realizadas com
Agora será necessário descobrir se as previsões que
ratinhos revelam que, nos grupos o cientista fez estão ou não corretas: a hipótese será
em que a hormona X foi testada, confrontada com a experiência. Os
administrada em doses resultados podem, então, mostrar o “sucesso” ou o
sucessivamente superiores, os fracasso da conjetura proposta.
ratinhos apresentaram um
crescimento mais ou menos lento • Se for validada pela experiência, a hipótese é
e pouco significativo, mesmo
quando bem alimentados; já nos
considerada como credível e passará a ser
grupos de ratinhos que não reconhecida na comunidade científica – teoria
sofreram essa administração, o corroborada.
seu crescimento foi normal. Este
resultado validou a hipótese. • Se não for validada, teremos de a abandonar
Caso não tivesse validado a ou de a reformular – teoria refutada.
hipótese, teríamos de a
reformular ou apresentar uma
nova hipótese.
Validade das hipóteses ou conjeturas
Critério da
falsificabilidade
Uma hipótese é
científica se, e só se, for
falsificável.
Confrontação da hipótese com a experiência
Se se encontrar
um cisne de Uma teoria científica é válida enquanto for resistindo à A atitude do
outra cor, tentativa de a falsificar empiricamente e é tanto mais cientista deve ser
teremos de forte quanto mais resistir. a de procurar
abandonar e/ou cisnes de outra
reformular o O enunciado «Todos os cisnes são brancos» é científico, cor (para
enunciado: este porque é empiricamente falsificável – para o falsificar, falsificar) e não a
não resistiu à basta encontrar um cisne de outra cor. de procurar
falsificação e foi, cisnes brancos
efetivamente, (para confirmar).
falsificado.
Enunciados
Considerando a história da
O processo de refutação ou
ciência, não parece que ela
falsificação não é o
possa evoluir por um
procedimento mais comum
processo assente nas
entre os cientistas.
refutações.
Geralmente, os cientistas
procuram confirmar aquilo que as Copérnico, Galileu ou Newton, por
teorias científicas propõem e, exemplo, não abandonaram as
mesmo que dada observação suas teorias na presença de
implique a rejeição de uma factos que aparentemente as
previsão, isso não os demove de poderiam falsificar.
investigar no mesmo sentido.
2.3. A racionalidade científica e a
questão da objetividade
2. A Filosofia na cidade
História da ciência
•O facto de quase todas as teorias da história da ciência terem sido substituídas constituirá um indício de
que as que atualmente vigoram serão também um dia dadas como falsas ou inadequadas?
•Como podemos estar certos de que a ciência nos oferece um conjunto de conhecimentos verdadeiros?
•Para onde nos leva o conhecimento científico?
•Como podemos ter a certeza de que a ciência evolui no sentido da verdade?
O critério da
falsificabilidade pressupõe Nenhuma teoria, mesmo
que a todo o momento as aquela que é corroborada,
teorias possam ser é completamente definitiva
refutadas.. e verdadeira.
A ciência avança por meio de tentativas e erros:
Parte de problemas. P1
A construção de teorias
A produção científicas está sempre
Ao contrário da tradição
científica dependente de um
positivista, Kuhn não vê o
depende de conjunto de factos, de
cientista como um sujeito
um crenças e conhecimentos,
neutro ou isolado, mas
paradigma regras, técnicas e valores
sim condicionado e
científico. compartilhados e aceites
contextualizado.
pela maioria dos
cientistas.
Revolução
Fase de mudança e aceitação de um novo paradigma pela comunidade científica.
científica
Paradigma: conjunto de crenças, regras, técnicas e valores compartilhados e aceites por uma
Novo
comunidade científica e que orientam a sua atividade. Corresponde a um modo de fazer
paradigma
ciência, de perceber, abordar e resolver problemas, que se institui no seio dessa comunidade.
Dois momentos fundamentais de
progresso no interior da ciência
Kuhn exemplifica com as imagens da psicologia da forma (Gestalt): estas imagens ilustram a
inesperada e total mutação de formas que ocorre de um paradigma para outro.
Três conceções de espaço que suportam três geometrias diferentes: todas podem ser
verdadeiras, pois funcionam em paradigmas distintos (a de Euclides é a que está subjacente
à física newtoniana; a de Riemann está subjacente à física einsteiniana).
Interpretação diferente do
progresso da ciência
O progresso científico não pode ser entendido como um processo contínuo e cumulativo de
teorias ou paradigmas cada vez melhores em direção a uma meta ou fim.
Se não podemos afirmar que um paradigma é melhor que o antecessor, também não podemos
afirmar que, ao ocorrer uma mudança de paradigma, há uma evolução da ciência para melhor:
não podemos dizer que o novo paradigma descreve melhor a realidade que o antecessor.
Na obra A Tensão Essencial, Kuhn define os critérios a partir dos quais, regra geral,
os cientistas escolhem determinadas teorias e abandonam outras.
A escolha entre teorias rivais obedece a critérios objetivos e subjetivos.
CRITÉRIOS
Objetivos Subjetivos
São individuais,
São partilhados por toda a dependentes de fatores
comunidade científica, subjetivos, relativos ao que
sendo dependentes de individualmente cada
fatores objetivos, isto é, cientista sente e pensa – de
princípios, regras e até acordo com a sua história
valores comummente de vida e a sua
adotados. personalidade – em relação
à teoria que elege.
Princípios ou critérios objetivos de
escolha das teorias
Característica Sobriedade e
segundo a qual elegância na
uma teoria é Ausência de
forma como a
capaz de fazer contradições Capacidade da
Abrangência da teoria explica os
previsões internas e teoria para
teoria fenómenos;
corretas. Quanto compatibilidade impulsionar a
relativamente à uma teoria é
mais exata for da teoria com investigação
uma teoria, mais diversidade de simples se não
outras teorias científica em
perto ela está do fenómenos que é depende de
aceites dentro direção a novas
que é possível capaz de explicar. muitas leis para
do paradigma descobertas.
observar ou dos explicar os
vigente.
resultados da fenómenos
experimentação. observados.
Critérios objetivos
Critérios subjetivos
Críticas à conceção
Incomensurabilidade kuhniana de ciência Adoção de um novo
dos paradigmas paradigma
A investigação científica
O interesse que o A escolha dos modelos e
está dependente de
cientista demonstra por teorias científicas pode
financiamento:
determinados factos, em ser orientada por
determinadas
vez de outros, pode ser o critérios estéticos
investigações podem ser
resultado da sua enraizados na respetiva
patrocinadas porque
ideologia. tradição cultural.
interessam e outras não.
Tanto Popper como Kuhn compreendem que a ciência não é o tipo de conhecimento absolutamente certo e
indubitável. Segundo Popper, a ciência evolui progressivamente em direção à verdade, através da
eliminação de erros ou da refutação de teorias; para Kuhn, ela evolui dentro de cada paradigma e também
nas mudanças de paradigma. No entanto, não podemos dizer que se aproxima da verdade.
RACIONALIDADE CIENTÍFICA
Verdade certa,
Objetividade Neutralidade necessária e Demonstração
universal
A matéria do trabalho científico – os factos – é suscetível de uma descrição exata e de uma explicação rigorosa.
perfeitamente objetivo e
puramente racional isolado do mundo imparcial nas suas
conclusões
A objetividade passa a ser O cientista não apresenta Não existe uma verdade
entendida como uma racionalidade pura e absolutamente certa,
intersubjetividade. neutral. universal e necessária.
Conhecimento
É uma interpretação e
Não é o reflexo do real.
leitura do real.